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Inventário Arquitetônico do Patrimônio Cultural

Ivoti|RS 2020-2021

VRP Arquitetura Estratégica Arq. Vlademir Roman | Hist. Gladis M. Pippi


RELATÓRIO FINAL
Inventário Arquitetônico do Patrimônio Cultural

Ivoti – RS
Novembro de 2021
ÍNDICE

Relatório final .................................................. 1


Etapas ............................................................. 1
1ª etapa ........................................................... 2
2ª etapa ........................................................... 10
3ª etapa ........................................................... 24
4ª etapa ........................................................... 24
Imigração Germânica e Ivoti ............................. 25
A Arquitetura de Ivoti ...................................... 32
Equipe ............................................................. 52
Fontes ............................................................. 53

Anexo 1 ........... RRT Inventário Ivoti


Anexo 2 ........... Manual Conservação preventiva de
imóveis antigos na região de imigração - IPHAN
Inventário Arquitetônico do Patrimônio Cultural – Ivoti|RS

RELATÓRIO FINAL

O presente relatório objetiva prestar informações sobre o desenvolvimento do trabalho de


Elaboração do Inventário Arquitetônico do Patrimônio Cultural de Bens Edificados existentes no
município de Ivoti/RS de acordo com o Edital Nº 167/2019.

ETAPAS
O trabalho foi realizado em quatro etapas:
1ª Etapa: REVISÃO DO INVENTÁRIO EXISTENTE

• Identificação dos bens listados no Município conforme as fichas individuais elaboradas na


década de 90 pelo IPHAN (167 unidades);
• Revisão através de levantamento de campo das edificações listadas que foram demolidas e
ou muito descaracterizadas;
• Levantamento de campo das edificações e pesquisa histórica das mesmas;
• Preenchimento da ficha, conforme modelo M01 do IPHAE para sistema de rastreamento
cultural com posterior apreciação das mesmas pelo Conselho de Patrimônio.
2 ª Etapa: INVESTIGAÇÃO PARA INCLUSÃO DE NOVOS BENS EDIFICADOS

• Investigação para inclusão de novos bens imóveis com importância histórico-cultural para o
Município;
• Levantamento de campo das edificações e pesquisa histórica das mesmas;
• Preenchimento da ficha, conforme modelo M01 do IPHAE para sistema de rastreamento
cultural com posterior apreciação das mesmas pelo Conselho de Patrimônio.
3ª Etapa: CRITÉRIOS E NÍVEIS DE PRESERVAÇÃO

• Estudo das edificações e seu valor cultural;


• Definição dos critérios para nível de preservação das edificações com posterior apreciação
do Conselho de Patrimônio;
• Enquadramento das Edificações ao nível de preservação.
4ª Etapa: COMPILAÇÃO DADOS

• Compilação e digitalização das informações de todas as edificações consideradas de


interesse cultural e histórico.

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1ª Etapa: REVISÃO DO INVENTÁRIO EXISTENTE

Nesta etapa, de posse das fichas do Inventário de 1992 foi percorrido o município para a
identificação da situação dos 167 bens relacionados ao mesmo tempo que já se fazia a prospecção
dos eventuais novos bens a serem inclusos.

Foram identificados que dos 167 bens inventariados, 123 (74%) ainda permaneciam com maior ou
menor graus de preservação e 44 (26%) já haviam sido demolidos ou totalmente descaracterizados.
Bens que estavam em estado de ruínas foram considerados como existentes pela ameaça da perda
total e pela possibilidade de recuperação.

O Anexo 1 a seguir relaciona os 167 bens com a numeração estabelecida em 1992 e já com a nova
numeração de 2020 para que se estabeleça uma relação entre os bens. Os nomes e endereços são
os constantes nas fichas e foram assinalados os existentes e os demolidos. A discrepância no número
de bens existentes (123) com o número de bens a serem inventariados em 2020 (124) deve-se ao
fato de que um bem foi considerado um conjunto em 1992, mas em 2020, pelas diferenças
constatadas, foram elaboradas duas fichas.

A localização destes bens foi realizada no programa Google Earth e elaborados os mapas que
seguem

INVENTÁRIO DO PATRIMÔNIO ARQUITETÔNICO DE IVOTI - ANEXO 1


Levantamento do Inventário de 1992

N°2020 N°1992 Nome Endereço Número Existente Demolida


124 167 123 44

1 R. São Jose 54 X
1 2 Danilo Pohren Av. Pres. Lucena 3721 X
9 3 Casa Staudt Av. Pres. Lucena 3667 X
6 4 Antiga Igreja Católica R. Tuiuty s/n X
5 5 Cemitério Católico R. Tuiuty s/n X
7 6 Casa Paroquial R. Tuiuty s/n X
10 7 Câmara de Vereadores Av. Pres. Lucena 3565 X
15 8 Casa Jacó Schneider Av. Pres. Lucena 3413 X
9 Casa dos Vogel Av. Pres. Lucena 3373 X
10 Casa Jacó José Staudt Av. Pres. Lucena 3331 X
11 Antiga Exatoria Av. Pres. Lucena 3279 X
12 Casa Edgar Hugo Shallenberger Av. Pres. Lucena 3227 X
R. Garibaldi esq.
13 Casa Willi Holler Gonçalves Dias s/n X

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Av. Pres. Lucena
14 Cereais Frölich esq. R. Tuiuty s/n X
15 Casa Família Dullius R. Tuiuty 88 X
4 16 Relojoaria R. Tuiuty 91 X
R. José de Alencar
esq. Pedro Klein
17 Casa Fredolini Schneider Sobrinho s/n X
R. Pedro Klein
18 Casa Paulo Gaspar Buchmann Sobrinho 68 X
12 19 Casa Leo Hans Av. Pres. Lucena 3464 X
14 20 Biblioteca Pública Municipal Av. Pres. Lucena 3426 X
21 Casa Belmiro Richt Av. Pres. Lucena 3414 X
16 22 Correios Av. Pres. Lucena 3390 X
17 23 Casa Staudt Av. Pres. Lucena 3382 X
19 24 Casa Schallen Berger Av. Pres. Lucena 3352 X
20 25 Casa Petry Av. Pres. Lucena 3332 X
21 26 Casa Hugo Klein Av. Pres. Lucena 3300 X
22 27 Casa Ernesto Holler Av. Pres. Lucena 3296 X
28 Casa Eletro Av. Pres. Lucena 3270 X
24 29 Salão Holler Av. Pres. Lucena 3230 X
26 30 Casa Fridolino Müller Av. Pres. Lucena 3092 X
33 31 Casa Luis e Paulo Feldman R. São Leopoldo 634 X
34 32 Casa Agnes Feldman R. São Leopoldo 593 X
36 33 Casa Oscar Gernhardt R. São Leopoldo 516 X
37 34 Casa Lia Müller R. São Leopoldo 513 X
38 35 Casa Brenner R. São Leopoldo 471 X
39 36 Creche R. São Leopoldo 351 X
37 A - Antigo Curtume Müller R. São Leopoldo s/n X
40 38 A - Casa Otto Ensweiler R. Princesa Isabel s/n X
41 39 Sociedade Concórdia Av. Pres. Lucena 3268 X
30 40 Casa Adamy Av. Pres. Lucena 2575 X
31 41 A - Casa dos Staudt Av. Pres. Lucena 2562 X
42 Mãe do Querino Av. Pres. Lucena 2514 X
32 43 Casa Família Lamp Av. Pres. Lucena 2326 X
42 44 Paty Lanches Av. Pres. Lucena 2222 X
45 Casa Schneider Av. Pres. Lucena 2172 X
46 A - Casa Bauermann R. Régis Bittencourt 1355 X
47 Casa Dilly R. Marcílio Dias s/n X
44 48 R. Régis Bittencourt 1731 X
45 49 Casa Saueressig Av. Pres. Lucena 1976 X
50 Casa Saueressig - Pai Av. Pres. Lucena 1908 X
46 51 Antiga Igreja Evangélica Av. Pres. Lucena s/n X
52 Casa Rost Av. Pres. Lucena s/n X

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50 53 Sociedade de Canto Harmonia Av. Pres. Lucena 1833 X
52 54 Casa Família Ballardin Av. Pres. Lucena 1757 X
54 55 Casa dos Gernhardt Av. Pres. Lucena 1438 X
56 Construtora Ivoti Av. Pres. Lucena 1417 X
57 Família Schneider Av. Pres. Lucena 1403 X
55 58 Oscar Weber Av. Pres. Lucena 1377 X
56 59 A - Casa Família Koch R. Osvaldo Cruz 1314 X
60 Casa dos Breier R. Osvaldo Cruz s/n X
61 Casa dos Schmiett R. Portugal s/n X
60 62 Arquinel Hoch Av. Pres. Lucena 1117 X
61 63 Jorge Mats. De Construções Av. Pres. Lucena 740 X
62 64 Danilo Afonso Bervian Av. Pres. Lucena 1015 X
65 Klein Kern Av. Pres. Lucena 951 X
Av. Pres. Lucena
esq. R. Fagundes
63 66 Herberto Bockorny Varela X
64 67 Casa dos Strassburguer Av. Pres. Lucena 841 X
Av. Pres. Lucena -
65 68 Lado do Novoseguro lado ímpar 665 X
66 69 A - Kika Calçados Av. Pres. Lucena 629 X
70 R. Henrique Dias s/n X
67 71 Av. Pres. Lucena 508 X
68 72 Av. Pres. Lucena 498 X
Av. Pres. Lucena
73 esq. Av. Bom Jardim s/n X
69 74 Perto da Esq. Av. Pres. Lucena s/n X
Av. Pres. Lucena -
75 Casa do Bochorny lado ímpar 373 X
71 76 Família Appel (Baumgarten) Av. Pres. Lucena 214 X
77 R. Peru s/n X
78 Casa dos Dillemburg R. Castro Alves s/n X
29 79 Casa do Bruno Dein R. José de Alencar 270 X
R. Aloísio Gabriel
80 Olívia Linck Linck s/n X
81 Casa do Armando X
28 82 Casa dos Fröelich R. Olavo Bilac s/n X
27 83 Casa Lauermann R. Olavo Bilac s/n X
84 Leonilda Maria Henrich Av. Pres. Lucena 1243 X
Rua da Cascata -
85 85 Sr. Alberto (Dep. De Turismo) Feitoria Nova 82 X
81 86 Galpão Feitoria Nova X
82 87 Casa e Cozinha Ewerling Feitoria Nova X
Rua da Cascata -
83 88 Museu Cláudio Oscar Becker Feitoria Nova 158 X

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Rua da Cascata -
84 89 Casa Zimmermann Feitoria Nova 158 X
86 90 Casa Ludwig X
87 91 Casa Amarela Feitoria Nova X
88 92 Antiga Venda Schneider Feitoria Nova X
93 Feitoria Nova X
89 94 Ponte do Imperador Feitoria Nova X
90 95 Staudt Feitoria Nova X
91 96 Casa Rübenich Feitoria Nova X
152 97 Helga Schneider Picada 48 Alta X
154 98 Pedro Guilherme Denig Picada 48 Alta X
155 99 Ilga Bopp Picada 48 Alta X
156 100 Roberto Tom Price Picada 48 Alta X
157 101 Aloisio Dillemburg Picada Feijão X
158 102 Aloísio Dillemburg Picada Feijão X
158 103 Reinaldo Bockorny Picada Feijão X
160 104 Alambique Egon Bockorny Picada Feijão X
169 105 Júlio Fey Picada Feijão X
165 106 Fredolino Moraes Picada Feijão X
167 107 Igreja Velha Picada Feijão X
171 108 Casa Berwian Picada Feijão X
174 109 Theno e Sérgia Petry Picada Feijão X
172 110 Frederico Petry Picada Feijão X
173 111 Inácio Petry Picada Feijão X
175 112 Aloisio Graefi Picada Feijão X
177 113 Lothario Führ Picada Feijão X
128 114 Júlio Schneider Nova Vila X
115 Dr. Nova Vila X
126 116 CTG Vaqueanos da Quinta Nova Vila X
125 117 Guido Becker Nova Vila X
124 118 Lídio Weber Nova Vila X
123 119 Anildo Schmitt Nova Vila X
121 120 Casa Curtume Kern Nova Vila X
121 Nova Vila X
122 Casa Familia Arnhold Picada 48 X
Estrada para Nova
115 123 Família Jung Vila X
Estrada para Nova
114 124 Serginho Vila X
120 125 Levinus Kern Nova Vila X
126 Arthur Petry Picada 48 Baixa X
101 127 Gastão Terok Picada 48 Baixa X
100 128 Walter Torok Picada 48 Baixa X

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99 129 Laer Klein Picada 48 Baixa X
130 Ido Adam Picada 48 Baixa X
98 131 Afonso Arno Arnhold Picada 48 Baixa X
97 132 Doraci Pilger Picada 48 Baixa X
133 A Colônia Japonesa X
134 Erio Feitoria Nova X
78 135 Antigo Moinho Artz Estrada 14 colônias X
136 Av. Bom Jardim 1270 X
118 137 Lúcia Heck Nova Vila X
Picada 48 Baixa
112 138 A - Sítio Cromo (Firenze) X
111 139 Sítio Ponde Rosa (Paulo Brussi) Picada 48 Baixa (Fir) X
109 140 Nair B. Schneck 1 Picada 48 Baixa (Fir) X
108 Nair B. Schneck 2 Picada 48 Baixa (Fir)
107 141 Tchoni Picada 48 Baixa (Fir) X
106 142 Danilo Becker Picada 48 Baixa (Fir) X
105 143 Gunther Rheihneimer Picada 48 Baixa (Fir) X
104 144 Elza Erna Riegel Picada 48 Baixa (Fir) X
151 145 Armazém Décio Konrath Picada 48 Alta X
150 146 Lídio Froelich Picada 48 Alta X
149 147 Libério Felten Picada 48 Alta X
148 148 Hélio Jacob Picada 48 Alta X
147 149 Picada 48 Alta X
146 150 Sander Picada 48 Alta X
144 151 Daiana Sander Picada 48 Alta X
145 152 Sérgio Picada 48 Alta X
142 153 Casa Marmitt Picada 48Alta X
141 154 Casa Pedro Schneider Picada 48 Alta X
155 Hugo Weber Picada 48 Alta X
139 156 João Fernando Weber Picada 48 Alta X
137 157 Casa Oliveira Picada 48 Alta X
136 158 Família Bervian Picada 48 Alta X
131 159 José Cláudio Fröelich Picada 48 Alta X
129 160 Osvando Lauermann Picada 48 Alta X
161 A - Jorge Alfredo Weber Picada 48 Alta X
132 162 Walter E. Gernhardt Picada 48 Alta X
133 163 Finger Picada 48 Alta X
134 164 Valéria Schneider Picada 48 Alta X
140 165 Ottomar Berlitz Picada 48 Alta X
138 166 João Alberto Schlenberg Picada 48 Alta X
167 Petrônia Backes Picada 48 Alta X

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Mapa com a Localização de todos os 167 Bens do Inventário de 1992

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Mapa com a Localização dos 123 Bens Existentes do Inventário de 1992

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Mapa com a Localização dos 44 Bens Demolidos do Inventário de 1992

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2 ª Etapa: INVESTIGAÇÃO PARA INCLUSÃO DE NOVOS BENS EDIFICADOS


A prospecção e levantamento dos bens a serem incluídos foram realizados concomitante com a
pesquisa sobre os bens do inventário de 1992.
Foram incorporados ao inventário 53 novos bens, dois quais muitos construídos na técnica enxaimel
e outros, embora mais recentes, são representativos da história do município, como algumas casas
luso-brasileiras, as em alvenaria com cimalhas decoradas, as casas conhecidas como californianas,
os vinculados à imigração japonesa e alguns exemplares do período modernista como as igrejas
católica e evangélica. Alguns não são de importância histórica e arquitetônica excepcional, mas
formam o tecido da cidade.
Além da pesquisa nos percursos pelo município, foram consideradas as indicações de moradores,
do Conselho do Patrimônio e o Inventário da Arquitetura Rural em Municípios das Áreas de
Imigração no Rio Grande do Sul – Ivoti realizado pelo IPHAN/PÉRGOLA em 2008.

