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A SCARIDÍASE

Vermes adultos de Ascaris lumbricoides

É uma verminose causada pelo nematóide Ascaris lumbricoides, popularmente conhecido por lombriga, e que tem como habitat o intestino
delgado. É considerado o mais “cosmopolita” dos parasitos humanos. Os vermes adultos são e cilíndricos, sendo que as fêmeas medem cerca de
30 a 40 cm de tamanho e os machos de 15 a 30 cm. As fêmeas possuem a parte posterior retilínea e os machos são facilmente reconhecíveis pelo
enrolamento ventral de sua extremidade caudal.

MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS
Habitualmente o parasitismo por Ascaris é assintomático. As manifestações mais frequentes nos casos sintomáticos são: dor abdominal, náuseas,
vômitos, diarréia e anorexia. É comum a criança eliminar os vermes pela boca, pelas narinas ou pelo ânus, antes ou durante o quadro clínico. Em
crianças é muito comum o aparecimento de manchas claras e circulares no rosto, denominadas “panos”.

Em virtude do ciclo pulmonar das larvas, alguns pacientes apresentam manifestações pulmonares com febre, tosse, dispnéia do tipo asmatiforme,
bronquite e broncopneumonia, caracterizando a síndrome de Loeffler, que cursa com eosinofilia sanguínea elevada. Quando a carga parasitária é
grande, pode ocorrer quadro de obstrução intestinal, apendicite aguda e manifestações decorrentes da migração dos vermes adultos para o fígado
e canais biliares, perintonites, pancreatites e hepatites.

Ovos férteis de Ascaris lumbricoides


MODO DE TRANSMISSÃO
Ingestão de ovos larvados, procedentes do solo, água ou alimentos contaminados com fezes humanas. Poeira e insetos podem veicular
mecanicamente os ovos de A. lumbricoides. A transmissão também pode ocorrer pela contaminação do depósito subungueal com ovos viáveis.

DIAGNÓSTICO LABORATORIAL
O diagnóstico laboratorial da ascaridíase baseia-se no exame parasitológico de fezes com pesquisa de ovos do parasito. Os vermes adultos de A.
lumbricoides podem ser encontrados ao exame macroscópico das fezes. Na fase de migração larvária podem ser encontradas larvas no escarro

Parasitoses intestinais:
prevalência e aspectos
epidemiológicos em moradores de
rua
Intestinal parasites: prevalence and
epidemiological aspects in homeless people
Rafael Souza Antunes1
Anny Priscilla Ferreira de Souza2
Elismar de Fátima Pinheiro Xavier2
Priscilla Rodrigues Borges3
Mestre. Universidade Federal do Goiás (UFG). Goiânia-GO, Brasil.
1

Graduada em Farmácia. Faculdade Anhanguera de Anápolis. Anápolis-


2

GO, Brasil.
Biologia. Mestre. Universidade Federal do Goiás (UFG). Goiânia-GO,
3

Brasil.
Instituição: Faculdade Anhanguera de Anápolis. Anápolis-GO, Brasil.
Recebido em 13/08/2019
Artigo aprovado em 30/01/2020
DOI: 10.21877/2448-3877.202000894

INTRODUÇÃO

As doenças parasitárias constituem uma das principais causas de morte


mundial e abrangem cerca de dois a três milhões de óbitos por ano. (1) As
parasitoses intestinais constituem um grave problema de saúde pública,
especialmente nos países em desenvolvimento. No Brasil, apresentam-se
bastante disseminadas e com alta prevalência, decorrente das más
condições de vida.(2) Essas doenças muitas vezes cursam de forma
silenciosa, o que pode dificultar seu diagnóstico, tratamento adequado e
profilaxia. No entanto, sintomas como diarreia, desnutrição, anorexia,
fraqueza e dor abdominal são algumas das consequências dessas
doenças.(3)

As parasitoses intestinais são causadas por helmintos e protozoários que


se manifestam no organismo dos seres vivos, provocando uma série de
efeitos nocivos à saúde do infectado.(4) Estão associados a fatores
sociais, econômicos, ambientais e culturais que proporcionam condições
favoráveis à disseminação. Os indivíduos afetados são, em maioria, os
residentes em áreas que ainda carecem de infraestrutura, sendo
expostos constantemente às formas infectantes, seja através de
alimentos contaminados, contato direto com o solo, capacidade de
evolução das larvas e ovos de helmintos, e de cistos de protozoários,
higiene pessoal e coletiva.(5)

Uma revisão dos estudos epidemiológicos das parasitoses intestinais no


Brasil detecta que o número de infectados ainda continua grande,
levando em consideração pesquisas realizadas na década de 1950 com
números de positividade variando de 78,2% a 99,4%, e pesquisas
realizadas na década de 1980, ainda com taxas elevadas, oscilando entre
20,2% a 98,0%, dependendo do estado.(6) Na década de 1990, as
pesquisas apresentaram positividade nas faixas de 43,2% a 87,2%, e
estudos realizados nas capitais de São Paulo e Rio de Janeiro entre os
anos de 1999 a 2001 revelaram taxas de prevalência próximas a 52,0%.
(7)
Resultados relativamente altos, por já existirem políticas de
conscientização à prevenção e diminuição dessas parasitoses, aplicadas
desde 1950.

Alguns fatores epidemiológicos são indispensáveis para que ocorra a


infecção parasitária, sendo eles: condições do hospedeiro, o parasito e o
meio ambiente. Em relação ao hospedeiro, incluem a idade, estado
nutricional, fatores genéticos, cultural, comportamentais e profissionais;
ao parasito, incluem a resistência ao sistema imune do hospedeiro e os
mecanismos de escape vinculados à transformação bioquímica e
imunológica ao longo do ciclo do parasito; e, em relação aos fatores
ambientais, exercem papel ecológico importante no ciclo de vida de
vários parasitos e vetores.(8)

Moradores de rua geralmente são pessoas que não possuem mais


documentos, trabalho formal ou moradia fixa. Também encontram-se
com vínculos familiares e sociais muitas vezes rompidos, o que os
conduz a um estado de crescente degradação e vulnerabilidade. Mesmo
que no Brasil existam soluções informais para enfrentar o problema da
falta de moradia, um grande número de pessoas acaba nas ruas devido à
falta de políticas públicas de apoio.(9) O acolhimento desses indivíduos é
essencial, uma vez que o ato ou efeito de acolher expressa, em suas
várias definições, ações de aproximação e atitude de inclusão. A partir
desse ato de acolhimento, os moradores de rua são passíveis ao
desenvolvimento de ações de educação e promoção à saúde.(2)

Os moradores de rua vivem um processo saúde-doença devido à


convivência com a aglomeração de pessoas e do acesso à saúde
dificultada, e quando há procura espontânea pelo serviço de saúde
existem as barreiras por estarem relacionados ao alcoolismo, uso de
drogas e criminalidade. Nestas condições, a saúde fica ainda mais
comprometida por viverem em situação de miséria e de inutilidade
social.(10)

O levantamento da positividade de parasitoses intestinais na população


de moradores de rua pode relatar não somente as deficiências na
qualidade de atendimento à saúde e condições sociais dos mesmos, mas
também indicar a necessidade da implantação de programas de controle
dos parasitos, visando melhorar o estado sanitário e consequentemente
reduzir os índices de contaminação.(11)

Nesta perspectiva, este estudo teve como objetivo principal identificar a


prevalência das parasitoses intestinais, sintomatologia e características
condicionais em moradores de rua da cidade de Anápolis-GO.

MATERIAL E MÉTODOS

Local e população de estudo

A pesquisa foi realizada no município de Anápolis, localizado na região


centro-oeste do Goiás, Brasil, com uma área territorial de 933.156 km2,
sendo sua população estimada no ano de 2019 de 386.923 habitantes, de
acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE).(12)

Trata-se de um estudo epidemiológico transversal, analítico e


retrospectivo, com base na coleta de dados obtidos através do exame
parasitológico de fezes (EPF) e análise do questionário sintomatológico.
A coleta foi realizada no período de junho a novembro de 2014 em
diferentes locais da cidade como albergues, rodoviária, praças e
prefeitura municipal. Foram incluídos na pesquisa indivíduos capazes de
responder ao questionário e coletar a amostra de fezes. Os participantes
assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).

As variáveis adotadas foram: idade, sexo, informações epidemiológicas,


tais como cor de pele (brancos e não brancos – pardos, negros, amarelos
e indígenas), escolaridade (alfabetizados e analfabetos), consumo de
bebidas alcoólicas e outras drogas ilícitas, além de informações
sintomatológicas comuns em parasitoses intestinais como diarreia, dor
abdominal, fraqueza, cansaço, perda de apetite e irritabilidade nervosa.
Todos categorizados em sim ou não.

Diagnóstico parasitológico

Para a análise parasitológica de fezes utilizaram-se dois métodos. O


método de sedimentação espontânea – técnica de Hoffman, Pons e
Janner (1934)(13) para detecção de ovos de helmintos e cisto de
protozoários, e o método de Baermann-Moraes (1948)(14) para detecção de
larvas de nematódeos, já que havia suspeita de que esses indivíduos
estivessem infectados com Strongyloides stercoralis. Foram
confeccionadas duas lâminas para cada uma das técnicas por amostra e
leitura em microscópio óptico.

Análise estatística

A análise estatística realizou-se por meio da distribuição das frequências


absoluta e relativa, média, desvio-padrão e amplitude, e,
consequentemente, foi utilizado o teste de qui-quadrado para variáveis,
sempre que necessário, e o teste t de Student para variáveis contínuas (p
< 0,05).

Considerações éticas

Por se tratar de uma análise baseada nos dados dos resultados gerados a
partir da prática da medicina laboratorial, o presente trabalho foi
submetido e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Associação
Anhanguera Educacional Ltda de acordo com o protocolo nº 37494214.
5.0000.5372.

RESULTADOS

Participaram do estudo 43 moradores de rua, dos quais 30,23% (n = 13)


do sexo feminino e 69,77% (n = 30) o sexo masculino. A idade da
população variou de 18 a 65 anos, com idade média de 37,62 ± 12,21
anos. As demais variáveis e características condicionais dos indivíduos
estudados estão descritas na Tabela 1.
A prevalência de parasitoses intestinais foi de 67,44% (n = 29). Desses,
62,07% foram poliparasitados, caracterizados como indivíduos infectados
por mais de um parasito intestinal.

A frequência dos parasitos intestinais nos moradores de rua está


descrita na Tabela 2. Observou-se predominância de protozoários
(67,30%) em relação a helmintos (32,70%) e foram encontrados oito tipos
de parasitos, sendo os mais comuns: Entamoeba
histolytica (21,15%); Entamoeba coli (17,31%) e Endolimax
nana (15,38%).
As espécies que mais apresentaram convívio com outras foram E.
coli e E. nana, sendo as associações verificadas: E. coli e E. nana; E.
histolytica e E. coli; A. lumbricoides e E. nana; S. stercoralis, E.
coli e E. nana; e por fim G. lamblia, E. coli e E. nana.
Neste estudo, os sinais e sintomas apresentados pelos indivíduos
parasitados (n = 29) se comportaram da seguinte maneira: dor abdominal
(86,20%;25/29) seguida ou não de diarreia (68,96%;20/29); irritabilidade
nervosa (75,86%;22/29); fraqueza e/ou cansaço (65,52%;19/29); e perda
de apetite (34,48%;10/29).

