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Elfa - Volume I

Autor(es): elfman

Sinopse
Aventuras espadas & calcinhas com um grupo de matadoras de monstros e caçadoras de tesouros que inclui uma
elfa, uma fada, uma coelhinha ninja e uma humana com a bunda gordinha.

Notas da história
* Escrito com o objetivo de sacanear todos os clichês de mangás, animes, rpgs e histórias de fantasia que
existem, nada se salva e todo elemento possível de se imaginar nesse tipo de história acaba aparecendo uma hora.

* A princípio pode não parecer, mas é uma história bastante complexa e com dezenas de personagens e elas
passam por algumas aventuras bastante pornográficas de vez em quando, então leia por sua conta e risco.

* Não leia a sério.

(Cap. 6) V - Prisioneiros

Notas do capítulo
Onde reencontra-se o estranho, leva-se os prisioneiros a julgamento, castiga-se a coelha, uma felina vende sua
jóia, nossa elfa faz um acordo e a serva sente ciúmes da duquesinha.

Parte V - Prisioneiros

“Onde reencontra-se o estranho, leva-se os prisioneiros a julgamento, castiga-se a coelha, uma felina
vende sua jóia, nossa elfa faz um acordo e a serva sente ciúmes da duquesinha.”

Puseram minha tia-avó Pelluria na masmorra do templo da Cerejeira Sagrada, naquela mesma em que se
encontrava aprisionado o estranho o qual fora acusado, no dia anterior e pela duquesinha, dos mais vis atos,
conforme vimos há poucos capítulos nesta verdadeira história. Mas a elfa sequer tomou conhecimento de que ele
lá estava, pois a cela em que colocaram-na era separada da do outro por parede grossa e, além de ser o local mal
iluminado, estava Pelluria nervosa demais para prestar atenção em qualquer coisa no momento em que ela e os
guardas que conduziam-na penetraram apressadamente na sala, sendo a razão de sua angustia não outra que as
ameaças de morte recebidas por ter dessacralizado a árvore sagrada, como bem podeis lembrar. A capitã Artmísia
havia mesmo prometido que nossa elfa seria enforcada. Mal saíram estes guardas, após terem trancado a cela,
surgiu a duquesinha acompanhada daquela sua serva inseparável. Colocaram-se as duas diante das grades, a nobre
rindo de minha tia e exibindo em suas mãos uma arma: estava com a preciosa espada de Pelluria.

“Eu não disse, elfinha? Esta lâmina precisava duma senhora digna e agora ela não tem menos que
isso.”

“Devolve-me! Dá aqui!” Enchendo-se de raiva pelo que via e metendo os braços por entre as grades,
Pelluria tentou alcançar a humana, mas esta acertou-lhe os dedos com o cabo da arma. “Ai! Bunduda, dá-me a
espada e eu te mostro...”

“Quieta, ladra!” interrompeu a duquesinha. “Antes dá-me a jóia que roubaste! Onde a escondeste?
Sei que já foste revistada e não a puderam encontrar, pois então desiste de joguetes e revela duma vez o paradeiro
do que é meu. Do contrário, será pior apenas para ti.”

“Não está comigo, já disse muitas vezes,” respondeu a elfa, aquietando-se em seguida e dirigindo-se
ao breu no fundo da cela.

“Como não? Não me venhas tentar iludir com inúteis historietas sobre ogros, pois bem sei que
daqueles da clareira só podias ser aliada, já que em teu poder estava meu convite e com ele entraste no vilarejo.
Oh, que prazer terei em assistir marcarem teus assentos com o ferro em brasa, elfinha!”

Neste ponto a serva interrompeu sua senhora para alertar-lhe de que alguém se aproximava. A porta
lá atrás abriu-se e vieram a capitã Artemísia e um outro guarda, os quais traziam, com as mãos atadas, a mulher-
coelho Meloine; nesta haviam posto uns panos para tapar-lhe os peitos exuberantes e um saiote para cobrir-lhe o
resto da nudez, embora a peça não ocultasse-lhe o traseiro, pois a cauda de coelho ali o impedia: desviava o saiote
de modo que cobria só uma das nádegas e deixava um tanto da reentrânica entre as duas à mostra. Reentrância
similar, talvez até mais profunda, aparecia entre os seios dela. Retiraram-lhe das mãos a corda e meteram-na na
mesma cela em que minha tia estava, daí a recém chegada foi sentar-se cabisbaixa num canto, abraçando os
próprios joelhos.

Dirigindo-se à duquesa, a capitã disse que ela não deveria estar naquele local e, ignorando os
pedidos feitos pela nobre para que torturasse um pouco nossa elfa para que respondesse suas perguntas, levou-a e
à serva, de modo que deixaram os prisioneiros sozinhos, pois se foi também o outro guarda.

“Ei, é a coelhinha maluca,” dessa forma Pelluria chamou Meloine. “O que estás fazendo aqui?”

“Prenderam-me, ué,” a outra respondeu, erguendo uma de suas orelhas.

“Isso eu sei, né? Mas o que fizeste? Ouvi gritos enquanto traziam-me para cá e soube que falavam de
ti, bem como vi que, de repente, caíste de cima daquela árvore e te arrebentaste no chão, porém desconheço o que
sucedeu desde que separamo-nos e te deixei sozinha na estalagem. O que fazias no topo da cerejeira?”

“Oh, nada. Estava apenas me escondendo lá.” Meloine tinha os olhos melancólicos, mas estava um
pouco aliviada por minha tia não saber das licenciosidades que tinha ela praticado com a árvore sagrada. E
provavelmente Pelluria era a única que não sabia acerca disso em todo vilarejo, pois vinha assustada e nervosa
demais enquanto a multidadão a conduzia e só foi ver a coelha depois dela já ter despencado. Meloine explicou
então para Pelluria: “Entraram alguns soldados e esta humana feiosa naquele quarto onde me deixaste, queriam
me tirar a espada. Fugi deles e acabei trepando nessa árvore no centro do vilarejo para me esconder em cima
dela.”

“Era a Cerejeira Sagrada,” disse Pelluria, lembrando-se do motivo pelo qual estava presa.

“A própria, bem o sei agora. Então caí lá de cima – pelo que dói-me agora a bunda, pois estava em
altura considerável – e me prenderam.”
“Foi-me dito que é crime um leigo aproximar-se mais de três passos da árvore,” explicou minha tia.
“Se apenas eu soubesse disso antes de ter deixado o quarto, talvez estivesse agora em segurança, num local
distante daqui. Que tristeza, e pensar que até ontem eu tinha tanto ouro... Jamais devia ter vindo para cá, podia
estar em segurança com minhas moedas e minha bela espada em alguma cidade perto do centro do continente.”

“E o que fizeste?” Meloine perguntou. “Prenderam-te porque estavas perto da árvore?”

“Tenho vergonha de dizer.” Mesmo assim a elfa prosseguiu, abaixando a voz. “Bebi muito vinho
ontem e fiz xixi na Cerejeira Sagrada.”

“Oh. Então também querem te matar?”

“Sim, estou com medo.”

Pelluria foi apoiar-se na parede e, por falta do que fazer, passou a examinar os tijolos com as pontas
dos dedos. A coelha falou:

“As pessoas do vilarejo querem me matar, elfa! Garanto que estão lá fora me esperando! Quase não
deixaram que me trouxessem para cá!”

“A mim também. Não sei como vou sair dessa.”

“Temos que dar um jeito de fugir daqui.”

Pelluria percebeu que faltava um terço de um tijolo na parede e abaixou-se para ver através do
buraco; este, com o mesmo tamanho de seu punho, ficava bem próximo do chão.

“O que estás fazendo, elfa?” perguntou-lhe a coelha.

“Tem um buraquinho aqui.”

“Tem cuidado, pode ter uma aranha ou algo assim.”

“É espaçoso,” Pelluria disse.

“Mm, deve ter uma cela do outro lado, não é? Notei quando entrei aqui.”

“Está muito escuro, não vejo nada.”

Havia somente três tochas na parede distante, para clarear os vários instrumentos de tortura dispostos
do lado de fora das celas. As sombras destes artefatos assustavam as duas, eram algo que seus olhares evitavam.

O interesse de Pelluria pela abertura acabou chamando a atenção da coelha.

“Deixa-me ver.” disse Meloine e foi abaixar-se para espiar pela parede. Apoiou as mãos no chão e
aproximou o rosto dali, de modo que ficou de quatro deixando à vista bem mais do que minha tia gostaria de
contemplar, o que incluia, entre o que posso dizer sem soar vulgar em demasia, aquelas nádegas muito largas e
polpudas, a brancura delas manchada pela poeira do chão da cela.

“Ei, tem alguém do outro lado!” surpreendeu-se Meloine.

“Né, estás vendo coisas.”

“Sério, estou dizendo. Olha.”

Pelluria voltou a aproximar-se do buraco e, elevando a voz, chamou:

“Tem alguém aí? Qual o teu nome?”

“Meu nome não é usado há muito tempo,” respondeu o homem que estava na outra cela.
“Oh, viste? Eu não disse?” A coelha sacudia Pelluria pelos ombros. “É um homem!”

“Pss, fica calma. Não grites ou vais acabar chamando os guardas.”

“Mas eu quero ver ele, me deixa ver, fui eu que achei!”

Empurrando a mulher-coelho, Pelluria voltou a aproximar-se da abertura e disse para o homem,


imaginando que ele temia identificar-se: “Não precisas ficar com medo, também somos prisioneiras! Eu sou a elfa
Pelluria e esta é a coelhinha tarada Melões!”

“É Meloine, elfa!” retrucou a coelha.

“Mas devia ser Melões, porque ela tem os melões muito grandes!”

“Pára com isso, me deixa ver ele.” Meloine dizia e tentava tomar o lugar de minha tia.

“Inda bem que não estás desse lado, senão a Meloine te agarrava, pois ela é uma devassa!”

“Ulp! Estás me envergonhando! Sou donzela muito discreta, não ia agarrar ele.”

“Ih, é mesmo, esqueci que não gostas de homem!”

Pelluria sentou-se, pois lhe doíam as costas por ficar abaixada ali, e a coelha falou “Eu gosto de
homem, já disse que aquela hora estava sob efeito de algum feitiço! Agora pára com isso, estás sendo boba. Não
vês que vão nos matar se não fugirmos daqui? Não é hora para tolices!”

“Ai, é mesmo! Mas como vamos sair daqui?” Pelluria perguntou. Apontou então para fora da cela.
“Estamos debaixo do solo e as grades e portas estão trancadas, além de que devem estar vários guardas atrás
delas.”

“Se eu tivesse minha espada ou meus artefatos ninja, em um toma lá dá cá nos veríamos fora deste
buraco.”

“(Ai, ai, é mais maluca do que pensei!)”

“Estou falando sério, elfa. Sou a guerreira mais perigosa e veloz que existe.”

Minha tia decidiu não discutir mais com a coelha, ao invés disso voltou a falar com o prisioneiro da
cela vizinha. Ela e Meloine perguntaram-lhe sobre quanto tempo estivera ali, o que não chegava a ser um dia;
quiseram também saber o motivo pelo qual fora aprisionado, e pelo que ele disse, reconheceu-o Pelluria como o
protagonista daquela história que as duas meninas contaram a ela e a Shavanah na taverna.

Pelluria contou então para o prisioneiro e para Meloine sobre seu encontro com a duquesinha na
clareira, sobre o roubo da jóia (e não mencionou que havia tirado também a jóia da coelha, sendo que a outra nem
havia dado pela falta da gema, de tão nervosa com todos acontecimentos), e contou sobre a fada maligna que
acabou ficando com a esmeralda e sobre como caíra naquelas flores vermelhas que encheram-lhe a bunda de
bolinhas, algumas das quais ainda as tinha ali, a causarem-lhe coceiras, o que com certeza não poderia melhorar,
pensou, se permanecesse sentada naquelas pedras tão poeirentas.

“Mas uma coisa que não consigo entender,” Pelluria disse para a coelha, “é como foi que tu
apareceste naquele quarto onde acordei e ainda por cima com uma espada, já que todos os que chegam ao vilarejo
são revistados e apalpados por aquela humana musculosa.”

Meloine foi apoiar-se nas grades, para em seguida responder “Pois então deixa que eu explique o que
acontece comigo, desta forma talvez possas compreender melhor o quão terrível é a situação em que me encontro.
Tu dormiste com ele ontem, não é, elfa?”

“Com… ele?” Pelluria pensou um pouco. “Com o enviado de Tchuma-Enthofa, tu queres dizer?”
Pareceu se envergonhar. “É verdade que estávamos no mesmo quarto, mas não dormi com ele! Eu estava passando
mal e perdi a consciência, quando acordei tu estavas comigo e ele havia desaparecido, bem como o meu
dinheiro!”

