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Flávio Diniz Pereira / Patrícia de Oliveira Matos

SEGURANÇA E DEFESA NA AMAZÔNIA, NO ATLÂNTICO SUL E O PODER


AEROESPACIAL

Flávio Diniz Pereira*


Patrícia de Oliveira Matos**

RESUMO
Entre os interesses nacionais descritos pela Política de Defesa Nacional (PND)
brasileira dois destacam-se quando se trata da segurança nacional: a Amazônia e o
Atlântico Sul. O Brasil, por meio de seu braço militar - as Forças Armadas - cumpre o
papel de salvaguardar essas áreas estratégicas e suas riquezas com as mais diferentes
capacidades, incluindo o poder aeroespacial. Para compreender a importância da
segurança nos temas expostos na PND é necessário entender o surgimento desse
conceito e sua evolução dentro do estudo das Relações Internacionais, a fim de
contextualizá-lo e de transpor a simples retórica insistentemente repetida nas
escolas militares. Este artigo se propõe a analisar, a partir de uma revisão bibliográfica
e documental, a relação entre o conceito de segurança e a percepção brasileira de
proteção da Amazônia e do Atlântico Sul focando, em linhas gerais, na utilização
do poder aeroespacial. Inicialmente, são analisados alguns dos principais autores
que se debruçaram sobre os estudos de segurança com o objetivo de apresentar
uma visão geral da evolução do conceito para, então, trazer o tema para a realidade
brasileira. Após, mergulhando na percepção da importância da Amazônia e do
Atlântico Sul, busca-se entender a segurança desses objetos de interesse nacional
e, finalmente, analisa-se o emprego do poder aeroespacial em sua defesa.
Palavras-Chave: Segurança. Amazônia. Atlântico Sul. Poder Aeroespacial.

SECURITY AND DEFENSE IN THE AMAZONIA, THE SOUTH ATLANTIC AND THE AERO-
SPACE POWER

ABSTRACT
Among the national interests described by the Brazilian National Defense Policy
(PND – Acronyms in Portuguese), two stand out when it comes to national security:
The Amazon and the South Atlantic. Brazil, through its military arm - the Armed
Forces - plays the role of safeguarding these riches with the most different capabili-
ties, including aerospace power. In order to understand the importance of security
in the themes set out in the PND, it is necessary to understand the emergence of
the concept of security and its evolution within the study of International Relations,
____________________
* Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Ciências Aeroespaciais (UNIFA), major aviador da
Força Aérea Brasileira. Email: f_diniz_pereira@hotmail.com
** Doutora em Ciências Aeroespaciais, docente da Universidade da Força Aérea (UNIFA).
E-mail: pomatos@hotmail.com

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Segurança e Defesa na Amazônia, no Atlântico Sul e o Poder Aeroespacial

in order to contextualize it and to transpose the simple rhetoric that is insistently


repeated in military schools. This article proposes to analyze, from a bibliographi-
cal review, the relationship between the evolution of the security theme and the
Brazilian perception of protection of the Amazon and the South Atlantic as objects
of national interests, focusing in general terms on the use of power aerospace. Ini-
tially, some of the main authors who studied security studies were analyzed in order
to present the reader with an overview of the evolution of the concept to bring the
theme to the Brazilian reality. After, immersed in the perception of the importance
of the Amazon and South Atlantic, it is sought to understand the safety of these
objects of national interest and, finally, analyze the use of aerospace power in its
defense.
Keywords: Security. South Atlantic. Amazonia. Aerospace Power.

SEGURIDAD Y DEFENSA EN LA AMAZONIA, EN EL ATLÁNTICO SUR Y EL PODER


AEROESPACIAL

RESUMEN
Entre los intereses nacionales descritos por la Política de Defensa Nacional (PND)
brasileña dos se destacan cuando se trata de la seguridad nacional: la Amazonia y
el Atlántico Sur. Brasil, por medio de su brazo militar - las Fuerzas Armadas - cumple
el papel de salvaguardar estas áreas estratégicas y sus riquezas con las más diversas
capacidades, incluyendo el poder aeroespacial. Para comprender la importancia de
la seguridad en los temas expuestos en la PND es necesario entender el surgimiento
de ese concepto y su evolución dentro del estudio de las Relaciones Internacio-
nales, a fin de contextualizarlo y de transponer la simple retórica insistentemente
repetida en las escuelas militares. Este artículo se propone a analizar, a partir de una
revisión bibliográfica y documental, la relación entre el concepto de seguridad y la
percepción brasileña de protección de la Amazonia y del Atlántico Sur enfocando,
en líneas generales, en la utilización del poder aeroespacial. En primer lugar, se
analizan algunos de los principales autores que se dedicaron a los estudios de segu-
ridad con el objetivo de presentar una visión general de la evolución del concepto
para, entonces, traer el tema a la realidad brasileña. Después de sumergirse en la
percepción de la importancia de la Amazonia y del Atlántico Sur, se busca entender
la seguridad de esos objetos de interés nacional y, finalmente, se analiza el empleo
del poder aeroespacial en su defensa.
Palabras clave: Seguridad. Amazonias. Atlántico Sur. Poder Aeroespacial.

1 INTRODUÇÃO

O termo segurança nacional tem sido frequentemente utilizado nos meios de


comunicação, com importância destacada, para tratar de temas variados e dispersos.

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Um exemplo é a insistente utilização da palavra segurança pelo presidente norte-


americano Donald Trump, quando se trata de sensibilizar a opinião pública para adquirir
recursos junto ao Congresso daquele país: “[...] Fiel a seu lema de campanha, Donald
Trump apelou à “segurança nacional” para detonar uma guerra comercial planetária e
anunciar o aumento das tarifas sobre o aço (25%) e o alumínio (10%)” (AHRENS, 2018,
sem paginação). Ainda, [...] “Os democratas e o [ex-] presidente Obama deram ao Irã
US$ 150 bilhões e não conseguiram nada, mas não podem dar US$ 5 bilhões para a
segurança nacional e um muro?”, tuitou Trump (G1, 2018, sem paginação).
Com relação ao conceito de segurança, Saint-Pierre (2013) chama a atenção
para o exposto: “[...] o elemento mais perigoso desse conceito é o aproveitamento
político da inocultável confusão que esta multidimensionalidade mal explicada
permite” (SAINT-PIERRE, 2013, p. 14).
A simplificação do conceito induz à crença de que os temas de segurança
poderiam compor uma lista genérica e aplicável a qualquer país do mundo, inclusive
ao Brasil. Deste modo, emergem questões tais como: realmente o conceito de
segurança pode ser simplificado e aplicado universalmente? Quais seriam os temas a
exigirem do Estado brasileiro uma análise de segurança? Nesse contexto, qual o papel
da Força Aérea Brasileira (FAB) como o braço armado do poder aeroespacial do Brasil?
A Política Nacional de Defesa (PND) brasileira considera duas áreas como de
grande importância para o país:

[...] 5.2. A vertente continental brasileira contempla complexa


variedade fisiográfica, que pode ser sintetizada em cinco
macrorregiões: Sul, Sudeste, Centro-Oeste, Norte e Nordeste.
5.3.O planejamento da defesa deve incluir todas as regiões e, em
particular, as áreas vitais onde se encontra a maior concentração
de poder político e econômico. Da mesma forma, deve-se priorizar
a Amazônia e o Atlântico Sul. (BRASIL, 2012b, p.13, grifo nosso).