A Tabela 3 apresenta a prevalência dos parasitos intestinais e sua


relação com as variáveis, características condicionais e sintomatologia
dos moradores de rua.
DISCUSSÃO

Neste trabalho, a análise do EPF em moradores de rua de Anápolis-GO


apresentou-se com uma prevalência de 67,44% (29/43) e uma diversidade
de oito parasitos intestinais (Tabela 2), levando em consideração que o
EPF é considerado um dos recursos fundamentais para o diagnóstico das
parasitoses intestinais.(1) Em relação ao poliparasitismo, mostrou-se
frequente em 62,07% (18/29) dos casos positivos, o que ressalta a
necessidade de estudos que possam avaliar melhor o impacto na saúde
de indivíduos que apresentam infestação por mais de uma espécie de
parasitos, corroborando com estudos que confirmam altos índices de
pessoas parasitadas por enteroparasitos, o que reflete uma
infraestrutura sanitária e hábitos higiênicos precários.(15,16)
Quanto ao gênero, a maioria dos indivíduos era do sexo masculino
(69,77%;30/43) (Tabela 1). Em sua maioria, os principais motivos que os
levaram às ruas foram: desentendimentos familiares, dependência de
vícios, distúrbios mentais e incapacitação para o trabalho devido à
mutilação de membros do corpo, ou patologias, sendo os indivíduos do
sexo masculino mais propícios a procurar vias públicas para sustento
próprio e de familiares, tornando-os vulneráveis a morar nas ruas.
(9)
Segundo alguns entrevistados, a sociedade encara-os de forma
discriminada, identificando-os como se todos fossem pertencentes a um
grupo homogêneo em que prevalecem pessoas sem objetivos na vida. O
álcool e as drogas fazem parte da vida de muitos entrevistados, apesar
de não ter sido verificada, neste estudo, associação com frequência de
parasitos (p = 0,339); no entanto, este quesito traz conotação ruim aos
seus dependentes, o que ocasiona discriminação por parte da sociedade.
(17)

Vale ressaltar que os moradores de rua vivem em condições precárias de


higiene e exclusão social, estão diretamente expostos a agente
infecciosos através do contato direto com o solo por andarem descalços
e/ou deitados em áreas de terras das praças e jardins. Quanto ao local de
defecação, utilizam na maioria das vezes vias públicas, incluindo ruas e
praças, e, no tocante às atividades de trabalho, uma grande parcela
exerce funções que envolvem alimentos.(18)

Nestas condições, os resultados do estudo (Tabela 2), mostraram que as


infecções causadas por protozoários (67,30%;35/52) foram
significativamente superiores à de helmintos (32,70%;17/52) (p = 0,001),
como tem sido demonstrado em outras populações.(4) Dos parasitos pato-
gênicos, os que apresentaram maiores frequências foram a E.
histolytica (21,15%;11/52), a G. lamblia (13,46%;7/52), que, segundo
outros estudos, é o parasito intestinal mais encontrado nos humanos,
(19)
e o A. lumbricoides (13,46%;7/52). Todos esses parasitos são
comumente encontrados em populações carentes de saneamento básico,
que vivem em condições precárias de higiene e são facilmente
disseminados pela prática oral fecal. São comuns também em países em
desenvolvimento, o que está de acordo com os resultados encontrados
neste trabalho.(20)

Em diversos países, muitas pessoas estão infectadas por amebas


comensais, mas a maioria dos indivíduos possui um quadro
assintomático.(21) A detecção de amebas comensais, como E.
coli (17,31%;9/52) e E. nana (15,38%; 8/52) indica que esses indivíduos
ingeriram água ou alimentos contaminados.(22) A E. histolytica, dentre as
amebas encontradas neste estudo, é a única considerada invasiva, o que
confirma os sintomas de dores abdominais (p = 0,002) e diarreias (p =
0,012) apresentadas pelos entrevistados (Tabela 3).

A G. lamblia tem sido alvo de pesquisas sobre síndromes diarreicas, o


que consolidou o quadro clínico de disenterias apresentado por alguns
indivíduos. Neste caso, a contaminação pode ser devido ao fato de que
os cistos dos protozoários são resistentes ao tratamento da água com
cloro, e a transmissão pode ocorrer de forma interpessoal entre pessoas
infectadas, pois os cistos são infectantes quando eliminados nas fezes, o
que ocasiona, além das dores abdominais e diarreias, a sensação de
fraqueza e cansaço (p = 0,049) aos parasitados.(8)

O A. lumbricoides apresentou-se como helminto de maior frequência, e


isso pode estar relacionado à resistência do ovo em altas e baixas
temperaturas no solo, o que pode facilitar sua sobrevivência e
disseminação. É considerado o helminto de maior preocupação em saúde
pública, pois estima-se que esteja presente em ¼ da população mundial
e pode causar quadros sumamente graves e fatais.(23) Traz aos infectados
sinais e sintomas como dor abdominal, irritabilidade nervosa (p = 0,036) e
perda de apetite (p = 0,097), apesar de que este último sintoma não
apresentou associação por apontar um p > 0,05, mas, mesmo assim,
mostrou-se presente em muitos entrevistados.

O S. stercoralis (11,54%;6/52), E. vermiculares (5,77%;3/52) e o A.


duodenale (1,93%;1/52) são parasitos nocivos à saúde e também
encontrados na população estudada. A forma de infecção está
diretamente relacionada a hábitos de higiene e ocorre principalmente por
meio de contato direto com o solo contaminado, geralmente pelo
costume de andar descalço, mãos contaminadas, alimentos, e, menos
comumente, pela água.(24) A autoinfecção externa é o principal
mecanismo responsável pela cronicidade destas parasitoses e ocorre
quando há penetração na pele por larvas filarioides, o que é o caso
dos S. stercoralise A. duodenale(25) ou quando pessoas levam os ovos
do ânus à boca (E. vermiculares), sendo consequência do prurido anal e
mal hábitos de higiene.(24-26)

A mudança de hábitos e o desenvolvimento de uma imunidade


progressiva auxiliam na diminuição da frequência de parasitos
intestinais. No entanto, com o passar dos anos ocorre um
comprometimento do sistema imune, favorecendo também o surgimento
de doenças parasitárias.(7) Neste estudo, observou-se uma maior
frequência de parasitos intestinais em indivíduos com faixa etária entre
31 a 65 anos quando comparados aos indivíduos de 18 a 30 anos (Tabela
3).

Diante disto, percebe-se que o pico da função imunológica acontece na


adolescência, mantendo-se estável nos adultos saudáveis e diminuindo
nas fases mais avançadas da vida, mostrando que, com o
envelhecimento, as defesas imunológicas podem ficar enfraquecidas,
deixando o indivíduo mais susceptível a certos tipos de infecções
parasitárias.(27)

Neste trabalho, não foi verificada associação com o gênero (masculino e


feminino) e a escolaridade dos indivíduos (alfabetizados e analfabetos), o
que reforça a ideia de que as questões de educação sanitária e higiene
ambiental são os principais determinantes de infecções por parasitos
intestinais.(28) No entanto, a variável de cor da pele apontou ter
associação para indivíduos considerados não brancos (pardo, preto,
amarelo e indígenas), o que leva à percepção de que essa condição
também é determinante para infecções intestinais em moradores de rua
da cidade de Anápolis-GO. Essa evidência corrobora com outros estudos
que apontam indivíduos negros como mais susceptíveis às condições de
pobreza e, consequentemente, à vivência em locais desprovidos de
saneamento básico e água tratada, o que não está muito distante da
realidade enfrentada por moradores de rua.(29,30)

A alta prevalência de parasitoses intestinais em moradores de rua


verificada neste trabalho revela sua importância epidemiológica e
clínica, demostrando que essas infecções são ainda relevantes na
questão de saúde pública. Logo, desperta a necessidade de se
pesquisarem as parasitoses na população de estudo, juntamente com a
sintomatologia e características condicionais que possibilitem conhecer
a magnitude do problema e adotar medidas cabíveis.

Além disso, existe ainda a possibilidade de serem utilizadas por


autoridades de saúde para orientar a formulação de políticas públicas e
sociais que venham a melhorar as condições socioeconômicas,
sanitárias e educacionais, refletindo na saúde e na qualidade de vida da
população de rua.

CONCLUSÃO

Os resultados desta pesquisa demonstraram que existem parasitoses


intestinais em moradores de rua da cidade de Anápolis-GO, Brasil,
chamando atenção para sua elevada prevalência e necessidade de
adoção de medidas de prevenção e controle. O potencial de
disseminação dos parasitos foi evidenciado pela contaminação de logra-
douros públicos, transformando-os em verdadeiros focos de transmissão
de parasitos intestinais. Dessa forma, os resultados apresentaram um
problema de saúde pública, e isto fortalece a importância do papel da
prevenção por meio de melhorias das condições socioeconômicas, de
saneamento básico e de educação em saúde.

Agradecimentos

Os autores agradecem à Faculdade Anhanguera de Anápolis pelo apoio e


oportunidade de realização deste trabalho.

Abstract
Objective: Analyze intestinal parasites in homeless people in the city of
Anápolis-GO and identify the main signs and symptoms. Methods: The
study was carried out based on laboratory data, in which two methods
were used for the parasitological diagnosis, spontaneous sedimentation –
Hoffman, Pons and Janner technique and the Baermann-Moraes method.
A questionnaire with information related to symptoms and
epidemiological aspects was also applied. Results: 43 individuals
participated in the research. The prevalence of intestinal parasites in the
population studied was 67.44% (29/43), of which 62.07% (18/29) had
multiple parasites. There was a predominance of protozoa (67.30%;
35/52) in relation to helminths (32.70%; 17/52). The most prevalent
parasites were: Entamoeba histolytica (21.15%; 11/52), Entamoeba
coli (17.31%; 9/52) and Endolimax nana (15.38%; 8/52). Among the signs
and symptoms, abdominal pain (86.20%; 25/29), nervous irritability
(75.86%; 22/29) and diarrhea (68.96%; 20/29) stood out. The data
demonstrated that there is a relationship between intestinal parasitosis
and the signs and symptoms presented. Conclusion: The frequency of
intestinal parasites was high and there was an association of parasitic
infections with conditional characteristics such as lifestyle and health
conditions, in addition to presenting a possible contribution to future
studies that report the importance of preventing and treating parasitic
diseases in humans.

Keywords
Parasitic diseases; homeless persons; epidemiology

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baiano. Aletheia. 2018;51(2):97-107.

Correspondência
Rafael Souza Antunes
Faculdade Anhanguera de Anápolis
Avenida Universitária, nº 683 – Centro
Anápolis-GO, Brasil

Qual a diferença entre incidência e


prevalência?
Tanto a prevalência como a incidência são medidas da
ocorrência de uma doença em uma população. Enquanto
a prevalência se refere ao número total de casos de uma
doença em um período de tempo, a incidência refere-se
apenas aos novos casos.

Incidência e prevalência

Qual a diferença entre incidência e


prevalência?
Tanto a prevalência como a incidência são medidas da ocorrência de uma doença em
uma população. Enquanto a prevalência se refere ao número total de casos de uma
doença em um período de tempo, a incidência refere-se apenas aos novos casos.

