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Apoio

TEO DO RIC O ALVES

LÓGIC A
A PLIC ADA
NA ESCRITA CIENTÍFIC A
Campo Grande/MS - 2021

Apoio
LÓGICA APLICADA NA ESCRITA CIENTÍFICA

Sumário
Apresentação______________________________________ 5 5 Variáveis________________________________________________ 22

Sobre o autor______________________________________ 5 Conceito de variáveis____________________________________ 22

Tipos de variáveis_______________________________________ 23
Módulo 1 - Ciência e o pensamento científico__________ 6
Variáveis Teóricas e Operacionais___________________________ 23
1 Ciência__________________________________________________ 7
Relações entre Variáveis__________________________________ 24
Pensamentos Filosóficos___________________________________ 8
Redução e Operacionalização de variáveis_____________________ 25
2 Pensamento Científico e o Método Científico______________________ 9
6 Tipos Lógicos de Pesquisa Científica____________________________ 27
Pensamento Científico_____________________________________ 9
Tipos de pesquisa na literatura_____________________________ 27
Método Científico_______________________________________ 10
Tipos Lógicos de Pesquisa_________________________________ 28
Pesquisa e Ciência______________________________________ 11
Pesquisa de Caracterização________________________________ 29
Reflexão sobre Conhecimento e Pensamento Científico___________ 12
Pesquisa de Associação SEM interferência_____________________ 30
Leituras Recomendadas__________________________________ 13
Pesquisa de Associação COM interferência____________________ 30
Módulo 2 - Pesquisa científica_______________________ 14
7 O Planejamento da Pesquisa Científica__________________________ 32
1 Bases de periódicos científicos________________________________ 15
Projeto de Pesquisa______________________________________ 32
Bases de Dados Científicos________________________________ 15
Redigindo a Introdução___________________________________ 33
2 Estrutura da Pesquisa Científica_______________________________ 18
Material e Métodos_____________________________________ 34
Estrutura da Pesquisa Científica____________________________ 18
Cronograma___________________________________________ 35
3 Delimitando o tema para a Pesquisa Científica____________________ 20
8 Objetivos: como construir____________________________________ 35
4 Hipótese e Predição da Hipótese______________________________ 21
Objetivo______________________________________________ 35
Hipótese______________________________________________ 21
Esquematização do objetivo_______________________________ 37
Predição da Hipótese____________________________________ 21
Objetivos Gerais e Objetivos Específicos______________________ 37
LÓGICA APLICADA NA ESCRITA CIENTÍFICA

9 Delineamentos experimentais________________________________ 39 Módulo 4 - Estruturando o texto científico____________ 50


Delineamentos experimentais______________________________ 39 1 Conclusões_______________________________________________ 51
Escolha do teste estatístico________________________________ 40 2 Resultados_______________________________________________ 52
10 Publicação Científica______________________________________ 41 3 Material e Método_________________________________________ 53
Classificação das Revistas_________________________________ 41 4 Discussão_______________________________________________ 54
Onde Publicar?_________________________________________ 42 5 Introdução_______________________________________________ 54

Módulo 3 - Escrita científica________________________ 43 6 Resumos________________________________________________ 55

1 Redação Científica_________________________________________ 44 7 Título___________________________________________________ 56

2 Bases conceituais e estratégias________________________________ 45 8 Citações no texto__________________________________________ 57

Bases conceituais_______________________________________ 45 Módulo 5 - Estilo da redação científica_______________ 59


Estratégias para a escrita científica__________________________ 45 1 Construção de frases_______________________________________ 60
3 Estrutura lógica do texto científico_____________________________ 46 Conjunções no texto_____________________________________ 60
4 Base de dados____________________________________________ 47 2 Expressão e Fluxo com estilo_________________________________ 61
5 Sequência lógica e redação do texto____________________________ 47 3 Outline como estratégia de escrita_____________________________ 62
6 Plágios e falácias na Escrita Científica__________________________ 49 4 Redigindo o parágrafo com estilo______________________________ 63
Plágio________________________________________________ 49 Textos complementares__________________________________ 64
Falácias______________________________________________ 49 Referências bibliográficas___________________________ 65
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Apresentação
O curso a Lógica Aplicada na Escrita Científica oferece uma nova maneira de pensar ciência e de como redigir textos científicos com lógica e estilo. Tem por
objetivo demonstrar as bases e conceitos para estruturar projeto de pesquisa e texto científico visando a publicação, propiciando uma escrita científica com
estilo internacional. Está estruturado em cinco módulos: ciência e pensamento científico; pesquisa científica; escrita científica; estrutura do texto científico e estilo da
redação científica, estilo este exigido pelos periódicos internacionais de impacto. Proporciona, ainda, mudança significativa no modo de orientar e de redigir o texto
científico, seja uma monografia, dissertação, tese ou manuscrito visando a publicação. Sendo aplicado indistintamente para as áreas Biológicas, Exatas e Humanas.

Esperamos sensibilizar aos envolvidos com ensino e pesquisa, da necessidade da quebra de paradigmas e de preconceitos para evoluírem na ordem
contemporânea da metodologia e da escrita científica. Oferece, sobretudo, mudança de postura para alcançar destaque no processo de construção do
conhecimento científico, fazendo Ciência. Lembrando que ao recusarmos mudanças paradigmáticas temos que buscar subterfúgios, contradizendo a lógica do
método e do pensamento científico.

O grande desafio de muitos é o de redigir textos científicos com estilo científico internacional. Quais são as características do pensamento científico e do método
científico? Como construir o objetivo a partir da hipótese? Como elaborar título, objetivo e conclusões no contexto da lógica? Como evitar a rejeição de seu
manuscrito em revista internacional? Vamos juntos repensar como fazer ciência com estilo e usando a lógica. Assim, o conteúdo exposto facilitará a construção e
inserção de seu projeto de pesquisa em órgãos de fomento e de seu artigo em periódicos internacionais de impacto visando a publicação.

Bem-vindos ao novo mundo da escrita científica!

Sobre o autor
Teodorico Alves Sobrinho. Possui doutorado pela Universidade Federal de Viçosa e pós-
doutorado na Universidade de Córdoba – Espanha. Atualmente é Pesquisador Sênior
na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul e Bolsista de Produtividade do CNPq.
Foi Diretor Científico da Fundação de Pesquisa de MS (Fundect/MS) e Editor Associado
da Revista Brasileira de Recursos Hídricos (RBRH). Possui mais de 1200 citações em
periódicos nacionais e internacionais.
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1 Módulo 1
- Ciência e o pensamento científico

O processo de construção do conhecimento tem fundamento no


conceito de Ciência e do Pensamento Científico. Devemos ter de
forma clara respostas para: O que é Ciência e o que é fazer ciência?
Quais são os objetivos e finalidades da Ciência? Como a Ciência
produz conhecimento? Quais são as características do Pensamento
Científico e do Método Científico? Parte dessas respostas podemos
encontrar nos pensamentos descritos pelos principais filósofos da Ciência,
desde os pré-Socráticos até os contemporâneos pensamentos de Popper e
Thomas Kuhn. Outra parte vamos obter entendendo as abordagens sobre
o uso da lógica e de evidências que, de forma racional, existem no nosso entorno. Não está no escopo deste curso discorrer
sobre Filosofia da Ciência, mas fica como sugestão a leitura complementar sobre este fascinante tema. Faremos aqui
abordagens fornecendo pistas para entendimento de como podemos conseguir Conhecimento Científico válido, ou aceito, e
a distinção entre o fazer Pesquisa e fazer Ciência.
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1 Ciência
A ciência busca verdades que dependem da linguagem, contexto, lógica, sociedade e cultura. Podemos criar verdades, mas estas não serão absolutas. Assim,
a Ciência é um processo contínuo na busca do que ainda precisa ser mais bem caracterizado ou testado para obter novas respostas, ou melhor, novos
conhecimentos. Mas, o que é Ciência? (Figura 1).

Ciência é o sistema de conhecimento que abrange


verdades gerais especialmente obtidas e testadas
através do Método Científico. Entretanto, essas
verdades podem ser derrubadas no futuro.
Origina formalmente no Séc. XVII com o Pensamento Empirista

Figura 1 – O conceito de ciência.

A ciência está tentando nos ajudar a saber o que está acontecendo em nosso mundo, como isso acontece, e por que isso acontece. Para compreendermos como
podemos buscar o conhecimento científico válido, devemos entender as formas do pensamento humano para enxergar e descrever as coisas do mundo, que são:

Ciência: busca generalizações e se fundamenta na observação, na experimentação, na lógica e na imaginação. O termo Ciência se origina
formalmente no Séc. XVII, no fim da Idade Moderna, com o Pensamento Empirista. Kant, no século XVIII, funde as duas abordagens: o pensamento
racionalista e o empirista para construção do conhecimento.

Filosofia: foca no estudo do pensamento tentando explicar como conhecemos e pensamos, podendo estar ligada à Ciência. Ou seja, a Filosofia
foca construir conhecimento a partir da razão.
LÓGICA APLICADA NA ESCRITA CIENTÍFICA 8

Religião: aceita que o ser humano conheça uma verdade, que seu conhecimento é verdadeiro hoje e sempre, como verdade absoluta.

Arte: não está preocupada com as evidências empíricas e sim com a estética. A Ciência não está preocupada com a estética, mas com o estilo.

Sabemos que a Cência, desde sua criação, está em constante busca por verdades.

Pensamentos Filosóficos
Compreender os principais pensamentos filosóficos facilita o entendimento de como se constrói o conhecimento científico. Conclamo a todos, assim, a
buscarem obras sobre Filosofia da Ciência. De maneira resumida podemos afirmar que Sócrates, 470~399 a.C., enfatizou o método crítico e desenvolveu
o Método Dialético. Platão, 430~350 a.C., seguiu seu mestre Sócrates com o pensamento racionalista (razão). Aristóteles, 384~322 a.C., foi o precursor do
Pensamento Empirista (mais evidente a partir séc. XVII). Platão e Aristóteles são dois marcos fundamentais na história da filosofia. Apesar de terem posições
diferentes sobre a origem das ideias, definiram o campo de nossa experiência cognitiva ao estabelecer que todo conhecimento tem uma parte sensível e
outra intelectiva. Outros pensadores, como Tomas de Aquino; Francis Bacon, considerado o pai da Ciência Moderna; Kepler; Popper e Kuhn deixaram ricos
conhecimentos sobre Ciência e o Pensamento Científico.

Popper valoriza a evidência e considera Lógica Dedutivista para fazer Ciência, rechaça a indução como processo de construção do Conhecimento. Kuhn,
por sua vez, mostra que nossas crenças gerais, os paradigmas, determinam ou afetam aceitação de teorias.Volpato (2019), em sua obra Ciência: da filosofia à
publicação, apresenta breve compilação de alguns dos principais pensadores, desde os pré-socráticos até os contemporâneos filósofos do sec. XX. Leitura
estimulante e fundamental que que indico.

Devemos considerar e entender que a Ciência existe em um único nível, o internacional, e não deve ser segmentada por áreas. Assim, há um pensamento
científico unindo todas as áreas. Se entendemos desta forma, é falácia a afirmação de pseudocientistas de que, na sua área de atuação, determinados
procedimentos, conceitos ou ações são diferentes. A Ciência tem por objetivo produzir conhecimento para melhoria da qualidade de vida intelectual e
material e por finalidades novas descobertas e novos produtos que venham melhorar o bem-estar e garantir a sustentabilidade da vida. Para que seja
considerado Ciência, é necessário que o conhecimento produzido passe a pertencer ao conjunto de conhecimentos já existentes.
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2 Pensamento Científico e o Método Científico

Pensamento Científico
A aceitação das conclusões levou a duas formas de pensar na História: a primeira foi o verificacionismo que busca informação no sentido de comprovar que
aquilo é verdadeiro. No entanto, verificar não garante nada, mas tentar derrubar sim. Daí surgiu o falsificasionismo, que é o contrário da outra corrente. O que
não consigo derrubar, aceito até que alguém derrube. O importante é tentar derrubar como diz a Filosofia de Karl Popper (Sugestão de leitura: As Ideias de
Popper, de Bryan Magee).

Na Ciência o preceito é que para a produzir conhecimento, este deve ser sustentado por base empírica universal. O cientista usa um discurso lógico para
explicar o mundo, sabendo que o que está produzindo tem caráter provisório e baseado em evidências, que são as quatro características do pensamento
científico: Lógico; Explicativo; Provisório e Evidências. (Figura 2).

O cientista produz conhecimento usando do


pensamento científico. Neste contexto é necessário
o conhecimento das características do pensamento
científico, pois sabemos que as abordagens são
distintas no mundo científico.
Figura 2 – Pensamento científico

Evidências são as informações que nos chegam através dos órgãos sensoriais, sentido, e que consideramos real. A partir dessa realidade, podemos decidir
sobre hipóteses e ideias do mundo natural. Nossos dados são objetivos, mas o modo que se vê é diferente, assim, nossos dados não determinam as
conclusões. Nosso sistema sensorial pode alterar as evidências ou conectá-las com conhecimento anterior. O que fica da impressão empírica é resultado
desses fatores. Artigos de impacto na Ciência apresentam conclusões com base nos dados, mas extrapolam essa base e generalizam, dando o que chamamos
de salto empírico. Assim, para fazer Ciência Empírica usamos as evidências e a imaginação.
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A evidência não é tão simples. Há diversos exemplos sobre teorias que só tiveram constatação em tempos posteriores, demonstrando a força e a necessidade
das evidências para a construção do conhecimento científico. Como exemplo podemos citar a existência de ondas gravitacionais preconizadas por Einstein há
mais de 100 anos, mas que só foram comprovadas recentemente. (Sugestão de leitura: A Música do Universo, de Janna Levin).

Para ser evidência é preciso duas características fundamentais: ser interindividuais, ou seja, o que eu vejo agora e ao longo do tempo você também vê; e ser
perenes, devendo ser mantidas no tempo por arquivamento, reprodutibilidade ou por descrição da metodologia na Pesquisa Científica. A Pesquisa Científica é a
atividade que utiliza a metodologia e os pressupostos científicos na busca de respostas a indagações, tendo por princípio ou base o Método Científico.

Método Científico
Método Científico é o conjunto de procedimentos e de direções com padrões que devemos seguir para conseguirmos Conhecimento Científico válido (aceitação
das conclusões). Tem por princípio quatro características fundamentais: base empírica (baseado em evidências, contrapor ideia a fatos observáveis); amostragem
(considerar que o todo se comporta como a parte observada); controle de variáveis (identificar o agente interferente no nosso estudo) e teste de hipótese (as suposições
são testadas através de pesquisa).

O método Científico pode ser estudado considerando duas abordagens ou argumentos: pelo processo da dedução ou da indução. Estes argumentos,
estruturalmente, possuem no mínimo duas premissas, caracterizadas por afirmações de caráter geral ou não, que sustentam conclusões. Os argumentos que
veem do universal ao particular chamamos dedução, ou seja, é a aplicação de princípios gerais a casos específicos. No entanto, nem todas as deduções podem
ser expressas na lógica formal. Além disso, nem todas as premissas são verificáveis, o que caracteriza limitação do método dedutivo. A indução é o processo
de construir generalizações universais (princípios) a partir da observação de casos particulares, ou seja, a partir de experiências, uma generalização pode
assumida. Podemos exemplificar estas abordagens usando diversos silogismos clássicos, (Figura 3).

O tratamento biológico
Observação

I: O tratamento biológico de efluentes orgânicos é eficiente.

