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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES


DEPARTAMENTO DE LETRAS
CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM FUNDAMENTOS LINGUÍSTICOS
PARA O ENSINO DA LEITURA E DA ESCRITA
DISCIPLINA: LET2211- ESCRITA: LINGUÍSTICA TEXTUAL E
ARGUMENTAÇÃO
PROFA. DRA. SULEMI FABIANO CAMPOS

PROF. SEAN MARDEM


RETÓRICA
E ARGUMENTAÇÃO:
UM BREVE
PANORAMA

DR

IV CEFLE
No início, Eva não queria comer a maçã.
− Come − disse a serpente − e serás como
os anjos!
− Não − respondeu Eva.
− Terás o conhecimento do Bem e do Mal −
insistiu a víbora.
− Não!
− Serás imortal.
− Não!
− Serás como Deus!
− Não, e não!
Irritadíssima, quase enfiando a maçã goela abaixo, a serpente
já estava desesperada e não sabia mais o que fazer para que
aquela mulher, de princípios tão rígidos e personalidade tão forte,
comesse a maçã. Até que teve uma ideia, já que nenhum dos
argumentos havia funcionado... Ofereceu-lhe novamente a fruta
e disse com um sorrisinho maroto:
E assim, dizem, surgiu a
− Come, boba!!! Emagrece!
argumentação...
http://wwwgestar-linguaportuguesa-leize.blogspot.com/
O QUE É RETÓRICA?
O QUE É ARGUMENTAÇÃO?
Arte, discurso e persuasão
 ParaReboul (2004, p.XIV), Retórica é a “arte de
persuadir pelo discurso” enquanto toda
produção verbal, escrita ou oral.
 Gêneros e domínios alcançados pela
retórica, segundo Reboul:
 Disputa jurídica
 Petição
 Alocução política
 Sermão
 Folheto, cartaz de publicidade, panfleto
 Fábula
 Tratados teológicos, filosóficos e
científicos
 Drama e romance
 Poema satírico
Arte, discurso e persuasão
 Quais seriam os discursos não retóricos?
 Gêneros e domínios sem a pretensão de
persuadir:
 Poema lírico
 Tragédia sem pretensão de lição moral
 Melodrama
 Comédia
 Romance
 Contos populares
 Piadas
 Manual de instruções
 Sentença judicial
 Proibição injustificada ou ordem
Argumentação ou retórica?
Ao perseguir o convencimento, a retórica escolhe
um de meios de competência:
 Se a escolha é a razão pura, usam-se os
argumentos que podem ser baseados em silogismos
/ entimemas (lógico-racionais) ou em exemplos que
são raciocínios preferíveis porque são mais afetivos
que os silogismos e afetam ao público em geral, não
especializado.
 Portanto, se o discurso persuasivo for mais racional
ou técnico pode ser chamado de argumentativo,
senão, caso seja mais eclético, genérico, menos
racional e mais afetivo pode ser chamado de oratório.
A retórica também é hermenêutica
A intertextualidade e a polifonia retiram do discurso
a chance de um monólogo persuasivo.
 Todo discurso opõe-se a outros discursos anteriores
ou posteriores a ele. O orador jamais está só,
enuncia ou silencia em favor ou em oposição a
outros.
 Na retórica, a hermenêutica é a arte da interpretação
do discurso/texto alheio. O ser humano torna-se um
hermeneuta na infância, quando tem que interpretar
os outros que o cercam. Logo, o bom orador é um
cartógrafo dos discursos e argumentos que
tangenciam (pró ou contra) a sua própria retórica.
A retórica também é heurística
No mundo da vida, a ciência não é capaz de fazer
previsões assertivas sobre o futuro. O caos
existencial é aleatório e só comporta certa
previsibilidade probabilística.
O orador nunca está só. O professor confronta
outro, o eleitor confronta outro e assim, o papel
da retórica é iluminar o caminho, na falta de
evidência, sobre quem deve dar a palavra final,
sobre qual o caminho deve ser trilhado.
 Esta é a terceira função da retórica: descobrir,
antecipar, contribuir para a tomada de decisões
sem o uso da violência.
Retórica: pedagogia transdisciplinar
A visão até aqui apresentada deve-se à
contribuição de Olivier Reboul (2004) e é de
extrema vanguarda nos estudos clássicos da
retórica.
 Habitualmente, como abordaremos doravante,
a retórica é estudada em relação à função
persuasiva.
 A heurística costuma ser abordada nos
estudos da dialética.
 A hermenêutica tende a ser tratada nos
estudos gramáticos.
1
PERCURSO HISTÓRICO:
DAS ORIGENS AOS DIAS ATUAIS
Retórica
 Significação fundamental → “arte de
falar”, instrumento de construção do
discurso como arte política e técnica de
educação, artisticamente ornamentado
 Significação moderna:
→arte de persuadir (levar a crer) pelo
discurso
→teoria do discurso persuasivo
→estudo de possibilidades e recursos com
vistas à persuasão (aceitação) e a seus
efeitos
Não há como se pensar em retórica
sem o seu papel no nascimento e

