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Iluminação e
modelagem paramétrica
Por Luis Lancelle

Estamos presenciando o início de uma verdadeira mudança gráfico em prancheta (de forma intuitiva) até a digitalização com
na forma em que se projeta. Uma nova atitude, uma nova software CAD (de forma referencial e, em alguns casos, de forma
intenção projetual que está aparecendo sobretudo nos novos ativa). Porém, o que se diferencia então na Modelagem Paramé-
projetos arquitetônicos de significativa importância e de geo- trica? É a forma quase instantânea em que os diferentes valores
metrias complexas. que definimos para os parâmetros são rapidamente processados
Não é que as ideias sejam novas – veremos que já existem pelos algoritmos e imediatamente oferecidos visualmente para
há bastante tempo –, porém os recursos tecnológicos disponí- o projetista.
veis atualmente, tanto de hardware quanto de software, têm nos Desta forma, o projetista tem a possibilidade interativa,
permitido a rápida adoção dessa nova forma de modelagem rápida e visual de escolher aquela solução que melhor atenda
projetual. às suas expectativas projetuais – dentro da infinidade de alter-
nativas fornecidas por essa metodologia – tornando-se, desta
Modelagem paramétrica maneira, gestor dos elementos que participam do projeto através
da escolha dos valores de seus parâmetros, e não mais apenas
O conceito chave dessa mudança é a Modelagem Para- um agente criativo da forma.
métrica, método matemático que utiliza softwares específicos
integrados ao processo de criação. Ele consiste na descrição dos Importância da visualização
elementos do projeto através de suas variáveis (parâmetros), às
quais se atribui uma série de valores sucessivos que, por meio Ao longo do processo de projeto, sobretudo num ambiente
do cálculo com algoritmos previamente definidos, permitem multidisciplinar, a visualização da representação gráfica é de
apresentar visualmente ao projetista várias soluções diferentes extrema relevância, tanto no caso da análise pessoal, quanto
do problema, mas com as mesmas características fundamentais. da apresentação e troca de projetos com outros profissionais,
O uso dos parâmetros para definir a geometria do projeto pois é o desenho que dá o suporte natural ao desenvolvimento
tem sido um recurso normal para o projetista, desde o projeto do pensamento projetual.

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Interação entre elementos (CADs tradicionais) para os programas generativos,
realmente integrados ao processo de projeto, que
Quando se alteram os parâmetros de um permitem a geração e exibição de soluções ao
elemento que participa da forma do projeto, não projetista.
são somente os outros elementos de forma que Contrário ao que se pensa, os processos gene-
poderão ser afetados, mas também os do projeto, rativos não precisam ser necessariamente imple-
como estruturais, de conforto, ou mesmo lumino- mentados em computador, mas pelo fato de serem
técnicos. Isto significa que, ao contrário do que utilizados para realizar atividades repetitivas – que
acontece atualmente, neste método os elementos normalmente consumem muito tempo e habilidades
das diferentes disciplinas que concorrem ao pro- de cálculo – seu uso atual é quase exclusivamente
jeto interagem entre si, e quando se altera algum em máquina.
deles pode-se mudar também os restantes. Antes de 1980, esses sistemas dificilmente
eram implementados em computador, não apenas
A nova atitude, os meios digitais e o processo por que era necessário ter bons conhecimentos
criativo de programação, mas também pelo alto custo das
interfaces gráficas e das grandes capacidades de
O projetista paramétrico, apesar de depender memória necessárias.
fortemente da utilização de meios digitais, tem A partir da década de 80, quando os compu-
como principal aspecto uma postura criativa em tadores se tornaram mais acessíveis e potentes,
relação ao processo de projeto, fundamentada no baseados no uso das linguagens de script existen-
entendimento da interação entre as articulações tes nos programas CAD, começaram a aparecer
dos elementos de projeto, as valorizações dos diversos textos que orientavam a implementação
parâmetros e os resultados dos cálculos realizados de sistemas generativos de projeto em computador,
pelos algoritmos definidos. utilizando as funções geométricas existentes nesses
Desta forma, a visão do projetista paramétrico programas para elaborar os algoritmos necessários.