Conclusão
Dedução II: O esgoto doméstico é efluente orgânico.
para o esgoto doméstico
é eficiente.

I: O tratamento biológico do esgoto doméstico 1 foi eficiente. O tratamento biológico


Indução II: O tratamento biológico do esgoto doméstico 2 foi eficiente. para o esgoto doméstico
III: O tratamento biológico do esgoto doméstico n foi eficiente. é eficiente.

Figura 3. Silogismo clássico como exemplo de abordagens dedutiva ou indutiva


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O método científico é composto por diversos pontos fundamentais para a geração e verificação do conhecimento. Nos fornece conhecimento adequado, que
é o melhor conhecimento que temos hoje, não significando, no entanto, que é verdadeiro. Outro aspecto, o método científico é a melhor forma de obtermos
respostas a determinada indagação e, também, constrói o conhecimento científico. Esse conhecimento científico é construído por cientistas de vários países
e forma uma rede chamada Ciência. Antes de tudo, precisamos entender que Ciência não traz postura de arrogância, ou seja, “a humildade é o primeiro degrau
para a sabedoria”. Mente cientifica, será que temos? Pensamos como Cientista?

Pesquisa e Ciência
Fazer Ciência é fazer estudo de caso, gerando base empírica, para generalizar visando a construção de uma teoria geral e abrangente. A partir dessa
base empírica podemos obter conclusão que pode alterar um conhecimento vigente ou ser inserida na rede de conhecimento vigente. Como é pobre o
pensamento científico de muitos que se propõem a fazer Ciência! Pois, ainda inserem nos artigos, sem necessidade lógica, nome de lugar no título, no resumo
e escrevem conclusões no impessoal.

A pesquisa científica usa o método científico


e responde a perguntas compatíveis. Enquanto CIÊNCIA
o pesquisador usa o método científico para
responder perguntas locais ou pontuais, o
cientista extrai da base empírica os fundamentos, PESQUISA
as generalidades, os princípios e produz CIENTÍFICA
conhecimento científico. A diferença básica, entre
Ciência e Pesquisa, está associada ao alcance
empírico das conclusões, (Figura 4).
PROBLEMA SOLUÇÃO
LOCAL LOCAL

Figura 4. Representação do alcance empírico:


ALCANCE EMPÍRICO
Pesquisa ou Ciência? (Fonte: IGVEC).
LÓGICA APLICADA NA ESCRITA CIENTÍFICA 12

Na pesquisa o pesquisador deseja solucionar determinado problema local, cujo alcance fica limitado à situação descrita no local da pesquisa. O cientista, por
sua vez, apesar de poder utilizar de estudos locais para sua base empírica, o alcance de suas conclusões é abrangente e não são determinadas apenas pelos
dados obtidos, mas sobretudo pelo raciocínio, lógica, verificação e imaginação. Caso a solução local possa ser inserida num contexto mais geral, possibilitando
salto empírico, válido de forma universal, podemos afirmar que está sendo feito Ciência e não Pesquisa. O conhecimento gerado nesta nova situação passa a
fazer parte da chamada rede mundial de conhecimento.

Reflexão sobre Conhecimento e Pensamento Científico


Abordamos a escrita científica dentro de um prisma que explica que a quebra de paradigmas, ou de preconceitos, são necessários para evoluirmos. Isso não
é questão de crença, é questão de lógica ou de lógica-matemática: que é uma nova abordagem chamada racional e lógica. Não conseguiremos publicar em
periódico internacional conclusões sem apresentar evidências válidas (ou seja, aceitas pela comunidade internacional). Textos sem evidências científicas são
ditos “opinativos”. Discursos sem base empírica não constroem conhecimentos científicos. Esses são o viés e a linguagem da Ciência. Enquanto a teoria não se
ajustar às evidências empíricas ela fica no limbo, sendo expurgada apenas pela base empírica. Neste contexto, devemos considerar duas correntes filosóficas
sobre o conhecimento que surgiram ainda na Idade Moderna: o Racionalismo e o Empirismo. Os racionalistas estudam o mundo a partir do pensamento,
afirmando que o conhecimento é atingido exclusivamente a partir do raciocínio. Os empiristas, ao contrário, afirmam que devemos buscar entendimento sobre
o mundo a partir das evidências.

O Racionalismo inaugurou, à época, um modo novo de conceber e compreender o conhecimento. Sustenta que há um tipo de conhecimento que não vem da
experiência, mas sim diretamente da razão, sendo René Descartes (1596-1650) seu principal expoente e pensador. O pensamento racional ao introduzir a
dúvida no processo do pensamento, introduz a crítica como parte do desenvolvimento do conhecimento científico. Outros pensadores do racionalismo são:
Pascal (1623-1662); Spinoza (1632-1677); Leibniz (1646-1716) e Friedrich Hegel (1770-1831).

O Empirismo, tendência filosófica desenvolvida principalmente no Reino Unido, é uma teoria que afirma que o conhecimento sobre o mundo vem apenas
da experiência sensorial. O empirismo causou uma revolução na ciência, pois graças à valorização das experiências e do conhecimento científico, o homem
passou a buscar resultados práticos no domínio da natureza. A partir do empirismo surgiu a Metodologia Científica. É parte fundamental do método
científico que todas as hipóteses e teorias devem ser testadas contra observações do mundo natural. Estão associados nesta corrente os filósofos: Aristóteles,
Alhazen, Avicena, Ibn Tufail, Guilherme de Ockham, Francis Bacon, Thomas Hobbes, Robert Boyle, John Locke, George Berkeley, Hermann von Helmholtz, David
Hume, Leopold von Ranke, John Stuart Mill e Nicolau Maquiavel.
LÓGICA APLICADA NA ESCRITA CIENTÍFICA 13

A partir dessas considerações, podemos fazer algumas reflexões sobre as contradições, preconceito e paradigmas que vivemos hoje. Percebo que há conflito de
entendimento no estilo da escrita científica devido:

i. A descrição do modelo empirista toma força com Popper e Kuhn a partir dos anos 60;

ii. Nas décadas de 1970 e de 1980 tivemos vários formadores de opinião que não tiveram acesso à discussão do mundo da Filosofia da Ciência
preconizadas por Popper e Kuhn. Enquanto era comum nos currículos escolares disciplinas de Filosofia, Latim e de formação intelectual, até a
década de 1960, isso não prevaleceu após os anos de 1970.

iii. Recebemos e passamos informação que não condiz com essa postura da Filosofia da Ciência para a Ciência.

iv. As revistas internacionais evoluíram mais rapidamente que as nacionais que eram geridas por editores com formação antiga. Ou seja, a massa
crítica humana, que temos a partir de 1980, reflete conceitos conflituosos e contraditórios que entendem, ainda, que os dados são determinísticos.
Ou seja, esquecem que a construção do conhecimento perpassa os dados disponíveis. Há que considerar as evidências cognitivas, advindas da
nossa imaginação ou percepção para a construção do conhecimento. Somente assim é possível darmos o chamado salto além da nossa base de
dados (evidências empíricas). Ou seja, como escreveu Volpato (2017) com clareza e propriedade: devemos fazer ciência além da nossa visibilidade.

Assim, a escrita científica contemporânea, neste prisma, explica que a quebra de paradigmas, e mesmo de preconceitos, são necessários para evoluirmos. Envolve,
sobretudo, mudança de postura para galgarmos um local no processo de construção do conhecimento científico. Lembrando que, ao recusarmos mudanças
paradigmáticas temos que buscar subterfúgios, contradizendo a lógica do Método e do Pensamento Científico.

Leituras Recomendadas
O fascinante mundo da Filosofia deve ser visto como pedra fundamental para entendimento do munda da Ciência. Ciência e Filosofia caminham juntas
no processo de construção do conhecimento, embora com característica distintas. Recomendo a leitura da bibliografia listada em REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS, com vários links indicados.
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2 Módulo 2
- Pesquisa científica

Pesquisa é a atividade base da Ciência para construção de conhecimento científico aceito.


A pesquisa científica é um procedimento sistemático e planejado realizado com o objetivo de
solucionar problemas com o uso do Método Científico. Na pesquisa científica não basta o desejo
do pesquisador na sua execução. O conhecimento do tema, recursos humanos e financeiros são
fundamentais para o sucesso da pesquisa.

Esse módulo tem por objetivo discorrer sobre as principais bases de dados científicos; descrever
sobre as etapas e definir o tema da pesquisa científica; construir hipóteses e suas predições;
conceituar variáveis e identificar as suas relações em um estudo científico; relacionar os tipos
lógicos de pesquisa; planejar a pesquisa de forma lógica; estruturar e construir objetivos
considerando a lógica da pesquisa; elaborar delineamento para a pesquisa científica e escolher o
teste estatístico adequado para a análise dos dados e, por fim, classificar os periódicos científicos e
proceder à escolha da revista para publicação das conclusões do trabalho científico realizado.
LÓGICA APLICADA NA ESCRITA CIENTÍFICA 15

1 Bases de periódicos científicos


As principais Bases Científicas serão aqui caracterizadas visando identificar as ferramentas de busca de informação dessas Bases para elaboração de pesquisa
bibliográfica. A preparação cuidadosa de uma pesquisa bibliográfica é fundamental para seu sucesso e mais rapidamente os resultados serão atingidos. As
próprias bases de dados oferecem ferramentas e recursos de busca eficientes e simples de serem usados, pois são interativos. Assim, não devemos usar o
Google para pesquisa bibliográfica, pois não é uma ferramenta interativa adequada e não permite filtros para a pesquisa.

Bases de Dados Científicos


Há diversas bases de dados disponíveis, cada uma com suas particularidades. Recomendamos que a busca seja iniciada pelo Portal de Periódicos da CAPES.
Conforme a base, a busca pode ser processada por “Assunto”, “Periódico”, “Livro”, “Base”, (Figura 5). A busca nos periódicos pode ser realizada por “Título”,
“Autor”, “Assunto”, ou por busca “Avançada por Assunto”. Apresentamos aqui um resumo sobre o Portal de Periódicos da CAPES e as principais bases de dados
disponíveis para pesquisa. Importante saber que o acesso institucional proporciona a obtenção de documentos, artigos ou livros, de forma gratuita.

Figura 5. Estrutura básica de busca


do Portal de Periódicos da CAPES

(Fonte: https://www-periodicos-
capes-gov-br.ez51.periodicos.
capes.gov.br/)
LÓGICA APLICADA NA ESCRITA CIENTÍFICA 16

I. Portal de Periódicos da Capes

O Portal é uma biblioteca virtual que reúne e disponibiliza a instituições de ensino e pesquisa no Brasil o melhor da produção científica internacional
financiado pelo governo brasileiro. Reúne bases de dados referenciais e textuais, patentes, livros, estatísticas e normas técnicas, entre outros documentos
nacionais e internacionais.Você pode acessar o Portal e fazer download de textos na íntegra e acesso a referências bibliográficas, de forma gratuita, pelo site
www.periodicos.capes.gov.br. O acesso ao Portal é restrito com login institucional, e pode ser feito da seguinte maneira: estando em uma Instituição de Ensino
Superior pública, que possua a rede Eduroam, não há necessidade de login ou registro. De casa o acesso se dá através do acesso remoto, usando o passaporte
institucional na rede pela Comunidade Acadêmica Federada – CAFe. Para utilizar a identificação por meio da CAFe, a instituição deve estar aderida a esse
serviço provido pela Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP). Lembrar que, para ter acesso gratuito ao material pesquisado, o acesso deve ser sempre via
Portal de Periódicos da Capes.

II. Elsevier

Base com mais de 5.000 editoras com o uso da solução Scopus. Possibilita o acesso aos principais livros eletrônicos, revistas e artigos publicados pela Elsevier
em Science Direct.

O Scopus é a maior base de dados referenciais da literatura revisada por pares do mundo. Contém, entre outros, periódicos científicos, livros e anais de
congressos. Além da Informação, ele apresenta as ferramentas necessárias para analisá-las. O Scopus, como uma das principais bases, fornece o índice de
impacto Scimago Journal Rank (SJR). Acesso restrito, com login através do Portal de Periódicos da Capes.

Science Direct é uma base de dados com publicações da Elsevier e de outras editoras científicas, cobrindo diversas áreas do conhecimento científico. Pode
ser feito download de textos na íntegra e acesso a referências bibliográficas. O acesso é restrito, com login pelo Portal de Periódicos da Capes.

III. Web of Science

Base de dados referencial com resumos e de acesso a referências bibliográficas. Pode ser considerada a principal base de dados científicos do mundo.
Disponibiliza o Fator de Impacto (FI) dos artigos científicos nela disponíveis. O FI é divulgado no Journal Citation Reports (JCR) e calculado atualmente por
Clarivate. O acesso à esta base de dados é restrito. Para ter gratuidade ao conteúdo da base devemos fazer login no Portal de Periódicos da Capes antes de
iniciar sua pesquisa bibliográfica. A sugestão é de iniciar sua busca sempre por esta base, pois nela encontramos os principais periódicos internacionais com
indicação do fator de impacto.
LÓGICA APLICADA NA ESCRITA CIENTÍFICA 17

IV. Oasis BR

Portal brasileiro em publicações científicas com acesso aberto. O Portal Oasis BR é um mecanismo de busca multidisciplinar que permite o acesso gratuito
à produção científica de autores vinculados a universidades e institutos de pesquisa brasileiros. Por meio do Oasis BR é possível fazer download de teses,
dissertações e artigos na íntegra de publicações realizadas no Brasil e, também, buscas em fontes de informação portuguesas. O acesso é gratuito e direto pelo
site: http://oasisbr.ibict.br/vufind/, sem necessidade de fazer login.

V. SciELO

SciELO (Scientific Electronic Library Online) é uma biblioteca eletrônica que disponibiliza artigos com texto completo. Acesso é gratuito pelo site http://www.
scielo.org/php/index.php. Há também a possibilidade de acesso gratuito à livros eletrônicos no site da SciELO Livros.

Softwares gerenciadores de referências

Gerencie sua pesquisa bibliográfica usando software gerenciador de referências para organizar seus dados bibliográficos e materiais relacionados à pesquisa.
Há diversos organizadores de referências como o Mendeley, o Zotero, o EndNote e mesmo o EndNote Web. Estes gerenciadores podem ser integrados
a editor de texto como o Word, possibilitando a organização das referências bibliográficas no final do texto, de forma automática.
LÓGICA APLICADA NA ESCRITA CIENTÍFICA 18

2 Estrutura da Pesquisa Científica


Nesta unidade iremos abordar aspectos teóricos e conceituais referentes à metodologia científica, introduzindo conceitos básicos de como organizar e
estruturar a pesquisa científica. Tem por objetivos: introduzir o conceito de pesquisa científica, abordando suas etapas desde a escolha do tema à construção
do conhecimento científico.

Estrutura da Pesquisa Científica


Pesquisa científica responde perguntas em busca de uma resposta provisória, que chamamos conclusão, obtida usando o Método Científico. A pesquisa se desenvolve
por processos constituído de diversas fases ou etapas estruturais. Tais processos iniciam com a formulação do problema culminando com a apresentação e
discussão dos resultados com a consequente publicação das conclusões em periódicos científicos (Figura 6). A qualidade da pesquisa científica depende do
projeto, que é o planejamento de toda pesquisa científica. No projeto, a lógica é garantir que os objetivos sejam atingidos. O grande propósito da pesquisa é
que minha conclusão passe a compor a rede de conhecimento, auxiliando na construção da Ciência.