Estudos sobre a segurança e a defesa dessas áreas necessitam recorrer à


dimensão teórica do conceito de segurança no âmbito dos Estudos de Segurança
Internacional (ESI), o qual remete à responsabilidade das Forças Armadas e,
utilizando uma lente mais específica, à participação da Força Aérea na defesa da
Amazônia e do Atlântico Sul.
A revisão bibliográfica associa a evolução dos ESI, a proteção da Amazônia e
do Atlântico Sul e a participação da Força Aérea Brasileira, como braços armados
do poder aeroespacial, para identificar de que modo as definições de segurança e
defesa se aplicam à realidade brasileira, e como o poder aeroespacial brasileiro é
utilizado na proteção da Amazônia e do Atlântico Sul.
Metodologicamente, utiliza-se de pesquisa bibliográfica e documental, as
quais motivaram a estruturação deste artigo em quatro seções. Na primeira seção
apresenta-se a evolução do conceito de segurança, por meio de autores como Berry
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Buzan e Lane Hansen (2012), bem como as diferenças entre os conceitos de segurança
apontados por Ayoob (1991). Considera-se também a visão de Héctor Saint-Pierre
(2013) e Alsina Jr. (2003) na divisão do conceito de segurança em externa e interna,
além de Rudzit e Nogami (2010). A partir dessa base teórica inicial, na segunda e
terceira seções, o artigo trata das duas áreas que, segundo a PND, são estratégicas
para o país: a Amazônia e o Atlântico Sul. Na quarta seção, o trabalho descreve a
participação da Força Aérea Brasileira na defesa dessas áreas, ressaltando-se a
importância do poder aeroespacial, fundamentado em Douhet (1988) e em Santos
(1989). Finalmente, são apresentadas as considerações finais da pesquisa.

2 OS ESTUDOS DE SEGURANÇA INTERNACIONAL

É preciso um breve histórico dos Estudos de Segurança Internacional (ESI)


para compreender como a evolução desse tema impactou na percepção do seu
significado em várias partes do mundo.
Barry Buzan e Lane Hansen (2012) realizam uma reflexão histórica sobre o assunto,
pois acreditam que “[...] se você não contextualizar os estudos de segurança internacional
no tempo histórico, não entenderá seu significado” (BUZAN; HANSEN, 2012, p. 29).
Para compreender os ESI, os autores citados discorrem sobre as quatro
questões que construíram o debate sobre segurança internacional e os conceitos
adjacentes de segurança, posicionando-os metodologicamente para buscar o seu
entendimento como uma ciência. Buzan e Hansen (2012) focam nos seguintes
aspectos e conceitos adjacentes de segurança:

[...] privilegiar o Estado como objeto de referência; incluir tanto


as ameaças externas como internas; expandir a segurança para
além do setor militar e do uso da força; ver a segurança como
inextricavelmente ligada a uma dinâmica de ameaças, perigos e
urgências. (BUZAN; HANSEN, 2012, p. 35-36).

Para os autores, a questão sobre “privilegiar o Estado como objeto de


referência” significa dizer que tudo o que promove algum risco às estruturas que
compõem o Estado deve ser assunto de segurança.
A mudança dos Estados territoriais, liderados por monarcas, cuja preocupação
era defender suas terras de invasores e assegurar a conquista de outras para os
chamados Estados nacionalistas, surgidos após a Revolução Francesa, ampliaram
essas preocupações. Naquele período, as monarquias perceberam que a coesão do
povo dentro de seu próprio território era fundamental para a segurança estatal, o
que ajudou a fundamentar a outra questão exposta por Buzan e Hansen (2012, p.
37) “incluir tanto as ameaças externas como internas”.
Em outro trabalho, Buzan e Weaver (2003) dividem o processo histórico de
formação do conceito de segurança em dois períodos:
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– antes de 1500: período no qual as questões de segurança eram


setorialmente independentes; na prática, o que acontecia na Europa não impactava
nos continentes africano e americano, por exemplo; e
– de 1500 a 1945: período da colonização, o qual circunscreve a Revolução
Francesa e as grandes guerras mundiais. Para Buzan e Weaver (2003), o mundo
começa a se tornar um sistema internacional, e a segurança dos Estados
reconhecidamente soberanos começa a se tornar, interdependente, gerando uma
tendência de mundialização das questões de segurança (BUZAN; WEAVER, 2003).
Porém a grande transformação sobre o conceito de segurança, apontada
por Buzan e Hansen (2012), tem início na Guerra Fria. A forte tendência de
americanização1 das questões de segurança durante esse período estabeleceu
os diálogos de segurança alinhados com questões militares, especialmente por
preocupar-se com o inimigo soviético antagônico e com as armas nucleares. Segundo
Buzan e Hansen (2012), esse foi o momento em que os ESI exibiram a roupagem
de Estudos Estratégicos. Porém, com o fim da Guerra Fria, pensadores europeus
começaram a indagar quanto à necessidade de se incluir outras questões na agenda
do assunto segurança e iniciaram um movimento de “expansão da segurança para
além do setor militar e do uso da força”. Finalmente, completando as interrogações
apontadas por Buzan e Hansen (2012), não se compreenderia a segurança se a
mesma não estivesse ligada a uma dinâmica de ameaças, perigos e urgências que
exigiriam atitudes governamentais compatíveis (BUZAN; HANSEN, 2012).
A expansão da segurança, observada historicamente por Buzan e Hansen
(2012), motivou os conceitos adjacentes do tema, inicialmente voltados para a
defesa contra ameaças externas, e incorporou aspectos como a segurança individual,
a emancipação, as questões ambientais e diversas outras (BUZAN; HANSEN, 2012).
É a partir desse percurso conceitual, no qual Buzan e Hansen (2012) mergulham,
que se compreendem a segunda e a terceira questões dos autores, quais sejam: incluir
tanto as ameaças externas quanto as internas e expandir a segurança para além do
setor militar e do uso da força. Tais questões são necessárias para conduzir uma
análise no caso do Brasil, uma vez que a percepção desse tema, que foi construída ao
longo da evolução dos ESI, é um norte para se entender como a segurança das áreas
geográficas, de interesse estratégico do Brasil, pode ser tratada.
Desta forma, Buzan e Hansen (2012) permitem uma compreensão sobre a
evolução dos ESI e sua relação com fatores históricos, postulados como as diferentes
preocupações dos Estados em relação ao tema segurança e sua correlação com a
defesa. Sendo a segurança um assunto que não possui unanimidade de significado,
convém destacar que a linha de discussão, adotada neste artigo, considerou tanto
o debate sobre as diferentes percepções de segurança nos países desenvolvidos,
quanto a segurança vista pelos países em desenvolvimento. Nesse aspecto, outros
1 Nesse artigo (BUZAN; HANSEN, 2012) trata-se de estabelecer a visão dos EUA sobre segurança
como a determinante.

