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Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de Minas Gerais

PROJETO DE EDUCAÇÃO CONTINUADA

É o CRMV-MG participando do processo de atualização


técnica dos profissionais e levando informações da
melhor qualidade a todos os colegas.

VALORIZAÇÃO PROFISSIONAL
compromisso com você

www.crmvmg.org.br
Editorial
A Escola de Veterinária da UFMG e o Conselho Regional
de Medicina Veterinária e Zootecnia de Minas Gerais têm a sa-
tisfação de encaminhar à comunidade veterinária e zootécnica
mineira mais um volume dos Cadernos Técnicos, nesta opor-
tunidade intitulado “Procedimentos para o Diagnóstico das
Doenças Neurológicas em Equídeos”. As encefalites eqüinas,
por diferentes etiologias, têm apresentação clínica semelhante e
exigem o diagnóstico laboratorial etiológico e diferencial. Muitas
das doenças do sistema nervoso central de eqüídeos têm aspecto
zoonótico, o que as torna relevantes à saúde pública, com pro-
cedimentos de diagnóstico normatizados em legislação sanitária
de conhecimento profissional obrigatório. Objetiva-se neste vo-
lume, reunir em uma única fonte as informações necessárias ao
encaminhamento do diagnóstico das doenças neurológicas de
eqüídeos, um conhecimento essencial à atuação profissional.
Entretanto, além das encefalites zoonóticas de eqüinos,
considerando os agentes infecciosos e parasitários com risco
ocupacional, há um total de 56 patógenos com potencial zoo-
nótico, com transmissão direta ou indireta. Em uma revisão re-
cente (2020) da literatura científica sobre zoonoses originárias
de eqüídeos, foi descrita a transmissão direta de Staphylococcus
aureus resistente à meticilina em cinco artigos, Streptococcus equi
subsp. zooepidemicus em três artigos, os vírus Hendra e West Nile
em dois artigos cada e Cryptosporidium em um artigo. Destaca-se
que a transmissão de vírus West Nile ocorreu durante necropsia.
As formas mais comuns de transmissão, usualmente com mais
uma forma por patógeno, incluem ingestão (51,8%), inalação
Universidade Federal (33,9%) e contato da pele ou lesões com material contaminado
de Minas Gerais (32,1%). Em 15 patógenos (26,8%), há vetor para a transmis-
Escola de Veterinária são, incluindo mosquitos (46,7%), carrapatos (33,3%) e moscas
Fundação de Estudo e Pesquisa em (13,3%), embora Bartonella spp. pode ser transmitida por múlti-
Medicina Veterinária e Zootecnia
- FEPMVZ Editora plos vetores (moscas, piolhos e pulgas).
Conselho Regional de Acredita-se que este volume servirá para a consulta perma-
Medicina Veterinária do nente ao profissional em sua atuação a acampo, especialmente na
Estado de Minas Gerais medicina de equínos.
- CRMV-MG
Leitura recomendada: Sack, A., Oladunni, F. S., Gonchigoo,
www.vet.ufmg.br/editora
Correspondência:
B., Chambers, T. M., & Gray, G. C. (2020). Zoonotic diseases
FEPMVZ Editora from horses: A systematic review.  Vector-Borne and Zoonotic
Caixa Postal 567 Diseases, 20(7), 484-495.
30161-970 - Belo Horizonte - MG
Telefone: (31) 3409-2042 Méd. Vet. Bruno Divino Rocha
E-mail: Presidente do CRMV-MG – CRMV-MG 7002
editora.vet.ufmg@gmail.com Profa. Zélia Inês Portela Lobato
Foto da capa: Pixabay: Diretora da Escola de Veterinária da UFMG – CRMV-MG 3259
Prof. Antônio de Pinho Marques Junior
Editor-Chefe do Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia (ABMVZ)
– CRMV-MG 0918
Prof. Nelson Rodrigo da Silva Martins
Editor dos Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia – CRMV-MG 4809
Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de Minas Gerais - CRMV-MG
Presidente:
Méd. Vet. Bruno Divino Rocha - CRMV-MG nº 7002
E-mail: crmvmg@crmvmg.org.br

CADERNOS TÉCNICOS DE VETERINÁRIA E ZOOTECNIA


Edição da FEPMVZ Editorada em convênio com o CRMV-MG
Fundação de Estudo e Pesquisa em Medicina Veterinária e
Zootecnia – FEPMVZ
Editor da FEPMVZ Editora:
Prof. Antônio de Pinho Marques Junior
Editor de Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia:
Prof. Nelson Rodrigo da Silva Martins

Editores convidados para esta edição:


Profa. Érica Azevedo Costa – CRMV-MG 6565 (Profa. Adjunta, Escola de Veterinária da UFMG)
Prof. Felipe Pierezan CRMV-MG 14788 (Prof. Adjunto, Escola de Veterinária da UFMG)
Profa. Maria Isabel Maldonado Coelho Guedes CRMV-MG 5205 (Profa. Adjunto, Escola de Veterinária da UFMG)
Profa. Paula Roberta Giaretta CRMV-MG 21398 (Profa. Adjunta, Escola de Veterinária da UFMG)
Profa. Raffaella Bertoni Cavalcanti Teixeira – CRMV--MG (Profa. Adjunta, Escola de Veterinária da UFMG)
Profa. Renata de Pino Albuquerque Maranhão CRMV-MG 6386 (Profa. Associada, Escola de Veterinária da
UFMG)
Aila Solimar Gonçalves Silva – CRMV-MG 13603 (Doutoranda, Escola de Veterinária da UFMG)

Revisora autônoma:
Giovanna Spotorno
Tiragem desta edição:
1.000 exemplares
Layout e editoração:
Soluções Criativas em Comunicação Ltda.
Impressão:
Imprensa Universitária da UFMG

Permite-se a reprodução total ou parcial,


sem consulta prévia, desde que seja citada a fonte.

Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia. (Cadernos Técnicos da Escola de Veterinária da UFMG)


N.1- 1986 - Belo Horizonte, Centro de Extensão da Escola deVeterinária da UFMG, 1986-1998.
N.24-28 1998-1999 - Belo Horizonte, Fundação de Ensino e Pesquisa em Medicina Veterinária e
Zootecnia, FEP MVZ Editora, 1998-1999
v. ilustr. 23cm
N.29- 1999- Belo Horizonte, Fundação de Ensino e Pesquisa em Medicina Veterinária e
Zootecnia, FEP MVZ Editora, 1999¬Periodicidade irregular.
1. Medicina Veterinária - Periódicos. 2. Produção Animal - Periódicos. 3. Produtos de Origem
Animal, Tecnologia e Inspeção - Periódicos. 4. Extensão Rural - Periódicos.
I. FEP MVZ Editora, ed.
Prefácio
A expansão da equídeocultura bra-
sileira e a crescente necessidade do
diagnóstico das enfermidades neu-
rológicas nestes animais demandou
a preparação desta primeira edição
dos Cadernos Técnicos destinado
para Diagnóstico de Enfermidades
Neurológicas em equídeos. Embora as
doenças do sistema nervoso represen-
tem parte importante nos diagnósticos
de enfermidades nestes animais, existe
uma dificuldade na determinação etio-
lógica dessas desordens relacionados
principalmente com a coleta e envio
incorreto de material. Adicionalmente,
a associação de alguns patógenos como
importantes zoonoses, denota uma
preocupação ainda maior pois repre-
senta um problema de saúde pública.
Neste contexto, a necessidade de pro-
mover informações para auxiliar no
diagnóstico de enfermidades neuroló-
gicas nestes animais se faz urgente. O
diagnóstico final de uma enfermidade
neurológica nos equídeos assim como
nas demais espécies de animais, exige
a união de informações clinicas, pa-
tológicas, epidemiológicas e exames
laboratoriais. O médico veterinário
constitui componente essencial para
que todas as etapas do processo se-
jam devidamente realizadas e assim
seja possível o diagnóstico conclusivo.
Desta forma, entregamos na presente
edição um guia para o desenvolvimen-
to de um diagnóstico conclusivo que
inclui desde os exames clínicos, coleta, Paula Roberta Giaretta (Profa. adjunta, Escola de
Veterinária da UFMG)
remessa e acondicionamento dos ma-
Maria Isabel Maldonado Coelho Guedes (Profa.
teriais bem como descarte de resíduos adjunta, Escola de Veterinária da UFMG)
e carcaça. Todas essas etapas devem ser Zélia Inês Portela Lobato (Profa. adjunta, Escola
prontamente seguidas para que o diag- de Veterinária da UFMG)
nóstico laboratorial seja efetuado com Colaboradores:
sucesso. Assim, preparou-se uma edi-
André Almeida Fernandes,
ção atualizada e com uma extensa revi- André Luís de Oliveira Rodrigues,
são de literatura destinada aos médicos Camilla Reinhardt Cintra,
veterinários. Os capítulos foram elabo- Carlos Eduardo Bastos Lopes,
Graciela Kunrath Lima,
rados por uma equipe multidisciplinar Grazielle Cossenzo Florentino Galinari,
da Escola de Veterinária, incluindo re- Guilherme Alves de Queiróz,
sidentes, alunos e professores dos de- Jorge Tibúrcio Barbosa de Lima,
Larissa Costa Andrade,
partamentos de Medicina Veterinária Lucas dos Reis de Souza,
Preventiva, Patologia Veterinária e Mariana Andrioli Pinheiro,
Clínica de Equinos. No diagnóstico Maristela Silveira Palhares,
Thayná Garcia Amorim.
e coleta de material, inclui-se descri-
ções e informações importantes para
estabelecimento de um diagnóstico
diferencial, seguindo metodologias
previstas na legislação brasileira para
importantes agentes virais como a
Raiva. Considerando a abordagem da
presente edição acreditamos que este
Caderno Técnico possui potencial para
contribuir valiosamente para a capa-
citação dos médicos veterinários no
diagnóstico de desordens neurológicas
nos equídeos.

Aila Solimar Gonçalves Silva (Doutoranda, Escola de


Veterinária da UFMG)
Érica Azevedo Costa (Profa. adjunta, Escola de Vete-
rinária da UFMG)
Raffaella Bertoni Cavalcanti Teixeira (Profa. adjunta,
Escola de Veterinária da UFMG)
Renata de Pino Albuquerque Maranhão (Profa. asso-
ciada, Escola de Veterinária da UFMG)
Felipe Pierezan (Prof. Adjunto, Escola de Veterinária
da UFMG)
Sumário

1. Importância do diagnóstico laboratorial de doenças


neurológicas em equídeos................................................... 9

2. Exame neurológico equino.................................................20

3. Guia de necropsia de equídeos com ênfase em coleta


e envio de amostras de animais com alterações
neurológicas.......................................................................49

4. Manejo de resíduos: descarte e desinfecção......................89


1. Importância
do diagnóstico
laboratorial de
doenças neurológicas
em equídeos

pixabay.com

Aila Solimar Gonçalves Silva CRMV-MG 13.603,


Thayná Garcia Amorim (Graduanda em Medicina Veterinária, UFMG),
André Luís de Oliveira Rodrigues CRMV-MG 21.656,
Guilherme Alves de Queiróz CREA-MG 224.590,
Érica Azevedo Costa CRMV-MG 6565,
Maristela Silveira Palhares CRMV-MG 2.746,
Renata de Pino Albuquerque Maranhão CRMV-MG 6.386,
Raffaella Bertoni Cavalcanti Teixeira CRMV-MG 19.140

Os equídeos possuem importante ciais (Carrijo Jr.; Murad, 2016; MAPA


papel na história da humanidade, com 2016).
relevante contribuição no crescimento O contingente populacional de
e no surgimento de muitas civilizações. equídeos no Brasil é bastante expres-
Atualmente, destacam-se em diversas sivo. O país possui o 4º maior rebanho
atividades, como trabalho, esporte, la- mundial de equinos, com aproximada-
zer, produção de antitoxinas, atividades mente 5.850.154 cabeças, atrás apenas
agrícolas/agropecuárias e auxílio no dos Estados Unidos, da China e do
tratamento terapêutico de crianças com México. Considerando-se os asininos e
deficiência e/ou necessidades espe- os muares, o Brasil ocupa a 5ª posição
1. Importância do diagnóstico laboratorial de doenças neurológicas em equídeos 9
mundial em maiores re- te a saúde do rebanho
... o complexo do
banhos com mais de um equídeo nacional. Entre
agronegócio do cavalo
milhão de cabeças, sen- elas, as doenças neuro-
emprega 607.329
do o maior rebanho des- lógicas são responsá-
pessoas diretamente e
tes animais na América
2.429.316 indiretamente, veis por grande parte
do Sul (IBGE, 2019; dos casos de óbito e/ou
totalizando cerca de
FAO, 2018).
três milhões de postos de eutanásia em eqüinos e
A equinocultura
trabalho gerados no país possuem uma ampla lis-
vem ganhando for- ta de diagnósticos dife-
(MAPA, 2016).
ça e reconhecimento renciais (Kumar e Patil,
ao longo dos últimos 2017; Rech e Barros,
anos, assumindo cada vez mais papel 2015). Estudos em diversas regiões do
de destaque dentro do agronegócio. país, como no semiárido (Pimentel et
Segundo o Ministério da Agricultura, al., 2009), Rio Grande do Sul (Pierezan
Pecuária e Abastecimento (MAPA), et al., 2009; Kistet al., 2019) e Minas
o complexo do agronegócio do cavalo Gerais (Costa et al., 2015), demonstram
emprega 607.329 pessoas diretamente a importância das doenças neurológicas
e 2.429.316 indiretamente, totalizando como causa de mortalidade em equíde-
cerca de três milhões de postos de tra- os no Brasil.
balho gerados no país (MAPA, 2016). As afecções do sistema nervoso
Esse complexo movimenta mais de 16 equino podem ter causa
bilhões de reais anual- viral, parasitária, bacte-
mente, em valores de As afecções do sistema riana, protozoária, trau-
abril de 2015, em ati- nervoso equino podem ter mática, neoplásica, com-
vidades que envolvem causa viral, parasitária, pressiva, ser decorrentes
o segmento de lida, bacteriana, protozoária, da ingestão de plantas
esporte e lazer; exposi- traumática, neoplásica, neurotóxicas, micotoxi-
ções e eventos; serviços compressiva, ser nas, de alterações hepá-
veterinários; indústria decorrentes da ingestão ticas, entre outras (Furr
de medicamentos, ra- de plantas neurotóxicas, e Reed, 2015).
ções e suplementos; micotoxinas, de Apesar das diversas
selarias; educação e alterações hepáticas, etiologias, grande parte
pesquisa; entre outras entre outras ... das enfermidades neu-
(MAPA, 2016). rológicas diagnostica-
Diante desse panorama, fica eviden- das na espécie tem origem viral e pro-
te a necessidade de se conhecerem as tozoária (Sellon e Long, 2013). Entre
doenças que ameaçam significativamen- as encefalites de etiologia viral, estão