“Isso porque tomei o lugar dele.”

“Como assim?”

“Por culpa dele, estamos amaldiçoados e dividimos o mesmo corpo, de tal forma que num dia sou eu
que estou aqui conversando contigo e no outro é ele!”

“Ah, qual é? Queres dizer que ele transformou-se em ti?”

“Isso. E amanhã voltarei a ser ele!”

“Realmente falta algo entre tuas orelhas!”

“Pois bem, não acredites. Espera até amanhã – ou nem isso, espera até o meio da noite, se até lá
estivermos vivas – e compreenderás o que digo.” Meloine voltou-se para a elfa, pois estivera com a testa apoiada
nas grades. “Olha aqui, esta tatuagem que ambos temos no peito é o símbolo do grande Xexeres,” disse ela,
levantando um dos seios enormes com todos seus dedos e mostrando o topo dele, que era parte que escapava do
pano. “Só as mulheres-coelho têm! E ele agora também tem, porque está amaldiçoado.”

“É só uma marca,” replicou Pelluria com incredulidade. “Uma tatuagem não quer dizer nada.”

“Não leves a sério então, elfa. Mas sabe que é uma angustia ter que partilhar a existência com aquele
ladrão idiota, pois só me mete em confusões.”

“Sei, sei. Olha, não é que eu não te leve a sério, dona coelhinha, mas o fato é que por todas as coisas
que te vi fazer, as quais não foram muito bonitas ou arrazoadas, não creio que sejas muito certa.”

“Ora, garanto que este feitiço que me lançaram, este que obrigou-me a protagonizar tais sandices, é
obra dele, do ladrão com quem divido, no bom sentido, o corpo.” E Meloine tinha razão, pois a poção afrodisíaca
que o outro ingerira inadvertidamente fazia agora efeito no corpo dela. A intenção do homem havia sido a de
deixar a coelha sob efeito de um sonífero durante o dia para impedi-la de agir até que ele assumisse novamente o
controle, mas ao invés do sonífero, acabou bebendo o que vimos e aconteceu tudo da maneira como já disse a
história. “Não sei, porém, o que ganha ele com isso, pois agora estamos os dois presos,” prosseguiu Meloine.
“Garanto que é algo com que não contava, pois se eu morrer ele também se vai. Tudo que sofre o corpo de um,
sofre o do outro.”

“Ih, tu podes conversar com ele, coelha maluquinha?”

“Claro que não! Enquanto eu existo, ele deixa de existir, sendo o contrário também verdadeiro.
Temos que contar com o auxílio de outras pessoas para nos comunicarmos. E ele é tão estúpido que todo o
trabalho que faço num dia, desmancha no outro! Se assim não fosse, já poderíamos estar livres desta maldição! E
quanto a minha espada, quando desapareço ela se vai comigo, pois nossos pertences estão também amaldiçoados.
Da mesma forma ocorre com nossas roupas e os objetos em nossas mãos e bolsos no momento da transformação.
Creio, aliás, ser por isso que estávamos as duas presas no quarto, pois deve ele ter levado consigo a chave do
aposento!”

“Oh, sei, sei” Pelluria falou sorrindo. “Muito conveniente para explicar o sumiço das minhas
moedas.”

“Que nem eram tuas! Como disseste há pouco, a maioria foi roubada de caravanas num bosque não
muito distante daqui.” Meloine tornou a virar-se para as grades. “És só uma ladra, como ele.”

“Ei, sou uma aventureira!”

“Oh, não quero ofender, desculpa. Estou irritada, acontece sempre quando acordo com elfas deitadas
em cima de mim e acabo presa por f… bem, por ofender árvores sagradas.”
“Também nunca acordei montada em uma coelha nua.”

Ficaram em silêncio, em lados opostos da cela.

*.*.*.*

*.*.*

Na sala octogonal da torre da duquesinha, a nobre conversava com seu pai, o grão-duque, sob a
assistência da serva e da capitã Artemísia. Insistia em pedir que ele a deixasse ir ver o julgamento da elfa, o qual
começaria em breve.

“Mas papai...”

“Não, minha filha. Já tens a espada da elfa, que tanto querias. Sei que não é o suficiente para reparar
os agravos que ela causou, mas faremos com que revele seu esconderijo e recuperaremos a esmeralda. Agora
deixa que cuidemos disso, pois a masmorra onde a capitã te encontrou não é lugar para uma mocinha.”

A duquesa olhou para a capitã mostrando os dentes e o grão-duque assim prosseguiu:

“Chegou ontem à noite, vinda do castelo de Loirs, a bondosa madame Nastasha, tua professora de
costura.”

“O que?” Saltaram longe os olhos da duquesinha.

“Madame já está descansada e pronta para continuar com tuas lições.”

“Aaaaah. Mal-posso-esperar.”

“Pronto, pronto, eu sabia que essa notícia iria te alegrar. A costura não é um passatempo bem mais
agradável e proveitoso do que estar na presença daqueles prisioneiros, que são gente tão vil e baixa?”

O grão-duque chamou a serva a um canto e explicou-lhe, entre outras coisas, que ela deveria levar a
duquesinha até um dos andares inferiores da torre, onde a nobre teria uma aula de costura. Enquanto isso, a
duquesinha aproximava-se da capitã e notava as duas correntinhas que ela tinha ao redor do pescoço, iam terminar
ambas dentro do corpete de couro que lhe apertava o peito.

“O que é isso?”

A nobre puxou uma das correntes, saiu do corpete um pequeno círculo de ferro negro. A capitã
assustou-se, era o pendente que lhe havia dado o cardeal de Dravísios.

“Ah! É o meu pingente, senhora!” disse Artemísia, erguendo as mãos. “Por favor, não sejais
indiscreta!”

A duquesinha soltou o pendente e a capitã voltou a escondê-lo, aliviada por não ter a nobre puxado a
outra corrente, o que revelaria a bela jóia azul tomada da elfa: certamente seria confiscada.

“É muito feio,” falou a duquesinha, “de extremo mau gosto.”

Artemísia lembrou-se do colar de pedras enormes que a outra costumava usar, aquele sim
considerava um item de mau gosto. Partiu em seguida com o grão-duque, e a serva veio pegar a duquesinha pelo
braço, logo conduziu-a também às escadas. E enquanto desciam, disse a duquesinha:

“Ai, Lourdes, não quero ter aula de costura.”


A serva passou os dedos pelos cabelos da senhora e disse:

“Pobrezinha, estás suada. Está muito quente.”

“Sim, este vestido é pesado demais.”

“Por que não usas aquele verde?”

“Oh, eu podia estar usando o verde se não tivesses perdido todas minhas calcinhas, que sem elas ele
entra todo na bunda e ela fica aparecendo!”

“Não perdi as calcinhas, os ogros roubaram.”

“Por culpa tua.”

“Calma, eu vou conseguir umas novas.”

“Espero que sim, que esta tua, que estou usando, também entra toda.” Dizendo isso, nossa duquesa
tentou removê-la dali donde estava se inserindo a peça, dando um puxão por sobre o vestido. “Fora que aperta-me
que é um horror!”

“É que tens a bunda muito...”

“Olha o respeito!”

“Quis dizer que a tens maior que a minha. Mas é bem mais graciosa, também.”

“Deixa-me voltar para o quarto, Lourdes,” gemeu nossa duquesa. “Quero que me dês um banho, não
quero costurar com aquela velha chata!”

“Mas senhora, o grão-duque disse-me que assim que estiver terminada a aula de costura, nós duas
deveremos acompanhar a herborista até o quarto do teu primo. Não queres ir vê-lo?

“Ah, quem sabe não será a oportunidade para testarmos aquele afrodisíaco super incrivelmente
potente que a herborista fez? Vai lá no quarto e pega a minha poção mágica enquanto eu estiver costurando!
Hehehe, mal posso esperar!”

*.*.*.*

*.*.*

Pelluria estava encolhida num canto da cela escura, ela e a mulher-coelho estiveram quietas por
muito tempo. “Como foi que te tornaste vítima da maldição?” minha tia perguntou de repente.

“Foi culpa dele,” veio do outro extremo a voz da coelha Meloine, “bem como todas as outras
confusões em que me põe. Não tens idéia das situações em que já me acordei.”

“Como é quando tu estás desaparecida?” Pelluria perguntou em seguida, porque na verdade tinha
muitas perguntas que queria fazer à coelha, não sabia nada sobre ela. “Não que eu realmente acredite nisso, né?
Mas tu vês o que ele está fazendo?”

“Não, é como se eu dormisse. Ainda bem, né? Se ele visse o que faço, como por exemplo o que
acabei fazendo hoje, eu morreria de vergonha.”

“De onde tu és, afinal?”


“Da ilha de Xexeres, lógico.”

Mesmo que Meloine respondesse a tudo com desânimo, Pelluria insistia:

“E lá são todas coelhas como tu? Por que saíste de lá? Como fazer para acabar com a tua maldição?”

Por fim, como a coelha simplesmente não respondia mais, Pelluria levantou-se e foi aproximando-se
de onde ela estava: viu que ela tinha o corpo encostado nas grades de modo que uma das barras ficava um tanto
inserida entre as bochechas de sua traseira, pois estava a coelha de costas para as grades, e ela empinava o
bumbum e, embora tentasse ser discreta, esfregava-o ali sem parar, de modo que a grade roçava-lhe o íntimo.
Voltaram à mente de minha tia todas desonestidades que a outra praticara diante dela na estalagem.

“Oh, não! Ela está fazendo de novo! Eu sabia, eu sabia!”

A elfa bateu na parede e pôs-se a chamar o outro prisioneiro como se ele também pudesse ver o que
se passava entre a coelha e a barra de ferro:

“Olha, olha! Eu não disse que ela era uma tarada e que ficava o tempo todo mexendo na...?”

Meloine parou com a obscenidade que fazia e voltou-se embaraçada, os ombros e orelhas caídos, as
duas mãos a cobrir o saiote que pendia-lhe da cintura. “Por favor, não olha,” pediu em voz baixa. “Não entendes,
eu não consigo me segurar! Não tenho controle disso, estou enfeitiçada!”

“Qual é, sua tarada? Não me olhes assim!”

“Que vergonha! O que está acontecendo comigo?”

Neste ponto vieram dois guardas e tanto a elfa quanto a coelha aquietaram-se e afastaram-se
assustadas das grades. Um deles abriu a porta e o outro, com a espada na mão, chamou minha tia, disse que o
grão-duque queria vê-la. Tiraram desta forma a elfa da masmorra, levando-a de arrasto, que muito esperneava e
gritava, e a coelha ficou sentada num canto, ainda presa.

Passou-se muito tempo, até que Meloine, depois de muito pensar, voltou-se para a parede que
ocultava a cela vizinha e disse:

“Eu... (Ai, que vergonha!) Olha, eu sei que não é hora, mas eu vou pôr a toca da coelhinha aqui do
outro lado desse buraquinho. Será que não podias passar a tua cenoura por ele?”

A coelha ergueu o saiote com uma mão e pôs os dedos da outra entre os seios, sob os panos que
cobriam-nos, quando um choque percorreu-lhe as costas e fez com que finalmente notasse:

“Oh, minha jóia sumiu!”

Não muito longe dali, os soldados prenderam as mãos de minha tia com grilhões e correntes, os dois
braços nas costas, e levaram-na até o centro de um vasto salão onde ela viu-se cercada por três grandes mesas
retangulares; atrás de uma destas e diante do brasão com o símbolo da província estavam o grão-duque, o obeso
cardeal de Dravísios, a capitã Artemísia e outros sacerdotes e homens de aparência importante. Atrás de outra das
mesas a elfa viu o taberneiro, os monges que havia enganado na clareira, no episódio dos ogros, e outros que não
reconhecia, mas bem podia haver vítimas de seus roubos ali. As portas, guardadas por numerosos vigias, estavam
atrás dela, e o lugar todo, por seu tamanho e aparência não muito diversa da masmorra, pouco mais claro,
assustava a elfa.

Primeiro aproximaram-se do grão-duque os monges, contaram o que havia se passado na clareira.


Depois vieram vários outros visitantes do vilarejo e expuseram todos relatos semelhantes, os quais deixavam claro
o plano que Pelluria executara com os ogros para enriquecer às custas do dinheiro alheio e ainda assim passar por
heroína. (Plano este bastante inteligente, é verdade.)

Então os estrangeiros deixaram o local e o grão-duque narrou o roubo da esmeralda da duquesinha.


Ao cabo disso tudo, vieram para perto da elfa a capitã e outros dois guardas; Artemísia pegou minha tia pelos
cabelos e puxou-os, esticando-lhe o pescoço.
“Ai, me solta, me solta!”

