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V Semana Acadêmica de Pesquisa, Inovação e Extensão da UEMASUL

06 a 08 de dezembro de 2022- Imperatriz-MA

DIAGNÓSTICO SOROLÓGICO DA BRUCELOSE EM EQUINOS NO MUNICÍPIO


DE IMPERATRIZ

RESUMO
A brucelose é uma doença de distribuição mundial que acomete várias espécies de animais, e grande
parte dos estudos e trabalhos giram em torno da espécie bovina e bubalina, que é o foco principal
do Programa Nacional de Controle e Erradicação da Brucelose e da Tuberculose Animal –
PNCEBT. Em contrapartida a espécie equina também é acometida pela doença, sendo o
contágio dessa espécie especialmente em áreas onde a brucelose bovina é endêmica, o que
indica uma contaminação cruzada. O agente causador predominantemente nessas espécies é a
Brucella abortus, contudo, nos equinos a manifestação clínica e a forma de transmissão
diferencia das demais, sendo caracterizada por sinais clínicos como lesões abscedantes na
região cervical, bursas, tendões e articulações e debilidade. O diagnóstico se dá pelo caráter
clínico-epidemiológico, diagnóstico direto através do isolamento do agente e identificação
molecular e diagnóstico indireto através de técnicas sorológicas. Assim, o objetivo deste
trabalho foi estimar a prevalência de anticorpos anti-Brucella abortus em equinos de carroceiros
do município de Imperatriz-MA, através de colheita de sangue dos animais de carroceiros da
cidade, buscando o diagnóstico através de testes indiretos, sendo este o Teste de
Soroaglutinação com Antígeno Acidificado Tamponado – AAT. Foi realizado o levantamento
dos carroceiros, e logo em seguida foram feitas as colheitas de sangue nos animais em que se
tinha o consentimento do proprietário. Foram coletadas 29 amostras ao todo em três pontos
principais da cidade onde se situava os animais de tração para frete, sendo 2 (6,9%) amostras
reagentes ao teste de triagem (AAT). Ainda é necessário realizar o teste confirmatório dessas
duas amostras através da soroglutinação lenta em tubo e 2-mercaptoetano. Assim, há evidência
de ocorrência da brucelose equina entre os cavalos de carroceiros do município, além disso
deve-se realizar o teste confirmatórios nas amostras reagentes e promover educação sanitária
para os tutores dos animais.

PALAVRAS-CHAVE: Carroceiros; Saúde; Zoonoses.

INTRODUÇÃO
A brucelose é uma doença de potencial zoonótico, de distribuição mundial, causada
por uma bactéria Gram-negativa do gênero Brucella (SILVA et al, 2018), e acomete diversas
espécies de mamíferos por não apresentar uma espécie-especificidade quanto ao hospedeiro,
porém há uma seletividade por certas espécies, tendo como foco principal do Programa
Nacional de Controle e Erradicação da Brucelose e Tuberculose (PNCEBT) os bovinos e
bubalinos (PINTO et al, 2021).
Em equinos a brucelose é causada principalmente pela espécie B. abortus, e é
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caracterizada como uma doença infectocontagiosa crônica, sendo considerada de baixa