10 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 99 - maio 2021


importantes zoonoses, a abortos, à interrupção
Entre as encefalites de
como a raiva, os vírus de treinamentos e de
etiologia viral, estão
das encefalites eqüinas eventos, à restrição in-
importantes zoonoses,
do leste (EEEV), oeste tensa de movimentação
como a raiva, os vírus
(WEEV) e venezuela- das encefalites eqüinas de animais, além de al-
na (VEEV), o vírus do do leste (EEEV), oeste tos gastos com terapias
Nilo ocidental (VNO) (WEEV) e venezuelana e medidas preventivas
e o vírus da encefalite (VEEV), o vírus do (Oladunni et al., 2019).
de Saint Louis (SLEV) Nilo ocidental (VNO) A d i c i o na l m e n te,
(Kumar e Patil, 2017; e o vírus da encefalite de desde sua introdução
Rech e Barros, 2015). Saint Louis (SLEV)... nos Estados Unidos em
Ademais, a mieloen- 1999, o vírus do Nilo
cefalopatia equina ocidental (VNO) é cau-
Em 2002, mais de sa de doença e morte em
por herpesvírus tipo 1
15.000 equinos, em 40 seres humanos, aves e
(EHV-1), apesar de não
estados americanos,
causar doença em seres equinos. Em 2002, mais
foram diagnosticados
humanos, apresenta de 15.000 equinos, em
com febre do Nilo
grande importância por 40 estados americanos,
ocidental ...
ser altamente conta- foram diagnosticados
giosa à espécie e frequentemente fatal com febre do Nilo oci-
(Pusterla e Hussey, 2014). dental (FNO) (Bosco-Lauth e Bowen,
As afecções do sistema nervoso re- 2019). Com a progressão de casos e
presentam mundialmente uma amea- mortalidade jamais observados ante-
ça sanitária e também econômica para riormente nos surtos do vírus em outros
a indústria eqüestre (Lecollinet et al., países, o primeiro estudo sobre as per-
2019). A alta receita gerada pela indús- das econômicas relacionadas a surtos de
tria, em diversos países, faz com que as FNO teve origem nos EUA. Nos esta-
perdas econômicas associadas à pro- dos do Colorado e Nebraska, em 2002,
pagação crescente das enfermidades foram 1.478 casos confirmados labora-
neurológicas virais sejam um tópico torialmente, com custos estimados de
importante, mas ainda pouco explorado mais de um milhão de dólares, associa-
de discussão. Esse forte impacto econô- dos à eutanásia/óbito de equinos, ao tra-
mico resultante de surtos de mieloen- tamento e à retirada dos animais do tra-
cefalopatia equina por herpesvírus 1 já balho. Além disso, estimou-se que mais
foi demonstrado nos Estados Unidos. de 2,7 milhões de dólares foram gastos
As perdas econômicas foram associa- em imunização dos eqüinos nesses es-
das à morte ou à eutanásia dos animais, tados (APHIS, 2002). Posteriormente,
1. Importância do diagnóstico laboratorial de doenças neurológicas em equídeos 11
nos anos de 2002 e dos à vacinação dos ani-
2003, um estudo no
[A Febre do Nilo mais, mas envolveram
Ocidental]... no Texas
Texas avaliou o impac- também o atendimento
... estimativa de impacto
to econômico de casos veterinário, o diagnósti-
econômico acima de
de FNO na população co, o tratamento, a hos-
16 milhões de dólares,
equina do estado, re- pitalização, a vigilância e
considerando-se
sultando na estimativa o valor de reposição em
apenas os gastos com
de impacto econômico caso de óbito. Em huma-
imunização de 25%
acima de 16 milhões da população equina nos, os maiores impactos
de dólares, consideran- do estado e as perdas econômicos foram asso-
do-se apenas os gas- associadas à morte ou à ciados aos gastos com
tos com imunização eutanásia dos animais. ... internação hospitalar.
de 25% da população O estudo dos impac-
equina do estado e as perdas associa- tos socioeconômicos da enfermidade
das à morte ou à eutanásia dos animais. foi motivado pela presença endêmica
Essa pesquisa evidenciou a necessidade de mosquitos do gênero Culex, princi-
de maior capacitação entre os veteriná- pal vetor do VNO no país e teve como
rios de equinos, nas áreas de prevenção, principal objetivo permitir planejamen-
controle e tratamento da FNO (Galvan tos prévios em caso de possíveis surtos
et al., 2003). (Humblet et al., 2016).
Complementarmente, um estu- Estudos publicados sobre o impacto
do prospectivo na Bélgica, em 2016, econômico das enfermidades neuroló-
avaliou o possível im- gicas na indústria eques-
pacto econômico de [A Febre do Nilo tre brasileira são bas-
futuras epidemias cau- Ocidental]... O tante escassos. Porém,
sadas pelo VNO, não estudo dos impactos baseando-se na alta re-
somente em equinos, socioeconômicos ceita gerada pelo agrone-
mas também em seres da enfermidade gócio do cavalo no país
humanos com enfer- foi motivado pela e nos dados americanos
midade neuroinvasiva. presença endêmica de e europeus, acredita-se
A avaliação foi gerada mosquitos do gênero que surtos de doenças
com base em dados de Culex, principal vetor neurológicas tenham
epidemias anteriores na do VNO no país e teve grande impacto socioe-
Europa, com diferen- como principal objetivo conômico no Brasil.
tes taxas de infecção. permitir planejamentos A d i c i o n a l m e n te,
Os maiores custos em prévios em caso de como já mencionado,
equinos foram associa- possíveis surtos... muitos desses agentes
12 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 99 - maio 2021
virais são importantes zoonoses e, as- que são também importantes zoonoses,
sim, são responsáveis por graves en- como FNO, SLEV e encefalites equinas
fermidades na população humana. A do leste, oeste e venezuelana (Castillo-
Organização Mundial da Saúde (OMS) Olivares e Wood, 2004). Por serem mais
define o termo zoonose como qualquer susceptíveis às arboviroses, são infecta-
doença ou infecção que é naturalmente dos com maior frequência em compa-
transmissível de animais vertebrados ração aos humanos (Castillo-Olivares e
para humanos, de forma direta ou indi- Wood, 2004), servindo como indicado-
reta (Go et al., 2014). Conforme já cita- res, ou mesmo sentinelas, da circulação
do, dentre as enfermidades neurológicas desses agentes em uma área ou região,
equinas consideradas o que contribui para o
zoonoses, destacam-se ... além da preservação controle e a vigilância
a raiva, as encefalites do da saúde animal e dos epidemiológica (Kotait
leste, oeste e venezuela- cuidados com ela, o et al., 2008).
na, a febre do Nilo oci- médico veterinário possui Dessa forma, além
dental e a encefalite de importante atribuição no da preservação da saúde
Saint Louis. controle ... de zoonoses, animal e dos cuidados
A raiva é de gran- sendo inserido no com ela, o médico vete-
de importância por moderno conceito de rinário possui importan-
ser altamente fatal, em “One Health” te atribuição no controle
humanos e animais. ... Saúde Única, [que] e combate de zoonoses,
Portanto, deve estar trata da integração sendo inserido no mo-
sempre no topo da lista entre saúde humana, derno conceito de “One
de diagnósticos diferen- saúde animal, do meio Health” (Saúde Única).
ciais, especialmente em ambiente e a adoção de O conceito Saúde
animais não vacinados, políticas públicas eficazes Única trata da integra-
com desenvolvimento na prevenção e no ção entre saúde humana,
agudo de sinais clíni- controle de doenças... saúde animal, do meio
cos neurológicos. As ambiente e a adoção de
demais doenças frequentemente levam políticas públicas eficazes na prevenção
a quadros assintomáticos em humanos, e no controle de doenças (Gossner et al.,
porém têm potencial para causar surtos, 2017; Young et al., 2019). Dessa forma,
alta letalidade e alto índice de sequelas os sistemas de vigilância dos países bus-
neurológicas nos sobreviventes (Kotait cam atuação conjunta dos diferentes se-
et al., 2008). tores de saúde humana e animal. Nesse
Os equídeos apresentam grande contexto, para prevenção e controle de
susceptibilidade a encefalites virais, FNO, os Estados Unidos e a Europa dis-
1. Importância do diagnóstico laboratorial de doenças neurológicas em equídeos 13
ponibilizaram recursos para a capacita- texto de Saúde Única, trabalhando dire-
ção de veterinários para auxílio nos pro- tamente com o Ministério da Saúde. A
gramas de vigilância e têm obtido bons notificação de casos suspeitos de raiva
resultados. As estratégias educacionais em herbívoros é obrigatória ao Serviço
focam em reconhecer a enfermidade e Veterinário Estadual Oficial (MAPA,
seus sinais clínicos precocemente, com- 2019b). Posteriormente em 2003,
preender o risco de desenvolvimento da foi elaborado o Sistema Nacional de
doença, os métodos de prevenção em Vigilância da Febre do Nilo Ocidental,
equinos, além de instruções detalhadas baseado nas recomendações da
para o envio de amostras aos laborató- Organização Pan-Americana da Saúde
rios (Bayeux et al., 2019; Browne et al., e da Organização Mundial da Saúde
2019; Chapman et al., 2018; Lanteri et (Ministério da Saúde, 2019a), sendo
al., 2014). também uma enfermidade de notifica-
Os programas de vigilância variam ção obrigatória (MAPA, 2019a).
conforme as particu- A vigilância nos
laridades epidemioló- A notificação de casos equídeos pode ser pas-
gicas e financeiras de suspeitos de raiva em siva ou ativa. Relatos
cada país. Os equídeos herbívoros é obrigatória de novos casos de en-
podem ser utilizados na ao Serviço Veterinário cefalomielite equina
vigilância epidemioló- Estadual Oficial por veterinários locais
gica de FNO, por exem- (MAPA, 2019b). ... em demonstram o aumen-
plo, além das aves e 2003, foi elaborado o to da atividade do ar-
dos mosquitos vetores. Sistema Nacional de bovírus em uma área,
Diversos países, como Vigilância da Febre o que serve de alerta às
Áustria, França, Grécia, do Nilo Ocidental autoridades de saúde
Hungria, Espanha e ... sendo também pública para a necessi-
Itália, implementaram uma enfermidade de dade de investigação. A
esse tipo de vigilância notificação obrigatória vigilância ativa é realiza-
animal para controle de (MAPA, 2019a). da por meio de contato
FNO (Gossner et al., regular com veterinários
2017; Lustig et al., 2018; Young et al., de equídeos, encorajando-os a relatar
2019). casos suspeitos e a enviar amostras de
No Brasil, o Programa Nacional material biológico para confirmação la-
de Controle da Raiva em Herbívoros boratorial (CDCP, 2013; Hirota et al.,
(PNCRH) existe desde 1996, com o 2013; Vieira et al., 2015). Em ambas as
objetivo de controlar a incidência de atitudes, é fundamental a participação
raiva em herbívoros domésticos no con- de médicos veterinários para o suces-
14 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 99 - maio 2021
so do programa (Bayeux et al., 2019). neurológicos e, com base nos achados,
O diagnóstico conclusivo é de extrema pode localizar a lesão no sistema ner-
importância para que programas de pre- voso. Por meio do diagnóstico neuro-
venção e controle sejam implementados anatômico, é possível definir uma lista
com eficácia. de possíveis diagnósticos diferenciais e,
O diagnóstico final de uma enfermi- assim, priorizar os exames complemen-
dade neurológica nos equídeos, assim tares a serem realizados (Borges, 1999;
como nas demais espécies de animais, Furr e Reed, 2015). O exame neurológi-
exige a união de histórico, informações co equino será discutido em detalhes no
clínicas, patológicas e epidemiológi- Capítulo 2. No entanto, apenas o exame
cas do indivíduo e de situação a serem clínico não é capaz de subsidiar o diag-
avaliados (Figura 1). O médico veteri- nóstico conclusivo de uma enfermidade.
nário constitui componente essencial No diagnóstico da raiva, por exem-
para que todas as etapas do processo plo, a necropsia é necessária para con-
sejam devidamente realizadas e, assim, firmação diagnóstica, porém representa
seja possível o
diagnóstico
conclusivo.
O diagnós-
tico tem início
com uma boa
anamnese e
um exame clí-
nico minucio-
so. Devido aos
sinais clínicos
muitas vezes
inespecíficos, o
exame neuro-
lógico torna-se
o passo fun-
damental para
que o diagnós-
tico seja esta-
belecido, pois
confirma a pre- Figura 1. Relação do conjunto das etapas para diagnóstico conclusivo de uma
sença de sinais enfermidade.
1. Importância do diagnóstico laboratorial de doenças neurológicas em equídeos 15
um desafio para o médico veterinário ção precoce, seja por identificação de
de eqüinos a campo, visto que requer anticorpos (técnicas sorológicas), seja
a remoção do sistema nervoso cen- de genoma viral no sangue, por exem-
tral (SNC) para detecção do vírus, por plo, constitui ferramenta essencial na
meio de técnicas laboratoriais (MAPA, vigilância epidemiológica de importan-
2019b). Nos equídeos com sinais neu- tes zoonoses. Nesse contexto, a recente
rológicos, faz-se necessária a coleta de identificação de VNO nas hemácias de
segmentos da medula espinhal cervical, equinos é uma importante técnica labo-
torácica e toracolombar, uma vez que ratorial para o monitoramento da FNO
as lesões são frequen- no Brasil (Costa et al.
temente encontradas 2021 – preprint).
[Febre do Oeste do
nessas regiões (Rech e A dificuldade diag-
Nilo]... a detecção
Barros, 2015). O diag- nóstica em equinos está,
precoce, seja por
nóstico fica comprome- muitas vezes, relacio-
identificação de
tido se as amostras não nada à coleta, ao arma-
anticorpos (técnicas
são coletadas e arma- zenamento e ao envio
sorológicas), seja de
zenadas corretamente
genoma viral no sangue, de material inadequado
(Pedroso et al., 2010; após o óbito do animal,
por exemplo, constitui
Peixoto et al., 2000;
ferramenta essencial na o que pode gerar resul-
Rech e Barros, 2015). A
vigilância epidemiológica tados falso-negativos
técnica para realização
de importantes zoonoses. (Kotait, 1992). As esti-
da necropsia e da coleta
Nesse contexto, a recente mativas de casos anuais
de material post mortem
identificação de VNO de FNO, por exemplo,
é discutida em detalhes
nas hemácias de equinos em equinos devem ser
no Capitulo 3.
é uma importante técnica conhecidas, a fim de se
Para exame das
laboratorial para o compreender o impac-
causas infecciosas de
monitoramento da FNO to socioeconômico da
algumas enfermida-
no Brasil ... doença, seus padrões de
des neurológicas nos
mudança e a eficácia de
equídeos, podem ser
medidas preventivas. Mais pesquisas e
coletados materiais como sangue total,
difusão de informações são necessárias,
soro, urina e/ou líquido cefalorraqui-
diano (LCR) (Chapman et al., 2018). o que pode ser conseguido empregan-
Adicionalmente, embora para o diag- do-se esforços educacionais de colabo-
nóstico conclusivo de muitos patógenos ração entre a medicina veterinária e a
virais seja necessária a identificação do saúde pública.
agente no SNC desses animais, a detec- Muitos são os desafios relacionados
ao controle de importantes enfermida-
16 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 99 - maio 2021
des que afetam a saúde humana bem 3. BORGES, A. S.; MENDES, L. C. N.;
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1. Importância do diagnóstico laboratorial de doenças neurológicas em equídeos 17


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GALIZA, G. J. N., DO REGO, R. O., DANTAS,

1. Importância do diagnóstico laboratorial de doenças neurológicas em equídeos 19


2. Exame
neurológico
equino

pixabay.com
Larissa Costa Andrade CRMV-MG 19.953,
Camilla Reinhardt Cintra CRMV-MG 20.139,
Jorge Tibúrcio Barbosa de Lima CRMV-MG 15.340,
Maristela Silveira Palhares CRMV-MG 2.746,
Renata de Pino Albuquerque Maranhão CRMV-MG 6.386,
Raffaella Bertoni Cavalcanti Teixeira CRMV-MG 19.140

A avaliação do sis- cos diferenciais, prio-


O objetivo do exame
tema nervoso central rizar os exames com-
neurológico é confirmar
de equinos aparenta a presença de sinais plementares a serem
ser uma tarefa difícil, neurológicos e, com base nos realizados, determi-
porém, seguindo-se achados, localizar a lesão. ... nar o prognóstico, o
um exame padroniza- ... recomenda-se ... avaliação plano terapêutico e
do, se torna mais sim- ... no sentido craniocaudal, as medidas sanitárias
ples. O objetivo do iniciando-se pela cabeça... em de controle no plan-
exame neurológico é direção à cauda ... Os achados tel, quando indicado
confirmar a presença ... devem ser registrados (Borges, 1999; Furr
de sinais neurológi- em uma ficha neurológica e Reed, 2015). O
cos e, com base nos padronizada, logo após exame neurológico
achados, localizar a ... cada teste. Esse registro deve ser realizado de
lesão. Por meio desse auxilia na localização da forma sistemática,
diagnóstico neuroa- lesão no sistema nervoso e para que etapas não
natômico, é possível no acompanhamento da sejam puladas e sinais
definir uma lista de progressão dos sinais em de alteração neuroló-
possíveis diagnósti- avaliações subseqüentes ... gica não deixem de