“Vamos, elfa,” disse a capitã, “fala a verdade.”

“Tá bom, eu confesso, eu confesso! Peguei mesmo o ouro dessa gente e a tal jóia da duquesinha!”

“Muito bem, agora onde está a esmeralda?”

“Me larga! Eu não sei, juro que não sei!”

A capitã suspirou e soltou Pelluria.

Nossa elfa voltou-se e viu que outros três soldados empurravam e traziam para perto dela uma
pesada máquina que estivera oculta num dos cantos da sala. O engenho assemelhava-se a uma mesa de grossas
tábuas, tinha quatro rodas de madeira, que vinham rangendo, e sobre ele estavam tiras de couro presas em
correntes e noutros artefatos nos quais minha tia não chegou a reparar, ou reparou mas não os reconheceu, pois
tremiam-lhe as pernas e ela tentava andar para longe impedida pela capitã e por outros dos guardas.

“Ai, socorro!” gritava Pelluria. “Não quero! Não quero!”

“Cala-te! Fala só o que precisamos saber ou fica quieta!”

Artemísia esbofeteou minha tia no rosto, mas antes que ela pudesse sentir-se humilhada e pudesse
proferir alguma ameça ou obscenidade, pegaram-na pelos braços e pernas e a puseram de bruços naquela mesa
com rodas. Mesmo que esperneasse, acabaram por prender-lhe com as tiras e correntes ambas as pernas, a cintura
e o pescoço. Quanto às mãos, continuavam atadas nas costas.

“Ah, socorro! Socorro! Tá apertado!”

“Pronto, elfa.” A capitã foi para a frente de Pelluria, minha tia enxergava a humana apenas do peito
para baixo, pois as amarras impediam que levantasse a cabeça. “Onde está a jóia?”

“Eu não sei, juro! Roubaram-me! Roubaram-me a jóia!”

Enquanto Pelluria repetia que haviam-lhe tirado a esmeralda, a capitã pegava um objeto pendurado
num dos cantos da mesa; era um grande varapau de madeira unida por gomos, devia ter a metade da altura de
Artemísia.

“Hã? O que é isso?” Pelluria perguntou muito assustada. “Peraí! O que vais fazer com isso? Calma!”

A capitã sumiu da vista de Pelluria e pouco depois a elfa notou que erguiam-lhe a saia; deixaram suas
nádegas à mostra e um frio passou a molestar-lhe esta parte do corpo.

“Hahah, tem sardas até aqui atrás,” disse Artemísia.

Então, muito envergonhada, Pelluria sentiu um toque: a palma de uma mão se fechou ali, naquele
lugar recém descoberto. Isto revoltava Pelluria e fazia com que tentasse se soltar, mas o espernear apenas
machucava-lhe as coxas, e o toque, repulsivo, agora passeava sobre sua pele alisando-lhe os assentos contraídos.

“Onde está a jóia, elfinha? És tão magra e tão mal dotada de carnes aqui atrás,” a capitã disse,
aumentado a raiva da elfa. Era dela a mão que provocava tanto incômodo. “Será que poderás resistir por muito
tempo?”

Deu um tapa no traseiro de minha tia, que como não poderia deixar de ser, gritou assim:

“Pára com isso! Tira a mão, sapatona!”

Artemísia estapeou ainda mais uma vez uma nádega de nossa elfa e ainda torceu-a antes de afastar os
dedos. E em poucos segundos, com os dois braços, ergueu o bastão de madeira e o fez descer com toda força que
tinha, estalou-o sobre as nádegas pequeninas de Pelluria e esta gritou sem parar por quase um minuto.
“Pobrezinha, será que quebrou algum osso? Eu dei tão fraquinho.”

“Aaaah, minha bunda! Minha bunda!” Pelluria berrava com as lágrimas a escorrem como cachoeiras
de seus olhos. “Por favor, pára! Eu falo tudo que quiserdes, eu me rendo! Fui eu, eu fiz tudo, eu juro!”

“Onde está a jóia, elfinha?” a capitã tornou a perguntar e a pôr uma das mãos no traseiro de minha
tia, mas este latejava tanto que ela nem sentia o toque e já nem se envergonhava mais.

“Eu peguei a jóia da duquesinha!” Pelluria gritou, ainda chorando. “Aí eu estava vindo pro vilarejo
quando no caminho apareceu uma fadinha, pequeninha assim, e ela tirou a jóia de mim!”

“Não vais dizer onde escondeste a jóia, não é? Queres que eu deixe mais alguns sulcos impressos em
tua traseira?”

“Eu juro! A fada me roubou! Ela saiu voando com a jóia e então eu fui atrás dela! Persegui ela até
onde tinha essa plantação de florezinhas vermelhas!”

“Se eu bater um pouquinho mais para cima, vais passar o resto da tua vida sem mexer as pernas,
elfinha. Mas ainda não farei isso, recém começamos.”

“Por favor, eu não posso mais!”

“Como não, dei só uma vez e já estás chorando desse jeito?”

“Estou falando a verdade, já disse! A fada roubou a jóia e entrou nesse tronco de árvore, tinha um
buraco que levava pra baixo da terra!”

“Para o Mundo Subterrâneo?” veio de longe a voz de um homem. Então alguns dos que estavam nas
mesas começaram a discutir.

“Fadas nunca trabalharam para o Reino Subterrâneo, elfa!” Pelluria ouviu novamente a capitã, que
após dizer isso, continuou assim: “Prepara-te, vou te deixar com a bunda bem macia!”

Minha tia sentiu a saia subindo ainda mais, encolheu-se toda e fechou os olhos antecipando a
pancada. Mas lá de trás veio outra voz:

“Já chega, Artemísia. Manda que os guardas tragam a coelha e solta a elfa.”

Tiraram Pelluria donde estava presa e fizeram com que se aproximasse dos homens na mesa central,
as coxas ardiam-lhe a cada passo. Sim, foi só uma pancada, mas Artemísia era muito forte e aquele varapau dela
era dos mais terríveis, de modo que minha tia não estava exagerando. Puseram-na diante de um mapa e quiseram
que identificasse o local onde dizia ter desaparecido a fada.

“Foi aqui, eu acho. Ai!” A capitã deu-lhe um empurrão nas costas; parecia desapontada por só ter
podido dar um golpe. Ao menos a saia cobria novamente os assentos de minha tia. “Por favor, eu posso mostrar
onde fica se me levarem, é aqui perto!”

E enquanto alguns discutiam, outros faziam perguntas: quiseram saber se minha tia era aliada da
coelha ou do Reino Subterrâneo – local que nem conhecia – e o que pretendia com a jóia e por que havia
desonrado a Cerejeira Sagrada da forma que fizera. E houve inúmeras outras questões com as quais passaram mais
de uma hora e às quais ela respondeu como pôde.

*.*.*.*

*.*.*

*
A duquesinha deixou o quarto abatida, os ombros caídos. Foi aproximando-se vagarosamente da
serva, que perguntou “Oh, a aula de costura da minha senhora acabou?”

“Toma,” nossa duquesa disse e em seguida jogou um pequeno amontoado de pano nas mãos da
serva.

“O que é isso?” A menina demorou um pouco para desenrolar e esticar o embrulho, depois passou a
examiná-lo. “Hã? É uma calcinha?”

“Bordei para ti.”

“Para mim? Oh!” Ela sorriu, apertou a peça contra o coração. Tinha Lourdes escrito atrás, em rosa,
em um canto. “Obrigada, senhora. É tão bonita!”

“Na verdade era para mim, comecei a fazer lá no castelo, mas do jeito que engordei nunca vai entrar
na minha bunda. Espero que sirva em ti.”

“Ficou linda, vou usar sempre!”

“Ahã.”

A duquesinha passou a andar novamente e a serva correu atrás dela gritando “Também tenho algo
para minha dama!”

“Hã? O que é?”

A nobre deteve-se e a serva tirou um pingente grande e esverdeado da roupa para mostrá-lo e
explicar do que se tratava:

“Peguei aquela jóia que ontem a senhora de minha alma mandou que eu encomendasse ao vidreiro.”

“Mm, a réplica da esmeralda? Deixa eu ver.” Nossa duquesa pegou a jóia e em seguida a colocou
contra a luz que entrava por uma janela. “Ficou muito boa, não achas? É um pouco mais clara quando a luz do sol
a atravessa, bem como é pouco mais leve que a original, mas ficou aceitável. Poderia enganar, se estivesse no
escuro e não se conhecesse o peso da outra.”

“Eu concordo, senhora.”

“Mas agora é tarde para usá-la como eu pretendia, vamos deixá-la no meu quarto e depois
pensaremos no que fazer dela. Espero que possam arrancar da elfa o paradeiro da verdadeira. E por falar nisso,
quem sabe não vamos até o templo para vermos como anda o julgamento das duas p******* de orelhas
compridas?”

“Mas já está lá em cima, esperando minha senhora, a herborista.”

“A herborista? Oh, sim, vamos ver meu primo!” E então a duquesinha perguntou o seguinte em voz
baixa: “Pegaste a poção?”

“Hã? Claro. Mas não vás tentar fazer ele beber na frente da herborista!”

“Claro que não, vai que ele fica terrivelmente excitando e tenta se aproveitar dela!”

Foram buscar a herborista e logo dirigiram-se as três, acompanhadas por uma vigia armada, até a
torre onde estava Dom Mastilhos, o primo da duquesinha. Começaram a subir as escadas e a herborista, da mesma
forma que na noite anterior, demonstrou interesse em ver a mãe da nossa nobre:

“A mãe da senhora duquesinha está em terras muito distantes? A senhora deve sentir a falta dela.”

“Ah, às vezes.”

“Quando ela regressará? Quando poderei conversar com ela?”


“No dia em que pudermos falar com os mortos, querida,” a duquesinha respondeu sem alterar a voz,
mas a herborista pareceu surpresa:

“Oh... eu... perdoe-me, senhorita duquesinha. Eu não sabia.”

Enquanto iam andando pela torre, lá estava Pelluria em algum local do templo da Cerejeira Sagrada,
ou melhor, das masmorras do templo; seus pulsos doíam por causa das correntes e puseram-na sentada numa
cadeira diante da mesa dos sacerdotes e do grão-duque, para os quais ficava de costas, cadeira esta não muito
confortável, especialmente depois daquela pacanda na traseira que deixara-lhe ardidos os assentos.

Presa de bruços naquela máquina desconfortável pela qual a elfa havia há pouco passado, estava a
coelha Meloine, mas para ela a situação era ainda pior do que fora para minha tia, pois esticaram-lhe os braços,
acorrentaram-nos à frente da cabeça, e tiras de couro faziam-lhe a volta nas costas para espremê-la de encontro à
mesa e apertar-lhe o peito contra a madeira. Por serem seus seios muito grandes e de tão comprimidos que
estavam, pareciam querer estourar, escapavam um para cada lado por entre o corpo da coelha e o topo da mesa.

As pernas da coitada prenderam dobradas e uma para cada um dos lados, de modo que abraçavam a
mesa e tornavam-lhe públicas as vergonhas e assim enxergava-se até aquele pontinho bem ali no meio da bunda
onde a pele era mais escurinha e que, não sei se por causa do medo que ela sentia, contraía-se sem parar no que
pareciam umas piscadinhas. De onde estava, a elfa via apenas esta ultima parte de Meloine, a traseira, branca e
lustrosa de suor, além de um pouco erguida, ocultando o resto do corpo dela. Posicionada ao lado já estava a
capitã Artemísia, tendo em mãos o varapau que causara em Pelluria tanto sofrimento, pronta para usá-lo nas partes
que a coelha tinha tão salientes e tão à vista.

“O que esteve detendo o soldado enviado para buscar a mulher-coelho, capitã?” Pelluria ouviu uma
voz vinda de suas costas e que fazia esta pergunta. Era o grão-duque, tanto tempo passara ali que já podia
distinguir as vozes.

“A mulher-coelho o havia enfeitiçado,” respondeu a capitã. “Quando chegamos à cela, o pobre


soldado agia como se não tivesse noção do que estava fazendo. E quando finalmente pudemos separá-los, ela
atacou a mim e a outros dois soldados, tivemos dificuldade em dominá-la.”

“Ô, ele sabia muito bem o que estava fazendo, c*zona,” gritou lá da frente a coelha Meloine. “E bem
que podieis ter esperado mais um pouquinho para aparecer, né?”

Pelluria viu a capitã erguendo o bastão com os dois braços, fechou os olhos e escutou o som da
batida no corpo da coelhinha.

“Ai! Qual é, por que me bateu?”

Então o som se repetiu.

“Ai! Pára com isso!”

Quando voltou a abrir os olhos, Pelluria viu que a capitã puxava a cauda da Meloine para cima,
esticando desta forma o topo de suas nádegas, o centro delas já começando a avermelhar.