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autores sustentaram essa diferença de percepção, classificando-a para países de


primeiro e de terceiro mundo. Nessa linha encontra-se Mohamed Ayoob (1991).
Segundo Ayoob (1991), o período pós-Guerra Fria nos contemplou com duas
situações distintas sobre segurança. Primeiramente, o receio das armas nucleares que
construiu a definição de Destruição Mútua Assegurada2 (MAD) e, em segundo lugar,
o surgimento de novos Estados no Sistema Internacional, como consequência do
processo de descolonização na África. O primeiro item contribuiu, por quatro décadas
e meia, no equilíbrio de poder das duas superpotências existentes na Guerra Fria.
Paralelamente, os novos países, surgidos pelos processos de independência e pelas
divisões iniciadas pela Conferência de Yalta3, encontravam-se à margem do processo
central de segurança, porém, trouxeram certa instabilidade ao Sistema Internacional
(AYOOB, 1991): “[...] Consequentemente, as regiões do Terceiro Mundo4 tornaram-se
áreas cinzentas do globo para o qual as energias da Guerra Fria, frustradas na Europa
pela existência de MAD, foram desviadas” (AYOOB, 1991, p. 258).
O conceito de segurança no Terceiro Mundo foi construído a partir da luta
global por regiões de influência, travada por EUA e URSS, durante a Guerra Fria.
Muitos autores analisaram o tema da segurança nesses países sob essa ótica: “[...]
sobre a sua preocupação primordial com a segurança em termos de redução das
vulnerabilidades de suas estruturas, instituições, e regimes” (AYOOB, 1991, p. 258).
Azar e Moon (1988) também estudaram a questão dos países de Terceiro
Mundo inserindo-os no conceito de segurança internacional. Apresentaram,
portanto, duas definições: o lado software da problemática da segurança,
vivenciada pelos países de terceiro mundo, e o lado hardware do problema,
pautado nas tradicionais análises ocidentais de segurança. O chamado software
de segurança foi decomposto em três partes principais: legitimidade (sistema de
leis que legitimam o poder do Estado perante sua sociedade e seu território),
integração (de que forma as suas instituições se relacionam para prover as
necessidades de sua população) e capacidade política (capacidade de conduzir
as mais variadas ações estatais dentro do seu território e de interagir com outros
países mantendo a soberania). Com essa proposta, Azar e Moon propuseram uma
divisão dos países de Terceiro Mundo em clusters5 (AZAR; MOON, 1988) que se
relacionavam pelas questões de segurança.
2 Mutual assured destruction (MAD) - entendimento que os EUA e URSS possuíam arsenal nuclear
suficiente para destruírem-se simultaneamente.
3 Conferência de Yalta ou Conferência da Crimeia foi um conjunto de reuniões realizadas em 1945,
após a Segunda Guerra Mundial, entre os presidentes dos Estados Unidos, da Inglaterra e da União
Soviética, que tiveram o objetivo de dividir os territórios europeus das potências derrotadas e
estabelecer uma nova ordem internacional no período pós-guerra.
4 Classificação adotada durante a Guerra Fria pela Teoria dos Mundos.
5 A tipologia dos clusters (aglomerados) é uma ferramenta que permite separar uma amostra
para análise. Os autores separaram os Estados de Terceiro Mundo, dividindo-os de acordo com a
forma de organização das três dimensões da segurança de cada um deles: ameaças (ambiente de
segurança), ferramentas (capacidades) e programa de segurança, considerando, também, o modo
como interagem entre si nesses assuntos (AZAR; MOON, 1998).

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No entanto, ao tratar desses clusters, os autores consideraram como as três


dimensões da segurança do Estado - ameaças (ambiente de segurança), hardwa-
re (capacidades militares) e software - interagem no caso de cada um de Terceiro
Mundo.
Para Thomas (1987) não seria mais admissível somente uma interpretação
para o termo segurança:

Um tema básico que percorre o livro é que a segurança no con-


texto dos estados do Terceiro Mundo não se refere simplesmente
à dimensão militar, como muitas vezes é assumido nas discus-
sões ocidentais do conceito, mas a toda gama de dimensões da
existência de um estado que já são atendidas nos estados mais
desenvolvidos, especialmente os do Ocidente. [..]. Por exemplo,
a busca pela segurança interna do Estado através da construção
da própria nação, a busca por sistemas seguros de alimentação,
saúde, financeiro e comercial, bem como a busca de segurança
através de armas nucleares. (THOMAS, 1987, p. 1).

O problema apontado por Ayoob (1991) na definição de Thomas (1987) foi a


elasticidade dada ao tema segurança, e mesmo reconhecendo-a como um antídoto
para a definição puramente militar da palavra, o alargamento da explicação
prejudicou sua utilidade como uma ferramenta analítica. Para fugir da armadilha
semântica, o autor definiu:

[...] é preferível definir a segurança em relação às


vulnerabilidades que ameaçam, ou têm potencial para derrubar
ou significativamente enfraquecer as estruturas estatais, tanto
territoriais como institucionais, bem como os regimes que
presidem estas estruturas e os representam internacionalmente
(AYOOB, 1991, p. 259, tradução nossa).

O termo segurança, como tem sido tradicionalmente usado na literatura


da escola realista de Relações Internacionais (RI) e nos ESI, é baseado em dois
pressupostos principais: considerar que a ameaça à segurança de um Estado inicia
nas suas fronteiras e admitir que estas ameaças são, principalmente, quando não
exclusivamente, de natureza militar e, geralmente, precisam de uma resposta militar.
Ayoob (1991) recorre à História e explica, a partir da formação dos Estados
europeus, que o conceito realista de interdependência mundial em segurança
foi fundamentado pelo pressuposto de que o Estado só poderia sofrer ameaças
externas. No entanto, a formação dos países do Terceiro Mundo implicava desafios
internos que se tornavam complicadores mais imediatos para a manutenção da
segurança do Estado do que uma ameaça externa.

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Embora a corrente realista foque a segurança no Estado e a lógica idealista


aponte para a segurança do Sistema Internacional, a visão de ameaça externa sempre
foi comum às duas escolas. Em uma crítica à insistente visão dos intelectuais de RI,
Ayoob (1991) argumenta: “[...] no terceiro mundo, apesar da retórica de muitos
de seus líderes, a sensação de insegurança da qual os Estados sofrem emana,
principalmente, de dentro de seus limites, e não de um ambiente externo” (AYOOB,
1991, p. 263, tradução nossa).
Para fundamentar sua interpretação sobre o conceito de segurança, Ayoob
(1992) apresenta o conceito do National State Building, no qual cada Estado se
encontra em diferente etapa do seu processo de evolução.
O exemplo da formação e da consolidação dos Estados europeus é
apresentado por Ayoob (1992) como o motivo pelo qual não se deve adotar a
mesma definição de segurança para todos os países do globo, especialmente os
de Terceiro Mundo. Países desenvolvidos estão em condições mais favoráveis em
determinados aspectos e possuem suas estruturas internas mais consolidadas,
sendo assim, é possível centrar o debate sobre a segurança em ameaças externas,
ao passo que os países em desenvolvimento têm como maior ameaça suas
deficiências internas e precisam ainda consolidar seu poder e o controle dentro
de seus territórios (AYOOB, 1992).
Ayoob (1991) resgata as etapas as quais os Estados europeus passaram até
que alcançassem sua formação completa, considerando injusta a imposição de
comparação com os países do Terceiro Mundo:

“[...] Visto à luz da experiência histórica europeia, a magnitude


dos problemas de segurança interna enfrentados pelos novos
estados do Terceiro Mundo de hoje não é tão surpreendente
assim. Estes problemas assumem dimensões infladas apenas
quando comparados com os produtos “acabados” na Europa
Ocidental e na América do Norte” (AYOOB, 1991, p. 266,
tradução nossa).