20 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 99 - maio 2021


ser identificados ( Johnson, 2010; Furr cas são mais frequentes em equinos com
e Reed, 2015). Para isso, recomenda-se determinadas características, como a
que a avaliação seja realizada no sentido abiotrofia cerebelar em potros Árabes e
craniocaudal, iniciando-se pela cabeça a mielopatia cervical estenótica em po-
do animal e transcorrendo-se em di- tros Puro Sangue Inglês (Nout e Reed,
reção à cauda (Furr e Reed, 2015). Os 2003; Furr e Reed 2015).
achados do exame devem ser registra- A anamnese é a base do diagnósti-
dos em uma ficha neurológica padro- co e exige organização e padronização
nizada, logo após a realização de cada do elenco de perguntas. Não é simples
teste. Esse registro auxilia na localização fazer uma boa anamnese. Tempo, diplo-
da lesão no sistema ner- macia, gentileza, paci-
voso e no acompanha- A anamnese é a ência, discrição e uma
mento da progressão base do diagnóstico postura que transmita
dos sinais em avaliações e exige organização interesse, compreen-
subsequentes (Furr e e padronização do são e solidariedade são
Reed, 2015). elenco de perguntas. elementos essenciais
O diagnóstico neu- Não é simples fazer (Campbell, 2018). A
rológico é uma correla- uma boa anamnese. anamnese deve conter
ção de dados na avalia- Tempo, diplomacia, informações sobre o
ção do sistema nervoso
gentileza, paciência, início e a evolução da
em condições de saúde
discrição e uma enfermidade atual, os
e de doença – uma aná-
postura que transmita tratamentos realizados
interesse, compreensão
lise de todos os detalhes e a resposta à terapia,
e solidariedade são
obtidos por anamnese, o manejo nutricional e
elementos essenciais...
exame físico e avalia- sanitário, o histórico de
ções complementares enfermidades prévias
(Campbell, 2018). O exame específico no animal e no plantel, o número de
do sistema neurológico não deve ser animais acometidos, entre outras infor-
realizado de forma independente, mas mações descritas na ficha de avaliação
em conjunto com o exame físico geral neurológica em anexo. A aquisição de
e a avaliação de outros sistemas, como histórico detalhado e acurado auxilia
o musculoesquelético (Furr e Reed, no desenvolvimento da lista de diag-
2015). Na identificação são coletadas nósticos diferenciais, especialmente em
informações do paciente, como ida- casos de histórico de trauma, exposição
de, raça, sexo, função e procedência. A a enfermidades infectocontagiosas ou a
identificação auxilia no diagnóstico, vis- substâncias tóxicas (Furr e Reed, 2015).
to que certas enfermidades neurológi- O exame físico geral permite a avalia-
2. Exame neurológico equino 21
ção do estado geral do de extrema importân-
O uso de luvas
paciente, como grau de cia, principalmente em
durante o exame é de
hidratação, temperatu- casos de suspeita de
extrema importância,
ra corporal, coloração raiva e em animais com
principalmente em ...
de mucosa e possíveis histórico de vacinação
suspeita de raiva [e]
alterações em outros desconhecido, pelo ris-
pelo risco de diversas
sistemas. A presença co de diversas zoonoses.
zoonoses. Apesar de
de febre pode ser um Apesar de a raiva apre-
a raiva apresentar
indicativo importante sentar rápida progres-
rápida progressão,
de enfermidades infec- são, os sinais iniciais são
os sinais iniciais são
ciosas, como as ence-
variáveis e muitas vezes variáveis e muitas vezes
falites virais. Essa ava- inespecíficos. Nesses
inespecíficos. Nesses
liação deve ser seguida casos, deve-se também
casos, deve-se também
pelo exame específico limitar o número de
limitar o número de
do sistema nervoso pessoas expostas ao pa-
pessoas expostas ao
(Borges, 1999; Furr e ciente neurológico, bem
paciente neurológico,...
Reed, 2015), foco prin- como registrar o nome
cipal de discussão deste de todos os que entraram em contato
Capítulo. com o animal, para futura comunicação
O exame específi- de casos positivos, já
co do sistema nervo- Como comportamentos que o diagnóstico de-
so pode ser dividido anormais, destacam- finitivo ocorre apenas
em quatro etapas: 1. se andar em círculos, postmortem (Borges,
Avaliação do estado andar compulsivo, 1999; Johnson, 2010).
mental e do compor- pressionar a cabeça Em caso de óbito e sus-
tamento; 2. Avaliação contra objetos (head peita de raiva, é impe-
dos nervos cranianos; pressing), demonstrar rativo que a avaliação
3. Avaliação muscular e agressividade, inclinar a post mortem e o envio de
reflexos espinhais e 4. cabeça, entre outros. material para diagnós-
Avaliação do movimen- tico sejam realizados.
to, da postura e das reações posturais. A Informações detalhadas sobre a coleta e
avaliação detalhada de cada etapa está o envio de material podem ser encontra-
descrita a seguir e ilustrada nas Figuras das no Capítulo 3.
2 a 25. Sedativos e tranquilizantes não
devem ser administrados antes da ava- 1. Avaliação do estado
liação ( Johnson, 2010). mental
O uso de luvas durante o exame é
Alterações de estado mental e de
22 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 99 - maio 2021
comportamento podem ser reflexo de intensos;
comprometimento encefálico. A ava- • estupor: responsividade apenas a estí-
liação deve ser realizada inicialmente mulos tácteis dolorosos, não responsi-
com o animal solto em baia ou piquete, vo ao ambiente;
antes de contê-lo com o cabresto. Deve- • coma: não responsivo a nenhum estí-
se observar a interação do animal com mulo táctil ou ambiental.
o ambiente e sua resposta a estímulos.
O comportamento normal do equino 2. Avaliação dos nervos
é alerta e responsivo, porém deve-se cranianos
levar em consideração a influência da Existem diversas maneiras de se
idade, do sexo, da raça e as caracterís- avaliar os nervos cranianos. Uma delas é
ticas individuais do paciente no seu por meio da avaliação da função de cada
comportamento (Furr e Reed, 2015). um dos pares individualmente, inician-
Como comportamentos anormais, do-se pelo primeiro e finalizando-se no
destacam-se andar em círculos, andar 12º. O Quadro 1 descreve os 12 pares de
compulsivo, pressionar a cabeça contra nervos cranianos, a função de cada um,
objetos (head pressing), o teste de avaliação a ser
demonstrar agressivi- [Há] diversas maneiras realizado e a alteração
dade, inclinar a cabeça, de se avaliarem os nervos esperada em caso de
entre outros. cranianos. Uma delas é disfunção. As Figuras
As alterações de por meio da avaliação da de 2 a 8 ilustram a ava-
estado mental podem função de cada um dos liação de diversos ner-
ser classificadas como pares individualmente, vos cranianos.
( Johnson, 2010): iniciando-se pelo Pode-se observar,
• hiperestesia: aumen- primeiro e finalizando-se no Quadro 1, que de-
to da responsividade no 12º... terminados testes ava-
a estímulos tácteis e liam a integridade de
ambientais; mais de um nervo craniano, como a rea-
• letargia/depressão: desinteresse e baixa lização do reflexo pupilar, que avalia si-
responsividade aos estímulos tácteis multaneamente os nervos cranianos II e
e ambientais. Esse comportamento III; a habilidade de deglutição, que ava-
pode ser encontrado em animais com lia os pares IX e X; e o posicionamento
sinais intracranianos leves, doenças do globo ocular, que avalia os pares III,
sistêmicas ou dor. O exame físico ge- IV e VI. Com o tempo e a experiência,
ral pode auxiliar nessa diferenciação; o examinador pode agrupar a avaliação
• obtundação: responsividade ape- dos nervos de acordo com a função que
nas a estímulos ambientais e tácteis realizam.
2. Exame neurológico equino 23
Quadro 1. Doze pares de nervos cranianos:
função, teste de avaliação e sinais de disfunção.

NERVO CRANIANO FUNÇÃO TESTE DE AVALIAÇÃO ALTERAÇÃO


Oferecer alimento de cheiro
atrativo com a mão fechada.
Sensitivo:
I. Olfatório Teste de difícil avaliação, Perda do olfato
olfato
portanto não realizado
rotineiramente
Reflexo de ameaça
Cegueira
(Figura 2)
II. Óptico Sensitivo: visão
Reflexo pupilar Perda do reflexo
(Figura 3) pupilar
Motor: reflexo Midríase
Reflexo pupilar
pupilar e Perda do reflexo
(Figura 3)
músculos pupilar
extraoculares
III. Oculomotor (dorsal, ventral,
reto medial, Estrabismo*
oblíquo ventral, Posição do globo ocular
lateroventral
elevador
palpebral)
Motor: mús-
Estrabismo*
IV. Troclear culo dorsal Posição do globo ocular
dorsomedial
oblíquo
Ausência de sensi-
Sensitivo: re- Toque da pálpebra com o
bilidade do reflexo
flexo palpebral dedo
palpebral (piscar)
e corneal,
sensibilidade Toque da face com objeto Ausência de sensibili-
V. Trigêmio
da face (Figura 4) dade facial
Motor:
músculos da Observar simetria dos mús-
Atrofia de masseter
mastigação culos faciais

Motor: múscu- Perda do reflexo


Toque na córnea
los reto lateral corneal
VI. Abducente
e retrator do
globo ocular Posição do globo ocular Estrabismo* medial

(continua)

24 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 99 - maio 2021


Quadro 1. (continuação) Doze pares de nervos cranianos:
função, teste de avaliação e sinais de disfunção.

Ptose* auricular e pal-


pebral, desvio labial
Observar simetria facial
Perda do reflexo
Reflexo palpebral, movimen-
Motor: múscu- palpebral (piscar),
tação auricular e labial
los de expres- redução ou ausência
(Figura 5)
são facial da movimentação
VII. Facial
Parassimpático: auricular e labial
glândula lacri-
mal e salivar Redução na produção
de lágrima e cerato-
Produção de lágrima
conjuntivite seca
Produção de saliva
Redução na produção
de saliva
Observar a posição da cabe- Desvio de cabeça,
ça e a presença de nistag- nistagmo* eperda de
Sensitivo: equi- mo* espontâneo equilíbrio
VIII. Vestibulococlear
líbrio e audição Produção de estímulos
Ausência de resposta:
auditivos
surdez
(Figura 6)
Habilidade de deglutição
Motor e sen- Disfagia*
(Fornecer alimento ou
IX. Glossofaríngeo sitivo para a Possível deslocamen-
observar por meio da
faringe to de palato mole
endoscopia)
Disfagia*
Habilidade de deglutição
Possível deslocamen-
(Fornecer alimento ou
to de palato mole
observar por meio da
Possível paralisia de
endoscopia)
laringe
Sensorial e mo- Slaptest
X. Vago tor para faringe (Figura 7)
e laringe (Teste pouco sensível se
realizado por meio de palpa- Ausência de abdução
ção das aritnenoides. Maior das aritenoides
sensibilidadese realizada en-
doscopia para visualização
direta das aritnenoides)

(continua)

2. Exame neurológico equino 25


Quadro 1. (continuação) Doze pares de nervos cranianos:
função, teste de avaliação e sinais de disfunção.
Motor para os
músculos cer- Observar musculatura do Atrofia da musculatu-
XI. Acessório
vicais, laringe e pescoço ra do pescoço
esôfago
Tração da língua com a mão Redução do tônus
para ambos os lados lingual
XII. Hipoglosso Motor: língua (Figura 8) Protrusão de língua
Observar musculatura da Presença de atrofia,
língua assimetria

Legenda: estrabismo* = posicionamento anormal do globo ocular; ptose*= queda; nistagmo*= movi-
mento involuntário dos olhos; disfagia*=dificuldade de deglutição.Fonte: Adaptado de Johnson, 2010;
Furr e Reed, 2015; Andrews, 2017.

Figura 2. Avaliação de diversos pares de nervos cranianos.


Reflexo de ameaça. Abertura da mão em direção ao olho.
Atenção para não encostar nos cílios ou movimentar ar, evi-
tando-se erro no diagnóstico. O animal sem alteração pisca
e/ou tenta se afastar do movimento. Avaliação do nervo
óptico (II)

Figura 3. Avaliação de diversos pares de nervos cranianos.


Reflexo pupilar direto frente ao foco de luz. O animal deve-
rá apresentar miose (contração da pupila) como resposta ao
estímulo. Avaliação dos pares de nervos cranianos óptico e
oculomotor (II e III). Na avaliação do reflexo consensual, a
luz é incidida em um olho e o reflexo observado no outro.
Teste melhor realizado em ambiente escuro.

26 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 99 - maio 2021


Figura 4. Avaliação de
diversos pares de nervos
cranianos. Sensibilidade
facial utilizando objeto
pontiagudo. O animal de-
verá reagir, apresentando
incômodo ao estímulo.
Avaliação do nervo trigê-
mio (V).

Figura 5. Avaliação de diversos pares de nervos


cranianos. Simetria facial. Observar presença
de ptoses auricular, palpebral e labial. Na foto, o
animal apresenta ptose auricular direita e desvio
labial para a esquerda. Avaliação do nervo facial
(VII).

Figura 6. Avaliação de diversos pares de ner-


vos cranianos. Avaliar posição de cabeça (des-
vios laterais), presença de nistagmo e perda
de equilíbrio. Produção de estímulo auditivo:
Bater palmas. O animal deverá reagir ao som.
Certifique-se de que a reação é ao som, e não ao
movimento. Avaliação do nervo vestibulococlear
(VIII).

2. Exame neurológico equino 27


Figura 7. Avaliação de diversos pares de nervos cranianos. Slaptest: um examinador posiciona os
dedos acima das aritenoides, e o outro, com a mão em concha, estimula a região atrás da cernelha. É
esperada a movimentação da aritenoide contralateral ao estímulo táctil. Teste de baixa sensibilidade.
Avaliação do nervo vago (X).

Figura 8. Avaliação de diversos pares


de nervos cranianos. Tração da língua
em ambos os lados e para frente. O
animal deverá retrair a língua durante
o teste. Observar presença de possível
atrofia. Avaliação do nervo hipoglosso
(XII).

28 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 99 - maio 2021


3. Avaliação muscular e
reflexos espinhais
A musculatura deve ser avaliada
no intuito de se identificarem áreas de
atrofia ou assimetria. No equino em
estação, devem-se avaliar os reflexos
cervicofacial, músculo-cutâneo (pa-
nículo), perineal e o tônus de cauda
e ânus ( Johnson, 2010). As imagens
com a descrição de cada um dos refle-
xos encontram-se nas Figuras 9 a 13.
Deve-se avaliar também alterações
de sensibilidade da pele (hipoalgesia,
analgesia ou hiperestesia) e áreas de
sudorese anormais que podem indi-
car desnervação simpática ( Johnson,
2010). Entre os reflexos a serem ana-
lisados estão:
3.1. Reflexo cervicofacial
Figura 9. Reflexos espinhais e avaliação mus-
(Figura 9) cular. Estimulação da musculatura vertebral do
pescoço utilizando uma caneta. É possível obser-
• Modo de execução: Utilize um obje-
var contração da comissura labial e tensão dos
to pontiagudo (pinça hemostática, músculos do pescoço.
caneta ou chave) para tocar a pele
sobre a musculatura vertebral do 3.2. Reflexo muscular
pescoço. cutâneo (Figura 10)
• Interpretação: A resposta esperada é
• Modo de execução: Utilize um objeto
a contração facial e a dos músculos
pontiagudo (pinça hemostática, ca-
do pescoço, observadas como movi-
mentação lateral da cabeça, contra- neta ou chave) para tocar a pele sobre
ção da comissura do lábio, do pes- a musculatura, iniciando-se no últi-
coço e movimentação da orelha do mo espaço intercostal, progredindo-
mesmo lado do estímulo. Auxilia no -se no sentido caudocranial. Realize
diagnóstico de lesões de medula cer- o estímulo tanto ventral quanto
vical. Realizar a avaliação dos lados dorsalmente.
direito e esquerdo do pescoço. • Interpretação: A resposta normal es-
2. Exame neurológico equino 29
perada é a observação de
espasmos da pele (tremo-
res). Animais com alterações
medulares não apresenta-
rão esse reflexo quando o
estímulo for caudal à lesão.
Realizar o estímulo tanto do
lado direito quanto esquerdo
do animal.
3.3. Reflexo perineal
(Figura 11) Figura 10. Reflexo muscular cutâneo. Estimulação cutânea
• Modo de execução: Para ventral na linha do 16° espaço intercostal.

testar o reflexo perineal, é


indicado o uso de objeto
pontiagudo. Devem-se reali-
zar toques na região perine-
al e observar a resposta do
animal.
• Interpretação: A resposta
normal é a observação de es-
pasmos da pele (tremores).
A ausência de sensibilidade
nessa região pode indicar sín-
drome da cauda equina, com
lesão na região S2-coccígea.
Pode estar acompanhada de
diminuição do tônus anal,
tônus de cauda e incontinên-
cia urinária.
3.4. Tônus de cauda
(Figura 12)
• Modo de execução: Para
testar o tônus da cauda, faça
movimentos de flexão e ex-
tensão da cauda. Figura 11. Reflexo perineal. Estimulação perineal utilizando
• Interpretação: A resposta uma pinça.

30 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 99 - maio 2021


Figura 12. Tônus de cauda. Elevação da cau- Figura 13. Beliscamento anal utilizando pinça.
da para flexioná-la. O animal deverá relutar ao
movimento.
contração anal deve colocar o médico
normal esperada é a relutância do veterinário em alerta sobre a incapaci-
animal à reação de movimentação dade de defecação, com consequente
da cauda. A ausência de relutância retenção de fezes e cólica.
nessa região pode ser parcial ou to-
tal, podendo indicar lesão na região 4. Avaliação do
S2-coccígea. movimento, da postura e
3.5. Tônus de ânus (Figura das reações posturais
13) A avaliação da postura e das reações
• Modo de execução: Com o auxílio de posturais pode ser realizada dentro ou
uma pinça hemostática ou utilizando fora da baia. Os equinos com perda de
os próprios dedos, realize beliscamen- propriocepção podem apresentar pos-
tos na região anal. turas anormais quando parados ou após
• Interpretação: É esperado que, após o os testes de propriocepção. A abertura
beliscamento, o animal realize contra- de membros (base ampla) ou os mem-
ção anal como resposta. A ausência de bros cruzados são alterações comumen-
2. Exame neurológico equino 31
te encontradas. As posturas anormais e
as respostas atípicas aos testes de rea-
ções posturais devem ser interpretadas
em conjunto com os demais achados
do exame neurológico. As imagens das
Figuras 14 e 15 demonstram como os
testes de propriocepção devem ser rea-
lizados e interpretados.
4.1. Cruzar os membros
(Figura 14)
• Modo de execução: Cruze um mem-
bro na frente do outro. Realize o teste
nos membros torácicos e depois nos
pélvicos.
• Interpretação: O retorno à posição
inicial em cavalos normais deve ocor-
rer dentro dos primeiros segundos ou
o animal deverá demonstrar resistên-
cia à colocação do membro na posi-
ção cruzada. Cavalos com alteração
permanecem em posição por tempo
prolongado ou apresentam dificul-
dade para retornar à posição inicial. Figura 14. Reações posturais: Cruzar os mem-
bros: Membros posteriores cruzados intencio-
Esse teste detecta déficits proprio-
nalmente pelo examinador. O animal deverá re-
ceptivos conscientes. Deve-se levar tornar à posição inicial em alguns segundos.
em consideração o comportamento
e o treinamento do animal, visto que • Interpretação: O retorno à posição
os mais calmos e mais velhos podem
inicial em cavalos normais deve ocor-
apresentar uma resposta normal mais
rer em segundos ou o animal deverá
demorada.
demonstrar resistência à colocação do
4.2. Abertura da base de membro na posição alterada. Cavalos
sustentação (Figura 15) com alteração permanecem em posi-
• Modo de execução: Abertura da base ção por tempo prolongado ou apre-
de sustentação do membro. Realize o sentam dificuldade para retornar à po-
teste nos membros torácicos e depois sição inicial. Esse teste detecta déficits
nos pélvicos. proprioceptivos conscientes. Levar
32 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 99 - maio 2021
em consideração o durante o passo, o trote
O objetivo da avaliação ou a marcha em linha
comportamento e o
em movimento é
treinamento do ani- reta e curvas e sob con-
identificar alterações
mal, visto que os mais durante o passo, o trote dições específicas que
calmos e mais velhos ou a marcha em linha necessitam de maior
podem apresentar reta e curvas e sob exigência do sistema
uma resposta normal condições específicas que nervoso, as chamadas
mais demorada. necessitam de maior manobras especiais
O objetivo da ava- exigência do sistema (Furr e Reed, 2015).
liação em movimento nervoso, as chamadas São exemplos de ma-
é identificar alterações manobras especiais nobras especiais: ca-
minhar com a cabeça
elevada, recuar, subir e descer rampas,
ultrapassar obstáculos, realizar círculos
abertos e fechados, caminhar em dife-
rentes superfícies e tracionar a cauda
com o animal em movimento e parado.
As imagens das Figuras 16 a 25 descre-
vem os testes de avaliação em movi-
mento. Estes devem ser realizados dos
mais simples para os mais complexos;
assim, caso o animal apresente altera-
ções acentuadas de locomoção duran-
te o passo em linha reta, não se deve
prosseguir com as manobras especiais
devido ao risco de lesão para o animal
e o examinador. Observam-se, durante
a locomoção, alterações na passada e
na colocação do casco no solo, em cada
um dos membros e de diversos ângu-
los. O examinador deve determinar se
sinais neurológicos estão presentes e
atribuir o grau de alteração encontrado
Figura 15. Abertura da base de sustentação:
Animal com abertura da base de sustentação de
para cada membro de acordo com o ex-
membros posto no Quadro 2.
2. Exame neurológico equino 33
5. Movimentação • Interpretação: Identifique todas as
alterações encontradas e classifique-
5.1. Caminhar o animal em -as. Exemplo: animal arrasta a pinça
linha reta (Figura 16) do membro torácico direito (MTD)
ao caminhar, lateraliza o lado esquer-
• Modo de execução: Caminhe o ani-
do ou direito ao passo, etc. Após ca-
mal em linha reta com o cabresto
minhar o animal e observar todas as
livre para evidenciar possível claudi-
alterações, realize o mesmo procedi-
cação. O auxiliar deve ser instruído
mento, agora com o animal trotando
a manter a cabeça e o pescoço do
ou marchando, com o objetivo de evi-
cavalo o mais reto possível durante
denciar alterações sutis que não foram
a caminhada. Inspecione a movi-
identificadas ao passo.
mentação do animal em todos os
ângulos. Observe a amplitude de 5.2. Caminhar o animal
passada de todos os membros, a fle- elevando a cabeça (Figura 17)
xão e a extensão das articulações, a • Modo de execução: Em linha reta, ca-
movimentação de cabeça e garupa minhe o animal elevando a cabeça.
e a presença de lateralização de al- • Interpretação: Essa manobra exacerba
gum membro ou tronco durante o a maioria das anormalidades de loco-
movimento. moção, especialmente a espasticidade
dos membros, em caso de estenose da
medula cervical.