é mais uma atitude de espírito do que o resultado Porém, poucos são os profissionais da área de
mecanicista da aplicação de softwares computa- projeto que aceitaram o desafio de aprender uma
cionais, ainda que fundamentais como elementos linguagem de programação usando códigos simbó-
organizadores, que permitem uma miríade de pro- licos, já que existe o preconceito de que programar
cessamentos quase simultâneos, criando modelos é complicado, de que essa atividade não tem nada
de representação que possibilitam a leitura dos a ver com sua atuação profissional, e de que não
resultados desses processamentos de maneira se trata de um conhecimento que um projetista
organizada e sistêmica. deva ter.
Por outra parte, o desenho a mão, ou sua
Algoritmos simples digitalização com softwares CAD exclusi-
vamente gráficos, ainda é considerado o principal,
Para a realização dos cálculos necessários, se não o único, método de produção das ideias, ao
que definem as sucessivas soluções do problema, menos iniciais, de projeto. É impossível questionar
é preciso codificar em linguagem de máquina uma o papel do desenho no processo criativo.
sequência de instruções aritméticas e lógicas que Considerando que no processo de projeto,
permitam a resolução do problema automática e devido a sua crescente complexidade, torna-se
repetitivamente, denominada de Algoritmo. imperiosa a disponibilização de alternativas de
soluções, o computador, sem dúvidas, assume um
Construção do Algoritmo, scripts, programação papel preponderante como ferramenta integrada ao
com códigos simbólicos e modelagem paramé- projeto, permitindo a geração rápida, sistêmica e
trica visual exaustiva de alternativas.
Por outro lado, o uso dos programas generati-
A situação atual está focada na migração vos também tendem a se expandir significativamen-
dos programas de simples representação gráfica te devido ao início e rápido crescimento do uso de

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máquinas de fabricação digital, dentro do conceito o Paracloud. O primeiro é um módulo do aplicativo
CAD-CAM e controle CNC, tanto na arquitetura de Microstation da empresa Bemtley; o segundo é um
interiores quanto na construção civil em geral. plug-in para o programa Rhinoceros da empresa
Considerando, no momento atual, os softwares McNeil; e o terceiro da Paradigm.
CADs existentes, verificamos que a programação Em ambos os casos, a geometria é desenvolvi-
com linguagens script varia significativamente entre da de um modo diagramático, não sendo armazena-
eles, sendo bastante diferentes em sua sintaxe, da em um arquivo usual para modelos geométricos,
estrutura, e resultados oferecidos. Os softwares mas em um tipo especial de arquivo chamado
mais utilizados são a Rhinoscript, do Rhinoceros; a Transaction File, no GC, e Definition File, no Gras-
MEL, do Maya; a MaxScript, do 3DMax; e a VBA ou shopper.
Autolisp, do AutoCAD. O uso de um ambiente de programação visual
As linguagens para o desenvolvimento dos para modelagem paramétrica é muito mais intuitivo e
Scripts (também chamados de macros no VBA) lógico que um ambiente de programação por código
podem ser: Visual Basic for Application – VBA, que textual, pois não requer a introdução de conheci-
é a mais usada atualmente; Visual Basic for Applica- mentos teóricos de programação nem de conheci-
tion Interactive Development Environment - VBA IDE, mentos específicos de uma determinada linguagem.
do Microsoft Office e do AutoCAD; e AutoLISP, da full Porém, sendo as possibilidades de elaboração de
version do AutoCAD. algoritmos mais limitada do que quando se utiliza
Embora não seja uma linguagem compilada e codificação em código simbólico, temos a possibi-
não permita a criação de novas classes de objetos lidade de não trabalhar completamente em forma
ou aplicações autônomas, a linguagem script VBA é gráfica, já que podemos combinar com scripting e
uma ferramenta poderosa para automatizar proce- programação, sempre que necessário.