importância econômica por não haver uma prevalência alta nessa espécie animal (MELO et al,
2013). Contudo, a brucelose equina tem sua importância em virtude da debilidade orgânica
causada aos animais, do prejuízo econômico e psicológico decorrente da eutanásia que deve ser
realizada nos equinos infectados, além de poder transmitir a doença, quando infectados, para
outros animais e para o homem (FIM JUNOR, et al., 2015; RIBEIRO, et al, 2008; SZYRES,
2003).
Os sinais clínicos em equinos não são caracterizados por alterações reprodutivas como
em bovinos e bubalinos, a doença se apresenta mais por inflamações de caráter purulento nas
articulações e nas estruturas que lhe compõem (bursa, ligamentos, tendões), além de formação
de abcessos que podem ou não fistular, quando fistulados tem a exposição do agente infeccioso
ao ambiente através do material mucopurulento eliminado (PINTO, et al., 2021).
O diagnóstico para equinos é realizado através de testes preconizados pelo Ministério
de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) para diagnóstico da brucelose em bovinos
e bubalinos, já que não possui testes específicos para equinos. Com isso, é utilizado o Antígeno
Acidificado Tamponado (AAT) que é um teste de triagem e o 2-Mercaptoetanol (2-ME) e
Soroaglutinação lenta em tubo que são confirmatórios para fechar o diagnóstico (PNCEBT,
2022).
Apesar do reconhecimento da importância da brucelose em equinos seja pela
debilidade, pelo poder de fonte de infecção ou pelo potencial zoonótico, poucos trabalhos são
voltados para essa enfermidade nestes animais. Assim, objetivou-se neste trabalho estimar a
prevalência e fatores de risco da brucelose em equinos no município de Imperatriz-MA, afim
de conhecer sua ocorrência e poder estimular medidas mais eficazes para controle da doença e
até mesmo para fins de vigilância, uma vez que a vigilância epidemiológica contribui para
controle de enfermidades, em especial às zoonóticas.
METODOLOGIA
Foi realizado o levantamento dos carroceiros cadastrados junto à Prefeitura do
município de Imperatriz-MA e a Secretaria Municipal de Trânsito e Transportes (SETRAN).
Também foi realizado parceria com a Unidade de Vigilância em Zoonoses da Secretaria
Municipal de Saúde, onde após captura de equinos errantes no município era realizada a
amostragem desses animais.
As coletas foram realizadas em equinos de carroceiros do município de Imperatriz-
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MA numa amostragem não-probabilística por bola de neve, uma vez que não há cadastro dos
pontos de carroceiros junto aos órgãos da Prefeitura de Imperatriz. Assim, as amostras foram
coletadas aleatoriamente em pontos de carroceiros e ainda nos equinos capturados pela Unidade
de Vigilância em Zoonoses da Secretaria Municipal de Saúde.
Após esclarecimentos e consentimento dos proprietários, foram coletadas amostras
sanguíneas dos equinos, sendo a colheita realizada de forma asséptica da veia jugular externa
utilizando vacutainer e tubo sem anticoagulante. O sangue foi armazenado em caixa de isopor
com gelo reciclável (Fig. 1) até chegada no Laboratório de Microbiologia e Imunologia do curso
de Medicina Veterinária da UEMASUL, onde foram centrifugados, aliquotado o soro em
microtubo de eppendorf e congelados a -20ºC até realização do teste para brucelose. No
momento da coleta, também foi avaliado as condições clínicas do animal e dados sobre o animal
como idade, sexo, raça.
As amostras foram submetidas ao teste sorológico de triagem preconizados pelo
Programa Nacional de Controle e Erradicação da Brucelose e da Tuberculose Animal
(PNCEBT), o Teste de Soroaglutinação com Antígeno Acidificado Tamponado (AAT)
(BRASIL, 2006).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
No levantamento de dados realizado antes das coletadas, foi obtido pela Secretaria
Municipal de Trânsito e Transportes (SETRAN) somente os dados quantitativos dos
Condutores de Veículos de Transporte de Tração Animal na cidade de Imperatriz-MA,
totalizando 251 carroças cadastradas e emplacadas na região. O levantamento também se deu
pela visita em pontos principais, sendo visitados 3 pontos.
Foram coletadas 29 amostras nos pontos visitados, 11 destes pertenciam a animais do
ponto da “Feirinha do Bacuri”, 9 da “Avenida Pedro Neiva de Santana”, 5 do “Mercadinho e 4
coletadas na Unidade de Vigilância em Zoonoses da Secretaria Municipal de Saúde.
Das amostras coletadas foi observado uma prevalência de 6,9% (2/29) de equinos de
carroceiros positivos para brucelose (Figura 1). Sendo de animais pertencentes a dois pontos
diferentes de coleta, sendo uma fêmea e um macho.

Figura 1: Demonstrando uma amostra positiva (lado esquerdo) e uma amostra negativa
(lado direito) comparando as diferentes reações no teste de AAT.
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Fonte: Elaborado pelo autor (2022).


Os dois animais diagnosticados positivos no AAT foram de coletas realizadas em
pontos de carroceiros distinta, sendo um no ponto “Mercadinho’’ e outro na “Avenida Pedro
Neiva de Santana”. As demais amostras tiveram como resultado não-reagente.
A prevalência de 6,9% encontrada nos animais pesquisados são dados que se deve
atentar, por ser uma doença infectocontagiosa e por afetar diversas espécies, sendo uma desta
o homem, classificando como uma doença de caráter zoonótico.
Em outros trabalhos de pesquisa em animais de carroceiros foram observado uma
prevalência que variou de 2,5 a 7,1% no AAT e menor ocorrência no teste de 2-Mercaptoetanol,
teste confirmatório, variando de 0 a 6,5% (OLIVEIRA, et al., 2022; ANTUNES, et al., 2013;
DORNELES, et al., 2013; OLIVEIRA, et al., 2013; CARRAZA, 2010).
A expressiva diferença encontrada entre número de carroças cadastradas e carroceiros
encontrados nos pontos de Imperatriz, pode ser reflexo do tipo de serviço que os carroceiros
que trabalham nos pontos da cidade exercem, pois, trabalham com frete de produtos, os demais
registrados, ou sua grande parte, utilizam do “veículo” para transporte próprio, sem está
presente nos pontos específicos ou cadastrados para transporte de pessoas na cavalgada durante
a feira de exposição da cidade realizada anualmente pelo Sindicato Rural de Imperatriz
(SINRURAL).
Segundo Araújo e seus colaboradores (2008), nos equinos a infecção ocorre
predominantemente através da via oral, sendo pela ingestão de água contaminada ou alimento.
Porém, os animais que são utilizados nesse tipo de “serviço de tração” possuem contato direto
de convívio entre eles nos pontos de carroceiros, contudo, não há um compartilhamento de
materiais como água e alimentos nesses pontos, cada proprietário tem um local próprio onde é
fornecido especificamente para seus animais, o que pode ser demostrado pelos animais
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positivos serem coletados em pontos diferentes de coleta.