Figura 17.Movimentação. Elevação da cabeça


em linha reta. Na imagem, animal apresenta
Figura 16. Movimentação. Animal caminhando piora da espasticidade. de membros torácicos
em linha reta com lateralização da garupa para e pélvicos, indicando lesão na região cervical da
o lado direto. medula.

34 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 99 - maio 2021


5.3. Recuo (Figura
18)
• Modo de execução: Em
linha reta, recue o animal
a uma distância suficiente
para a avaliação.
• Interpretação: Na mo-
vimentação normal, os
membros diagonais se
movem juntos para trás,
de maneira coordenada.
Em animais com lesões Figura 18. Manobra de recuo. Movimentação anormal: re-
medulares, ocorre resis- lutância ao movimento, com os membros torácico e pélvico
direito movendo-se juntos.
tência ao recuo, incoor-
denação, ou membros do
mesmo lado recuam ao
mesmo tempo.
5.4. Subir e descer
rampas (Figuras 19
e 20)
• Modo de execução: Em
uma área inclinada, cami-
nhe o animal descendo
e subindo rampas, pri- Figura 19. Subir de rampas. Observa-se hipermetria exacerba-
da de membros pélvicos.
meiro com a cabeça livre
e depois com a cabeça
elevada.
• Interpretação: Essas
manobras exacerbam a
maioria das anormalida-
des de locomoção.
5.5. Ultrapassar
objetos (Figura 21)
• Modo de execução: Figura 20. Descer de rampas. Observa-se arrastar de pinça do
Durante o exame, cami- membro pélvico esquerdo.

2. Exame neurológico equino 35


nhe o animal sobre objetos/obstá- 5.6. Círculo aberto e fechado
culos, dos quais ele precise desviar. (Figura 22)
Podem ser utilizados cones, degraus e
• Modo de execução: Segure o ca-
tocos de madeira.
bresto com a mão e conduza o cava-
• Interpretação: Observe a capacidade
lo em círculos. É muito importante
de propriocepção do animal de ultra-
que o cavalo esteja sempre avançan-
passar sem esbarrar ou tropeçar, além
do nesses círculos. Comece com
de dismetrias.
círculos abertos e progressivamente
diminua o tamanho deles.
• Interpretação: Observe cuidado-
samente o movimento do membro
pélvico externo ao círculo. Esse
membro geralmente se estende am-
plamente para fora do círculo (cir-
cunvolve) em cavalos com lesão na
medula espinhal.
5.7. Movimento em pivô
(Figura 23)
• Modo de execução: Guie o cavalo para
os lados em círculos no próprio eixo.
Figura 21. Ultrapassagem de obstáculo. Animal Isso é feito com o examinador ligei-
apresenta visível hipermetria de membro
torácico.
ramente atrás do ombro, puxando
o cabresto e a cauda em um ângulo
lateral e realizando movimentos de
giro. É importante não girar o cava-
lo por períodos prolongados, pois
isso confunde a avaliação, deixando
o cavalo desequilibrado.
• Interpretação: Se feito corretamen-
te, cavalos normais giram em torno
de um ponto a meio caminho entre
os membros torácicos e pélvicos.
O membro torácico oposto deve
cruzar-se na frente do membro de
Figura 22. Círculo aberto. Membro pélvico direi- apoio, e os membros pélvicos devem
to estendendo-se para fora do círculo. se mover mutuamente. Animais que
36 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 99 - maio 2021
apresentam alterações medulares
podem tocar os membros e girar o
casco em torno do próprio eixo no
solo (pivô).

5.8. Tração de cauda com o


animal parado
(Figura 24)
• Modo de execução: Com o animal
parado, o examinador traciona a
cauda para ambos os lados.
• Interpretação: Após um leve movi- Figura 23. Movimento de pivô presente no
membro pélvico direito, completando a volta
mento inicial na direção da tração, de 360° sem levantar o casco do solo. Realizar
os cavalos normais apresentam re- teste para ambos os lados. Neste animal não foi
sistência a serem movidos lateral- realizada a tração da cauda devido ao risco de
queda.
mente, mesmo sob forte pressão.
Se o animal apresenta fraqueza, não
irá relutar ao movimento e ocorrerá
perda de equilíbrio em direção ao
examinador.
5.9. Tração de cauda com
o animal em movimento
(Figura 25)
• Modo de execução: O examinador tra-
ciona a cauda sempre que o membro
do mesmo lado tocar o solo. Realizar
teste dos lados direito e esquerdo.
• Interpretação: Em animais sem altera-
ções, o movimento continua em linha
reta, ou leve deslocamento inicial é
observado. Os animais retornam à po-
sição de linha reta de maneira rápida
e coordenada, sem perder o balanço.
Em animais com fraqueza, há perda
Figura 24. Tração de cauda para a esquerda. Na
de equilíbrio e lateralização para o imagem, o animal não apresenta alteração, de-
lado da tração. mostrando força contrária e mantendo a posição.

2. Exame neurológico equino 37


paresia é normalmente acom-
panhada de espasticidade dos
membros.
Ataxia (déficit proprio-
ceptivo): A função proprio-
ceptiva permite ao animal ter
noção espacial da localização
de seus membros, pescoço e
cabeça. A ataxia caracteriza-
-se por posicionamento anor-
mal dos membros, passos
mais amplos e lateralização do
tronco e da garupa durante a
Figura 25. Tração de cauda com o animal em movimento. movimentação, que se acentua
Tração da cauda assim que o membro pélvico direito toca o
quando o animal faz curvas.
solo (realizar em ambos os lados e comparar). Na imagem,
o animal sem força contrária e deslocamento da garupa No círculo fechado, o animal
para a direita. cruza os membros abaixo do
As principais alterações de loco- corpo, apresenta abdução do
moção observadas em equinos com membro pélvico posicionado exter-
afecções neurológicas são: namente ao círculo e com frequência
Paresia ( fraqueza muscular): pisa no membro oposto durante a ma-
Déficit parcial de movimentos vo- nobra. O déficit proprioceptivo pode
luntários causado por alterações de ter origem no sistema vestibular, no
neurônio motor superior ou neurônio cerebelo ou, mais comumente, origi-
motor inferior. Caracteriza-se por tro- na-se da perda sensorial secundária a
peços, arrastar das pinças, emboleta- lesões de medula espinhal (proprio-
mento, diminuição do arco e passadas cepção geral). Tratos proprioceptivos
mais curtas durante o movimento, fal- sensoriais caminham adjacentes aos
ta de resistência para resistir a deslo- neurônios motores superiores na me-
camentos laterais (tracionar da cauda) dula espinhal, portanto é comum os
e pivô no membro interno durante a animais apresentarem ataxia e paresia
manobra de círculo fechado. Lesões concomitantemente.
de neurônio motor inferior são nor- Dismetria: É a incapacidade de li-
malmente acompanhadas de atrofias mitar adequadamente os movimentos.
musculares, dificuldade em suportar Caracteriza-se por movimentos de
o peso e paresia flácida. Em caso de hipermetria ou hipometria. Equinos
lesão de neurônio motor superior, a com hipometria apresentam diminui-
38 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 99 - maio 2021
Quadro 2. Sistema de graduação de déficits de locomoção e de postura de origem
neurológica em equinos.

Grau Descrição

0 Sem alterações de locomoção

Déficits dificilmente observados durante a locomoção em linha reta, mas confirmados


1
após a realização de manobras especiais

Déficits facilmente observados durante a locomoção em linha reta e exacerbados após


2
a realização de manobras especiais

Postura anormal com o animal parado, podendo ocorrer queda quando manobras
3
especiais são realizadas

4 Possibilidade de ocorrerem quedas espontâneas durante a locomoção

5 Decúbito

Fonte: Adaptado de Furr e Reed, 2015.

ção da flexão articular (membros mais perineurais ou a terapia com anti-in-


retos semelhantes à movimentação de flamatórios não esteroidais também
“soldados de chumbo”, muitas vezes podem auxiliar nessa diferenciação
referenciados como espasticidade). (Furr e Reed, 2015).
A hipermetria caracteriza-se pela exa-
gerada flexão articular e pela eleva- 6. Avaliação do equino em
ção excessiva do membro durante a decúbito
caminhada.
A avaliação da movimentação é Quando o paciente se encontra em
importante também na diferenciação decúbito, é necessário avaliare a loca-
de afecções musculoesqueléticas e lização do animal e a segurança do pa-
neurológicas, que podem ser difíceis ciente e das pessoas envolvidas, antes
em casos de claudicações leves de da realização do exame neurológico.
membros pélvicos e de ataxias sutis. O exame físico geral permite a iden-
Uma observação relevante é que equi- tificação de causas de decúbito não
nos com claudicação tendem a ser oriundas do sistema nervoso, como
consistentes em seus erros durante a musculoesqueléticas, gastrointesti-
locomoção. Já os equinos com déficit nais, metabólicas, cardiopulmonares,
neurológico costumam apresentar al- entre outras. As etapas anteriormen-
terações de locomoção irregulares e te descritas devem ser seguidas, com
inconsistentes. A resposta a bloqueios exceção obviamente da avaliação em
2. Exame neurológico equino 39
movimento. Nesses animais, pode-se o encéfalo (cérebro, cerebelo e tronco
incluir a avaliação da sensibilidade encefálico) e os segmentos da medula
dolorosa como parte do exame da me- espinhal. O sistema nervoso periféri-
dula espinhal e dos nervos periféricos co inclui os 12 pares de nervos crania-
(Aleman, 2019). Os reflexos espinhais nos que têm origem no encéfalo, e os
dos membros torácicos e pélvicos nervos espinhais que têm origem na
também podem ser avaliados no equi- medula. O ideal é que os sinais neuro-
no em decúbito. Durante o exame, lógicos encontrados reflitam lesão em
deve-se levar em consideração o efeito um único local no sistema nervoso,
do decúbito sobre as respostas espe- mas, caso não seja possível, devem-se
radas e suas possíveis complicações, considerar enfermidades multifocais
como neuropatias periféricas. Os re- ou presença de mais de uma afecção.
sultados dos testes podem ser influen- A discussão detalhada do diagnóstico
ciados por medo, ansiedade, exaustão neuroanatômico não é objetivo deste
por esforço, ou ainda por desidratação Capítulo, porém algumas generalida-
(Furr e Reed, 2015). Equinos em de- des estão descritas no Quadro 3.
cúbito por afecções de medula espi- Alterações periféricas de nervos
nhal comumente se encontram alertas cranianos levam a sinais relacionados
e responsivos nos estágios iniciais. à função de cada um, sem alterações
encefálicas. Lesões de nervos espi-
7. Localização da lesão no nhais provocam déficits motores e
sensoriais na região por eles inervada.
sistema nervoso Sudoreses focais e atrofias musculares
Ao final do exame neurológico, o também podem ser evidenciadas.
examinador deve concluir se existem No Quadro 4, está descrito um
alterações neurológicas e determi- exemplo de ficha de exame neurológi-
nar se a lesão se encontra no sistema co equino completa, com todas as in-
nervoso central ou no periférico. O formações necessárias para um exame
sistema nervoso central compreende neurológico equino.

40 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 99 - maio 2021


Quadro 3. Localização da lesão de acordo com as
alterações neurológicas encontradas na avaliação clínica do sistema nervoso.

LOCALIZAÇÃO SINAIS CLÍNICOS


Cérebro Alteração de comportamento e estado mental, cegueira, convulsão.
Tremores de cabeça que pioram com movimentos intencionais, nistagmo, ata-
Cerebelo xia, perda de equilíbrio, ausência de reflexo de ameaça, inabilidade de piscar
em resposta à luz edismetria (principalmente hipermetria).
Perda de postura e de equilíbrio.
Lesão vestibular periférica: desvio de cabeça, nistagmo, andar em círculo, sem
Sistema vestibular déficit proprioceptivo.
Lesão vestibular central: sinais acima citados, com presença de déficit
proprioceptivo.
Disfunção de diversos nervos cranianos, alteração de nível de consciência,
Tronco encefálico
paresia e ataxia.
Equinos com lesões nos locais descritos abaixo não apresentam alteração de comportamento,
estado mental e nervos cranianos.
Ataxia e paresia nos quatro membros; em casos de compressão da medula
Medula espinhal: cervical, os sinais são comumente 1 grau maior nos membros pélvicos em
segmento comparação aos torácicos.
C1-C5 Sinais condizentes com lesão de neurônio motor superior nos 4 membros
(paresia espástica).
Ataxia e paresia nos quatro membros, porém alterações mais evidenciadas
Medula espinhal: nos membros torácicos.
segmento Sinais condizentes com lesão de neurônio motor inferior nos membros
C6-T2 torácicos (paresia flácida) e neurônio motor superior nos membros pélvicos
(paresia espástica).
Medula espinhal: Alteração apenas nos membros pélvicos. Membros torácicos normais.
segmento Sinais condizentes com lesão de neurônio motor superior nos membros pélvi-
T3-L3 cos (paresia espástica).
Medula espinhal: Alteração apenas nos membros pélvicos. Membros torácicos normais.
segmento Sinais condizentes com lesão de neurônio motor inferior nos membros pélvi-
L4-S2 cos (paresia flácida).
Não afeta a locomoção. Diminuição ou ausência de movimentos de cauda,
S3-coccígea incontinência urinária, hipoalgesia ou analgesia perineal, diminuição do tônus
do esfíncter anal.

Legenda: NMS = neurônio motor superior. NMI = neurônio motor inferior. C= vértebras cervicais. T=
vértebras torácicas. L= vértebras lombares. Fonte: Adaptado de Furre Reed, 2015.

2. Exame neurológico equino 41


Quadro 4. FICHA DE EXAME NEUROLÓGICO EQUINO
Material necessário

• Caneta

• Luva de procedimento

• Estetoscópio

• Termômetro

• Foco de luz forte: lanterna pequena ou oftalmoscópio

• Equipamento para avaliação de dor e indução dos reflexos espinhais: agulha, pinça hemostática,
caneta ou chave

• Pano/tecido

• Alimento para equinos

• Cabresto

Identificação

Nome do animal:................................................................................... Data: .........................................

Raça:.................................................................. Sexo:.................................. Idade:..................................

Proprietário:..............................................................................................................................................

Telefone:.............................................................. E-mail:..........................................................................

Endereço completo da propriedade :........................................................................................................

..................................................................................................................................................................

..................................................................................................................................................................

Médico veterinário (CRMV):......................................................................................................................

Telefone:.................................................................... E-mail:....................................................................

Histórico e Anamnese

1. Queixa principal: ................................................................................................................................


............................................................................................................................................................
............................................................................................................................................................

42 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 99 - maio 2021


2. Início: Súbito Lento
Tempo aproximado:....................................................

3. Evolução desde o aparecimento dos sintomas: Melhora Piora Estável

4. Outros equinos acometidos com sinais neurológicos semelhantes: Sim Não

5. Outras espécies acometidas com sinais neurológicos: Sim Não


Quais espécies? .................................................................................................................................

6. Vacinação:
Raiva. Nome comercial e data:.....................................................................................................
Tétano. Nome comercial e data:...................................................................................................
Herpes vírus. Nome comercial e data:..........................................................................................
Encefalomielite. Nome comercial e data:.....................................................................................

