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A solidariedade de um rapazinho

Num dia de verão, a mãe do pequeno Hugo levou-o à


praia. Como ele era um rapazito muito perspicaz, com os seus
dezoito anos, tinha muita curiosidade em explorar o que o
rodeava, curiosidade essa que ia aumentando caso estivesse
num lugar novo para ele. A dada altura, Hugo viu um rapaz, o
qual parecia ser diferente dos outros. Depois de se ter intrigado
com o facto do rapazola não se divertir como ele, o Hugo
perguntou à mãe:

- Mãe, porque é que o André não se está a divertir como eu, aqui
a vislumbrar a paisagem tão bonita que a praia nos tem para oferecer?

- Sabes filho, o André é cego…

- Cego?... – disse o Hugo admirado.

- Sim, filho – disse a mãe.

- Mas ele sendo cego, porque é que ele também não se pode divertir?

Como a mãe do rapaz viu que ele era muito curioso, explicou, de uma forma
simplificada:

- Filho, o André como nasceu prematuro, houveram alguns dos seus órgãos que
não se formaram muito bem, tendo sido esse o facto pelo qual ele ficou cego, não
podendo, desta forma, vislumbrar, ou seja, visualizar o que tu vês. A única forma que
ele tem de o fazer, é usando os outros sentidos.

- Sentidos?

- Sim. Por exemplo, se tu lhe deres algo para a mão e lhe perguntares o que é,
ele usa o tato ou o paladar para descobrir, caso se trate de comida. Já se esse objeto
não for acessível ao tato, tens que o descrever, transformando em palavras tudo o que
vês com os olhos.

- Descrever? E como é que eu transformo em palavras tudo o que vejo?

- Sendo um bom observador. Por exemplo, se tivesse que lhe descrever tudo o
que existe à nossa volta, dizia-lhe que estamos numa praia cheia de gente, com o
tempo ensolarado. À nossa esquerda vemos um menino, com os seus dois anos,
vestido com uma camisola branca a brincar com legos, construção essa que se
assemelha à medida que as peças vão sendo encaixadas a um telhado de uma casa.
Já tanto à nossa direita como à nossa frente, é possível ver um grupo de pessoas a
apanharem sol, com o mar ao fundo com a bandeira verde, repleto de gente.

O rapaz comovido com a explicação da mãe, aproximou-se do André e disse:

- Olá. Como te chamas? Perguntou o Hugo.

- André. – disse o menino com um ar pensativo.

- Tu alguma vez já foste ao mar e tiveste a oportunidade de te divertires?

- Não, é a primeira vez que venho à praia.

Comovido com este discurso, o Hugo disse, muito triste:


- Vem comigo. Quero que tu também te divirtas, pois não é por teres essa
incapacidade que vais deixar de o fazer.

O André, muito contente, segurou-se ao cotovelo do amigo e lá foram eles na


conversa pela praia fora até chegarem ao mar. Por vezes, paravam pelo caminho para
que o André tivesse a oportunidade de ver, tal como o Hugo, as paisagens que a praia
lhes oferecia, mesmo que só lhes fossem descritas. Ao terem chegado ao mar, Hugo viu
um nadador salvador que lhe perguntou:

- Este meu amigo queria experimentar fazer surf, uma vez que ele é cego.

- Desculpa, mas agora estou muito ocupado para lhe poder proporcionar essa
oportunidade – disse o nadador salvador.

Como o Hugo era um rapaz muito inteligente, apercebeu-se que ele estava ocupado,
não a fazer algo de importante, mas sim a olhar para o mar. Como o rapaz queria que o
seu amigo se divertisse tal e qual como os outros rapazes, voltou a insistir:

- Vá lá, senhor nadador. Acho que não lhe custa nada perder cinco minutos do
seu tempo para fazer alguém feliz, nomeadamente uma pessoa com algum tipo de
incapacidade. Sabe, ele mesmo não vendo, pode sim fazer surf com alguma ajuda, mas
acredite que este momento vai-lhe ficar marcado.

O nadador salvador, incrédulo com a esperteza e com o discurso do rapaz, disse,


decididamente:

- Ele pode sim ter essa experiência, mas vais ser tu a ajudá-lo a reconhecer a
prancha e a se deitar em cima dela?

- Sim vou, não se preocupe!

Depois de ter falado com o nadador salvador, o Hugo foi buscar o seu amigo que,
depois de terem chegado ao mar, este disse-lhe:

- André, vou fazer com que tu te divirtas como os outros rapazes que veem.

- as sério!? – disse o André muito contente.

- Sim, vou-te ensinar a fazer surf.

- Surf? O que isso é? – perguntou o André.

- O surf é um desporto que se pratica no mar em cima de uma prancha


retangular, seja em pé ou deitado em que o seu objetivo é te equilibrares em cima dela
com o impulso das ondas do mar.

Já com a prancha em sua posse, mostrou-lhe primeiramente uma em miniatura


para que depois André a pudesse comparar com a real. Já com a prancha reconhecida,
o Hugo ajudou o amigo a se deitar em cima dela em que foram, lentamente,
encaminhando-se para a água. Ao primeiro impulso, André ficou com um pouco de
receio, mas depois de se ter habituado, já batia os braços com uma alegria enorme e
até já boiava na água!

Após o término da experiência, a mãe do Hugo chamou-o à sua beira em que


lhe disse: - Filho, nunca pensei que fosses assim um menino com um bom coração.
Admiro a tua persistência no que diz respeito ao facto do nadador salvador. Apesar de
ele ter discriminado o teu amigo, conseguiste-lhe proporcionar uma oportunidade que
ele de certeza nunca mais irá esquecer. Tens um coração de ouro, filho.
Moral da história: Não é por termos algum problema que vamos deixar de nos divertir.
Apesar de o fazermos de uma forma diferente, somos todos iguais!

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