A grande lição de Ayoob é que as questões de segurança tratadas por Estados


desenvolvidos são diferentes das prioridades dos estados em desenvolvimento.
Onde estaria, portanto, situado o Estado brasileiro? Quais os caminhos para
identificarmos as principais questões de segurança enfrentadas pelo Brasil?
Duas teorias permitem avaliar o contexto do Brasil: a tradicionalista, liderada
por Walt (1991), a qual, orientada por premissas realistas, aponta que a segurança
se restringe puramente às questões militares e o ente a ser observado é sempre
o Estado; e a teoria do pensamento abrangente, defendida por Buzan (1991), que
ampliou o conceito de segurança para uma nova definição e abrangeu tanto as
ameaças militares quanto outras advindas das áreas política, econômica, ambiental
e social.
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Tanno (2003) sustenta que a política externa construída por Ronald Regan no
período da Guerra Fria, com altos investimentos na corrida espacial, influenciou no
desenvolvimento do pensamento dos intelectuais das RI e as questões de segurança
eram vistas essencialmente como questões militares.
Para a escola tradicionalista, o ponto que motivou o surgimento de uma
vertente abrangente foi, exatamente, em oposição à visão realista por meio de uma
ótica europeia de segurança (TANNO, 2003).
O percurso do conceito de segurança foi, portanto, formulado por uma série
de argumentações estabelecidas em períodos históricos distintos e por diferentes
intelectuais, porém, em um constante processo de desenvolvimento.
Da visão realista de Walt (1991), centrada no militarismo e no Estado, à
perspectiva multifacetada de Buzan (1991), nasceu o questionamento de Ayoob
(1991) sobre se a adoção dos conceitos de segurança que norteiam os países
europeus seria, de fato, a maneira adequada para interpretar o mesmo fenômeno
nos países de Terceiro Mundo.
Mas o pensamento mais contundente residiu na grande mudança proposta
por Buzan e Weaver (2003) e evocada por Rudzit (2018, p. 4): “[...] não podemos
perguntar o que é segurança e sim segurança em relação a quê?”
Ao trazermos o tema para a realidade nacional, observa-se que a PND analisa
o ambiente externo brasileiro no contexto sul-americano da seguinte forma: “[...]
A América do Sul, distante dos principais focos mundiais de tensão e livre de armas
nucleares, é considerada uma região relativamente pacífica” (BRASIL, 2012, p. 21).
Isto nos leva a considerar que, apesar dos diversos problemas fronteiriços
ainda existentes na América do Sul6, e da histórica ineficiência prática de alguns
acordos de cooperação na área de segurança7, pode-se observar o continente
como uma região que compartilha questões de segurança. São países nos quais as
fases de desenvolvimento do Estado, exemplificadas por Ayoob (1991), encontram-
se próximas e portanto, reservam similaridades quanto às ameaças a que estão
expostas. Como exemplo, observa-se uma tendência de aproximação dos países
nas questões de segurança desde 1990:

Dentre eles, destacam-se a Declaração Política do Mercosul,


Bolívia e Chile sobre a Zona de Paz, assinada em 1998, e a Carta
Andina para a Paz e a Segurança, firmada em 2002. No contexto
do continente sul--americano como um todo, na Segunda
Cúpula Sul-Americana, em 2002, emitiu-se a Declaração da

6 Para mais detalhes: Diagnóstico da segurança regional sul-americana: classificações teóricas


preliminares. (DESIDERÁ NETO, 2013, p.10).
7 Haja vista a falta de apoio dos norte-americanos com relação à Argentina durante a Guerra das
Malvinas, mesmo havendo assinado o Tratado Interamericano de Assistência Recíproca (TIAR),
considerado por Desiderá Neto (2013) o único sistema de segurança e defesa coletiva regional
propriamente dito do qual participam os países sul-americanos (exceto Guiana e Suriname).

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Segurança e Defesa na Amazônia, no Atlântico Sul e o Poder Aeroespacial

Zona de Paz Sul-Americana. [...] o processo de construção de


confiança entre os países sul-americanos atingiu seu auge com
a criação do Conselho de Defesa Sul-Americano (CDS), no final
de 2008, no âmbito da Unasul. Apesar de ser fruto de conversas
iniciadas em 2006, a proposta formal surgiu por parte do Brasil,
no contexto da crise entre Colômbia, Equador e Venezuela.
(DESIDERÁ NETO, 2013, p. 12).

Conforme Saint-Pierre (2013) e Desiderá Neto (2013), o Conselho de Defesa


Sul-americano tem como objetivo principal o fomento da confiança entre seus países
membros, a fim de estabelecer uma zona de paz na América do Sul e possibilitar o
desenvolvimento da região.
Embora Michel Temer, presidente do Brasil entre 2016 e 2018, tenha anunciado
a retirada temporária do Brasil da União de Nações Sul-Americanas (UNASUL)
(FOLHA DE S. PAULO, 2018), não se pode afirmar que existe litígio declarado entre
os países da América do Sul e concluir que as questões de segurança passarão, a
partir de então, a serem resolvidas individualmente.
Uma proposta a pontuar-se no CDS foi a novidade trazida pela terceira
reunião ordinária, realizada em Lima, em 2011, e que incluiu no plano de ação
para 2012 a proteção da biodiversidade e dos recursos naturais estratégicos como
uma das áreas prioritárias. De fato, a cúpula da UNASUL de 2012 centrou-se na
ideia de compreender os recursos naturais como eixo dinâmico da estratégia de
integração regional. A atitude do governo brasileiro não enterrou essa percepção
como elementos estratégicos, cuja segurança é uma preocupação regional.
Forti (2014), em sua análise sobre a defesa dos recursos naturais na
América do Sul, reforça a importância de uma cooperação regional para preservar
as riquezas do continente e propõe a formação de uma aliança regional em
defesa. O autor alerta para as riquezas minerais existentes na região, sinalizando
a importância da Amazônia e do Atlântico Sul. Sob a ótica de Forti (2014), a
segurança dos países sul-americanos deve compreender a segurança de suas
fontes de recursos, pois essas serão escassas no futuro, atraindo a cobiça de
agentes externos ao continente. Por isso, a cooperação militar e a dissuasão
seriam importantes para garantir aos países sul-americanos a defesa de seus
recursos estratégicos.
Nesse sentido, é necessário compreender se o conceito de segurança,
apresentado por Buzan e Hansen (2012) e Ayoob (1991), aplica-se ao caso brasileiro
e contribui para a definição de um caminho acerca da segurança da Amazônia e do
Atlântico Sul, posto haver um compartilhamento de interesses sobre essas áreas
dentro do continente.
Quanto a essa questão, Alsina Júnior (2003), ao relacionar a confecção da
Política Nacional de Defesa (PND) brasileira com a criação do Ministério da Defesa