dimentos no AutoCAD. Seu ambiente de desenvol- Por enquanto, a automação do processo de
vimento permite a elaboração de interfaces de um projeto ainda é limitada e focada fundamentalmente
modo fácil e intuitivo, o que representa uma grande nas geometrias complexas que utilizam superfícies
vantagem sobre o AutoLISP. Por ser uma linguagem equáveis, onde se tornam eficientes e poderosas
muito estruturada, seu aprendizado requer o conhe- quando da exploração de formas por meio da gera-
cimento de diversos conceitos de programação, ção automática de variações paramétricas.
mesmo para o desenvolvimento de programas muito
simples. Ambientes de programação visual para modela-
Provavelmente para atender a resistência a gem paramétrica e linguagens de programação
programar dos projetistas, recentemente alguns pa- visual – VPL
cotes CAD introduziram ferramentas com capacida-
des bastante semelhantes de geração de modelos Para favorecer ainda mais a tarefa de criação
paramétricos com recursos de programação visual, dos algoritmos necessários apareceram de forma
sem a necessidade da programação em código conceitual, e muito recentemente, os Ambientes de
simbólico. Programação Visual para Modelagem Paramétrica,
Esses programas de modelagem paramétrica inspirados nas Linguagens de Programação Visual –
visual de softwares CAD se utilizam da programação VPL, também chamadas de Linguagens de Progra-
visual que, em primeira instância, elabora diagramas mação Diagramáticas, que permitem criar progra-
simbólicos, gerando posteriormente o algoritmo que mas por meio da manipulação de componentes
será utilizado no software CAD. Eles, ao invés de gráficos em vez do uso de linhas textuais de código.
apresentar uma interface para escrever linhas em Em outras palavras, usam uma representação analó-
um compilador, contêm uma área de trabalho na gica visual para os algoritmos.
qual podem ser introduzidos componentes que irão Ainda que os Ambientes de Programação Visual
“compor o código” que realizará a tarefa. para Modelagem Paramétrica não sejam exatamente
Os dois recursos mais significativos desse VPL, possuem algumas de suas características mais
tipo de software de modelagem paramétrica visual importantes para o usuário como: uso da interface
são o Generative Components, o Grasshopper, e de caixas e fios “box-and-wire”, possibilidade de

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inserir códigos em alguns componentes, e possibili- Entende Parametricism como não linhas retas, não
dade de organizá-los hierarquicamente. eixos, não ângulos retos, não cantos, não repetição
Uma solução nessa direção está sinalizada pelo de elementos, não regularidade, não simetria, nada
Visual Programming & Scripting Program Dynamo que repita a arquitetura do passado.
da AutoDesk. Ele trabalha em forma conjunta com
o Vasari, que foi recentemente lançado em sua BIM = Parametrização + Interoperabilidade
versão Beta, como sendo um intuitivo e fácil de usar
software de modelagem tanto geométrico quanto Podemos supor que a tendência atual de usar
paramétrico, com tecnologia BIM, em plataforma geometrias complexas que utilizam superfícies equá-
Revit, e que permite, desde os estágios iniciais do veis é o que justifica o aparecimento da Modelagem
projeto, realizar avaliações de eficiência energética, Paramétrica. Se fosse assim, seu campo de aplica-
estudo de ventos e de insolação. ção se restringiria exclusivamente a esta tipologia e,
É possível inferir que os Ambientes de Programa- portanto, a um número bastante restrito de casos.