Incidência Prevalência

A prevalência é o número de casos de


Incidência é a taxa de uma doença em uma população,
manifestação de uma durante um período específico de
Definição determinada doença. tempo.

Mede a proporção da população que já


Mensura O surgimento da doença. tem a doença.

Calculo da taxa A taxa de incidência é o número A taxa de prevalência é calculada


de novos casos de uma doença, usando o número de indivíduos
Incidência Prevalência

dividido pelo número de pessoas afetados em determinado momento,


em risco. dividido pelo número total de pessoas.

Tempo de
diagnóstico de Casos de sobreviventes,
doença Recém diagnosticada. diagnosticados a qualquer momento.

Denominador População em risco. População total.

Casos analisados Conta apenas novos casos. Conta todos os casos.

Requer o acompanhamento de
indivíduos em uma população
Acompanhamento para identificar novos casos. Não necessita de acompanhamento.

Depende da duração, pois uma longa


Fator de duração Não depende da duração da duração acabará por aumentar a
da doença doença. prevalência de uma doença.

Para estimar o ônus da população de


Quando é usada Quando se estuda causa e efeito. uma doença crônica.

As medidas de prevalência e incidência servem para calcular o


risco de doenças que afligem uma determinada população.

O que é incidência
Incidência refere-se à taxa de manifestação de uma
determinada doença. É usado para medir a taxa de ocorrência
de uma doença em um determinado período, lidando com o
número de novos casos diagnosticados em uma população,
durante um período específico.
Ele fornece informações sobre o risco das pessoas serem
acometidas pela doença e é muito importante no estudo de
suas causas.

O que é prevalência
A prevalência refere-se ao número de casos de uma doença em
uma população, durante um período específico de tempo. Deste
modo, ela determina o número total de casos de uma doença
em uma dada população e o impacto que isso tem na sociedade,
levando em consideração casos antigos e novos.

O cálculo da prevalência pode ser feito de dois modos. A


prevalência de período é aquela calculada com base em um
período de tempo, já a prevalência pontual é calculada em cima
de um ponto específico no tempo.

Exemplo de incidência e prevalência


Supondo que tenha ocorrido um surto generalizado de malária
no Rio de Janeiro em 2008, causando vários casos de morte,
mas que foi contido após um ano. Neste caso, podemos dizer
que o surto de malária teve alta prevalência e alta incidência
durante o ano de 2008.

No entanto, no ano de 2009, a incidência será baixa, mas a


prevalência permanece alta porque a malária leva tempo para
ser curada, e uma parte da população ainda estava em
tratamento.

Já no caso de uma epidemia de gripe, a incidência pode ser


alta, mas não contribui para um grande crescimento da
prevalência, visto que essa doença se resolve de um modo
rápido.
Prevalência de enteroparasitoses na população do
município de Maria Helena, Paraná

Prevalence of enteroparasitosis in the population of Maria


Helena, Paraná State

Simone Aparecida dos SantosI; Luiz Sérgio MerliniII


I
Curso de Pós-Graduação em Vigilância Sanitária e Epidemiologia em Saúde,
Universidade Paranaense. Praça Mascarenhas de Moraes, 4282, Centro. 87502-210
Umuarama PR. sisimoni100@yahoo.com.br
II
Departamento de medicina Veterinária, Universidade Paranaense

RESUMO

O estudo epidemiológico dos parasitas intestinais tem por objetivo determinar as


principais doenças e seus respectivos agentes etiológicos que se encontram
distribuídos por todo o mundo, de forma endêmica ou epidêmica. O objetivo desta
pesquisa foi avaliar a prevalência de infecção por enteroparasitoses, em qual idade
há sua maior prevalência, relacionando a infecção com a idade, o sexo e a região
em que a pessoa vive, no município de Maria Helen (PR). A coleta de dados foi
realizada de junho de 2004 a maio de 2006. Foram analisadas 431 amostras de
fezes pelo método de sedimentação espontânea e centrífugo-flutuação. A
prevalência de enteroparasitoses foi de 16%, sendo os enteroparasitas mais
frequentes: Endolimax nana (6,5%), Entamoeba coli (3,5%), Giardia intestinalis
(6,3%), Ascaris lumbricoides (1,4%), Strongyloides stercoralis (0,7%), Entrobius
vermicularis (0,7%), Ancilostomídeo (0,2%), Entamoeba hystolitica e Taenia sp
(0,2%). O poliparasitismo foi detectado em 3,2% das amostras. A faixa etária que
apresentou maior prevalência foi de zero a nove anos, porém não houve diferença
estatística entre os fatores analisados, uma vez que p>0,05. Diante desses
resultados, conclui-se que o município apresenta características similares em
relação à zona rural e urbana.

Palavras-chave: Parasita, Saneamento, Medidas higiênicas, Exames


cropoparasitológicos
ABSTRACT

The epidemiological study on intestinal parasites has the purpose of determining


the main diseases and their respective etiologic agents, which are endemically or
epidemically spread worldwide. The aim of this study was to evaluate the
enteroparasitosis infection prevalence, in which age group they prevail, relating the
infection with age, gender, and the region in which the person lives, in the city of
Maria Helena - PR. Data collection was performed from June of 2004 to May of
2006. 431 samples of feces were analyzed through the spontaneous sedimentation
and centrifugal fluctuation methods. The enteroparasitosis prevalence was of 16%,
being the most frequent enteroparasitosis: Endolimax nana (6.5%), Entamoeba coli
(3.5%), Giardia lamblia (6.3%), Ascaris lumbricoides (1.4%), Strongyloides
stercoralis (0.7%), Entrobius vermicularis (0.7%), Anchylostomiasis (0.2%),
Entamoeba hystolitica and Taenia sp (0.2%). Poly-parasitism was found in 3.2% of
the samples. The age group from 0 to 9 years presented the highest prevalence,
however there was no statistical difference among the analyzed factors since
p>0.05. From these results, it was possible to conclude that the city presents
similar characteristics both in rural and urban zones.

Key words: Parasite, Sanitation, Hygienic measures, Coproparasitological


examinations

Introdução
As infecções por helmintos e enteroprotozoários estão entre os mais frequentes
agravos do mundo. Quando o parasita está presente no seu hospedeiro, ele busca
benefícios que garantam sua sobrevivência. De um modo geral, essa associação
tende para um equilíbrio, pois a morte do hospedeiro é prejudicial para o parasito.

As enteroparasitoses podem afetar o equilíbrio nutricional, pois interferem na


absorção de nutrientes, induzem sangramento intestinal, reduzem a ingestão
alimentar e ainda podem causar complicações significativas, como obstrução
intestinal, prolapso retal e formação de abscessos, em caso de uma
superpopulação, podendo levar o indivíduo à morte1.

A susceptibilidade às enteroparasitoses varia, dentre outros fatores, com as


condições econômicas da população. As parasitoses intestinais apresentam uma
distribuição cosmopolita, sendo que as maiores prevalências ocorrem nos países em
desenvolvimento, especialmente em áreas onde as condições de saneamento e de
educação sanitária se mostram deficientes1 .

Com estudo de distribuição geográfica dos parasitas, podemos distinguir, logo de


início, os que não se utilizam dos hospedeiros invertebrados e os que neles fazem
propagação. Podemos dizer, de modo geral, que os parasitas sem hospedeiros são
animais cosmopolitas , que acompanham o homem em todos os seus lugares de
temperatura suficiente para assegurar a sua evolução. Incluem-se aqui as
entamoebas, os flagelados intestinais, o Enterobius, o sarcoptes da sarna, etc.,
que se disseminam unicamente pela falta de higiene. Propagam-se
independentemente de condições externas2.

O parasitismo envolve, em geral, um contato íntimo entre os tecidos do parasita e


do hospedeiro; o parasita respira e metaboliza substâncias que são eliminadas no
organismo do hospedeiro que, por sua vez, reage a esses produtos. Em
consequência disso, os parasitas exercem várias ações sobre seus hospedeiros,
como mecânicas, em que os parasitas lesam diretamente os tecidos, perturbam as
funções mecânicas dos órgãos; ação espoliadora, em que os parasitas subtraem
suas substâncias nutritivas do organismo hospedeiro e ação irritativa e
inflamatória, que é encontrada em quase todas as parasitoses e provocada pela
liberação de produtos tóxicos - quer produtos do catabolismo do parasita, quer os
produtos resultantes da sua desintegração após a morte 2.

A intensidade da manifestação depende da idade, estado nutricional, carga


parasitária, espécie do parasito e de associações com outros vermes. Como
exemplo, podemos citar o ancilostomídeo, que quando se encontra em grande
número no indivíduo, sua principal manifestação é a síndrome anêmica 3.

Inúmeros trabalhos têm evidenciado o alto grau de contaminação de pessoas das


mais variadas idades, principalmente as crianças, por enteroparasitas. Esse
fenômeno é de extremo interesse em saúde pública4.

Em consequência da elevada prevalência e ação patogênica, especialmente em


infecções em crianças, o presente trabalho tem como objetivo avaliar a prevalência
de infecção por enteroparasitoses na população do município de Maria Helena (PR)
e em qual idade há sua maior prevalência, relacionando a infecção com a idade, o
sexo e o local em que a pessoa vive.

Material e métodos
Local da pesquisa

O município de Maria Helena situa-se na região noroeste do Paraná, com uma área
de 491,5 km2 e com uma altitude de 630 metros acima do nível do mar, sendo a
latitude 23º 35'30'' sul e longitude 53º12'W de GR. Apresenta uma população total
de 5.752 habitantes, sendo 2.920 homens e 2.832 mulheres. A temperatura média
anual é de 20º a 25º C, sendo que a média anual de temperatura máxima é de 29º
a 40º C, e a média anual de temperatura mínima é de 14º a 18º. A umidade
relativa tem os valores médios anuais em torno de 75% 5.

De acordo com o Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e


Social6 (IPARDES), a população censitária do município de Maria Helena segundo a
localidade no ano de 2000 era de 2.719 habitantes na zona urbana e 3.665 na
rural.

Coleta dos dados

Os dados foram coletados no laboratório de Análises Clínicas de Maria Helena (PR),


em 431 indivíduos, mediante a aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa
Envolvendo Seres Humanos da Universidade Paranaense, protocolo nº 2072/ 2006,
no período de junho de 2004 e maio de 2006, através do exame parasitológico das
fezes.

Os estágios usuais de diagnóstico são os ovos, as larvas de helmintos e os


trofozoítos, cistos, oocistos e esporos de protozoários. Em geral, os nematóides,
como Ascaris lumbricoides, ancilostomídeos e Trichuris trichura emitem ovos
com certa continuidade, os quais podem ser detectados diariamente nas fezes. Em
outras espécies de parasitos, especialmente nos protozoários, a emissão dos
estágios é irregular7.

Para verificação da presença de enteroparasito, foi solicitada uma única amostra de


fezes, colhida pela manhã no dia da realização do exame. Foram utilizados os
métodos da sedimentação espontânea e da centrífugo-flutuação, segundo Pessoa e
Martins2. O exame foi considerado positivo quando se observou pelo menos uma
espécie de parasito (helminto ou protozoário) na amostra.

Como instrumento de coleta, foi utilizado uma ficha, onde, além do resultado do
exame coproparasitológico, foram registrados os dados epidemiológicos (sexo,
idade, época do ano, local de residência) relacionados a cada paciente no período
de estudo.