INVENTÁRIO DO PATRIMÔNIO ARQUITETÔNICO DE IVOTI - ANEXO 2


Novos bens a serem incluídos - 53

N°2020 Nome

2 Casa José Staudt


3 Casa Borscheid
8 Nova Igreja Matriz São Pedro Apóstolo
11 Casa Ardi Klein
13 Antiga Escola Prof. Mathias Schütz
18 Casa Cristiane Schneider
23 Casa Carlos Lima
25 Bar do Pitt
35 Casa Nestor Medtler
43 Casa Pedro Schneider
47 Cemitério Evangélico
48 Igreja Evangélica
49 Praça Neldo Holler
51 Casa Kunrath
53 Casa Borusewsky
57 Casa Schmidt Anschau
58 Casa Fröhlich Schneider Zang
59 Casa Metz
70 Casa Leuck
72 Caixa d’água

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Inventário Arquitetônico do Patrimônio Cultural – Ivoti|RS
73 Memorial da Colônia Japonesa
74 Associação Cultural e Esportiva Nipo-Brasileira de Ivoti
75 Cooperativa Hortigranjeira Mista Ivoti Ltda
76 Casa Miwa
77 Casa Arno Weber
79 Casa Engroff
80 Casa Mathias Schütz
92 Casa Cláudio Klein
93 Casa Graebin
94 Casa Zenda Riemer
95 Casa Frederico Klein
96 Casa Líria Pilger Klein
102 Casa Robinson 1
103 Casa Robinson 2
110 Casa Jacob Schmitt
113 Casa Kuhn
116 Casa Arnhold
117 Casa Dilly
119 Casa Arno Petry
122 Associação Teuto Brasileira de Bolão União
127 Casa do Fritz
130 Casa Romeo Frölich
135 Casa Flávio Dillemburg
143 Casa Ermindo Lauermann
153 Casa Denig
161 Casa Albino e Bertha Bays
162 Casa Jacob Arthur e Irma Bervian
163 Casa Mathias Jung
164 Antigo Armazém Enzweiler
166 Casa Martha Für
168 Cemitério São João Batista
170 Casa Führ Jacó
176 Casa Henrique Manoel Graef

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Inventário Arquitetônico do Patrimônio Cultural – Ivoti|RS
Mapa com a Localização dos 53 novos bens

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Inventário Arquitetônico do Patrimônio Cultural – Ivoti|RS
Com a inclusão dos novos bens aos bens remanescentes consolidou-se o universo a ser inventariado
e realizou-se a nova numeração de acordo com critérios geográficos por divisão por distritos ou
bairros do município.
Os 177 bens ficaram assim distribuídos: na Sede do município, 71; na Colônia Japonesa, 5; na Feitoria
Nova, 17; na Picada 48 Baixa, 20; na Nova Vila, 15; na Picada 48 Alta, 28 e na Picada Feijão, 21.
Na tabela abaixo a relação dos bens com sua nova numeração e, ao lado, o enquadramento por
níveis de preservação cujos critérios estão discriminados na página 24.
Foram enquadrados no nível 1 de preservação, 100 bens; no nível 2, 50 bens e no nível 3, 27 bens.

INVENTÁRIO DO PATRIMÔNIO ARQUITETÔNICO DE IVOTI - ANEXO 3 Níveis


Todos os bens

N° Nome 1 2 3

177 100 50 27
Sede

1 Casa Pohren X
2 Casa José Staudt X
3 Casa Borscheid X
4 Casa Stoffel X
5 Cemitério Católico X
6 Antiga Igreja Matriz São Pedro X
7 Casa Paroquial X
8 Nova Igreja Matriz São Pedro Apóstolo X
9 Casa Darció Staudt X
10 Câmara Municipal X
11 Casa Ardi Klein X
12 Casa Riehl X
13 Antiga Escola Prof. Mathias Schütz X
14 Antiga Prefeitura X
15 Casa Jacó Schneider X
16 Antigo Correio X
17 Casa Jorge Theobaldo Staudt X
18 Casa Cristiane Schneider X
19 Casa Schallenberger X
20 Casa Raul Petry X
21 Casa Hugo Klein X
22 Casa Ernesto Holler X
23 Casa Carlos Lima X
24 Salão Holler X

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Inventário Arquitetônico do Patrimônio Cultural – Ivoti|RS
25 Bar do Pitt X
26 Casa Fridolino Müller X
27 Casa Pedro Lauermann X
28 Casa Johanes Fröhlich X
29 Casa Bruno Dhein X
30 Casa Adamy X
31 Casa Jacob Staudt X
32 Casa Lamp X
33 Casa Feldman X
34 Casa Agnes Feldman Goetz X
35 Casa Nestor Medtler X
36 Casa Emília Müller X
37 Casa Albino Müller X
38 Casa Heinrich Müller X
39 Casa Christian Müller X
40 Casa José Antônio Fröelich X
41 Sociedade Concórdia X
42 Casa Hanauer X
43 Casa Pedro Schneider X
44 Casa Maria Dilly X
45 Casa Saueressig Leuck X
46 Antiga Igreja Evangélica X
47 Cemitério Evangélico X
48 Igreja Evangélica X
49 Praça Neldo Holler X
50 Sociedade Harmonia X
51 Casa Kunrath X
52 Casa Lauri Schuck X
53 Casa Borusewsky X
54 Casa Rui Dhein X
55 Casa Oscar Weber X
56 Casa Koch X
57 Casa Schmidt Anschau X
58 Casa Fröhlich Schneider Zang X
59 Casa Metz X
60 Casa Hoch X
61 Casa Jorge Brand X
62 Casa Danilo Bervian X
63 Casa Herberto Bockorny X
64 Casa Strassburguer X
65 Casa José Welter X
66 Casa Herrmann X
67 Casa Cassel X

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68 Casa Rambo X
69 Casa Andréa Klein X
70 Casa Leuck X
71 Casa Appel X
Col. Japonesa

72 Caixa d’água X
73 Memorial da Colônia Japonesa X
74 Associação Cultural e Esportiva Nipo-Brasileira de Ivoti X
75 Cooperativa Hortigranjeira Mista Ivoti Ltda X
76 Casa Miwa X
Feitoria Nova

77 Casa Arno Weber X


78 Antigo Moinho Artz X
79 Casa Engroff X
80 Casa Mathias Schütz X
81 Galpão Ewerling X
82 Casa e Cozinha Ewerling X
83 Museu Municipal Claudio Oscar Becker X
84 Casa Zimmermann X
85 Casa Edelwein X
86 Casa Ludwig X
87 Casa Amarela X
88 Antiga Venda Schneider X
89 Ponte do Imperador X
90 Casa Angst X
91 Casa Rübenich X
92 Casa Cláudio Klein X
93 Casa Graebin X
48 Baixa

94 Casa Zenda Riemer X


95 Casa Frederico Klein X
96 Casa Líria Pilger Klein X
97 Casa Dorali Pilger X
98 Casa Alexandre e Noeli Arnold X
99 Casa Laer Klein X
100 Casa Hans Törek X
101 Casa Terok X
102 Casa Robinson 1 X
103 Casa Robinson 2 X
104 Casa Alcir Reinehr X
105 Casa Rheinheimer X
106 Casa Kempfer X
107 Casa Tchonni Prass X
108 Casa Kunzler 1 X
109 Casa Kunzler 2 X
110 Casa Jacob Schmitt X

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Inventário Arquitetônico do Patrimônio Cultural – Ivoti|RS
111 Casa Maggioni X
112 Casa JF Klein X
113 Casa Kuhn X
Nova Vila

114 Casa Lunardi X


115 Casa Jung X
116 Casa Arnhold X
117 Casa José Dilly X
118 Casa Lucia Heck X
119 Casa Arno Petry X
120 Casa Levinus Kern X
121 Casa Curtume Kern X
122 Associação Teuto Brasileira de Bolão União X
123 Casa A. Schmidt X
124 Casa Lídio Weber X
125 Casa Delmar Becker X
126 Casa Comercial Fritsch X
127 Casa do Fritz X
128 Casa Júlio Schneider X
48 Alta

129 Casa Paulo Lauermann X


130 Casa Romeo Frölich X
131 Casa Irmãos Frohlich X
132 Casa Gernhardt X
133 Casa Norma Finger X
134 Casa André Schneider X
135 Casa Flávio Dillemburg X
136 Casa Edgar Bervian X
137 Casa Oliveira X
138 Casa Schalemberg X
139 Casa Roque Weber X
140 Casa Berlitz X
141 Casa Pedro Schneider X
142 Casa Marmitt X
143 Casa Ermindo Lauermann X
144 Casa Daiana Sander X
145 Casa Deih X
146 Casa Sander Finger X
147 Casa Eizweiler X
148 Casa Hélio Jacob X
149 Casa Hoff X
150 Casa Lídio Fröelich X
151 Armazém Fritzen X
152 Casa Baumgarten X
153 Casa Denig X

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Inventário Arquitetônico do Patrimônio Cultural – Ivoti|RS
154 Escolinha Rui Barbosa X
155 Casa Abdo X
156 Casa Schons X
Picada Feijão

157 Casas Balduíno Dillemburg X


158 Casa Aloísio Dillemburg X
159 Casa Bockorny X
160 Alambique Bockorny X
161 Casa Albino e Bertha Bays X
162 Casa Jacob Arthur e Irma Bervian X
163 Casa Mathias Jung X
164 Antigo Armazém Enzweiler X
165 Casa Fridolino Moraes X
166 Casa Martha Für X
167 Capela São João Batista X
168 Cemitério São João Batista X
169 Casa Júlio Feiten X
170 Casa Führ Jacó X
171 Casa Bervian X
172 Casa Francisco Bohnenberger X
173 Casa Peter Fröhlich X
174 Casa Theno e Sérgia Petry X
175 Casa Aloisio Graeff X
176 Casa Henrique Manoel Graef X
177 Casa Lotário Für X

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Inventário Arquitetônico do Patrimônio Cultural – Ivoti|RS
Mapa consolidado com todos os 177 bens inventariados

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Inventário Arquitetônico do Patrimônio Cultural – Ivoti|RS
Sede – 71 bens. Trecho Norte dos números 001 ao 028 com destaque para o núcleo da Prefeitura.
Também visíveis, à esquerda, os bens 077 e 078 do grupo da Feitoria Nova

Sede – 71 bens. Trecho Centro-Norte dos números 029 ao 042 com destaque para o núcleo da Rua
São Leopoldo

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Inventário Arquitetônico do Patrimônio Cultural – Ivoti|RS
Sede – 71 bens. Trecho Centro-Sul dos números 043 ao 056 com destaque para o núcleo do entorno
da Praça Neldo Holler.

Sede – 71 bens. Trecho Sul dos números 057 ao 071, sendo visíveis à esquerda o conjunto da Rua
Göetz.

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Colônia Japonesa – 5 bens. Dos números 072 ao 076

Feitoria Nova – 17 bens. Dos números 079 ao 093. Os bens 077 e 078 estão no mapa Norte da Sede
e o de número 023 está deslocado da ordem.

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Picada 48 Baixa – 20 bens. Dos números 094 ao 113. Também aparecem os bens 114, 115 e 116
que já estão no grupo da Nova Vila.

Nova Vila – 15 bens. Dos números 117 ao 128. Os de número 114, 115 e 116 estão no mapa da
Picada 48 Baixa.

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Picada 48 Alta – 28 bens. Dos números 129 ao 156.

Picada Feijão – 21 bens. Dos números 157 ao 177.

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Inventário Arquitetônico do Patrimônio Cultural – Ivoti|RS
3ª Etapa: CRITÉRIOS E NÍVEIS DE PRESERVAÇÃO
As 177 edificações relacionadas nas páginas 13 a 17 foram enquadradas em três níveis de
preservação de acordo com os critérios estabelecidos abaixo:
Nível 1
• Importância histórica, social e arquitetônica alta;
• Prioritário para receber incentivos fiscais;
• Sugestão de tombamento municipal;
• Preservação de suas características volumétricas, técnicas e arquitetônicas com remoção
de eventuais acréscimos que o descaracterizem;
• Eventuais anexos e ampliações devem ser precedidos de pesquisa histórica mais
aprofundada, levantamento arquitetônico e de patologias e seguir critérios de
distinguibilidade e reversibilidade.

Nível 2
• Importância histórica e arquitetônica média;
• Possibilidade de ser incluído em lista para receber incentivos fiscais;
• Possibilidade de tombamento municipal;
• Preservação de suas características volumétricas, técnicas e arquitetônicas com
possibilidade de manutenção de eventuais acréscimos que o descaracterizem;
• Eventuais anexos e ampliações devem seguir critérios de distinguibilidade e reversibilidade
e compatibilidade volumétrica.

Nível 3
• Importância histórica e arquitetônica baixa;
• Preservação de suas características volumétricas, técnicas e arquitetônicas com
possibilidade de manutenção de eventuais acréscimos que o descaracterizem;
• Eventuais anexos e ampliações são permitidos desde que mantenham o núcleo original
inalterado.

4ª Etapa: COMPILAÇÃO DADOS


As 177 fichas do Inventário para M01 – Bens Edificados do Sistema de Rastreamento Cultural do
IPHAE e o arquivo .kmz para Google Earth com a localização geográfica dos bens e este relatório
foram gravados em uma pen drive e entregues conjuntamente.

Obs.: Foram identificados mais 04 exemplares de bens arquitetônicos com importância para
inventariação após a conclusão da 4ª Etapa ( 2 na sede, 1 Nova Vila, 1 Colônia Japonesa).

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A IMIGRAÇÃO GERMÂNICA E IVOTI

COLÔNIA SÃO LEOPOLDO

A emigração de povos germânicos no século XIX se deu, de forma geral, pelas grandes
transformações sociais, políticas e econômicas que ocorreram naquele território. O crescimento do
capitalismo industrial e a consequente decomposição dos modelos feudais causaram fome,
insegurança e tensões sociais que culminaram na consolidação do Estado Nacional. Desde 1815
esses estados tinham formado, juntamente com a Áustria-Hungria, os trinta e oito membros da
Confederação Germânica.

Do lado brasileiro, os principais objetivos traçados pelo Império quanto à imigração de europeus
eram: criar e estimular um mercado interno, compensar o poder dos grandes proprietários de terras
com a substituição gradual da mão-de-obra escrava africana e ocupar regiões - especialmente as
que apresentavam conflitos - com pequenas propriedades rurais, desenvolver pequenas
manufaturas para transformação em indústrias e fornecer soldados para as lutas travadas pelo
Império brasileiro ao longo do século XIX.

Do porto de Rio Grande, a Porto Alegre e a desativada Feitoria do Linho Cânhamo, um


estabelecimento agrícola do governo que não deu certo, chegaram em 25 de julho de 1824, os
primeiros 39 imigrantes vindos de diversas regiões da Alemanha. O grupo era formado por
agricultores, artesãos e soldados, sendo 33 evangélicos e 6 católicos (WITT, 2009).

Instalados no núcleo batizado pelo governo da Província de “Colônia Alemã de São Leopoldo”,
aguardaram até que recebessem seus lotes. A extensão de terras para o projeto, abrangia mais de
1000 mil km², sendo na direção sul-norte: de Esteio até Campo dos Bugres (atual Caxias do Sul), e
em direção Leste-Oeste: de Taquara até Porto de Guimarães, no rio Caí (atual São Sebastião do Caí).
Além deste primeiro grupo de alemães situado na porção meridional do País, foram criados núcleos
isolados em outros estados do Brasil, havendo desde 1818 tentativas não tão exitosas.

Aos poucos, outros imigrantes ocuparam e desenvolveram os vales do Rio dos Sinos, Cadeia e Caí,
o que possibilitou que a colônia alemã se emancipasse de Porto Alegre em 1846. O decreto do
Governo Imperial, de 1818, no seu artigo 6º manifesta a preocupação com o desenvolvimento de
atividades artesanais, via importação de imigrantes estrangeiros, num manifesto interesse de
modificação das relações de trabalho e de diversificação destinada ao abastecimento,
principalmente do mercado da capital do Brasil Rio de Janeiro. Assim foi determinado:

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“...ofícios como carpinteiros, marceneiros, ferradores, serralheiros, pedreiros e


alguns moleiros, sapateiros, curtidores, alfaiates, tecelões, oleiros, e officiaes
para fazer telhas etc., os quaes devem também ensinar aos nacionaes, que
quizerem aprender." (DI 1818)

Em São Leopoldo, entre 1824 e 1845, 60% dos homens eram artesãos – madeira, metal, pedra e
têxtil. Deste artesanato surgiram pequenas, médias e grandes indústrias. Além destes, vieram
comerciantes, religiosos, professores entre outras atividades – que optavam por permanecer nas
povoações ou cidades, por não ter a experiência com a agricultura.

Porém o objetivo prioritário da imigração no Rio Grande do Sul era o povoamento com pequenos
agricultores, que produzissem alimentos básicos nos seus lotes e que ocupassem áreas de florestas
próximas a vales de rios (áreas mais férteis e já bem povoadas por indígenas) seguindo mecanismos
de conquista, manutenção, domínio territorial e, um projeto que permeou toda o sul do continente:
o branqueamento da população.

Após 1850 a colonização passou a ser responsabilidade dos governos provinciais. A tabela a
seguir mostra o movimento de entrada de imigrantes em São Leopoldo, segundo o “Relatório da
Administração Central das Colônias da Província de São Pedro do Rio Grande do Sul”:

ANO Entrada em S. LEOPOLDO ANO Entrada em S. LEOPOLDO


1824 126 imigrantes 1846 1 .515 imigrantes
1825 909 1847 663
1826 828 1848 136
1827 1.088 1849 6
1828 99 1850 4
1829 686 1851 34
1830 117 1852 29
1844 66 1853 95
1845 87 1854 --
Fonte: Jornal do Comércio, Porto Alegre 1867

Durante o período de 1831 a 1843 não são registradas entradas de novos imigrantes, fato motivado
pela aprovação da lei de orçamento, em dezembro de 1830 que em seu artigo 4º diz: “...fica abolida
em todas as provincias do Império a despeza com a colonisação estrangeira”. Medida provocada
pelo excesso de gastos com os milhares de estrangeiros e a crescente oposição as políticas de D.

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Pedro I. A falta de verbas é logo agravada pela eclosão da Revolução Farroupilha no Rio Grande do
Sul, de 1835 a 1845.

Em 1854, a colônia de São Leopoldo é transformada em município, um dos mais prósperos da


província graças a sua proximidade com a capital, Porto Alegre, seu principal mercado e porto de
exportação de seus produtos. No relatório da Província do Rio Grande do Sul , Koseritz registra:

"...quasi todos os arreios para o consumo do exército e dos campeiros da


provincia, quasi todas as lanças, esporas, freios etc. para a cavallaria, são
fabricados em S. Leopoldo; e ahi que o arsenal se surte de couros curtidos, de
cartucheiras e de arreiames; e d'ahi, que todos os mercados da provincia, os do
Rio de Janeiro, da Bahia e de Pernambuco, e até do Prata são fornecidos com
feijão, milho, farinha, etc.; é d'ahi que vem todos esses gêneros e outros como
banha, manteiga, ovos ou animaes suinos, etc., para o consumo de Porto
Alegre”. (RELATÓRIO/ 1867)

O mesmo relatório de 1867 estima que a população de descendência alemã, em São


Leopoldo e colônias, ultrapassava as 25.000 pessoas ¹.