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(MD), utiliza, também, o construtivismo de Buzan, Weaver e Wilde. (1998) para


argumentar que o conceito ampliado de segurança em vários campos (econômico,
político, ecológico e social) implica em retirar do domínio militar as questões afetas
à segurança. No entanto, Alsina Jr (2003) também expôs que o raciocínio lógico
de Buzan, Weaver e Wilde (1998) considera como fator político a determinação
de quais os objetos do Estado teriam de ser defendidos e quais ameaças estariam
comprometendo a integridade desse objeto. Ao perceber isso, Alsina Jr (2003)
completa:
[...] se aceita que os processos de securitização são
intersubjetivamente determinados – não havendo metodologias
eficazes para a determinação objetiva de ameaças a objetos
referentes da segurança, qual é o limiar que permite estabelecer
a distinção entre um processo de securitização bem- sucedido e
outro que se encontra em vias de se concretizar – e que talvez
não venha a sê-lo? (ALSINA JUNIOR, 2003, p. 54).

Alsina Jr (2003) mostra sua preocupação em situar o que deve e o que não
deve ser securitizado, questionando se haveria como estabelecer os assuntos do
Estado passíveis de securitização. Com foco na PND e baseado na visão de Buzan et
al. (1998), o autor propôs uma análise lógica do tema:

[...] é possível analisar a problemática de defesa no Brasil a


partir do arcabouço conceitual delineado por Barry Buzan e
seus colaboradores. Ora, se as ameaças à segurança podem ser
encaradas como um construto cujo conteúdo será determinado
por meio de processos de securitização específicos, como
considerar o conceito de defesa? Seguindo a posição aqui
adotada, deduz-se logicamente que a defesa não é senão um
dos setores em que a segurança pode ser subdividida para fins
analíticos. (ALSINA JR, 2003, p. 55).

Para Alsina Jr (2003), o conceito de segurança foi dividido em dois tipos:
a segurança interna, a qual recai sobre agentes públicos como forças policiais e
agências nacionais de inteligência; e a segurança externa, cuja responsabilidade
exclusiva é das Forças Armadas.
Nesse mesmo sentido, para Saint-Pierre (2013), o conceito de segurança
interna está voltado para a segurança pública, que se origina no sentido de proteção
e conservação da ordem. Por outro lado, o conceito de defesa, associado à segurança
externa, advém de uma natureza de letalidade defensiva, e neste caso, o monopólio
da força destina-se a eliminar e/ou dissuadir as fontes de potencial hostilidade à
unidade política (SAINT-PIERRE, 2013).
Corroborando o apresentado por Alsina Jr (2003), Rudzit e Nogami (2010)
118 Revista da Escola Superior de Guerra, v. 34, n. 71, p. 108-131, maio/ago. 2019
Segurança e Defesa na Amazônia, no Atlântico Sul e o Poder Aeroespacial

também destacaram a definição de segurança como um tema amplo que pode ser
bipartido em interna e externa, reforçando a necessidade de se apresentar algo
além da definição militar dos conceitos de segurança e defesa trazidos pela Escola
Superior de Guerra (ESG), visualizada no artigo de Costa (1999):

[...] é sempre bom lembrar que segurança é um estado e


defesa é um ato. Por isso, as questões relativas à segurança
devem sempre preceder ao estabelecimento de uma política
de defesa. Esta, também, deveria ser a ordem proposta para o
tema: segurança e defesa e não defesa e segurança. Primeiro, é
preciso estabelecer as bases sobre as quais se possa assentar a
segurança da nação, ou das nações e de seus cidadãos. Depois,
pensar em como se defender, caso estas bases sejam ameaçadas
de rompimento. (COSTA, 1999, p. 127).

O ponto de convergência entre o pensamento militar (ESG), exemplificado


por Costa (1999), e as demais interpretações do conceito de segurança (BUZAN;
HANSEN, 2012; AYOOB, 1991; BUZAN, 1991; ALSINA JR, 2003; RUDZIT; NOGAMI,
2010; SAINT-PIERRE, 2013) tem como vértice a proposta de que o conceito de
defesa surge a partir da segurança e, conceitualmente, da segurança militar contra
ameaças externas.
Portanto, limitando-se o debate da segurança aos temas afetos à área militar,
consideram-se alguns aspectos de defesa externa. As Forças Armadas (FA), conforme
Alsina Jr. (2003) aponta, na condição de burocracias especializadas na utilização
racional dos meios de coerção, possuem a competência técnica sobre o assunto.
No entanto, para Saint-Pierre (2013), há dificuldade em se conceituar a palavra
segurança em termos regionais. Segundo o autor, a necessidade em se apresentar
uma definição fez com que a América Latina incorporasse uma realidade que não
é a sua: “[...] na América Latina, na área especificamente dedicada à segurança
internacional, à defesa da paz, incorporam-se teorias, conceitos e noções de notável
infertilidade analítica” (MEI; SAINT-PIERRE, 2013, p. 12).
Deste modo, ao considerar-se os conceitos, pode-se definir a segurança sob
duas perspectivas, a externa e a interna, sendo a segurança externa relacionada
diretamente à Defesa Nacional, e tendo a Marinha, o Exército e a Aeronáutica
função exclusiva neste item (ALSINA JR, 2003). Acrescenta-se a esse enfoque a
contribuição de Saint-Pierre (2013), para o qual a segurança só existe se garantir a
liberdade de ação do Estado, independente do conhecimento de ameaças.
Portanto, o conceito de segurança deve ser aplicado à segurança do Estado –
em termos de território e suas instituições – e à segurança daqueles que representam
sua territorialidade e institucionalidade (ALSINA JR., 2003; RUDZIT; NOGAMI, 2010).
Ou seja, os objetos caros a um país são: seu território, suas instituições e seu povo.
A situação de segurança/insegurança será definida em relação às vulnerabilidades

Revista da Escola Superior de Guerra, v. 34, n. 71, p. 108-131, maio/ago. 2019 119
Flávio Diniz Pereira / Patrícia de Oliveira Matos

que estes objetos possuem.

[...] somente se pode falar em segurança nacional quando um


assunto é apresentado como sendo uma ameaça real a algum
objeto (tradicionalmente, mas não necessariamente, o Estado,
este incorporando o governo, território e sociedade) (RUDZIT;
NOGAMI, 2010, p. 4).

Sendo a Defesa a proteção do Estado contra ameaças externas naquilo que


lhe é mais caro para sua própria existência, a PND brasileira é clara: “[...]O Brasil
será vigilante na reafirmação incondicional de sua soberania sobre a Amazônia
brasileira”. (BRASIL, 2012, p. 54).