Análise dos dados

A associação dos resultados dos exames coproparasitológicos com as variáveis


epidemiológicas foi verificada pelo teste de c2, utilizandose o programa Epi Info
2002, considerando-se o nível de significância de 5%.

Resultados e discussão
Durante o período de estudo, foi analisado um total de 431 amostras de fezes, na
faixa etária de zero a 89 anos, sendo que 69 apresentaram positivos para um ou
mais tipo de parasita, descrito na Tabela 1.
Observa-se uma porcentagem de positividade geral para enteroparasitas de 16%.
Dentre as espécies de enteroparasitas que foram encontradas nos exames das
amostras dos indivíduos pesquisados, a maior prevalência foi Endolimax
nana (6,5%), Entamoeba coli (6,3%) e Giardia intestinalis (3,5%)

As parasitoses intestinais estão relacionadas às condições sanitárias e representam


um importante problema de saúde pública nos países subdesenvolvidos.

Um dos principais motivos que justificam a alta prevalência de enteroparasitas


entre as comunidades decorre da elevada contaminação ambiental, o que necessita
prementemente de condições básicas de educação e saneamento.

Esta amplitude é compatível com Vieira et al.8, Oliveira et al.9, Prado et al.10 e
Nolla e Cantos11 em estudos sobre a prevalência de enteroparasitoses, que
apresentam semelhança em relação a maior número de indivíduos parasitados
por Endolimax nana. Apontam que os fatores determinantes do elevado
parasitismo foram atribuídos à menor renda familiar, ao número de pessoas
residentes em cada domicílio, à escolaridade e ao hábito de ingerir verduras e
frutas sem a devida higienização.

A variação que ocorre entre as taxas de prevalência é consequência da ação de


diversos fatores, tanto bióticos como abióticos.

Embora a E. nana e E. coli não sejam consideradas patogênicas, sendo comensais


no intestino humano, é importante salientar, porém, os índices encontrados, uma
vez que esse é um parâmetro para medir o grau de contaminação fecal a que os
indivíduos estão expostos12.

Para que se minimize o número de indivíduos infectados, é necessária aplicação de


medidas de controle, capazes de neutralizar os mecanismo de transmissão.
Segundo Gioia13, o Brasil conta com inquéritos epidemiológicos escassos, com um
grande intervalo de tempo entre eles, não sendo possível observar-se dinâmica das
enteropasitoses nos pais.

A Tabela 2 apresenta a frequência de pessoas parasitadas de acordo com o sexo.

De acordo com a idade, sexo e cultura, entre outros fatores, passam a existir
hábitos que favorecem ou não o encontro com o parasita. As variações na
frequência das doenças entre homens e mulheres podem ocorrer por diferenças
fisiológicas, intrínsecas ou comportamentais, sendo distribuídas por influência na
estrutura da população. Deve-se considerar também que os cuidados podem ser
diferenciados entre homens e mulheres, podendo haver dificuldade na busca de
tratamento e, ainda, diferenças nos critérios de diagnóstico devido às variações
clínicas podem apresentar-se de forma assintomática entre os sexos 14.

Através dos dados, verifica-se um maior número de pessoas parasitadas do sexo


feminino; porém, não há diferença estatística, uma vez que foram realizados maior
número de exames. Prado et al.10, estudando a prevalência e intensidade da
infecção por parasitas intestinais em crianças com idade escolar na cidade de
Salvador, relatam dados que se contrapõem à pesquisa, em que das 1.131
amostras de fezes analisadas, 66% apresentaram positividade para
enteroparasitoses, sendo 70,1% no sexo masculino e 62,1% do feminino.

Na Tabela 3, observamos que o maior número de exames foram realizados na faixa


etária de zero a nove anos, a qual também apresentou maior número de casos
positivos, em relação às demais faixas etárias.

Observa-se na Tabela 3 que as taxas de infestação dos parasitas é inversamente


proporcional à faixa etária do hospedeiro, o que também pode ser observado em
outros trabalhos, e está relacionado a fatores como o grau de imunidade e hábitos
de higiene adquiridos.

Crianças até nove anos de idade têm atividades de lazer geralmente em ambientes
externos, podendo ter contatos mais frequentes com geohelmintos, enquanto
crianças mais velhas estão mais restritas a ambientes fechados.

Ludwig et al.15 e Dias e Grandini16 relatam em seus estudos sobre condições de


saneamento básico e parasitoses intestinais que a maior faixa atingida por
enteroparasitoses está entre três e doze anos e, à medida que a idade aumenta,
tende-se à diminuição da prevalência. Diferentes autores realizaram trabalhos de
estudo sobre a frequência de enteroparasitoses em diferentes faixas etárias,
determinando que a faixa etária com índices mais elevados é a de cinco a doze
anos, situação muito semelhante à verificada no presente estudo, no qual as
maiores frequências foram observadas de zero a nove anos.

Dias e Grandani16, estudando a prevalência de enteroparasitoses na população de


São José da Bela Vista (SP), demonstraram dados similares à idade de maior
ocorrência de enteroparasitoses, apontando a faixa etária de zero a quinze anos
com maior número de indivíduos parasitados.

O fato é que essas infecções intestinais de origem parasitária podem atingir


diversas populações, independentes do sexo, mas com destaque importante para
crianças em idades escolar e préescolar, que estão mais susceptíveis aos fatores de
riscos.

Alguns fatores podem determinar uma maior susceptibilidade do hospedeiro às


infecções intestinas, como imunossupressão ou imunodepressão.

Os resultados de prevalência verificados no presente estudo estão em consonância


com a maioria das regiões do nosso país, excetuandose as regiões Norte e
Nordeste.

Na Tabela 4, observa-se que a zona urbana apresentou maior prevalência de


indivíduos parasitados e maior número de exames realizados, e que não houve
diferença estatística quando relacionado o local de moradia, se na zona rural ou
urbana.

Grande parte dos habitantes do município de Maria Helena são de baixo nível
socioeconômico. No presente estudo, verificou-se que todas as casas da região
urbana são abastecidas com água proveniente de poço artesiano, que é tratada
pela SANEPAR (Companhia de Saneamento do Paraná). O município não apresenta
rede de tratamento de esgoto. Já na zona rural, a fonte de abastecimento de água
ocorre por meio de poços tratados pelos proprietários. Outro fator de destaque é
que a população rural cultiva hortaliças em meio a porcos e galinhas, aumentando
a chance de contaminação por enteroparasitoses.
Apesar de diversos trabalhos sugerirem a água como veículo de parasitas, agentes
entéricos, não se pode confirmar esta hipótese, pelo presente trabalho, pois a água
servida não foi analisada. Porém, o fato de encontramos uma prevalência de
parasitas inferior aos demais estudos da Região Sul do país pode estar vinculado ao
tratamento convencional realizado na água do município, que inviabiliza as formas
infectantes dos parasitas.

O contanto do homem com os parasitas pode ocorrer periodicamente, não apenas


pela água, mas por outros elementos que favorecem a dinâmica de transmissão,
tais como objetivos contaminados17. Também não se pode descartar a transmissão
de enteroparasitas por hortaliças, principalmente helmintos, devido ao fato dessas
verduras serem consumidas geralmente cruas e as formas infectantes dos parasitas
serem resistentes por algum tempo no ambiente externo 18.

De acordo com dados do Brasil5, do município de Maria Helena (PR) apresenta na


área de saneamento básico, em relação ao destino do esgoto doméstico: rede de
esgoto (0,4%), fossa séptica (0,5%), fossa rudimentar (91,4%), vala (3,6%), rio
ou lago (0,3%) e outro escoadouro (1,6%).

Marques et al.19 ressaltam a importância da análise de dados como idade, sexo e


local de residência, principalmente por que uma grande parcela da população de
pequenas cidades vive na zona rural, onde predominam as criações de bovinos,
ovinos, suínos, aves, além da grande presença de cães e gatos.

De acordo com os meses estudados, não houve diferença estatística, uma vez que
p= 0,5089. Não se verifica uma relação entre períodos de chuva e de seca durante
o ano e o número de exames positivos. Os meses que apresentaram maior número
de exames positivos foram setembro de 2004 e março de 2005.

Com relação à diversidade de espécies que parasitam um hospedeiro, observa-se


que em 96,8% dos resultados positivos ocorreram casos de monoparasitárias e em
2,3% dos resultados positivos observa-se um poliparasitismo, conforme Figura 1.
O hospedeiro humano pode albergar diferentes espécies de enteroparasitas e o fato
de o ambiente externo apresentar graus elevados de contaminação aumenta a
probabilidade de infecções com poliparasitismo.

Segundo Marques et al.19, o último levantamento multicêntrico das parasitoses


intestinais de ocorrência no Brasil demonstrou que 55,3% de crianças estavam
parasitadas, sendo 51% destas com poliparasitismo.

O controle de doenças endêmicas na comunidade não deve descuidar das


parasitoses intestinais, embora de fato sejam muitas vezes ignoradas. O
tratamento destas doenças é muitas vezes simples e individual, mas,
ocasionalmente, implica toda a comunidade, tanto por razões epidemiológicas como
para manter o custo baixo.

Considerações finais
A prevalência de enteroparasitoses nos indivíduos pesquisados foi de 16%; houve
predomínio dos parasitos Endolimax nana (6,5%), Entamoeba coli (63%)
e Giardia intestinalis (3,5%). O grupo etário de zero a nove anos apresentou as
maiores taxas de prevalência (85,1%). Em 3,2% das amostras, foi detectado
poliparasitismo.

Apesar dos esforços da saúde pública em combater enteroparasitos, este ainda é


um grave problema presente nas populações, uma vez que pessoas contaminadas
são potentes vias de disseminação. Contudo, cabe a cada um buscar medidas para
a diminuição e combate das enteroparasitoses humanas e, desta forma, garantir
uma melhor qualidade de vida.
Colaboradores
SA Santos trabalhou na concepção teórica, busca e análise dos dados do texto; LS
Merlini trabalhou na organização e redação final do texto.

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Artigo apresentado em 03/01/2007


Aprovado em 17/05/2007
Versão final apresentada em 03/08/2007

Parasitismo por Ascaris lumbricoides e seus aspectos


epidemiológicos em crianças do Estado do Maranhão

Parasitism due to Ascaris lumbricoides and its epidemiological


characteristics among children in the State of Maranhão
Jefferson Conceição SilvaI; Luis Fernando Viana FurtadoII; Thaís Carvalho
FerroII; Kathlenn de Carvalho BezerraII; Edésio Pereira BorgesII; Ana
Carolina Fonseca Lindoso MeloIII

I
Universidade Estadual do Piauí, Parnaíba, PI
II
Curso de Biomedicina, Universidade Federal do Piauí, Parnaíba, PI
III
Departamento de Biomedicina, Universidade Federal do Piauí, Parnaíba, PI

Endereço para correspondência

RESUMO

INTRODUÇÃO: As enteroparasitoses representam um sério problema de saúde


pública de cunho mundial. Essas afecções estão correlacionadas com condições
precárias de saneamento básico aliado a ausência de noções básicas de higiene,
observada, sobretudo na infância. Dentre esses parasitos, destaca-se o
nematóide Ascaris lumbricoides, com alta incidência no Brasil e no mundo. A
prevalência e a intensidade da infecção por esse patógeno foram analisadas
mediante um estudo transversal em crianças residentes no município de Tutóia, no
Estado do Maranhão, entre julho e dezembro de 2008.
MÉTODOS: A população do estudo foi constituída por crianças entre um a doze
anos de idade, num total de 220 indivíduos. As amostras fecais foram recolhidas
nos domicílios em frascos contendo solução conservadora (MIF) e processadas por
meio da técnica de sedimentação espontânea. Com cada pai ou responsável pela
criança foi aplicado um questionário padrão, cujos resultados foram utilizados para
análise descritiva da amostra estudada.
RESULTADOS: A prevalência de infecção por A. lumbricoides foi de 53,6%. A
análise dos questionários revelou resultados alarmantes no que diz respeito ao grau
de insalubridade ao qual a população está inserida, bem como seus precários
hábitos de higiene.
CONCLUSÕES: O índice de parasitoses no presente trabalho é um reflexo claro da
falta de saneamento básico da região estudada, indicando um estado
epidemiológico preocupante. Dessa forma, faz-se necessária uma política pública de
conscientização e combate dessa patologia.