1. Escolha 2. Estado 3. Formulação


do tema da Arte do problema
Projeto

4. Construção
6. Metodologia 5. Justificativa
de objetivos

Ciência
7. Coleta 10. Publicação
8. Discussão 9. Conclusão
de dados e divulgação

Figura 6. Etapas da pesquisa científica: da escolha do tema à construção de Ciência.


LÓGICA APLICADA NA ESCRITA CIENTÍFICA 19

Nossas conclusões, para compor a rede de conhecimento, devem ser gerais e apresentar novidades fortes. Dessa forma é fundamental a escolha do tema.
Devemos formular diversas questões relacionadas a possíveis perguntas não respondidas ainda, detectadas dentro da temática que se pretende estudar. Para
isto devemos buscar na literatura qual o estado da arte do tema proposto. A pergunta fundamental é: o que poderemos explorar para responder o que ainda
não foi objeto de pesquisa? A partir desta definição, o passo seguinte é a construção do projeto de pesquisa para ser executado. O processo continua, com
a coleta dos dados, nossa base empírica. Após criteriosa análise, com lógica e conexões com a bibliografia consultada, podemos construir nossas conclusões
que deverão ser publicadas, encerrando o que chamamos de primeiro ciclo do processo de construção do conhecimento. O segundo ciclo é o da crítica
e aceitação pelos pares na rede internacional do conhecimento chamada Ciência. Ou seja, o objetivo é compor essa rede, ou mudar uma situação vigente.
Devemos entender, assim, que a publicação é um meio, e não o fim último da atividade de uma pesquisa científica.

A Ciência busca conhecimento de ordem geral, ou seja, visa entender os fenômenos mais gerais que imaginei. Posso sair das ideias em direção às evidências,
que reafirmo e aceito como conclusão. De acordo com Volpato (2019), as evidências, assim, vão delimitar o que podemos construir e que não devemos pensar
em Pesquisa e sim em Ciência para atingirmos a rede do conhecimento.
LÓGICA APLICADA NA ESCRITA CIENTÍFICA 20

3 Delimitando o tema para a Pesquisa Científica


Toda pesquisa começa com uma pergunta relevante, que direciona a elaboração do objetivo geral e leva aos objetivos específicos. O grande desafio, neste
contexto, é identificar qual a pergunta sobre o tema que ainda não teve resposta adequada. Ao perguntar devemos considerar: a experiência com o tema;
buscar trabalhos e descobrir possíveis lacunas. Ou seja, buscar o que os cientistas estão registrando na literatura sobre determinado tema e quais são as
questões que restam. Tais questões irão auxiliar na delimitação do tema da nossa pesquisa.

Pergunta científica é uma indagação simples, objetiva e respondível. Ao perguntar geralmente pensamos em: o que é, porque e como. O sentido das perguntas
pode estar relacionado com a causa ou com o mecanismo envolvido. Porque pode ser pensado também enquanto finalidade, (Figura 7).

...enquanto causa

Pensar no
Como
Por que (ou como) o ônibus tombou na curva?
Pensar no
Por que

...enquanto mecanismo
Indução
Por que (ou como) as cenas de suspense provocaram pânico nas pessoas?

...enquanto finalidade ...E assim escolhemos


e delimitamos nosso
Por que devo comprar um veículo? tema de pesquisa...

Figura 7 – Sequência auxiliar para elaboração de perguntas envolvendo o “por que” e o “como”. (Adaptada de texto de Volpato, 2019).

A sequência apresentada na figura anterior nos auxilia na elaboração de perguntas. No entanto, tais perguntas requerem conhecimento do cientista e postura
criativa. A partir desse conhecimento é possível identificar quais as lacunas existem para perguntas inéditas e que permitem a busca de soluções. Ou seja,
delimitar o tema, a partir de posturas científicas e de perguntas robustas, aumenta a chance de fazer Ciência e não apenas Pesquisa.
LÓGICA APLICADA NA ESCRITA CIENTÍFICA 21

4 Hipótese e Predição da Hipótese

Hipótese
Como vimos, toda pesquisa começa com uma pergunta. Sabemos que para cada pergunta temos uma resposta ou afirmação possível. A resposta para tal
pergunta, plausível e possível de ser testada, denominamos de hipótese. Ou seja, é uma afirmativa sugerida para responder à uma pergunta e que não foi
testada ainda. Hipótese se refere à relação entre variáveis e toda hipótese, para ser testada, tem que haver um nível de comparação. A hipótese científica é uma
explicação provisória para um fenômeno e que pode ser falseável. Essa resposta provisória corresponde a nossa hipótese.

O teste de uma hipótese pode nos induzir a negar ou aceitar minha hipótese. Ela é teórica, pois nos diz se ficamos ou não com a ideia. Temos, contudo, de
entender que o aceite é sempre provisório, pois é o status da Ciência. Se a hipótese é derrubada, é mais forte que sua sustentação.

Embora toda pesquisa seja delineada por uma pergunta, há casos de pesquisa que não necessitamos de Hipótese. Por exemplo: O que os alunos da sua faculdade
pensam sobre o aquecimento global? Podemos formular a seguinte hipótese para esta pergunta: Pensam que se deve à ação do homem. Ao executar nossa pesquisa,
por meio de questionários específicos, constatamos a seguinte resposta predominante: Pensam que é fenômeno natural. A decisão que devo tomar em relação à
hipótese é que não foi corroborada, mas tenho a resposta. Como tenho a resposta, não cabe outra hipótese.

Predição da Hipótese
Ao elaborar uma hipótese tenho que pensar na sua operacionalidade. Ou Predição ou previsão: antecipa o que pode acontecer a partir
seja, a hipótese por ser teórica deve ser detalhada para que possa ser testada de conhecimentos científicos ou revelação. Corresponde à
diretamente. Este é um raciocínio conhecido como Modus Tollens. A esse operacionalidade como consequência lógica da hipótese
detalhamento, ou operacionalidade, como consequência lógica da hipótese,
denominamos previsão ou predição da hipótese. O que testamos é a predição Então a diferença entre hipótese e predição é:
e não a hipótese diretamente. Toda hipótese pode ter uma ou mais predições. Hipótese: estabelece relação entre as variáveis teóricas
A hipótese estabelece relações entre as variáveis teóricas para representar para representar certo fenômeno.
um fenômeno. Para representação prática da hipótese podemos utilizar, então, Predição: é a representação prática da hipótese
das variáveis operacionais correspondentes a essas variáveis teóricas. Assim, a utilizando variáveis operacionais
predição é a representação prática da hipótese utilizando variáveis operacionais.
Figura 8 – Hipótese e predição da hipótese.
Como, então, distinguir a diferença entre hipótese e predição? (Figura 8).
LÓGICA APLICADA NA ESCRITA CIENTÍFICA 22

A construção dos objetivos de nossa pesquisa deve ser feita a partir da hipótese e de suas predições. Ou seja, a definição dos objetivos da pesquisa fica
evidenciada a partir da hipótese e de suas respectivas predições. Assim, nosso objetivo geral está relacionado com nossa hipótese, por ser teórica, e os
objetivos específicos podem ser construídos a partir das predições da hipótese.

5 Variáveis

Conceito de variáveis
Variável é tudo que podemos abordar usando o método científico.Variável não é só o que vemos ou que pegamos, pode ser física ou conceitual, concreta ou
conceitual. Assim, a ciência investiga os componentes do mundo e para estudá-los temos que agrupar seus elementos. Ou seja, estudamos os componentes
para entender as variáveis. O cientista investiga elementos básicos que podem ser agrupados em algo que eles têm em comum. A isso, o que têm em comum,
chamamos de variável (Figuras 9).

Variáveis
Componentes das variáveis

Figura 9 - Componentes do mundo agrupados em elementos comuns: animais, vegetais, pessoas, elementos da natureza e outros.

A questão é: como identificar variáveis envolvidas no estudo? Podemos tomar como exemplos: i) conjunto de pessoas: a altura é uma variável que está presente
nas pessoas, embora varie entre elas. Cada pessoa é um representante do conjunto de componentes que forma a variável altura; ii) Conhecimento: observe que
conhecimento é uma variável conceitual, pois cada indivíduo possui conhecimento diferente; iii) Gênero: os componentes são os indivíduos alocados na variável
gênero como Masculino ou Feminino.
LÓGICA APLICADA NA ESCRITA CIENTÍFICA 23

Tipos de variáveis
As variáveis podem ser classificadas em Teóricas e Operacionais (Figura
10) e, também, com relação a interferência que podem sofrer ou exercer,
Teóricas Operacionais
em Dependentes e Independentes. Com esses tipos de variáveis podemos (ou conceituais) (resultado)
organizar toda nossa pesquisa. Devemos descobrir qual é a lógica do
nosso estudo, e pode haver mais de uma. A organização do pensamento é
fundamental, senão não caminhamos. Essa é a lógica! Não registramos
diretamente ? São indicadoras
das teóricas

Introdução/Objetivo Métodos
Discussão/Conclusão Resultados
Figura 10 - Variáveis Teóricas e Operacionais: onde são empregadas?

Variáveis Teóricas e Operacionais


As variáveis teóricas, ou conceituais, nós não podemos registrar diretamente, Teóricas Operacionais
somente indiretamente. Nós inferimos as variáveis teóricas a partir das
variáveis operacionais. Por outro lado, as variáveis operacionais são as que
medimos, registramos diretamente ou que quantificamos. Conseguimos
chegar nos seus elementos de forma direta. Assim, que devo registrar para
• Aprendizagem • Nota em uma prova
indicar ou operacionalizar as variáveis teóricas Aprendizagem, Poluição, Produção, • Poluição • [CO2]
Classe Social? (Figura 11). • Produção • Número de frutos
• Classe Social • Renda
Figura 11- Exemplos de operacionalização de Variáveis Teóricas em Operacionais.

Não importa a área de estudo, os conceitos são os mesmos. Isto é, são questões que ultrapassam áreas e especialidades. A Ciência geralmente está interessada
nas variáveis teóricas. Mas ela precisa das evidências, que são as variáveis operacionais. As evidências são o que chamamos de Base Empírica.
LÓGICA APLICADA NA ESCRITA CIENTÍFICA 24

Relações entre Variáveis


Dentre os estudos que se faz com as variáveis, temos o de relação entre as variáveis, denominada relações de interferência. A relação sem interferência nos
permite enxergar uma variável a partir de outra; enquanto as relações com interferência permitem mexer numa variável, controlando o processo. Por
exemplo: alterando o preço do produto o comportamento do consumidor é afetado. Neste contexto podemos considerar dois tipos de variáveis: as variáveis
dependentes e as variáveis independentes.

A variável dependente é a que sofre o efeito, enquanto a variável independente é a que causa o efeito. Exemplo: se X afeta Y dizemos, então, que X é a variável
independente e Y a variável dependente. Quando há relação de interferência, o efeito é o resultado, é o que vemos. O que registramos para caracterizar a
variável independente não é resultado. Quando se tem relação de interferência a variável dependente é o nosso resultado. A variável não é sempre dependente
ou independente, ou seja, não é algo permanente, dependendo do contexto pode ocorrer uma relação circular entre as variáveis, como a relação entre
consumo e preço de produto. Uma relação não circular de interferência entre variáveis pode ser visualizada na Figura 12.

Hf C
Modulação
DE
DPs Rm
Figura 12 (Fonte: Minicurso IGVEC, 2018) – Relação não circular de interferência e o efeito
de Modulação entre variáveis (DE = Doenças Emocionais; Hf = Hábito de fumar; C = Câncer;
DPs = Doenças Psicossomáticas e Rm = Risco de morte).

A leitura dessa relação não circular pode ser feita da seguinte maneira: Doença Emocional (DE) pode levar ao Hábito de fumar (Hf) ou a Doenças
Psicossomáticas (DPs). O Hf e a DPs são efeitos desse processo que ao final leva a Risco de morte (Rm). Temos aqui uma relação de interferência. Quando a
DPs age na relação entre Câncer e Rm, estamos falando no importante conceito que é o de Modulação. Ou seja, quando a variável afeta uma relação entre
variáveis podemos dizer que neste caso há uma Modulação.
LÓGICA APLICADA NA ESCRITA CIENTÍFICA 25

Redução e Operacionalização de variáveis


A redução de variáveis consiste na transformação de variáveis operacionais
em teórica. Como ver o conjunto? As vezes há várias variáveis e não
conseguimos ver o conjunto. Isto caracteriza angústia da Redação Científica!
(Figura 13).
?

Figura 13 – Considerando um painel


hipotético de variáveis, como posso
enxergar o todo ou o conjunto? A angústia!

Para facilitar o entendimento devemos, primeiramente,


Hierarquia entre essas variáveis
agrupar e separar as variáveis para melhor visualização.
Considere o conjunto de variáveis operacionais Operacionais Teóricas Teóricas
hipotéticas denominadas por: Va, Vb ,Vc, Vd, Ve, Vf. (nível 1) (nível 2)
Va
Assim, reduzindo essas variáveis operacionais nas suas
respectivas variáveis teóricas (VX, VY), conseguimos Vb
visualizar melhor o conjunto. Dessa forma, estamos VX
Vc
fazendo uma hierarquização das variáveis por níveis

Tema?

(Figura 14). Vd VZ

Ve VY
Vf
Figura 14 - Redução de variáveis VX e VY me indicam VZ
com hierarquização por níveis.
LÓGICA APLICADA NA ESCRITA CIENTÍFICA 26

Ou seja, registrando Va, Vb, Vc, Vd eu estou registrando indiretamente a variável VX e, registrando Ve e Vf estou registrando, indiretamente, VY. As Operacionais
sempre assumem apenas um nível, enquanto as Teóricas podem aparecer em mais de um nível hierárquico. Assim, se juntarmos VX e VY e estabelecer um outro
nível de variável teórica, veremos a variável VZ. Ou seja, VX e VY me indicam VZ.

Nesse formato, posso estabelecer VZ como meu tema, sem ser variável de estudo. Posso ter o VZ, por exemplo, como uma Proposta de Ensino ou Degradação
Ambiental, que podem serem vistos por meio de VX e VY.

A operacionalização de variáveis consiste em obter resposta para seguinte pergunta: o que devo registrar para estudar as variáveis teóricas e que seja
aceito pelos pares? Ou seja, os cientistas aceitam essa variável operacional proposta como indicadora da variável teórica? Veja o estudo da relação entre duas
variáveis teóricas: T1 e TA, que estão sendo operacionalizadas, respectivamente, por Oper 1, Oper 2, Oper 3 e por Oper a (Figura 15).

+ Relação +

Var
Var
T1
TA


Var Var Var
Oper 1 Oper 3 OperA
Var
Oper 2

Figura 15 - Operacionalização de variáveis teóricas: T1 e TA.

O processo de operacionalização de variáveis nos permite estudar as variáveis teóricas a partir das variáveis operacionais. No entanto, nem toda formulação de
operacionalização de variável explica toda pesquisa. A partir da operacionalização podemos construir os objetivos da nossa pesquisa.
LÓGICA APLICADA NA ESCRITA CIENTÍFICA 27

6 Tipos Lógicos de Pesquisa Científica

Há várias referências a tipos de pesquisa na literatura. São divisões feitas sem nenhum sentido ou critério científico. As principais denominações quanto aos
tipos de pesquisa na literatura são: serendipidade; pesquisa quantitativa e qualitativa; pesquisa exploratória e explicativa; pesquisa histórica e documental; pesquisa
básica e aplicada; pesquisa bibliográfica, e quanto ao desenvolvimento no tempo são nominadas como pesquisa transversal e longitudinal. São várias denominações
ou divisões que, no entanto, não deveriam fazer parte do mundo científico. São difíceis até para serem definidas, pois não obedecem a nenhuma lógica
conceitual. Coloca-se força em diferenças de procedimentos, que não significa diferença de Ciência. São divisões, portanto, que só reforçam diferenças e
preconceitos sem fundamento científico.