[...] A Convenção das Nações Unidas sobre Direito do Mar


abre a possibilidade de o Brasil estender os limites da sua
Plataforma Continental e exercer o direito de jurisdição sobre
os recursos econômicos em uma área de cerca de 4,5 milhões
de quilômetros quadrados, região de vital importância para o
País, uma verdadeira “Amazônia Azul”. (BRASIL, 2012, p. 24).

Também o Livro Branco de Defesa Nacional definiu, em 2012, os dois focos


para a política de defesa no Brasil, a saber: a Amazônia Legal e a Amazônia Azul8.
Nas próximas seções, abordam-se cada um desses entes separadamente.

3 A SEGURANÇA DA AMAZÔNIA

Medeiros Filho (2010), em análise sobre a história da região Amazônica,


considera as iniciativas dos países sul-americanos em estabelecer acordos de
cooperação que tinham como objetivo a proteção dos seus recursos naturais. Em
uma visão focada nos aspectos governamentais e buscando a representação teórica
pela prática vivenciada pelos Ministros da Defesa no período de análise, Medeiros
Filho (2010) apresenta a ideia de “dissuasão regional”, na qual promove a hipótese
de que a aproximação entre os países sul-americanos estaria pautada em dissuadir
possíveis ameaças oriundas de Estados não pertencentes à região, destacando a
dificuldade em se identificar quem seriam esses inimigos.
No debate específico sobre a Amazônia, são reforçados os problemas já
conhecidos, como os ambientais, nos quais encontramos um ponto de convergência
com Buzan e Weaver (2003), bem como com os tradicionais entraves inerentes aos

8 Conceito elaborado em 2004 pelo então Comandante da Marinha Brasileira, Almirante-de-


Esquadra, Roberto de Guimarães Carvalho, para exaltar a importância de proteger-se os recursos
existentes na plataforma continental brasileira, fazendo alusão às riquezas da Amazônia (ABDENUR;
SOUZA NETO, 2014).

120 Revista da Escola Superior de Guerra, v. 34, n. 71, p. 108-131, maio/ago. 2019
Segurança e Defesa na Amazônia, no Atlântico Sul e o Poder Aeroespacial

países de Terceiro Mundo9 apontados por Ayoob (1991): tráfico de drogas, guerras
civis, entre outros. O receio em estabelecer-se alianças militares na América do Sul,
o que seria admitir uma Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) do Sul
(MEDEIROS FILHO, 2010), era construído pelo impacto que tal medida poderia ser
recebida no Sistema Internacional. Isto posto, as associações, sob a roupagem de
cooperação em segurança no continente, se deram simplesmente para a proteção
de fronteiras e de recursos, desconsiderando potenciais ameaças e estando
unicamente vinculadas aos ilícitos fronteiriços.
A Amazônia e seu caráter estratégico também foram abordados por Castro
(2006), que enfatizou a importância dada ao tema em 2002, com a criação de
inúmeras comissões no Congresso Nacional para estudar o assunto, com ênfase
na questão ambiental, as quais o autor chamou de “bancada da Amazônia”. No
entanto, Castro alertou sobre o desinteresse da classe política pelos assuntos de
defesa, delegando aos militares a preocupação pela defesa da região. Tal aspecto,
segundo o autor, influenciou na criação da estratégia da presença, idealizada pelo
Exército Brasileiro e constante na Estratégia Nacional de Defesa (END):

[...] A vivificação das fronteiras, a proteção do meio ambiente


e o uso sustentável dos recursos naturais são aspectos
essenciais para o desenvolvimento e a integração da região.
O adensamento da presença do Estado, e em particular das
Forças Armadas, ao longo das nossas fronteiras, é condição
relevante para o desenvolvimento sustentável da Amazônia.
(BRASIL, 2012b, p. 13).

Nesse contexto, Albuquerque (2010) reforça que: “[...] o projeto Calha Norte
é recordado como paradigma da organização militar na região e se desenha cenário
de guerra assimétrica contra país ou coligação de países que venham a contestar a
soberania brasileira sobre a Amazônia” (ALBUQUERQUE, 2010, p. 48-49).
Já Caninas (2011) prefere dividir a percepção da importância sobre a Amazônia
em interpretações realizadas por militares ou por civis. Segundo Caninas (2011), na
visão militar, a região possui um caráter místico, o que leva a interpretá-la como algo
cobiçado por outros países e que, por isso, necessita ser protegida pela estratégia da
presença, estabelecida pelo Exército Brasileiro. Na sua perspectiva, a transformação
da Amazônia em um tema de segurança externa (AYOOB, 1991) tem relação direta
com a necessidade de atrair investimentos para as Forças Armadas, responsáveis
pela defesa da Amazônia. Porém, nesse escopo, Caninas (2011) comenta que a base
de fundamentação dos militares passa pelos crimes transnacionais afetos à região,
como o tráfico de drogas. Por outro lado, as questões sinalizadas pelos civis seriam
exemplificadas pelos problemas ambientais, como desmatamentos, poluição e a
9 Aqui fazemos um contraponto: quando Ayoob (1991) apresentou sua teoria somente existia esse
conceito, o Brasil é considerado hoje um país em desenvolvimento.

Revista da Escola Superior de Guerra, v. 34, n. 71, p. 108-131, maio/ago. 2019 121
Flávio Diniz Pereira / Patrícia de Oliveira Matos

proteção da fauna e flora.


Ao dividir a questão em dois eixos, Caninas (2011) expõe uma interpretação
diferente sobre a securitização da Amazônia, colocando-a num patamar que envolve,
além da sua defesa pelas Forças Armadas, uma utilização racional dos recursos e a
preservação da área por outros órgãos do poder público.
Deste modo, observa-se que a importância da região Amazônica é assinalada
por Medeiros Filho (2010), Castro (2006) e Caninas (2011) que, embora partam de
visões diferentes, convergem em relação às diversas ameaças, atores envolvidos e
que as Forças Armadas devem assegurar a sua defesa. Essa linha de pensamento
associa-se à motivação para a construção de uma estratégia regional de proteção
dos recursos naturais.
Medeiros Filho (2010) aponta que a estratégia regional para a proteção
dos recursos naturais foi desenvolvida no Centro de Estudos Estratégicos de
Defesa (CEED)/CDS e incluía a Amazônia como uma de suas dimensões. Já Forti
(2014) considera a integração pretendida pela UNASUL e o fortalecimento do
CDS como desejáveis para a formação de uma cooperação para dentro, na qual
os países iniciariam uma cooperação militar por meio da atuação conjunta das
Forças Armadas dos diferentes países sul-americanos, e, ao mesmo tempo, uma
dissuasão para fora, na qual o somatório das capacidades de cada Força Armada
resultaria numa capacidade de defesa que inibiria eventuais enfrentamentos
externos.
Nesse sentido, a convergência de interesses entre os países ocorreria por
meio de seus recursos naturais, denominados por Forti (2014) como recursos
estratégicos: “[...] não há maior exemplo paradigmático que ilustra esse conceito
de “interesse regional”, como os substanciais recursos naturais estratégicos que
abundam a América do Sul” (FORTI, 2014, p. 14).
Apesar das recentes ocorrências relacionadas à UNASUL (FOLHA DE SÃO
PAULO, 2018a), determinadas iniciativas corroboram para um entendimento
comum entre o Brasil e os países sul-americanos quanto à proteção da Amazônia,
como o encontro entre os chefes das Forças Armadas do Brasil e do Peru nos dias
20 e 21 de novembro de 2018, registrado na página eletrônica oficial do Ministério
da Defesa (MD):
Para o chefe do Comando Conjunto das Forças Armadas do
Peru, César Augusto Astudillo Salcedo, a reunião permitiu
avançar com maior eficiência nas questões de interesse para os
países. “Operações conjuntas permitem que as Forças Armadas
se integrem. O Brasil é referência para nós em matéria de
defesa, esse encontro nos permite consolidar a nossa relação
de fraternidade. (BRASIL, 2018b).