Os povoadores da região provinham de vários Estados da Confederação Alemã, a maioria do sul e


sudoeste da Alemanha (Renânia, Baviera, Prússia ocidental) conhecida como região do Hunsrück,
os quais, majoritariamente, eram católicos e falavam o dialeto hunsrück, com pequenas variações
por local de origem (COPSTEIN, 1967). Formaram grupos relativamente homogêneos e isolados,
concentrando pessoas de mesma origem. Não se destacaram numericamente, mas tiveram
proporcionalmente mais descendentes nascidos no Brasil do que os outros grupos étnicos.
Magalhães (1993) mostra, sem precisar a época, que a taxa de fecundidade dos alemães era de oito
a nove filhos para as mulheres que se casavam entre 15 e 19 anos e de sete filhos para as mulheres
que se casavam entre 20 e 24 anos.

_________________________________
¹ em 2004, o Consulado Alemão no Brasil citou o número de 5 milhões de brasileiros descendentes de alemães. Segundo pesquisa
de 2016 publicada pelo IPEA, em um universo de 46 801 772 nomes de brasileiros analisados, 1 525 890 ou 3,3% deles tinham o
único ou o último sobrenome de origem germânica.

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Mapa de Ernst Müzell e Adalbert Jahn (1870). Refeito pelo Eng. Pedro Pereira Cotta em 1970

AS PICADAS QUE FORMARAM IVOTI

Há cerca de 11 mil anos, após o final da grande glaciação, o território que compreende o atual
estado do Rio Grande do Sul era ocupado por homens e mulheres, caçadores, nômades que se
deslocavam em busca de caça e coleta, contando com instrumentos feitos de pedras lascadas.
Arqueólogos classificam, a partir dos hábitos, instrumentos e técnicas, como: Tradição Umbu -

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11.000 anos atrás; Humaitá - 6.500 anos atrás ocupando as florestas da serra; Sambaquis com
vestígios de 4.000 ad no litoral; Tradição Taquara 2.500 ad no Planalto e Campos de Cima da Serra
e Povos Guarani – 2050 ad - ocupando e dominando boa parte do território¹.

Nos séculos 17 e 18, a ação dos bandeirantes paulistas, em busca de índios para mão de obra
(com foco nas Reduções Jesuíticas, desde 1626) fez surgir picadas e trilhas de grandes extensões
nas matas, mesmos caminhos que depois serão percorridos por tropeiros, passando a fazer parte
da rota do gado entre sul e sudeste do Brasil. Essas trilhas também faziam a ligação de vários
povoados no território do Rio Grande de São Pedro.

Neste cenário, os imigrantes enfrentavam uma longa espera até que lhes eram destinadas as terras,
já demarcadas, ferramentas e alguns animais domésticos. Inicialmente nos arredores do então
povoado de São Leopoldo e, depois, em Picada Dois Irmãos, Picada Bom Jardim, Picada Quarenta e
Oito Colônias, Linha Café e São José do Hortêncio. Para as famílias destinadas às terras de Bom
Jardim, foi erguido um acampamento temporário – em 1826 - na “entrada”, onde hoje se situa o
Bairro das Rosas (Rosental) de Estância Velha (COPSTEIN, 1967). Era lá que começava a numeração
das colônias de Bom Jardim.

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As primeiras construções que serviram de abrigo provisório, eram choupanas de palha. Com a
abertura do mato para a lavoura e a derrubada de árvores para as construções, foram aos poucos
construindo as casas com a técnica medieval do enxaimel, montadas com encaixes de madeira e
preenchidas com barros, ripas de coqueiro ou taquara, pedras e depois tijolos. Possuíam
geralmente um prédio menor, separado, que abrigava a cozinha com a chapa de fogão, o
tradicional, "kochplatt" (chapa para cozinhar).

O estranhamento e o medo do novo ambiente, com uma fauna, flora e habitantes desconhecidos
foi grande. Era difícil adaptar-se a vida nas matas subtropicais e por isso muitas nomenclaturas
de lugares remetem à esta época difícil, como o "Buraco do Diabo", local que preserva o Núcleo
de Casas Enxaimel restaurado, servindo de ponto de referência e identidade da comunidade
Ivotiense.

Aos poucos a colônia foi crescendo e os entroncamentos das Picadas com as estradas passaram a
servir como entreposto comercial, onde os agricultores podiam trocar milho, feijão e aipim por
produtos que não dispunham nas suas casas como tecidos, tamancos de madeira, louças, entre
outros, além de poder negociar com os tropeiros. Logo surgiu a necessidade da construção de uma
ponte sobre o Arroio Feitoria, pois o fluxo de pessoas na área já era grande. Entre 1857 e 1864 essa
ponte foi construída com verba enviada por Dom Pedro II ( Ponte do Imperador) e arrecadada nas
comunidades do entorno.

O MUNICIPIO DE IVOTI

Em 1938, finalmente surgia Ivoti, remetendo ao tupi-guarani "ipoti-catu", que significa flor,
identificando a cidade com uma de suas tradições, o plantio de flores.

Dentro de uma perspectiva de crescimento econômico e demográfico, Ivoti naturalmente se


encaminhou, no início da década de 60, para o processo de emancipação, que após diversos
trâmites, veio a se realizar em 19 de outubro 1964, com a Lei de Criação do Município.

Na sequência, em 1966, os dirigentes municipais deram um belo exemplo de diversidade


cultural, destinando uma área de terras para serem ocupadas por 26 famílias de imigrantes
japoneses, surgia assim a Colônia Japonesa, produtora de uvas de mesa, kiwi, hortaliças
e flores.

A urbanização avançou no município com o desenvolvimento industrial. As primeiras


oficinas criadas nos fundos das casas dos imigrantes foram crescendo e transformando-se
em fábricas de calçados e curtumes, que na década de 70 expandiram suas atividades

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exportadoras e necessitaram de mais mão-de-obra, criando assim um fluxo de migrantes
do norte do Estado e de Santa Catarina que povoaram a área urbana e fizeram surgir
bairros inteiros, colaborando para o fomento da economia local.

Em 1992, parte do território de Ivoti se desmembrou e foram criados dois municípios:


Presidente Lucena, antes localidade de Arroio Veado e Lindolfo Collor, antiga Picada
Capivara.

Atualmente (2021),segundo dados do IBGE Ivoti possui em torno de 25,1 mil habitantes
distribuídos em uma área de 63 km², parte deles conserva, mesmo que adaptado, o dialeto
dos imigrantes. Os eventos gastronômicos, a história e a arquitetura são os grandes e
atraentes diferenciais deste município.

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A ARQUITETURA DE IVOTI

Distribuição e ocupação
A distribuição das edificações com importância histórica e arquitetônica do município de Ivoti, dá-
se em zonas ou regiões que revelam o seu processo de ocupação:
Sede: Onde se concentram 71 bens inventariados. Basicamente se distribuem ao longo da Av. Pres.
Lucena que é o eixo de divisão dos lotes da Picada Bom Jardim. Em uma distância de 4 quilômetros
com altitudes variando entre 190 a 115 metros estabeleceu-se uma aglomeração do tipo
Strassendorf, isto é, um assentamento urbano linear ao longo de uma via.
Há três núcleos principais: Ao Norte em torno da igreja católica e prefeitura e que concentra um
conjunto importante de prédios ecléticos de frontão recortado e o Salão Holler – prédio enxaimel
de grande porte com tombamento estadual; ao Centro na R. São Leopoldo, um desvio para evitar a
depressão e atoleiro da antiga estrada que abriga uma variedade de prédios de épocas variadas e,
ao Sul, no entorno da igreja evangélica e da Praça Neldo Holler com destaque para a própria praça
com projeto de Burle Marx e da Sociedade Harmonia.
Colônia Japonesa: 5 bens. O conjunto do Memorial da Colônia Japonesa e um equipamento urbano
importante na história da comunidade – a Caixa d´Água.
Feitoria Nova: 17 bens. O núcleo de casas enxaimel na margem direita do Arroio Feitoria com
altitude bem abaixo da sede - 25 metros, e junto à Ponte do Imperador – patrimônio nacional.
Somam-se a estes, quatro bens localizados na margem esquerda e dois, mais além, na antiga Rua
do Moinho.
Picada 48 Baixa: 20 bens. Ao longo da estrada que liga com Lindolfo Collor e na Rua do Grotão. O
grande número de fechamento dos tramos nas casas enxaimel em pau a pique revela a sua
ocupação mais antiga.
Nova Vila; 15 bens. Seguindo o traçado da antiga Estrada Pres. Lucena com grande variedade
arquitetônica.
Picada 48 Alta: 28 bens. Um conjunto significativo de bens preservados, na maioria enxaimel, com
raras demolições se distribuem ao longo da via que estabelece a ligação com Dois Irmãos. Muitos
deles foram trasladados até três vezes: de um local inicial junto ao arroio para áreas mais
agriculturáveis em uma altitude de, em média, 130 metros.
Picada Feijão: 21 bens. A mesma configuração em Strassendorf da sede e no mesmo sentido Norte-
Sul, porém com edificações mais dispersas.

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Bens tombados
Os bens com tombamento nas três esferas administrativas são em número de 11.
Tombamento Federal: 1 - A Ponte do Imperador (089). A área do entorno está delimitada e abrange
o núcleo de casas enxaimel
Tombamento Estadual: 2 – A Antiga Igreja Matriz São Pedro (006) e o Salão Holler (024). A Antiga
Igreja tem seu entorno definido e regrado enquanto o do Salão Holler ainda não está definido o que
pode ser o motivo de que tenha havido uma inserção de aparato publicitário inadequado no seu
lado Norte.
Tombamento Municipal: 8 – Casa Darció Staudt (009), Antiga Prefeitura (014), Casa Adamy (030),
Casa Heinrich Müller (038), Casa Edelwein (085), Museu Municipal Claudio Oscar Becker (083), Casa
Zimmermann (084) e Casa Bervian (171).
A questão sempre controversa do tombamento que ainda gera mal-entendidos nos proprietários e
na população em geral como a crença no impedimento de novas obras, mesmo de manutenção ou
até a perda da propriedade deve ser enfrentada e superada com ações, principalmente de educação
patrimonial.
Embora haja alguns bens tombados que são vizinhos ou próximos, são tombamentos individuais.
Fugindo do instituto do tombamento que pode gerar reações adversas, propõe-se que haja um
micro zoneamento urbano com determinação de regime urbanístico próprio de áreas da cidade que
abranjam um conjunto determinado de bens de importância histórica e arquitetônica com vista a
preservação das edificações em seu conjunto e a valorização e qualificação da paisagem urbana.
Estes imóveis de valor histórico, nestas zonas especiais podem receber incentivos fiscais e, até
mesmo, renúncia fiscal. Além da transferência do índice construtivo não utilizado no imóvel para
outra área da cidade.
As zonas indicadas para ser objeto deste planejamento e redesenho urbano são as que abrangem
os bens (001) Casa Pohren ao (026) Casa Fridolino Müller na Av. Pres. Lucena e os da R. São Leopoldo
do (033) Casa Feldman ao (041) Sociedade Concórdia sem desconsiderar eventuais outras zonas.

Arquitetura Enxaimel
No decorrer do inventário foi constatada, como esperado, a existência de um grande número de
edificações construídas na técnica enxaimel. Informações davam conta da existência de 32 a 44
prédios nesta técnica, embora apenas na área urbana. O trabalho levantou 104 casas ou conjuntos
em toda a área do município o que faz com que, salvo novos estudos, Ivoti seja o município do
Estado do Rio Grande do Sul com o maior número de prédios enxaimel tendo como máximo

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representante o Salão Holler (024). Se forem contadas cada construção individualmente, visto que
existem conjuntos com dois, ou até mesmo, três construções, o número sobe para 126 construções.
Este fato pode, e deve, ser usado como promoção turística do município e que os dados deste
inventário possam enriquecer a já existente Rota Enxaimel de Ivoti com seus cinco roteiros
autoguiados.
Como a cidade de Pomerode em Santa Catarina divulga que possui o maior número de exemplares
em enxaimel do Brasil, propõe-se que haja o estabelecimento de um Tratado de Amizade entre
essas duas cidades que possuem o maior patrimônio em cada estado para que haja uma promoção
conjunta e intercâmbio de estudos comparativos. A exemplo do estabelecido com a cidade-irmã de
Rottenbuch na Alemanha.

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Inventário Arquitetônico do Patrimônio Cultural – Ivoti|RS
Distribuição dos prédios enxaimel no município

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Foram tabulados os dados sobre as características das edificações construídas na técnica enxaimel
em Ivoti e foram constatados alguns aspectos:

• 60 % são construções sem viga de baldrame e 40% com vias de baldrame

Sem viga de baldrame. Esteios apoiados na fundação Viga de baldrame

• 85 % são construções com as escoras com a parte superior mais próxima dos esteios dos
cunhais e 15 % possuem as escoras mais afastadas dos esteios dos cunhais, sendo que
neste caso nunca há a existência da viga de baldrame.

Escora com parte superior mais próxima do esteio do cunhal Escora com parte superior mais afastada do cunhal

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Em 11 bens foram encontrados fechamento dos tramos com pau a pique e taipa de mão, a maioria
na Picada 48 Baixa e em 27 bens fechamento com pedras de grês. O normal é que o fechamento
seja em tijolos rebocados.

Fechamento dos tramos com pau a pique Fechamento com blocos de pedra grês

O padrão de implantação das casas é de duas construções


próximas e independentes. A Schlafenhaus, a Casa de
Dormir e a Küchehaus, a Cozinha.

Küchehaus

Schlafenhaus

Frequentemente ocorre a ampliação com a construção do


espaço entre as casas, a construção de uma varanda,
sempre estreita e demais ampliações necessárias

Ampliação

Cobertura e construção do espaço entre as casas

Varanda estreita

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A fachada normalmente possui uma porta central com uma


janela de cada lado, nem sempre com uma simetria
especular com a cumeeira paralela à fachada principal

A inclinação do telhado gira em torno dos 35°, indo de 30°


até 45° sempre com beirais muito curtos ou inexistentes
que são ampliados na troca do telhado.

A janela do sótão quase sempre ocorre, mesmo sem um uso


regular.

É usual a existência de uma tábua de guarda-pó e de


pingadeiras nos oitões.

Pingadeira com apoio de mão-francesa

Tábua de guarda-pó

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O fechamento dos oitões é feito, normalmente, em madeira – na vertical ou na horizontal

Ou em alvenaria

Telhas cerâmicas tipo rabo de castor, capa e canal, francesas e de concreto são as mais utilizadas.

VRP Arquitetura Estratégica Arq. Vlademir Roman | Hist. Gladis M. Pippi 39


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Janelas com tampões de madeira, com vidraças de guilhotina ou de abrir à francesa são as usuais.

As portas principais são entalhadas, com bandeira de vidro fixa e folhas com tamanhos desiguais

As portas dos fundos, normalmente, são bipartidas horizontalmente.

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Os pinos, ou tarugos ou pregos de madeira - em alemão holznägel são visíveis em algumas estruturas.

Assim como as marcações na madeira, as marcas de runas – em alemão abbundzeichen normalmente em números
romanos que determinam a sequência da montagem, acompanhado de um sinal que indica o lado da construção.

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Arquitetura Eclética de Frontão Recortado
Os prédios que foram classificados com esta caracterização são uma expressão típica da arquitetura
eclética edificada na região de colonização alemão na década de 1910 até a década de 1940 e,
especificamente em Ivoti nas décadas de 1920 e 1930.
Caracterizam-se pela fachada simétrica com o térreo normalmente com uma porta central e uma
janela em cada lateral e um frontão que incorpora a janela central do sótão. A inclinação do telhado
é alta, chegando a 45° e a linha do frontão pode ser com linhas retas - horizontais, verticais e
diagonais que acompanham a inclinação do telhado ou em uma composição de curvas e
contracurvas de inspiração barroca. A fachada é marcada verticalmente por pilastras ou frisos
verticais decorados que costumam ser coroados por pináculos, pinhas, jarrões ou compoteiras e
horizontalmente por uma cimalha na altura do forro do térreo. O telhado tem a cumeeira
perpendicular à fachada e é, normalmente em três águas. A largura é menor que a profundidade,
invertendo o sentido em que normalmente foram construídos os prédios ecléticos do período. Um
bom exemplo comparativo é a Casa Christian Müller (039) que é um prédio eclético tradicional com
platibanda, maior largura e telhado paralelo à fachada em comparação com a Antiga Prefeitura
(014), um eclético de frontão recortado. A Casa Amarela (087), por estar situada em uma esquina,
combina os dois elementos.

Casa Christian Müller (039). Fonte: Panoramio Antiga Prefeitura (014)

Casa Amarela (087)

VRP Arquitetura Estratégica Arq. Vlademir Roman | Hist. Gladis M. Pippi 42


Inventário Arquitetônico do Patrimônio Cultural – Ivoti|RS
Foram inventariados 20 prédios com esta tipologia. A seguir alguns exemplos.