“Esta é um pouco mais resistente, não é tão chorona,” a capitã disse e virou-se para Pelluria, que teve
vontade de dizer “É claro, a bunda dela é bem maior que a minha,” mas ficou quieta.

“Pela morfologia, é uma das mulheres-coelho da ilha do deus Xexeres,” disse o cardeal de Dravísios.

“É mesmo? Como foi que descobristes isso, seus gênios? Não dá pra me soltar agora? Tô com as
tetas apertadas!”

-BUMP!-

“Ai, minha bunda!”

-BUMP!-
“Ah, dá um tempo!”

-BUMP!-

“Lésbica sacana! Tá gostando disso, né?”

“Mais respeito, feiticeira!” dizia a capitã, já pronta para descer de novo o bastão.

“Tá bom, tá bom, pára!”

“O que vieste fazer aqui, a tanta distância da ilha de Xexeres?” prosseguiu o cardeal. “Onde está a
princesa fugitiva de Xexeres?”

“Hã? A princesa?” Meloine tentava erguer o rosto, mas suas pernas deslizavam pelos lados da mesa e
faziam balançar as coxas avermelhadas e saltitar a traseira não menos rosada. Era firme, contudo, não sacudia
como se, por exemplo, fosse a da duquesinha que estivesse ali.

“Sim, já sabemos que uma das filhas da rainha Malória fugiu da ilha de Xexeres,” disse o cardeal,
“lvando consigo a jóia sagrada, a aguamarinha de Xexeres.”

Pelluria escutava com atenção e embora não entendesse exatamente do que falavam, lembrou-se da
jóia que havia tirado da coelha e que agora estava com a capitã. Seria esta a aguamarinha de que falavam?

“Vieste em busca da princesa? Ela está perto daqui? Faze com que a mulher-coelho fale, capitã,”
ordenou o cardeal.

Pondo-se nas pontas dos pés, Artemísia subiu o bastão o máximo que pôde e mais uma vez aplicou-o
de encontro às nádegas largas da coelha, provocando o mais alto som de estalo; não fossem as amarras, Meloine
deslizaria para frente com a pancada, tamanha a vontade com que fora desferida. As rodas chegaram a fazer a
mesa avançar um pouco.

“Quer parar com isso!? Que saco!” Sem dar mostras de sentir dor, Meloine insultava a capitã cada
vez que o varapau fazia chacoalharem seus assentos. E estes insultos só aumentavam o ânimo da outra, que batia
cada vez mais rápido. Deu tanto na bunda da coelha que, quando as pancadas já passavam de algumas dezenas, a
madeira rachou e o bastão ficou inutilizado.

Apesar de toda surra, o traseiro de Meloine, à exceção da vermelhidão, continuava sem marcas. Era,
podeis ver, traseiro dos mais resistentes.

“Vais falar agora, coelha?”

“Ei, eu já ia falar antes, se essa p*** não ficasse me interrompendo com tapas na bunda. O que
quereis saber?”

“Tu conheces esta elfa, mulher-coelho?”

“Que elfa?”

A capitã fez a mesa girar, colocou-a de frente para a cadeira onde Pelluria estava. Nossa elfa não
pôde perceber sinal algum de que a coelha sentisse dor e agora nem medo, mas parecia deveras irritada.

“Oh, acordamos no mesmo quarto, eu e a elfa, mas não a conheço. Acho que ela esteve bebendo e
acabou entrando e adormecendo no quarto errado.”

“Sabei que esta aqui não é uma mulher-coelho qualquer!” a capitã interrompeu e neste momento
Meloine, pela expressão que fez, sentiu seu coração saltar: parecia temer o que a humana poderia estar para dizer.
Artemísia continuou assim: “Quando chegamos no quarto ela estava completamente nua, de joelhos diante da
cama, realizando um nefasto ritual tântrico com a espada!”
As bochechas da coelha ficaram rosadas. Não era o que temia ouvir, decerto, mas era vergonhoso. O
cardeal perguntou:

“Que ritual ela fazia com a espada, capitã?”

“Ela... Hã, ela estava... estava... se masturbando com a arma.”

“Eu não estava me...! Vós interpretastes mal! Bom, eu estava nua porque tinha recém acordado,
sabe? Gulp! Então fui sentar na cama e, bem, não vi que a espada estava encostada ali! Aí eu escorreguei, caí em
cima dela e fiquei... presa! Sério! Juro! Sabe como é, foi um acidente perfeitamente normal, eu tinha guardado a
espada do lado da cama e fui sentar e encaixou ali e eu não estava conseguindo tirar e...”

“Mentirosa! Saltava e gritava heresias montada no cabo da arma como se ele fosse um... hrm... E
todos nós vimos o que fez depois com a Cerejeira Sagrada!” prosseguiu a capitã. “Usou um dos galhos desta da
mesma maneira indigna que usava sua espada!”

Não podendo conter-se, Pelluria perguntou surpresa:

“Que, tu estavas f****** a árvore sagrada, coelhinha?”

“Gulp! Eu já disse que não tenho culpa, estou enfeitiçada!”

“Sua tarada! Não tem limite? Garanto que se puder f*** até com morto!”

“Ah, qual é? Eu não f*** morto, elfa! Agora não sejas metida, tô numa situação difícil aqui!”

O cardeal interrompeu a discussão da elfa com a coelha:

“Capitã, leva as duas e ensina a comportarem-se no julgamento!”

“Ih, viu o que fizeste, elfa?”

“Ai, eu não quero, eu não quero, por favor! Foi a coelha, eu vou ser uma elfa boazinha!"

*.*.*.*

*.*.*

Enquanto a Capitã Artemísia fazia mau uso de um chicote de três pontas, lá numa das torres a
duquesinha puxava sua serva para fora do quarto de Dom Mastilhos; deixaram-no com a herborista e a vigia.

“Pronto, Lourdes, é o momento ideal,” a nobre falava excitada. “Tem uma caneca lá dentro, vou
colocar nela a poção sem que ninguém perceba! Dá aqui!”

“Hã...”

“Vamos, dá a poção, serva!”

“Que poção, senhora?” a menina olhava para baixo.

“A poção do amor, estúpida! Tu sabes!”

“Ah... eu... eu esqueci no teu quarto, senhora.”

“O quê!? Como é que é?”


“Eu esqueci, me perdoa.”

“Mas não disseste que a tinhas pego? O que está acontecendo aqui?”

“Eu pensei que estivesse no meu bolso, senhora, mas me enganei. Desculpa!”

“Ai, ai, como é que pode? Tá bom, vai lá buscar, então! Corre!”

“Mas... não posso, senhora!”

“Hã? Por quê?”

“Estou cansada!”

“O que!? Isso é desculpa?”

“É verdade, estou com as pernas cansadas!”

“Mas o que é que está acontecendo contigo?” A duquesinha passou a sacudir a serva pelos ombros.
“Não me obedeces mais?”

“Claro que obedeço, senhora, mas minhas pernas estão cansadas! E tenho medo de não achar a
poção!”

“Eu te conheço, estás escondendo algo. O que foi que aconteceu? Fala!”

“Gulp! Tá bom, a verdade é que eu não queria ir porque o grão-duque ordenou que não deixasse
minha senhora querida sozinha nem por um instante! Claro que obedeço minha dama, mas tenho também que
obedecer ao que ordenou o pai dela, por isso não posso deixá-la aqui.”

“Ai, tá bom, deixa de ser enrolona! Vamos nós duas! Rápido que é a oportunidade ideal, meu primo está
lá dentro bebendo todas aquelas porcarias da herborista e nem notará a poção! Vou serví-la depois que ela sair e
vamos ver o que acontece!”

Levando a menina de arrasto, a duquesinha foi correndo para as escadas.

*.*.*.*

*.*.*

Empurraram novamente minha tia e a mulher-coelho Meloine para o centro do salão, as duas com as
bundas avermelhadas e requentadas, soltando cada uma mais gemidos do que a outra. E a de minha tia, agora além
das bolinhas de maculóphyta e das sardas, tinha vergões feitos por chibata.

“Ai, tu ficavas provocando ela, coelha maluca! Por culpa tua nunca mais vou sentar!”

“Tu és muito chorona, elfinha! Nem tá doendo tanto assim!”

“Eu tenho a bunda pequeninha!”

Voltaram então a ocupar as mesas todos os que nelas antes estavam e que haviam-nas deixado
durante a tão sofrida pausa no julgamento.

“Estás pronta para falar com respeito agora, mulher-coelho?” perguntou a capitã, vindo em seguida
para perto das duas prisioneiras. Tinha o braço cansado de tanto movê-lo para aplicar açoites.
“Tá bom, tá bom. Eu sou a Milênias, uma guerreira da ilha de Xexeres,” mentiu Meloine. “Vim para
cá porque ouvimos rumores de que a terrível princesa Meloine, a fugitiva malvada que leva a nossa jóia, poderia
estar perto desta região. Infelizmente não pude encontrá-la, o que demonstra a falsidade de tais rumores! Deve ter
ido para Arai ou algo assim!”

“Então esta coelha é realmente uma espiã da ilha de Xexeres,” o cardeal falou. “Não podia ser
diferente com todas aquelas armas encontradas escondidas em seus trajes na estalagem. E tu, elfa? És uma espiã
do submundo?”

“Eu, heim? Nem sei o que é submundo, juro!”

“Esta elfa é a minha guarda-costas! Eu mandei que roubasse o convite da duquesinha para que se
infiltrasse aqui e procurasse pela princesa Meloine! Mas não somos espiãs, queríamos apenas encontrar a princesa.
E não sabíamos que estava a jóia da duquesinha no mesmo baú do convite. Tínhamos planos de devolvê-la assim
que pudéssemos, quando surgiu a fada e levou-a embora! Esta fada sim, era uma enviada do Reino Subterrâneo,
tenho certeza!” Inventou tudo isso a coelha, lembrando-se da história da fada que Pelluria havia contado há pouco
na cela, pois era boa de improviso.

“Gulp! É tudo verdade!” confirmou a elfa, por não saber o que mais dizer.

Então os homens reunidos na mesa discutiram por muito tempo, tempo este em que a capitã manteve
as duas prisioneiras afastadas dali. Por fim mandaram que se aproximassem novamente.

“Nós resolvemos ser piedosos,” disse o cardeal de Dravísios. “Pois da mesma forma que nunca se
soube de fadas que trabalhassem para o mundo subterrâneo, não se conhece elfa ou mulher-coelho que o tenham
feito. Portanto daremos o beneficio de que conduzas os soldados do grão-duque de Orqushire até o local em que
disseste que a fada desapareceu com a jóia, elfa.”

“Oh, sim, sim, eu posso levá-los até lá,” respondeu Pelluria, pois qualquer coisa era melhor que ser
enforcada.

“E lá tu descerás ao mundo subterrâneo, de onde esperaremos que retornes por duas manhãs,” disse
o grão-duque. “Desta forma não infringiremos as regras do tratado feito com a rainha do submundo, o qual não
permite que entremos em seu território e a impede de fazer o mesmo em terras humanas.” Por algum motivo isto,
a tal rainha do mundo subterrâneo, não agradou tanto minha tia. Parecia um título perigoso, por algum motivo.
“Se retornares com provas de que a esmeralda lá se encontra ou com a própria pedra, perdoaremos teus crimes e
poderás partir para nunca mais voltar à província. Contudo, se não vieres antes que o sol nasça mais duas vezes,
enviaremos um mensageiro em tua busca e a rainha do submundo não hesitará em te entregar, sob o risco de
provocar uma guerra que ela não pode vencer. E então tu serás enforcada.”

“E eu?” Meloine perguntou.

“Os crimes da mulher-coelho contra a Cerejeira Sagrada foram de uma severidade nunca vista,”
respondeu o cardeal. “Somente a morte dela apaziguará a população do vilarejo.”

“Esperai! Vós não podeis me matar! Isso vai deixar a rainha Malória muito irritada! Ela não vai
gostar e vai declarar guerra aos humanos! Sou uma enviada oficial! Se eu morrer, todas ninjas de Xexeres vão
invadir esta província e acabar com tudo!”

“Não é sábio entrarmos numa guerra com as mulheres-coelho agora,” disse o grão-duque. Então o
cardeal conversou com ele por alguns minutos e depois disse em voz alta, dirigindo-se à coelha: “Se não pagares
pelos teus crimes, a população do vilarejo se revoltará. Vamos levar-te à praça pública agora, onde, para apaziguar
o povo, serás punida com 70 chibatadas.”

“Aaah! 70!?”