ção Visual para Modelagem Paramétrica irão permitir Outros e mais importantes são os motivos de sua
a implementação de estratégias de projeto gene- aparição.
rativo de um modo relativamente simples, rápido e Quando do aparecimento dos softwares CAD
amigável, porém, por enquanto, não estão sendo – que digitalizaram e organizaram a prancheta em
utilizados na prática profissional. torno de uma nova forma de trabalho denominado
projeto linear – constatou-se que se bem resolviam
Nova metodologia de modelagem alguns aspectos do processo, apareciam outros pro-
blemas na fase de construção, como os de compa-
Desta forma, a modelagem poderá trabalhar tibilização, de retrabalhos, de desperdícios, de baixa
cada vez mais com a noção de uma geometria não qualidade do produto final, de frequentes alterações
baseada em planta, elevação e seção, como é até (projeto, prazos e orçamento), etc.
agora, mas será definida através da percepção, da Assim, procurou-se resolver esta nova pro-
intuição, da variedade, da tentativa e da emergência blemática através de estratégias integrativas. Nos
de características não programadas. anos 80, aparece o conceito de Projeto Simultâneo,
Assim, o entendimento da relação entre os pa- primeiro na indústria e depois na construção civil. A
râmetros introduzidos e a solução obtida e, por sua evolução posterior deste conceito, junto com funda-
vez, entre a solução e seus elementos constituintes, mentos da sustentabilidade, no sentido de conside-
permite encontrar uma resposta emergente satisfa- rar o ciclo de vida completo do edifício, desde sua
tória quando o designer redefine interativamente os concepção até sua demolição, deu lugar ao apareci-
valores paramétricos tantas vezes quantas forem mento do Sistema BIM.
necessárias, não mais se utilizando de um ritual O BIM é muito mais do que preconiza o CAD,
hierárquico predefinido, e sim da concepção de um em termos de representação geométrica abstrata e
modelo geral que, sendo sucessivamente aprimo- método linear de projetação. É a simulação inte-
rado, direcione não previsivelmente o processo até ligente de um edifício em torno de um modelo de
que o modelo definitivo surja. informações, não apenas geométrico tridimensional,
Contrariamente ao que em alguns casos é difun- mais também uma base de informações paralelas,
dido, não se trata de um novo estilo construtivo, de concomitantes e multidisciplinares, organizadas
uma nova arquitetura, e sim de uma nova metodolo- sistemicamente em torno de uma máquina de busca
gia de modelagem. e recuperação da informação.
No momento atual, vários são os profissionais Não é apenas mais uma ferramenta de dese-
de nível internacional que aderiram à modelagem nho, é um novo modelo de processo que tem como
paramétrica: Tom Wright, Norman Foster, Chris Bos- bases a Modelagem Paramétrica e a Interoperabili-
se, Ali Rahim, Lars Spuybroek, Zaha Hadid e Patrik dade.
Schumacher. Este último têm criado o conceito de A Modelagem Paramétrica, como vimos, é
Parametricism, que além de ser uma ferramenta útil, entendida como a representação computacional de
é um promotor de uma nova estética arquitetônica. um objeto constituído por elementos geométricos e

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não geométricos, na qual a valorização de variáveis ta claramente para o uso do BIM e Interoperabilida-
e constantes em forma recorrente permite a escolha de na projetação do espaço construído.
daquele conjunto que o designer entenda como
mais correto. IFC
Por outra parte, a Interoperabilidade, definida
como a possibilidade de troca de informação entre Finalmente, para que exista realmente a
dois ou mais sistemas, é um dos pilares fundamen- possibilidade de que todos os Sistemas e Progra-
tais do BIM, uma vez que as informações contidas mas compartilhem esse único banco de dados de
no modelo tridimensional devem ser compartilhadas informações do edifício, é preciso compartilhar a
e visualizadas por todos os envolvidos no ciclo de mesma forma de tratar a informação, ou seja, todos
vida do edifício, para que sejam úteis e tenham precisam utilizar não um modelo proprietário de
validade. uma ou outra empresa desenvolvedora de software,
Ela permite inibir a definição e introdução da e sim um modelo universal para permitir que o que
informação em duplicidade. Permite, ainda, manter um software enxerga e atualize, seja enxergado e
a unicidade da informação, entendida esta como ter potencialmente atualizado, da mesma forma, por
um único valor para uma mesma variável. qualquer outro que deseje participar do processo.