Casa Borscheid (003) Casa Riehl (012)

Casa Jacó Schneider (015) Antiga Prefeitura (014)

Antigo Correio (016) Casa Jorge Theobaldo Staudt (017)

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Inventário Arquitetônico do Patrimônio Cultural – Ivoti|RS

Panorama do conjunto da Av. Pres. Lucena da Casa Riehl (012) a Casa Jorge Theobaldo Staudt (017)

Casa Raul Petry (020) Casa Hugo Klein (021)

Casa Ernesto Holler (022) Conjunto dos bens 020, 021 e 022

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Inventário Arquitetônico do Patrimônio Cultural – Ivoti|RS

Casa Feldman (033) Casa Lauri Schuck (052)

Sociedade Concórdia (041) Sociedade Harmonia (050)

Casa Hoch (060) Casa Amarela (087)

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Inventário Arquitetônico do Patrimônio Cultural – Ivoti|RS

Casa Hans Törek (100) Casa Lunardi (114)

Casa Abdo (155) Casa Schons (156)

Alguns prédios de frontão recortado receberam telhado com beirais - reforma habitual que
aconteceu também com os prédios enxaimel. Ocorreu com a Casa Strassburguer (064) e,
possivelmente, a Casa Lamp (032). Porém o caso comprovado é da Casa Albino Müller (37).

Casa Albino Müller com frontão recortado e atualmente com beirais.

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Inventário Arquitetônico do Patrimônio Cultural – Ivoti|RS
Outras manifestações
Foram encontrados dois exemplares classificados como arquitetura colonial ou luso-brasileira.
A Casa Graebin (093) e a Casa Kunzler 2 (109)

Casa Graebin (093) Casa Kunzler 2 (109)

Outro tipo de arquitetura recorrente são as casas com conformação de uma casa enxaimel, porém
construídas em alvenaria portante e em maiores proporções. A Casa Darció Staudt (009), a Casa
Herberto Bockorny (063), a Casa Heinrich Müller (038) e Casa José Welter (065) são exemplos. As
duas últimas ainda receberam uma ornamentação eclética.

Casa Darció Staudt (009) Casa Herberto Bockorny (063)

Casa Heinrich Müller (038) Casa José Welter (065)

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Inventário Arquitetônico do Patrimônio Cultural – Ivoti|RS

Também estão bem disseminadas as casas que podemos chamar de tipo bangalô. São casas com
telhado em quatro águas e a característica cimalha decorada com padrões geométricos. Como
exemplos a Casa Ardi Klein (011) e a Casa Nestor Medtler (035) que foram escolhidas por estarem
localizadas próximas a outros bens inventariados.

Casa Ardi Klein (011) Casa Nestor Medtler (035).

Com menor ocorrência, as arquiteturas dos anos 1940 a 1960 que são o Art Déco, com apenas um
exemplar, o Bar do Pitt (025) e duas residências conhecidas por californianas: Casa Pedro Schneider
(043) e a Casa Borusewsky (053).

Bar do Pitt (025) Casa Pedro Schneider (043)

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Inventário Arquitetônico do Patrimônio Cultural – Ivoti|RS
Uma prática encontrada no Inventário de Ivoti foi a de colocar o ano da construção da casa no
frontão, mas também na chave da verga da porta, na própria porta e na da viga da varanda.

Um aspecto que chama a atenção é a repetição dos elementos decorativos. Mais do que a aquisição
de formas prontas é um trabalho artesanal que se repete e que denota a existência de mesmo autor.

Casa Schons (156) Antiga Venda Schneider (088)

Casa Stoffel (004) Casa Lauri Schuck (052)

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Inventário Arquitetônico do Patrimônio Cultural – Ivoti|RS

Casa Jacó Schneider (015) Sociedade Harmonia (050)

Sociedade Harmonia (050) Casa Jacó Schneider (015)

Casa José Welter (065) Casa Hoch (060)

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Inventário Arquitetônico do Patrimônio Cultural – Ivoti|RS

Casa Hoch (060) Casa José Welter (065) Casa Heinrich Müller (038) Casa Emília Müller (036)

Casa Christian Müller (039) Casa José Staudt (002)

Casa Albino Müller (037) Casa Strassburguer (064)

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Inventário Arquitetônico do Patrimônio Cultural – Ivoti|RS

EQUIPE

PRODUÇÃO
Gladis Maria Pippi – Historiadora
Vlademir Roman – Arquiteto

Participação especial - Cristiano Enrique de Brum - Historiador

COLABORAÇÃO
Rodrigo Poltosi Gomes de Jesus - Arquiteto
Mayra Pippi Tavares – Assessoria gráfica

AGRADECIMENTOS
Arq. Carolina Gemelli
Armando Fröhlich
Blasio Bervian
Darció Staudt
Dolores Moraes
Jéssica Arnhold
Julita Arnecke
Lídia Barreto
E a todos os proprietários que nos receberam e colaboraram para a realização deste inventário.

VRP Arquitetura Estratégica Arq. Vlademir Roman | Hist. Gladis M. Pippi 52


Inventário Arquitetônico do Patrimônio Cultural – Ivoti|RS

FONTES

LEIS. Collecção de Leis do Brasil. Rio de Janeiro, Imprensa Nacional, 1891.


KRESS, Fritz. Der Zimmerpolier. Rottweil, Deutschland: Banholzer & Co., 1949
MEIRA, Ana Lúcia Goelzer. Das pedras aos lambrequins: A preservação do patrimônio
arquitetônico e urbano no Rio Grande do Sul do século XX. São Leopoldo, RS: Ed. Unisinos, 2019.
MORAES, Carlos de Souza. O Colono Alemão – uma experiência vitoriosa a partir de São
Leopoldo. Porto Alegre, RS: EST, 1981.
MÜZELL, Ernesto; JAHN, Adalberto. Carta Topographica d'huma parte do município de São
Leopoldo contendo as terras colonisadas organisada segundo os trabalhos officiais e as medições
mais exactas pelo agrimensor Ernesto Müzell. Publicada por Adalberto Jahn. Leipzig: Instituto
lithographico de F. A. Brockhaus, 1870.

WEIMER, Günter. Arquitetura Popular da Imigração Alemã. 2 ed. Porto Alegre, RS: UFRGS, 2005.
WITT, Marcos Antônio (Orgs.) Anais do Vi Seminário Nacional de Pesquisadores da História das
Comunidades Teuto-Brasileiras. Editora: Oikos. 2003
WITTMANN, C.R. Angelina. Fachwerk – A Técnica Construtiva Enxaimel. 2 ed. Blumenau, SC:
AmoLer Editora, 2019.

VRP Arquitetura Estratégica Arq. Vlademir Roman | Hist. Gladis M. Pippi 53


1. RESPONSÁVEL TÉCNICO

1.1 Arquiteto(a) e Urbanista

Nome Civil/Social: VLADEMIR ROMAN CPF: 316.361.790-53 Tel: (51) 40616-847


Data de Registro: 19/05/1986 Registro Nacional: 000A126861 E-mail: VLADI@VRP.ARQ.BR

1.2 Empresa Contratada

Razão Social: VRP ARQUITETURA S/S - EPP Número CAU: PJ12417-6


CNPJ: 10.935.053/0001-58 Data de registro: 25/09/2009

2. DETALHES DO RRT

Nº do RRT: SI11000187I00CT001 Forma de Registro: INICIAL


Data de Cadastro: 26/07/2021 Tipologia:
NÃO SE APLICA
Modalidade: RRT SIMPLES Forma de Participação: INDIVIDUAL
Data de Registro: 27/07/2021

2.1 Valor do RRT

Valor do RRT: R$97,95 Pago em: 26/07/2021

3.DADOS DO CONTRATO

3.1 Contrato 2019277

Nº do RRT: SI11000187I00CT001 CPF/CNPJ: 88.254.909/0001-17 Nº Contrato: 2019277 Data de Início:


26/07/2021
Contratante: Prefeitura Municipal de Valor de Contrato: R$ 68.700,00 Data de Celebração: Previsão de Término:
Ivoti-RS 07/10/2019 12/11/2021

3.1.1 Dados da Obra/Serviço Técnico

CEP: 93900000 Nº: 3527


Logradouro: Presidente Lucena Complemento:
Bairro: CENTRO Cidade: Ivoti
UF: RS Longitude: Latitude:

3.1.2 Descrição da Obra/Serviço Técnico

Elaboração do inventário arquitetônico do patrimônio cultural de bens edificados existentes no Município de Ivoti/RS, a
partir de listagem existente de 167 bens edificados, considerando os mesmos para fins de preservação do Patrimônio e da
memória cultural que representam a evolução urbana e arquitetônica do Município. Dos 167 bens, restaram 123 bens que
foram acrescidos de 54 novos bens inventariados. totalizando 177 bens.

3.1.3 Declaração de Acessibilidade

Declaro a não exigibilidade de atendimento às regras de acessibilidade previstas em legislação e em normas técnicas
pertinentes para as edificações abertas ao público, de uso público ou privativas de uso coletivo, conforme § 1º do art. 56 da
Lei n° 13.146, de 06 de julho de 2015.

www.caubr.gov.br Página 1/2


3.1.4 Dados da Atividade Técnica

Grupo: MEIO AMBIENTE E PLANEJAMENTO REGIONAL E URBANO Quantidade: 63138


Atividade: 4.4.1 - Levantamento ou inventário urbano Unidade: quilômetro quadrado

4. RRT VINCULADO POR FORMA DE REGISTRO

4.1.1 RRT's Vinculados

Número do RRT Forma de Registro Contratante Data de Registro Data de Pagamento


Nº do RRT: SI11000187I00CT001 INICIAL Prefeitura Municipal de Ivoti- 26/07/2021 26/07/2021
RS

5. DECLARAÇÃO DE VERACIDADE
Declaro para os devidos fins de direitos e obrigações, sob as penas previstas na legislação vigente, que as informações
cadastradas neste RRT são verdadeiras e de minha responsabilidade técnica e civil.

6. ASSINATURA ELETRÔNICA

Documento assinado eletronicamente por meio do SICCAU do arquiteto(a) e urbanista VLADEMIR ROMAN, registro CAU nº
000A126861, na data e hora: 26/07/2021 13:33:10, com o uso de login e de senha. A autenticidade deste RRT pode ser
verificada em: https://siccau.caubr.gov.br/app/view/sight/externo?form=Servicos, ou via QRCode.

A autenticidade deste RRT pode ser verificada em: https://siccau.caubr.gov.br/app/view/sight/externo?form=Servicos, ou via QRCode. Documento Impresso em:
27/07/2021 às 19:09:15 por: siccau, ip 10.128.0.1.

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Conservação preventiva
de imóveis antigos na
região de imigração

Conservação preventiva de imóveis antigos na região de imigração 1


2 Iphan/SC
Superintendência do Iphan em Santa Catarina

Conservação preventiva
de imóveis antigos na
região de imigração
Maria Regina Weissheimer (org.)
Cristiane Galhao BiazDalmo Vieira Filho
Marco Antonio Minozzo Gabriel
Maria Isabel Kanan
Suelen Artuso

Florianópolis - Iphan - 2021


FICHA TÉCNICA

Presidente da República Organização


Jair Messias Bolsonaro Maria Regina Weissheimer

Ministro do Turismo Textos


Gilson Machado Guimarães Neto Cristiane Galhardo Biazin
Dalmo Vieira Filho
Secretário Especial da Cultura Marco Antonio Minozzo Gabriel
Mario Luis Frias Maria Isabel Kanan
Maria Regina Weissheimer
Presidente do Instituto do Patrimônio Histórico e Suelen Artuso
Artístico Nacional
Larissa Peixoto Revisão e edição de conteúdo
Cristiane Galhardo Biazin
Diretores do Iphan Maria Regina Weissheimer
Arlindo Pires Lopes
Arthur Lázaro Laudano Brengunci Projeto Gráfico, Diagramação, Edição de
Marcelo Brito Imagens e de Ilustrações
Raphael João Hallack Fabrino Maria Regina Weissheimer
Tassos Lycurgo Galvão Nunes
Instituto do Patrimônio Histórico e
Superintendente do Iphan em Santa Catarina Artístico Nacional
Liliane Janine Nizzola www.iphan.gov.br
publicacoes@iphan.gov.br
Chefe do Escritório Técnico da Imigração
Suelen Artuso Superintendência em Santa Catarina
iphan-sc@iphan.gov.br
Chefe do Escritório Técnico de Laguna
Ana Paula Cittadin Escritório Técnico em Laguna
escritorio.laguna@iphan.gov.br
Chefe do Escritório Técnico de São Francisco do Sul
Escritório Técnico em São Francisco do Sul
Aline Figueiredo
escritorio.saofrancisco@iphan.gov.br
Escritório Técnico em Pomerode (Imigração)
etec.pomerode@iphan.gov.br

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


Biblioteca, IPHAN - SC
C755

Conservação preventiva de imóveis antigos na região de imigração / Maria Regina


Weissheimer, org. ; Cristiane Galhardo Biazin, ... [et. al.], textos. Dados eletrônicos
(1 arquivo PDF) – Florianópolis, SC: IPHAN, 2021.
38p. ; 21 x 15 cm

Modo de acesso: www.iphan.gov.br


ISBN: 978-65-86514-30-8

1. Patrimônio cultural – Proteção. 2. Edifícios históricos – Conservação e


restauração. I. Weissheimer, Maria Regina. II. Biazin, Cristiane Galhardo. III.
Vieira Filho, Dalmo. IV. Gabriel, Marco Antonio Minozzo. V. Kanan, Maria
Isabel. VI. Artuso, Suelen.

CDD 363.69098164
Elaborado por Mônica da Silva Magalhães – CRB-14/965

4 Iphan/SC
Agradecimentos 6
Apresentação 8
Conservando seu imóvel 9
O enxaimel 11
Telhados 14
Forros de madeira 19
Pisos 19
Vedações (paredes internas e externas) 20
Pinturas das fachadas, esquadrias e elementos
decorativos 23
Descupinização preventiva e controle de
infestações 25
Portas e janelas 26
Cuidados com as instalações prediais 28
Principais agentes de degradação 29
Criando uma rotina de conservação 31
Autorização para intervenções em imóveis
tombados 32
Conjuntos rurais de Testo Alto e Rio da Luz 34
Bens tombados pelo Iphan 37
Referências bibliográficas 38
ra do Prêmio Rodrigo Melo Franco
Agradecimentos de Andrade, em 2019. Os livretos
Por Liliane Janine Nizzola de Blumenau, Araquari e Itaiópolis
buscam retratar as realidades locais,
praticamente uma série fechada em
Esta série de livretos busca retomar, si mesma, demonstrando alguns dos
de forma sintética e fácil, alguns dos
conceitos de patrimônio, bem como re- principais atrativos locais e suas sin-
visitar saberes e lugares tão preciosos gularidades.
para nossa cultura catarinense. A Rede Patrimônio Cultural San-
ta Catarina se ampliou e sua continui-
A ideia de sua edição e publicação dade transcendeu o prazo do Acordo
surgiu em 2018, no âmbito da Rede de Cooperação Técnica, nascendo
Patrimônio Cultural Santa Catarina, assim, em 2020, a Rede de Educação
e se expandiu buscando novos parcei- Patrimonial Catarina, a qual congre-
ros, novos olhares e formas diversas ga parceiros que atuam na área da
de divulgar, valorizar e difundir os educação patrimonial em Santa Ca-
patrimônios de Santa Catarina. tarina e pode ser acessada por meio
Assim, nasceram nove livretos. das redes sociais da iniciativa. No âm-
Os quatro primeiros foram elabo- bito dessa rede ampliada nasceram
rados por parceiros do Iphan na Rede mais dois livretos, também escritos
Patrimônio Cultural Santa Catarina, integralmente pelos parceiros, com o
sendo os livretos produzidos integral- acompanhamento e/ou orientação de
mente pelos signatários do Acordo servidores do Iphan:
de Cooperação Técnica, entre 2018 5. Ilha do Campeche e Educa-
e 2020, para realização de ações de ção Patrimonial (Instituto Ilha do
educação patrimonial: Campeche);
1. Engenho é patrimônio: In- 6. Plano de Salvaguarda da
ventário Cultural dos Engenhos Capoeira em Santa Catarina
de farinha do litoral catarinense (Colegiado de Mestres de Capoeira de
(CEPAGRO/Rede Catarinense de Santa Catarina)
Engenhos de Farinha); Esses livretos abordam temáticas
2. Conhecendo Museus Blu- relacionadas com dois bens protegi-
menau (Secretaria Municipal de dos e salvaguardados pelo Iphan: a
Cultura de Blumenau); Ilha do Campeche, inscrita no Livro
3. Araquari: nossa história, do Tombo Arqueológico, Etnográfico
nossa herança (Secretaria Munici- e Paisagístico, em 2000, e a Capoeira,
pal de Cultura de Araquari); inscrita no Livro de Registro das For-
4. Itaiópolis, Mosaico Cultu- mas de Expressão, em 2008.
ral (Secretaria Municipal de Cultura Já os três últimos, que também fa-
de Itaiópolis) zem parte do mesmo projeto, foram
Esse foi um dos resultados pro- integralmente elaborados pelo Iphan
fícuos do projeto. O livreto da Rede e não retratam cidades, mas sim di-
de Engenhos compartilha o processo ferentes temas referentes ao patrimô-
de construção coletiva do inventário nio material e imaterial. Eles são uma
participativo dos engenhos de farinha pincelada em relação a cada um dos
do litoral catarinense, ação vencedo- temas especificamente tratados, sem,
de modo algum, esgotá-los:
6 Iphan/SC
7. Conservação preventiva de resultados. E é preciso agradecer aos
imóveis antigos em núcleos his- que se dedicaram a esta Rede e a fa-
tóricos; zê-la acontecer, o que também viabi-
8. Educação patrimonial no lizou este projeto. Assim, agradece-
centro histórico de Laguna; mos à a área central do Iphan pelo
apoio financeiro e suporte, por meio
9. Conservação preventiva do Departamento de Cooperação e
de imóveis antigos na região de Fomento e do gabinete da presidência
imigração; do Iphan; aos servidores do Iphan em
Embora singela, esta é uma ação Santa Catarina; aos servidores muni-
que muito nos orgulha e apraz, pois cipais participantes; aos integrantes
é fruto de uma construção coletiva da sociedade civil e a todos os que in-
que gerou, e continua gerando, bons tegraram o projeto. Especial gratidão
aos elaboradores do con-
teúdo, aos que ilustraram,
aos diagramadores, aos que
editaram, formataram e
configuraram estas nossas
pequenas porções de patri-
mônio. Nosso agradecimen-
to sincero e especial!
Como não se deve pa-
rar o que está funcionando,
o intuito é de continuarmos
a caminhar conjuntamente
com os parceiros municipais
e a sociedade civil organiza-
da, e, para isso, desejamos
continuar trilhando cami-
nhos paralelos e seguir ex-
pandindo esta coleção!