“Se sobreviveres, poderás acompanhar a elfa ao Mundo Subterrâneo e terás a mesma chance que ela
tem. Podeis levá-la.”
“Ai, socorro, socorro, me ajuda, elfa! Não deixa eles me levarem!” Meloine foi tentar esconder-se
atrás de minha tia, mas muitos soldados pegaram-na por braços e pernas e tiraram-na da sala. Foi seguida pela
capitã Artemísia e outros levaram Pelluria de volta para a masmorra.

E lá no quarto da duquesinha, a nobre terminava de revirar e bagunçar todos os cantos em busca da


poção afrodisiaca, que de forma alguma podia ser encontrada.

“Onde é que está? Por que não estás procurando, serva?”

“Eu estou procurando, senhora.”

“Não estás, estás parada! Me ajuda!” Aproximou-se da menina. “Já faz mais de meia hora que
buscamos por ela! Onde foi que a puseste, afinal?”

“Deixei em cima da cama, juro.”

“Ei...” Apontou para a cintura da serva. “O que é isso aqui?”

“Isso o que?”

“Tem alguma coisa aí!”

Tentou pôr as mãos, mas a outra se afastou.

“Não tem nada, senhora.”

“Então por que não me deixas ver?”

“Gulp!”

“Vamos, mostra ou podes pegar as tuas coisas e sair daqui, porque não te quero mais como serva! Tu
não me respeitas mais!”

“Não! Senhora! Eu mostro!”

“O que estás esperando?”

A menina levou as mãos até a cintura, uma lágrima escorreu-lhe pela face. Devagar, tirou de dentro
da roupa o cantil com a poção e levantou-o.

“Aaah! Estava contigo o tempo todo!”

*.*.*.*

*.*.*

Já passavam várias horas da metade da tarde e o calor era intenso quando a capitã Artemísia entrou
na cripta atrás do altar do Templo da Cerejeira Sagrada, onde o cardeal a aguardava sozinho, isso depois dela ter
punido Meloine em público conforme ficara decidido acima e sobre o que tratamos noutra parte desta história
sempre correta e verdadeira. Após servir-se de vinho – e vinho era algo que a suada capitã apreciaria muito
naquele momento – ele disse que ela seria a líder da escolta a qual levaria a elfa ao mundo subterrâneo, e mandou
que chegando onde fosse, esperasse na floresta até que o enviado de Dravísios, sobre o qual haviam tratado no dia
anterior, a encontrasse.

“Mas não sabemos para que ponto da floresta nos levará a elfa, santidade.”
“Não importa, capitã, não importa. Para onde quer que seja, não deve ser muito longe do vilarejo, de
forma que o cavaleiro de Dravísios não terá problemas em te encontrar. Estás usando a corrente com o círculo
negro, para que ele possa te reconhecer?”

“Sim, está aqui.”

Artemísia pôs a mão sobre o corpete, cobriu o espaço onde as correntinhas se introduziam nele, não
sem temer que logo alguém descobrisse a aguamarinha. Era melhor guardá-la em um lugar seguro assim que
pudesse, decidiu.

“Na floresta mantém esta corrente à vista, é importante que o faças. Se assim procederes, ele te
achará, sem dúvida.”

O cardeal disse ainda que não importava o que ela visse ou o que ocorresse após a entrega do objeto,
feita a mesma, deveria retornar imediatamente ao vilarejo para trazer o item até o templo.

“Mas o que estarei esperando, afinal? Se me for descrito o objeto, talvez eu possa...”

“Não te preocupes com isso, capitã. Faz o combinado. Verás que cumpriremos com nossa palavra no
prazo determinado e em poucos dias não terás que te preocupar mais com as questões que te atormentam; em
poucos dias estarão bem aqueles com quem te importas.”

Neste momento, ouviram batidas na porta. A capitã estremeceu, ficava nervosa na presença do
cardeal e este dizia sempre que não deviam ser vistos juntos. Em seguida entrou no local outro sacerdote, falando
dessa forma:

“Senhor, os enviados da Turísia estão aqui.”

“Oh, sim, sim, eram esperados. Que entrem.” O cardeal voltou o rosto para Artemísia. “E tu já podes
ir, capitã.”

Veio então uma mulher vestida de preto, tinha a pele e os cabelos cinzentos. Quando Artemísia
passou ao lado dela, sentiu algo roçar por suas pernas; isto fez com que se voltasse para ver que o traje da outra
era aberto nas costas e bem do final destas saía uma longa e felpuda cauda, também cinzenta e que tocaria o chão
se não estivesse sua ponta erguida e um pouco enrolada. E no extremo dela encontrava-se amarrado um laço feito
com tira de seda vermelha.

A mulher da cauda ergueu o canto do lábio, não se pode dizer se num sorriso, deixando a mostra um
dente pontudo de felina. Era a enviada da Turísia, a capitã a reconheceu, pois já a havia encontrado no dia anterior
quando ela chegara no vilarejo em companhia de dois ciclopes. Estes dois gigantes estavam agora ali fora da sala,
esperando por ela. E a dela não era a aparência de um turisiano, é verdade, pois a maioria dos turisianos é humana;
aquela mulher de olhos lilás e garras afiadas nas mãos era a serva pessoal da princesa de Darinária, a filha do rei
Dortocolmos da Turísia, e havia sido trazida há muitos anos do extremo oeste do continente para servir à princesa.

Assim que a capitã deixou a cripta, a felina abriu sua mão direita, mostrando no centro dela uma
grande pérola, branca e perfeitamente redonda, mas muito maior do que o comum. A seguir disse quase num
ronronar:

“Aqui está.mrrrA pedra da Turísia.”

“Queremos vê-la melhor.”

O cardeal foi aproximando sua mão gorda, mas antes que atingisse seu objetivo, as garras que saíam
dos dedos da mulher fecharam-se e cercaram a jóia, pareciam ter ficado ainda maiores.

“Nããão. Primeiro o pagamento. A Turísia precisa de ouro para defender a fronteira de Daforos!”

O cardeal ergueu-se, levou muito tempo para se deslocar até um armário no extremo da sala. Abriu-o
para revelar um saco de pano grosso.
“Pronto, conforme prometemos. Quase 500.000 guinéis do mais puro ouro. É mais do que podes
carregar.”

A felina fez estalarem os dedos da mão que tinha livre e um dos gigantes de um olho só entrou na
sala, passando desajeitado pela porta. Foi até onde estava o cardeal e conferiu o conteúdo do saco, depois ergueu-o
com os dois braços e o colocou dentro de uma caixa que o outro gigante carregou para dentro da sala, o que foi
bom, pois o saco parecia prestes a rasgar. As pontas dos cabelos da mulher arrepiaram-se e ela deixou a pérola
sobre uma mesa.

“Vendida,” miou.

O cardeal pegou a jóia e passou a manipulá-la com as duas mãos, com entusiasmo. Pouco depois,
disse “Agora já podes levar o pagamento até a tua princesa.”

“Mas pretendo ficar até o final do encontro,” a mulher falava e observava o cardeal, via que ele
guardava a pérola no interior acolchoado de um pequeno baú e trancava este com uma chave. “Ainda quero
aproveitar o leite da estalagem e as festividades que se realizam.”

Ela passou pela porta, chamou com um miado os dois gigantes e, na rua, disse que levassem o ouro
ao navio. Depois retornou sozinha para a taverna.

*.*.*.*

*.*.*

Quase uma hora depois de terem devolvido minha tia à masmorra, trouxeram para junto dela a
coelha Meloine. Os guardas meteram-na para dentro da cela, tinha as mãos livres, mas as trazia nas costas e
parecia envergonhada; tinha as orelhas abaixadas e vestia apenas uma saia de pano curto, que numa garota comum
cobriria até as coxas, mas nela, por causa da cauda, ficava arrebitada na parte de trás, de modo que quase deixava
ver, e se ela se inclinasse, deixava, uma boa parte do seu bumbum de coelha. Vestia também uma camisa fininha
que ao mesmo modo dessa saia era curta demais para ela e mais ainda para seios como aqueles que ela tinha, que
além de deixar de fora o terço inferior deles, permitia que se visse, através do tecido, não só as pontas deles como
aquelas areolas salientes ao redor dessas pontas e, sem nada para segurá-los, Meloine andava com os dois a
balançar dum lado para o outro e de vez em quando de cima para baixo.

Minha tia notou também que além de não ter nenhuma marca na pele, ao menos até onde podia ver,
nas coxas e nas costas, estava a mulher-coelho muito limpinha, tanto que não parecia ter passado a tarde numa
masmorra.

“Ei, tu estás bem, coelha?” perguntou Pelluria.

“Claro, claro.”

“Mas não te deram um milhão de chibatadas?”

“Hum rum, nunca aqueceram-me tanto a bunda.” Ela apontou para trás com um polegar, a cauda
sacudindo rapidamente.

“Ih, mas não tá doendo?”

“Tenho a traseira resistente. Mas foram só umas dez, aquela sapatona cansou antes de terminar.
Hehehe, e no fundo foi divertido!”

“Tu és louca? Gostas de apanhar, é?”


“Não, que isso? É que... bom, eles me levaram lá para fora, sabe? Para um lugar onde havia esta
arquibancada e estava quase todo vilarejo vendo.”

“Oh.”

“Aí me arrancaram todas roupas e me deixaram peladona na frente de todo mundo. Fiquei vermelha!
Até o pequeno saiote levaram. Depois eles me deitaram em cima dum tronco!”

“Ih, que nem fizeram com a gente antes?”

“Não, dessa vez foi de barriga pra cima! Então me amarraram os pés com uma corda que estava
presa por uma roldana no muro e aí... bom, aí eles puxaram essa corda e levantaram e esticaram minhas pernas
assim, uma pra cada lado!” Dobrou dois dedos e mostrou-os para a elfa. “Morri de vergonha, todo mundo vendo
meu bumbum! E a minha...!”

“Ui...”

“Aí a humana sapatona aquela que disseste ter roubado minha jóia pegou uma varinha bem fininha e
deu com ela na minha bunda como se eu fosse um cavalo de corrida.”

“E isto tu achaste divertido, sua tarada?”

“Não, né? Mas... ai, eu tenho vergonha de falar. É que aconteceu algo inusitado!”

Não faças c* doce, dona coelhinha, que nada mais me surpreende. Já vi que és meio maluca e fazes
as coisas mais estranhas.”

“Ah, é? Então não vou dizer!”

“Vamos, conta duma vez!”

“Mas tenho vergonha que o homem da outra cela escute,” Meloine disse baixinho, apontando para a
parede.

“Oh, não te preocupes com isso, pois ele não está mais lá! Assim que cheguei, levaram-no para o
julgamento dele.”

“Ih, sério?” Foi espiar pelo buraco nos tijolos. “Hehe, será que vão bater-lhe na bunda também?”

“Por que, querias assistir? Vamos, conta o que aconteceu!”

“Ah, tá bom, mas fica só entre a gente, então, já que somos companheiras de apuros. Bom, no
começo eu tava morta de vergonha, né? Ela fazendo a varinha estalar na minha bunda e todo mundo olhando e
ainda por cima incentivando.”

“E não doía?”

“Eu sou uma guerreira ninja, fui treinada para não sentir dor. Quando estou concentrada nada pode
me ferir. Só que aquele feitiço que me lançaram, o qual faz-me agir feito uma tarada, devia ainda estar
funcionando, pois começou a me dar um calor... Toda aquela gente me vendo pelada, me chamando de p***nha e
aquele negócio vindo e me acertando o tempo todo...”

“Oh, não acredito!”

“Aí eu fiquei excitada. Ainda bem que ela parou em seguida, porque tava me deixando toda
melada!”

“Hã? Quer dizer...?”

“Então veio a pior parte!”


“Pior que isso?”

“Sim, isso tinha sido só o aquecimento! Viraram-me e puseram-me de quatro, deixaram-me montada
no tronco esse, com o traseiro pra cima, de modo que todo mundo podia ver minha estrelinha-do-mar! Imagina
que vergonha, todo mundo de olho em tua...”

“Estrelinha...? Por Sene, essa é nova.”

“Aí ela pegou essa tábua cheia de furinhos e deu com ela nas bochechas da minha bunda!”

“Uma tábua com furinhos?”

“É, uma palmatória! Cada vez que ela dava, me empurrava a bunda para baixo e aquele tronco
roçava pelo meio das minhas pernas. E ela dava e dava e eu já não podia mais agüentar, e eles pensavam que eu
estava gemendo de dor, mandavam bater mais forte! Ia cada vez mais rápido, eu sacudia toda montada naquele
negócio e ia e ia até que... hehehe, bom...”

Pelluria olhava para o outro lado indignada.

“Aí eu tive um orgasmo,” Meloine cochichou.

“Não acredito!”

A elfa passou a mão pelo rosto.