Tem-se verificado que 50% da insatisfação dos Para atender ao preconizado pela frase acima,
clientes com a construção se deve a atrasos e gas- é de fundamental importância a implementação de
tos não previstos em projeto, e que 30% dos valores um padrão de protocolo internacional de formato e
gastos com a construção se devem a retrabalho. tratamento da informação no banco de dados e em
Essas fontes de insatisfação e não conformida- todos os softwares utilizados. O principal protocolo,
de são mitigáveis através do uso desta nova plata- desta natureza, disponível atualmente é o Industry
forma, já que promove a diminuição das incompa- Foudation Classes - IFC, desenvolvido inicialmente
tibilidades entre o projeto e a execução, otimiza os pela International Standard Organization – ISO, sob
tempos e reduz custos e desperdícios. o nome de ISO-STEP, e continuado pela Internatio-
Observemos que o BIM, através de seus nal Alliance for Interoperability - IAI em 1994, que
conceitos, da Modelagem Paramétrica e da Intero- é um modelo de dados do edifício baseado em
perabilidade, propõe uma prática integrada entre objetos e não proprietário. Observamos na práti-
os profissionais envolvidos no projeto, através da ca que o uso de padrões IFC atende aos nossos
elaboração, uso e atualização de um modelo único requisitos com certas restrições, pois se funciona a
composto por um banco de informações geomé- contento para certas tarefas, muitas outras não são
tricas e de diversas naturezas, compartilhado em suportadas corretamente, havendo em bastantes
tempo real por todos os Sistemas, Programas, Ro- oportunidades a perda ou a alteração da informa-
tinas ou simples Consultas que qualquer designer ção. Isto significa que o desejável uso universal não
pratique em qualquer momento do ciclo de vida de foi atingido por enquanto.
um edifício. Quando se usa o IFC, há disponíveis outras
Desta forma, permite obter informações duas ferramentas complementares: a do dicionário
permanentemente atualizadas, possibilitando que de identidades únicas de objetos IFC, que contem-
qualquer mudança ocorra o mais cedo possível, pla a norma ISO 12006 #3, denominada Information
visando assim um maior desempenho, qualidade e Framework for Dictionary – IFD; e a especificação
fidelidade do projeto com a execução. de uso de objetos IFC, denominada Information
Uma pesquisa recente indica que os elementos Delivery Manual – IDM, ambas freeware e desenvol-
previstos como mais importantes na aplicação da vidas pela IAI.
tecnologia da informação na construção civil nos Estas ferramentas de comunicação têm permi-
próximos 10 anos são: com 67%, uso da web do tido, gradativamente, a incorporação, à plataforma
sistema de gerenciamento de projetos e obras; e BIM, de informações de múltiplos sistemas relativos
com 43%, integração de sistemas de software em ao projeto como: acessibilidade, sustentabilidade,
todo o ciclo de vida do edifício. eficiência energética, custeio, conforto ambiental,
Este último dado é bastante elucidativo e apon- acústica, térmica, luminotécnica, etc.

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Iluminação e BIM – Parametrização – Interopera- O segmento das software houses de ilumina-
bilidade ção é o primeiro a ter que adequar seus produtos
para tal. Dessa forma, os LDs poderiam importar
Em função dos conceitos que vimos acima, modelos BIM diretamente em seus programas
tudo leva a crer que estamos indo na direção da e executar cálculos de iluminação com eles. Ao
plataforma BIM + Parametrização + Interoperabi- mesmo tempo, todos os arquivos da geometria,
lidade, o que nos permite elaborar projetos mais arquitetura de interiores e acabamentos deveriam
arrojados, sustentáveis, eficientes, econômicos, de estar disponíveis ou viáveis para serem importa-
mais rápida execução e que garantam ambientes dos em formato IFC. Por outro lado, os projetos já
mais confortáveis. elaborados poderiam ser arquivados nos formatos
Da mesma forma, na área de iluminação, os contemplados pelo IFC.