Detalhe de varanda da Casa


Ristow, em Indaial.

Conservação preventiva de imóveis antigos na região de imigração 7


cações antigas, que o Iphan em Santa
Apresentação Catarina desenvolveu este manual de
Por Maria Regina Weissheimer “Conservação preventiva de imóveis
antigos na Região de Imigração”.
Antiga ou nova, toda edificação de- A publicação foi desenvolvida para
manda ações de manutenção e conser- servir de instrumento de consulta, a
vação constantes e adequadas. O pro- ser distribuída para os proprietários
longamento de sua vida útil, e também e usuários de imóveis tombados ou si-
a redução dos custos com eventuais re- tuados dentro de áreas tombadas nas
formas ou restaurações, dependerá dos regiões de imigração.
cuidados adotados por seus usuários e
Assim, o manual apresenta infor-
responsáveis.
mações sobre os principais elementos
Conservar uma edificação antiga e sistemas construtivos da arquitetura
é tarefa desafiadora, já que muitos produzida pelos imigrantes nas anti-
dos materiais e técnicas construtivas gas colônias (especialmente a teuto-
empregados originalmente não fazem -brasileira, caracterizada pela técnica
mais parte das práticas correntes e enxaimel), bem como dicas para sua
contemporâneas da construção civil. conservação; orientações gerais sobre
Além disso, o patrimônio histórico cuidados com instalações elétricas,
edificado é um recurso cultural finito. hidrossanitárias, de combate a incên-
Os monumentos, cidades e paisagens dio, drenagem e outras; e sugestão de
históricas são testemunhos de reali- calendário de inspeções. Além disso,
zações humanas de diversas épocas e possui informações sobre procedi-
sua preservação importa às gerações mentos para autorização de inter-
futuras. venções, reformas e restaurações pelo
Não é possível reproduzir um mo- Iphan (aplicados àqueles bens tomba-
numento ou uma cidade antiga na sua dos em nível federal) e uma lista de
integridade e toda intervenção provo- contatos das unidades do Iphan em
ca, em certa medida, algum grau de Santa Catarina.
perda de autenticidade. Assim, evitar A publicação traz também breves
o início ou o avanço de danos é me- notas sobre os conjuntos rurais de
dida preventiva de suma importância, Texto Alto e Rio da Luz, tombados
verdadeiro ato de preservação. pelo Iphan no território catarinense,
O estabelecimento de um calendá- seus valores e motivações para o re-
rio de inspeções periódicas, a adoção conhecimento como patrimônio na-
de medidas cotidianas de limpeza e cional.
verificação de elementos sensíveis, um Ao final, nas referências bibliográ-
uso adequado, o emprego de materiais ficas, foi elencada uma listagem bási-
e técnicas construtivas compatíveis, ca de manuais e outros documentos
são algumas providências simples que de referência, fontes preciosas de con-
caracterizam as boas práticas da con- sulta para quem deseja se aprofundar
servação preventiva de um imóvel. em alguma questão técnica relativa à
Pensando nas particularidades da conservação de imóveis antigos.
arquitetura e dos sistemas construti- Esperamos que o material seja útil.
vos das regiões de imigração em San- Boa leitura e cuide bem de sua edifi-
ta Catarina, e para auxiliar usuários, cação!
proprietários e responsáveis por edifi-
8 Iphan/SC
natural ou de alterações de suas ca-
Conservando seu racterísticas originais. Quando este
imóvel patrimônio perde partes essenciais de
sua integridade e autenticidade não
A utilização dos imóveis tombados pode ser restaurado sem ser apenas
é de grande importância para sua con- uma cópia. Nosso patrimônio históri-
servação, porém deve-se manter sua co é insubstituível.
integridade física evitando descaracte- As construções antigas foram feitas
rizar as edificações. de forma diferente das construções de
Um aspecto imprescindível é a hoje. Elas foram produzidas antes do
manutenção periódica, de caráter uso do concreto armado, do cimento
preventivo, evitando, assim, gastos e das emulsões acrílicas, do PVA e
mais onerosos com restaurações ou outros materiais. Na maioria dos sis-
recomposições de elementos danifica- temas construtivos antigos, as pare-
dos com o passar do tempo. des eram largas, as fundações rasas
As edificações antigas constituem e erguidas com tijolos artesanais ou
uma importante parcela do nosso pa- pedras locais, barro, cal, estruturas
trimônio cultural. Enriquecem nosso e elementos de madeira. Nesses siste-
ambiente e são nossa ligação com o mas, a umidade proveniente do solo,
passado. O patrimônio edificado é re- da chuva ou do ar pode ser absorvida,
sultado progressivo e acumulativo da pois não há barreiras impermeáveis,
cultura ao longo de gerações e está em mas também é capaz de ser elimina-
constante processo de envelhecimento da, pois os materiais das argamassas,

Agradecimentos especiais à arquiteta


Maria Isabel Kanan, que dedicou sua vida
profissional junto ao Iphan e desenvolveu
os primeiros textos de orientações para
conservação que foram sendo utilizados
pela Superintendência de Santa Catarina no Conjunto de casa e ranchos, pro-
decorrer das décadas, editados, revistos e priedade Bauer, em Blumenau,
ampliados na presente publicação.

Conservação preventiva de imóveis antigos na região de imigração 9


dos rebocos e das tintas são porosos. • As construções se deteriorem
Esses sistemas também são mais sus- mais;
cetíveis a acomodações do solo, sendo • Os materiais tradicionais de
que a manutenção dos sistemas estru- qualidade desapareçam do merca-
turais originais é mais compatível do do, dificultando e encarecendo ainda
que o emprego de outros materiais ou mais os serviços de conservação e as
soluções construtivas. obras de restauração;
Já os sistemas construtivos moder- • A mão de obra com experiên-
nos são concebidos de forma diferente, cia prática tradicional desaparça;
empregam materiais mais impermeá-
veis e foram idealizados para manter • A substituição de telhados de
a água afastada através de um sistema telhas manuais, assoalhos de madei-
de barreiras. ras nobres, superfícies onduladas de
rebocos baseadas na arte da cal e na
A tecnologia construtiva utiliza- cor de vários tons de aguadas de ocres,
da nas nossas construções históricas vermelhos e verdes terra e outros, faz
tem origens anteriores aos gregos e também com que a originalidade da
romanos e vem sendo empregada por construção seja perdida.
séculos. Isso significa que, apesar de
serem construídas com materiais e A utilização de materiais e
técnicas considerados hoje não “tão técnicas tradicionais na conser-
resistentes”, sua durabilidade através vação do seu imóvel oferece vá-
dos tempos atesta o contrário. rias vantagens como:
Não tente alterar os sistemas an- • Manter o caráter histórico do pa-
tigos empregando materiais e tecno- trimônio;
logia incompatível! A conservação • Apresentar custos menos eleva-
preventiva e a manutenção desses dos a curto e longo prazo;
sistemas e materiais tradicionais com • Ser compatível com os métodos
utilização de tecnologia similar à e materiais existentes na construção,
construção original, sem alterações isto é, quando aplicados, ajudam a
profundas de estrutura e de elemen- conservar o restante da construção
tos construtivos, é a melhor forma de antiga sem provocar mais deteriora-
garantir a conservação do seu imóvel, ções na construção em pouco tempo.
sem aumentar a deterioração ou ain-
da aumentar custos de novas interven- Para que você conserve o seu imó-
ções. vel da maneira mais apropriada, o
Iphan organizou algumas dicas e su-
Nos últimos anos, o emprego de gestões de materiais e métodos para
materiais mais recentes, como o ci- fazer reparos e manter sua casa, que
mento e as tintas plásticas, em obras podem ser realizados sem muita difi-
de restauração, resultou em vários as- culdade.
pectos negativos. Pensava-se, erronea-
mente, que os novos materiais seriam
mais fortes, mais duráveis e, portan-
to, mais eficazes na conservação das
construções antigas. Mas essa é uma
ideia enganosa, pois a incompati-
bilidade entre os materiais faz Ao lado, empena da Casa
Wunderwald, em Pomerode.
com que: Exemplo de gaiola enxaimel.

10 Iphan/SC
O enxaimel Gaiola do enxaimel
Compostas de estruturas de madeira A gaiola, estrutura que forma o
unidas por encaixes e vedações em tijo- corpo central das casas enxaimel, é
los maciços ou taipa de mão, por vezes montada com encaixes numerados e
rebocadas, as construções enxaimel di- composta de esteios verticais, travas
vergem do usual panorama construtivo horizontais (que podem ser simples ou
brasileiro. duplas), vigas baldrames, barrotes do
É um sistema de estrutura de ma- piso e frechais. A regularidade estru-
deira autônomo, de caráter universal. tural é atingida através de costumes
Pode ser encontrado na arquitetura tra- construtivos e medidas padronizadas,
dicional portuguesa e na oriental, na que oferecem aos conjuntos de enxai-
China e no Japão, por exemplo. Tal mel um aspecto identitário entre ar-
como foi utilizado em Santa Catari- quitetura e técnica.
na, desenvolveu-se na Idade Média, As vedações são feitas de tijolos
na Europa Central. (VIEIRA FI- maciços, muitas vezes fabricados em
LHO, 2012, p.74) fornos improvisados no próprio can-
teiro de obras, ou de taipa-de-mão –
Produto laborioso dos imigrantes em que barro misturado com espécies
no sul do Brasil e outras regiões de co- vegetais e aglutinantes é socado com
lonização alemã, as construções edifi- as mãos sobre uma estrutura entelaia-
cadas em técnica enxaimel requerem da feita de varas de bambu ou talis-
cuidados específicos em sua manu- cas de madeira. Incomum em Santa
tenção. Entretanto, feita da maneira Catarina, a vedação com alvenaria de
correta, a conservação de edificações pedra pode ser encontrada em edifi-
enxaimel pode ser executada sem cações enxaimel no Rio Grande do
maiores dificuldades. Sul.

Conservação preventiva de imóveis antigos na região de imigração 11


As paredes em tijolos maciços são pinturas executadas com materiais
geralmente rebocadas no interior dos betuminosos ou óleo diesel queimado.
imóveis, junto da estrutura. As veda- A aplicação, que confere a cor negra
ções em taipa, atualmente bastante à estrutura aparente, é feita para pro-
raras, são rebocadas dos dois lados. teger a madeira da ação dos insetos
As argamassas são compostas de bar- xilófagos e das intempéries.
ro, areia e cal.
As peças de madeira da gaiola ad- Acima, apodrecimento de
barrote causado por umidade
quirem resistência quando em con- - repare no aspecto fibroso do
junto, e a falta ou deterioração das pe- substrato. Ataque de insetos
ças, notadamente nos encaixes, pode xilófagos em esteio de estrutu-
acarretar danos ao bem. No entanto, ra enxaimel (ao centro) e em
as peças estruturais eram geralmente barrote (abaixo).
superdimensionadas, sendo comum
perceber que, mesmo quando alguma
peça atinge a falha, o conjunto solida-
riza o esforço.
Os principais agentes de deteriora-
ção das gaiolas são os insetos xilófagos,
e é difícil detectar as infestações nas

Foto: Marco Gabriel


paredes por causa das vedações. Estru-
turas de piso estão mais sujeitas à umi-
dade, devido à proximidade com o solo
e sombreamento. Nas paredes das em-
penas, os baldrames são especialmente
suscetíveis ao apodrecimento, pois os
beirais curtos expõem a ponta das vi-
gas a intempéries. Nos baldrames, os
encaixes são também especialmente
sensíveis à umidade, uma vez que as
seções estreitas de madeira favorecem
seu apodrecimento. Foto: acervo Iphan

A absorção de umidade pelos bal-


drames nas paredes externas também
provoca problemas de umidade nas
paredes, pois a água segue movimen-
to ascendente por capilaridade. o que
resulta em pulverulências vistas no
reboco do interior dos imóveis, e que
são agravadas pela falta de ventilação
dos ambientes ou insolação. É tam-
bém possível observar o mesmo efeito
nos tijolos externos, que podem desen-
volver camadas superficiais de liquens
Foto: Marco Gabriel

e musgos.
Todas as faces voltadas ao exterior
da estrutura do enxaimel recebem

12 Iphan/SC
Orientações para manuten- Paredes com sujidades e cresci-
mentos vegetais devem ser lavadas
ção da gaiola do enxaimel com água sanitária em proporção de
As estruturas em madeira do enxai- um litro de produto diluído em 10 li-
mel em contato com o exterior devem tros de água, escovando as paredes
receber aplicação de imunizantes pelo com escova de cerdas macias. O com-
menos a cada 5 anos. posto deve ser aplicado e deixado por
30 minutos antes do enxague. É im-
Em substituição ao óleo diesel portantíssimo utilizar equipamentos
queimado, são indicados produtos a de segurança e proteção, assim como
base de tinta de alcatrão de hulha, luvas e trajes apropriados para evitar
cuja durabilidade é bastante superior contato da pele com a água sanitária.
e o aspecto estético é o mesmo. A depender da quantidade de suji-
dade, a proporção de água sanitária
deve ser aumentada ou diminuída. Ja-
tos de água por pressão danificam a
camada externa das paredes e dos re-
juntes, e aceleram sua deterioração e
aumento de porosidade, portanto não
são indicadas.
Foto: Marco Gabriel

Em pequenas porções de estrutu-


ra atingidas por insetos xilófagos, é
possível fazer enxertos de madeira.
Enxertos são substituições de porções
localizadas da madeira por outra de
igual ou similares características. O
trabalho, feito por carpinteiros espe-
cializados, requer que seja removida
a madeira comprometida com o uso
de martelos e cinzéis, criando encai-
xes diagonais os quais serão utiliza-
dos para pressionar a nova peça. Em
alguns casos, é preciso macaquear a
Foto: Suelen Artuso

estrutura e remover fileiras de tijolos


para realizar o trabalho. Mesmo as-
sim, são imprescindíveis em manuten-
ções que visam evitar a substituição
de peças inteiras. A técnica dos en-
xertos é de conhecimento tradicional,
e executada apenas por carpinteiros
experientes em enxaimel, mas podem
ser de grande auxílio para realizar
manutenções menos custosas.
Acima, gaiola de enxaimel em proces-
Foto: Suelen Artuso

so de restauração. Ao centro, carpin-


teiro produzindo encaixe em barrote
artesanalmente. Abaixo, produção
de enxertos em esteios no Depósito
Breithaupt, em Jaraguá do Sul.
Conservação preventiva de imóveis antigos na região de imigração 13
As telhas rabo-de-castor são rela-
Telhados tivamente menores do que outros mo-
Manter o telhado em bom estado delos usuais, o que caracteriza uma
é a primeira preocupação que se deve distância entre sarrafos de geralmente
ter quando falamos em conservação de 20 centímetros. O entelhamento du-
um imóvel. plo, tipo escama de peixe, reforça tal
aproximação e aumenta consideravel-
A água da chuva é capaz de cau- mente o peso próprio do telhado.
sar danos às construções através de
goteiras ou infiltrações, ocasionando É comum perceber ondulações em
deterioração de revestimentos e até da telhados cujos sarrafos estão deterio-
própria estrutura de sustentação do te- rados. Nesses casos, a substituição das
lhado ou da casa, podendo causar re- peças comprometidas é importante,
calques e até desabamentos perigosos. para evitar desabamentos. Sarrafos,

Foto: acervo Iphan

A típica estrutura de telhado das feitos de madeiras menos resistentes,


casas enxaimel é de caibros armados são costumeiramente mais sensíveis a
apoiados por encaixes nos barrotes e infestações de cupins e apodrecimen-
vigas que formam o topo do edifício, tos causados por umidade. Entretan-
estes apoiados sobre a gaiola estrutu- to, o apodrecimento de sarrafos pode
ral das paredes. Nos vãos maiores são também estar relacionado à deterio-
utilizadas linhas altas para reforçar ração da estrutura do telhado como
a rigidez do sistema estrutural. Nos um todo, sendo sempre necessário
anexos de cozinhas e varandas, gal- inspecioná-lo integralmente.
bos são formados a partir da troca de
inclinação do telhado. A telha mais Dada a sua espessura diminuta, as
usual é a rabo-de-castor, também co- telhas germânicas costumeiramente
nhecida como telha germânica. tornam-se mais porosas com o pas-
14 Iphan/SC
sar dos anos. Esse efeito é possível
de ser observado em seu extradorso
(face voltada para o interior do sótão),
pelo aparecimento de manchas esver-
deadas e esbranquiçadas. Se a telha
possui tais manchas, muito provavel-
mente é necessário substituí-las, por-
que sua vida útil está no fim. As telhas
germânicas ainda são produzidas na
região do Vale do Itajaí e não é difícil
encontrá-las.
Não é aconselhado substituir o
tipo de telha das edificações, pois,
além de descaracterizá-las, uma série
de incompatibilidades entre o modelo
de telhado, telhas e sarrafos fará com
que a edificação passe a sofrer com
infiltrações e o sobrepeso estrutural
de telhas maiores e mais pesadas.
Telhas em chapas feitas de materiais
industrializados também dificultarão
a ventilação do sótão, favorecendo as
infestações de cupins e brocas e apo-
drecimento das madeiras.
Na página ao lado, sótão
típico das edificações com
cobertura estruturada em
caibros armados. Nesta
página, de cima para baixo:
apodrecimento dos sarra-
fos e ondulação por falha
mecânica; telhas germânicas
deterioradas e danos cau-
sados pelo apodrecimento
dos sarrafos; manchas de
umidade no extradorso de
telhas germânicas, indicando
que sua vida útil terminou; e
beiral de edificação da arqui-
tetura ítalo-brasileira, no sul
de Santa Catarina - o uso da
telha germânica era restrito
às regiões de colonização por
imigrantes de origem alemã,
nas demais regiões é comum
o uso da telha tipo capa e
Fotos: acervo Iphan

canal (também usada na


arquitetura luso-brasileira) e
da telha francesa. As orienta-
ções de conservação são as
mesmas para todos os tipos
de telha.