“Ai, que vergonha! Hehehe! Só que ela continuou batendo! Eu achei que ia começar a doer, porque
ia me quebrar a concentração, né?, mas... Bom, o tronco roçava cada vez mais, daí mal terminou o primeiro e eu
tive outro! E depois outro e mais outro, acho que vieram uns cinco ou seis tudo emendado e depois eu perdi a
conta! Isso nunca me aconteceu antes, foi muito estranho. Aí eu já estava agoniada, aquilo não acabava nunca e
vinha um mais forte que o outro, eu não conseguia fazer parar! Não podia mais nem gritar, foi a coisa mais
angustiante do mundo, eu me contorcia toda, queria acabar com aquilo, porque não me deixava nem respirar
direito, até que uma hora desmaiei. Me trouxeram de volta para cá quando acordei, disseram para as pessoas que
eu morri e todo mundo aplaudiu! Nunca tinha desmaiado de tanto gozar antes!”

“Tu és a criatura mais tarada deste mundo, coelha!”

“Não tô normal, já disse, elfa. Eu nunca fiz essas coisas antes! Claro que também nunca me
prenderam pelada e me deram na bunda na frente de todo mundo, mas...”

“Por que foram me prender logo com uma coelha pervertida?”

“Ah, qual é? Já disse que não sou assim! Mas agora, depois de todos esses... bom, todo esse negócio,
acho que passou o efeito do feitiço, não posso mais nem pensar em... nessas coisas!”

“Sei, sei, logo já estás pendurada nas grades de novo. Ei, por acaso te deram um banho?”

“Sim, eu pedi para um dos soldados me… Bom, eu não devia dizer isso, mas na verdade ainda estava
meio a fim, né? Digo, quando me trouxeram para cá. Quer dizer, eu passei o dia todo com vontade, louca para
fazer mesmo, e todas essas vezes foi sem penetração, né?”

“Ai, eu sabia.”

“Estava louca por um bom…” Meloine ergueu os ombros. “Então eu deixei ele me possuir, o que foi
bem bom, pois me pôs de quatro, pegou pela cintura e o fez com força e vontade, e aí depois deixou eu tomar
banho para não ficar com aquele cheiro terrível, né, que já estava toda melada, e me deu essas roupas. Então eu
perguntei sobre a tal capitã Artemísia para ver se ele conseguia trazê-la até a mim para eu recuperar a
aguamarinha. É uma jóia muito importante, não fazes ideia.”

“Ué, e como a tirarias dela?”


“Se não pudesse tirá-la a força, eu podia tentar seduzi-la.”

“Ei, tu também és…?”

“Claro que não, não gosto desse tipo de coisa! Mas se ela gosta, poderia usar meus truques ninja…”
Meloine empinou uma nádega e deu um tapa sobre ela. “Iria atraí-la, que se isto aqui atrai os homens, também
deve atrair mulheres que gostam do mesmo tipo de coisa, e quando estivessemos sozinhas, iria dar-lhe uma
pancada na cabeça e retomaria a jóia e fugiria daqui.” Mal sabiam Meloine e Pelluria, é claro, que Artemísia,
apesar de forçuda e um tanto afeita a maltratar traseiras de prisioneiras, gostava tanto de mulheres quanto elas.
“Mas eles me colocaram aqui antes que pudesse pôr em prática meu plano.”

“Tu és realmente uma princesa? De verdade? E as mulheres-coelho estão atrás de ti como eles
disseram?”

“Hum rum.”

“Por quê?”

“Por causa da aguamarinha, é uma longa história. Por que foste tirá-la de mim? Está mesmo com a
capitã?”

“Eu já falei, está naquele corpete, não viste as correntinhas no pescoço dela? E se ela não tivesse
pego, provavelmente os outros a teriam encontrado e saberiam que és a tal princesa.”

“Fala baixo! Temos que sair desse lugar.”

“Mas sair daqui como, coelhinha tarada? O melhor que podemos fazer é esperar até que nos
conduzam ao tal Reino Subterrâneo, acho que é nossa única chance.”

“Precisamente. Quando forem nos levar, fugiremos na primeira oportunidade!”

“Assim espero. Mas explica-me o que está acontecendo, que já não entendo mais nada! Por que
fugiste das outras mulheres-coelho?”

Antes que Meloine pudesse dizer qualquer coisa, veio um dos guardas e colocou de volta o outro
prisioneiro na cela vizinha. Meloine pôs a língua, daí indicou o vigia e cochichou para Pelluria “Foi esse
safadinho.” E quando ele já tinha trancado a cela e ia sair, Meloine meteu um braço pelas grades, puxou-o e disse-
lhe “Ei, não esqueças do que eu disse, encontra aquela capitã musculosa para mim!”

“O que queres com ela, coelhinha?” o vigia disse enquanto se devencilhava de Meloine. “Ela é
perigosa.”

“Oh, ela vai bater no meu bumbum de novo, a sapequinha?” Meloine disse, levando as mãos para
trás de si. Ficou olhando até o vigia ir embora.

“Tarada,” Pelluria disse.

“Estava apenas executando um truque ninja.”

Então, aproximando-se da pequena abertura na parede, elas perguntaram ao homem da outra cela
sobre o que havia acontecido com ele. Respondeu-lhes que pretendiam enforcá-lo na manhã seguinte.

“Achas que podemos confiar nele, elfa?” Meloine perguntou.

“Acho que diz a verdade, pois logo que cheguei no vilarejo ouvi a história de um homem que fora
aprisionado por ter se metido com a duquesinha.”

“Mm, quem é essa tal duquesinha?”

“Uma loira com a bunda tão grande quanto a tua.”


“Deveras?”

“Bom, a dela é um pouco mais gorducha.”

Meloine colocou as mãos na cintura e inclinou-se um pouco para a frente. “E ela consegue fazer
isso?” disse e em seguida uma argola de ferro com duas chaves voou do interior da saia como se tivesse sido
arremessada de dentro dela e bateu na parede atrás da coelha.

“Ah, o que é isso?” assustou-se Pelluria.

“Hehehe, são as chaves das celas!”

Pelluria se abaixou e recolheu o chaveiro, impressionada.

“Tirei-as do vigia sem ele perceber,” Meloine proessguiu.

“Como prendeste tão rápido dentro da saia? Nem eu pude ver, estavas com as mãos para cima e...”

“Não peguei-a com a mãos. Hehe, sou uma mestra na arte do pompoarismo.”

“Pompo o que?”

“Quer dizer que possuo o controle total dos meus músculos mais íntimos.” A coelha falava baixinho
para o da outra cela não ouvir. “Eu posso segurar e até mesmo lançar objetos com estes músculos, como viste!”

“Tu tinhas metido as chaves na b*****?” gritou Pelluria. Daí olhou para as chaves e, com desgosto,
deixou-as cair. “Ai, que nojo!”

“Pss! Fala baixo!”

Meloine recolheu as chaves.

“Nossa, mas esse chaveiro é enorme! Estás mesmo acostumada a fazer isso?”

“Faz parte do meu treinamento!”

“Essa é nova para mim. Mas o que vamos fazer, Meloine? Não é melhor esperarmos até que nos
tirem do vilarejo? Seria mais difícil fugir daqui se fugíssemos da cela, eles viriam nos procurar!”

“Não é para nós! Quero deixá-las com o outro prisioneiro, para que ele também tenha uma chance.”
Meloine ofereceu o chaveiro para Pelluria. “Toma, passa para ele, elfa.”

“Eu-não-vou-tocar-nisso! E me parece meio arriscado, tu não devias ter pego.”

“Achavas melhor deixarmos ele morrer?”

“Ah. Tens razão, da mesmo forma que nós, ele não cometeu crime algum e não merece a morte.”

A mulher-coelho passou as chaves pelo buraco na parede usando as pontas dos dedos, pois tinha o
punho mais grosso que o da minha tia e este não entrava pela abertura.

“Pega com cuidado porque a coelhinha as tinha metidas na... Ai!”

Meloine acertou Pelluria com o cotovelo para interrompê-la.

“Por que estás me ajudando?” o homem perguntou.

“Já disse, não me agrada idéia de que morras enforcado quando posso fazer algo para evitar. Hehehe,
agora vós quereis ouvir o meu plano para tirá-lo daí?”
“Plano, é?” Pelluria sentou-se ao lado da coelha, que, puxando a saia bem para baixo para tentar as
nádegas e protege-las da poeira, também se tinha sentado.

“Sim, pois se sair agora pela porta – se bem que certamente estas chaves não abrem mais do que as
celas – ele não irá muito longe. Para que meu plano funcione, devemos pô-lo em prática quando estiver sozinho
aqui um dos guardas. Mas temos que esperar o momento certo e contar com a sorte para que não esteja
acompanhado. Bom, talvez possamos com dois deles, mas...”

Assim, Meloine contou aos outros o que havia planejado.

“Tu pensaste em tudo isso agora, é?” Pelluria perguntou em seguida.

“Claro, tenho uma mente muito ativa.”

“És a princesa que fugiu da ilha de Xexeres com a jóia do clã das mulheres-coelho?” perguntou o
homem da outra cela.

“Sou a princesa Meloine da Ilha de Xexeres, mas é importante que ninguém saiba disso. Pensa bem
antes de me trair!”

“És mesmo uma princesa?” disse Pelluria. “Não parece…”

“Ué, por quê?”

“Pelo modo como ages.”

“Bom, eu estava enfeitiçada de algum modo, já disse! Não sou assim.”

“Quero dizer, com esses truques como esse de roubar a chave e enfiá-la na…”

“Ei, todas ninjas de Xexeres dominam estas artes secretas, somos princesas guerreiras.”

“E como vieste parar aqui do outro lado do mundo? A tal ilha de Xexeres não fica no sul?”

“Sim, fica muito longe daqui. Acontece que fui exilada do templo de Xexeres por motivos que não
convém revelar e perdi o direito de herdar o trono da ilha. Depois disso, para piorar minha situação, fui
amaldiçoada da maneira que descrevi antes, de forma que divido a existência com um ladrão humano. Para livrar-
me desta maldição e recuperar minha honra, roubei a sagrada aguamarinha, a jóia de Xexeres, pois ela encerra um
segredo que, se revelado, fará com que o grande Xexeres retorne à vida! Com a rainha Tchuma-Enthofa, soube de
jóias semelhantes e deste conclave e vim para cá para tentar descobrir uma maneira de ativar os poderes ocultos da
jóia, pois se eu conseguir invocar Xexeres, o clã das mulheres-coelho terá poder suficiente para dominar o mundo
e elas me aceitarão de volta! Kyahahahahahah!”

“Ulp! Tu queres dominar o mundo, dona coelhinha?”

“Ah, não te preocupes. Nós, as mulheres-coelho, seremos governantes boazinhas e não faremos
maldades. Na verdade quero apenas livrar-me desta maldição e ser aceita de volta à ilha de Xexeres. Agora sou
uma renegada, todas as guerreiras do meu clã estão atrás de mim para recuperar a jóia sagrada, mas se eu puder
reviver Xexeres serei uma heroína. Porém esta elfa burrica roubou-me a pedra e perdeu-a em seguida, do mesmo
modo que fez com a jóia da tal duquesinha! Tu és profissional de roubar jóias e perdê-las logo em seguida ou o
que?”

“Bom, ou a humana não sabe da importância da jóia ou pretende mantê-la em seu poder, pois se a
tivesse mostrado aos líderes do vilarejo, certamente não teriam acreditado em tua história e teriam descoberto
quem és.”

“Ai, se acharem a jóia, vão me entregar pra ilha de Xexeres! Ou vão até pedir um resgate por mim e
pela pedra! Preciso recuperá-la!”
“É melhor esperarmos, coelha, se souberem da verdade não nos levarão ao tal Reino Subterrâneo e
não teremos chance de fugir. É capaz até de seguirem adiante com aquela idéia de me enforcar!”

“Os sacerdotes de Dravísios certamente não pediriam resgate pela pedra,” disse neste ponto o outro
prisioneiro. “Pois estão em busca de todas as jóias desta natureza. Se eles encontrarem a aguamarinha, vão te
matar.”

“Ai! É verdade?”

“É melhor que a jóia fique com a humana, a qual ignora tudo e de quem pode ser recuperada.”

“Mas que jóias são essas?” perguntou então Pelluria. “Essa azul e aquela da duquesinha, por que são
tão importantes?”

“São relíquias criadas em tempos muito antigos,” disse o prisioneiro.

“O número exato delas é desconhecido,” disse Meloine. “A rainha Tchuma-Enthofa contou-me a


respeito delas quando estive refugiada em sua ilha.”

“Cada uma tem um poder diferente e quando reunidas de forma correta, libertarão forças jamais
vistas.”

“O grande Xexeres? Será esta a forma de invocá-lo? Reunindo todas as jóias?” perguntou a coelha.