Tipos de pesquisa na literatura


Serendipidade corresponde à descoberta de algo por acaso ou ao acaso. É importante para a descoberta científica, mas extrapola o padrão de fazer pesquisa.
O caso clássico de Serendipidade é o de Alexander Fleming que, em 1928, descreve o ocorrido para descoberta da penicilina.

Pesquisa quantitativa e qualitativa: estão relacionadas quanto à forma de abordagem do tema. A pesquisa qualitativa é definida como qualquer forma de
coleta de informações que visa descrever, e não prever, como no caso da pesquisa quantitativa. Dados qualitativos coletam informações que não buscam
apenas medir uma variável, mas descrevê-la, usando impressões, opiniões e pontos de vista. Dados quantitativos visam coletar dados numéricos estruturados e
estatísticos, formando a base para tirar conclusões gerais da sua pesquisa.

Pesquisa exploratória e explicativa: se temos pouca informação do problema, não tem como nem formularmos uma hipótese. Seria como buscar algo em
infinitas possibilidades possíveis. Podemos até produzir conhecimento aqui, mas não é estruturado. Divisão sem utilidade prática, pois se é exploratória, não é
explicativa também? Isto se aplica na pesquisa de Caracterização, não precisa destas divisões, não tem sentido lógico.

Pesquisa histórica e documental: não são definições necessárias, pois podem ser estudas como hipótese ou se caracterizar algo da História. No caso da
documental o que tem que saber é se aquele registro é válido e posso utilizá-lo para sustentar minhas conclusões.

Pesquisa básica e aplicada: a pesquisa básica tem por objetivo gerar conhecimentos para o avanço da Ciência sem, contudo, aplicação imediata prática
prevista. A pesquisa aplicada visa, por outro lado, a aplicação prática de conhecimentos gerados dirigidos à solução de problemas específicos de aplicação
imediata. Dessa forma, a pesquisa aplicada difere da pesquisa básica, que tem foco em conclusões de interesses universais, envolve verdades provisórias, mas de
interesses pontuais.
LÓGICA APLICADA NA ESCRITA CIENTÍFICA 28

Pesquisa bibliográfica: Todo trabalho científico deve ser fundamentado, inicialmente, por uma busca bibliográfica, pois permitirá ao cientista conhecer o que
já se estudou sobre o assunto. Normalmente essa busca é realizada em referências teóricas publicadas, como livros, periódicos científicos e mídia eletrônica.
Ao realizarmos uma pesquisa, visando a publicação de nossas conclusões, devemos buscar a base empírica que a sustente. Tal base empírica pode ser obtida
de forma experimental ou na literatura existente sobre o tema a respeito do qual se procura respostas. Pesquisa científica que se baseia unicamente em
dados da literatura são referidas como pesquisa bibliográfica. Os artigos publicados, tendo por base a pesquisa bibliográfica, são normalmente denominados de
artigos de revisão, chamados Review. A pesquisa bibliográfica, ou revisão bibliográfica para a construção de um artigo de revisão, não deve ser feita no modelo
revisão de narrativa tradicional de busca bibliográfica, mas realizando uma Revisão Sistemática do tema, utilizando ou não o recurso estatístico de meta-análise.
A construção de artigo tipo Review envolve forte conhecimento do tema, maturidade para trabalho com saltos conceituais a partir de evidências empíricas
obtidas na literatura.

Pesquisa transversal e longitudinal: talvez o termo mais apropriado fosse estudos transversais e longitudinais. Nos estudos transversais devo fazer medidas
algumas vezes em grupos diferentes. Ou seja, faço o registro na variável no mesmo momento, mas em situações diferentes. Em determinado tratamento
procedo o registro de alguns indivíduos e em outro tratamento outro grupo de indivíduos. Nos estudos longitudinais, a diferença é que disponho das mesmas
amostras com registro ao longo do tempo. Isto é, com intervenção ou não ao longo do tempo. Como os mesmos indivíduos são medidos mais de uma vez,
temos uma dependência dos dados. Dessa forma, para evitar influência na análise estatística, devemos saber, a priori, se as amostras são dependentes ou
independentes. A análise dos dados de desempenho de uma empresa durante certo período é um bom exemplo de dependência entre as amostras. Devemos
nos preocupar com a lógica do procedimento e se as variáveis são controladas ou não.

Tipos Lógicos de Pesquisa

De forma a simplificar e usando a lógica,Volpato (2017) define o tipo de pesquisa conforme a base (critérios); a hipótese científica formulada e as variáveis
envolvidas no estudo. A base é a que buscamos na literatura ou experimentalmente. Ou seja, pode ser nossos dados observados ou obtidos na literatura. A
hipótese é a resposta não testada, mas que seja possível de ser testada. Em relação às variáveis podemos descrevê-las e caracterizá-las ou estudar relações entre
elas testando hipóteses.
LÓGICA APLICADA NA ESCRITA CIENTÍFICA 29

Não importa como abordamos as variáveis. Na abordagem, Pesquisa de:


qualitativa ou quantitativa, não estou preocupado em
caracterizá-las, mas saber como se relacionam. E o mais
importante nisso, é que há apenas dois tipos de relações
Caracterização
entre duas ou mais variáveis: associação com interferência
ou associação sem interferência. Dessa forma,Volpato (2017)
 Associação  Com
definiu três Tipos Lógicos de Pesquisa (Figura 16): Pesquisa Sem
de Caracterização; Pesquisa de Associação sem interferência e 
Pesquisa de Associação com interferência.
 Interferência

Figura 16 - Tipos Lógicos de Pesquisa

Pesquisa de Caracterização
Caracterizar é a generalização que vem depois da descrição. É a essência da descrição. E isso é também fazer Ciência. A caracterização está um nível mais
básico, é fundamental e é teórica. É uma extrapolação da descrição. Para a caracterização de determinada variável, preciso descrevê-la. Nem tudo que
descrevi entra na caracterização. Não importa, se apenas um caso ou vários casos. Na caracterização mantenho as características do que desejo descrever.
Devo perceber que tenho os resultados e a conclusão, que correspondem à minha caracterização. O caracterizar envolve a descrição, mas extraindo dela o
elemento que caracteriza. Podemos descrever qualquer coisa, em qualquer área, com a intenção de caracterizar.

Este tipo de pesquisa não precisa de hipótese, a essência é descrever para caracterizar a variável de estudo. Podemos caracterizar uma ou mais variáveis. A
partir da caracterização apresentamos a identidade da variável. Ou seja, dos resultados descrevemos a população, cuja caracterização será nossa conclusão
(Volpato, 2017). Caracterizar representa a intenção e não o ato de descrever. Ou seja, apresentamos informações que darão identidade à variável estudada.
Devemos, contudo, evitar o termo descrever, pois significa duas coisas: ato de descrever (parte metodológica) ou a intenção de descrever, que é o que
interessa para a Ciência. Por exemplo, o caricaturista faz características distintivas e não descritivas! Outro exemplo de pesquisa de caracterização seria o de
caracterizar a altura dos alunos de determinada instituição de ensino. Os objetivos deste tipo de pesquisa são escritos como: caracterizar, relatar e sinônimos.
LÓGICA APLICADA NA ESCRITA CIENTÍFICA 30

Pesquisa de Associação SEM interferência


Neste tipo de pesquisa necessitamos de hipótese, pois iremos testar as hipóteses de associação entre as variáveis. Quando não existe interferência entre
variáveis, mas estão associadas, é porque tem outro elemento (X) fazendo modulação entre essas as variáveis. Modular é agir sobre a variável. Por exemplo:
ambiente agradável modula o aprendizado, ou o hormônio modula o metabolismo. Os objetivos deste tipo de pesquisa são, entre outros: “Testar se existe
associação entre A e B”; “Avaliar se A está negativamente ou positivamente associado a B” e “Investigar se X é um bom indicador de Y”.

Como desafio, tente buscar, em artigos científicos de sua área de interesse, exemplos de objetivos para esse tipo de pesquisa. Tente formular situações de
pesquisa de associação sem interferência. Fica como sugestão de leitura o artigo de Matthews R. Storks deliver babies (p = 0.008). Teachinng Statistics, 22(2): 36-
8, 2000. Neste artigo o autor mostra a relação de associação entre variáveis sem a existências de interferência entre elas.

Pesquisa de Associação COM interferência


Para pesquisa de associação com interferência também precisamos de hipótese. Como exemplo de objetivo deste tipo de pesquisa temos: avaliar se A afeta (ou
interfere) B, testando aqui se A aumenta, diminui ou se abole B. Detectada a associação temos que saber se existe interferência entre as variáveis do estudo.
Existe uma relação de associação entre eles, no entanto apenas a associação não garante que existe interferência. Segundo Volpato (2017), há três situações
que nos levam a aceitar ou não a interferência: conteúdo das variáveis, (Figura 17); existência de mecanismo plausível e a variação com intervenção aleatória na
variável independente.

Trabalho de Matthews R. Storks, Aqui neste outro gráfico há uma


Número
Número
de de
nascimento
nascimento
de de
bebês
bebês 2000. As cegonhas entregam Produção
Produção
grama
grama
versus
versus
adubação
adubação associação também. Mas porque
nenéns (p=0,008, alta significância aqui aceito que está havendo
80 80
estatística). Conforme aumenta interferência? Pelo efeito das doses
Produção grama
Produção grama
70 70
Taxa de nascimento
Taxa de nascimento

o número de pares de cegonha 60 60 de nitrogênio aplicadas na grama.


50 50
numa região, aumenta o número 40 40 Pelo conteúdo das variáveis
30 30
de nascimentos. Onde tem mais 20 20 posso dizer se ocorre interferência.
10 10
cegonha, nasce mais criança.Veja,
0 0 10 10 20 20 30 30 40 40 50 50
mesmo tendo associação, eu nego
Pares
Pares
de de
cegonhas
cegonhas Níveis
Níveis
de de
nitrogênio
nitrogênio
a interferência. Qual o motivo?

Figura 17 - Situações de aceitar ou não a interferência: conteúdo das variáveis.


LÓGICA APLICADA NA ESCRITA CIENTÍFICA 31

Caso a associação for decorrente de efeito entre as variáveis, por exemplo se A afeta B, haverá aí um mecanismo explicativo. Entendemos por mecanismo a
uma cadeia de ventos que une por ação a variável independente (A) à dependente (B). Dessa forma, A interfere em B pela existência do mecanismo.

Na situação de variação com intervenção na variável independente, temos que promover variação na variável independente (A)
e registrar efeito na variável dependente (B). Ou seja, se temos associação com variação da causa e obtenção de registro de
efeito; podemos garantir que há interferência.
A B
Exemplificando a pesquisa associação com interferência podemos, dentro do tema fisioterapia, testar se há efeito do número Variação com intervenção na
de sessões de fisioterapia na recuperação da função de determinado órgão do corpo. Ou seja, nosso objetivo seria: avaliar se variável independente (A).
o número de sessões de fisioterapia afeta a recuperação da função de movimento de um membro do corpo humano. Este tipo de
objetivo parte da premissa que a primeira variável (número de sessões de fisioterapia) interfere na segunda (movimento de um membro). Portanto, temos aqui uma
pesquisa de associação com interferência.

Como cientista podemos fazer pouca coisa, mas caracterizamos coisas do mundo, que são as variáveis, e estudamos as relações entre elas. Ou seja, em
Ciência, tanto qualitativa quanto quantitativa, podemos caracterizar variáveis ou testar hipóteses. Assim, em Ciência, com os três tipos lógicos de pesquisa, se
constrói todo o conhecimento científico.
LÓGICA APLICADA NA ESCRITA CIENTÍFICA 32

7 O Planejamento da Pesquisa Científica

Projeto de Pesquisa
O projeto de pesquisa é o planejamento de toda pesquisa científica. O projeto possui introdução que fundamenta os objetivos e tem metodologia que
permite atingir os objetivos propostos. Deve ser pensado como um processo de inovação, ou seja, visando resolver problemas, vencer desafios e pensar
diferente. No projeto devemos responder: O que isso muda na ciência? Por que as pessoas se interessariam? Por que escolhemos determinado tema? São,
assim, os argumentos da introdução do projeto. Lembrar que a qualidade do trabalho científico produzido depende fundamentalmente do nosso projeto.

No Projeto devemos definir: o que fazer; para quem fazer; onde fazer; recursos necessários; o cronograma de execução e a equipe. O projeto deve ser
robusto e conter novidade. Pensamento criativo com planejamento requer: olhar por diferentes ângulos; identificar pré-conceitos, que são conceitos prévios
que nos impedem de ver outras possibilidades, e ser inovador. Assim, a construção do projeto requer estrutura sequencial básica e de forma lógica, indicando
onde queremos chegar, (Figura 18).

(Hipótese?)
Criação
Pergunta Objetivo
de ideias

Resumo Introdução
Complementos
Título Metodologia
Recursos - cronograma e equipe

Figura 18 - Estrutura sequencial lógica para construção do projeto.


LÓGICA APLICADA NA ESCRITA CIENTÍFICA 33

Uma sequência adequada nos permite seguir no processo natural de estruturação de uma proposta científica, ajudando na redação. Assim, como estratégia para a
escrita do projeto, devemos observar a sequência lógica de redação, conforme propôs Magnusson, (1996) para a redação de artigos científicos (Figura 19).

3º Material
1º Objetivo
e Método

Delineamento Sujeito

Análise de Procedimentos
dados específicos

2º Introdução 4º Resumo 6º Cronograma

5º Título 7º Complementos
(Recursos - Cronograma e equipe)

Figura 19 - Sequência lógica para a redação do projeto.

Diferente da sequência sugerida para a redação, o texto deve ser formal e seguir o fluxo do diálogo científico: Título, Resumo, Introdução, Material e Método,
Cronograma, Orçamento, Equipe e Referências Bibliográfica. Esta sequência pode ser alterada em função do objetivo da pesquisa e da sequência sugerida
pelos órgãos ou agência de fomento. Após a redação do seu projeto, reveja as referências visando o enriquecimento do texto apresentado.

Redigindo a Introdução
Na introdução devemos fazer, de forma lógica, criativa e concisa, a apresentação do projeto por meio de premissas que contenham a justificativa e a fundamentação
do objetivo. O argumento lógico corresponde às razões pelas quais faremos o projeto e o que estamos propondo. Aqui iremos, então, justificar e apresentar o nosso
objetivo. Devemos fazer abordagens utilizando de referencial teórico robusto, atual e existente em bases científicas de impacto e de amplo acesso.
LÓGICA APLICADA NA ESCRITA CIENTÍFICA 34

Material e Métodos
No Material e Métodos, ou Metodologia, devemos descrever o procedimento para que possa ser replicável. Não devemos incluir aqui o nome do laboratório,
da instituição e, tampouco, nome do pacote estatístico que iremos utilizar. Devemos caracterizar aqui as variáveis independentes do estudo. A lógica da
metodologia pode ser construída em quatro blocos (Figura 20), conforme proposta por Volpato (2017).

Sujeito da
Análise  pesquisa Detalhes
4 blocos  Final do artigo
dos Dados (Procedimentos específicos)
Delineamento
(Estratégia)

Figura 20 – Construindo a metodologia do projeto de pesquisa.