Palavras-chaves: Parasitas intestinais. Ascaris lumbricoides. Epidemiologia.


Crianças.

ABSTRACT
INTRODUCTION: Intestinal parasitoses are a serious public health problem of
worldwide nature. These disorders are correlated with poor basic sanitation
conditions coupled with lack of basic hygiene notions, and are observed especially
among children. Among these parasites, the nematode Ascaris lumbricoides stands
out, with high incidence in Brazil and worldwide. The prevalence and intensity of
infection by this pathogen were analyzed by means of a cross-sectional study
among children living in the municipality of Tutóia, State of Maranhão, between July
and December 2008.
METHODS: The study population consisted of children between one and twelve
years of age, totaling 220 individuals. Fecal samples were collected in households in
vials containing MIF preserving solution and were processed using the spontaneous
sedimentation technique. A standard questionnaire was applied to each parent or
guardian, and the results were used for descriptive analysis on the study sample.
RESULTS: The prevalence of A. lumbricoides was 53.6%. Analysis on the
questionnaires revealed alarming results regarding the degree of unhealthy
condition to which the population is subjected, in addition to its poor hygiene
habits.
CONCLUSIONS: The prevalence rate found in this study is a clear reflection of the
lack of basic sanitation in the region studied. Thus, a public policy for raising
awareness and combating this disease is needed.

Key-words: Intestinal parasites. Ascaris lumbricoides. Epidemiology. Children.

INTRODUÇÃO

As enteroparasitoses representam um sério problema de saúde pública de cunho


mundial1. No Brasil, essas doenças ocorrem nas diversas regiões do país, seja em
zona rural ou urbana e em diferentes faixas etárias 2-4. Essas afecções estão
correlacionadas com níveis socioeconômicos mais baixos e condições precárias de
saneamento básico, representando um flagelo, sobretudo para as populações mais
pobres5.

Os principais parasitas relatados nessas pesquisas são Giardia lamblia, Entamoeba


coli, Ascaris lumbricoides, Trichuris trichiura e Enterobius vermicularis2,6,7. A maioria
desses parasitas causa desnutrição, anemia, diarréia, obstrução intestinal e má
absorção8.

No que se refere às doenças parasitárias intestinais, estas acometem


principalmente crianças em idade escolar, o que pode comprometer seu
desenvolvimento físico e intelectual9,10. Dentre essas parasitoses intestinais,
destaca-se a ascaridíase, helmintíase de maior prevalência no mundo causada pelo
nematóide Ascaris lumbricoides11. Em 2008, a Organização Mundial de Saúde
(OMS) estimou que mais de 980 milhões de pessoas no mundo estariam
parasitadas por esse agente.

A maioria das infecções por A. lumbricoides envolve pequeno número de parasitos


adultos e é assintomática, diagnosticada em exames coproparasitológicos ou
através da eliminação de parasitos nas fezes. A manifestação dos sintomas da
ascaridíase depende do número de parasitos adultos albergados pelo indivíduo.
Infecções maciças podem resultar em bloqueio mecânico do intestino delgado,
principalmente em crianças11.

No presente trabalho, objetivou-se determinar a prevalência da ascaridíase em


crianças do bairro São José, Cidade de Tutóia, Estado do Maranhão, bem como
relatar seus possíveis fatores de risco, caracterizando descritivamente a
epidemiologia da doença na região e nesta faixa etária.

MÉTODOS

Local

O trabalho foi realizado durante o período de julho a dezembro de 2008, no bairro


São José, localizado na zona noroeste do município de Tutóia, Estado do Maranhão,
ocupando uma área de 427.489m2, compreendendo 233 domicílios e
aproximadamente 771 habitantes (Sistema de Informação de Atenção Básica -
SIAB, 2007).

Amostra

A amostra estudada abrange 110 domicílios (47,2% do total de municípios do


bairro). De cada residência, obtiveram-se amostras fecais de duas crianças de 1 a
12 anos de idade, somando 220 indivíduos.

Procedimento

Aplicou-se em cada família um questionário padrão, baseado em um conjunto de


questões objetivas e de múltipla escolha, levando-se em consideração a situação de
saúde, higiene e saneamento básico.

As amostras fecais foram coletadas em potes específicos e acondicionadas a 4ºC. O


método utilizado para análise foi o de sedimentação espontânea de Hoffman, Pons
e Janer.

Análise dos dados

Este é um estudo epidemiológico do tipo transversal. A detecção da doença foi


realizada através do exame parasitológico de fezes. A exposição ao risco foi
determinada pela aplicação de questionários padrão. Os dados são apresentados
em percentagens referentes à prevalência da doença e/ou fatores predisponentes
ao desenvolvimento de enteroparasitoses. Foi realizada uma análise descritiva dos
fatores de risco as parasitoses intestinais. As amostras de fezes e dados de
exposição ao risco foram coletadas simultaneamente.

Considerações Éticas

O trabalho foi aprovado pelo Comitê de Ética da Universidade Federal do Piauí e os


pais ou o responsável pela criança assinou um termo de consentimento autorizando
a utilização do material coletado para fins de pesquisa.
RESULTADOS

O coeficiente geral de prevalência por A. lumbricoides foi de 53,6%. A partir da


análise dos questionários, pôde-se observar resultados alarmantes no que diz
respeito ao grau de insalubridade ao qual a população está inserida, bem como
seus precários hábitos de higiene.

No quesito saneamento básico, 78,1% das famílias afirmaram realizar suas


necessidades fisiológicas ao ar livre. Quanto ao destino do lixo, as famílias
admitiram queimar (75,5%), enterrar (19,1%) ou jogar o lixo domiciliar em
terrenos baldios (12,3%) por não haver coleta periódica no bairro onde moram. No
item proximidades a casa, observou-se a existência de lama e/ou água empoçada
(3,6%), lixo (12,5%) e animais vadios (38,2%). Todas as famílias afirmaram que
em seus domicílios não havia a presença de pragas, todavia, admitiram ter algum
tipo de animal.

Todas as famílias afirmaram lavar frutas e verduras antes do consumo. Destas,


80,9% admitiu utilizar água advinda de poços manuais para beber e lavar roupas,
as quais 71,8% afirmaram somente coar a água antes de beber, acreditando ser
uma forma de tratamento eficaz. Quando interrogados sobre deslocamento para
outras regiões, cerca de 80% afirmou não ter o hábito de viajar.

O histórico clínico revelou que 94,5% das crianças não apresentavam sintomas,
para verminoses, como prurido anal e perversão alimentar, enquanto que somente
1,3% apresentaram diarréia, 0,8% vômito, e 3,2% dor abdominal. A pesquisa
revelou também que 84,6% das crianças utilizavam medicação antiparasitária
indicada por farmacêuticos ou balconistas, sem realizar exames
coproparasitológicos. Ainda, 15,4% das crianças nunca fizeram o uso de qualquer
medicação desse gênero.

No quesito higiene pessoal, todas as crianças tomavam três ou mais banhos por dia
e possuíam o hábito constante de cortar as unhas. Em 65% das crianças observou-
se o uso de calçados somente para sair, enquanto 25% usavam somente em casa,
e 10% constantemente. Todas as famílias afirmaram que as crianças lavavam as
mãos antes das refeições e após as excreções.

DISCUSSÃO

A prevalência por A. lumbricoides nesse trabalho é superior aos resultados de


pesquisas realizadas no Espírito Santo12 e semelhantes aos resultados obtidos em
Sergipe13. Nestes e em vários outros estudos realizados no Brasil, as condições
higiênico-sanitárias se mostraram estritamente relacionadas com altas prevalências
de parasitos intestinais14,15.

A análise dos questionários revelou que o bairro São José, em Tutóia, possui fatores
que predispõem a disseminação de enteroparasitos. Tendo em vista essas precárias
condições de saúde e saneamento básico, sugere-se que alguns indivíduos tenham
sido parasitados na própria região onde moram, uma vez que grande parcela das
famílias afirmou não se deslocar periodicamente para outras localidades, facilitando
a reinfecção por A. lumbricoides.

Apesar de 100% das crianças consumirem frutas e verduras lavadas, a origem da


água utilizada não garante que esses alimentos estejam isentos de contaminação 16.
O grau de contato com os alimentos já corresponde a um fator de risco, além disso,
pesquisas demonstram que manipuladores de alimentos podem representar um
potencial risco de transmissão de enteroparasitos caso não possuam cuidados
básicos17,18.

As famílias entrevistadas mostraram um descomprometimento com a saúde quanto


ao consumo e tratamento da água antes de beber. O fato dessa parcela da
população não fazer nenhum tipo de tratamento de água acaba por comprometer a
sua saúde como um todo19. Komagome cols6, correlacionando a prevalência de
enteroparasitoses em crianças com seus aspectos epidemiológicos, revelaram que o
tipo de água utilizada para consumo foi um fator de risco detectado, uma vez que
quem consumiu água não-filtrada apresentou 15,9 vezes mais chances de adquirir
enteroparasitoses.

O histórico clínico revelou que a maioria das crianças não apresentava sintomas
para ascaridíase. A sintomatologia da ascaridíase é bastante variável e nos quadros
mais leves as manifestações são inespecíficas 11. As infecções crônicas em crianças,
ainda que sejam geralmente assintomáticas, podem produzir retardo de
crescimento clinicamente significativo20,21. Alguns estudos apontam uma relação
entre a infecção por A. lumbricoides e o surgimento da asma22,23.

A maioria das crianças do bairro que se apresentaram positivas para A.


lumbricoides são indivíduos em idade escolar. No trabalho realizado por Basso
cols24, com crianças nessa faixa etária, em 58% das fezes analisadas foi encontrado
algum tipo de parasito intestinal, sendo mais prevalente a infestação por A.
lumbricoides (47%). Esses agentes podem exercer alto poder patogênico e
influenciar no estado nutricional, no crescimento e na função cognitiva dos
escolares25.

Todas as famílias afirmaram ter algum tipo de animal em suas residências. Todavia,
sabe-se que isso não foi fator determinante para a transmissão da ascaridíase, uma
vez que esta não possui potencial zoonótico. Cerca de 100% das famílias também
afirmaram não possuir pragas em casa. Descarta-se, portanto, a idéia de
transmissão das enteroparasitoses através de vetores mecânicos dentro da própria
residência.