“O grande Xexeres é apenas uma lenda das mulheres-coelho.”

“Ei, o grande Xexeres não é uma lenda!” Meloine ergueu-se irritada. “E eu vou revivê-lo!”

“O culto de Dravísios está procurando as jóias há muito tempo, vieram até este vilarejo para pegar a
esmeralda de Loirs e a pérola da Turísia e uma outra jóia negra. Logo revelarão seus verdadeiros objetivos e os
humanos pagarão por sua ignorância.”

“E o que é o tal Reino Subterrâneo para onde vão nos enviar?” perguntou Pelluria.

“É uma rede de cavernas sob a província, elfa,” Meloine explicou, parecendo achar minha tia muito
burra. “É habitada por lâmias, se não me engano, e elas são inimigas dos humanos, pois viviam nestas terras desde
antes delas terem sido anexadas ao império pela família de Loirs, o que aconteceu há algumas décadas.”

“Ei, como sabes tudo isso?”

“Sou uma princesa, além de sexy e inteligente.” Por algum motivo Meloine segurou os seios e
pressionou-os contra o próprio peito. “Desde então, quando vieram mais humanos e construíram seus castelos,
tanto os homens quanto as lâmias estão sempre procurando motivos para brigar e acusando uns aos outros de
diversos crimes, por isso evitam os territórios um do outro.”

“Lâmias, é?” Pelluria perguntou. “Não são aquelas criaturas metade mulheres e metade cobras? Eu
ouvi dizer que são selvagens e comem pessoas! Tu achas que a fadinha roubou a jóia da duquesa para essas
lâmias, coelha?”

“Não sei, é possível. Não disseste que a fada entrou num buraco que dirigia-se ao fundo da terra?
Existem várias entradas para o mundo subterrâneo espalhadas pela província. Se recuperarmos a esmeralda,
poderei trocá-la pela minha jóia?”

“Não contes tu com isso, mulher-coelho,” alertou o estranho. “O culto de Dravísios pretende ficar
com todas elas. E muitos outros estão atrás das jóias. Da mesma forma que os humanos de Orqushire e da Turísia,
as mulheres-coelho de Xexeres não tinham idéia do que possuíam.”

“E mesmo assim, pegar a esmeralda exigiria que enfrentássemos as lâmias,” assustou-se Pelluria.
“Ou achas que irão devolvê-la de graça? No que fui meter-me? Ei, coelha, agora pensei numa coisa! Não disseste
que sempre que te transformas em homem…”
“Eu não me transformo em homem! Nós apenas mudamos de lugar!”

“Sim, mas disseste que quando isso acontece, teus objetos voltam para tuas mãos, de forma que
assim explicaste o aparecimento da tua espada lá no quarto da estalagem. Não bastaria então esperar um dia para
que tua jóia retornasse?”

“Apenas meus objetos pessoais estão amaldiçoados, assim é verdade que quando aquele ladrão
desgraçado voltar a transformar-se em mim, estarei com minha espada, armas e roupas. Mas a jóia é um item que
peguei depois de já ter sido amaldiçoada, ela apenas tornará a aparecer em meu poder se estiver em minhas mãos
no momento em que eu me transformar nele.”

“Ooh...”

Pouco mais tarde vieram três guardas e trouxeram comida para os prisioneiros, mas Meloine
recusou-se a comer, pois não havia cenouras e nada que fosse de seu agrado e disse também que a comida de
prisões costuma ser muito suja, embora minha tia não achasse o mesmo ao observar o prato, que pareceu-lhe
decente. Em seguida abriram a cela onde estavam a elfa e a coelha e um deles entregou malhas pretas para
Meloine – semelhantes àquelas que estavam no quarto da estalagem, senão as mesmas – e mandou que as vestisse.

“Oh, são meus trajes ninja! Mas estão incompletos!”

A coelha ajoelhou-se perto da parede e apalpou as roupas notando que faltava parte delas, bem como
as várias armas e itens que costumava esconder em seus compartimentos secretos. Um soldado mandou que
Meloine se apressasse e outro já se aproximava para tirar minha tia da cela. Disseram que as duas seriam levadas
ao Reino Subterrâneo.

“Ih, agora o teu plano já era, coelhinha, tem muitos guardas,” a elfa disse baixinho e foi forçada a
sair, acompanhada por um dos soldados.

Outro deles foi até a porta da sala, enquanto um terceiro, apoiado nas grades, olhava para Meloine,
agora nua, cobrindo os seios com um braço e entre as pernas com a outra mão, e dizia:

“Vamos, coelha!”

“Eu tenho vergonha,” ela disse e andou até o fundo da cela, onde virou-se de costas e inclinou-se um
pouco. Cobriu o espaço entre suas nádegas, que daquele modo ficavam um tanto empinadas, com o dorso de uma
mão. “Vais ficar me olhando?” Abaixou-se para pegar as malhas no chão e, com o canto dos olhos, viu que o
soldado mirava sua traseira. Tirou a mão da frente, fez balançar a cauda; colocou os pés na malha preta, subiu-a
até as coxas, onde as esticou bem. “Ai, é tão apertada! Não entra no meu bumbum! Por favor, ajuda-me a vestir!”

O guarda aproximou-se e Meloine apoiou as mãos na parede; com a cauda ainda sacudindo, ela
ergueu as ancas em direção ao homem como se as oferecesse e disse “Vamos, puxa com força!”

Daí sentiu as mãos dele se fechando em sua cintura. Desceram. Nossa coelhinha sentiu suas nádegas
sendo afastadas uma para cada lado.

“Oh! Não vai se aproveitar de mim, né?”

“O que está acontecendo?”

O soldado da porta aproximou-se, veio ver o que seu colega fazia com a coelha.

“Nada, já vou sair! Espera lá fora,” respondeu o que tinha nas mãos na já tão sofrida bunda da
Meloine.

“Mas a capitã Artemísia avisou que a coelha é...”

“Vamos, espera lá fora, não vou demorar nada! A capitã nunca vai saber!”
O outro concordou e saiu da sala rindo. Em seguida a mulher-coelho virou-se e num salto agarrou o
soldado com as pernas, montou nele fazendo com que se desequilibrasse e caísse, pois era pesada.

“Oh, sim, sim, vem! Vem! Pode vir!” ela gritava curvando-se sobre ele e afundando o rosto do
guarda entre seus seios. Quando ele conseguiu afastá-los, pois não deixavam que respirasse, viu o prisioneiro da
outra cela ajoelhado ao seu lado.

“O que!? Como foi que...?”

O homem bateu na cabeça do guarda com a mão fechada e Meloine se levantou, colocou
rapidamente sua roupa. Era uma peça única que cobria-lhe todo corpo, deixando de fora apenas a cabeça e os
dedos dos pés e mãos. Tinha também uma pequena abertura no topo da traseira por onde ela passou sua cauda de
coelho.

“Vamos, veste as roupas dele e amarra-o com as tuas, prende a boca para que não possa falar,” ela
disse ao outro prisioneiro e aproximou-se da porta da sala, onde passou a berrar com todas forças que tinha: “Oh,
não, não, sim, é grande demais! Está me machucando! Ai, não cabe mais, por favor, tira, tira, oh-yes-baby, põe de
novo! Ai, sim, sim, mais! Enfia tudo, oh, não, não, sim!”

Em pouco tempo o estranho fechou as duas celas e aproximou-se de novo da coelha, estava vestido
com o uniforme do guarda, os cabelos escondidos sob o elmo.

“Hm, então tu és humano,” Meloine disse.

“Não, eu não sou humano.”

“Heh. Pareces humano.”

“Tu tens um bom coração, mulher-coelho.”

“Oh... eu...” Ela sorriu com os dentes salientes e virou-se para a porta. Teve uma sensação esquisita
que não saberia descrever quando ele encostou-lhe os dedos no ombro. “Vamos, não temos tempo a perder!
Afasta-te dos outros guardas assim que puderes e sai do vilarejo, pois logo encontrarão o soldado que prendemos
na cela.”

Deixaram a masmorra e lá fora outros guardas pegaram a coelha pelos braços, levaram-na para perto
da elfa e depois conduziram as duas pelas escadarias até uma sala onde a capitã Artemísia estava com muitos
outros soldados, de forma que com seu disfarce o estranho não teve dificuldade em passar por ali. Os olhos de
Meloine acompanharam-no até ele sair do templo.

“Viste, elfa? Meu plano funcionou!”

“Só espero que possamos também fugir,” Pelluria disse.

*.*.*.*

*.*.*

“Traidora!”

A serva Lourdes-Maria estava grudada na parede, ao lado da janela do quarto. Segurava o frasco
contendo a poção com uma das mãos nervosas e com a outra afastava a duquesinha.

“Por favor, não chega perto, senhora!”


“O que significa isto? Ficaste louca?” A nobre tinha o rosto avermelhado e tentava tirar o cantil da
menina; sua serva nunca a havia visto tão irritada e confusa. “Por que pegaste minha poção? Dá aqui!”

“Porque... porque minha senhora não precisa disso!” assim dizendo, a serva jogou o frasco por entre
as grades da janela e acompanhou a trajetória que ele percorreu diante das nuvens até sumir de sua vista. Mal
sabia que fazendo isto estava salvando a vida da herborista (ou ao menos evitando que sua senhora passasse
vexame com o primo), pois aquela poção jamais funcionaria como afrodisíaco, já que na noite anterior o elixir
com este fim havia sido trocado pela mistura medicinal de Pelluria.

Agora, porém, a nobre nem pensava nisso. Estava paralisada, perplexa, seus lábios entreabertos não
sabiam o que dizer. Então a serva falou bem rápido, quase gritando:

“A senhora é uma mulher linda, não precisa desse tipo de ajuda!”

“Lourdes!” A duquesinha aproximou-se e ergueu uma das mãos, os dedos abertos. De imediato a
serva encolheu os ombros e fechou os olhos, esperando assustada pelo que achava que seria o maior tapa de todos
os já recebidos em sua vida. Passou-se muito tempo, porém, e o tapa não veio. A menina foi angustiando-se cada
vez mais, até que lágrimas começaram a escorrer por suas bochechas. Finalmente sentiu o toque da outra, mas as
mãos dela agarraram-lhe cuidadosamente o rosto. “Tu estás com ciúmes?”

“Eu não poderia suportar te ver nos braços dele,” a serva disse, esforçando-se muito para falar, e por
fim, como que aliviada por ter confessado algum segredo, agarrou a duquesinha pelo vestido. Puxou-a para perto e
abraçou-a apertado, deixando o rosto cair num dos ombros dela, por onde desceram mais algumas lágrimas.
Estava tremendo.

“E nos braços de quem estou agora?” Os lábios da duquesinha foram repousar na testa da serva e ela
não pôde responder. Deeslizaram até a bochecha de gosto salgado, onde falaram de novo. “Por acaso são dele
estas mãos que me seguram com tanta vontade?”

A serva ergueu o rosto, seus dedos entraram sob os cabelos da senhora; tinham o cheiro de perfume e
suor misturados.

“Vais parar de chorar agora?” a duquesinha perguntou perto do ouvido da serva. Ela concordou com
a cabeça, queria pedir desculpas.

A menina sentiu o canto dos lábios da duquesinha, macios, foram encostar sobre os dela própria.
Quis tocá-los, ser abocanhada e perder-se dentro deles, mas bateram na porta do quarto. Então a duquesinha
pegou-a pelas bochechas, afastou um pouco o rosto e perguntou:

“Estás bem agora?”

“Tô. Senhora, me perdoa.”

“Então vai ver quem é. Nós falamos depois.”

“Tá,” a serva concordou sem se mexer, os dedos ainda fechados no corpo da senhora, os olhos duma
fixos nos da outra. E passou-se muito tempo com as duas ali, paradas, até que o cantinho de um dos lábios da
duquesinha foi se erguendo, foi virando um sorriso. “Senhora... eu... os teu olhos são...”

“Cala a boca, boba.”

Os lábios volumosos da duquesinha se apertaram num biquinho e tocaram os da serva, bem rápido,
mas logo se afastaram de novo.

“Senhora, eu te...”

“Pára, já disse! Será que vou ter que te beijar até...”

Ficaram quietas. A serva sentia a respiração da duquesa, o peito dela se enchendo, os seios
pressionando os seus próprios. Foi colocando uma das mãos sobre o peito dela até ter um dos seios todo na sua
palma. E dali foi subindo, passando pelo pescoço, o queixo, até que um dos seus dedos estava sobre a boca da
duquesinha; foi puxando um dos lábios dela para baixo, abrindo-lhe a boca. E foi chegando mais perto, sempre
perdida nos olhos verdes, esticando o pescoço. Então ouviu o barulho da porta e foi empurrada para longe e logo
entrou uma vigia dizendo “O pai da senhora duquesinha quer vê-la!”