maturação da democracia e da
liberdade cidadã, via Direito, ao debate
público, características da organização
política do mundo grego.
1.1
O ADVENTO DA RETÓRICA
1.1.1Retórica grega
“Invenção grega”?
Popular/oral: habilidade de
técnica defender qualquer causa e
tese.

Retórica
Ensino como uma reflexão
teoria com vistas à compreensão.
Mais elitizada.

A retórica grega é uma escolha usual para este estudo,


embora seja retistrada nas culturas hebraica, chinesa e
egípcia, além da indiana.
a) Judiciária:
Córax, Tísias
Origens
b) Literária:
Aristóteles, Górgias
Origem Judiciária
 Nascimento da retórica → no período que
sucede a batalha de Salamina (480 a.C.),
quando finalmente os persas foram
expulsos da região

 Disputas de terras sem a existência de leis

 Necessidade de melhor argumentação para


vencer as disputas

 Local → Sicília grega (antiga Magna


Grécia, atual Sul da Itália)
Origem Judiciária
 Instauração, pelos cidadãos despojados
de suas terras, de impasses com o
objetivo de reaver suas propriedades
 Fato que gerou inúmeros conflitos
judiciários em um mundo com ausência
de legislação
 Necessidade de melhor argumentação
para vencer as disputas
 O domínio da retórica era fundamental
para a luta pela terra
Origem Judiciária
 Os litigantes recorriam a escrivães
públicos, que redigiam as queixas
para serem lidas no tribunal.
 Os retores ofereciam aos litigantes
instrumentos de persuasão invencível:
argumentar a partir do verossímil
(argumentos que parecem verdade
sem necessariamente o ser), não do
verdadeiro.
Origem Judiciária
A serviço do verossímil – e não da verdade –, da
satisfação das necessidades do cidadão

 Mote:“transformar o argumento mais fraco no


mais forte”

 Córax e Tísias: 1ª definição de retórica;


publicação da Arte oratória, 1º tratado,
naturalmente rudimentar, de retórica (coletânea
de preceitos práticos com exemplos para uso
das pessoas ao recorrerem à justiça)

 Retórica ligada ao Direito e à consolidação de


leis
Retórica, democracia e direito
• Desenvolvimento pleno após a consolidação
da democracia ateniense
• Participação do povo nas assembleias
populares com funções legislativas,
executivas e judiciárias: submissão de todos
os assuntos ao voto popular
• O exercício da função política depende da
habilidade em raciocinar, falar e argumentar

“Educação política”: necessidade de professores


RETÓRICA NECÉSSÁRIA PARA A CIDADANIA
Origem Literária e Estilística
 A serviço do belo: arte pela arte
 Discurso epidítico (analteciemento, apelo
para as emoções)
A arte da oratória passa a ser uma arte de
estilo e não da mera persuasão via
contraditório e confronto de ideias
Górgias: pai da sofística e criador do
discurso epidítico (discurso do elogio),
responsável por inovações retóricas
envolvendo a estrutura e a ornamentação
afetivo-pragmática do discurso (argumento
≅ argentum, prata, ornamento, ...)
Escola Sofística
 Retores gregos itinerantes que discursavam
para vender a si mesmos como tutores (os
primeiros educadores bem remunerados da
história).

 Surgem quando a Grécia desencantada com


seus mitos, começava a buscar o logos e o
ánthropos como base de uma
fundamentação em construção do discurso.

