Afrocentricidade Internacional - Divisão Brasil
MENSAGEM ANUAL DO FUNDADOR DA KWANZAA |
“PRATICANDO A KWANZAA E OS SETE PRINCÍPIOS:
GARANTINDO O BEM ESTAR DO MUNDO”
Los Angeles Sentinel, 23-12-2021, p. C1
DR. MAULANA KARENGA
Heri za Kwanzaa. Feliz Kwanzaa para
pessoas Africanas em toda parte por toda
a comunidade Africana mundial. Nós
trazemos e transmitimos os votos de
celebração da Kwanzaa pela
solidariedade e batalha contínua pelo
bem comum no mundo. Nas palavras e
nos costumes de nossas e nossos
antepassados, desejamos a vocês todas
as coisas boas, puras e belas, todo o bem
que o céu concede, a terra produz e as
águas trazem de suas profundezas.
Hotep. Axé. Heri.
Esta estação e celebração da
Kwanzaa no seu 55º aniversário chega
num momento em que a humanidade e o
mundo estão em crise: a pandemia de
Covid-19 com todas as suas variantes
destrutivas e mortais; erosão do conceito
e prática da democracia; economias
falidas; conflito e guerra contínuos e o
resultante deslocamento massivo de
pessoas; fome e aumento do sofrimento.
Ainda há a degradação ambiental
contínua, mudança climática, fenômenos
climáticos extremos, aumento do nível do
mar, destruição de espécies e de seus
habitats, aumento da poluição,
desaparecimento do gelo ártico e a
ameaça de perda de nações insulares.
Como um feriado pan-africano1
com origens agrícolas antigas, a Kwanzaa
celebra o bem da terra e carrega consigo
1
Nota de Edição: Para uma discussão sobre o uso
indiscriminado do termo “pan-africano” como
sinônimo de auto-suficiência racial do povo preto,
ver o material disponibilizado pela AI-Brasil no
RBG100 em: https://cutt.ly/rfdA37V.
55° ANIVERSÁRIO
o compromisso de proteger, preservar e
compartilhar esse bem. E as origens
modernas da Kwanzaa no Movimento de
Liberdade Preta o comprometem com a
conquista da libertação e da justiça social.
Assim, na filosofia Kawaida, a partir da
qual foram criados a Kwanzaa e os Nguzo
Saba, a justiça ambiental e a justiça social
estão inseparavelmente ligadas ao
imperativo moral de alcançar e garantir o
bem para a África e a humanidade, assim
como o bem-estar do mundo.
A Dra. Wangari Maathai dedicou
sua vida à prática de unir a luta pela
justiça social com a luta pela justiça
ambiental. Ela também entendeu que
não precisamos sacrificar o bem dos seres
humanos pelo bem-estar do mundo, nem
sacrificar o bem-estar do mundo pelo
bem dos seres humanos. O que é
necessário é uma justiça complementar;
onde a justiça para um é concebida e
praticada com e por meio da justiça para
ambos. Ela fala sobre como, na aceitação
acrítica das visões e valores do
colonialismo sobre a terra, "as paisagens
sagradas perderam sua sacralidade e
foram exploradas à medida que as
pessoas se tornaram insensíveis à
destruição, aceitando-a como um
progresso". Assim, ela clama por uma
expansão do “espaço democrático” em
que as pessoas tomem decisões em seus
próprios interesses, redescubram suas
vozes e valores e reconstruam seu mundo
social e natural de maneiras legítimas,
eficazes e mutuamente benéficas.
1
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Muito antes do conceito e do
apelo ao ambientalismo emergirem, o
brilhante cientista e quimúrgico2, Nana
Dr. George Washington Carver, era um
ambientalista preocupado tanto com a
justiça social quanto com o bem-estar do
mundo. Ele ensinou que devemos
respeitar a nós mesmos e aos outros e
nos pediu que “não olhemos para cima
para os ricos nem para baixo para os
pobres”. Em vez disso, devemos ajudar
“os pequenos e humildes” em seu grande
esforço para superar a pobreza e a
opressão e viver uma vida com dignidade
e decência. Além disso, ele nos ensinou a
amar a natureza, ouvir sua fala, aprender
sua linguagem e lições para o bem da
humanidade e do mundo. E ele nos pede
que não acumulemos, monopolizemos ou
sejamos gananciosos em relação ao bem
do mundo, mas que sejamos aqueles “que
tomam (sua) parte do mundo e deixam
que outras pessoas tenham a delas”
O conceito e a prática de salvar e
sustentar o mundo estão inevitavelmente
ligados ao fato da humanidade
compartilhar o mundo de forma
equitativa e fazerem o que garante o
bem-estar do mundo. E os Nguzo Saba, os
Sete Princípios, nos oferecem uma nítida
base e um caminho a seguir para isso. E
assim, somos encorajados a nos
relacionarmos corretamente, agirmos
com justiça e andarmos com suavidade e
humildade na terra. O princípio e a
prática do Umoja (Unidade) ensina um
senso de identidade em constante
expansão por meio de nosso senso de
unidade com os outros e o mundo. Com
os outros, somos semelhantes (watu)
com obrigações de respeito mútuo,
solidariedade recíproca e cooperação
para o bem comum. E em nossa relação
2
Conhecida hoje como engenharia bioquímica,
foca no estudo da conversão de matérias-primas
agrícolas em produtos industriais e de consumo
não alimentícios. George Washington Carver é
reconhecido como "pai da quimurgia".
com o mundo, somos seres do mundo
(walimwengu), profundamente
enraizados no mundo natural e também
no social, inter-relacionados,
interdependentes e inevitavelmente
responsáveis ​pela saúde, integridade e
bem-estar de ambos. Assim, entendemos
que dano ao mundo é dano a nós e
ecocídio é uma forma de genocídio, o fim
de tudo.
