1) Há resistência no Brasil à ideia de que o poder político, originado da soberania popular, deve ser o centro das decisões. Isto tem causado reações veementes de burocratas e militares.
2) O Congresso tem o direito constitucional de decidir as prioridades do orçamento, não o Executivo. Contudo, o Executivo tem resistido a aceitar este papel do Legislativo definido na Constituição.
3) As instituições democráticas brasileiras estão ainda desajeitadas e as pessoas parecem ofuscadas pela nova or
1) Há resistência no Brasil à ideia de que o poder político, originado da soberania popular, deve ser o centro das decisões. Isto tem causado reações veementes de burocratas e militares.
2) O Congresso tem o direito constitucional de decidir as prioridades do orçamento, não o Executivo. Contudo, o Executivo tem resistido a aceitar este papel do Legislativo definido na Constituição.
3) As instituições democráticas brasileiras estão ainda desajeitadas e as pessoas parecem ofuscadas pela nova or
1) Há resistência no Brasil à ideia de que o poder político, originado da soberania popular, deve ser o centro das decisões. Isto tem causado reações veementes de burocratas e militares.
2) O Congresso tem o direito constitucional de decidir as prioridades do orçamento, não o Executivo. Contudo, o Executivo tem resistido a aceitar este papel do Legislativo definido na Constituição.
3) As instituições democráticas brasileiras estão ainda desajeitadas e as pessoas parecem ofuscadas pela nova or
nrp°.1^t^1SÍlíor prioridade ou não é o Legislati- O que se assiste hoje no O Brasil apresentado mo- vo. Como em q u a l q u e r País é a resistência a uma nova mento, uma dramática resis- democracia. ordem constitucional, pelo que tência de forças diversas à idéia tem de belo e de sintonizado de que o poder político, orginá- Isto tem causado reações veementes. Os burocratas con- com o unânime discurso que to- rio da soberania popular, seja o dos um dia pronunciaram: ela centro das decisões. tinuam querendo estar subme- tidos a um tecnocrata-superior. é, simplesmente, democrática. Esta intransigência antide- E quem é democrata no mocrática começou com a relei- Quando é tão melhor realizar o tura imediata da Constituição. jogo de propor, pressionar, dis- . País? O Governo? Este vive Os personagens do poder cons- cutir e ganhar ou perder peran- naufragado no "tem que ser tituinte elaborador da nova te um Congresso que expressa igual a ontem" e é capaz de Carta ainda estão aí; os debates a manifestação das urnas e da qualquer coisa para manter po- são recentes e se conhecem as vontade popular. deres tipicamente autoritários posições de cada um, as nego- São tantos os episódios re- e distorcidos. Os militares? Não ciações, os motivos que leva- centes a revelar este tipo de mudaram a cabeça, tinham ram aos dispositivos aprovados. inadequação democrática! O do evoluído no discurso, nem neste Porém, o próprio poder consti- Orçamento é uma pérola: quem apresentam diferenças, atual- tuído passa a ler certos princí- deve decidir prioridades é o mente, em relação ao passado pios e artigos da Constituição Congresso. O presidente da Re- mais duro. A direita e a esquer- contra o seu sentido, na mão pública tem a obrigação consti- da? Infelizmente, estas corren- oposta à do espírito de legisla- tucional de apresentar o projeto tes estão derivando para o peri- dor. Repete-se uma pretensão de lei do Orçamento anual. goso jogo do "se": a democracia formalista que há décadas im- Apresentado, até o momento de serve "se" formos, no seu jogo, pede o verdadeiro Estado de Di- iniciar a votação na Comissão os vencedores. reito entre nós; atribui-se à vír- Mista, tem o direito de propor Não há democratas sem gula mal colocada a capacidade modificação (art. 166 § 5o). condições. Daqueles que acei- de dizer tudo ao contrário do Quem propõe modificação não tam ganhar e perder. Os que que, se sabe, pretendia o legis- modifica; sugere a modificação desejam salvar as regras da lador estatuir. para outro decidir a seu respei- disputa. Fica-se naquele impasse: a to. Pois não é que o Executivo O grave quadro é reforçado Constituição diz claramente, resolve trocar de mensagens, o pela indecisão dos congressis- mas, não é bem assim... E de- projeto de Orçamento não mais tas em assumirem os poderes pois vão reclamar de que culpa- valer e em seu lugar ser impos- que, como constituintes, atri- da é a população, quando as leis ta uma "modificação"? Como buíram à sua função ordinária. não pegam. Faltam no Brasil será que conseguiram ler a Demoram em responder à Na- autoridades civis e militares Constituição desta vez? Deve ção e hesitam ao assumir o que realmente sejam legalistas surgir algum parecer que seja ônus de ser poder. e submetam seus instintos e in- mais uma dessas maravilhas As instituições, marcadas teresses às leis, quando estas de como ler a Constituição ao por anos de autoritarismos, es- são originárias da representa- contrário do que ela diz. tão ainda desajeitadas. As pes- ção eleita pelo povo. O Congresso pode acertar soas parecem ofuscadas por es- ou errar. Os presidentes da Re- ta tímida luz de uma aurora Outro marco da resistência democrática. feroz ao poder político está em pública já não acertaram ou er- raram? E os todo-poderosos mi- Outro dia, uma entidade de fortes setores da burocracia. grande peso nacional, a CNBB, Estava acostumada a propor nistros da área econômica, em suas várias e antagônicas gera- alertou adequadamente: a seus planos e idéias e vê-los re- Constituição está órfã. É-se for- solvidos — positiva ou negati- ções, também não cometeram seus graves equívocos? Cabe- çado a reconhecer que o caso é vamente — por um burocrata ainda mais grave: a democracia superior. Interessante que ago- nos reclamar, manifestar, pon- derar e criticar uma decisão está órfã. ra não aceita o mesmo jogo, mas em relação a um Congres- congressual. Mas, respeitá-la. D João Gilberto Lucas Coelho é di- so eleito. Continua o especialis- Agora é o Congresso, nas deci- retor do Centro de Estudos de ta, o técnico ou o burocrata po- sões fundamentais, que tem a Acompanhamento da Constituinte dendo propor sua melhor idéia; competência de acertar ou er- (Ceac), da Universidade de Brasí- quem deve resolver se ela é rar, o risco de decidir. lia (UnB).