Em espectro menor que a ampla proposta de Forti (2014), os acordos

122 Revista da Escola Superior de Guerra, v. 34, n. 71, p. 108-131, maio/ago. 2019
Segurança e Defesa na Amazônia, no Atlântico Sul e o Poder Aeroespacial

bilaterais e multilaterais reforçam que a segurança da Amazônia é, portanto, um


objetivo compartilhado entre os países sul-americanos, um ponto de convergência
(BUZAN; WEAVER, 1991), no qual o aspecto amplo do tema está identificado com
a realidade do contexto regional (AYOOB, 1991; FORTI, 2014). E cujas ameaças,
perigos e urgências exigem atitudes governamentais de cooperação em segurança
(BUZAN; HANSEN, 2012). Sendo assim, como a segurança compreende a defesa
contra ameaças externas, implica no emprego do mecanismo militar das Forças
Armadas (ALSINA JR, 2003). Similar análise pode ser aplicada ao Atlântico Sul.

4 A SEGURANÇA DO ATLÂNTICO SUL

Os entendimentos de segurança e securitização entre o Brasil e os Estados


do Atlântico Sul, fronteiriços no contexto sul-americano, possuem como embrião
a iniciativa do governo da República Argentina, em 1956, de reunir-se com
representantes do Brasil e do Uruguai para discutir a organização da defesa do
Atlântico Sul. Porém, por questões estratégicas10, o acordo não avançou.
Outra iniciativa ocorreu em 1969, quando o governo da África do Sul propôs
a Organização do Tratado do Atlântico Sul (OTAS), inspirada na formação da
Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN). Tal fato revela que a iniciativa
apontada por Medeiros Filho (2010) não foi inédita. A pretensão da OTAS era a
defesa do hemisfério do sul contra a expansão comunista (PENNA FILHO, 2003).
A cooperação militar teria início pelas Marinhas dos países e deveria ser realizada
com discrição, pois havia um receio de retaliação pela União Soviética. A troca de
informações entre a Marinha brasileira e a Marinha sul-africana foi assinalada por
Penna Filho (2003):

[...] O Almirante sul-africano recebeu com interesse a proposta


brasileira. Em sua opinião, seria possível estabelecer tal sistema
de cooperação dentro mesmo do Acordo de Simonstown, que
previa essa troca de informações com a Grã-Bretanha, a qual,
segundo ele, também retransmitia as informações, quando
considerava necessário, aos Estados Unidos da América. (PENNA
FILHO, 2003. p.9).
Conforme indicada pela evolução dos ESI (BUZAN; HANSEN, 2012),
influenciados pela americanização do tema segurança, a principal ameaça apontada
pelos países na defesa do Atlântico Sul era o comunismo. As negociações não
avançaram sob esse foco, porém, a cooperação dos países sul-americanos para
a proteção de seus interesses no Atlântico Sul evoluiu na mesma direção que a
proteção dos recursos naturais na Amazônia.
Atualmente, a Zona de Paz e Cooperação do Atlântico Sul (ZOPACAS) é o

10 O Brasil viu sua liderança ameaçada pelo protagonismo argentino (PENNA FILHO, 2003).

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Flávio Diniz Pereira / Patrícia de Oliveira Matos

principal exemplo do exposto e sua existência abarca a mesma amplitude que o


tema segurança requer (BUZAN; WEAVER, 1991). Mais uma vez, está o Brasil
inserido em um contexto regional (AYOOB, 1991), no qual as ameaças, perigos e
urgências exigem atitudes governamentais de cooperação em segurança (BUZAN;
HANSEN, 2012). A ZOPACAS, naturalmente capitaneada pelas Marinhas dos Estados
envolvidos, possui braços que exigem sua defesa por meio militar, como Patrulha
Marítima, Busca e Salvamento e outras atividades, que, no Brasil, são exclusividade
dos militares.
Tendo sido identificadas questões atreladas à defesa, quando se analisa a
segurança da Amazônia e do Atlântico Sul, torna-se determinante que as ações
decorrentes digam respeito às Forças Armadas, pois tais ações são atividades
exclusivas desse ente governamental. Nesse escopo, considera-se o poder
aeroespacial brasileiro, componente do poder militar, como elemento de proteção
desses objetivos estratégicos.

5 O PODER AEROESPACIAL E A FUNÇÃO DE DEFESA NACIONAL

A definição de poder aeroespacial é precedida pelo conceito de poder aéreo,


inicialmente formulado por Giulio Douhet (1988) em 1921. Para Douhet (1988), os
vetores aéreos poderiam constituir uma arma autônoma e definitiva para a guerra.
O teórico embasava suas ideias por meio de estimativas sobre os danos provocados
pelas bombas lançadas das aeronaves e seu impacto no campo de batalha. O
poder aéreo era puramente militar e todas as análises sobre ele vinculavam-se
exclusivamente à utilização de aeroplanos para a guerra, sempre objetivando o
domínio do ar.
A observação de Douhet (1988) foi especialmente direcionada para
as ações ofensivas de combate que resultariam em vitória nas guerras mais
rapidamente, solucionando o impasse das trincheiras percebido durante a
Primeira Guerra Mundial (DOUHET, 1988). Seguido por outros pensadores
como Mitchell, Trenchard e Seversky (SANTOS, 1989), o poder aéreo ganhou
sonoridade e destaque, sendo empregado em inúmeras guerras como arma
decisiva de combate.
Tal qual a evolução do ESI, o poder aéreo tornou-se maior do que as
premissas militares adotadas por Douhet. Se na Guerra Fria a preocupação nuclear
direcionou os Estudos de Segurança Internacional para uma atmosfera que incidia
também no fomento à corrida espacial (BUZAN; HANSEN, 2012), os mesmos
motivos estenderam o conceito de poder aéreo. O espaço exterior ampliou para
a estratosfera o espectro que antes era limitado pelas aeronaves. Surge, então, o
conceito de poder aeroespacial:

[...] Projeção do Poder Nacional, resultante da integração dos

124 Revista da Escola Superior de Guerra, v. 34, n. 71, p. 108-131, maio/ago. 2019
Segurança e Defesa na Amazônia, no Atlântico Sul e o Poder Aeroespacial

recursos que a Nação dispõe para a utilização do espaço aéreo


e do espaço exterior, quer como instrumento de ação política
e militar, quer como fator de desenvolvimento econômico e
social, visando a conquistar e manter os objetivos nacionais.
(BRASIL, 2018a).