Lighting Designers (LD), fabricantes, construtores, Por outra parte, os fornecedores de software
etc. teriam também essas mesmas vantagens no precisam garantir que seus arquivos sejam realmen-
caso de sua adoção. te intercambiáveis com os outros softwares. Qual-
A Projetação Luminotécnica é essencialmente quer predição favorável nesse sentido será inútil se,
paramétrica e interativa. Normalmente usamos os na prática, não puderem facilmente se comunicar
softwares de iluminação dessa forma: introduzimos e compartilhar informações entre si por causa de
uma determinada fonte (parâmetro), submetemos problemas de compatibilidade.
ao cálculo, avaliamos os resultados e se não são Se não for assim, pode existir a possibilidade
condizentes alteramos o parâmetro para assim de que o LD migre definitivamente para outros gru-
continuar até que os resultados sejam favoráveis. pos de softwares, tipo 3D Studio Viz ou 3D Studio
Contrariamente a essa caraterística favorável, Max, que deverão aprimorar suas máquinas de
os softwares de iluminação atualmente disponíveis cálculo num contexto físico-realista, pois têm a van-
(AGI32, Relux, Radiance, DIALux, etc.) não traba- tagem de já trabalhar com modelos BIM, ainda que
lham com BIM e menos ainda com Interoperabili- até agora tenham sido utilizados somente como
dade. É uma pena que DIALux, que recentemente ferramentas de renderização.
reformulou totalmente seu produto, não tenha tido Os fabricantes de lâmpadas e luminárias de-
o bom senso de aproveitar a oportunidade e partir vem, por sua vez, fornecer para download ou plug-
para uma plataforma aberta e universal, preferindo, -in os arquivos fotométricos com extensão IFC de
no entanto, ficar com um padrão fechado e proprie- seus produtos, salvo que a IAI tenha adotado algum
tário, totalmente contrário à tendência atual. dos padrões já existentes como IESNA, CIBSE, CIE,
Há aproximadamente oito anos, no Simpolux etc.
2006, apresentei uma palestra na qual anunciava E, finalmente, o LD deverá se atualizar na
como futuro imediato (+/- 5 a 6 anos) que os sof- tecnologia de projeto que reúna as melhores cara-
twares de iluminação iriam participar da plataforma terísticas de preço – performance e facilidade de
de Interoperabilidade através do IFC e que “os ar- uso. Se isso acontecer, teremos brevemente uma
quivos assim definidos participariam da projetação poderosa metodologia de projeto que irá favorecer
do produto (arq. +) e de processos (const., operac. substancialmente nossa atividade projetual.
– manut. aval. –, revit. e demolição), sendo assim
não ‘proprietários’ dos softwares utilizados”. Apesar
de ter havido certo atraso na predição, o caminho
parece ser mesmo esse.
Assim sendo, precisamos estar preparados
para uma muito provável migração para o ambiente
Prof. Luis Lancelle
BIM, algo que já foi adotado pelos grandes escri- Engenheiro formado pela Universidade de Buenos Aires (UBA) e pela USP
tórios de arquitetura e construção principalmente e mestre em Engenharia de Sistemas (UBA). Docente, coordenador ped-
agógico e orientador de cursos de pós-graduação nas áreas de Engenharia
dos países europeus. Nesse panorama, quais são
e Arquitetura. Coordenador da área de Software de Iluminação da Divisão 3
os compromissos que cada um dos segmentos da do CIE-Brasil (Comission Internacionale de l´Eclairage) (2006). Consultor,
iluminação tem que assumir para que aconteça? designer de iluminação e especialista em Software de Iluminação. DIALux
Accredited Trainer.

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