Sujeito da pesquisa: é aquele no qual analisamos as variáveis. Exemplos: Estudar aprendizagem em adolescentes; peso em bovinos. Nestes exemplos, adolescentes
e bovinos são os respectivos sujeitos do estudo. O grau de detalhamento sobre o sujeito do estudo irá depender do objetivo proposto.

Delineamento: informar a estratégia intelectual da pesquisa, sem incluir detalhes, para caracterizar uma variável, ou amostra, ou para testar uma hipótese.
Deve ter clareza para escolha adequada das análises quantitativas a serem realizadas. Na pesquisa de caracterização podemos incluir junto ao item do sujeito:
apresentar as variáveis a serem descritas; definir estratégia para obter a amostra sem viés e definir tamanho da amostra de estudo. Na Pesquisa com hipótese:
apresentar as variáveis envolvidas no estudo; descrever como será obtida as variações das variáveis e informar o tamanho das amostras.

Procedimentos Específicos: Descrever o detalhamento necessário para a montagem da pesquisa abordando a atividade prevista para cada variável e como
cada variável será quantificada ou qualificada. Devemos utilizar técnicas já validadas na ciência informando, se possível, o referencial teórico.

Análise dos Dados: incluir aqui a forma de como analisar os dados e o grau de liberdade a ser adotado. Não caracteriza como técnica de coleta de dados,
mas sim o teste estatístico a ser usado. Não importa o software estatístico que será utilizado, não deve ser colocado. Para dados qualitativos descrever a
metodologia científica validada.
LÓGICA APLICADA NA ESCRITA CIENTÍFICA 35

Cronograma
O cronograma é o instrumento de controle onde são definidas, no tempo, as atividades a serem executadas no projeto, conforme nosso planejamento. As
atividades traduzem as etapas metodológicas do trabalho e não devem compor os objetivos do trabalho, mas os passos que devem ser seguidos para atingir
os objetivos propostos. A revisão de literatura não caracteriza atividade do cronograma, pois é inerente a todo processo de construção do conhecimento.

8 Objetivos: como construir

Objetivo
O objetivo constitui o que desejamos alcançar por meio da pesquisa científica. No projeto deve ser, portanto, a primeira parte a ser escrita. Ao término da
execução do projeto devemos chegar ao que foi proposto em nosso objetivo, apresentando conclusões científicas válidas. Guia nossas ações, constituindo
no diferencial do nosso estudo. Assim, os objetivos são a essência do projeto, pois direciona a construção dos elementos ou premissas da introdução e da
metodologia do nosso estudo. Em artigos científicos o objetivo está inserido no texto do item Introdução, contudo, em projetos é comum que seja escrito
como item à parte.

Para entender a lógica da pesquisa precisamos ter clareza nos conceitos Pesquisa de caracterização:
de ciência, base empírica, variáveis e hipóteses. Neste contexto, o cientista
pode caracterizar variáveis e estudar relações ou associação entre Caracterizar + Variável + Sujeito ou objeto
variáveis de estudo. Assim, há apenas duas relações lógicas possíveis na
estruturação dos objetivos que são: pesquisa sem hipótese o objetivo Pesquisa com hipótese:
é caracterizar variáveis e, em pesquisa com hipótese o objetivo é testar
hipóteses, ou fazer as duas coisas (Figura 21). Se for para caracterizar
Relação entre variáveis

[ ]
uma variável, que se obtenha a sua caracterização. Ou, se for o caso
de testar uma hipótese, que o teste da hipótese seja realizado. Assim, Analisar, avaliar,
o que queremos ao final é caracterizar ou testar hipótese. A hipótese investigar, examinar, + Se + Hipótese
sendo corroborada ou falseada, é esse resultado que irá compor nossa experimentar  (Predições)
conclusão. Não faz sentido dizer que o projeto deu errado se a hipótese
não foi corroborada. Assim, todo projeto deve atingir seu objetivo. = Testar
Figura 21 - Lógica para construção de objetivos - Volpato, (2017).
LÓGICA APLICADA NA ESCRITA CIENTÍFICA 36

Exemplos de objetivos em função da lógica do estudo:

Pesquisa de Caracterização:
Considere o seguinte objetivo: Caracterizar a opinião de torcedores sobre
o juiz nas partidas de futebol.
Variável do estudo: opinião de torcedores
Sujeito da pesquisa: juiz

Pesquisa com Hipótese:

Considere a seguinte hipótese:

a capacidade de regeneração do lodo é influenciada por acidificação.

Adotando o formato proposto o objetivo será:

Avaliar SE a capacidade de regeneração do lodo é influenciada por acidificação.

Corrigindo objetivos inadequados ou desprovidos de lógica na construção. Como exemplo, considere o seguinte objetivo:

“Analisar a influência da dinâmica da cobertura vegetal na descarga de sedimentos na bacia do rio Mantena, MG, Brasil,
com o apoio de informações oriundas de sensoriamento remoto orbital”.

Você consegue visualizar algum equívoco na estrutura desse objetivo conforme apresentado? Veja se não seria melhor a seguinte construção:

“Avaliar se há influência da dinâmica da cobertura vegetal na descarga de sedimentos”.

Ou, melhor ainda:

“Avaliar se a dinâmica da cobertura vegetal afeta a descarga de sedimentos”.

Neste último formato, inserimos na frase primeiro a variável independente (dinâmica da cobertura vegetal), depois a dependente (descarga de sedimentos).
Observe que a construção dos objetivos não é uma questão de gosto pessoal ou vício de área, mas sim de lógica científica.
LÓGICA APLICADA NA ESCRITA CIENTÍFICA 37

Esquematização do objetivo
Antes de redigir os objetivos: esquematize, desenhe! Reduza ao mínimo razoável o número de variáveis do estudo, organizando as variáveis operacional e
teórica em níveis. Não confunda passos metodológicos com objetivo. Estabeleça uma simbologia representativa da lógica da pesquisa, (Figura 22), e expresse
nas variáveis o que deseja (Figura 23).

Caracterizar a variável Z
Z
Caracterizar a variável X primeiro e depois
Pesquisa de caracterização X Y testar o efeito de X sobre a variável Y, em
pesquisa de associação com interferência

Associação COM interferência Testar o efeito da variável Y sobre a variável Z


Y Z em pesquisa de associação sem interferência
Associação SEM interferência

Figura 22 - Simbologia representativa


X Y Qual seria o objetivo representado
por esta esquematização?

Z
Figura 23 - Simbologia expressa nas variáveis para construção de objetivos

Objetivos Gerais e Objetivos Específicos


É correto, mas não necessário, pensar em objetivos gerais e específicos. É necessário conhecer as variáveis envolvidas no estudo. A dúvida é: o que registrar
para estudar as variáveis teóricas? Devemos sempre observar a lógica da pesquisa: Objetivo Geral: construir com as variáveis teóricas; Objetivos Específicos:
construir a partir das variáveis operacionais.
LÓGICA APLICADA NA ESCRITA CIENTÍFICA 38

Pesquisa de caracterização

Considere o exemplo: desejo conhecer o


Perfil econômico
perfil econômico de determinada população. 
Assim, o que devo registrar para caracterizar a
variável teórica perfil econômico? (Figura 24). A OBJETIVO
GERAL Variável teórica operacionalizada por
operacionalização da minha variável teórica irá
permitir a construção dos objetivos específicos.   
OBJETIVOS Salários Bens Viagens
ESPECÍFICOS
Variáveis operacionais

Figura 24 - Construção dos objetivos geral e específicos a partir das variáveis.

Assim, procedendo à caracterização das variáveis operacionais estou, consequentemente, caracterizando minha variável teórica.

Pesquisa com hipótese

Como exemplo consideremos a seguinte Variáveis teóricas


hipótese: Em humanos estando alto o estresse vai OBJETIVO
estar baixa a memorização (Figura 25). GERAL
Estresse Memorização

Veja que, com a operacionalização das variáveis   


teóricas é possível a construção dos objetivos
Situação
específicos. A partir dos objetivos específicos OBJETIVOS Freq Car Freq Resp induzida de
estresse
Nota
testados eu tenho, então, a hipótese testada. ESPECÍFICOS
Variáveis operacionais
Isto caracteriza construção lógica de objetivos.
Figura 25 - Construção dos objetivos geral e específicos a partir das variáveis
LÓGICA APLICADA NA ESCRITA CIENTÍFICA 39

Palavras não apropriadas na estruturação de objetivos

Sabemos que palavras são recursos que usamos para exprimir nosso pensamento. Assim, devemos escolher as palavras a partir da estrutura lógica e científica.
Palavras equivocadas podem nos conduzir a pensamentos equivocados e a erros metodológicos. Devemos, portanto, cuidar com as palavras ao definir os
objetivos. Assim, não use nos objetivos as palavras: comparar, contribuir, coordenar, criticar, debater, discutir, empregar, aplicar, apreciar, manipular, praticar, refletir, reunir,
confirmar, demonstrar, provar, descrever (...), pois são de sentido vago e não apresentam ideia clara do que se pretende desenvolver. Podemos usar em pesquisa
com hipótese os termos: avaliar, investigar, averiguar (...) seguidos da partícula SE. Em pesquisa de caracterização podemos usar caracterizar ou sinônimo. Em
pesquisa de interferência use: afeta, reduz, inibe, interfere.

Devemos ter cuidado com os termos analisar e comparar, pois indicam passo metodológico e, portanto, não são adequados. Também, na estruturação dos
objetivos não devemos usar local do estudo; referências; data da pesquisa e atividades da metodologia. A inclusão do local no objetivo, com certa frequência,
pode ocorrer em estudos relacionados com Antropologia, Geografia, Geologia, História, Turismo. Devemos, ainda, evitar as máximas como: “O objetivo do
presente estudo (...)”; ou “O objetivo foi contribuir com o conhecimento (...)”, pois são expressões vagas e tornam o estilo do texto pobre.

9 Delineamentos experimentais
Delineamentos experimentais
Delineamento experimental é a estratégia intelectual para caracterizar variáveis ou para testar hipóteses. Assim, devemos detalhar qual é a nossa estratégia,
sem incluir detalhes, que utilizaremos para caracterizar a amostra de estudo ou como será nosso procedimento para testar hipótese. Aqui devemos ter
clareza para escolha adequada dos testes e das análises quantitativas a serem realizadas.

Volpato & Barreto (2016) apresentam modelos de delineamentos a partir da amostra, das variáveis e dos tipos de pesquisa que podem ser utilizados para
auxiliar na descrição precisa do delineamento de nossa pesquisa. Com os elementos apresentados por esses autores, associados ao raciocínio crítico, fica claro
a arte de elaborar delineamentos robustos para a pesquisa científica, sem se valer de caminhos mecânicos obscuros ou de regras obsoletas inúteis.
LÓGICA APLICADA NA ESCRITA CIENTÍFICA 40

Escolha do teste estatístico


Para a escolha do teste estatístico devemos observar o tipo
de distribuição dos dados que dispomos para análise.Veja Testes

Distribuição Não Normal

Distribuição normal ou
ou Heterocedasticidade
que, caso nossos dados sejam Homocedásticos devo usar a Paramétricos

Homocedasticidade
média na análise. Se forem Heterocedásticos o correto é 
usar a mediana. A escolha equivocada do teste estatístico
acarreta erros na construção da conclusão do nosso estudo. Transformação
Assim, somente a partir da distribuição dos dados podemos


definir com segurança o tipo de teste estatístico usar. Ou
seja, a escolha do teste é função da distribuição dos dados 
Testes

que dispomos (Figura 26).
Não-paramétricos
O tipo de análise estatística a ser realizado é função da
lógica da nossa pesquisa. Na pesquisa de caracterização,
que não requer hipótese, devemos proceder à uma Raiz quadrada Logaritmo Arco Seno
análise descritiva dos dados. Ao passo que, na pesquisa de
associação, que requer hipótese, devemos observar o tipo
de distribuição de nossos dados para, então, proceder à Figura 26 – Definindo o teste estatístico a usar em função da distribuição dos dados Fonte:
análise com teste de hipótese. Volpato & Barreto (2016).

Caso nossos dados tenham distribuição normal podemos


utilizar de testes paramétricos para comparação entre médias (teste de t de Student pareado ou teste t de não pareado). Dados com distribuição não normal,
cuja medida de tendência central é a mediana, devemos utilizar testes específicos para a análise, como os de Wilcoxon, Mann-Whitney, Friedman, Kruskal-Wallis. A
aplicação dos testes estatísticos envolve a necessidade de conhecer se os dados possuem dependência ou não entre si.

Podemos, ainda, realizar testes apropriados para comparação estatística entre frequências, como os testes do Chi-quadrado, de Fisher ou de Goodman, e de
correlação e de regressão entre uma ou mais variáveis. Na estatística de correlação, para distribuição paramétrica, podemos utilizar o teste de Pearson, Parcial
de Pearson ou Canônica que é um tipo de correlação multivariada. No caso de dados com distribuição não paramétrica, conforme o número de variáveis
associadas, os testes recomendados são os de Spearman, de Kendal ou Coeficiente de Contingência.
LÓGICA APLICADA NA ESCRITA CIENTÍFICA 41

O uso de regressão indica que estamos avaliando como as variáveis independentes agem sobre as variáveis dependentes. Por outro lado, na correlação
estamos avaliando se o comportamento de uma ou mais variáveis explicam o comportamento de outras variáveis. Comprovada a existência de correlação, é
válido a realização da análise de regressão para definir qual o melhor modelo que irá descrever o comportamento do conjunto de variáveis em estudo. No
procedimento de regressão podemos fazer regressão linear simples ou múltipla, caso nossos dados seguem distribuição normal.

10 Publicação Científica
A publicação científica consiste na divulgação de ideias com embasamento empírico. O cientista tem o compromisso de publicar suas descobertas científicas
para a sociedade. Para tanto deve escolher o melhor veículo de publicação, considerando a novidade de seu estudo. Há diversas possibilidades para a
publicação: revistas científicas; revistas de divulgação científica e outros meios de comunicação.

Classificação das Revistas


As revistas científicas, também conhecidas como periódicos, podem
INTERNACIONAIS
ser classificadas em três níveis: i) Internacional denominadas de
Revistas gerais: Impactam entre especialidades, maior
Revistas gerais ii) Internacional denominadas Revistas da Especialidade;
visibilidade para pesquisa (Nature, Science, PNAS...)
iii) Revistas Regionais, (IGVEC, 2020). As revistas Internacionais
Revistas da especialidade: Publicam artigos que
geralmente são de alto impacto e as regionais de baixo fator de
impactam dentro da especialidade
impacto ou sem fator de impacto, (Figura 27).
REVISTAS REGIONAIS
Toda revista internacional publica artigos de autores de vários países
e, também, seus artigos são citados por autores de vários países. Figura 27 - Classificação das revistas das revistas científicas.
A revista internacional de alto impacto é altamente impactante na
academia, seja por publicarem textos de diversas especialidades ou
por divulgarem assuntos de interesse a diversas áreas. O nível de novidade, e de fazer Ciência, cresce do nível de revista regional para internacional.

Devemos entender que artigo é um texto aceito e publicado em determinado periódico. Quando estamos redigindo texto, para publicação em revista
científica, devemos usar o termo manuscrito que é o texto científico como proposta do autor a ser enviado ao Editor visando publicação. Devemos, assim,
buscar publicar em periódicos internacionais de linguagem universalizada. Os principais requisitos, exigidos pelos editores de periódicos Internacional, são que:
tenham novidade nas conclusões, possuam metodologia robusta e com resultados evidentes.
LÓGICA APLICADA NA ESCRITA CIENTÍFICA 42

Onde Publicar?
A pergunta é: como escolher a revista para submeter nosso manuscrito? Inicie sempre em periódicos internacionais, em Revista Geral ou da Especialidade.
Observe o fator de impacto (FI) e citações recebidas pela revista, tempo na Web of Science ou Scopus, tendência do FI, entre outros indicadores. Busque,
sempre que possível, a melhor revista. Antes de submeter seu manuscrito, verifique se seu tema está de acordo com a revista pretendida. Observe que, das
suas citações, ao menos uma é potencial para publicar.