Conservação preventiva de imóveis antigos na região de imigração 15


Barrotes do piso do sótão dade, insetos xilófagos e também das
movimentações estruturais. Quando
Os barrotes que sustentam o piso constituídos de coníferas ou mandeira
do sótão são portentosas vigas de ma- de pinho), são especialmente sensíveis
deira que fazem parte da estrutura aos cupins e brocas – o que oferece ris-
de cobertura. São geralmente feitos co à edificação como um todo.
de madeiras de lei, como peroba rosa
e canela preta, mas em edificações Calhas
maiores é possível identificar o uso
de coníferas. Em harmonia estrutural Nas edificações antigas, em geral,
com os caibros, tais peças projetam-se as calhas são mais comumente utili-
para fora da linha das vigas cintas. zadas em telhados com platibandas,
O encaixe entre caibro e barrote sendo muito raras – praticamente ine-
ocorre nas pontas em balanço - uma xistentes – nas edificações enxaimel
maneira de evitar o abaulamento da ou demais tipologias da arquitetura
peça utilizando do peso próprio do teuto-brasileira.
telhado, e permitindo a confecção de Como sua função é recolher as
vãos livres imponentes. águas das chuvas, qualquer obstácu-
lo em seu interior poderá impedir seu
Os principais problemas relaciona- bom funcionamento. Portanto, sua
dos aos caibros ocorrem em conjun- limpeza periódica é fundamental, as-
ção com a deterioração dos telhados. sim como a limpeza dos dutos da água
O encaixe das peças é especialmente e suas conexões com a rede de coleta
sensível, pois sofre com a ação de umi- pluvial da rua.
Se possível, é recomendável insta-
lar grelhas convexas na passagem de
água da calha para o duto, impedin-
do que a sujeira desça ou venha a obs-
truir o escoamento.
Não se deve instalar calhas em
edificações antigas cuja arquitetura
original era desprovida desse recurso.
Nestes casos, a inserção de dutos e ca-
lhas comprometerá a integridade das
fachadas, com interferências estéticas
danosas à preservação do patrimônio
edificado.

Acima, detalhe de varanda,


com sequencia das pontas
aparentes dos barrotes que
formam o sistema de caibros
Fotos: acervo Iphan

armados da estrutura do
telhado. Abaixo, manchas de
umidade causadas por infiltra-
ção de telhado em tábuas do
piso do sótão.

16 Iphan/SC
Orientações para manu- Não utilize argamassa nas telhas
intermediárias, pois com o tempo
tenção da cobertura irão trincar e dar lugar a penetração
Existem várias formas de deterioração, de água.
mas a maioria está associada a presen- A boa execução dos telhados anti-
ça de umidade em excesso combinada gos estará sujeita ao emprego de uma
com poluição, sujeira, poeira e o uso mão de obra com experiência.
não apropriado de materiais e rotinas
de uso das casas. É importante que as intervenções
no telhado mantenham a boa venti-
O telhado deve ser inspeciona- lação nesta área. A falta de ventilação
do pelo menos uma vez a cada aumentará as chances de apodreci-
ano, para que telhas quebradas pos- mentos das madeiras e infestações de
sam ser substituídas e se possa verifi- cupins.
car o estado de conservação das ma- Vegetais que tenham eventual-
deiras de cobertura. mente nascido no telhado devem ser
Telhas quebradas devem ser subs- removidos à mão, para garantir que
tituídas e telhas fora do lugar recolo- todo o substrato em que a planta se
cadas. desenvolvia foi eliminado também.
A limpeza das telhas deve ser feita Sarrafos devem ser vistoriados e
com água sanitária em proporção de substituídos sempre que for necessá-
um litro para 10 litros d’água e execu- rio, visto que o custo de manutenção
tada manualmente, escovando as te- deles é inferior.
lhas com escova de cerdas macias. O
composto deve ser aplicado e deixado
por 30 minutos antes do enxague.
É importantíssimo utilizar equi-
pamentos de segurança e proteção,
assim como luvas e trajes apropria-
dos para evitar contato da pele com a
água sanitária. A depender da quan-
tidade de sujidade, a proporção de
água sanitária deve ser aumentada
ou diminuída. Jatos de água por pres-
são danificam a camada externa das
telhas, e aceleram sua deterioração e
aumento de porosidade, portanto não
são indicadas.
Fotos: Suelen Artuso

Acima, encaixe do enxai-


mel.Abaixo, montagem de
telhado em caibro armadoo
com linha alta. Sítio Tribess,
Pomerode.

Conservação preventiva de imóveis antigos na região de imigração 17


Estruturas de madeira deteriora- Partes deterioradas podem ser res-
das devem, na medida do possível, ser tauradas e, se necessário, reforçadas
substituídas por madeira de proprie- com pinos de madeira ou aço.
dades similares e não por materiais Normalmente, as estruturas de
como concreto e aço. Peças antigas madeira antiga apresentam dimen-
de madeira podem apresentar sinais sões maiores do que o necessário e
de deformação ou mesmo ataque de foram submetidas a cargas durante o
cupins, mas nem sempre estão total- início da construção que hoje prova-
mente comprometidas. velmente estão estabilizadas.
Fotos: Suelen Artuso

Restauração da estrutura de co-


bertura de casa enxaimel, no Sítio
Tribess, Pomerode. A substitui-
ção integral de peças é apenas
recomendada nos casos em que o
estado geral de conservação das
mesmas não permita seu reapro-
veitamento. Neste caso, são utiliza-
das peças de mesmas dimensões e
resistência que o material original,
recobrando a integridade do siste-
ma estrutural.

18 Iphan/SC
Forros de madeira
Os forros têm como principais fun-
ções o acabamento dos tetos e o iso-
lamento térmico do interior das casas.
Nas edificações da região de imi- Orientações para
gração, como as construídas em en- manutenção dos pisos
xaimel, o próprio piso do sótão faz as
vezes de forro do pavimento térreo,
permanecendo os barrotes aparentes. Os pisos de madeira devem ser en-
cerados com frequência, utilizando-se
A observação constante dos tetos preferencialmente de cera de carnaú-
e forros pode revelar indícios de pro- ba, e verificados periodicamente em
blemas, como infiltrações de água nos sua estrutura (barrotes), rodapés e asso-
telhados, originando goteiras, man- alho, com o objetivo de detectar possí-
chas de umidade; e ainda infestação veis infestações de cupins e brocas.
de insetos como cupins ou outras pra- Não devem ser aplicados produtos
gas que poderão vir a comprometer a industrializados e que contenham pig-
estrutura da casa. mentos, porque uma vez impregnados
na madeira, são dificilmente removi-
A eventual necessidade de substi- dos.
tuição de peças deve privilegiar o uso
Pisos ressecados podem se benefi-
do mesmo tipo de material e os mes- ciar de lixamentos profissionais, que re-
mos acabamentos do original. movem as camadas superficiais de acú-
mulo de cera e material deteriorado.
Pisos A vantagem de dar manutenção
deste piso de madeira (tábuas ou tacos)
Na grande maioria das edificações é que a matéria prima deles é de gran-
das regiões de imigração no sul do Bra- de durabilidade, enquanto os novos
sil, os pisos são feitos de tabuados de revestimentos não são fabricados para
madeira largas, apoiados no sentido durar mais de cem anos . Restaurando
contrário dos barrotes que lhe fazem uma peça de madeira (trocando partes
sustentação. Assim como a estrutura podres ou deterioradas), se conseguirá
das gaiolas, os pisos são feitos de ma- melhor qualidade por um custo muitas
deiras de lei. vezes inferior.
São peças que recebem encera- Outra providência para preservar
a integridade dos pisos é forrar pés de
mento frequente e, portanto, geral- mesas e cadeiras ou móveis, com feltro
mente apresentam melhor estado de ou carpete para que não venham a ris-
conservação. car o assoalho.
As tábuas utilizadas para piso do Ladrilhos hidráulicos também ne-
sótão, que também serve como forro e cessitam de limpeza, porém deve-se
recebe enceramento menos frequente, ter o cuidado de não utilizar ácidos ou
são mais suscetíveis ao ataque de in- produtos químicos para não desgastar a
setos xilófagos. Infiltrações no telhado camada decorativa. Use somente água
também prejudicam a sua manutenção. e sabão neutro.

Conservação preventiva de imóveis antigos na região de imigração 19


placas ou sinalização deve-se ter o
Vedações (paredes cuidado de preservar estes elementos,
internas e externas) assim como ter o cuidado de não des-
caracterizar a tipologia do edifício,
Deve-se sempre evitar pinturas e nem encobrir os detalhes que com-
vernizes de qualquer espécie, sua lim- põem sua ornamentação, com toldos
peza deve ser feita com água, escova ou outros elementos.
com cerdas de plástico e sabão neutro.

É muito comum que, nos imóveis Tijolos e taipas


antigos, as paredes sejam a própria Diferentemente das construções lu-
estrutura de sustentação do edifício. so-brasileiras, nas regiões de imigração
Costuma-se denominar paredes au- é comum encontrar edificações com es-
toportantes aquelas que têm a dupla trutura ou vedação de tijolos aparentes,
função de estrutura e vedação. No o que demanda cuidados especiais de
sul do Brasil, são mais comumente conservação, já que não contam com a
encontradas as alvenarias de tijolos, capa protetora das argamassas de reves-
de pedras ou as estruturas mistas. As timento.
estruturas de enxaimel formam um
quadro de exceção nesse contexto, Comumente feitos na própria obra,
pois possuem o sistema estrutural in- os tijolos maciços que compõem as ve-
dependente da vedação. dações do enxaimel são geralmente ir-
regulares em relação à cor e à queima.
Muitos dos edifícios históricos pos- Em algumas edificações, tijolos de dife-
suem paredes trabalhadas, com pintu- rentes cores foram utilizados para criar
ras ou entalhes em madeira. Portanto padrões geométricos. Os tijolos maciços
ao se fixar quadros, pôsteres, avisos, desenvolvem pequenas fissuras com faci-

20 Iphan/SC
lidade, devido à sua produção artesanal. pequenas porções dos tijolos sem, contu-
Essas fissuras (que se espalham em forma do, oferecer grandes problemas.
de capilaridade) geralmente não causam Em algumas edificações, entretanto,
danos aos tijolos. Eventualmente, danos o cozimento irregular cria tijolos menos
mecânicos podem acarretar a quebra de resistentes que, ao perder sua camada
exterior, passam a se desmanchar com a
ação das intempéries.
Nas taipas de pilão, o grande inimigo
é a umidade. Ao perder sua resistência,
os agregados se separam e formam bura-
cos na taipa por perda de material.

Vedações em madeira
Além dos tijolos e das taipas, as tá-
buas de madeira verticais com mata-
-juntas também foram largamente uti-
lizadas como vedação, principalmente
em anexos e nas empenas do telhado.
Ao contrário das madeiras utiliza-
das para estrutura e pisos, as espécies
utilizadas são de menor qualidade, e,
portanto, a sua deterioração é muito
mais rápida. Costumeiramente, tais
vedações não recebiam nem pintura
Na página ao lado, edificação
enxaimel em Blumenau, com uso
de dois tipos de material para
preenchimento do enxaimel - tijolos
aparentes e taipa. No volume à
esquerda, os panos do enxaimel
da fachada frontal são preenchidos
com taipa, revestida com argamassa
pintada na cor branca.
Nesta página, acima, danos em
parede de taipa de mão causadas
por esforços mecânicos, com desco-
lamento de reboco; ao centro, de-
talhe da empena do Salão Hammer-
meister, em Timbó, com desenhos
geométricos formados pelo uso
de tijolos de tonalidades distintas,
produto da queima diferenciada
do material; abaixo, detalhe de
edificação enxaimel com preenchi-
Fotos: acervo Iphan

mento em taipa e tijolos aparentes


- note-se os problemas de desagre-
gação dos painéis, devido danos
estruturais provocados por esforços
mecânicos e ação das intempéries.

Conservação preventiva de imóveis antigos na região de imigração 21


Fotos: Suelen Artuso

nem verniz, o que lhes confere enve- À esquerda, descolamento de reboco


lhecimento acelerado. São facilmente em parede com vedação de taipa
substituíveis, mas sua falta de manu- de mão. À direita, recomposição de
tenção afeta a construção como um reboco com argamassa de barro, cal e
areia. Na página ao lado, acima, inte-
todo, pois auxilia na proliferação de rior de edificação em Itaiópolis, região
infestações de cupins e brocas. Os de colonização predominantemente
ranchos também são tradicionalmen- eslava e polonesa; abaixo, aplicação
te revestidos de tábuas de madeira. de tinta mineral para pintura de pare-
des rebocadas e tinta esmalte a base
de água para esquadrias
Argamassas
As argamassas utilizadas em edi- Orientações para
ficações enxaimel são feitas de barro,
areia e cal. O traço – que é a pro- manutenção das
porção entre os componentes – varia esquadrias
em relação à sua função. Argamassas
utilizadas para construir paredes pos- Estes elementos, assim como os pi-
suem quantidade maior de cal, pois sos de madeira, necessitam de vistorias
assim têm maior resistência mecânica. constantes para detectar focos de cupins
Argamassas de reboco possuem maior ou brocas.
quantidade de barro, o que auxilia na Nas janelas e portas deve-se obser-
plasticidade e aplicabilidade. Em edi- var se a água da chuva tem escoamento
ficações mais nobres, argamassas de para fora. Caso ela esteja ficando parada
cal e areia permitem um aspecto mais sob a janela ou porta pode ocasionar o
apodrecimento das peças inferiores.
refinado e regular às paredes.
A inserção indiscriminada de trincos,
A dilatação dos materiais e sua travas, grades, corrimãos, aparelhos de
deterioração fazem com que as arga- ar condicionado ou qualquer outro ele-
massas sofram danos mecânicos. É mento, pode comprometer a integridade
das esquadrias, portanto requerem crité-
comum observar fissuras nas juntas rios específicos.
entre tijolos e a estrutura de madei-
ra, posto a diferença no coeficiente Maçanetas ou outras peças originais
de metal podem, muitas vezes, serem
de dilatação. Movimentações e danos restauradas, com um custo bem menor
mecânicos também causam fissuras. do que a compra de uma peça similar.
A argamassa, uma vez ressecada, ge-
Da mesma forma, restaurar uma ja-
ralmente se solta em placas. nela de madeira antiga pode ser mais em

22 Iphan/SC
Já as tintas acrílicas não deixam a
Pinturas das facha- água passar, sendo boas para climas
das, esquadrias e ele- úmidos, porém, só devem ser usadas
em paredes bem secas, caso contrário
mentos decorativos a umidade sai da alvenaria e, não po-
A pintura das fachadas deve obe-
dendo atravessar a pintura, provoca
decer a critérios técnicos, pois a esco- bolhas e descascamento das paredes.
lha correta das cores valoriza o imóvel Como as paredes de casas antigas
tombado, integra e facilita a percepção são feitas com barro e areia ou ou-
de seus ornamentos, portas, janelas e tros agregados que, em geral, possu-
grades. Essa ordenação de cores e to- íam salinidade, essas paredes sempre
nalidades é denominada escala cromá- apresentarão umidade de dentro para
tica. fora. Portanto, a pintura ideal é a base
Além disso, é preciso estar atento, de cal, que ainda tem a vantagem de
pois cada superfície pede um produto ter um custo bem mais acessível.
específico. A pintura das paredes rebocadas
As tintas mais permeáveis, como de enxaimel deve ser apenas feita com
as tintas à base de cal, deixam a água produtos que permitam a respiração
sair da alvenaria e são indicadas para das paredes. Em substituição à cal,
paredes úmidas. pode-se optar por tintas sílicas (tam-
bém conhecidas por tintas minerais),
que não formam filmes plásticos sobre
conta do que mandar fazer uma nova as superfícies. Não se deve pintar com
com as mesmas qualidades.
tintas as paredes e vedações de tijolos
Nem todas as tintas são apropriadas ou pedras aparentes e, em nenhum
para a madeira. Para a melhor conserva-
ção desse material nobre, deve ser usa-
da tinta que o impermeabilize, impedin-
do a penetração de água, especialmente
nas madeiras expostas ao tempo, evitan-
do seu apodrecimento e consequente
infestação de insetos xilófagos (como o
cupim).
Atualmente, recomenda-se o uso da Foto: acervo Iphan
tinta esmalte brilho ou semi brilho, assim
como a tinta a óleo, que era utilizada
antigamente. As tintas feitas de óleo de
linhaça e terebentina são as mais indica-
das. Antes da pintura é preciso retirar a
poeira das superfícies.
Utilizar sempre madeira seca (quatro
a seis meses depois do corte)! A madeira
que contém brancal, e não só cerne, es-
tará sujeita à deterioração.
Qualquer inseticida deve ser aplicado
Foto: Suelen Artuso

em madeiras secas. Os detalhes constru-


tivos devem proteger a madeira da umi-
dade.