CONCLUSÕES
A brucelose equina é uma doença que ainda tem muito do que ser estudada,
principalmente relacionado a transmissão da bactéria entre os equinos que residem na área
urbana como foi apresentado. Pois, muitas pesquisas relacionam o contato do equino a manejo
de bovinos e suínos principalmente como a principal causa, porém, neste caso, os animais não
são utilizados para tal finalidade, contudo, não pode se descartar que em algum momento já foi
utilizado este manejo, podendo assim deduzir que nesse momento que houve a contaminação.
É necessário realizar o teste confirmatório da doença nos equinos, mas os dados já
apontam para cerca atenção que deve ser dispensada aos animais e aos carroceiros, pelos órgãos
de defesa animal, uma vez que os equinos infectados podem ser fonte de contaminação e ainda
pelo potencial zoonótico da enfermidade.
Portanto, novas pesquisas devem ser efetuadas nesse tema, devido a característica
zoonótica e contagiosa da doença, além de debilitante, e por ser uma doença que não tem cura,
deve-se foca na prevenção não somente de bovinos e bubalinos, mas também para as outras
espécies que são afetadas de forma negativa.

APOIO FINANCEIRO
Universidade Estadual da Região Tocantina do Maranhão - UEMASUL
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ANTUNES, S.D. et al. Sorologia para Brucella abortus em cavalos de carroça de área urbana
do Brasil. Arq. Bras. Med. Vet. Zootec., v.65, n.2, p.619-621, 2013.

Brasil. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Secretaria de Defesa


Agropecuária. Departamento de Defesa Animal. Manual Técnico do Programa Nacional de
Controle e Erradicação da Brucelose e Tuberculose – PNCEBT: legislação. Brasília: 2006.
Carrazza, L. G. et al. SOROEPIDEMIOLOGIA DA BRUCELOSE EM EQUINOS DE
TRAÇÃO EM ÁREAS URBANAS NO MUNICÍPIO DE UBERLÂNDIA-MG. Horizonte
Científico VOL 4, Nº 2. JAN 2010.
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Grande do Norte, Brazil. Semina: Ciências Agrárias, vol. 34, núm. 3, mayo-junio, 2013, pp.
1281-1286 Universidade Estadual de Londrina Londrina, Brasil.

Fim, G. A. J. et al. Ocorrência De Brucelose Equina: Relato De Caso. II Simpósio Internacional


de Medicina Veterinária Preventiva (II SIMPREV - 2015). ARS VETERINARIA, Jaboticabal,
SP, v.31, n.2, p.79, 2015.
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Melo, L. C. S.; Küng, E. S.; Revorêdo, R. G.; Filho, J. A. C. L.; Silva, J. G.; Silva, L. B. G.;
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EM CIDADES DA ZONA DA MATA PERNAMBUCANA. XIII JORNADA DE ENSINO,
PESQUISA E EXTENSÃO – JEPEX 2013 – UFRPE: Recife, 2013.
Oliveira, Clarisse Silva de Menezes et al. SOROPREVALÊNCIA DE BRUCELOSE EM
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Congresso Paraibano de Medicina Veterinária - Sousa, 2022.
Pinto, G. H. L.; Aguiar, K. A.; Santos, S. A.; Babboni, S. D. IMPORTÂNCIA DA
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PNCEBT - Programa Nacional de Controle e Erradicação da Brucelose e da Tuberculose
Animal. Disponível online: https://www.gov.br/agricultura/pt-br/assuntos/sanidade-animal-e-
vegetal/saude-animal/programas-de-saude-animal/pncebt/controle-e-erradicacao-da-
brucelose-e-tuberculose-pncebt (Acesso em 10 de setembro de 2022).
Ribeiro, M. G. et al. Brucelose equina: aspectos da doença no Brasil. Rev Bras Reprod Anim,
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Silva, J. S. V. et al. Brucelose Equina e o Agronegócio 3. 7ª jornada científica e tecnológica,
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