No quesito higiene pessoal, todas as crianças mostraram hábitos de higiene


saudáveis. Porém, o fato de apenas 10% usarem calçados constantemente leva a
crer que isso pode ser um fator de risco para a transmissão de geohelmintos. O
contato direto com o solo é um fator que facilita a transmissão desse tipo de
parasitos26.

O fato de um percentual significativo das crianças nunca ter feito o uso de qualquer
tipo de medicação antiparasitária leva a crer que a alta prevalência de ascaridíase
se deve também ao grau de descomprometimento das famílias com a saúde da
criança. Além disso, o difícil acesso ao sistema público de saúde traz consigo
dificuldades para erradicação de doenças27.

Conclui-se que existe alta prevalência de A. lumbricoides nas crianças do bairro São
José, em Tutóia, MA, indicando um estado epidemiológico preocupante. Desse
modo, é nítida a necessidade da implementação de programas do governo que
tentem reverter à questão das precárias condições higiênico-sanitárias do bairro em
estudo.

Sabe-se que a educação em saúde para crianças é fator essencial para controle da
ascaridíase, especialmente considerando as características da doença durante a
infância: alta prevalência, alta porcentagem de resistência ao tratamento, altas
taxas de eliminação de ovos e altos níveis de reinfecção. Portanto, sugere-se que
de nada adianta o empenho do governo em reverter o quadro de elevada
prevalência de ascaridíase em Tutóia se os moradores não adotarem medidas de
educação preventiva, uma vez que a criança tem um papel importante na
manutenção do ciclo do A. lumbricoides e que seus maus hábitos desempenham
papel decisivo na disseminação dessas doenças.

CONFLITO DE INTERESSE

Os autores declaram não haver nenhum tipo de conflito de interesse no


desenvolvimento do estudo.

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Os principais parasitas relatados nessas pesquisas são Giardia


lamblia, Entamoeba coli, Ascaris lumbricoides, Trichuris
trichiura e Enterobius vermicularis2,6,7. A maioria desses
parasitas causa desnutrição, anemia, diarréia, obstrução
intestinal e má absorção8.

Cadernos de Saúde Pública


Print version ISSN 0102-311XOn-line version ISSN 1678-4464

Cad. Saúde Pública vol.15 n.1 Rio de Janeiro Jan./Mar. 1999


https://doi.org/10.1590/S0102-311X1999000100017
Parasitismo por Ascaris
lumbricoides em crianças menores
de dois anos: estudo populacional
em comunidade do Estado do Rio
de Janeiro

Ascaris lumbricoides in infants: a


population-based study in Rio de
Janeiro, Brazil
Lêda Maria da Costa-
Macedo 1
Maria do Carmo Esteves da
Costa 2
Liz Maria de Almeida 2

Abstract Prevalence and intensity of Ascaris


1
Departamento de
Patologia, lumbricoides infection were analyzed by a cross-sectional study in
Universidade do
Estado do Rio de children addressed in the city of Duque de Caxias, Rio de Janeiro
Janeiro. State, from July to December 1997. The study population consisted
Rua Teodoro da Silva of children under two years of age (n = 387) and mothers of
48, children under one year of age (n = 104). Coproparasitologic tests
5o andar, Rio de were run using the MIFC and the Kato thick smear (Kato-Katz)
Janeiro, RJ 20551-
001, Brasil. methods. Prevalence was 3.3% (95% CI: 1.0-7.8) for children
2
Núcleo de Estudos under one year, 30.7% (95% CI: 25.4-36.4) for one-year-olds, and
de Saúde Coletiva, 42.3% (95% CI: 33.0-51.9) for mothers of children under one.
Universidade Federal Some 38.0% of children under one year of age showed medium-to-
do Rio de Janeiro. heavy infection. These results indicated that ascariasis was an
Av. Brigadeiro
Trompowsky s/no, important problem in the first year of life and demonstrated the
Hospital need for research in the area of maternal and infantile ascariasis.
Universitário, Key words Parasites; Ascaris lumbricoides; Infants; Cross-
5o andar, Ala Sul, Sectional Studies; Epidemiology
Ilha do Fundão, Rio
de Janeiro, RJ
21941-590, Brasil. Resumo A prevalência e a intensidade da infecção por Ascaris
lumbricoides foram analisadas mediante um estudo transversal em
crianças residentes no Município de Duque de Caxias, no Estado
do Rio de Janeiro, entre julho e dezembro de 1997. A população
do estudo foi constituída por crianças com menos de dois anos de
idade e as mães das crianças menores de um ano. As amostras
fecais foram recolhidas nos domicílios em frascos contendo
solução conservadora de MIF e processadas por meio das
técnicas de MIFC e Kato-Katz. As prevalências de infecção por A.
lumbricoides observadas foram 3,3% (I.C. 95% 1,0 - 7,8) para os
menores de um ano, 30,7% (I.C. 95% 25,4 - 36,4) para as crianças
com um ano de idade e 42,3% (I.C. 95% 33,0 - 51,9) para as
mães. Infecção com carga parasitária moderada/pesada foi
observada em cerca de 38% das crianças com um ano de idade e
36,0% das mães. Estes resultados demonstram a importância da
ascariose já no primeiro ano de vida e indicam a necessidade de
aprofundamento na investigação desta parasitose na população
materno-infantil.
Palavras-chave Parasitos; Ascaris lumbricoides; Lactentes;
Estudos Transversais; Epidemiologia

Introdução

Ascaris lumbricoides é o parasito intestinal mais freqüente no mundo. Em estudo para


avaliar a prevalência deste enteroparasito, Silva et al. (1997a) estimou que a infecção
estaria presente em cerca de 31,0% dos indivíduos procedentes de regiões endêmicas do
mundo. Neste estudo, o Brasil inseriu-se no grupo dos locais mais parasitados, sendo a
infecção detectada em cerca de 39,0% da população. Apesar do crescimento em
números absolutos dos indivíduos parasitados em função do aumento geral da
população nos últimos 20 anos (IBGE, 1997), verifica-se que o país tem apresentado,
em algumas áreas, um decréscimo na prevalência da infecção entre os escolares (Vinha,
1971; Chieffi et al., 1988; Gross et al., 1989). Para o Município do Rio de Janeiro, os
dados mais atuais relacionados à prevalência da ascariose em pré-escolares mostram
que ela é responsável por cerca de 25,0% da infecção parasitária neste grupo
populacional (Costa-Macedo et al., 1998).

Com relação à criança menor de dois anos, apesar do reduzido número de publicações
sobre o assunto neste grupo etário, tem sido relatada a ocorrência do parasitismo em
crianças já nos primeiros meses de vida (Costa-Macedo & Rey, 1997). Alguns estudos
para avaliar a prevalência da ascariose, nesta faixa etária, mostram aumento
significativo da infecção por A. lumbricoides entre as menores de um ano em relação às
de um ano (Frenzel et al., 1979; Monteiro et al., 1988; Costa-Macedo et al., 1998).

Alguns modelos construídos para avaliar os possíveis fatores relacionados à infecção


por helmintos em crianças têm procurado identificar a relação entre o parasitismo nos
demais membros das famílias e a ocorrência do parasitismo precoce (Carlier & Truyens,
1995; Chan et al., 1994).

A intensidade da infecção na população infectada por A. lumbricoides tem sido definida


segundo a determinação da carga parasitária, utilizando-se métodos que permitam a
contagem de ovos no material examinado. Pesquisando parasitoses intestinais em
população favelizada do Município de São Paulo, Ferreira et al. (1991) encontraram,
para este helminto, infecção leve (considerada pelos autores quando a carga parasitária
era menor que 10 000 por grama de fezes) em todas as crianças menores de cinco anos e
nos adultos acima de 26 anos de idade. Para menores de dois anos, entretanto, a
intensidade da infecção por esse helminto tem sido pouco avaliada em inquéritos
epidemiológicos populacionais.

Esse trabalho teve como objetivo verificar a prevalência e a intensidade da infecção


por A. lumbricoides em crianças menores de dois anos de idade, residentes em uma
comunidade da região metropolitana do Rio de Janeiro. Procuramos avaliar também o
parasitismo materno como outro possível indicador das condições sócio-ambientais da
comunidade.

Material e métodos

O inquérito coproparasitológico que originou a base de dados utilizada neste trabalho


foi realizado de julho a dezembro de 1997, no distrito de Campos Elyseos, município de
Duque de Caxias. Utilizou-se o desenho de estudo transversal para estimar a prevalência
de enteroparasitoses e a carga parasitária em crianças entre 1 e 9 anos de idade. O
delineamento deste estudo encontra-se descrito em outro trabalho (Luiz et al., 1997).
Paralelamente, foi composta uma sub-amostra de todas as crianças menores de um ano
de idade e suas respectivas mães, identificadas no censo realizado pela equipe de
pesquisa em 10 setores censitários da área onde se realizou o estudo principal (20
setores censitários).

Foram entregues 231 potes para crianças menores de 12 meses e respectivas mães e
foram examinadas 120 destas crianças e 104 mães. Para as crianças de 12 a 23 meses
foram entregues 362 frascos, sendo examinadas 267 amostras. A amostra total
examinada correspondeu a 491 exames.

Os potes contendo solução conservadora (MIF) foram entregues e recolhidos no local de


moradia das pessoas, após orientação do responsável quanto à coleta do material das
crianças. As mães das crianças menores de um ano também receberam potes com MIF,
sendo orientadas para coleta de seu material. As mães foram orientadas para que
coletassem três amostras de fezes (em três dias diferentes) e as armazenassem em um
mesmo frasco.

Os exames foram realizados na Disciplina de Parasitologia do Departamento de


Patologia e Laboratórios, da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade do Estado
do Rio de Janeiro. A técnica escolhida para analisar o material fecal foi o de Blagg et al.
(1955), com as modificações sugeridas por Coutinho (1956). Além deste método,
optou-se pela inclusão do método de Kato-Katz (Katz et al., 1972), específico para ovos
de helmintos, que permite a quantificação da carga parasitária da espécie encontrada, e
que foi realizada com base no material fixado no MIF. Para a realização do método de
Kato-Katz foi utilizada a parte mais sólida do material homogeneizado no MIF,
seguindo a descrição da técnica para o material colhido à fresco.

A classificação da intensidade de infecção por A. lumbricoides foi baseada nos critérios


recomendados pela Organização Mundial da Saúde (WHO, 1987) segundo os quais a
infecção é atribuída como leve, quando a carga parasitária encontrada for menor que
5.000 ovos por grama de fezes, moderada quando a carga estiver entre 5.000 e 50.000, e
pesada quando ultrapassar 50.000 ovos/grama de fezes.

Os dados foram armazenados e analisados no software Epi Info 6.0. Foram estimadas as
médias e respectivos desvios padrão (DP), medianas e prevalências por idade para as
crianças e as mães, e determinados os intervalos de 5% de confiança. Os testes
utilizados para comparação foram as estatísticas não paramétricas do x2 (Pearson).

Resultados

Foram realizados um total de 491 exames, sendo 387 de crianças menores de 24 meses e
104 de mães de crianças menores de um ano.

A mediana das idades entre as crianças foi 16 meses com primeiro quartil em 8 meses e
terceiro quartil em 19 meses. Para o grupo de mães a mediana da idade foi 26 anos, com
primeiro quartil em 21 anos e terceiro quartil em 32 anos.