Um pouco agitada, nossa duquesa foi sentar-se na cama e chegou o grão-duque, pediu que as servas
saíssem. Lourdes-Maria olhou com de tristeza para sua senhora, porque não queria deixá-la, mas logo partiu na
companhia da vigia.

O grão-duque contou para sua filha sobre o julgamento da elfa e sobre esta e a mulher-coelho terem
sido levadas pelos soldados para buscarem a esmeralda no mundo subterrâneo. Depois falou sobre o primo da
duquesinha, disse que a herborista descobrira que ele estava sob o efeito de uma maldição. Isto deixou a
duquesinha bastante surpresa e assustada. A herborista havia procurado no quarto de Dom Mastilhos e encontrado
um pequeno círculo de ferro negro, que dissera ser o foco da maldição, e em seguida quebrara-o, fazendo sumir
neste instante com todo e qualquer sintoma da doença que vinha afligindo o primo da nobre.

“Então meu primo está bem agora?” perguntou a duquesinha. “Posso ir vê-lo?”

Mas seu pai não permitiu, disse que ela deveria ficar no quarto; já havia colocado algumas vigias lá
fora e a torre estava fechada, pois a capitã Artemísia havia saído – para acompanhar os soldados que levavam as
prisioneiras – e ele estava preocupado com a história da maldição. Suspeitava de todos e disse que pretendia
descobrir o que estava acontecendo, assim seria melhor que a duquesinha retornasse para o castelo de Loirs o mais
cedo possível.

“Por mim,” a nobre disse ergueundo os ombros. “Eu não gosto mesmo daqui, meu quarto é tão
pequeno.”

“Quando a capitã Artemísia retornar, ela te levará ao castelo.”

“Ah, eu posso ir com a minha serva.”

Mas o Grão-Duque não permitiria isso e nem que ela fosse acompanhada por menos de cinco
soldados, além da capitã.

“Mas quem fez isso com meu primo?”

Mychelle Alantura pensou em acusar a capitã, mas ela estava no exército desde menina, o grão-
duque diria. E, oh, no fundo sabia que ela gostava de seu primo. O sol já preparava-se para se pôr quando a
duquesa ficou sozinha no quarto, que foi fechado, da mesma forma que as demais passagens da torre, todas bem
vigiadas. Ela tirou as botas e deitou-se sobre os lençóis, vestida. Cruzou as mãos sobre o ventre, preocupada com
seu primo e imaginando quem poderia estar por trás do infortúnio dele. Com certeza algo estranho acontecia no
vilarejo e a perturbava o fato dela nada saber e nem mesmo poder sair para investigar. Sentia-se terrivelmente
fraca desde que deixara a elfa roubar-lhe a esmeralda.

Por fim, quando conseguiu afastar esses pensamentos, fechou os olhos e sorriu lembrando-se do
dedo da serva a deslizar pelos seus lábios.

*.*.*.*

*.*.*

“O que ele está fazendo aqui?” a coelha Meloine perguntou para minha tia. As duas estavam entre
vários soldados, tinham suas mãos amarradas e a coelha havia acabado de perceber que o prisioneiro disfarçado de
guarda, aquele que estivera com elas na masmorra e a esta altura já deveria ter deixado o vilarejo, estava entre os
outros homens.

“Ih, sei lá,” respondeu Pelluria. “Talvez ele queira vir junto pra ajudar a gente. Ou pra ver se estamos
bem.”

“Sei, sei. Talvez ele queira ver se encontramos a jóia!”

“Hm, pode ser. Mas então estas são as tuas roupas de ninja, é, coelhinha?”

“Sim, mas estão incompletas. Tiraram minhas armas secretas e o restante dos trajes, incluindo a
máscara, que permitem que eu use a arte da invisibilidade.”

“É, que tão incompletos dá pra notar, afinal essa malha é tão transparente que deixa tuas tetonas
aparecendo.”

“Gulp!”

“E o rabão também.”

“Quer parar?”

Fizeram com que Pelluria conduzisse todos até o local que deveria conduzir e chegaram lá quando já
havia anoitecido, de forma que vários soldados segurando tochas cercaram a árvore sob a qual havia a plantação
de flores vermelhas em que a elfa tinha caído no dia anterior. Começou a esfriar, também.

Meloine estava angustiada, queria que encontrassem logo a entrada para o mundo subterrâneo para
que não a vissem no momento em que se transformasse no ladrão Gustaff Olafson.

“Há uma abertura no tronco,” um dos homens logo informou à capitã Artemísia e ela foi verificar.
Era o buraco por onde descera a fadinha, Pelluria explicou.

“É muito estreita. Trazei as pás e cavai aqui,” a capitã mandou e, enquanto dois soldados foram
cavar o solo nas proximidades do tronco, outros soltavam as mãos das prisioneiras e as levavam para perto da
árvore.

Logo os que cavavam atingiram uma abertura pouco mais larga, que estivera oculta sob uma das
raízes mais superficiais. Esta entrada dirigia-se para o que parecia ser um túnel de pedra; não se podia ver o fim
dele e parecia ficar cada vez maior conforme ia para baixo da terra, até parte em que havia algo, para minha tia,
um tanto inacreditável: uma portinhola de madeira, com fechadura e tudo. Só que a fechadura estava rompida e a
portinha estava aberta.

“É uma entrada para o submundo, sem dúvida,” disse a capitã. “Talvez seja uma passagem
abandonada.”

Deram então uma tocha e uma pequena espada para cada uma das prisioneiras.

“Ih, essa espada é muito vagabunda, não serve pra nada,” Meloine reclamou. Não era muito boa, mas
melhor que nada, na verdade, pensou Pelluria. “Não posso ter a minha de volta?”

“Não! Entra na passagem!” ordenou a capitã e em seguida alguns dos soldados estavam empurrando
a coelha e minha tia.

“Cuidado para não tocar nessas flores vermelhas, coelhinha, pois deixam cheia de bolotas,” Pelluria
avisou Meloine e se abaixou.

“Lógio, acha que sou burra?”

Com a tocha diante de si, nossa elfa foi entrando de frente no túnel. Passou com dificuldade pela
abertura estreita na terra e logo estava tateando na rocha. Andava de quatro, quase rastejando, e tinha medo de que
o teto desabasse. Logo alcançou a portinhola de que os soldados tinha falado, mas nem ali o túnel se alargava.

“Tu também, coelha, ou queres morrer aqui mesmo?” disse Artemísia.

“Ei, calma,” Meloine disse e chochichou “não queres… bom, nós duas podíamos, se quiseres…”

Artemísia fez um sinal e dois soldados arrastaram Meloine e a enfiaram no buraco.

“Ai, é muito apertado, meus peitinhos não passam!” a coelha começou a gritar com parte de seu
corpo para fora da terra e outra parte no interior. “Fiquei presa, socorro!”

A capitã, com o pé, empurrou Meloine pelo traseiro e em seguida a coelha estava indo atrás da elfa o
mais rápido que podia, encolhida e com os seios fartos dependurados entre os braços.

“Espera, Pelluria!”

“Ei, tira essa tocha de perto da minha bunda! Vai me queimar!”

“Ih, desculpa! Hehehe! Mas é tão apertado, tenho medo de que o túnel caia nas nossas cabeças.”

“Pelo menos o teto está ficando mais alto, eu acho. Lá atrás ficava batendo nas minhas orelhas.”

“Tenho medo que possamos morrer sufocadas!”

Seguiram pelo túnel por muito tempo, até que atingiram uma parte onde o teto dele era realmente
mais alto, tanto que já podiam ficar ajoelhadas lá dentro. E nesta parte havia dois pilares de madeira apoiados nas
paredes. Minha tia imaginava quem poderia ter construído a passagem e pensava em lâmias. Nunca tinha visto
uma delas.

“Ai, finalmente! Já não podia mais esfregar meu peitinho no chão!” Meloine ajustou com uma das
mãos a malha cobrindo as duas bolotas que formavam seus seios e depois olhou ao redor. “Estas vigas parecem
estar ajudando a sustentar o teto.”

“Então estamos no caminho certo, infelizmente. Gulp! Daqui a pouco surgem as tais lâmias para nos
comer os miolos! Já encontraste alguma delas uma vez?”

“Nunca! Vamos fugir, não quero que elas me comam!”

“De que jeito, coelha? O negócio é prosseguirmos. Com sorte encontramos outra saída para a
superfície e fugimos desta província.”

“Mas para onde vamos agora?”

Havia três passagens ali, uma era por onde elas chegaram; outra era pouco mais estreita, também
com paredes de pedra, e uma terceira parecia ser feita no meio da areia, um buraco.

“O ar parece vir da passagem de terra, coelhinha,” falou Pelluria.

“Mas... mas essa passagem de areia pode ter... gulp... minhocas!”

“AAAII! Eu tenho medo de minhocas!” Pelluria foi esconder-se atrás da coelha, pegou-a pelos
ombros.

“Eu também! E pode ter cobras! Quer dizer, lâmias são que nem cobras, né? Pelo menos as nobres.
Então pode ter cobras também! Vamos pelo túnel de pedra!”

“Mas neste pode haver aranhas! Vai na frente!”

“Eu não!”

“Vai, agora é a tua vez de ir na frente! Eu já vim até aqui!”


“Ai, tá bom,” concordou a coelha. “Mas eu tenho que te pedir uma coisa!”

“O que é?”

“Quando eu me transformar, não contes para o ladrão que eu perdi a minha jóia, tá bom? Ele vive
tentando tirar a aguamarinha de mim e vai acabar causando ainda mais confusão. Por favor, fica de olho nele e não
deixa que faça nada de errado, tá?”

“Mm, tá bom, eu não digo nada.”

“E seria legal se não dissesses sobre... mm, aquelas bobagens que fiz com a árvore sagrada, sabe
como é. Ei, talvez seja melhor esperarmos aqui até eu me transformar. Ele aparecerá com suas armas e poderá te
ajudar, elfa.”

“Oh!”

“Que foi?”

“Pss! Fala baixo! Tem uma luz bem lá no fim do túnel, olha só!”

Pelluria apontou para o caminho de pedra.

“Hã?” Meloine esforçou-se para enxergar e as duas afastaram suas tochas. “Nossa, é verdade! Ai,
será que são as lâmias?”

“Não sei. O que tu preferes, as lâmias ou as minhocas?”

“As lâmias!”

“Então vamos, anda!”

A elfa apontou novamente para a entrada.

“Talvez seja melhor deixarmos as tochas aqui e irmos espiar! Se forem lâmias podemos voltar sem
que elas notem nossa presença.”

“Mm, tá bom, acho que elas não vão apagar. Vamos deixá-las perto da parede e vamos prosseguir em
silêncio.”

Assim fizeram. Pelluria empurrou a coelha e ela entrou no túnel de pedra.

Lá fora, enquanto alguns soldados montavam o acampamento, a capitã Artemísia andava de um lado
para o outro, o pendente de ferro recebido do cardeal exposto sobre seu corpete. Ela pensava no enviado de
Dravísios que deveria encontrar, olhava para todos os lados e via apenas a floresta ao redor, as árvores bloqueando
a luz das luas e desta forma impedindo-as de iluminar mais do que a clareira.

Pouco menos de uma hora passou-se até a capitã ver um brilho não muito distante, no denso da
floresta. Foi muito rápido e ela se concentrou e passou a buscar com cuidado. Quando já pensava que havia sido
apenas sua imaginação, viu ao lado duma árvore próxima dois pontos vermelhos, acesos como brasas e flutuando
em pleno ar. Foi aproximando-se devagar, com a espada nas mãos, e percebeu um vulto gigantesco. Aqueles
pontos vermelhos não eram uma ilusão; eram olhos e brilhavam mais do que os de qualquer animal selvagem que
já houvesse encontrado.

...

Nos dois próximos capítulos desta história será contada a aventura da elfa Pelluria no Reino
Subterrâneo, bem como seu encontro com a rainha das lâmias e, entre outras coisas, será revelado o destino da
fadinha e o da jóia da duquesinha Mychelle Alanturia. E depois, na oitava parte, finalmente será esclarecida toda
esta confusão em que estão metidos o vilarejo e a própria província de Orqushire. Após isso não restarão dúvidas
sobre os propósitos e métodos do culto de Dravísios e nem sobre as verdadeiras motivações da capitã Artemísia,
da felina da Turísia, do cardeal de Dravísios, da herborista e dos demais. Os participantes finalmente definirão
seus lados e objetivos e conheceremos em detalhes a história desta província, anexada ao império pelo grão-duque
de Loirs há algumas décadas, quando era ainda controlada pela demônia lady Amora, a mãe da duquesinha.

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