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A Batalha – teor político

Em linha contextual com as restantes correntes do movimento operário


que de foice e martelo marcharam para a Europa, apesar das ideias
proudhonianas e bakunianas já parairarem no ar, o anarcossindicalismo só
floresceu mais pujantemente em Portugal nos inícios do século XX.
Segundo César Oliveira,

Deve notar-se que de 1909 a 1919 não se pode falar com propriedade de
anarcossindicalismo e que, apesar do apoio que os anarquistas deram aos
sindicalistas neste período, muitas divergências existiam entre ambos; disso é prova
evidente a polémica surgida entre eles (…) De facto, só com a criação da CGT, em
Setembro de 1919, se pode falar de anarco-sindicalismo, embora, como é óbvio, se
possam detectar abundantes pontos comuns entre anarquistas e sindicalistas”
(Oliveira, 1973, p. 34).

Neste seguimento, fundado a 23 de fevereiro de 1919, A Batalha é um


testemunho documental daquilo que foi a expressiva onda anarquista em
Portugal. Servindo como jornal diário, as suas publicações iam desde a
convocatória para a participação em protestos e ações reivindicativas; à
proclamação de greves; ao atualizar da conjuntura internacional; à crítica da
estrutura social burguesa e da opressão patronal, até ao denunciar das condições
miseráveis em que viviam os operários e as suas famílias.
Apesar de aclamar sempre os ideias anarquistas e de estimular os seus
leitores a fazê-lo,

A linha ideológica de A Batalha não era rígida, revelando, nos limites da sua
consistência, a flexibilidade que refletia a adaptação dos mentores do jornal
operário a situações novas ou em desenvolvimento, por exemplo as sequelas da
Revolução de 1917 na Rússia (Baptista, Jacinto, 1977, p.77)

Logicamente, o ideário do jornal demonstrava bandeiras vincadamente de


esquerda e inspiradas na luta de classes, mostrando-se a favor da abstenção
política, da sindicalização facultativa, do descanso dominical para a imprensa,
das greves, das expropriações, do jornalismo profissional, da luta de classes e
do naturismo. Por outro lado, repudiava as touradas, a conceção de Fátima que
considerava chantagista, o alcoolismo, a censura à imprensa (mesmo à
reaccionária), o fascismo e os fascistas, a colonização em geral e a portuguesa
em particular, a pena de morte, a confederação patronal, os partidos políticos, as
eleições e diversas figuras republicanas, de exemplo Afonso Costa.
Assim, apesar de nos primórdios se mostrar um movimento difuso e
desorientado, o anarcossindicalismo, não se monstrou cessante e continuou a
contestar o sistema e o poder estabelecido, a causar burburinho na oposição, a
mobilizar para a ideia de que o meio sindical era o campo privilegiado para a
luta e a via preferencial para a anarquia, a, acima de tudo, apaixonar-se pela
ideia de que, citando Proudhon, “a política é a ciência da liberdade”.

Bibliografia
Lourenço, S.G.M (2015). Ideia(s) e Movimento(s): sindicalismo libertário
e educação (Dissertação de mestrado, Universidade de Lisboa, Portugal).
Disponível a partir de
https://repositorio.ul.pt/bitstream/10451/18415/1/ulfpie047296_tm.pdf
Baptista, Jacinto. Surgindo Vem ao Longe a Nova Aurora… Para a
História do diário sindicalista A Batalha 1919-1927. Livraria Bertrand, Lisboa,
1977.

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