Há ferramentas para encontrar o melhor periódico internacional para publicação, (https://posgraduando.com/ferramentas-para-encontrar-o-melhor-periodico-


internacional-para-publicar/). Por exemplo, a ferramenta da JSTOR (https://www.jstor.org/analyze) reúne as principais bases de dados da área de humanas.
Também no site da Clarivite há outra ferramenta adequada para escolha do periódico (https://mjl.clarivate.com/home), que utiliza os dados indexados da Web
of Science. Para publicações em português ainda não tem ferramentas deste tipo. A CAPES oferece a ferramenta Onde Publicar, com a relação de periódicos por
área e a classificação Qualis. Estas ferramentas devem ser usadas com critério, a melhor opção é iniciar em revistas de alto impacto.
LÓGICA APLICADA NA ESCRITA CIENTÍFICA 43

3 Módulo 3
- Escrita científica

Independentemente do tipo de texto científico, alguns fundamentos devem ser


considerados para termos êxito na Redação Científica. Esse módulo tem por
objetivos discorrer sobre os principais tipos e fundamentos da escrita científica,
sobre as bases conceituais e sobre as estratégias e sequência da escrita científica.
Isto possibilitará a construção do texto de forma adequada e com estilo. E, ao
final do módulo, discorreremos sobre plágios e falácias na escrita científica.
LÓGICA APLICADA NA ESCRITA CIENTÍFICA 44

1 Redação Científica
Redação Científica é um tipo especial de redação que usamos para publicar nossas conclusões visando a construção do conhecimento científico. Há diferentes
tipos de escrita científica. Desde a construção de um trabalho de conclusão de curso de graduação ou mesmo de uma Tese de Doutorado, se espera o mesmo
rigor científico. Os principais tipos, ou tipologia, de redação científica são:

• Tese: visa defender ideia com base em investigação original (Doutorado).

• Dissertação: concluir sobre o tema ou exposição de um estudo (Mestrado).

• Monografia: trabalho de conclusão de curso, graduação ou especialização.

• Relatório técnico-científico: relato de questão técnica ou científica local.

• Artigo: texto visando jornais ou revistas de divulgação.

• Artigo Científico: texto publicado por revistas científicas.

• Estudo de caso: são artigos científicos que descrevem experiências reais

• Resumo expandido ou resumo estruturado: é uma miniatura do artigo.

Na redação dos diferentes tipos de escrita científica devemos manter o rigor científico. Independente da tipologia do texto científico, alguns fundamentos
devem ser considerados para termos êxito na Redação Científica, são eles:

• Objetividade: o tema deve ser retratado de maneira simples, evitando significados duplos e excesso de palavras difíceis de serem compreendidas.

• Clareza: fundamental que não haja comentários redundantes e irrelevantes.

• Precisão: evitar sempre termos inadequados, jargões e a prolixidade.

• Encadeamento – na construção do texto devemos buscar a articulação das ideias expressas para dar fluxo ao parágrafo. Os parágrafos, os tópicos, e
capítulos devem caracterizar uma sequência lógica de posicionamentos.

• Coerência – devemos expor as ideias, fatos e opiniões no texto de forma ordenada e coerente com o tema proposto.

Por fim, na redação científica, devemos utilizar corretamente o idioma. Evitar erros gramaticais e de ortografia é fundamental para a escrita inteligente.
Também, usar a norma culta e evitar coloquialismos favorecem a dinâmica da leitura e o estilo científico.
LÓGICA APLICADA NA ESCRITA CIENTÍFICA 45

2 Bases conceituais e estratégias


Bases conceituais
Para entendermos o estilo científico devemos conhecer o conceito de ciência, de base empírica e de variáveis, saber construir objetivos e distinguir os tipos
lógicos de pesquisas. Com o conceito errado de ciência iremos errar na hora de expressar dentro da ciência. Assim, devemos rever preconceitos e paradigmas
e entender como são obtidas as conclusões. A conclusão é interpretação clara e objetiva que o autor faz das evidências empíricas. No passado achava-se que
a base empírica era determinística, ou seja, que os dados determinavam as conclusões. Hoje isso não tem mais valia. Construir ciência envolve base empírica,
raciocínio e imaginação próprios da pessoa e não apenas os dados (base empírica). Como exemplo podemos citar o trabalho de Watson & Crick que, em
1953, propuseram, a partir de fotos de difração por raio X (única base empírica disponível), a estrutura da molécula do DNA. Assim, as conclusões não são
obtidas de forma determinista tendo por base os dados.

O que tem isso com o estilo científico e com a forma de redigir nossas conclusões? Pela lógica, ao escrevermos conclui-se estou afirmando que a pessoa é
dispensável no processo da escrita científica e da construção do conhecimento. Escrever na primeira pessoa é fato presente na ciência de nível. Em periódicos
internacionais, quanto maior seu impacto maior é a frequência da redação na primeira pessoa. Assim, devemos concluir sempre na primeira pessoa, singular ou
plural, conforme o número de autores, e não no impessoal.

Estratégias para a escrita científica


Planejar o texto a ser escrito, é o guia para Outline
uma boa apresentação. O Outline é a forma de
planejar a estratégia de escrita do nosso texto
1. Informação A
científico. Mostra a sequência de informações Planejar como escrever. Guia da apresentação.
para justificar nossos objetivos e para redigir 2. Informação B
nossas conclusões. Construa cada parágrafo Estratégia lógica para chegarmos à Conclusão.
a partir do Outline proposto, transformando
3. Informação C
cada informação em um parágrafo (Figura 28).

Conclusão

Figura 28 - Construindo o Outline para a escrita de parágrafos.


LÓGICA APLICADA NA ESCRITA CIENTÍFICA 46

A informação A do Outline, como primeira frase do


parágrafo, direciona as demais frases, que darão a base para tal Outline Parágrafos
informação, com detalhes. Dessa forma, é incorreto formular
parágrafos de frase única. O discurso fica cheio de máximas e 1. Informação A Parágrafo 1
o texto segmentado, pobre de estilo científico, (Figura 29).

As outras informações (B, C...) darão a base para a construção


2. Informação B Parágrafo 2
de todos os demais parágrafos. Assim fica garantido um texto
com fluxo e com estilo. Ou seja, sem o Outline a redação do
3. Informação C Parágrafo 3
texto fica prejudicada.
Cada informação comporá a primeira frase do parágrafo. As
demais frases desse parágrafo são as bases para essa informação.
Figura 29 – Construção de parágrafos a partir do Outline.

3 Estrutura lógica do texto científico ABSTRACT


A estrutura de um texto científico normalmente é composta por Título, Resumo, Introdução,
Metodologia, Resultados e Discussão (Conclusão). O texto científico pode ser dividido em INTRODUCTION
dois contextos: Contexto da descoberta e o Contexto da justificação. No Contexto da
descoberta, que é representado pela Introdução, o objetivo é que direciona a escrita do texto.
METHODOLOGY
No Contexto da justificação, representado pela Metodologia, Resultados e Discussão, o que
CENTRAL (what you did/used)
direciona a escrita são as conclusões. A construção lógica do texto foi proposta por Glasman-
Deal (2009). Afirma que a introdução parte de contextualizações gerais e conclui com o
REPORT { RESULTS
SECTION
objetivo da proposta científica, e a discussão parte do específico e amplia, apresentando (what you found/saw)

conclusões gerais. Isto pode ser inferido pelo formato das figuras geométricas, (Figura 30).
DISCUSSION/
A estrutura lógica do texto está relacionada com o tipo de pesquisa. O texto não deve conter CONCLUSION
informações desnecessárias. A arte da escrita científica é redigir com o mínimo de palavras
Figura 30 – A forma lógica de apresentação de um artigo de pesquisa
possíveis e manter o fluxo. ou tese, segundo Glasman-Deal (2009) (Hilary, 2009. Science research
writing for non-native speakers of English: Imperial College London, UK).
LÓGICA APLICADA NA ESCRITA CIENTÍFICA 47

4 Base de dados
A base de dados são os dados obtidos após o desenvolvimento Conclusão geral
da minha pesquisa ou de revisão sistemática da literatura. A
partir da análise desses dados posso construir as conclusões
da pesquisa. A pergunta é: com os resultados obtidos quantos Conclusão 3 Conclusão 4
artigos posso construir? Analise a coerência da discussão para ?
decidir sobre o número de artigos, se apenas um ou mais. Isso
é feito a partir da pirâmide lógica do conhecimento construída Conclusão 1 Conclusão 2
com a base de dados (Volpato, 2017). Lembrando sempre que
cada artigo deve possuir, no mínimo, uma conclusão que abrange
todas as demais e inclui todos os resultados (Figura 31).

No exemplo apresentado na figura 31, caso as conclusões 3


e 4 não tiverem relações e não permitem a junção em uma Base empírica (evidências)
conclusão geral, teríamos então, nesta situação dois manuscritos
com nossa base de dados. No entanto, caso seja possível a
junção das conclusões 3 e 4, teríamos, então, apenas um artigo
e não dois artigos. Figura 31 – Pirâmide lógica do conhecimento (Fonte: adaptada de Volpato, 2017).

5 Sequência lógica e redação do texto

A análise dos dados deve preceder à redação do texto do manuscrito. Após a análise devemos proceder à elaboração das principais conclusões e organizar
as informações para a redação. Ao iniciar a redação do texto, a recomendação é que o manuscrito, visando a publicação de artigo, deva ser redigido em um
ou, no máximo, dois dias.Você deverá, em até cinco dias, fazer os ajustes necessários no texto e inserir as referências bibliográficas que darão sustentabilidade
ao texto, isso antes de submeter à revista escolhida. No caso de tese, você teria uma semana para a escrita e, para os ajustes necessários do texto, de três a
quatro semanas.
LÓGICA APLICADA NA ESCRITA CIENTÍFICA 48

A pergunta recorrente é: por onde devo começar a redação do meu texto? Construa o esboço do texto considerando a sequência lógica (Magnusson, WE.
How to write backwards. Bull Ecol. Soc. Am. 77(2):88. 1996), (Figura 32).

}
Conclusão (1)

Resultados (2) Discussão (4)

Métodos (3)

Introdução (5) Título (7)

• Agradecimentos (opcional)
Resumo (6) • Referências bibliográficas

Figura 32. Sequência para redação, adaptada de Magnusson (1996).

A redação do texto envolve o planejamento de cada parágrafo com a construção de Outline, atenção com o estilo (clareza e fluxo) e não construção de frases
longas. Após incluir a literatura que fundamenta o texto e de checar todo seu conteúdo, coloque nas normas da revista e submeta seu manuscrito.
LÓGICA APLICADA NA ESCRITA CIENTÍFICA 49

6 Plágios e falácias na Escrita Científica


Plágio
Cometer plágio ou plagiar algo é assumir a autoria de alguma coisa que não nos pertence. O plágio pode ocorrer em duas situações: de forma consciente ou
mesmo por erro da pessoa que o comete. Pode ser plagiado ideias, escritos ou obras. No texto o plágio normalmente é de ideias ou de formato. No plágio de
ideias verificamos o uso palavras próprias, mas a ideia que está na citação é de outro autor e que não se faz referência aos autores. Portanto, para evitar plágio
devemos fazer referências aos autores dos textos consultados.

Falácias
Falácias são erros argumentativos ou expressões de equívocos. O grande desafio é conseguir visualizar argumentações equivocadas no texto. Fazer Ciência
é construir discurso lógico acerca das evidências, mas sem cometer falácias (IGVEC). A preocupação pelo entendimento do conteúdo pode nos levar a não
perceber uma falácia. Falácias têm definições razoavelmente simples, mas identificá-las entremeadas no conteúdo do texto é o grande desafio dos revisores.
LÓGICA APLICADA NA ESCRITA CIENTÍFICA 50

4 Módulo 4
- Estruturando o texto científico

No Módulo anterior vimos que a estrutura de um texto científico normalmente é composta por: título,
resumo, introdução, metodologia, resultados e discussão e conclusão. Apreendemos também que a lógica de
construção do texto científico é a mesma. Ou seja, do título à conclusão devemos observar o tipo de pesquisa
que estamos fazendo.

Demonstramos que devemos construir um esboço do texto e considerar a sequência lógica para sua
redação. Assim, iniciamos a construção do nosso texto pela conclusão. Na sequência devemos redigir:
resultados, material e métodos, discussão, introdução, resumos e, por fim redigimos o título. Sempre lembrar que
a arte da redação científica é inserir apenas o necessário no texto, evitando a prolixidade. Adotando essa
sequência de redação, vamos abordar, neste módulo, a estruturação do texto considerando a lógica e o estilo
contemporâneo da escrita científica. Dessa forma, esse módulo tem por objetivo mostrar como devemos
redigir os componentes essenciais de um texto científico iniciando pela conclusão e entender como estruturar,
com lógica, todo o discurso científico.
LÓGICA APLICADA NA ESCRITA CIENTÍFICA 51

1 Conclusões
Conclusão é a resposta imediata aos nossos objetivos e obtida a partir da nossa base empírica e da nossa imaginação como cientista. As conclusões aparecem
necessariamente na discussão,. Lembrar sempre que resultado não é conclusão. Selecione as conclusões mais gerais que promovam o avanço da ciência.

As conclusões devem ser redigidas no tempo verbal presente, pois permanece valendo enquanto não forem falseadas. A redação no passado, como exceções,
pode ser utilizada em estudos retrospectivos, análise de eventos passados, históricos ou não,

Na redação do texto da conclusão devemos usar a primeira pessoa, comum em publicação internacional, ao invés do impessoal, pois a conclusão depende
da pessoa, do cientista, para ser construída. Ou seja, devemos lembrar que nossos dados não são determinísticos. De forma equivocada, temos ainda pessoas
orientando a redação do texto científico no impessoal.

Há diversos formatos para a construção da conclusão. Alguns editores sugerem itens direto. Outros indicam uma construção iniciando com uma
contextualização geral, para depois apresentar as conclusões. Assim, para construir a conclusão devemos observar a lógica de cada periódico em particular.
O importante é mostrar o cenário atual da área da pesquisa realizada, enfatizando o que muda na rede de conhecimento com a nossa conclusão e os
consequentes avanços. Então, apresente as conclusões repetindo apenas o que foi apresentado como conclusão no tópico da discussão. Para tanto, é
fundamental observarmos a pirâmide lógica da conclusão.
LÓGICA APLICADA NA ESCRITA CIENTÍFICA 52

2 Resultados RESULTS
Ao redigirmos este item devemos incluir apenas os resultados Devemos lembrar que as verdades, em
ciência empírica, não são absolutas. São
que darão sustentação às nossas conclusões. Devemos provisórias. Se colocamos as no passado Relationships between sedimentation
apresentar uma única vez os resultados, observando o formato então não são mais verdades atuais...
Devemos lembrar que as verdades, em rate and temperature demonstrated
adequado: figura (que pode ser um gráfico, foto, desenho, ou ciência empírica, não são absolutas. São that sedimentation rate increased with
um esquema), tabela ou texto. O foco deve ser nas variáveis provisórias. Se colocamos as no passado
então não são mais verdades atuais... temperature (Figure 1)
operacionais, e o texto e deve ser redigido no tempo verbal Devemos lembrar que as verdades, em
passado. ciência empírica, não são absolutas.