Conservação preventiva de imóveis antigos na região de imigração 23


caso, devem ser utilizadas tintas acrí- Paredes em tijolos aparentes não
licas. devem receber nenhum tipo de pintu-
As paredes rebocadas do interior ra, pois alteram o aspecto original das
dos edifícios geralmente recebem pin- edificações e é muito difícil removê-
tura a cal, o que permite que as ar- -las a posteriori.
gamassas possam realizar trocas de As cores utilizadas estão relacio-
umidade. As esquadrias são pintadas nadas à tradição. Esquadrias externas
tradicionalmente com tintas a base de são pintadas de verde água ou azul
óleo. claro para espantar maus agouros. Os
Superfícies em madeira (como interiores são pintados em tons pas-
barrotes e extradorso do piso do só- téis, como azul, verde, amarelo e lilás.
tão, além de vedações) devem receber
tinta esmalte a base de óleo ou verniz
tipo Stein, a depender do aspecto ori-
ginal do bem. Esquadrias em madei-
ra seguem a mesma lógica.

Acima, interior de
residência em Itaiópolis,
Fotos: acervo Iphan

região de colonização
predominantemente es-
lava e polonesa; abaixo,
interior da Casa Duwe,
em Indaial.
24 Iphan/SC
Descupinização pre-
ventiva e controle de
infestações
É ideal que se faça descupinização
preventiva nas edificações pelo menos
uma vez a cada dois anos, para que se
afaste o risco da proliferação de xilófa-
gos. Deve optar-se por produtos não in-
flamáveis, para evitar o risco de incên-
dios durante a aplicação.
Se você notar pequenos grânulos
marrons nos pisos e/ou nas peças de
madeira, é porque existe uma infesta-
ção ativa. Em pequenas infestações,
recomenda-se o uso tópico ou infil-
tração de descupinizante na madeira,
para eliminar a colônia. Há vários
produtos no mercado, e o ideal é se-
guir as recomendações de cada fabri-
cante. A aplicação deve ser feita por
profissional especializado.
Se, ao contrário, a madeira estiver
se desmanchando em fibras, o mais
provável é que se trate de apodreci-
mento do material, e não infestação
de xilófagos.

Fotos: acervo Iphan


Outros insetos e animais também
podem causar danos à utilização das
casas. No caso de morcegos, é proibi-
do utilizar-se de métodos que causem
a morte dos animais. É preciso espan-
tá-los e depois fechar os locais pelos Acima, detalhe da facha-
quais eles adentram os sótãos utilizan- da de casa em madeira,
do-se de telas. Nunca deve ser utili- na região de imigração
zado argamassas para realizar tais italiana, em Urussanga.
fechamentos. No centro, rancho de ma-
deira, comum em todas
Para ratos e outros insetos, são as regiões de imigração.
recomendadas dedetizações padrões, Abaixo, deterioração de
desde que feitas com produtos não in- tábuas de madeira por
diversos agentes.
flamáveis e aplicadas por profissional
especializado. Em casas próximas a
cursos d´água, é preciso ser cuidados
com os produtos selecionados, pois
podem contaminar os veios.

Conservação preventiva de imóveis antigos na região de imigração 25


Portas e janelas
As esquadrias – portas e janelas
– das edificações nas regiões de imi-
grantes do sul do Brasil também são
resultado do trabalho esmerado de car-
pinteiros experientes.
São geralmente desmontáveis, pois
as famílias poderiam utilizá-las em
outras construções. As janelas são do
tipo de abrir com duas folhas, diferen-
te do usual modelo de guilhotina de
origem luso-brasileira.
As esquadrias também sofrem
com ataques de cupins e brocas, prin-
cipalmente aquelas que não recebe-
ram pintura ou verniz. Ressecadas
pela exposição ao sol, também podem
sofrer danos mecânicos. Os metais, se
enferrujados, podem inchar e impedir
o funcionamento da peça.

Orientações para conta do que mandar fazer uma nova


com as mesmas qualidades.
manutenção das esquadrias Nem todas as tintas são apropriadas
para a madeira. Para a melhor conserva-
Estes elementos, assim como os pisos ção desse material nobre, deve ser usada
de madeira, necessitam de vistorias cons- tinta que o impermeabilize, impedindo a
tantes para detectar focos de cupins ou penetração de água, especialmente nas
brocas. madeiras expostas ao tempo, evitando
Nas janelas e portas deve-se observar seu apodrecimento e consequente in-
se a água da chuva tem escoamento para festação de insetos xilófagos (como o
fora, caso ela esteja ficando parada sob a cupim).
janela ou porta pode ocasionar o apodre- Atualmente, recomenda-se o uso da
cimento das peças inferiores. tinta esmalte brilho ou semi brilho, assim
A inserção indiscriminada de trincos, como a tinta a óleo, que era utilizada
travas, grades, corrimãos, aparelhos de ar antigamente. As tintas feitas de óleo de
condicionado ou qualquer outro elemen- linhaça e terebentina são as mais indica-
to, pode comprometer a integridade das das. Antes da pintura é preciso retirar a
esquadrias, portanto requerem critérios poeira das superfícies.
específicos. Utilizar sempre madeira seca (quatro
Maçanetas ou outras peças originais a seis meses depois do corte)! A madeira
de metal podem, muitas vezes, serem que contém brancal, e não só cerne, es-
restauradas, com um custo bem menor tará sujeita à deterioração.
do que a compra de uma peça similar. Qualquer inseticida deve ser aplicado
Da mesma forma, restaurar uma jane- em madeiras secas. Os detalhes construti-
la de madeira antiga pode ser mais em vos devem proteger a madeira da umidade.

26 Iphan/SC
Fotos: acervo Iphan
Serralheria os focos e, depois, proceder à repintu-
ra, com aplicação de fundo prepara-
Os elementos em metal devem ser dor à base de zarcão, seguida da pin-
protegidos. tura com tinta própria para metais.
A verificação periódica de grades, Pontualmente poderão ser usados
portões, estruturas de sustentação de conversores de corrosão.
balcões ou varandas, elementos de
ferro em geral, permite que se detec-
te problemas de corrosão que, além
de deteriorar os próprios elementos,
poderá prejudicar outras partes da
edificação como, rebocos, elementos
decorativos, pilastras, etc.
Naqueles que possuem função esté-
tica em seu estado natural, poderá ser
aplicada cera incolor (pode ser cera
para pisos em pasta, cera de abelha ou
cera de carnaúba, por exemplo). Na página ao lado, janela da Casa
Volkman, em Pomerode. Nesta
Naqueles que são pintados, a pin- página, à esquerda, detalhe de
tura deverá ser mantida em bom es- maçaneta em porta na região de
tado, evitando surgimento de focos de imigração italiana, em Urussanga;
corrosão. à direita, trinco de janela em edifi-
cação em Benedito Novo.
Para elementos que já apresentam
corrosão, deve-se lixar para remover
Conservação preventiva de imóveis antigos na região de imigração 27
registros estão bem fechados. Na dúvi-
Cuidados com as da, chame um profissional especializa-
instalações prediais do.
Mangueiras dos fogões e aquece-
Necessários em qualquer edifica- dores devem ser substituídas periodi-
ção, esses cuidados são fundamentais-
nas edificações antigas, pois são mais camente, de acordo com a validade
suscetíveis a danos provocados por in- impressa.
cêndios, que se alastram rapidamente
por suas estruturas de madeira, ou por Extintores de incêndio
infiltrações decorrentes de vazamentos
de água, que podem vir a comprometer A presença desses equipamentos é
a solidez da casa. fundamental para a segurança contra
incêndios de qualquer edificação. De-
Instalações hidráulicas vem estar instalados em locais de fácil
acesso, de acordo com as normas em
(água e esgoto) vigor, assim como estar sempre dentro
As tubulações originais são, mui- dos prazos de validade.
tas vezes, de cobre ou ferro galvani-
zado. Assim, qualquer dificuldade no Instalações elétricas
escoamento de águas em torneiras,
descargas ou ralos pode significar en- Nunca faça improvisos ou adapta-
tupimentos causados por ferrugem ções, pois isso pode causar sobrecarga
(corrosão nos tubos). Infiltrações nas nos sistemas elétricos causando cur-
paredes podem ser causadas por perfu- tos-circuitos e até incêndios.
ração da tubulação antiga, já em pro-
cesso de corrosão avançado. Disjuntores
Rachaduras nas paredes, próximas Os disjuntores servem para prote-
aos locais onde passa a tubulação, pode ger a instalação contra curtos-circui-
ser outro indício de infiltração, pois a tos. São dispositivos de proteção que
ferrugem expande e rompe a argamas- têm a vantagem de desarmarem qua-
sa de revestimento das alvenarias. se instantaneamente no caso de sobre-
As tubulações de esgoto às vezes carga na rede.
ainda são de cerâmica e, em geral, Quaisquer alterações nesses dis-
acabam quebrando e obstruindo a positivos devem ser realizadas por
passagem dos detritos. profissional habilitado (engenheiro
Nestes casos sempre se recomenda ou técnico eletricista) e experiente.
a troca da instalação hidráulica por Jamais faça mudanças no sistema de
tubos de PVC. disjuntores por conta própria!
Caso o sistema desarme, solicite
Instalações de gás a avaliação de um eletricista. Muitas
vezes as pessoas, por conta própria,
Os equipamentos que utilizam trocam o disjuntor por um mais po-
gás devem ser revisados, pelo menos, tente, o que é um erro se a fiação não
a cada dois anos. Verificada alguma comportar uma carga maior de ener-
anormalidade, como cheiro constante gia elétrica. Portanto, cuidado.
de gás, é necessário checar se todos os Outra recomendação é evitar o
uso de uma única tomada para di-
28 Iphan/SC
versos aparelhos, com uso de “T’s”,
extensões e adaptadores, pois podem Principais agentes
provocar o superaquecimento dos
fios, ocasionando curtos e incêndios.
de degradação
O principal agente de degradação
Fiação de um imóvel é, sem dúvida, a água.
Infiltrações da água da chuva pelo te-
Fios desencapados, velhos ou dani- lhado, vazamentos, alagamentos e en-
ficados devem ser urgentemente subs- xarcamentos do solo, são algumas das
tituídos por outros com capacidade principais ocorrências que desenca-
compatível com a carga existente. deiam um processo paulatino e cons-
As instalações elétricas deverão tante de degradação física.
sempre estar de acordo com as nor- Evitá-lo a tempo é tarefa relativa-
mas de segurança previstas. mente fácil. Muitas vezes, a simples
troca de uma telha quebrada pode
Ar condicionado impedir que a umidade decorrente da
infiltração de água no telhado inicie o
A inserção desses equipamentos processo de apodrecimento de peças
pode danificar seriamente elementos de madeira que compõem a estrutura
originais e característicos dos prédios ou os forros internos.
históricos. Portanto, recomenda-se
buscar soluções que não interfiram
nas fachadas principais.
Condensadores, tubos e dutos não
podem ficar expostos nas fachadas
principais e não se deve utilizar as
marquises para apoiar aparelhos de
ar condicionados.
Deve-se fixá-los em locais de di-
fícil visibilidade, ou optar por apare-
lhos que não necessitem abrir vãos na
parede e que se comuniquem com o
exterior do prédio apenas por tubu-
lações pequenas, discretamente lo-
calizadas e que não sejam aparentes
nas fachadas - podem ser embutidos
Foto: Marco Gabriel

nos vãos da cobertura, atrás de pla-


tibandas, dentro de sacadas ou outro
elemento construtivo que camufle a
presença dos aparelhos, por exemplo.

Degradação de alvenaria de
tijolos na Casa Ewald, em
Timbó, que pode ser causa-
da pelo excesso de acúmulo
de umidade ao longo dos
anos, sais ou ação de outros
produtos químicos.

Conservação preventiva de imóveis antigos na região de imigração 29


Em linhas gerais, os principais
agentes de degradação são: Causas comuns
• Água; de degradação em
• Variações de temperatura;
• Presença de sais;
edificações antigas
• Poluição atmosférica; e
• Vegetação espontânea.
Ações naturais
Em muitos casos, é difícil evitar os Causas químicas
efeitos das variações de temperatura ou Oxidação, carbonatação, salinização,
da poluição atmosférica, por exemplo. reações eletroquímicas.
Por outro lado, com medidas sim-
ples pode-se minimizar ou mesmo im- Causas físicas
pedir os efeitos da infiltração de água
ou das vegetações espontâneas. Ação da gravidade;
Variações de temperatura e umidade
Vegetação espontânea e temperaturas extremas;
Radiação solar;
Ao longo dos anos pode-se obser- Alterações no solo;
var a instalação de plantas em telha- Força das chuvas e dos ventos.
dos ou em orifícios nas paredes das
edificações. Em outros casos, plantas Causas biológicas
que nascem e crescem encostadas,
ou muito próximas, das fundações e Vegetação (raízes, trepadeiras, lí-
paredes externas também provocam quens, algas, etc.);
acúmulo de umidade e suas raízes po- Ação de insetos (cupins, brocas, etc.);
dem interferir na estrutura. Ações de outros animais (roedores,
morcegos, ninhos de pássaros, etc.);
Essas plantas costumam ser agres-
sivas, de modo que se não houver um Bolores e fungos.
controle, em pouco tempo suas raízes
representarão grande risco de deses- Ações humanas
truturação ou até destruição de estru-
Falhas construtivas ou de projeto;
turas e paredes.
Má utilização ou utilização inadequada;
Arrancar simplesmente pode ser
mais prejudicial do que deixá-la crescer. Inadequação do programa de uso
(usos) com a estrutura da edificação;
Ao serem retiradas, além de carregar
consigo parte da alvenaria, as raízes Alterações indevidas, ou realizadas de
deixam vazios que podem comprome- forma inadequada;
ter a estrutura do prédio. Por isso, é Falta de manutenção ou conservação
sempre recomendável buscar orienta- inadequada.
ção e auxílio de um profissional da área.
Em caso de árvores, é necessária Na página ao lado, Depósito
uma cuidadosa avaliação técnica, pois, Breithaupt, em Jaraguá do
algumas vezes, a eliminação da vege- Sul, após restauração com-
tação compromete a estabilidade da pleta das suas estruturas.

30 Iphan/SC
construção. Nesses casos, mantém-se cotidiano, do funcionamento de es-
a planta com cuidadoso acompanha- quadrias e fechaduras.
mento de seu desenvolvimento.
Quando se trata de pequenos ar- A cada 6 meses
bustos, o melhor procedimento é • Verificação da cobertura e de seus
cortar o caule, furar e introduzir um elementos, substituindo as partes da-
produto para eliminá-los. Ao consta- nificadas;
tar a morte da planta, deve-se cortá-la
rente à parede e fechar o orifício com • Verificação das calhas de escoamen-
material similar ao da construção. to de águas pluviais. Eliminação de
Todo esse procedimento deve ser feito micro-organismos e plantas;
sob orientação de um técnico do pa- • Verificação das esquadrias e lubrifi-
trimônio para garantir a qualidade de cação dos elementos metálicos (fecha-
preservação do bem tombado duras, maçanetas, dobradiças...);
• Verificação de pisos e forros.
Criando uma rotina Todos os anos
de conservação • Verificação das instalações elétricas,
O estabelecimento de uma rotina hidráulicas, de gás, dos sistemas de
constante de inspeção e manutenção prevenção contra incêndio e dos apa-
contribuirá positivamente para o prolon- relhos de ar-condicionado e de suas
gamento da vida útil dos materiais e es- instalações;
truturas da edificação. Havendo conser-
vação adequada, um imóvel - antigo ou
novo - nunca precisará passar por inter- A cada 2 a 5 anos
venções mais intensas e custosas, como • Inspeção geral da edificação com o
costumam ser as obras de restauração. diagnóstico do estado de conservação
e verificação de todos os serviços de
Rotineiramente manutenção realizados anteriormente;
• Verificação da cobertura e calhas • Imunização dos elementos de madei-
de escoamento de águas pluviais, ra, com desinfestação, se necessário;
sempre após chuvas e ventos • Limpeza e pintura geral.
fortes. Se necessário, trocar telhas
quebradas e reposicionar as desloca-
das, evitando a infiltração constante
e paulatina de água no telhado;
• Abertura diária ou, no mínimo,
semanal dos compartimentos (salas,
quartos, depósitos e outros) sem
uso;
• Limpeza de rotina, de forma
cuidadosa, dos pisos, esquadrias,
forros e demais elementos cons-
Foto: Suelen Artuso

trutivos;
• Verificação, decorrente do uso

Conservação preventiva de imóveis antigos na região de imigração 31


autorização de intervenção devida-
Autorização para mente preenchido; e
intervenções em b. Cópia do CPF ou CNPJ do re-
querente.
imóveis tombados
Consulta prévia
O cidadão interessado em realizar
intervenção em bem imóvel tombado Consulta sobre a viabilidade de de-
pelo Iphan deverá, antes de iniciá-la, terminada intervenção, com vistas
pedir autorização, conforme Decreto- ao desenvolvimento de projeto para
-Lei nº 25, de 30 de novembro de 1937
e a Portaria Iphan nº 420, de 22 de de- aprovação.
zembro de 2010. Documentação específica
exigida: Estudo preliminar da inter-
Requisitos para o acesso (para to- venção, contendo, no mínimo, planta
das as categorias de intervenção) de situação, implantação, planta de
pavimentos, cortes e fachadas, dife-
a. Formulário de requerimento de renciando partes a demolir, a man-
autorização de intervenção devida- ter e a construir, conforme normas
mente preenchido; da ABNT, principalmente as NBR
b. Cópia do CPF ou CNPJ do re- 6.492, 13.531 e 13.532.
querente; e
c. Cópia de documento que com-
prove a posse ou propriedade do imó- Instalações provisórias,
vel pelo requerente, tais como escritu- equipamento publicitário
ra, contrato de locação, contas de luz ou de sinalização
ou de água, ou talão de IPTU.
Orientações específicas e formulá- Pedido de instalação de letreiros,
rios estão disponíveis no site do Iphan, anúncios, faixas ou banners nas fa-
na seção Serviços > Autorizações > chadas de edificações, lotes vazios ou
Autorização para Intervenções em logradouros públicos, bem como de
Bens Imóveis Tombados. instalações de caráter não permanen-
Endereço: portal.iphan.gov.br/pa- te, passíveis de montagem, desmonta-
gina/detalhes/1164/ gem e transporte, tais como stands,
barracas para feiras, circos e parques
de diversões, iluminação decorativa
Informação básica para eventos, banheiros químicos, ta-
pumes, palcos e palanques e, ainda,
Antes de iniciar um projeto, com equipamento de sinalização de fins
o intuito de saber os critérios a serem turísticos ou funcionais, configuran-
observados para a realização de inter- do-se como uma comunicação efetua-
venção em bem tombado ou na sua da por meio de placas de sinalização,
área de entorno, o interessado pode com mensagens escritas ordenadas e/
requerer ao Iphan a expedição de ou pictogramas.
uma Informação Básica.
Documentação específica
Para isso, é preciso apresentar: exigida: Descrição ou projeto do
a. Formulário de requerimento de equipamento publicitário, da sinaliza-