A sofística inaugurou a Paideia do homem


adulto priorizando: gramática, retórica e
dialética.
Escola Sofística
Grandes sofistas:

 Protágoras 490 a.C. “O homem é a medida de


todas as coisas, das coisas que são, enquanto
são, das coisas que não são, enquanto não são.”.
 Exemplo do relativismo epistemológico sofístico
que elaborou a retórica sofística desvinculada
da verdade essencial e toda fundada em
axiomas (postulados iniciais consensuais sem
uma demonstração rigorosa.)
 Elaborador da Erística: arte de vencer um
impasse de forma não violenta, pelo embate
retórico.
Górgias de Leontine
“O discurso é um tirano
poderosíssimo; esse elemento
material de pequenez extrema e
totalmente invisível alça à
plenitude as obras divinas:
porque a palavra pode pôr fim
ao medo, dissipar a tristeza,
estimular a alegria, aumentar a
piedade.”
Górgias (487-380 a.C.) (GÓRGIAS apud REBOUL, 1998, p.5)
Escola Sofística
Grandes sofistas para a retórica:
 Górgias 485 a.C., Sicília. Seu pensamento
elaborou a proposta de nada é em essência,
nada existe absolutamente, coadunando com
a noção de uma episteme relativística.
 Em Elogio a Helena, Górgias conclui sua
elaboração retórica literária e estilística com
atenção aos vínculos profundos entre a
palavra e os sentimentos e paixões. Do ponto
de vista dos objetivos retóricos, a proposta
gorgiana é utilitarista e chega a influenciar a
Nova Retórica.
Retórica sofística
 Palavra associada ao poder – e não ao
saber –, à manipulação, ao domínio pela
palavra, erroneamente acusada por Platão
de sedução enganadora.

 Defesa, em primeiro lugar, do ponto de


vista do enunciador e de seus interesses a
fim de triunfar sobre os enunciatários
durante os debates políticos e
deliberativo-judiciais.
Retórica sofística
 Mundo sofista: (discurso eficaz X verdade)
verdade relativizada, mundo privado de uma
realidade objetiva, o logos; sem a pretensão de
ser verdadeiro, o discurso só poderia ser
discurso eficaz, próprio para convencer e
deixar o interlocutor sem réplica.

 Erística (arte de vencer uma controvérsia via


confronto de ideias), fundada por Protágoras,
essa técnica fundamenta-se no princípio do
contraditório: todo argumento pode opor-se a
outro, qualquer tese pode ser sustentada ou
refutada.
Sofistas – criadores da cidadania
Apesar de sua imagem negativada, tornada
artificialmente pejorativa, os sofistas:
Foram os responsáveis pelo preenchimento de
várias lacunas civilizatórias do mundo ocidental.
Estruturaram a educação em diversos domínios
como a filosofia, da gramática, da eloquência
judiciária, literatura e ensino;
Criaram a retórica como discurso persuasivo,
objeto de um ensino sistemático e global que
se fundamentava numa visão de mundo;
São considerados os primeiros professores de
alta qualificação e remuneração.
Reação à retórica sofística
A retórica sofística sofreu resistência de
dois grandes pensadores:
Isócrates: trouxe a retórica para o campo
da ética, da cidadania, da originalidade e
da utilidade
Platão: sua grande teoria, a dialética
socrática, foi proposta como antítese em
essência em propósito da noção sofística
de retórica. Responsável em grande parte
pela imagem pejorativa atribuída à
sofística.
Isócrates, o humanista
“A capacidade discursiva é, pois, o
sinal mais importante da razão
humana.”

A palavra é “a condição de todo


progresso, tanto nas leis como nas
artes e nos inventos mecânicos; ela
proporciona ao homem o meio de
promover a justiça, de exprimir a
glória, de incrementar a civilização e a
Filósofo e retor ateniense cultura”.
(436 – 338 a C.) (ISÓCRATES apud ROHDEN, 2011, p. 32)
Isócrates, o humanista
 Introduziu a retórica no ensino de Atenas,
tornando-se instrumento da Paideia grega
especialmente a Paideia adulta (ideal de formação
educacional para o exercício de CIDADANIA). Por
isso ficou conhecido como o pai da oratória no
currículo escolar.
 Para ele, a retórica era um exercício formal e, ao
mesmo tempo, uma técnica de “educação e
politização do homem”.
 Criouuma prosa distinta da poesia: clara, sóbria,
precisa, isenta de metáforas brilhantes, mas bela
e profundamente harmoniosa.
Principais Características
da Retórica Isocrática
• Dá menor valor ao contexto e ao tema
como critérios de validade discursiva
• Introduz o papel da moral na ética
tornando-a uma técnica de
humanização do homem. Transformou
a retórica em ética
• Manteve grande foco na originalidade
e na utilidade da retórica.
Platão
“Os oradores e os tiranos são os
mais fracos dos homens.”

“A autêntica arte do discurso,


desvinculada do verdadeiro, não
existe e não poderá jamais
existir.”