Nos três grupos pesquisados, a infecção por A. lumbricoides correspondeu a pelo menos
2/3 das enteroparasitoses encontradas. As crianças de 12 a 23 meses apresentaram
proporções nove vezes maiores de infecção do que as menores de 12 meses. A
positividade para A. lumbricoides foi de 3,3 (I.C.95% 1,0-7,8) para os menores de 12
meses, 30,7 (I.C. 95% 25,4-36,6) para os de 12 -23 meses e 42,3% (I.C. 95% 33,0-51,9)
para as mães. A prevalência total das enteroparasitoses e da ascariose, pelas duas
técnicas, encontra-se na Figura 1.

A distribuição das crianças por grupos etários (idade em meses) e segundo o estado de
infecção por A. lumbricoides mostrou diferenças estatisticamente significativas na
composição etária dos dois subgrupos de infectados e não infectados por A.
lumbricoides (p < 0,001), sendo observado um predomínio de ascariose entre as
crianças maiores. Os valores estimados mostram um aumento das prevalências
específicas com a idade (Tabela 1).
Na população materna, a maior proporção de ascariose ocorreu na faixa etária abaixo de
25 anos, enquanto as não infectadas eram, predominantemente, mulheres com mais de
25 anos, faixa em que a prevalência foi menos elevada (Tabela 1). A diferença
observada entre estes grupos também foi estatisticamente significativa (p = 0,01).

A Figura 2 mostra que, na maioria dos grupos estudados, a infecção por A.


lumbricoides foi considerada leve, segundo os critérios da Organização Mundial de
Saúde (WHO, 1987). Entretanto, quase 38% das crianças de um ano de idade
apresentaram infecção de moderada a pesada, com cargas parasitárias acima de 5.000
ovos por grama de fezes. Uma destas crianças apresentou infecção com mais de 100.000
ovos por grama de fezes (opg).

A simultaneidade do parasitismo materno-infantil foi avaliada em 104 crianças menores


de um ano e suas mães. Entre as crianças, em três casos foi diagnosticado A.
lumbricoides, e em dois casos Giardia lamblia. Os resultados revelaram que as mães
das três crianças parasitadas com A. lumbricoides também apresentavam a infecção, fato
que não foi observado nas duas crianças portadoras de giardiose.

Discussão

No Brasil, o parasitismo intestinal nos dois primeiros anos de vida é menos conhecido
que em outras faixas etárias. Neste estudo, a presença de parasitismo foi registrada a
partir do sexto mês de vida. Em três destas crianças a mãe também se encontrava
infectada. Todavia, para o conjunto das crianças menores de um ano, a positividade
encontrada para o A. lumbricoides foi percentualmente menor, quando comparada aos
resultados de outros autores (Frenzel et al., 1979; Gendrel et al., 1983; Monteiro et al.,
1988; Costa-Macedo & Rey, 1997). Para esta faixa etária, os resultados se mostraram
menos precisos, devido ao tamanho reduzido da amostra examinada. A perda maior
nesta faixa etária (e no grupo de mães) em relação a outra faixa estudada, deveu-se, em
parte, a pouca sensibilização das mães para participarem do estudo. Por outro lado, o
tipo de exame (MIF) é mais trabalhoso (coleta múltipla de fezes, em dias diferentes), o
que gerava coletas incompletas, devolução de potes vazios e pedidos de maior prazo
para coletar o material. Esses pedidos acarretavam, por sua vez, a necessidade de maior
número de visitas domiciliares além do previsto (3), o que nem sempre foi possível. A
perda importante nesse grupo (48%) pode estar comprometendo as estimativas,
especialmente se o grupo que não participou estiver relacionado a uma probabilidade de
apresentar infecção diferente do grupo que participou.

Contudo, é importante assinalar que o parasitismo já a partir dos seis meses de vida
pode estar relacionado ao período do desmame da criança, quando ocorre a introdução
de novos alimentos e inicia-se uma etapa do desenvolvimento que lhe permite maior
mobilidade no ambiente. Vale destacar a acentuada elevação na proporção de
parasitismo nas crianças com 12-23 meses/ano de idade, em relação às da faixa etária
anterior, onde, mais uma vez, o parasitismo por Ascaris lumbricoides configura-se
como o mais freqüente nesta faixa etária. A extrema diferença encontrada entre os
menores de um ano e as crianças de um ano já foi relatada por outros autores (Monteiro
et al., 1988; Costa-Macedo & Rey, 1997; Costa-Macedo et al., 1998).

Uma possível explicação para a prevalência negativa do parasitismo abaixo dos seis
meses de idade pode estar relacionada à hipótese de Carlier & Truyens (1995) que
sugere o envolvimento de respostas imunológicas em filhos de mães imunes com uma
proteção inicial contra a infecção por conta da transferência de anticorpos maternos
contra Ascaris lumbricoides.

Como as rotas de transmissão da ascariose pressupõem contato com solo e/ou alimentos
contaminados e dependem de um tempo para que os ovos eliminados pelo hospedeiro
no meio ambiente tornem-se infectantes (geohelmintos), surpreende-nos a maior
precocidade de transmissão dessa espécie quando comparada às outras de transmissão
fecal-oral direta, como os protozoários intestinais.

O parasitismo de menores de 24 meses pode (e deve) estar refletindo o elevado grau de


contaminação dos ambientes peri e domiciliar nesse local, resultante das precárias
condições de saneamento básico existentes. Os níveis crescentes da prevalência por
idade observados nas crianças devem estar relacionados ao processo de crescimento e
desenvolvimento infantil (mobilidade e interação com o ambiente) e ao maior tempo de
exposição às condições ambientais.

Nas mães, ao contrário do que foi observado para as crianças, as proporções tendem a
diminuir com a idade. Uma hipótese para explicar a diferença observada estaria
relacionada ao nível de conhecimento sobre os mecanismos de transmissão desta
parasitose, a uma melhor educação sanitária e um maior nível de escolaridade nas
mulheres de faixas etárias mais elevadas.

Tendo em vista as precárias condições de saneamento da comunidade onde esse estudo


foi desenvolvido, os níveis de infecção materna podem estar relacionados a uma
situação ambiental que representa risco de infecção por A. lumbricoides para toda a
família. O Município de Duque de Caxias não conta com nenhum domicílio ligado a
uma rede geral de tratamento de esgotos e apenas cerca de 45% das moradias estão
ligadas à rede geral de abastecimento de água.
Embora a carga parasitária observada no estudo tenha correspondido
predominantemente à infecção leve nos três grupos estudados, constatamos que nas
crianças de um ano quase 38% apresentavam infecção de moderada a pesada. Além da
maior contribuição desta faixa etária na contaminação ambiental, este é também o grupo
mais exposto aos riscos da infecção, que segundo Chan (1997), pode ocorrer quando o
número de parasitos no hospedeiro estiver acima de sete vermes. Como a
correspondência grosseira entre o número de ovos por grama de fezes e o número de
vermes é de cerca de 1.000 opg/verme (Ferreira et al., 1991), cerca de 30% dessas
crianças estariam sob risco de doença parasitária por apresentarem carga parasitária
igual ou superior a 7.000 opg.

Para as crianças menores de um ano, verificamos apenas carga parasitária leve, dado
consistente com os achados de Ferreira et al. (1991). Este fato, entretanto, não garante
que elas estejam protegidas do desenvolvimento de doença parasitária, pois além da
capacidade migratória do parasito, que pode levar a manifestações clínicas
desencadeadas por apenas um verme, devemos considerar a relação de diâmetro entre o
verme e a luz intestinal (Silva et al., 1997b). Obstrução intestinal em crianças menores
de cinco anos (Silva et al., 1997b), alterações nutricionais (Costa-Macedo & Rey, 1990)
e obstrutivas (Rathi et al., 1981) em lactentes foram observadas em crianças com cargas
parasitárias leves.

Nossos resultados mostraram que A. lumbricoides foi o principal parasito encontrado


nos grupos estudados e reforçam a importância do estudo dessa parasitose na população
materno-infantil. A prevalência da infecção por este parasito, especialmente nas
crianças menores de um ano, poderia ser melhor explorada como um indicador das
condições sócio-ambientais e sua relação com a saúde e qualidade de vida da população.

Agradecimentos

Seremos eternamente gratas à população de Duque de Caxias que participou deste


trabalho. Agradecemos à equipe de pesquisadores de campo do Projeto de Avaliação
dos Impactos do Programa de Despoluição da Baía de Guanabara sobre a Saúde e
Qualidade de Vida (Paisqua) pela coleta e transporte do material para exame, à Marilene
Adão de Paula (UERJ) pela execução das técnicas parasitológicas e à Gisele Andréia
Oliveira de Araújo pela leitura da carga parasitária. O Paisqua está sendo desenvolvido
pelo Núcleo de Estudos de Saúde Coletiva da UFRJ com o financiamento da Faperj.

Referências
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…………………………………………………………………………………………….

ENTEROBÍASE OU OXIURÍASE
Ovos de Enterobius vermicularis

É uma verminose intestinal causada pelo nematóide Enterobius vermicularis ou Oxyuris


vermicularis que se localiza preferencialmente no ceco, apêndice, reto e ânus. Os vermes
adultos são cilíndricos, de cor branca, sendo que as fêmeas medem cerca de 1 cm de tamanho
(8 a13 mm) e possuem a cauda longa e afilada. Os machos medem cerca de 3 a 5 mm de
tamanho e tem sua extremidade posterior enrolada no sentido ventral. Em ambos os sexos, na
extremidade anterior, observam-se duas expansões denominadas asas cervicais.

MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS
O parasitismo leve por E. vermicularis é geralmente assintomático. O sintoma mais frequente é
o prurido anal noturno, causado pela presença das fêmeas na pele desta região, produzindo
irritabilidade, desconforto e sono intranquilo. O prurido intenso leva o indivíduo a coçar-se e a
produzir escoriações na pele, que abrem caminho a infecções bacterianas.

Nas mulheres, o verme pode migrar para a vulva e vagina, causando prurido vulvar e
corrimento vaginal, e salpingite. As manifestações digestivas registradas são náuseas, vômitos,
dores abdominais, tenesmo e raramente evacuações sanguinolentas. Pode ocorrer ligeira
eosinofilia (4 a 15% de eosinófilos).

Enterobius vermicularis: verme adulto


MODO DE TRANSMISSÃO
O homem é o único hospedeiro e sua transmissão ocorre pessoa a pessoa ou por fômites. Os
ovos se tornam infectantes em 4 a 6 horas após a postura na região anal e perianal. A
transmissão direta levando os ovos do ânus para a boca ocorre por contaminação dos dedos e
do depósito subungueal, principalmente em crianças, doentes mentais e adultos com precários
hábitos de higiene.

A transmissão do parasitismo de um indivíduo a outro (heteroinfecção) ocorre geralmente pela


inalação e ingestão de ovos infectantes presentes na poeira, em alimentos e nas roupas de
cama, e em ambientes como os dormitórios coletivos, colégios, orfanatos e creches.