32 Iphan/SC
ção ou da instalação provisória, con- Restauração
tendo, no mínimo, indicação do local
onde se realizará, dimensões gerais e Solicitação para realização de
descrição dos materiais a serem utili- obra que tenha por objetivo restabe-
zados. lecer a unidade do bem cultural, res-
peitando sua concepção original, os
Reforma simplificada valores de tombamento e seu processo
histórico de intervenções. Bens tom-
bados individualmente enquadram-
Solicitação para obras de conser- -se obrigatoriamente nessa categoria,
vação e manutenção, ou serviços sim- caso a intervenção proposta não seja
ples, como pintura de fachada, troca relativa à instalação de equipamento
de telha, construção ou reforma do publicitário/sinalização ou reforma
passeio etc. simplificada.
Documentação específica exigida
- Identificação dos serviços a serem Documentação específica
realizados. exigida:
a. Anteprojeto da obra, conten-
do, no mínimo, planta de situação,
Reformas, demolições ou implantação, plantas de todos os pa-
construções novas vimentos, planta de cobertura, corte
transversal e longitudinal e fachadas,
Solicitação para realização de diferenciando partes a demolir, a
obra de reforma que implique em de- manter e a construir, conforme nor-
molição ou construção de novos ele- mas da ABNT;
mentos, como ampliação ou supressão b. Levantamento de dados sobre o
de área construída; modificação de bem, contendo pesquisa histórica, le-
volumes, vãos; aumento de gabarito; vantamento planialtimétrico, levanta-
substituição significativa da estrutura; mento fotográfico, análise tipológica,
alteração na inclinação da cobertura. identificação de materiais e sistema
São consideradas construções novas construtivo;
as propostas de construção de edifício c. Diagnóstico do estado de con-
em terreno vazio ou em lote com edi- servação do bem, incluindo mape-
ficação existente, desde que separado amento de danos e análise dos ma-
fisicamente desta. teriais, do sistema estrutural e de
Documentação específica agentes degradadores;
exigida: Anteprojeto da obra, con- d. Memorial descritivo e especifi-
tendo, no mínimo, planta de situa- cações; e
ção, implantação, plantas de todos e. Planta com a especificação de
os pavimentos, planta de cobertura, materiais existentes e propostos.
corte transversal e longitudinal e fa-
chadas, diferenciando partes a demo- Em todos os casos, procure sempre
lir, a manter e a construir, conforme o auxílio de um profissional e consulte
normas da ABNT, principalmente as se o Iphan já não possui alguma nor-
NBR 6492, 13531 e 13532. mativa específica para a área.

Conservação preventiva de imóveis antigos na região de imigração 33


aliam a presença humana ao meio na-
Conjuntos rurais de tural composto por área de matas pre-
servadas, casas, ranchos e plantações,
Testo Alto e Rio da Luz são representantes em nível nacional,
Santa Catarina abriga, atualmente, dos modelos de implementação das co-
o principal acervo tombado em nível lônias de imigrantes no sul do Brasil.
federal que faz referência ao patrimô- A arquitetura vernacular convive com
nio cultural e à memória dos grupos culinária, língua e tradições trazidas
de imigrantes europeus que aportaram pelos imigrantes e transmitida ao lon-
no Brasil, em especial na região sul, a go de gerações pelos seus descendentes.
partir do século XIX até meados do sé-
culo XX, e participaram do projeto de Pomerode teve origem na Colônia
colonização das chamadas “terras de- Blumenau, fundada em 1850, com a
volutas”. ocupação ao longo do Rio Testo por
imigrantes alemães, seguidos em me-

nor número por imigrantes italianos,


A implantação das colônias de poloneses e ucranianos.
imigrantes possibilitou o desenvolvi-
mento econômico e urbano de regiões A cidade de Jaraguá do Sul teve ori-
inteiras, incrementando o caldeirão gem no dote matrimonial da Princesa
social e cultural brasileiro. Isabel, cujas terras tiveram medição en-
tre os anos de 1872 e 1879. Os primeiros
Os conjuntos rurais de Testo Alto, imigrantes alemães chegaram via Colô-
em Pomerode, e do Rio da Luz, em nia Dona Francisca. Em seguida, jun-
Jaraguá do Sul, foram tombados pelo taram-se à colônia imigrantes italianos
Iphan em 2007. Com destaque para reimigrados da Colônia Blumenau.
a paisagem preservada, os conjuntos
34 Iphan/SC
As propriedades das colônias se gração alemã (principalmente) no Vale
caracterizam por faixas estreitas e do Itajaí, configurando uma espécie
alongadas, que vão das estradas que de “urbanismo linear”. Este “modelo
margeavam os rios, seguindo até a urbano” imerso em uma magnífica
cumeada dos morros. As casas eram paisagem rural, aliado à arquitetura
normalmente construídas na testada teuto-brasileira nas suas mais diversas
dos lotes, junto com jardins e hortas. expressões, às tradições culturais pre-
São típicos também os ranchos de ma- servadas – expressas através da língua,
deira construídos aos fundos da casa. da culinária, dos modos de produção
Como primeira moradia eram usa- agrícola, dos produtos coloniais, dos
dos os ranchos ou pequenas cabanas modos de vida – confere a Testo Alto
rústicas, com paredes de madeira e e Rio da Luz uma singularidade difícil
cobertura em palha. Posteriormente de ser encontrada em outros lugares.
foram construídas as casas principais,

em técnica enxaimel com fechamen- Na página ao lado e nesta, proprie-


dades rurais em Testo Alto, na década
to em taipa ou alvenaria (aparente ou de 1980.
parcialmente rebocada) ou em alvena-
ria autoportante.
O modelo de distribuição dos lotes
(ao longo das estradas e em ambas as
margens do rio) e a organização co-
munitária (com casas comerciais nos
entroncamentos, igreja, cemitério e
escolas rurais ao longo das estradas)
são características das regiões de imi-
Conservação preventiva de imóveis antigos na região de imigração 35
Contudo, as recomendações
Bens tombados de conservação deste manual
pelo Iphan podem ser aplicadas a milhares
de outras edificações similares,
tombadas ou não, espalhadas por
A listagem que segue apresenta os diversos municípios catarinenses e da
bens tombados pelo Iphan na região de região sul do Brasil caracterizados pela
imigração em Santa Catarina, organiza- presença de bens relacionados com o
dos conforme município, com identifi-
cação, localidade e endereço. processo de colonização por imigran-
tes europeus nos séculos 19 e 20.
Ascurra
Casa Buzzi Ribeirão São Paulo Ribeirão São Paulo
Benedito Novo
Igreja da Liberdade Ribeirão Liberdade Alto Liberdade
Blumenau
Igreja Luterana do Espírito Santo Centro Rua Amazonas, 119
Comercial Husadel Centro R XV Novembro, 801
Museu da Família Colonial Centro Al Duque de Caxias, 78
Antiga Escola n° 1 Itoupava Central Rua Dr. Pedro Zimmermann, 8107
Conjunto Zimmdars Itoupava Rega Rua Erwin Manzke, 9562
Casa Conrad, Heinz Carl (Haco) Vila Itoupava Rua Henrique Conrad, 654
Casa Hoerning, Alcides Vila Itoupava Rua Viena, 1720
Beneficência Misericórdia (maternidade) Vila Itoupava Rua Henrique Conrad, 432
Salão Primavera Vila Itoupava Rua Henrique Conrad, 1260
Vila Itoupava/ fundos
Casa Bauer, Nelson Rua Max Bauer, 991
Havenstein
Casa Hein, Hary (Tangerina) Vila Itoupava/ Sarmento Rua Paulo Zingel, s/n
Guabiruba
Casa Ulrich, Helmut São Pedro Rua Holstein, s/n
Indaial
Casa Duwe Arapongas Rua Augusto Maas, 5700
Casa Hersing, Lorival Encano Alto Rua Reinhold Schroeder, s/n
Casa Ristow, Arlindo e Edmundo Encano Alto Rua Reinhold Schroeder, s/n

Casa Schroeder, Luiza Encano Central Rua Reinhold Schroeder, 6700

Ponte madeira coberta Warnow Warnow Rua Mal. Deodoro da Fonseca


Capela Nossa Sra do Perpétuo Socorro Warnow Alto Estrada Geral do Warnow Alto
Itaiópolis
Igreja Santo Estanislau Alto Paraguaçú Rua Anita Ruthes Andreyevsky, s/n
Casa Polaski, David Alto Paraguaçú Rua João Kominek, 120
Igreja São Pedro e São Paulo Moema Estrada Geral de Moema
Conjunto de Alto Paraguaçú Alto Paraguaçú
Jaraguá do Sul
Depósito Breithaupt Centro Rua Expedicionário Gumercindo da Silva
Casa Schiocket, Vittório Nereu Ramos Estrada Geral Itapocu Hansa, 8315
Casa Rux, Erwin Rio da Luz (mag.dir.) Rua Erwin Rux, 663
Conjunto Rural do Rio da Luz

36 Iphan/SC
Joinville
Casa Kruger, Wally Dona Francisca Estrada D. Francisca Km 0
Casa Fleith, Alvino Pico Estrada do Pico s/n
Casa Schwisky, Otto Quiriri Estrada do Quiriri, 2223
Cemitério do Imigrante Centro Rua Quinze de Novembro, 1000
Estação Ferroviária Centro Rua Leite Ribeiro, s/n
Palácio dos Príncipes (Museu Nacional
Centro Rua Rio Branco, 229
de Imigração e Colonização)
Nova Veneza
Casa de Pedra da Família Bratti N. V. / Caravaggio Estrada que liga Nova Veneza a Caravaggio
Orleans
Casa Barzan, João Félix Palmeira Alta Estrada Geral Rio Palmeira Alta s/n
Pomerode
Casa Arndt, Erwin (Casa da Crista) Testo Alto Rua Progresso, 1241
Casa Siewert, Ovídio Testo Alto Rua Testo Alto, 7875
Casa Sievert, Wendelin Testo Alto Rua Testo Alto, 8019
Casa Lümke, Helmut (casa de taipa) Testo Alto Rua Testo Alto - Fundos, 9690
Casa Raduenz, Walter Testo Alto Rua Curitiba, 377
Casa Voigt, Ella Testo Alto Rua Progresso, 2320
Casa Wacholz, Felipe Testo Alto (mar.esq) Rua Testo Alto, 6148
Comércio Haut Testo Rega Rua Presidente Costa e Silva, 719
Comércio Weege Testo Rega Rua Presidente Costa e Silva, 677
Casa Hardt, Erich Testo Rega Rua Arnoldo Hardt, 379
Casa Wunderwald Wunderwald Rua Dr. Wunderwald, 2467
Sítio Tribess Wunderwald Rua Alberto Rahn, 1463
Conjunto Rural de Testo Alto
Rio dos Cedros
Escola Rural
São Bento do Sul
Casa Schlagenhaufer Dona Fca./Bela Aliança Estrada Dona Francisca, 7889
Casa Struck, Waldemiro Dona Fca./Bela Aliança Estrada Dona Francisca, 9135
Casa Neumann Dona Francisca Estrada Dona Francisca, 2988
Casa Eichendorf, Edeltraud Dona Francisca Estrada Dona Francisca, 158
Timbó
Casa Zimath, Norberto Pomeranos Rua Pomeranos, 3182
Escola e Casa do Professor Pomeranos Rua Pomeranos, 140 (casa) e 182 (escola)
Casa Radoll, Invalt Rio Cedro (mar.esq) Cedro Margem Esquerda
Salão Hammermeister Tiroleses SC 477 esquina com Rua Edmundo Bell
Casa Ewald Via Hass Rua Blumenau, 2240
Casa Reinecke, Érica Via Hass Rua Blumenau, 4664
Urussanga
Propriedade Bez Fontana Ria América Estrada Geral Rio América Baixo s/n
Igreja São Gervásio e São Protásio Rio Maior Estrada Geral Rio Maior (SC 446) s/n
Casa Cancelier, Ivanir Rio Maior Estrada Geral Rio Maior (SC 446) s/n
Vargem
Igreja São Judas Tadeu Centro Centro de Vargem
Vidal Ramos
Conjunto Irmãos Stoltenberg Praça Stoltenberg, BR486 - Estrada Geral
Botuverá

Conservação preventiva de imóveis antigos na região de imigração 37


conservação e intervenção
Referências em argamassas e revesti-
bibliográficas mentos à base de cal. Brasília:
IPHAN/ Programa Monumenta,
Apresentamos a seguir algumas re- 2008. Disponível em http://portal.
ferências utilizadas na elaboração das iphan.gov.br/uploads/publicacao/
orientações contidas neste manual e CadTec8_ConservacaoeInterven-
que são importantes fontes de consulta cao_m.pdf
para quem deseja buscar informações
mais detalhadas sobre conservação de KLÜPPEL, Griselda Pinheiro e
imóveis antigos e sobre o patrimônio da SANTANA, Mariely Cabral de.
imigração em Santa Catarina.
Manual de Conservação Pre-
ventiva para Edificações. Bra-
ALMEIDA, Frederico. Manual de sília: IPHAN/ Programa Monu-
Conservação de Cantarias. menta, 2000.
1ª ed. Brasília: IPHAN/Programa
Monumenta, 2005. VIEIRA FILHO, Dalmo. O Patri-
mônio Cultural da Imigração em
ICOMOS. Carta de Veneza. Ve- Santa Catarina. Florianópolis,
neza: ICOMOS, 1964. Disponível IPHAN, 2012.
em https://www.icomos.org/veni-
cecharter2004/portuguese.pdf. VIEIRA FILHO, Dalmo e WEIS-
SHEIMER, Maria Regina. Ro-
ICOMOS, Recomendações para teiros Nacionais da Imigração:
a análise, conservação e res- Dossiê de Tombamento. vol. 1.
tauração estrutural do pa- Florianópolis, IPHAN, 2007.
trimônio arquitetônico. Tra-
dução por Silvia Puccioni. Paris: VIEIRA FILHO, Dalmo e WEIS-
ICOMOS, 2001. Disponível em SHEIMER, Maria Regina. Ro-
https://www.arcoit.com.br/leitu- teiros Nacionais da Imigração:
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Florianópolis, IPHAN, 2007
IPHAN/ Programa Monumenta.
Manual de conservação de
telhados. Brasília: IPHAN/ Pro-
grama Monumenta, 1999. Dispo- Errata:
nível em http://portal.iphan.gov.
br//uploads/publicacao/Man_ No último parágrafo da página 12 e no segun-
ConservacaoDeTelhados_1edi- do parágrafo da página 13, onde se lê “óleo
cao_m.pdf diesel queimado”, leia-se “óleo queimado”.

GONZAGA, Armando Luiz. Ma- Na página 26, no primeiro parágrafo, onde se


deira: uso e conservação. lê “trabalho esmerado de carpinteiros expe-
Brasília: IPHAN/ Programa Mo- rientes”, leia-se “trabalho esmerado de mar-
numenta, 2006. Disponível em ceneiros experientes”.
http://portal.iphan.gov.br//uplo-
ads/publicacao/CadTec6_Madei-
raUsoEConservacao.pdf
KANAN, Maria Isabel. Manual de
38 Iphan/SC
Impresso no verão de 2021, pela Polim-
pressos Serviços Gráficos LTDA, em papel
couchè, com as famílias tipográficas
Optima e Baskerville.

Conservação preventiva de imóveis antigos na região de imigração 39

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