(PLATÃO apud REBOUL, 1998, p. 17-


18)
Filósofo e matemático
(Atenas, 428–348/347 a.C.)
▪ Arístocles, o garotinho de costas fortes apelidado
pelo porte físico de Platão, filho de um político
influente e próspero, teve sempre recursos para o
ócio necessário à sua ampla filosofia, praticada
junto aos seus discípulos na propriedade que
possuía em Atenas.
▪ Um idealista, anti-empirista, essencialista, seu
conceito de verdade é essencialmente intelectual,
baseado em seu idealismo de conhecimento da
verdade (“episteme”): formas puras, imutáveis e
perfeitas. Este conhecimento seria inalcançável
para os sentidos humanos que só vislumbram uma
aparência das verdades puras.
▪ O método que Platão usa no lugar da retórica é a
dialética, cujo discurso é controlado, racional,
visando atingir a verdade inteligível quando dois
interlocutores tem o mesmo compromisso com a
verdade.”.
▪ A Dialética Platônica, influenciada pelo
método socrático e influenciadora de Kant
e Marx, baseia-se em antíteses ou
confronto de ideias por interlocutores
comprometidos com a busca do
conhecimento verdadeiro: oposições
entre as paixões e a razão, entre o
privado e o público, entre a doxa e a
epistheme.
▪ O confronto das antíteses é apenas o
primeiro passo para a dialética
desenvolver, criticamente, a SÍNTESE.
TESE ↭ ANTÍTESE = SÍNTESE
▪ Platão vê a retórica como a
desvalorização da verdade em
busca das aparências. Para
Platão a retórica é imoral, além de
perigosa pois pode ser usada
para o engano, sedução e a
dominação do alocutário/auditório
que hoje chamaríamos, em
política, de discurso de massa.
sylviabbott/ufrn
ARISTÓTELES
Antes de filósofo, Aristóteles é um
empirista, apesar de ser discípulo
de Platão. Sua episteme (verdade
conceitual) é baseada em
experiência e não apenas na
imaterialidade intelectual.

Sua principal obra sobre a retórica


são os três livros de Arte retórica.
ARISTÓTELES

Seu ideário conceitual concebe três gêneros


retóricos:

 Deliberativo: que intenta dissuadir ou


persuadir;
 Judiciário: que imputa ou escusa, acusa
ou defende;
 Epidítico: que enaltece ou deprecia,
elogia ou censura.
Questões de estilo e discurso

 Clareza

 Correção gramatical
 Ritmo

 Uso de metáforas
 Partes do discurso
 Exórdio:
 Narração:
 Demonstração:
 Peroração:
Questões de estilo e discurso:
ENTIMEMA

 Tipo de silogismo (premissa verdadeira maior +


premissa verdadeira menor = conclusão
verdadeira) no qual falta ou está implícita
uma das premissas.
 Exemplo: “João está tossindo, logo está doente.”
 Este silogismo elidiu a segunda premissa “todos os
que tossem estão doentes”.

O entimema é um silogismo derivado


Entimema na Política
É uma forma de argumento dedutivo que permite, no
domínio dos discursos públicos, demonstrar ou provar
uma proposição a partir de premissas sempre ou quase
sempre prováveis.

 Essas premissas originam-se de dois tipos de dados:


probabilidades e sinais.

O deputado XXXXXX é honesto,


seu nome não está na lista da Lava Jato.
Entimema Exemplo

 Argumento dedutivo  Argumento indutivo do


 Baseado em probabili- particular para o geral
dades e sinais  Baseado em fatos pas-
 Premissas prováveis sados ou histórias
(não se tem certeza de criadas pelo orador
que são verdadeiras) (ex.: parábolas e fá-
 Conclusão apenas pro- bulas)
vável
Trabalharemos dedução e indução ao tratar de
Teoria da argumentação
MODELO ENTIMEMÁTICO:
Primeiro silogismos ausente
Premissa maior É preciso deixar para seus filhos um nome honrado.
ausente
A condenação que pesa sobre Freud desonra seu
nome.
Premissa menor
Trata-se da honra de um nome... [...] que nossos filhos
tenham [...] de baixar a cabeça.
Logo, é preciso lançar a luz sobre o processo que
engendra essa condenação.
Conclusão 1
É preciso que se faça luz plena e inteiramente sobre
essa trágica história.
Logo, Lúcia deve fazer de tudo para reestabelecer a
verdade e devolver, assim, um nome honrado aos filhos.
Conclusão 2
Nada, nesse sentido, deve te desencorajar, nem te
desanimar
(AMOSSY, 2020, p.150)
MODELO ENTIMEMÁTICO:
Segundo silogismos ausente

Uma mãe que luta por suas crianças é sempre bem


recebida.