7. Vermifugação. Sim Não. Nome comercial e data:____________________________

8. Banho carrapaticida: Sim Não. Nome comercial e data:________________________

9. Alimentação:
Feno (qualidade e volume médio diário):.....................................................................................
Capim (tipo e volume médio diário): ...........................................................................................
Ração (tipo e volume médio diário):.............................................................................................
Sal mineral (tipo e volume médio diário):.....................................................................................

10 Medicamentos utilizados: ..................................................................................................................


............................................................................................................................................................
Volume, via e intervalo:......................................................................................................................
Resposta satisfatória à terapia: Sim Não

11. Característica das fezes:


Normais Diarreia pastosa Diarreia líquida Ressecadas Ausência

13. Característica da urina:


Normal Concentrada Diluída Ausência Presença de cristais
Coloração alterada: ......................................................................................................................

14. Enfermidades prévias recentes: .........................................................................................................

2. Exame neurológico equino 43


Exame Físico Geral

• Frequência cardíaca: ............ bpm Pulso: Forte Fraco ........................

• Frequência respiratória: ............mpm Característica: Normal Superficial Profunda

• Padrão respiratório: Toracoabdominal Torácico Abdominal

• Mucosas: Róseas Pálidas Hiperêmicas Congestas Cianóticas Úmidas


Pegajosas Ressecadas

• TPC: .......... segundos

• Temperatura: ............ °C

EXAME NEUROLÓGICO ESPECÍFICO

1. Avaliação do estado mental

Estado mental:
Alerta e responsivo Hiperestesia Letargia/depressão Obtundação Estupor
Coma

Alteração de Comportamento:
Ausente Agitado Agressivo Andar em círculos Convulsão Compressão
da cabeça contra obstáculos Outros: ........................................................................................

Postura:
Estação Decúbito esternal Decúbito lateral Desvio lateral de cabeça
Outras:..........................................................................................................................................

44 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 99 - maio 2021


2. Avaliação dos nervos cranianos

Classificação:

N = Normal Æ = Ausente D = Diminuído A = Aumentado NA= não avaliado

Pares de nervos cranianos Direito Esquerdo


I Olfato

II Reflexo de ameaça

Reflexo pupilar direto (nervos II e III)


III Reflexo pupilar consensual (nervos II e III)
Estrabismo lateral
IV Estrabismo dorsomedial
Sensibilidade da face

V Atrofia masseter

Estrabismo medial
VI
Retração globo ocular
Ptose auricular
Ptose palpebral
VII Desvio delábio
Reflexo palpebral
Produção lacrimal
Audição
Desvio de cabeça
VIII
Estrabismo ventrolateral
Nistagmo
IX Deglutição/Disfagia
Deglutição/Disfagia
X
Slap Test
XI Atrofia na musculatura do pescoço
Tônus de língua
XII Atrofia de língua
Apreensão de alimentos

2. Exame neurológico equino 45


3. Avaliação muscular e reflexos espinhais

• Reflexo cervicofacial esquerdo: Normal Ausente Diminuído Aumentado

• Reflexo cervicofacial direito: Normal Ausente Diminuído Aumentado

• Reflexo músculo-cutâneo esquerdo: Normal Ausente Diminuído Aumentado

• Reflexo músculo-cutâneo direito: Normal Ausente Diminuído Aumentado

• Reflexo perineal: Normal Ausente Diminuído Aumentado

• Tônus de cauda: Normal Ausente Diminuído Aumentado

• Tônus de ânus: Normal Ausente Diminuído Aumentado

• Atrofia muscular: Ausente Presente


Descrição da atrofia muscular: .........................................................................................................

• Sudorese focal ou alteração de sensibilidade da pele


(descrever local, caso presente): ......................................................................................................

• Testes de flexão das vértebras cervicais:


Esquerdo: Normal Diminuído
Direito: Normal Diminuído
Ventral: Normal Diminuído
Palpação das vértebras cervicais: Normal Aumento de sensibilidade

OBS: Posicione-se do lado direito e depois esquerdo do animal, na altura dos membros anteriores, e
forneça alimento para verificar a flexão lateral de pescoço do animal. Ofereça o alimento entre
os membros anteriores (flexão ventral).

46 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 99 - maio 2021


4. Avaliação da movimentação, da postura e dos reflexos posturais

Classificação: N= Normal; Æ= Ausente; D= Diminuído

MTE MTD MPE MPD


Com animal parado
DÉFICT DE Teste: abertura de
PROPRIOCEPÇÃO membros
Teste: cruzar de membros

Avaliaçãoem movimento:

Teste Alterações observadas


Passo
Linha reta
Trote/Marcha
Elevação de cabeça
Recuo
Subir e descer rampas
Ultrapassar obstáculos
Para esquerda Para direita
Círculo aberto

Para esquerda Para direita


Círculo fechado

À esquerda À direita
Tração de cauda com animal parado

Tração de cauda com animal em À esquerda À direita


movimento

MTE MTD MPE MPD


Grau de déficit neurológico (0 a 5)

5. Localização da lesão: ..........................................................................................................................

6. Suspeitas diagnósticas: .......................................................................................................................


............................................................................................................................................................
............................................................................................................................................................

7. Exames complementares: ..................................................................................................................


............................................................................................................................................................
............................................................................................................................................................

2. Exame neurológico equino 47


Referências bibliográficas abnormalities. In:  ANNUAL CONVENTION
OF THE AMERICAN ASSOCIATION OF
1. ANDREWS, F. M. The Neurologic Examination. THE EQUINE PRACTITIONERS, n° 56, 2010,
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PRACTITIONERS SYMPOSION, n° 22, 2017, p. 331-337.
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8. KAHN L. H. Confronting zoonoses, linking hu-
2017.
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2. BORGES A. S.; MENDESL. C. N.; v. 12, n. 4, p. 556-61, 2006.
KUCHEMBUCK M. R. G. Exame neurológico
9. MACKAY, R. J. Spinal cord diseases of the horse:
em grandes animais. Parte I: Encéfalo. Revista de
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3. CAMPBELL, W.W. O exame neurológico. 7.ed. EQUINE PRACTITIONERS, n° 57, 2011, San
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Zootecnia do CRMV-SP, v. 3, n. 2, p. 3-15, 2000. 2008.
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Nervous System. In: ____ Equine Neurology myelopathy. Equine Vet Ed, n.15, v.4, p.212–223,
Second Edition. Iowa: John Wiley & Sons, 2015. c. 2003.
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12. PARADIS, M. R. Neurologic Examination. In:
6. GARDNER, R. B. Evaluation and management COSTA, L. R. R.; PARADIS, M. R.  Manual of
of the recumbent adult horse.  Veterinary Clinics: Clinical Procedures in the Horse. Hoboken, NJ:
Equine Practice, n. 27, v. 3, p. 527-543, 2011. John Wiley & Sons, 2017. c. 74, p. 585-594.
7. JOHNSON, A. L. How to perform a complete
neurologic examination in the field and identify

48 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 99 - maio 2021


3. Guia de necropsia
de equídeos
Com ênfase em coleta e envio de amostras
de animais com alterações neurológicas

André Almeida Fernandes (Biólogo, UFMG),


Mariana Andrioli Pinheiro CRMV-MG 18.739, Aila Solimar Gonçalves Silva CRMV-MG 13.603,
Carlos Eduardo Bastos Lopes CRMV-MG 20.120, Paula Roberta Giaretta CRMV-MG 21.398,
Lucas dos Reis de Souza CRMV-MG 20.323, Felipe Pierezan CRMV-MG 14.788

1. Introdução A necropsia constitui ...


rios e secundários asso-
ciados, bem como sua
O exame de necrop- avaliação cadavérica ... evolução desfavorável,
sia, do grego, nekrós = fundamental para ... o além de possibilitar a
cadáver; ópsis = visão, diagnóstico definitivo, confirmação ou a refu-
análise, também co- ... além de possibilitar tação das suspeitas do
nhecido como exame a confirmação ou a diagnóstico clínico ini-
post mortem, consiste refutação das suspeitas cial (Cuevas et al., 2016;
no estudo/avaliação do do diagnóstico clínico Peixoto e Barros, 1998;
cadáver. Ainda que por inicial ... AFIP, 2001).
vezes negligenciado, Com os devidos cui-
tal exame constitui o principal método dados, é possível fazer o exame cadavérico
para determinar a causa da morte. A ne- com uso mínimo de recursos financeiros e
cropsia constitui, portanto, uma técnica materiais, o que ressalta a importância dos
de avaliação cadavérica prática, funda- exames complementares, como histopa-
mental para estabelecer o diagnóstico tológico, microbiológico, citológico, entre
definitivo, explicar os processos primá- outros (Peixoto e Barros, 1998).
3. Guia de necropsia de equídeos 49
Conforme conti- exame cuidadoso e indi-
Conforme contido
do no Artigo 5º da Lei vidual de cada estrutura,
no Artigo 5º da Lei
5.517/18, de 23 de ou- abrangendo todos os ór-
5.517/18, de 23 de
tubro de 1968, a prática gãos e sistemas; necrop-
outubro de 1968, a
de exames cadavéricos sia parcial, que ocorre de
prática de exames
em animais é de compe- cadavéricos em animais modo direcionado, na
tência jurídica privativa é de competência jurídica qual se avaliam órgãos in
do médico veterinário. privativa do médico situ com base nas suspei-
No âmbito da medicina veterinário. tas ou no interesse inicial,
legal, ao se considerar restringindo-se o exame a
que os propósitos dessa ... é crucial o um ou mais sistemas ou
prática de perícia sejam conhecimento do porções; obdução ou ne-
os de comunicar e em- histórico prévio cropsia forense, processo
basar objetivamente os do animal ... [e semelhante à necropsia
achados do corpo de de- as] possibilidades completa, mas com inte-
lito, o exame post mortem diagnósticas ...[para] resses e obrigações jurídi-
tem papel decisivo para a coleta precisa do cas; necropsia cosmética,
o andamento das inves- material. Em caso de quando se tem interesse
tigações (França, 2015). dúvidas a respeito de pessoal pela inumação
Tal conceito é mesmo quais amostras devem (geralmente sepultamen-
crucial em casos de ne- ser coletadas e de qual to ou enterro), ocorren-
cropsias de animais se- acondicionamento é do de forma a minimizar
gurados, realidade entre apropriado, recomenda- o retalhe do corpo, a fim
criadores de equinos de se contatar o laboratório de se manter sua integri-
diversos estados do País, de diagnóstico ... dade física externa a fim
nos quais a descrição É necessário que o de preservar a aparência
detalhada dos achados veterinário esteja original, sendo pouco
e a fotodocumentação habituado com a técnica praticável na rotina de
sequencial de todas as de necropsia. ... necropsia de grandes ani-
etapas do exame são ne- mais (Moura et al., 2015).
cessárias, sendo a necropsia uma etapa
obrigatória e impreterível dentro da ca- 2. Considerações gerais
deia de custódia de um processo investiga- Antes de iniciar a necropsia, é cru-
tivo (Almeida e Tostes, 2017). cial o conhecimento do histórico pré-
O exame cadavérico pode ainda ser vio do animal, em que se consideram
direcionado com base no seu propósito quaisquer possibilidades diagnósticas e
inicial: necropsia completa, em que há o se preza pela coleta precisa do material.
50 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 99 - maio 2021
Em caso de dúvidas a veterinário responsável
... o veterinário
respeito de quais amos- pela necropsia tenha co-
responsável pela
tras devem ser coletadas nhecimento da lista de
necropsia [deve ter]
e de qual acondiciona-
conhecimento da lista de doenças de notificação
mento é apropriado, re- obrigatória, conforme
doenças de notificação
comenda-se contactar o emitido pelo MAPA
obrigatória, conforme
laboratório de diagnós- (Anexo 2).
emitido pelo MAPA ...
tico previamente para Uma vez finaliza-
esclarecimentos. É necessário que o da a necropsia, deve-se proceder ime-
veterinário esteja habituado com a téc- diatamente ao descarte dos despojos.
nica de necropsia e mantenha-se orga- Independentemente da causa do óbito,
nizado durante todo o processo. Assim, todo o material biológico deve ser tratado
recomenda-se a utilização de uma ficha como de potencial risco contaminante. O
de necropsia, que visa, primariamen- descarte correto do material será devida-
te, à identificação do animal (espécie, mente explicado no Capítulo 4.
raça, idade, sexo, pelagem, marcas ca-
racterísticas na cabeça e nos membros 3. Material necessário
e a procedência), bem como à descri- Para a realização da necropsia, ide-
ção básica de lesões, conforme modelo almente, deve-se ter em mãos os seguin-
anexado (Anexo 1), adaptado do setor tes materiais: faca reta, faca curva, pinça
de Patologia da Universidade Federal de dente de rato, pinça anatômica, tesoura
Minas Gerais (UFMG). reta, tesoura romba, machado e alicate/
Do mesmo modo, é válido que o podão/costótomo (Figura 26). Sempre

Figura 26. Instrumental recomendado para realização da técnica de necropsia.

3. Guia de necropsia de equídeos 51


que possível, dispor para exames microbio-
O veterinário, assim
de chaira e pedra para lógicos e toxicológicos
como seu auxiliar na
amolar, que facilitam a
necropsia, deve estar com devem estar à disposição.
manutenção do poder Frascos de urina estéreis
vacinação para raiva e
de corte das facas.
tétano em dia, incluindo podem servir para tal
O fixador universal
sorologia para verificação propósito (Figura 27.B).
para a histopatologia é Deve-se prezar pela
de título protetor
a solução de formalina a
(anticorpos) no caso da utilização dos equipa-
10% tamponada (Figura mentos de proteção
raiva.
27.A), cujo preparo está individual (EPIs), tais
descrito no Anexo 3. De como macacão ou jale-
igual modo, frascos coletores universais co, avental, luvas descartáveis e botas
laváveis (Figura 28). Máscaras, toucas
A e óculos de acrílico são opcionais, sen-
do obrigatórios quando há suspeita ou
diagnóstico clínico de enfermidade zo-
onótica ou infectocontagiosa (Moura et
al., 2015).
O veterinário, assim como seu au-

Figura 27. Frascos para coleta de material. (A)


Pote plástico com solução de formalina. (B) Figura 28. Paramentação para o procedimento
Frascos coletores universais. de necropsia.

52 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 99 - maio 2021


xiliar na necropsia, deve e facilitar a abertura do
estar com vacinação
A carcaça deve ser canal medular e a remo-
para raiva e tétano em
posicionada em decúbito ção da medula espinhal
dia, incluindo sorologia
lateral direito (lado (Figura 29). A ava-
esquerdo para cima),
para verificação de títu- liação externa requer
para permitir melhor
lo protetor (anticorpos) uma análise minucio-
visualização das vísceras
no caso da raiva. sa de toda a superfície
abdominais in situ após
corporal, podendo ser
4. Exame a abertura da cavidade
necessário o reposicio-
abdominal e facilitar
cadavérico a abertura do canal namento do cadáver
para avaliação de le-
medular e a remoção da
4.1 Exame sões externas (como
externo medula espinhal.
escoriações, cicatrizes
A carcaça deve ser posicionada em e feridas), tumorações e
decúbito lateral direito (lado esquerdo ectoparasitas. Nessa etapa, é importante
para cima), para permitir melhor visu- documentar precisamente as caracterís-
alização das vísceras abdominais in situ ticas únicas do animal necropsiado, tais
após a abertura da cavidade abdominal como marcas e tatuagens, necessárias

Figura 29. Exame geral externo do cadáver (decúbito lateral direito).

3. Guia de necropsia de equídeos 53


para a identificação do cadáver. aspecto do cerúmen;
Deve-se, em seguida, examinar com • Ânus: deve-se avaliar a coloração e a
atenção todas as mucosas visíveis, orifí- integridade da mucosa anal;
cios externos, pele, pelos, articulações • Vulva, vagina, pênis e escroto: é ne-
e cascos do animal, em atenção aos se- cessário averiguar a coloração e a in-
guintes detalhes: tegridade das mucosas. Nos machos,
• Cavidade oral: a língua e as mucosas deve-se verificar se ele é castrado ou
(Figura 30.A) devem ser examinadas inteiro e se os testículos estão na bolsa
quanto a sua integridade, coloração, escrotal, em caso dos animais que já
pigmentação e presença de corpos atingiram a maturidade sexual;
estranhos. O ventre lingual e a inte- • Pele: deve-se avaliar a integridade e
gridade da arcada dentária devem a resistência da pele, junto ao turgor
ser examinados, especialmente em cutâneo, e a presença de ectoparasitas;
equinos mais velhos e com distúrbios • Pelos: observar a integridade dos
gastrointestinais; pelos, o brilho e a resistência ao
• Orifícios nasais: deve-se observar a desprendimento;
coloração e a integridade da mucosa, • Cascos: avaliar a integridade dos cas-
considerando-se também o aspecto cos quanto à banda coronária, ao ta-
geral da secreção nasal; lão, à sola e à ranilha;
• Olhos: cada olho deve ser avaliado • Umbigo: em neonatos e filhotes, deve-
individualmente quanto à cor e ao -se avaliar a cicatriz umbilical quanto a
aspecto das mucosas, da esclera e da sua coloração, à presença de secreções
integridade corneal (Figura 30.B); e ao aumento de volume.
• Pavilhão auricular: proceder à investi- A coleta de material para exames
gação de ectoparasitas e à avaliação do laboratoriais (parasitológico, toxicoló-

A B

Figura 30. Exame externo, avaliação das mucosas. (A) Mucosa oral. (B) Mucosa ocular.