As formas de apresentação dos resultados deverão regular DISCUSSION Sedimentation rate (Mg.h.i)
as ênfases que eles têm no discurso e nas conclusões e os Devemos lembrar que as verdades, em
ciência empírica, não são absolutas. São
critérios para escolha deve ser a lógica do estudo. Assim, provisórias. Se colocamos as no passado
70
b

Sedimentation rate
60 b
segundo Volpato, (2017), em Pesquisa de Caracterização então não são mais verdades atuais... 50 a
Devemos lembrar que as verdades, em 40 a
recomenda-se usar Tabela e Texto e para Pesquisa de Associação ciência empírica, não são absolutas. São 30 a a

priorizar Figura e Tabela. Não devemos construir frases apenas provisórias. Se colocamos as no passado 20
então não são mais verdades atuais... 10
para apresentar uma Tabela ou Figura que aparece na sequência. Devemos lembrar que as verdades, em 0 10 20 30 40 50 60
E sim fazer o chamado da Tabela ou Figura indicando o que o ciência empírica, não são absolutas. Temperature (Figure 1)
leitor deverá ver no resultado indicado (Figura 33).
Figura 33 - Como referenciar figuras no texto.

Invenção, como o uso do termo “Quadro”, deve ser abominada, pois não é usado em periódicos internacionais de impacto, apenas por grupos restritos de
pessoas que fazem pesquisa e não ciência. Devemos explicar de forma detalhada as figuras e tabelas inseridas no texto. Sempre que possível, explicitar a
estatística nos gráficos e tabelas.
LÓGICA APLICADA NA ESCRITA CIENTÍFICA 53

3 Material e Método
A estrutura do Material e Método pode ser construída por quatro blocos (Volpato, 2017), (Figura 34). Este item deve ser redigido no passado. O presente é
utilizado caso descreva alguma técnica ou conhecimento presente na literatura. Na redação do projeto de pesquisa devo usar o tempo verbal futuro.

Sujeito da
Análise  pesquisa Detalhes
4 blocos  Final do artigo
dos Dados (Procedimentos específicos)
Delineamento
(Estratégia)

Figura 34 – Estrutura construtiva do item Material e Método (IGVEC).

• Sujeito da pesquisa ou objeto do estudo: é aquele no qual analisamos as variáveis. Exemplo: peso de aves, aqui aves é o sujeito da pesquisa. Caracterize-o de
acordo com o detalhamento que a área exige; se for estudo de campo indicar o local.

• Delineamento: é a estratégia intelectual para caracterizar uma variável ou para testar uma hipótese. O tamanho da amostra, variáveis, as réplicas e a
disposição do experimento devem ser aqui detalhadas.Volpato e Barreto (2016) descreveram oito tipos de delineamentos que podem ser utilizados como
modelos, auxiliando na construção do nosso delineamento.

• Procedimentos específicos: descrever as atividades previstas para cada variável a ser estudada; utilizar de técnicas já validadas; não incluir o nome da
instituição onde a pesquisa será ou foi realizada, pois não agrega o texto.

• Análise dos dados: informar as condições de analisar os dados e concluir, com determinado grau de liberdade. Em pesquisa quantitativa, definir com
segurança que tipo de distribuição seus dados se ajustam e qual o teste estatístico será usado para testar a hipótese do estudo. Aqui não importa o
software estatístico que será utilizado, não deve ser inserido.
LÓGICA APLICADA NA ESCRITA CIENTÍFICA 54

4 Discussão
A essência da discussão é validar as conclusões e a metodologia, apresentando estrutura lógica do discurso científico. Não devemos ficar comparando dados
aleatoriamente, fere a lógica. Podemos iniciar a discussão apresentando as principais conclusões, sem justificá-las imediatamente. Iniciar o primeiro parágrafo
do item discussão com a conclusão é estratégia usada em revistas de alto fator de impacto.

Evite construir discussão não fundamentada em base empírica. Isso pode tornar nosso texto opinativo e não científico. Procure usar o tempo verbal no
presente, pois estamos, aqui, dando ênfase na conclusão do nosso estudo.

No primeiro parágrafo inicie apresentando suas conclusões, incluindo possíveis aplicações e recomendações. Nos demais parágrafos demonstre, com
argumentações robustas, como chegou nas conclusões a partir dos resultados. No último parágrafo podemos indicar recomendações, sugerir questões cruciais
em aberto ou notas de precaução visando evitar possíveis erros de construção.

5 Introdução
A Introdução é aparte do texto onde devemos contextualizar e justificar, com premissas, o problema pesquisado ou que será estudado. Fundamentar o objetivo,
ou a hipótese, e apresentar, ao final, o objetivo proposto, ou a hipótese do estudo. Devemos entender que a função da introdução no texto científico é justificar
e apresentar ao leitor o objetivo do estudo de forma lógica. Para isso, devemos observar o tipo de pesquisa que será realizado.

A estrutura lógica da introdução no texto científico é definida em função do tipo de pesquisa que estamos desenvolvendo. Ou seja, se pesquisa de caracterização
ou de associação entre variáveis. O texto deve ser construído com ideia de fluxo dentro e entre os parágrafos. Não construir parágrafos de fase única. Assim, a
definição das variáveis do estudo, suas possíveis relações e o Outline são fundamentais para a construção do texto estruturado, (Figuras 35).

Pesquisa Sem Hipótese (Caracterização) Pesquisa com Hipótese (Associação)


Variável de estudo: pauta de telejornais Variáveis de estudo: Aprendizagem Ensino híbrido
• Mostrar a necessidade de caracterizar essa variável • Por que estudar a aprendizagem nesse sistema de ensino?
Outline

Outline
• Importância da técnica que estou usando • Por que espera que haja associação com a aprendizagem?
• Importância da condição diferencial da variável • Por que espera que o ensino híbrido promove aprendizagem?

Apresentar o objetivo: Caracterizar pautas de telejornais Objetivo: avaliar se o ensino híbrido afeta a aprendizagem
da TV brasileira dos alunos

Figura 35 - Estrutura lógica da Introdução em função do tipo de pesquisa.


LÓGICA APLICADA NA ESCRITA CIENTÍFICA 55

A construção é livre, com premissas que irão justificar meu objetivo ou a hipótese do meu estudo. Lembrar que meu objetivo constitui a conclusão do item
Introdução. A sugestão para elaborar introduções robustas é buscar modelos em revistas internacionais de alto fator de impacto, extraindo delas o Outline,
observando as estratégias adotadas pelos autores.

6 Resumos
Há diversos tipos de resumos: Resumo Estruturado, ou Expandido, resumo
Convencional, resumo Criativo e resumo em formato Gráfico. O resumo deve ser
considerado uma expansão do título, ser sucinto e informar o necessário para que o
leitor se interesse em ler o texto como um todo.

Resumo Estruturado: normalmente exigido para compor os anais de congressos.


Representam uma miniatura do texto original do manuscrito e possuem número de
páginas conforme as normas do evento.

Resumo Convencional: está presente na maioria das revistas de baixo fator de


impacto, dissertações, teses e TCC. A recomendação corrente é que devem conter
parte da introdução, da metodologia, dos resultados e discussão e as conclusões.
Este tipo de resumo não estimula a leitura do artigo e deve ser evitado em artigo de
Figura 36 – Infográfico. Science of the Total Environment, 655 (2019).
nível internacional.

Resumo Criativo: limita-se ao essencial; qualquer parte do texto pode ser inserida; a
sequência para apresentar as informações é livre; deve ser curto e passar rapidamente a informação desejada. Por ser criativo o número de palavras é variável.
Há resumos criativos de 2 até em torno de 100 palavras.

Resumo em formato gráfico está sendo exigência de revistas de impacto. Normalmente é apresentado de forma articulada com o resumo criativo. A figura
gráfica, ou infográfico, deve ser construída de forma que o leitor tenha uma interpretação lógica da conclusão do estudo. Podemos mostrar, por exemplo, que
há aumento da vazão em corpos hídricos em função de pagamentos por serviços ambientais, usando um infográfico (Figura 36).
LÓGICA APLICADA NA ESCRITA CIENTÍFICA 56

7 Título
O título deve estar alinhado com nosso objetivo e, principalmente, com a
Título Objetivo Conclusão
conclusão do nosso trabalho. Sua função é atrair a atenção do leitor. Deve
ser curto e não deve conter o local da pesquisa. Redija na ordem direta,
priorizando sempre as variáveis teóricas do estudo. Deve ser compreensível portanto, evite siglas e termos específicos.

Não devemos inserir no título termos vazios como: Um estudo sobre...; Em busca de ...; Estudos provisórios sobre...; Compreendendo as...; Aspectos gerais da ...; Estudos
preliminares...; Noções específicas...; Observações sobre... entre outros termos sem sentido lógico conclusivo. Exemplos de alguns absurdos em título, (Figura 37).

Análise da mata ciliar Estudos preliminares em microbacias do


da área de preservação entorno de enseadas não urbanas visando
permanente ao entorno das obtenção de dados para esclarecer
nascentes responsáveis pelo possíveis danos ao ambiente e ao solo
abastecimento de água do abrangendo cerca de três municípios com
município de Caixa Alta do população de cada município acima de
Norte, sul da Amazônia, Brazil. 1011 habitantes aproximadamente.

Figura 37 – Uso de termos vagos em título, como a grafia da palavra Brasil em inglês e do termo aproximadamente para referir a 1011 habitantes.

Ao construir o título devemos lembrar que a sua função é atrair a atenção do leitor para a leitura do nosso artigo. Caso o leitor não leia nosso artigo,
seguramente não o usará como referência. Títulos longos e sem sentido lógico, como os relacionados no exemplo da figura 37, não contribuem em nada com
o processo de construção do conhecimento.
LÓGICA APLICADA NA ESCRITA CIENTÍFICA 57

8 Citações no texto
Citação caracteriza uma informação extraída de uma fonte de nossa autoria, caso de autocitação, ou de fonte de outros autores. As normas de citação para
trabalhos acadêmicos no Brasil são elaboradas pela ABNT. Há diferentes formas de inserir citações no texto segundo a ABNT:

i) citação direta: que é a transcrição textual de parte da obra do autor consultado. Dentro do texto, as citações diretas com até três linhas, devem iniciar e
terminar com aspas duplas. Ao utilizarmos no texto citação direta com mais de três linhas, esta deve ser apresentada com recuo de 4 cm da margem esquerda,
com letra menor que a do texto e sem aspas. (NBR 10520,2002, p. 1).

Exemplo:

In this paper, we present a prototype of a rainfall and overland flow simulator, InfiAsper2. The advantages over previous designs lie in flexibility of
use, increased portability when compared with similar designs and versatility. (ALVES SOBRINHO, 2008, p. 169).

ii) citação indireta: o texto é baseado na obra do autor consultado. Nas citações, as chamadas pelo sobrenome do autor, pela instituição responsável ou título
incluído na sentença devem ser em letras maiúsculas e minúsculas e, quando estiverem entre parênteses, devem ser em letras maiúsculas. Nas citações
indiretas, a indicação da(s) página(s) consultada(s) é opcional.

Exemplo:

Segundo Alves Sobrinho (2008, p. 169), este inovador equipamento pode ser usado em laboratório ou em campo.

Segundo Alves Sobrinho (2008), este inovador equipamento pode ser usado em laboratório ou no campo.

Este inovador equipamento pode ser usado em laboratório ou no campo. (ALVES SOBRINHO, 2008, p. 169)

Este inovador equipamento pode ser usado em laboratório ou no campo. (ALVES SOBRINHO, 2008)

As normas da ABNT não têm valia em textos organizados para serem submetidos em revistas internacionais. Normalmente estas normas são recomendadas
em textos de trabalhos acadêmicos, como tese, dissertação e monografias de final de curso. Devemos observar as instruções de citação do periódico escolhido
onde faremos a submissão do nosso manuscrito.
LÓGICA APLICADA NA ESCRITA CIENTÍFICA 58

Citações no texto, quando aplicada, são feitas para sustentar argumentação. Portanto, devemos dar preferência as referências fortes. Não citar
contextualizações realizadas por outros autores, pois opinião não constrói conhecimento. Não cite o óbvio, como por exemplo: a falta de alimento é um
problema de grandeza internacional e mundial (GYL, 2018). Como a frase construída é de conhecimento geral, não necessita da citação. Ou seja, expressões
gerais, de domínio público, não precisamos citar. Aprendemos errado como citar. Alguns orientadores passam ideias equivocadas de que tudo deve ser citado.

Considerando a função da citação, a citação de textos que não passou por crivo de revisão por pares não tem valor científico. Citações de vários autores
no final de cada parágrafo devem ser feitas com critério e lógica, devendo ficar evidente a contribuição da autoria de cada autor citado, em cada frase que
compõe o parágrafo. Outro aspecto fundamental é a citação de citação, nominadas como citado por ou, às vezes, como apud. Este formato de citação não é
aceito em periódicos internacionais. A citação direta ou indireta de texto em que não se teve acesso ao original não deve ser realizada, pois podemos incorrer
em erro conceitual grave ou de fundamentação.
LÓGICA APLICADA NA ESCRITA CIENTÍFICA 59

5 Módulo 5
- Estilo da redação científica

Finalizando nosso curso, iremos abordar neste Módulo aspectos sobre estilo na escrita científica. O
estilo agrega valor na redação científica. Textos redigidos com sentenças desprovidas de ideias claras,
não concatenadas e sem fluxo sequencial, impactam negativamente nos revisores e editores científicos.
O estilo na escrita científica envolve construção de frases, preferencialmente, na ordem direta, ou seja,
na voz ativa. Assim, nosso objetivo aqui é mostrar como construir, a partir do Outline, parágrafos e
frases com ideias claras, providas de expressão e fluxo e com estilo científico adequado.
LÓGICA APLICADA NA ESCRITA CIENTÍFICA 60

1 Construção de frases 1.Tico 2. Morto 3. Explosão


A construção de sentenças deve ter ideias claras e concatenadas. Sabemos que os elementos
básicos de uma oração são: sujeito, verbo e complementos. Informação adicional para explicação
as vezes é necessária: o caso do aposto. A construção ficaria assim: sujeito, aposto, verbo e
complemento. Exemplo: Nós concluímos, de maneira tardia, que a lógica na escrita científica é
fundamental para a construção de textos robustos. Uma condição pode ficar no início da frase,
no meio ou no final. São escolhas aleatórias. A ênfase deve ficar no final da frase: Exemplo: Nós
concluímos que a lógica na escrita é fundamental, há quinze anos. No texto científico devemos
fazer uso da voz passiva ou da voz ativa? Na escrita científica, a construção das frases deve ser A explosão matou Tico (voz ativa)
feita, preferencialmente, na ordem direta, ou seja, usando a voz ativa. Conforme o contexto Tico foi morto pela explosão (voz passiva)
posso alternar: voz ativa e voz passiva, (Figura 38). Figura 38 – Esquema ilustrativo: voz ativa e voz passiva

Conjunções no texto
As conjunções podem ligar frases e parágrafos. Ligam ideias numa frase, frases num parágrafo e parágrafos num tópico. Por isso não se pode errar aqui.