Premissa maior
Todas as portas se abrem, todos os corações batem
diante de uma mãe que só pede a verdade para que
suas crianças possam viver

Premissa menor Lucie, ao pedir que se esclareça o processo da traição,


ausente é uma mãe que luta por seus filhos.

Logo, o seu pedido para esclarecer o processo será


Conclusão
bem recebido

(AMOSSY, 2020, p.151)


TEOREMA TRIDIMENSIONAL
DA ARGUMENTAÇÃO
 Baseia-se em três pilares:
1 O ETHOS ou caráter do orador deriva da
força/habilidade de manipulação da palavra que o
locutor faz ao argumentar. Para Aristóteles, a opinião
que o auditório tem sobre o orador é menos relevante
que a habilidade referida.
2 O PATHOS ou a sensibilidade emocional do
alocutário/auditório atua como uma sintonia fina com
os argumentos do orador e sofre influências (ruídos)
de crenças e opiniões fossilizadas nos mesmos.
3 O LOGOS ou o argumento consiste no discurso que
orbita o domínio da razão e atua mais diretamente no
convencimento.
O ethos (caráter do enunciador)
 Muitasvezes o auditório se deixa persuadir mais
pela imagem que faz do orador (por aquilo que
pensa ser o seu caráter) do que pelos seus
argumentos.

 Essa imagem é, geralmente, resultante da


manipulação/operação do discurso pelo orador, e
não de aspectos anteriores ou exteriores a esse
discurso.

 Parapersuadir, o orador deve inspirar confiança no


auditório: o orador é o argumento primeiro.
(MARDEM, 2021).
O pathos (espírito do auditório)
O mundo interior e a reflexão de cada indivíduo têm um
auditório social próprio bem estabelecido, em cuja
atmosfera se constroem suas deduções interiores, suas
motivações, apreciações, etc. Quanto mais aculturado
for o indivíduo, mais o auditório em questão se
aproximará do auditório médio da criação ideológica,
mas em todo caso o interlocutor ideal não pode
ultrapassar as fronteiras de uma classe e de uma época
bem definidas. (BAKHTIN, Marxismo e filosofia da linguagem.
São Paulo: Hucitec, 1979, pp.98-99)
Muitas vezes o auditório se deixa persuadir
mais pela imagem que faz do orador (por
aquilo que pensa ser o seu caráter) do que
pelos seus argumentos.

Essa imagem é, geralmente, resultante do


discurso do orador, e não de aspectos
anteriores e exteriores a esse discurso.
Para persuadir, o orador deve inspirar
confiança no auditório.
O pathos (espírito do auditório)
 Argumentar bem implica em cartografar o auditório,
suas disposições e convicções fossilizadas, os pontos
de inflexão (negociação da opinião) sensível.

 Aristóteles chega a discutir sobre as paixões que


comovem o auditório a que o orador se dirige, no
segundo livro da Arte retórica.

 Para o romano Cícero, o orador deveria deter uma


sagacidade de percepção sobre as preconcepções do
auditório e evitar contradizê-las.
RAZÃO ARGUMENTATIVA
ARISTOTÉLICA
 Aristótelesclassifica o modus operandi dos
silogismos retóricos segundo dois modos de
raciocínio:
1 RACIOCÍNIOS LÓGICOS: objetivam o
convencimento, a persuasão do alocutário / auditório.
Nos silogismos, as conclusões dependem da validade
e encadeamento lógico das premissas.
 Ex.: A vida depende de água. Maria está viva. Logo,
Maria depende de água. (Verdadeiro)
 Ex.: A vida depende de água. José é neto de Maria.
Maria depende de água. (Falso)
RAZÃO ARGUMENTATIVA
ARISTOTÉLICA
 Aristótelesclassifica o modus operandi dos
silogismos retóricos segundo dois modos de
raciocínio:
2 RACIOCÍNIOS PREFERÍVEIS: objetivam mais a
comoção, a mobilização dos sentimentos que a
persuasão ou convencimento do alocutário / auditório.
Nos silogismos, as conclusões ligam-se às premissas
por probabilidade, suposição, ou conhecimento
compartilhado.
 Ex.: O Sol nasceu. A noite acabou. (Verdadeiro)
 A premissa de que o Sol é brilhante e ilumina a Terra
sofre elisão por conhecimento compartilhado.
FALÁCIA OU PARALOGISMO
 Embora a falácia tenha poder de persuasão, é, na verdade,
um erro, proposital ou não, de argumentação ou de
raciocínio.
 Exemplo: argumentum ad hominem: critíca-se o
argumento como forma de crítica ao argumentador.
“Nunca foi prefeito. Agora quer ser governador.”.
 Exemplo: argumentum ad misericordiam: ao argumentar,
apela-se à misericórdia do alocutário. O filho que bateu o
carro do pai sem permissão para dirigir argumenta “mas
eu estava indo para a escola e estava atrasado para a
prova”. O argumento é uma premissa contraditória, ou
em rota de fuga com a premissa anterior do acidente por
dirigir apressadamente sem permissão. A misericórdia
aqui é uma falácia.
FALÁCIA OU PARALOGISMO