54 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 99 - maio 2021


gico, microbiológico e histopatológico), cutânea na linha média desde a região
durante o exame externo, deve ser prio- mentoniana (Figuras 32.A e 32.B) até
rizada tão logo quanto à observação das o ânus, contornando o prepúcio ou
alterações. as glândulas mamárias em sua porção
superior. Em garanhões, é necessário
4.2 Exame interno proceder à secção da bolsa escrotal e à
O exame interno da carcaça é ini- exposição dos testículos previamente à
ciado com a desarticulação dos mem- desarticulação dos membros, a fim de
bros. Para a desarticulação do membro evitar a secção indevida do ducto esper-
torácico esquerdo, deve-se seccionar a mático. Devem-se dissecar individual-
região axilar (Figura 31.A), despren- mente ambos os funículos espermáti-
dendo os ligamentos e os músculos das cos até o anel inguinal e rebater o pênis
regiões escapulares e costais. Na desar- caudalmente junto aos testículos. A pele
ticulação do membro pélvico esquerdo, seccionada deve ser rebatida dorsalmen-
é preconizado o corte semicircular na te (Figura 32.C), junto aos membros to-
região inguinal (Figura 31.B), próxima rácico e pélvico esquerdos. Nesta etapa,
à inserção do membro, a fim de acessar a avaliação do tecido subcutâneo e da
a articulação coxofemoral. Os membros musculatura externa deve ser realizada
desarticulados devem ser deslocados (Figura 32.D). É também recomenda-
dorsalmente (Figura 31.C). da a avaliação dos linfonodos externos
Em seguida, realiza-se uma incisão (submandibular, cervicais superficiais e

A C

Figura 31. Desarticulação dos membros. (A) Membro torácico esquerdo. (B) Membro pélvico esquer-
do. (C) Membros desarticulados rebatidos dorsalmente à carcaça.

3. Guia de necropsia de equídeos 55


axilares) com cortes longitudinais. tos gastrointestinais, deve-se tracionar o
Para acessar a cavidade abdominal, ceco e o cólon maior ventralmente para
preconiza-se uma incisão com faca curva fora da carcaça (Figura 34.B)
margeando o arco costal do esterno até Para fins didáticos e em atendimen-
a última costela, conforme linha traceja- to à proposta deste caderno técnico
da da Figura 33. Durante a abertura da sobre doenças do SNC de equinos, e à
cavidade peritoneal, avalia-se o posicio- sequência de exame e remoção dos ór-
namento in situ das vísceras abdominais gãos, este guia passará para a abertura
(Figura 34.A). A cólica equina é comu- do crânio para retirada do encéfalo, e
mente associada com deslocamentos ou depois retornará ao exame e à remoção
torções intestinais que devem ser identi- dos órgãos das cavidades peritoneal (a
ficados in situ, antes da manipulação ou partir do tracionamento do ceco e do
da remoção das vísceras. A fim de faci- cólon maior para fora da carcaça) e to-
litar a visualização dos demais segmen- rácica. Contudo, durante o exame de

A B

C D

Figura 32. Incisão da pele. (A) Mento mandibular. (B) Pele das regiões mentoniana e cervical incisadas.
(C) Corte da pele parcialmente rebatida nas regiões torácica e abdominal. (D) Pele da região toracoab-
dominal completamente rebatida.

56 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 99 - maio 2021


Figura 33. Abertura da cavidade abdominal seguindo o arco costal (linha tracejada).

Figura 34. Abertura da cavidade peritoneal. (A) Órgãos da cavidade peritoneal posicionados in situ.
Observar o ceco (segmento ventral) e o cólon maior (segmento dorsal). (B) Ceco e cólon posicionados
fora da carcaça.

necropsia, é possível a mobilização da te (Figura 35.B). A sínfise mandibular


equipe para a retirada simultânea do en- pode ser separada com auxílio de um
céfalo e órgãos cavitários. machado ou serra de mão, de modo a
Para retirada da cabeça, deve-se facilitar a retirar da língua.
primeiramente realizar incisão em “v”, O tracionamento da língua caudal-
rente aos arcos mandibulares (Figura mente permite a visualização do osso
35.A), tracionando a língua caudalmen- hioide, que deve ser seccionado em
3. Guia de necropsia de equídeos 57
A B

Figura 35. Dissecação da língua. (A) Corte em “v” na região mentoniana. (B)Tracionamento da língua.

sua articulação mais proeminente (os- 37.A e 37.B). A articulação atlantoccipi-


sos epi-hioides) (Figura 36.A). Nessa tal deve ser seccionada em sua porção
etapa, são acessadas as bolsas guturais ventral (Figura 37.C).
(Figura 36.B), as quais devem ser exa- A cabeça deve estar posicionada
minadas quanto à presença de exsuda- no solo ou em superfície plana estável
tos e alterações de cor, odor e textura. (Figura 38.A). Deve-se realizar um cor-
Em seguida, o conjunto língua, esôfago te transversal na região do osso frontal,
e traqueia deve ser dissecado até a entra- acima da porção supraorbitária, livran-
da do tórax. do os seios paranasais frontais. Outro
Na região cervical, a pele, os mús- corte deve ser feito no sentido longi-
culos e os ligamentos devem ser seccio- tudinal, na região interparietal (Figura
nados para a retirada da cabeça (Figuras 38.B). Em seguida, rebate-se a pele

A B

Figura 36. Desarticulação do hioide e avaliação das bolsas guturais. (A) Ponta da faca posicionada na
região da articulação com osso epi-hioide. (B) Exame das bolsas guturais (asterisco). Detalhe: aproxi-
mação da bolsa gutural.

58 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 99 - maio 2021


A B

Figura 37. Retirada da cabeça. (A e B) Corte da pele, da musculatura e dos ligamentos cervicais. (C)
Desarticulação da cabeça na região atlantoccipital.

(Figura 38.C) e a musculatura (Figura nha vertical tracejada na Figura 40.A.


38.D), para exposição da calota crania- Os ossos temporais de ambos os la-
na (Figura 38.E). dos devem ser igualmente acessados
Para abertura do crânio, é obrigató- (Figuras 40.A e 40.B), ligando a área
rio o uso de escudos faciais e/ou óculos incisada do osso frontal com o forame
e máscaras de proteção (Figura 39). magno, acima dos côndilos occipitais
Com o auxílio de um machado, (Figura 40.C). Alternativamente, pode
devem-se desferir golpes retilíneos na ser utilizada uma serra de mão para
região de osso frontal, caudalmente às serrar o crânio na região das linhas
apófises supraorbitárias, conforme li- tracejadas.
3. Guia de necropsia de equídeos 59
A B C

D E

Figura 38. Exposição da calota craniana. (A) Cabeça posicionada ao solo. (B) Secção transversal e lon-
gitudinal da pele do crânio (região frontal e interparietal, respectivamente). (C) Pele rebatida. (D) Corte
da musculatura temporal. (E) Exposição da calota craniana.

Após a retirada da calota craniana mento, alguns veterinários optam pela


(Figura 41.A), deve-se retirar a dura- verticalização da cabeça para a facilita-
-máter com o auxílio de pinça dente de ção do desprendimento encefálico por
rato e tesoura romba (Figura 41.B), para ação da gravidade, primando sempre
exposição das leptomeninges (Figura pelo menor manuseio. Após a retirada
41.C). Em seguida, procede-se à retira- do encéfalo, avalia-se a glândula hipófise
da cuidadosa do encéfalo e do corte in- e a integridade do osso esfenoide, que é
dividual dos pares de nervos cranianos um local relativamente frequente de fra-
na base do tronco encefálico. Nesse mo- turas em equinos.
60 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 99 - maio 2021
Figura 39. Profissional devidamente paramentado durante abertura do crânio.

Continuando o exame e a remoção de intestino delgado, do mesentério, em


das vísceras abdominais, após o tracio- toda a sua extensão. Após a localização
namento do ceco e do cólon, faz-se a re- dos segmentos iniciais do duodeno e
moção do baço e do omento maior com aborais do íleo, realiza-se a remoção
auxílio de faca, margeando a curvatura manual dos ligamentos que mantêm
maior do estômago (Figura 42). o intestino delgado fixado às vísceras
Para a remoção dos intestinos, com adjacentes, principalmente no segmen-
o cólon maior e o ceco posicionados to duodenal. Ao notar a mobilidade
fora da carcaça (Figura 43.A), deve- do segmento intestinal, procede-se às
-se localizar e expor, primeiramente, amarraduras duplas e ao corte na região
o cólon menor na porção posterior do duodenal pós-pancreática (Figura 43.E)
animal. Amarraduras duplas com bar- e na transição ileocecal (Figura 43.F).
bante grosso devem ser feitas no início Os segmentos intestinais devem ser re-
e no final do cólon menor (Figuras 43.B movidos rente ao eixo de implantação
e 43.C), seguidas pelo corte e pela re- mesentérica.
tirada do segmento intestinal (Figura Em seguida, deve-se remover a adre-
43.D). Em seguida, separam-se as alças nal esquerda e rebater o rim do mesmo
3. Guia de necropsia de equídeos 61
A C

Figura 40. Abertura do crânio. As linhas tracejadas identificam as regiões para golpes com machado.
(A) Plano dorsal. (B) Plano dorsolateral direito. (C) Plano caudal com evidenciação dos côndilos occipi-
tais (asteriscos).

A B C

Figura 41. Retirada do encéfalo. (A) Órgão posicionado in situ após retirada da calota craniana. (B)
Retirada da paquimeninge (dura-máter). (C) Exposição das leptomeninges.

lado, dorsalmente à carcaça. A aorta ab- térica cranial (Figura 44.B). É funda-
dominal deve ser identificada (Figura mental a avaliação da parede e da íntima
44.A) e seccionada com tesoura romba arterial para a busca de possíveis lesões
até a ramificação com a artéria mesen- parasitárias, caracterizadas por espessa-
62 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 99 - maio 2021
Figura 42. Remoção do baço.

mento firme e irregular com ocasional com o ureter íntegro, ainda ligado ao
trombose, comumente associadas ao órgão. Procede-se à remoção do fígado
parasitismo por Strongylus vulgaris. por meio do corte dos ligamentos he-
O cólon maior e o ceco são remo- patodiafragmáticos e dos vasos do hilo
vidos junto com uma porção da artéria hepático.
mesentérica anterior na entrada ileo- Para a retirada do trato geniturinário
cecal (Figura 45.A). O cólon menor e da porção aboral do intestino grosso
(Figura 45.B) e o intestino delgado (reto), é necessária a abertura do canal
(Figura 45.C) devem ser distendidos no pélvico. Para tanto, golpeia-se com ma-
chão em zigue-zague. chado o osso pélvico em três diferentes
Para a remoção do estômago, deve- pontos (Figura 47.A): corpo do íleo,
-se seccionar a porção esofágica oral ao corpo do púbis e corpo do ísquio, a fim
esfíncter cárdia, não sendo necessário de expor o canal pélvico (Figura 47.B).
realizar amarraduras nessa etapa (Figura Após essa etapa, o ânus e a vulva ou o
46). Em seguida, retira-se a adrenal di- prepúcio devem ser contornados com
reita e rebate-se o rim do mesmo lado faca. O conjunto de órgãos da cavida-
3. Guia de necropsia de equídeos 63
B
A

C D

E F

Figura 43. Remoção das alças intestinais. (A) Ceco e cólon maior posicionados fora da cavidade abdomi-
nal. (B e C) Amarraduras duplas no cólon menor. (D) Corte entre as ligaduras com faca. (E) Identificação
do segmento duodenal (intestino delgado). (F) Identificação da transição ileocecal. Abreviaturas: cólon
maior (CMa); intestino delgado (ID); estômago (ES); e ceco (CE).

de pélvica deve ser removido em mo- diafragma em toda a sua porção lateral
nobloco, constituído por rins, bexiga, esquerda, margeando o arco costal do
reto, ânus e genitália masculina (pênis e mesmo lado (Figura 48.A). Em seguida,
testículos) ou feminina (ovários, útero, com o auxílio de um podão (alicate ou
vagina e vulva). costótomo) ou machado, deve-se se-
Para a abertura da cavidade toráci- guir para o corte das costelas no senti-
ca, utiliza-se uma faca para o corte do do posterior-anterior dorsal, conforme
64 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 99 - maio 2021
A B

Figura 44. Avaliação da aorta abdominal e da artéria mesentérica cranial. Identificação (A) e corte da
aorta abdominal até a entrada da artéria mesentérica cranial (B).

A B C

Figura 45. Disposição das alças intestinais. (A) Colón maior e ceco. (B) Cólon menor. (C) Intestino
delgado.

Figura 46. Remoção do estômago.

3. Guia de necropsia de equídeos 65


A B

Figura 47. Abertura da cavidade pélvica. (A) Osso pélvico. Regiões tracejadas para golpes com macha-
do. (B) Canal pélvico exposto para remoção do bloco de órgãos.

demonstrado nas Figuras 48.A e 48.B. A (Figura 48.D).


porção ventral do arco costal esquerdo Nessa etapa, deve-se remover o
pode ser desarticulada com faca nas jun- diafragma ao seccioná-lo em toda a sua
ções costocondrais (Figura 48.C), a fim circunferência. Em seguida, o conjunto
de remover o arco costal para avaliação língua, esôfago, traqueia, coração e pul-
dos órgãos da cavidade torácica in situ mões deve ser examinado in situ e remo-

A B

C D

Figura 48. Abertura da cavidade torácica. (A) Corte do diafragma com faca. Podão posicionado para
corte das costelas na porção dorsal. (B) Corte das costelas com podão. (C) Corte com faca das articula-
ções costocondrais. (D) Arco costal removido com exposição dos órgãos torácicos.

66 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 99 - maio 2021


vido em monobloco, sendo tracionado processos vertebrais removidos e a me-
no sentido posterior (Figura 49). dula espinhal exposta (Figura 50.C),
Após a retirada do monobloco to- deve-se pinçar a dura-máter medular e
rácico, em caso de suspeita de raiva ou cortando-se as ramificações dos ner-
de histórico de acometimento medular, vos espinhais com o auxílio de uma
deve-se proceder à remoção da medula tesoura (Figura 50.D), até a completa
espinhal. Com a carcaça mantida em de- retirada da medula espinhal (Figura
cúbito lateral direito, rebate-se a pele e a 50.E).
musculatura da linha da coluna vertebral O exame individual dos órgãos,
para melhor visualização das estruturas iniciado in situ, deve priorizar aquelas
ósseas (Figura 50.A). A fim de facilitar estruturas de mais rápida autólise e de
o manuseio da carcaça, pode-se optar menor potencial contaminante, inician-
nessa etapa pela retirada dos membros do pelo sistema nervoso central, e segui-
rebatidos anteriormente. Para abertura do pelos órgãos das cavidades torácica e
do canal medular, golpes de machado peritoneal. Contudo, é importante sa-
devem ser desferidos nos corpos verte- lientar que essa sequência pode ser mo-
brais e nos processos transversos (pro- dificada conforme a suspeita clínica e a
cessos laterais) (Figura 50.B). Com os necessidade de coleta de material para o

Figura 49. Remoção do monobloco torácico. Corte com faca dos ligamentos na entrada torácica.

3. Guia de necropsia de equídeos 67


diagnóstico microbiológico (bacterio- tras do sistema nervoso central está des-
lógico, virológico, etc.). Desse modo, o crita no item 6.1.
encéfalo e a medula espinhal devem ser O monobloco torácico deve estar
primeiramente examinados e conserva- posicionado em uma superfície plana.
dos. Uma abordagem mais detalhada da Inicia-se a análise pela secção da língua
coleta e do preparo para envio de amos- com um corte longitudinal ao longo do

A B

D E

Figura 50. Coleta da medula espinhal. (A) Pele e musculatura da região cervical rebatidas, com ex-
posição da coluna vertebral (espaço delimitado pelas linhas tracejadas). (B) Remoção dos processos
vertebrais transversos com machado. (C) Exposição da medula espinhal em toda a sua extensão. (D)
Remoção da medula espinhal. Corte com tesoura dos nervos espinhais. (E) Medula espinhal removida.

68 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 99 - maio 2021


sulco mediano na face dorsal do órgão. coração para separação completa desse
Em seguida, deve-se dissecar o esôfa- órgão do monobloco torácico (Figura
go da traqueia (Figura 51.A), para, en- 52.B). Para a abertura do coração, deve-
tão, abrir o esôfago longitudinalmente -se manipular o órgão com a base cardí-
por toda sua extensão (Figura 51.B). aca voltada para o necropsista, iniciando
Devem-se igualmente avaliar as glându- o corte pelo átrio direito ao introduzir
las tireoides e os linfonodos regionais a tesoura na entrada das veias cavas, se-
com um corte longitudinal único. A la- guindo até o corte da aurícula no senti-
ringe e a traqueia devem ser secciona- do horário. Em seguida, secciona-se o
das longitudinalmente (Figura 51.C), ventrículo direito no sentido anti-horá-
seguindo-se pelas ramificações bron- rio, margeando o septo interventricular
quiais (Figura 51.D). Secções profun- até a saída na artéria pulmonar (Figuras
das devem ser realizadas para avaliação 52.C e 52.D). Para a abertura das câma-
da superfície de corte pulmonar. ras cardíacas esquerdas, deve-se fazer
Para a abertura do coração, deve-se um único corte longitudinal com faca
remover o saco pericárdico com auxílio no ventrículo esquerdo, tomando-se
de pinça e tesoura, expondo o epicárdio como ponto de partida a base auricular
(Figura 52.A). Em seguida, procede-se do mesmo lado (Figura 52.E). O endo-
à secção dos grandes vasos na base do cárdio e as valvas devem ser examinados

A B

C D

Figura 51. Avaliação do monobloco torácico. (A) Divulsão do esôfago. (B) Corte longitudinal do esôfa-
go. (C) Corte longitudinal da traqueia. (D) Abertura das junções bronquiais.