Como forma de aprimorar o texto e de evitar erros gramaticais, sugerimos rever os conceitos de como fazer o uso de: conjunções; pronomes demonstrativos
(isso/isto, esse/este) e os diferentes níveis para pontuação. Para tanto, busque livros atuais sobre gramática e ortografia da língua portuguesa.
LÓGICA APLICADA NA ESCRITA CIENTÍFICA 61

2 Expressão e Fluxo com estilo


Ao expressarmos temos que manter o fluxo. Ou seja, colocar os elementos com salto, mas com conexão entre si, de forma a expressar o conteúdo e
comunicar. Isto é, devemos manter o fluxo com conexão entre os termos e entre parágrafos. Mostramos, na sequência, um texto que aplicamos tais conceitos.
Veja que os termos que grifamos no texto têm conexão e fluxo na construção do parágrafo e de cada frase dentro do parágrafo.

“Sabemos, historicamente, que a água tem sido usada em demasia e de forma ineficiente. Hartmann (2010) explica que
esse uso ineficiente e desordenado reside em avaliação errônea que se faz de que a água é um bem livre e gratuito à
disposição de todos. (...).” A maioria dos estudiosos, como Salman et al. (2008), Hutchings et al. (2015)) e Gomez et al. (2018),
concorda que melhorar a governança da água é a chave para lidar com a insegurança hídrica. Araral & Wang (2013)
sugerem que a governança possa ser estudada usando teorias extraídas da economia do setor público, (...). De forma
resumida, a governança e as vocações econômicas da água devem ser consideradas na gestão da água e a maneira
de incorporar essa vocação é através de instrumentos econômico-financeiros. A aplicação destes instrumentos possui
barreiras intrínsecas a serem transpostas”. [próximo parágrafo].

As principais barreiras (...) (iniciando o próximo parágrafo e mantendo ideia de fluxo com o termo barreiras).

Nas frases do parágrafo anterior há uma sequência lógica, mostrando ideia de fluxo em conexão com os termos ineficiente, governança, instrumentos e
barreiras, com clareza e correta concordância verbal. Observe que tais termos, da forma que estão inseridos, sugerem a sequência de redação de cada frase
dentro do parágrafo. Na redação do parágrafo, este formato é que caracteriza escrita com estilo. Ou seja, o estilo é a expressão do conteúdo de forma clara,
concatenado e com estrutura lógica de comunicação. (Desafio: tente descobrir quais são as palavras que dão ideia de fluxo neste parágrafo).
LÓGICA APLICADA NA ESCRITA CIENTÍFICA 62

3 Outline como estratégia de escrita


Como estudamos no Módulo 3, Outline é a estratégia de escrita do texto científico. Permite estruturar a sequência de informações para chegarmos à
conclusão. Construa cada parágrafo a partir do Outline proposto, transformando cada informação em um parágrafo (Figura 39).

Outline A estratégia de escrita


1. Informação A
2. Informação B CONCLUSÃO
3. Informação C
Informação A: é a primeira frase do primeiro parágrafo.
As outras frases darão a base
Figura 39 – Outline como estratégia de escrita do texto científico

Assim, inicialmente construa o Outline como estratégia de escrita, antes de redigir cada parágrafo. Cada informação, ou frase, do Outline corresponderá à
primeira frase de cada parágrafo. Ou seja, a partir do Outline transformamos cada informação em um parágrafo. A construção de textos com lógica e estilo não
é simples. Como estratégia, deve ser pensado e observada as estruturas lógicas de comunicação o que auxilia na construção de textos com estilo científico.
No caso de textos científicos, visando publicação de conclusões, escreva na primeira pessoa, observando o número de autores. Baseie-se sempre no suporte
estatístico, quando presente no seu estudo, pois não devemos apostar em tendências.
LÓGICA APLICADA NA ESCRITA CIENTÍFICA 63

4 Redigindo o parágrafo com estilo


Redigir texto científico com estilo é ser breve, denso, preciso e sucinto. Não se prenda a detalhes supérfluos. Como ressaltamos na unidade anterior,
mantenha o fluxo e use termos apropriados para conexão entre parágrafos e clareza na comunicação. Evite termos prolixos, seja conciso, (Figura 40).

An example of this is the fact that For example

Accounted for by the fact Because

Has been engaged in a study of Has studied

It would seem to indicate It indicate

We wish to thank We thank

Figura 40 – Exemplo de como reduzir e evitar termos prolixos no texto.

Exemplo: O uso excessivo de sal provoca aumento da pressão arterial. Observe que, se provoca aumento , na verdade aumenta... Reescrevendo a frase
com estilo e lógica: O uso excessivo de sal aumenta a pressão arterial.

Cuidado com a palavra importante, ela pode não ter importância (...). Antes de usá-la no texto, devemos inserir na frase a fundamentação que leva a aceitar
que o que propomos é realmente importante. Considere o seguinte exemplo em que utilizamos a palavra importante de forma adequada:

Exemplo: Ao acordar necessitamos recompor as energias do organismo para nossa lida diária. O uso diário de cereais e suplementos proteicos no desjejum ajudam nessa
recomposição. Dessa forma, o desjejum matinal é importante (...).

Observe que é diferente ao afirmarmos apenas que: O uso de cereais e suplementos proteicos é importante. Ou que: O desjejum matinal é importante. A frase fica
sem sentido lógico, pois não foi explicado o motivo.
LÓGICA APLICADA NA ESCRITA CIENTÍFICA 64

Textos complementares
Esperamos que o curso tenha despertado a vontade de crescimento individual no fascinante mundo da Escrita Científica. A atualização constante sobre
como fazer Ciência com lógica é fundamental para construção do conhecimento científico. Na nossa página na Internet disponibilizamos diversos textos
complementares, pertinentes ao curso, mas que não foram aqui contemplados. Acesse: www.teodoricoalves.com.br e baixe os arquivos clicando no menu
superior da página inicial em Produção científica.
LÓGICA APLICADA NA ESCRITA CIENTÍFICA 65

Referências bibliográficas
Bynum, W. Uma breve história da ciência. L&PM Editores, 312 p., 2013.

[Uma síntese das descobertas científicas marcantes ao longo da história. Com esse livro temos um bom panorama de como um cientista pensa e como isso
se modificou ao longo da história.]

Chalmers, A. F. O que é Ciência afinal? São Paulo: Ed. Brasiliense, 227 p. 1993.

Gaarder, Jostein. O mundo de Sofia. Ed. Cia. das Letras, 555 p., 1995.

[Um Best Seller que encantou muita gente na época e ainda encanta . História misteriosa através da qual você é introduzido a pontos importantes da filosofia. A
linguagem é simples e isso irritou alguns filósofos na época. Porém, o livro fez muito para divulgação da filosofia na academia e fora dela. O autor é filósofo.]

Glasman-Deal, H. Science research writing for non-native speakers of English: Imperial College London, UK, 272 p. 2009.

Gleiser, M. A ilha do conhecimento: os limites da Ciência e a busca por sentido. Rio de Janeiro, RJ: Ed. Record, 362 p. 2014.

[Gleiser nos faz refletir sobre se há respostas para todas as perguntas; o quanto realmente sabemos do universo e se existe mesmo uma verdade absoluta.
O autor apresenta história intelectual da nossa busca por conhecimento, abordando ideias de alguns dos maiores pensadores da história, de Platão a Einstein,
mostrando como continuam a nos influenciar. Uma leitura obrigatória para quem milita no mundo científico.]

Goldstein, L. et al. Lógica: conceitos-chave em filosofia. Porto Alegre: Ed. Artmed, 224p. 2007.

Kuhn, T. S. A estrutura das revoluções científicas. São Paulo: Ed. Perspectiva, 324 p. 2013.

[Livro que contribui para o estudo da história das ciências, reintegrando as revoluções sócio tecnológicas e políticas do mundo contemporâneo, não só no seu
processo estrutural específico como no contextual.]

Latour, B. Ciência em ação. São Paulo, SP.: Ed. Unesp, 422 p., 2011.

[Um clássico na metodologia na Humanidades. Parte de uma abordagem interessante, olhando o comportamento dos cientistas. Para amantes da ciência, seja
quantitativa ou qualitativa]
LÓGICA APLICADA NA ESCRITA CIENTÍFICA 66

Lakatos, I. & Musgrave, A. A crítica e o desenvolvimento do conhecimento. Ed. Cultrix, 343 p. 1970.

[Obra fundamental para entender o debate entre Thomas Khun e Karl Popper, do século XX. Trata de coletânea de falas de grandes filósofos
proferidas durante o Colóquio Internacional sobre Filosofia da Ciência, Londres, 1965. Além de Khun e Popper, os demais são defensores de cada um
desses filósofos, que discutem suas preferências. O debate principal é em torno das propostas aparentemente antagônicas desses filósofos em relação
à substituição de teorias na ciência.]

Latour, B. Ciência em ação. São Paulo, SP.: Ed. Unesp, 422 p., 2011.

[Um clássico na metodologia na Humanidades. Parte de uma abordagem interessante, olhando o comportamento dos cientistas. Para amantes da ciência, seja
quantitativa ou qualitativa]

Levin, J. A música do universo. São Paulo: Companhia das Letras, 257 p. 2016.

[Buracos negros existem e foram previstos por Einstein ainda em 1916.Uma viagem, com narrativa de Jane Levin, para obter as evidências empíricas sobre
ondas gravitacionais, teoria proposta há mais de 100 anos e que tornou realidade em 2016. Isto foi conseguido graças à obstinação de um grupo de cientistas
(LIGO) compromissados com o processo de construção do conhecimento. Exemplo de persistência e de competência de um grupo no processo de fazer
Ciência com garra e determinação.]

Latour, B. Ciência em ação. São Paulo: Ed. Unesp, 422 p., 2011.

[Um clássico na metodologia na Humanidades. Parte de uma abordagem interessante, olhando o comportamento dos cientistas. Para amantes da ciência, seja
quantitativa ou qualitativa.]

Magee, B. As Ideias de Popper. São Paulo: Ed. Cultrix, série Mestres da Modernidade, 109 p. 1974.

Marconi, M. A.; LAKATOS, E. M. Técnicas de pesquisa: planejamento e execução de pesquisa, amostragens e técnicas de pesquisa, elaboração, análise e
interpretação de dados. São Paulo, SP: Atlas, 312 p. 2018.

Moreira, M. A. Epistemologias do século XX: Popper, Kuhn, Lakatos, Laudan, Bachelard, Toulmin, Feyerabend, Maturana, Bohm, Bunge, Prigogine, Mayr. São Paulo:
E.P.U., 207 p. 2011.

Oliva, Alberto. Filosofia da Ciência. , Rio de Janeiro: Editora Zahar, 74p. 2003.
LÓGICA APLICADA NA ESCRITA CIENTÍFICA 67

Popper, Karl, R. A Lógica da Pesquisa Científica. São Paulo: Cultrix. 454p. 2013.

[Este livro é uma das obras clássicas mais importantes relacionadas à metodologia e ao conhecimento científico. Popper dá uma contribuição decisiva ao
problema da indução, que desafia os filósofos pelo menos desde o sec. XVII. O problema da indução consiste no fato de que, por mais dados singulares que o
cientista acumule, não há uma garantia lógica de que o enunciado universal daí inferido seja verdadeiro. O autor defende aqui que o critério de demarcação
da ciência não é a verificação, mas sim o falseamento. Assim, Popper mostra que a ciência só pode ser definida por meio de regras metodológicas. Popper
constituiu um modelo de falseamento denominado de hipotético-dedutivo. Esse modelo defendia que uma teoria somente poderia ser considerada científica se
houvesse maneiras de refutá-la ou de contradizê-la.]

Popper, Karl, R. Conhecimento Objetivo, Belo Horizonte: Ed. Itatiaia. 394 p. 1999.

[O maior milagre do universo é possivelmente o conhecimento humano. Como, porém, o homem adquire conhecimento e o faz crescer? De que modo,
especialmente, age a ciência para progredir, substituindo teorias antigas por outras novas e melhores, em incessante procura no rumo da verdade? Mas,
poderíamos perguntar: que é Verdade? Popper rompe com o subjetivismo, tradição secular da teoria do conhecimento humano que pode ser datada de
Aristóteles. Assim, por meio da constante seleção crítica, num processo evolucionário, o conhecimento pode aumentar e ser renovado.]

Popper, Karl, R. Os dois problemas fundamentais da teoria do conhecimento. São Paulo: Ed. Unesp. 662 p. 2013.

[Escritos entre 1930 e 1933 por Karl Popper e publicada pela primeira vez em 1979 os ensaios que compõem esta obra, até agora inédita em português,
precedem e dão origem ao clássico A Lógica da Pesquisa Cientifica. O filósofo identifica os dois problemas fundamentais que estão na base dos problemas
clássicos da teoria do conhecimento - o da indução e o da demarcação - e busca a reduzi-los num único problema].

Popper, Karl, R. Sociedade aberta e seus inimigos. Belo Horizonte, MG: Ed. Itatiaia. 1974.

Popper, Karl, R. & Eccles, J. C. O Cérebro e o Pensamento. Campinas, SP: Papirus. 171p. 1992.

[Filosofia e a Ciências médica estão representadas nesta obra por dois grandes expoentes do pensamento contemporâneo: Popper, que admite a neutralidade
ideológica da Ciência e, um dos mais importantes filósofos da Ciência do século XX, John C. Eccles Prêmio Nobel de Medicina e Fisiologia aos 60 anos de idade].

Quinn & Keough. Experimental Design and Data Analysis for Biologists: https://www2.ib.unicamp.br/profs/fsantos/apostilas/Quinn%20&%20Keough.pdf

Volpato, G. L. Ciência: Da filosofia à publicação. 7ª. Ed. Botucatu, S. P.: Best Writing, 312 p., 2019.
LÓGICA APLICADA NA ESCRITA CIENTÍFICA 68

Volpato, G.L. Ciência além da visibilidade. Botucatu, S. P.: Best Writing, 210p. 2017.

Volpato, G. L. Guia Prático para Redação Científica. Botucatu: Best Writing. 268 p. 2015.

Volpato, G.L. Método Lógico para Redação científica. 2ª. Ed. Botucatu: Best Writing, 156p. 2017.

Volpato, G. L. & Barreto, R. E. Estatística Sem Dor!!! Botucatu: Best Writing, 160p. 2016.

Walter A. Carnielli & Richard L. Epstein. Pensamento Crítico: o poder da lógica e da argumentação. 3ª ed. Editora Rideel, São Paulo. 371p. 2011.

[Livro sobre lógica, em linguagem simples e com aplicação a atividades corriqueiras do nosso cotidiano. Uma boa forma de se aproximar da Lógica, matéria
fundamental para todos]

TEXTOS COMPLEMENTARES

Filosofia da ciência - Karl Popper, falseabilidade e limites da ciência


https://educacao.uol.com.br/disciplinas/filosofia/filosofia-da-ciencia-karl-popper-falseabilidade-e-limites-da-ciencia.htm

O pensamento epistemológico de Karl Popper


https://seer.ufrgs.br/ConTexto/article/view/11236/6639

Escolástica - A filosofia durante a Idade Média


https://educacao.uol.com.br/disciplinas/filosofia/escolastica-a-filosofia-durante-a-idade-media.htm

Os universais - Como conhecemos as coisas? Ser e não ser; Conhece-te a ti mesmo; Sócrates e a nossa relação com o mundo; Ideias de Platão; Aristóteles e o papel
da razão; Ceticismo; Fundamento da realidade; Dialética.
https://educacao.uol.com.br/disciplinas/filosofia/os-universais-como-conhecemos-as-coisas.htm?cmpid=copiaecola
LÓGICA APLICADA NA ESCRITA CIENTÍFICA 69

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