DIAGNÓSTICO LABORATORIAL
O diagnóstico laboratorial da enterobíase baseia-se no encontro do parasito e de seus ovos. O
método empregado é o do swab anal que emprega fita adesiva transparente aplicada sobre a
pele da região, fazendo com que os ovos e fêmeas quando presentes fiquem aderidos à
superfície gomada da fita. Essa fita será colocada sobre uma lâmina de microscopia e
observada ao microscópio. O exame parasitológico de fezes, mesmo com técnicas de
enriquecimento, só revela cerca de 5 a 10% dos casos de parasitismo.
……………………………

Oxiuríase: o que é, sintomas,


transmissão e tratamento
Marcela Lemos
Biomédica
Dezembro 2020

A oxiuríase, também conhecida por oxiurose e enterobiose, é uma


verminose causada pelo parasita Enterobius vermicularis,
popularmente conhecido como oxiúrus, que pode ser transmitido
por meio do contato com superfícies contaminadas, ingestão de
alimentos contaminados com ovos ou inalação dos ovos dispersos
no ar, já que são bastante leves.
Os ovos no organismo eclodem no intestino, sofrem processo de
diferenciação, maturação e reprodução. As fêmeas durante à noite
se deslocam até a região perianal, onde colocam seus ovos. Esse
deslocamento da fêmea é que leva ao aparecimento do sintoma
característico da oxiuríase, que é a coceira intensa no ânus.
Saiba mais sobre oxiuríase e outros tipos de verminoses comuns:

Como acontece a transmissão


A transmissão do oxiúrus acontece por meio da ingestão dos ovos
desse parasita por meio de alimentos contaminados ou por colocar
a mão suja na boca, sendo mais frequente disso acontecer em
crianças entre 5 e 14 anos. Além disso é possível ser contaminado
por meio da inalação dos ovos que podem ser encontrados
dispersos no ar, já que são bastante leves, e contato com
superfícies contaminadas, como roupas, cortinas, lençóis e
tapetes.
É possível também que haja auto-infecção, sendo mais comum nos
bebês que usam fralda. Isso porque caso o bebê esteja infectado,
após fazer cocô, pode tocar na fralda suja e levar à mão na boca,
ficando novamente infectado.

Principais sintomas
O sintoma mais comum da enterobiose é a coceira no ânus,
principalmente durante a noite, pois é o período em que o parasita
se movimenta até o ânus. Além da coceira anal, que muitas vezes
é intensa e atrapalha o sono, outros sintomas podem aparecer
caso haja grande quantidade de parasitas, sendo os principais:
 Enjoo;
 Vômito;
 Dor na barriga;
 Cólica intestinal;
 Pode haver sangue nas fezes.
Para diagnosticar a presença do verme desta infecção, é
necessário coletar material do ânus, pois o exame de fezes comum
não é útil para detectar o verme. A coleta de material, geralmente,
é feita com a colagem de fita celofane adesiva, método conhecido
como fita gomada, que é solicitada pelo médico.
Saiba reconhecer os sintomas de oxiúrus.

Como é feito o tratamento


O tratamento para enterobiose é orientado pelo médico, que
prescreve medicamentos vermífugos como o Albendazol ou o
Mebendazol, usados em dose única para eliminar os vermes e os
ovos que infectam o organismo. Ainda é possível de passar uma
pomada anti-helmíntica no ânus, como tiabendazol por 5 dias, o
que ajuda a potencializar o efeito do remédio.
Outra opção é a Nitazoxanida, que atinge ainda outra grande
quantidade de parasitas intestinais, e é usado por 3 dias. Seja qual
for o medicamento utilizado, é recomendado que seja feito o
exame novamente, para verificar se ainda há sinais de infecção e,
em caso positivo, realizar novamente o tratamento. Entenda como
é feito o tratamento da enterobiose.

Como prevenir a enterobiose


Para evitar a infecção por enterobiose, é necessário tomar
precauções simples, como ter bons hábitos de higiene, cortar as
unhas das crianças, evitar roer unhas, além de ferver as roupas
das pessoas infectadas para impedir que seus ovos contaminem
outras pessoas, pois eles podem ficar até 3 semanas no ambiente
podendo ser transmitido para outras pessoas.
Também é importante lavar as mãos sempre que for preparar
alimentos, e após o uso de vaso sanitário. Desta forma, além da
enterobiose, diversas outras infecções por vermes, amebas e
bactérias podem ser evitadas. Conheça outras formas de prevenir
a enterobiose.

…………………………….

Parasitoses

OXIURÍASE – INFECÇÃO PELO


ENTEROBIUS VERMICULARIS
Por Dr. Pedro Pinheiro
Índice
1. O que é o verme Oxiurus vermicularis?
2. Transmissão do verme oxiúrus
2.1. 1. Autoinfecção
2.2. 2. Retroinfecção
2.3. 3. Heteroinfecção
3. Sintomas
4. Diagnóstico
5. Tratamento
6. Referências
O QUE É O VERME OXIURUS VERMICULARIS?
O oxiúro (alguns chamam de oxiúrus), conhecido cientificamente
como Enterobius vermicularis ou Oxiurus vermicularis, é um
helminto nematódeo (verme) de forma cilíndrica e cor branca, que
mede cerca de 1 cm e provoca uma verminose intestinal
denominada enterobíase, oxiuríase ou oxiurose. Na linguagem
popular, o oxiúrus é conhecido como tuxina.

A oxiuríase é uma parasitose cujo principal sintoma é a uma


coceira anal, geralmente intensa e com predomínio noturno, o
que costuma atrapalhar o sono dos indivíduos acometidos.
O ser humano é o único hospedeiro natural do oxiúro, e sua
infecção ocorre em todos os países e grupos socioeconômicos. A
enterobíase pode surgir em qualquer idade, mas é observada
com maior frequência entre as crianças em idade escolar de 5 a
10 anos, sendo relativamente rara em crianças com menos de 2
anos de idade.

O Enterobius vermicularis é um verme que vive no intestino dos


humanos, mais especificamente na região do ceco (início do
intestino grosso) e do apêndice.

Após o acasalamento, o macho morre e é eliminado pelas fezes.


As fêmeas grávidas permanecem no ceco e, à noite, se movem
através do intestino em direção ao ânus, local onde costumam
implantar seus ovos. Cada fêmea pode colocar até 10.000 ovos.

Após a deposição dos ovos, a fêmea tenta retornar para dentro


do ânus, algumas conseguem, outras não, sendo eliminadas nas
fezes.

Oxiúros – aproximadamente 1,0 cm de comprimento


TRANSMISSÃO DO VERME OXIÚRUS
O Enterobius vermicularis tem um ciclo de vida relativamente
simples, que inicia-se com a deposição de ovos pelas fêmeas
grávidas na mucosa da região perianal. A partir deste momento, a
infecção costuma seguir três caminhos:
1. Autoinfecção
A presença dos ovos provoca intensa coceira anal. Se o paciente
coçar a região do ânus, ele pode contaminar suas mãos e unhas
com os ovos do verme. Se a mão contaminada for levada à boca
em algum momento, o paciente volta a se contaminar. Os ovos
ingeridos eclodem no intestino delgado, dando origem a uma
nova geração de Enterobius vermicularis.

2. Retroinfecção
Após 3 semanas, os ovos implantados na região perianal
eclodem e dão origem a novos vermes. Estes vermes podem
entrar pelo ânus e seguir em direção ao ceco, onde irão se
acasalar novamente.

3. Heteroinfecção
A transmissão do oxiúrus para outras pessoas pode ocorrer
através de mãos contaminadas com ovos.

O paciente coça o ânus, contamina suas mãos e pode transmitir


os ovos ao preparar alimentos, manipular objetos ou
cumprimentar outros indivíduos.

Pessoas que moram no mesmo ambiente de pacientes


contaminados são as que têm mais riscos de serem
contaminadas. Toalhas e roupas de cama estão frequentemente
infectados com ovos de Enterobius vermicularis, o que facilita o
contágio dos cônjuges.

Os ovos começam a perder a capacidade de infectar após 1 ou 2


dias sob condições quentes e secas, mas podem sobreviver por
mais de duas semanas em ambientes frescos ou úmidos.

SINTOMAS
A maioria dos paciente infectados pelo oxiúrus não apresenta
sintomas. Em geral, os sintomas surgem quando o paciente já se
reinfectou sucessivamente, a ponto de ter uma grande
quantidade de vermes no seu trato intestinal, o que pode ocorrer
somente meses depois da contaminação inicial.
Quando o verme provoca sintomas, o mais comum é a coceira
anal. Em alguns casos, a coceira é intensa e deixa o paciente
inquieto e com dificuldade de dormir. Os vermes adultos podem
migrar para locais além do ânus, como a região vaginal. Nas
mulheres pode haver vulvovaginite (inflamação da vulva e da
vagina), coceira e corrimento vaginal.
Ocasionalmente, em paciente que se auto contaminam
repetidamente, a carga de vermes nos intestinos pode ser tão
alta, que o paciente passa a sentir os sintomas típicos das
parasitoses intestinais, tais como dor abdominal, dor para
evacuar, náuseas e vômitos. A obstrução do apêndice pelos
vermes é possível, podendo provocar um quadro de apendicite
aguda.
Os pacientes que coçam a área anal freneticamente podem
provocar escoriações na mucosa, facilitando a infecção das
feridas por bactérias.

DIAGNÓSTICO
Como a eliminação do Enterobius vermicularis pelas fezes pode
ser errática, ou seja, não apresenta um calendário regular ou
previsível, o exame parasitológico de fezes comum não costuma
ser positivo para o verme ou seus ovos. Com este exame,
somente 10% dos pacientes infectados conseguem ser
diagnosticados.
A oxiuríase é mais facilmente diagnosticada através do método
de Graham, no qual se usa uma fita adesiva na pele ao redor do
ânus para que os ovos localizados nesta região adiram à fita.
Estes ovos, então, são colocados sobre uma lâmina de vidro e
visualizados sob um microscópio.

Material colhido da unha de crianças infectadas também pode ser


útil para avaliação microscópica, pois frequentemente contém
ovos de oxiúrus.

TRATAMENTO
O tratamento da oxiuríase é simples e deve ser feito
preferencialmente em todas as pessoas que moram na mesma
casa.

As opções mais usadas para tratar a oxiuríase são:


 Albendazol, 10 mg/kg em dose única, até o máximo de 400
mg. Repete-se a dose em duas semanas.
 Mebendazol, 100 mg, 2 vezes ao dia*, durante 3 dias
consecutivos. Repete-se a dose em duas semanas.
 Pamoato de pirantel, 10 mg/kg, dose única, até o máximo
de 1000 mg.
* 100 mg em dose única é uma alternativa sugerida por alguns
autores.

A taxa de cura com estes esquemas é elevadíssima, acima de


95%. Entretanto, se as pessoas que moram na mesma casa não
forem também tratadas, o risco de reinfecção é alto.

Também de forma a prevenir reinfecções, roupas de cama,


toalhas, cuecas, calcinhas e pijamas devem ser lavados e
trocados diariamente por pelo menos 2 semanas. Brinquedos
devem ser lavados a cada 3 dias por pelo menos 3 semanas. As
unhas devem ser cortadas bem rente para dificultar a deposição
de ovos entre as mesmas durante o ato de coçar o ânus.

Como o verme costuma colocar seus ovos durante a noite, tomar


banho e lavar a região perianal de manhã, assim que acordar,
ajuda a eliminar esses ovos, diminuindo o risco de surgimento de
uma nova geração de vermes dentro de 3 semanas. Também é
importante lavar bem as mãos antes de cada refeição e após
qualquer evacuação.

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 Enterobius vermicularis infection – Gut – British Society of
Gastroenterology.

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