3. Guia de necropsia de equídeos 69


cuidadosamente. A abertura da aorta ao longo de toda a superfície, a fim de
(Figura 52.F) deve ser precedida pelo expor o parênquima esplênico (Figuras
corte das valvas mitrais. Cortes profun- 53.A e 53.B).
dos na região dos músculos papilares O exame do fígado segue de ma-
possibilitam a avaliação da superfície de neira similar ao do baço, com incisões
corte do miocárdio ventricular. transversais nos lobos hepáticos, dis-
Para o exame do baço, recomenda- tando, em média, três centímetros en-
-se fazer secções transversais com faca tre cortes (Figura 54.A). A Figura 54.B

A B

C D

E F

Figura 52. Abertura do coração. (A) Retirada do saco pericárdico. (B) Corte dos grandes vasos com
epicárdio exposto. (C) Abertura do ventrículo direito. (D) Câmaras atrioventriculares direitas abertas.
(E) Corte do ventrículo esquerdo para acesso às câmaras atrioventriculares. (F) Avaliação macroscópica
do átrio e do ventrículo esquerdos com aorta exposta.

70 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 99 - maio 2021


A B

Figura 53. Avaliação macroscópica do baço. (A) Faca curva posicionada para corte transversal seriado.
(B) Superfície de corte esplênica.

A B

Figura 54. Avaliação macroscópica do fígado. (A) Superfície de corte hepática após cortes transversais
seriados. (B) Coleta de amostra para exames complementares.

exemplifica a coleta de amostras para o por sua face convexa (Figura 55.A). Os
exame histopatológico e outros exames ureteres podem ser examinados exter-
complementares. namente, seccionando e coletando-os
A abertura e a avaliação do pâncreas para exames complementares sempre
devem seguir o procedimento preconi- que necessário. Em seguida, para o exa-
zado para o baço e o fígado. Os linfono- me da bexiga urinária, procede-se a um
dos mesentéricos devem ser incisados corte longitudinal na altura do trígono
longitudinalmente para avaliação da su- vesical, seguindo pela face ventral até
perfície de corte. o término da uretra (Figura 56.B). As
Na avaliação do sistema urinário, é adrenais devem ser avaliadas por meio
recomendada a remoção da cápsula de de um corte longitudinal.
ambos os rins com o auxílio de uma Durante a avaliação do sistema geni-
pinça dente de rato. Na sequência, sec- tal masculino, deve-se seccionar trans-
ciona-se longitudinalmente cada órgão versalmente a próstata e fazer um corte

3. Guia de necropsia de equídeos 71


A B

Figura 55. Avaliação do sistema urinário. (A) Superfície de corte do rim para avaliação. (B) Abertura
da bexiga urinária.

longitudinal em ambos os testículos. -zague, sendo aberto longitudinalmen-


Nas fêmeas, deve-se seccionar ambos os te para análise completa (Figura 56.B).
ovários com cortes longitudinais, segui- Sempre que houver necessidade de co-
dos pela abertura de ambos os cornos e leta de amostras e de conteúdo do trato
do corpo uterino, da vagina e da vulva. gastrointestinal para exames microbio-
As vísceras gastrointestinais são lógicos, recomenda-se a mínima mani-
os últimos órgãos a serem avaliados da pulação, com a retirada de fragmentos
cavidade abdominal, considerando seu idealmente íntegros, dotados de amar-
potencial contaminante e odor fétido. raduras simples em cada extremidade, o
Essa etapa se inicia com a avaliação do que diminui a possibilidade de contami-
estômago. Com o órgão posicionado nação exógena.
em uma superfície sólida, deve-se sec- Por fim, recomenda-se que a avalia-
cionar a curvatura maior gástrica in- ção das articulações seja realizada por
terligando as regiões cárdica e pilórica último, visto que essas são as últimas
(Figura 56.A). Cada segmento de alças estruturas a sofrerem com o processo
intestinais deve ser disposto em zigue- autolítico. Deve-se avaliar a pele da re-

A B

Figura 56. Exame macroscópico do trato gastrointestinal. (A) Corte com faca da curvatura maior gástri-
ca. (B) Alças do intestino delgado dispostas em zigue-zague e seccionadas longitudinalmente.

72 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 99 - maio 2021


gião articular em busca de aumentos na avaliação das alterações medulares.
de volume, lacerações, fístulas, alte- Portanto, preconiza-se a coleta do seg-
rações de coloração, etc. Para acessar mento medular espinhal referente à re-
a cavidade articular, são realizados gião da cauda equina, devendo ser en-
cortes transversais com uma faca so- caminhado para análise histopatológica,
bre os músculos, os ligamentos e os após fixação na solução de formalina,
tendões da região. Com a articulação juntamente com segmentos das demais
aberta, deve-se avaliar a congruência porções medulares. Para isso, a abertura
das faces articulares bem como sua do canal medular deve se estender até o
integridade, o líquido sinovial e a in- final das vértebras lombares e o início
tegridade dos ligamentos. As articu- das vértebras sacrais.
lações mais frequentemente avaliadas
são as metacarpofalangeanas, metatar- 5.2. Miopatias
sofalangeanas, femorotibiopatelares e Em casos de suspeita de doenças
coxofemorais. A avaliação das demais musculares, é necessária a coleta de te-
articulações deve proceder conforme cido muscular, de modo a minimizar os
suspeita clínica prévia. Para a coleta artefatos de contração gerados na fase
do líquido sinovial, recomenda-se a de rigor, o que pode ocorrer mesmo du-
utilização de swab ou seringa estéril, rante a fixação do fragmento extracor-
com a ressalva de que a amostra deve póreo em solução de formalina.
ser prévia e corretamente armazenada Desse modo, recomenda-se a fixa-
em tubo estéril refrigerado por até 48 ção de segmentos musculares estirados
horas. longitudinalmente. Para tanto, o frag-
mento deve ser disposto sobre uma
5. Exames adicionais estrutura rígida, tal como um clamp
realizados em casos de (presilha) muscular ou depressor lin-
suspeita específica gual (“palito de picolé”). Neste último
método, as extremidades do fragmento
5.1. Neurite da cauda equina podem ser fixadas à base de madeira do
Neurite da cauda equina é um tipo depressor lingual, com o auxílio de ta-
de polineurite progressiva, na qual os chas/percevejos, ou mesmo de agulhas,
animais apresentam sinais clínicos refe- em ambas as extremidades.
rentes ao comprometimento dos nervos Após fixação, deve-se priorizar o
sacrococcídeos (e.g. anestesia perineal, uso da área central do fragmento para o
paralisia da cauda, incontinência uri- processamento histopatológico, descar-
nária, retenção de fezes, etc.). O diag- tando-se as extremidades previamente
nóstico anatomopatológico consiste imobilizadas.
3. Guia de necropsia de equídeos 73
Por fim, amostras de tecido muscu- aorta abdominal, bem como suas ramifi-
lar podem ainda ser congeladas em free- cações com as artérias ilíacas internas de
zer para outros exames complementares ambos os lados. Nessa etapa, procede-
adicionais. -se à avaliação minuciosa da integridade
vascular na busca por irregularidades (e.
5.3. Secreção nasal e dispneia
g. trombose).
Para o exame da cavidade nasal, deve-
-se realizar um corte longitudinal na linha 5.6. Disautonomia
mediana, com remoção do septo nasal A disautonomia equina, também
para a evidenciação dos seios e das con- mencionada como “equine grass sick-
chas. Avalia-se a integridade das mucosas ness”, é uma neuropatia que afeta os
em busca de irregularidades (erosões, ve- sistemas nervosos central e periférico,
sículas, nodulações, etc.). Deve-se avaliar principalmente relatada em animais
o posicionamento normal das estruturas de pastagem. Embora a doença cause
anatômicas. A região de osso etmoidal me- lesões neuronais degenerativas de dis-
rece atenção redobrada em animais com tribuição anatômica generalizada, o
histórico de epistaxe, sendo recomendada fenótipo clínico mais prevalente e se-
a procura por hematomas nessa região. veramente afetado consiste na disfun-
5.4. Síndrome de Wobbler ção do sistema nervoso autônomo e do
sistema nervoso entérico.
Em casos suspeitos de mielopatia
Para confirmação da condição no
estenótica cervical, é recomendada a re-
diagnóstico post mortem, é recomenda-
moção da medula espinhal para o exame
da a identificação das alterações típicas
histopatológico, seguida da análise cui-
dadosa do canal medular para detecção relacionadas ao sistema gastrointesti-
de possíveis áreas de estreitamento das nal. O diagnóstico definitivo baseia-se
vértebras cervicais. Depois da remoção na realização do exame histopatológico
da medula espinhal, a região cervical de gânglios autônomos (pré-vertebral
pode ser flexionada para investigação de e paravertebral), bem como de gân-
áreas de compressão dinâmica, e as arti- glios do plexo mioentérico. Deve-se,
culações intervertebrais devem ser exa- pois, coletar múltiplos segmentos de
minadas para observação de alterações diferentes porções dos intestinos (del-
conformacionais. gado e grosso). Se for possível localizar
os gânglios cervical cranial e mesen-
5.5. Trombose aortoilíaca térico cranial e caudal, além da cadeia
Em animais com histórico de clau- simpática abdominal e torácica, esses
dicação, fraqueza, paresia ou paralisia podem ser coletados e propriamente
dos membros pélvicos, deve-se acessar a armazenados em solução de formalina.
74 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 99 - maio 2021
6. Coleta e preparo de rando sua alta toxicidade, seguindo
amostras o protocolo de preparo de formalina
tamponada a 10% (Anexo 3).
Os fragmentos de tecidos encami-
O material coletado para exames
nhados ao exame histopatológico de-
complementares deve ser acondicio-
vem respeitar o diâmetro de 1,0 cm3
nado em um sistema de envasamento
(Figura 57), sendo a proporção de
triplo: embalagem primária (frascos
tecido:formalina não maior que 1:10,
em obediência ao poder de penetra- coletores, potes, sacolas plásticas,
ção do fixador em condições naturais entre outros, previamente identifica-
(temperatura ambiente ou refrigera- dos), embalagem secundária (sacolas
do). Ainda que não completamente ou potes plásticos, preferencialmente)
fixadas, as amostras podem ser enca- e embalagem terciária (recomendado
minhadas ao laboratório em solução um recipiente rígido, de preferência
de formalina a 10%. Um cuidado adi- uma caixa de isopor) com gelo reciclá-
cional deve ser dedicado ao preparo vel e preenchidos os espaços vazios, a
e à manipulação da solução, conside- exemplo, com papel toalha ou jornal

Figura 57: Fragmento de tecido com tamanho recomendado de 1,0 cm3 para análise histopatológica.

3. Guia de necropsia de equídeos 75


(Figura 58.A). Para exames microbio- ção de exames complementares a par-
lógicos, as amostras de tecidos devem tir do encéfalo e da medula espinhal,
ter pelo menos 8 cm de diâmetro, de para a investigação diagnóstica de rai-
modo a permitir a secção. Para exames va e diferencial com outras enfermida-
toxicológicos, muitas vezes as amostras des. As amostras submetidas a testes
devem ser ainda maiores, dependendo biológicos e moleculares devem ser
dos testes a serem realizados. idealmente refrigeradas (2-8 ºC), sen-
As amostras devem ser devidamente do permitido congelá-las unicamente
identificadas no frasco e/ou saco plásti- quando o tempo para chegada do ma-
co, utilizando-se esparadrapos escritos terial ao laboratório for superior a 24
com caneta esferográfica azul ou preta, horas. O exame histopatológico não
evitando-se identificar diretamente no deve ser desprezado, sendo recomen-
recipiente ou invólucro, e deve-se cer- dado conservar fragmentos em dupli-
tificar que a identificação seja legível e cata com solução de formalina a 10%.
não saia durante o transporte (Figura Em caso de suspeita de animal
58.B). acometido com raiva, a coleta das
amostras deve ser realizada por médi-
6.1. Coleta de material para co veterinário ou por profissional ha-
animais com sintomatologia bilitado por ele, ambos devidamente
neurológica grave e/ou treinados e adequadamente imuniza-
morte súbita dos. Contudo, o envio das amostras é
No caso de animais com históri- de responsabilidade restrita do médi-
co/suspeita clínica prévia de doença co veterinário (oficial ou autônomo).
neurológica, é obrigatória a realiza- Para a coleta de amostras do siste-

A B

Figura 58. Preparo de amostras. (A) Caixa de isopor para envio de amostras resfriadas para exame
microbiológico. (B) Pote plástico, previamente identificado, contendo fragmentos de tecidos fixados
em solução de formalina a 10%.

76 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 99 - maio 2021


ma nervoso central (SNC), o encéfalo ópticos e separando o segmento do
deve ser posicionado em uma super- restante das estruturas telencefálicas
fície plana e bem iluminada (Figura (Figuras 59.C). Na sequência, o cere-
59.A). Com o encéfalo posicionado belo deve ser separado do tronco en-
ventralmente (Figura 59.B), precede- cefálico pelo corte dos pedúnculos ce-
-se ao corte em “v” profundo do tála- rebelares (Figura 59.D), obtendo-se
mo na porção cranial aos colículos três porções anatômicas do conjunto
rostrais, margeando ambos os nervos encefálico (Figura 59.E).

A B

C D

Figura 59. Coletas de amostras do SNC. (A) Encéfalo, superfície dorsal. (B) Encéfalo, superfície ventral.
(C) Corte talâmico para separação do tronco encefálico. (D) Corte com navalha dos pedúnculos cerebe-
lares para separação do cerebelo. (E) Segmentos anatômicos separados.

3. Guia de necropsia de equídeos 77


A subdivisão de segmentos ence- ser seccionado sagitalmente para ob-
fálicos continua com o tronco encefá- tenção de uma fatia do órgão (Figura
lico, seccionando-se uma fatia com- 60.B). De modo semelhante, uma
pleta do rombencéfalo na altura do fatia do tálamo deve ser obtida por
óbex (≈1,0 cm de espessura) (Figura meio do corte com navalha do seg-
60.A), seguido pelo corte da porção mento remanescente do órgão junto
terminal do tronco encefálico para ao telencéfalo (Figura 60.C). Por fim,
obtenção do segmento da medula procede-se ao corte na porção me-
espinhal cervical. O cerebelo deve dial de um dos hemisférios telence-

A B C

D E

Figura 60. Coletas de amostras representativas do SNC. (A) Corte transversal do tronco encefálico. (B)
Corte sagital do cerebelo. (C) Corte do tálamo in situ. (D) Amostras do encéfalo com base no sítio de ob-
tenção. (E) Amostras do encéfalo separadas para o exame de raiva. Abreviaturas: cerebelo (CE); medula
espinhal cervical (M); tálamo (TA); tronco encefálico (TE); hipocampo (H); e córtex telencefálico (CTE).

78 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 99 - maio 2021


fálicos, para que seja contemplado o O material deve ser encaminha-
hipocampo. A Figura 60.D sinaliza a do juntamente com o formulário
origem de cada um dos segmentos re- para requisição de exames para sín-
movidos com base no seu sítio de ob- drome neurológica, com base no ór-
tenção. Os cinco fragmentos obtidos gão de defesa agropecuária de cada
representam minimamente o SNC região, amparado pela Portaria da
(córtex telencéfalo com segmento do Secretaria de Defesa Agropecuário
hipocampo, tálamo, cerebelo, tronco (SDA), nº 168, com
encefálico e medu- o preenchimento
la espinhal cervical) O material deve ser
de todos os campos
(Figura 60.E). Em encaminhado juntamente (Anexo 4). No estado
equídeos, a análise da com o formulário
de Minas Gerais, o
medula espinhal é de para requisição de
Instituto Mineiro de
grande importância exames para síndrome
Agropecuária (IMA)
para o diagnóstico da neurológica ... (Anexo
raiva e de outras en- 4). No estado de Minas é o órgão regional
Gerais, o Instituto responsável pelo re-
cefalites infecciosas, cebimento e pela re-
sendo fortemente re- Mineiro de Agropecuária alização de exames
comendado o envio de (IMA) é o órgão
regional responsável para diagnóstico de
segmentos adicionais raiva em ruminantes
da medula espinhal pelo recebimento e pela
realização de exames e equídeos. O formu-
(torácica e lombar),
para diagnóstico de lário deve ser preen-
junto ao mínimo aci-
raiva em ruminantes e chido pelo veteriná-
ma preconizado.
equídeos. rio responsável de
As amostras frescas
forma legível e com
devem ser acondiciona-
todas as informações de histórico
das em sacolas plásticas devidamente
e de avaliação clínica. Sugere-se in-
identificadas e vedadas, acomodadas
dicar (sublinhando ou circulando)
em caixa de isopor com gelo reciclá-
os sinais clínicos que foram visuali-
vel, conforme demonstrado na Figura
58.A. Amostras em duplicata dos mes- zados entre todos que estão dispo-
mos segmentos utilizados para o exa- níveis no formulário. Nesse anexo,
me de raiva podem ser refrigeradas/ também há um campo para obser-
congeladas para exames microbiológi- vações, que pode e deve ser utili-
cos adicionais. O restante dos fragmen- zado para completar o histórico do
tos deve ser fixado em formol e enca- animal, para que este tenha todas
minhado para análise histopatológica. as informações necessárias para o
diagnóstico.
3. Guia de necropsia de equídeos 79
6.2. Coleta e envio de Em fetos e natimortos com mais
material para diagnóstico de de dois quilos, é indicada a realização
aborto em equídeos da necropsia e coleta de vários órgãos,
como fígado, sistema
Os problemas re-
Os problemas nervoso central, baço,
produtivos em equí-
reprodutivos em pulmão, coração, rim e
deos são geralmente
correlacionados com equídeos são geralmente timo. Devem-se obter
correlacionados com fragmentos frescos de
abortos, mumificações,
abortos, mumificações, cada órgão, com cerca
nascimento de natimor-
nascimento de de 20 gramas, para exa-
tos, infertilidades, entre
natimortos, mes microbiológicos,
outros achados clínicos.
infertilidades, entre e fragmentos de 1 cm3
A causa desses proble-
outros achados clínicos. (Figura 57) para exa-
mas pode ser multifato-
mes histopatológicos.
rial, sendo importante A causa desses problemas
pode ser multifatorial, Os fluidos corporais
a realização de exames
sendo importante a (líquido toracoabdomi-
complementares para a
realização de exames nal, pericárdico e con-
investigação diagnósti-
complementares para a teúdo gástrico) devem
ca do agente. Para tanto,
é recomendado que os investigação diagnóstica ser obtidos por meio de
do agente. seringas e agulhas este-
fetos de até dois quilos
rilizadas e enviados re-
sejam enviados inteiros
frigerados, juntamente com as amostras
dentro de sacos plásticos (mínimo de
frescas, até 48 horas para
três sacos) refrigera-
dos, até 48 horas, para ... fetos de até dois quilos o laboratório.
[devem ser] enviados Quanto à placenta,
o laboratório que fará
inteiros [em mínimo é recomendado cole-
as análises. O laborató-
de três sacos plásticos], tar amostras da região
rio fará o procedimento
refrigerados por até 48 da estrela cervical e das
de necropsia e coletará
amostras para exames horas para o laboratório áreas da transição entre
... o tecido normal e a área
histopatológicos e mé-
de lesão, enviando-se
todos diretos e indire-
uma porção fresca em sacos plásticos
tos de identificação do agente. É inte-
ou coletores universais refrigerados, as-
ressante também coletar o sangue em
sim como amostras fixadas em solução
tubo sem anticoagulante da fêmea que
formalina.
abortou.