O princípio e a prática de
Kujichagulia (Autodeterminação), como
nos ensina Nana Haji Malcolm, é “ver por
si mesmo, ouvir por si mesmo e pensar
por si mesmo”. E isso deve ser feito não
isoladamente, mas em comunidade e em
meio à luta pela justiça, pela liberdade e
pelo bem no mundo. Significa não se
contentar com o pensamento da ordem
estabelecida prevalecente, mas refletir
profundamente sobre as condições atuais
e futuras do mundo, e como ensinaram os
ancestrais: pensar profundamente sobre
o que é bom para as pessoas e para o
futuro do mundo.
O princípio e a prática de Ujima
(Trabalho Coletivo e Responsabilidade)
exortam a aceitação da responsabilidade
compartilhada de trabalhar juntos para o
bem no mundo, o bem da liberdade,
justiça, equidade, paz, cuidado mútuo e
cooperação; e construir o mundo bom
que todos queremos e merecemos; e
deixar como legado digno do nome
Africano e humano. É um trabalho e
batalha que requer sensibilidade moral
genuína e contínua para com os outros,
suas aspirações para o bem, bem como
um compromisso ético com o bem-estar
do mundo e com a luta para alcançá-los.
Defender o princípio e a prática da
Ujamaa (Economia Cooperativa) nos
ensina o valor essencial do trabalho
compartilhado e da riqueza
compartilhada e o direito de todos a uma
vida digna e decente. Convoca-nos a
cultivar um parentesco no e com o
mundo, a rejeitar os conflitos criados
2
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artificialmente entre uma economia
robusta e uma relação justa com o meio
ambiente. E ensina o respeito pela terra
como espaço sagrado compartilhado e
bem comum, que não deve ser saqueado,
poluído e exaurido pela ganância e
agressão das corporações e pela
exploração consumista sem consideração
das consequências para o mundo.
Ao abraçar o princípio e a prática
de Nia (Propósito), colocamos em
primeiro plano e promovemos o antigo
ensinamento moral dos Odù Ifá de que
devemos fazer as coisas com alegria “pois
certamente os seres humanos foram
divinamente escolhidos para trazer o bem
ao mundo”. E esta é a missão
fundamental e o sentido da vida humana.
E nos lembra que, embora sejamos
escolhidos pela história e pelos céus para
trazer o bem ao mundo, também
devemos escolher fazê-lo. Significa
escolher audaciosamente o que é bom
para o mundo e agir de acordo. Isso
significa escolher no pensamento e na
prática o amor ao invés do ódio, a paz ao
invés da guerra, a liberdade ao invés da
falta de liberdade, a justiça à injustiça, o
compartilhamento à acumulação e a
libertação de opressões de todos os
tipos, formas e maneiras.
O princípio e a prática de Kuumba
(Criatividade) nos convidam e nos
convocam a trabalhar e batalhar por
comunidades, sociedades e um mundo
mais belo e benéfico do que aqueles que
herdamos. Isso levanta o antigo
imperativo ético Africano dos Husia de
praticar o serudj ta, ou seja, reparar,
renovar e refazer o mundo
constantemente. Devemos ver esta
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Tradução: AI-Brasil - Shenuti Swahili KMT e Vice-Shenuti Bruno Amani
Afrocentricidade Internacional - Divisão Brasil, afrocentricidadebrasil@gmail.com
reparação, renovação e remodelação
como uma iniciativa social e ambiental.
Mais uma vez, as questões, o impacto e os
resultados são inter-relacionados e
interdependentes. Assim, devemos, em
nossas relações uns com os outros, com
os outros humanos e com o mundo
natural: erga o que está em ruínas; repare
o que está danificado; junte o que está
separado; reabasteça o que está
esgotado, fortaleça o que está
enfraquecido; conserte o que está
errado; e torne sólido e próspero o que é
frágil, inseguro e subdesenvolvido.
Finalmente, o princípio e a prática
de Imani (Fé) nos ensina e nos incentiva a
acreditar em nosso povo, no bem que
buscamos, ansiamos e batalhamos por; e
em nossa capacidade de alcançá-lo e
compartilhá-lo. Devemos crer na retidão
e vitória de nossa luta para trazer e
sustentar o bem no mundo. Também nos
convoca a acreditar no futuro que está
por vir e na vontade, consciência,
capacidade e compromisso de nossas e
nossos jovens para forjá-lo e
compartilhá-lo de maneira igualitária e
cuidadosa. Para nós e eles, o que
fazemos durante e muito depois desta
crise, são na verdade o futuro se
revelando através do poder
transformador da luta justa e implacável,
"para trazer o bem ao mundo e não
permitir que nenhum bem se perca",
como nossas e nossos honrados
ancestrais ensinaram nós. ▲
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