Pesquisadores como Rosa e Jasper (2018) fazem uma leitura do poder


aeroespacial a partir do surgimento do conceito de poder aéreo e reforçam a ideia
de que foi o desenvolvimento tecnológico o responsável pela nova roupagem na
definição do poder aeroespacial:

[...] como poder aeroespacial, a concepção integra não somente


a expressão para emprego militar desse poder, mas tudo aquilo
que está relacionado com o emprego de aeronaves, em sentido
mais amplo: a aviação civil, a infraestrutura de aeroportos e
instalações aeronáuticas e espaciais, a indústria aeroespacial,
os recursos humanos utilizados nessa atividade e o potencial
tecnológico de desenvolvimento de produtos espaciais. (ROSA;
JASPER, 2018, p. 5).

O poder aeroespacial, de que trata este artigo tem, portanto, como seu braço
armado, a Força Aérea.
Retomando a questão da Amazônia e do Atlântico Sul, e compreendendo
sua defesa como uma responsabilidade militar, recorre-se, primeiramente, ao
estudo da professora Adriana Aparecida Marques (2007), que buscou identificar
como se estabelece a percepção de segurança na Amazônia e a estratégia militar
adotada para defendê-la, passando pelo papel de cada uma das Forças na questão
apresentada.
Marques (2007) aponta a presença militar na Amazônia, numa realidade
alcançada em 2007, em que a Marinha e a Força Aérea possuíam papéis coadjuvantes.
Segundo a autora, a participação da Força Aérea Brasileira (FAB) até a década de 80
era focada nas ações do Correio Aéreo Nacional (CAN) e no projeto Calha Norte,
o qual fornecia suporte para as operações fronteiriças do Exército Brasileiro. No
entanto, na década de 90, a atuação da FAB assumiu contornos mais significativos,
especialmente após o surgimento do Sistema de Vigilância da Amazônia (SIVAM),
o qual lhe transferiu maiores responsabilidades de defesa à Força Aérea Brasileira,
com relação à Amazônia. O poder aeroespacial era exercido por meio da cobertura
radar contra ilícitos e pela promulgação da Lei do Tiro de Destruição, que ficou
conhecida como Lei do Abate (MARQUES, 2007).
Com relação à defesa do Atlântico Sul, observa-se que a literatura disponível,
na maioria das vezes, coloca lentes apenas na participação da Marinha Brasileira.
No entanto, as atividades de Patrulha Marítima, realizadas com aeronaves modelo

Revista da Escola Superior de Guerra, v. 34, n. 71, p. 108-131, maio/ago. 2019 125
Flávio Diniz Pereira / Patrícia de Oliveira Matos

P-3 da FAB e o cumprimento de tratados internacionais de Busca e Salvamento,


tornam o papel da Força Aérea Brasileira primordial para a segurança deste outro
objetivo da defesa nacional.
O contrato celebrado entre o governo brasileiro e a EMBRAER, em 2014,
garantiu a aquisição de vinte e oito aeronaves KC-390, cuja capacidade embarcada irá
proporcionar ganhos operacionais maiores nas atividades de Patrulha Marítima de
Busca e Salvamento, uma vez que possuem um radar de última geração (BRASIL, 2011)
e um podeletro-ótico11, cujo uso combinado permitirá a identificação de embarcações
clandestinas que estejam aproximando-se do litoral brasileiro para furtar ou ameaçar
as riquezas da Zona Econômica Exclusiva (ZEE) brasileira (AMARAL, 2018).
Sob a missão de “controlar, defender e integrar”, a FAB apresenta, pelo seu
documento Força Aérea 100, uma posição de projeção do poder aeroespacial,
reiterando sua importância na segurança dos objetivos nacionais de defesa,
especialmente a Amazônia e o Atlântico Sul, coordenando suas Forças com os países
sul-americanos que compartilham os problemas de segurança, como apontado por
Ayoob (1991), Buzan e Weaver (1991) e Alsina Jr (2003).

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este artigo buscou analisar, por meio de uma revisão bibliográfica e


documental, a evolução do conceito de segurança, relacionando seu significado
às preocupações existentes no Brasil quanto aos interesses nacionais vinculados à
defesa da Amazônia e do Atlântico Sul.
Com Buzan e Hansen (2012), em suas quatro questões e conceitos adjacentes
de segurança, foram iniciados os caminhos que levaram à compreensão de como a
segurança se relaciona com fatores históricos. Ayoob (1991) e Alsina Jr (2003), por
sua vez, provocaram a ampliação do conceito de Buzan e Weaver (1991) quando
identificaram que os problemas de segurança dos países em desenvolvimento não são
representados pelos mesmos que aqueles ocorrentes nos países desenvolvidos.
Trazendo o tema para as questões brasileiras de segurança, considerou-se
Alsina Jr (2003) e sua interpretação sobre segurança externa e interna, alocando a
defesa como um objeto de segurança externa afeto aos militares. Portanto, defesa é
inerente às Forças Armadas. Da mesma forma, Buzan e Hansen tratam de conceitos
adjacentes, dentre os quais se torna relevante a ameaça ao componente que se
deseja proteger. Neste momento, a PND serviu para sinalizar a importância da
Amazônia e do Atlântico Sul para o país.
O segundo momento da pesquisa revelou os estudos de Medeiros Filho
(2010) e Penna Filho (2010) para retratar a importância da Amazônia e do Atlântico

11 São dispositivos capazes de detectar movimentos e ações que ocorrem em processos e projetos
eletro-eletrônicos (BRASIL, 2011).

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Segurança e Defesa na Amazônia, no Atlântico Sul e o Poder Aeroespacial

Sul, além das questões de segurança envoltas sobre essas áreas, bem como a
participação das Forças Armadas na sua proteção, ressaltando aspectos sobre a
cooperação com os países sul-americanos. O fato reitera as questões comuns de
segurança apontadas por Ayoob (1991).
Finalmente, com o foco no poder aeroespacial, e considerando a evolução
histórica do conceito de poder aéreo teorizado por Douhet (BRASIL 2018a), buscou-
se mostrar como a Força Aérea contribui para a segurança desses dois objetivos
nacionais de defesa. Conclui-se que, partindo de uma percepção brasileira, o
conceito de segurança externa encontra-se estreitamente relacionado à defesa
dos recursos estratégicos para a região, com foco na proteção da Amazônia e
do Atlântico Sul, e, ainda, que o poder aeroespacial, por meio da Força Aérea
Brasileira, tem papel fundamental, seja por meio do CAN, do Projeto Calha Norte
e do SIVAM, para o caso da Amazônia, ou das atividades de Patrulha Marítima e
Busca e Salvamento, no caso da defesa do Atlântico Sul.

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Recebido em: 18 set. 2018


Aceito em: 04 mar. 2019

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