80 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 99 - maio 2021


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1. 6.ed. Philadelphia: Elsevier Saunders, 2016.
p.171-173.

3. Guia de necropsia de equídeos 81


Anexos
Anexo 1. Ficha de necropsia do setor de Patologia Animal
da Universidade Federal de Minas Gerais.

82 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 99 - maio 2021


Anexo 2. Lista de doenças de notificação obrigatória
ao Serviço Veterinário Oficial. Adaptado da Instrução
Normativa Nº 50, de 24 de setembro de 2013, do
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
(MAPA).
Tabela 1. Doenças erradicadas ou nunca registradas no Brasil, que requerem
notificação imediata de caso suspeito ou diagnóstico laboratorial
Doenças que afetam equídeos
Arterite viral equina
Durina/sífilis (Trypanossoma equiperdum)
Encefalomielite equina venezuelana
Metrite contagiosa equina (Taylorella equigenitalis)
Peste equina
Doenças que afetam múltiplas espécies e podem ou não afetar equídeos
Brucelose (Brucella melitensis)
Cowdriose (Cowdria ruminantium)
Doença hemorrágica epizoótica*
Encefalite japonesa
Febre do Nilo ocidental**
Febre do Vale do Rift
Febre hemorrágica de Crimeia-Congo
Miíase (Chrysomya bezziana)
Peste bovina
Triquinelose
Tularemia

*Doença já registrada em cervídeos silvestres no Brasil.


**Doença recentemente registrada em equídeos no Brasil.

3. Guia de necropsia de equídeos 83


Tabela 2. Doenças que requerem notificação
imediata de qualquer caso suspeito
Doenças que afetam equídeos
Anemia infecciosa equina
Encefalomielite equina do leste
Encefalomielite equina do oeste
Mormo
Doenças que afetam múltiplas espécies e podem ou não afetar equídeos
Antraz (carbúnculo hemático)
Doença de Aujeszky
Estomatite vesicular
Febre aftosa
Língua azul
Raiva

Tabela 3. Doenças que requerem notificação


imediata de qualquer caso confirmado
Doenças que afetam múltiplas espécies e podem ou não afetar equídeos
Brucelose (Brucella suis)
Febre Q (Coxiella burnetii)
Paratuberculose

84 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 99 - maio 2021


Tabela 4. Doenças que requerem notificação
mensal de qualquer caso confirmado
Doenças que afetam equídeos
Adenite equina/papeira/garrotilho
Exantema genital equino
Gripe equina
Linfangite ulcerativa (Corynebacterium pseudotuberculosis)
Piroplasmose equina
Rinopneumonia equina
Salmonelose (S. abortu sequi)
Doenças que afetam múltiplas espécies e podem ou não afetar equídeos
Actinomicose
Botulismo (Clostridium botulinum)
Carbúnculo sintomático/manqueira (Clostridium chauvoei)
Cisticercose suína
Clostridioses (exceto C. chauvoei, C. botulinum, C. perfringens e C. tetani)
Coccidiose
Disenteria vibriônica (Campylobacter jejuni)
Ectima contagioso
Enterotoxemia (Clostridium perfringens)
Equinococose/hidatidose
Fasciolose hepática
Febre catarral maligna
Filariose
Foot-rot/podridão dos cascos (Fusobacterium necrophorum)
Leishmaniose
Leptospirose
Listeriose
Melioidose (Burkholderia pseudomallei)
Miíase por Cochliomyia hominivorax
Pasteureloses (exceto P. multocida)
Salmonelose intestinal
Tripanosomose (T. vivax)
Tétano (Clostridium tetani)
Toxoplasmose
Surra (Trypanosoma evansi)

3. Guia de necropsia de equídeos 85


Anexo 3. Protocolo operacional padrão para o preparo da
solução de formalina tamponada a 10%.
Material:
• Solução de formalina a 37-40% (CH2O)
• Água filtrada ou destilada
• Fosfato monobásico de sódio (anidro) (NaH2PO4)
• Fosfato dibásico de sódio (anidro) (Na2HPO4)
• Recipiente de plástico (frasco resistente de boca larga e bem vedado, tipo coletor
universal)
• Bastão de vidro, plástico ou metal
Procedimento:
1. Verificar se todos os materiais listados acima estão separados e em quantidade
suficiente.
2. Pesar e separar os reagentes de acordo com a formulação a seguir:

Reagentes Quantidade
Solução de formaldeído (37-40%) 270 mL
Água filtrada ou destilada 730 mL
Fosfato monobásico de sódio (anidro) 4,0 g
Fosfato dibásico de sódio (anidro) 6,5 g

3. Adicionar todos os reagentes em um recipiente firme de boca larga e misturar com


cuidado.
4. Caso haja possibilidade, mensurar e corrigir o pH para 7,0.
5. Acondicionar a formalina tamponada em temperatura ambiente e identificar o re-
cipiente com o nome e a data de preparação.

Observações:
• É recomendado realizar o procedimento utilizando máscara e luvas e, preferencial-
mente, em local arejado ou capela, pois a formalina é um produto tóxico por inala-
ção, ingestão e contato com a pele, corrosivo, inflamável.
• O formol a 10% pode ser utilizado sem a correção de pH e a preparação tampona-
da, contudo o ideal é que siga a formulação descrita acima, de modo a minimizar
artefatos na histopatologia.

86 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 99 - maio 2021


• Em casos de indisponibilidade de água destilada, deve-se utilizar água filtrada
na formulação.
• Caso não seja possível realizar a formulação tamponada, utilizar a que segue
abaixo.
Preparo do formol não tamponado:
Reagentes Quantidade
Solução de formaldeído (37-40%) 270 mL
Água filtrada ou destilada 730 mL

3. Guia de necropsia de equídeos 87


Anexo 4. Formulário único de requisição de exames
para síndrome neurológica do Instituto Mineiro de
Agropecuário (IMA).

88 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 99 - maio 2021


4. Manejo de resíduos:
descarte e desinfecção
Graciela Kunrath Lima (Bióloga, Coordenadora da Gerência Ambiental e de Biossegurança da EV UFMG),
Aila Solimar Gonçalves Silva CRMV-MG 13.603,
Érica Azevedo Costa CRMV-MG 6.565,
Nelson Rodrigo da Silva Martins CRMV-MG 4.809

O descarte do ma- muitos destes poderiam


O descarte do material
terial utilizado na ne- eventualmente ser con-
... deve obedecer às
cropsia, assim como da legislações nacionais siderados como resídu-
carcaça, deve obedecer e internacionais os de serviços de saúde,
às legislações nacionais preconizadas. por proporcionarem
e internacionais pre- [Entretanto]... resíduos riscos químicos e/ou
conizadas. No Brasil, gerados por atividades biológicos.
a Política Nacional de veterinárias [carcaças, Segundo a RDC nº
Resíduos Sólidos (Lei órgãos, secreções e 222, de 28/03/2018,
nº 12.305/2010) define tecidos]... poderiam da Agência Nacional
que os resíduos gerados eventualmente ser de Vigilância Sanitária
nas atividades agrope- considerados como (ANVISA) e a
cuárias e silviculturais resíduos de serviços de Resolução n° 358, de
são classificados como saúde... 29/04/2005, do
resíduos agrossilvipas- ... com riscos para a Conselho Nacional
toris. Contudo, de acor- saúde humana e do meio de Meio Ambiente
do com Rodrigues e ambiente... (CONAMA), esses re-
colaboradores (2013), ...devem passar por síduos representam ris-
a classificação dos resí- tratamento prévio cos para a saúde huma-
duos gerados por ativi- para serem destinados na e do meio ambiente.
dades veterinárias em corretamente, não sendo Assim, devem passar
áreas rurais pode ser possível a destinação por tratamento pré-
confusa, uma vez que como resíduo comum. vio e serem destinados
4. Manejo de resíduos: descarte e desinfecção 89
devam dispor de local
corretamente, não ... o médico veterinário
sendo possível a des- deve entrar em contato com exclusivo para reco-
lhimento de animais
tinação como resíduo o órgão responsável pela
mortos, o qual atenda
comum no ambien- investigação de zoonoses e
te (BRASIL, 2004). saúde animal e/ou o Serviço às seguintes condições
Devido a tais dificul- Veterinário Oficial (SVO) (conforme Art. 4º):
dades, sugere-se que de sua região... para obter I - situar-se fora das
o médico veterinário maiores informações sobre a áreas utilizadas para o
entre em contato com destinação apropriada [de manejo da exploração
o órgão responsável resíduos e] carcaças pecuária e afastado das
pela investigação de demais instalações do
zoonoses e saúde animal, e/ou o Serviço estabelecimento rural;
Veterinário Oficial (SVO) de sua região, II - permitir a limpeza e desinfecção,
para que o material classificado como bem como a circulação e o carregamento
infectante e de risco biológico seja de- do veículo transportador; e
vidamente descartado, bem como para III - prevenir o acesso de insetos e quais-
obter maiores infor- quer outros animais.
mações sobre a desti- ...estabelecimentos rurais A IN MAPA
nação apropriada das devam dispor de local Nº48/2019, adicio-
carcaças. exclusivo para recolhimento nalmente, define as
Em 2019, o de animais mortos, o condições para a ope-
MAPA publicou a
qual atenda às seguintes ração dos transporta-
Instrução Normativa
condições (conforme Art. dores, das unidades
Nº 48 (17 de outubro
4º): de recebimento e das
I-situar-se fora das unidades de transfor-
de 2019), a qual esta-
áreas utilizadas para o mação e eliminação de
belece “as regras sobre
manejo da exploração animais mortos e de
o recolhimento, trans-
pecuária e afastado das resíduos da produção
porte, processamento
demais instalações do pecuária. Também es-
e destinação de ani-
estabelecimento rural; tabelece que, em caso
mais mortos e resídu-
II-permitir a limpeza e de suspeita de doenças
os da produção pecu- desinfecção, bem como a
ária como alternativa circulação e o carregamento de notificação obriga-
para a sua eliminação tória, o recolhimento
do veículo transportador; e dos resíduos e dos ani-
nos estabelecimentos III-prevenir o acesso de
rurais”. Essa IN de- mais mortos poderá
insetos e quaisquer outros ocorrer somente após
termina que os esta- animais.
belecimentos rurais autorização do SVO,
90 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 99 - maio 2021
ficando sujeito a restri- do médico veterinário
... [a destinação de]
ções de acordo com as oficial (MAPA, 2009).
carcaças ... depende
normas sanitárias (Art. Em geral, recomenda-se
da localização e dos
22º). a contratação de serviço
resultados de exames ...
O descarte de car- particular especializa-
A recomendação inicial
caças dos animais deve do para o descarte, que
é que as carcaças sejam
seguir o que é preco- enterradas e que os atenda às exigências
nizado para cada caso, demais animais sejam dos órgãos de saúde e
dependendo da locali- mantidos distantes desses ambientais.
zação e dos resultados locais... a cobertura O local onde foi
de exames realizados. da carcaça com cal realizada a necropsia
A recomendação inicial (CaO) é uma medida deve ser devidamente
é que as carcaças sejam para minimizar o risco higienizado com água e
enterradas e que os de- biológico... detergente, para retira-
mais animais sejam da da sujeira e de maté-
mantidos distantes desses locais (Nunes ria orgânica, devidamente enxaguado e
et al., 2010). Em caso de enterramento, submetido à desinfecção com hipoclori-
a cobertura da carcaça com cal (CaO) é to de sódio de 2 a 2,5% (MAPA, 2017)
uma medida para minimizar o risco bio- (geralmente, a água sanitária comercial
lógico (EMBRAPA 2019). Entretanto, já possui concentração de princípio de
o enterro dos dejetos deve ser feito com cloro ativo entre 2% e 2,5%). Para facili-
cautela, considerando a possibilidade tar essa limpeza assim como o descarte
de contaminação do solo ou do lençol da carcaça, sugere-se que a necropsia
freático subjacente. seja realizada sobre lona plástica lavá-
Segundo Normativas do MAPA, o vel, de material resistente e preta, que
processo de eliminação de todos os ani- havendo condição, poderá ser limpa e
mais que representam risco para difusão desinfetada no local com agentes físi-
ou manutenção de agente biológico de- cos ou químicos, por exemplo por au-
terminado, segundo exame laboratorial toclavação, ou com aplicação de água
e avaliação epidemiológica do Serviço sanitária sem diluição, embora não
Veterinário Oficial, deve devendo ser enterrada
ser realizado por incine- ... qualquer [} processo com a carcaça devido à
ração, enterramento ou que garanta a eliminação contaminação ambien-
qualquer outro proces- do agente infeccioso, tal. Além disso, as botas
so que garanta a elimi-
[deve ser] sob supervisão e os aventais utilizados
nação do agente infec-
do médico veterinário devem ser lavados com
cioso, sob supervisão
oficial (MAPA, 2009)... detergente e água cor-
4. Manejo de resíduos: descarte e desinfecção 91
rente para retirada do ex- desse material seja reali-
Materiais
cesso de matéria orgâni- zada mediante contrato
perfurocortantes,
ca, e deixados de molho com empresa especia-
como agulhas,
em hipoclorito de sódio, lizada em manejo de
lancetas, lâminas de
também na concentra- resíduos de serviços de
bisturi e recipientes
ção de 2 a 2,5%, deixan- saúde.
de vidro, devem ser
do a solução agir por, no Materiais utilizados
acondicionados em
mínimo, 30 minutos. Os no processo, como se-
recipientes com paredes
instrumentais usados na ringas, luvas, máscaras,
rígidas, os quais não
necropsia também de- toucas, jalecos e/ou ma-
serão perfurados
vem ser lavados como cacões descartáveis, algo-
[garrafas de polietileno
mencionado e imersos dão, gazes e outros mate-
tereftalato (pets), caixas
em solução de formalde- riais descartáveis, exceto
de leite longa vida com
ído, na concentração de perfurocortantes, como
tampa de rosca ou latas
5% (Para preparo de um já mencionado, devem ser
de leite em pó)]
litro de solução: 135 mL destinados como infec-
de formaldeído 37-40%, tantes, sendo descartados
em 865 mL de água filtrada). como lixo de risco biológico. O preconiza-
Materiais perfurocortantes, como do é que esses materiais sejam descartados
agulhas, lancetas, lâminas de bisturi e em sacos de lixos específicos da cor bran-
recipientes de vidro, devem ser acondi- ca (OPAS, 2010). No entanto, caso não se
cionados em recipientes com paredes disponha dos recipientes específicos para
rígidas, os quais não serão perfurados descarte, antes de se iniciar qualquer pro-
[garrafas de polietileno tereftalato (pets), cedimento de necropsia, deve-se entrar
caixas de leite longa vida com tampa de em contato com órgão responsável pela
rosca ou latas de leite investigação de zoonoses
em pó)], e destinados e saúde animal da região,
... seringas, luvas,
pelo médico veterinário para que o material classi-
máscaras, toucas,
conforme orientações ficado como infectante e
jalecos e/ou macacões
do Serviço Veterinário de risco biológico seja de-
descartáveis, algodão,
Oficial. Em proprieda- vidamente descartado. O
gaze e outros materiais
des com maiores recur- descarte correto do ma-
descartáveis, exceto
sos, recomenda-se que terial é muito importan-
perfurocortantes ...
sejam utilizadas caixas te, para não haver risco à
devem ser destinados
próprias para descarte saúde de outros animais,
como infectantes, sendo
de resíduos perfurocor-
descartados como lixo de da população humana e
tantes, e a destinação do meio ambiente.
risco biológico...
92 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 99 - maio 2021
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