Para Fiorin, todavia, não existe


falácia argumentativa. Elas
podem até usar de má fé mas
são válidas se alcançarem o
propósito argumentativo da
persuasão.
https://player.vimeo.com/video/256207229

O AMOR É UMA FALÁCIA


sylviabbott/ufrn

https://blogreflexoes.wixsite.com/reflexoes/single-post/2015/08/03/n%C3%A3o-cometer%C3%A1s-nenhuma-dessas-24-
fal%C3%A1cias-l%C3%B3gicas
Paralogismos Frequentes
de Copi e Burgess-Jackson (1992, p.99-162)
 Equívoco: Apoia-se em uma ambiguidade. “O poder tende a
corromper” (premissa maior). “O saber é um poder” (premissa
menor). Portanto, “o saber tende a corromper” (conclusão).
 Círculo vicioso: apresenta a conclusão como se fosse uma
premissa. Seria o argumento proposto a um ateu. “Deus existe
porque a Bíblia o afirma, e deve-se acreditar na Bíblia porque é
a palavra de Deus.”.
 Questão complexa: contém pressupostos que já apresentam
uma conclusão. “Quando você decidiu matar sua mulher?”.
 Falsa dicotomia: ou...ou. “É preciso aumentar os impostos ou
baixa-los.” Na verdade os impostos não precisariam ser
modificados. A dicotomia foi criada artificialmente pela falácia
argumentativa.
Paralogismos Frequentes
de Copi e Burgess-Jackson (1992, p.99-162)
 Não pertinência: consiste em distrair o auditório para afastá-lo
do ponto discutido.
 Espantalho: ataca-se o adversário acerca de um argumento
sobre o qual não se tem o conhecimento adequado.
 Divisão: transfere-se uma propriedade exclusiva do todo a um
elemento unitário quando isso não é possível. “Meu carro é
pesado, portanto cada uma das peças que o compõem é
pesada.”. “Cada membro da equipe é um bom jogador, portanto
a equipe é boa.”.
 Generalização abusiva.
 Falsa causalidade: post hoc ergo propter hoc.
 Descida escorregadia: “Se permitimo a um jovem fumar,
permitiremos sair tarde, beber e não se levantar para trabalhar.”.
Se A, então B e C poderiam ser deduzidos.
Paralogismos Frequentes
de Copi e Burgess-Jackson (1992, p.99-162)
 Falácias ad hominem: atacam o homem
 Falácias ad veredictum: apelo ao argumento de
autoridade ou respeito que se tem por uma pessoa
importante para endossar o argumento.
 Falácias ad ignorantium: argumenta-se que a coisa é
verdadeira por não ter sido demonstrada sua falsidade.
 Falácias ad populum: apela-se a multidão (sentimento e
apoio das massas) para validar um argumento insólito.
 Falácias ad misericordiam: apelo à piedade, à
compaixão do alocutário.
 Falácias ad baculum: argumento sustentado pela
ameaça ou possibilidade de violência.
argumentum ad hominem

https://www.youtube.com/watch?v=rouzWOcXo-w
 Ainda para Aristóteles, a
essência da retórica é a ARTE
DA CONTROVÉRSIA.

 Devido ao caráter utilitário que


o filósofo vê na retórica,
contrariamente aos sofistas, a
retórica não deve ser um
instrumento de poder mas de
defesa ou resistência.
Leis

Testemunhos
Não técnicas
Contratos

Confissões
sob tortura
Provas
Argumentativas
Entimema
Logos
Exemplo
Técnicas Ethos

Pathos
Partes da retórica
 A invenção: descoberta e concepção dos argumentos
(topoi argumentativos) mais apropriados à tese que se
quer defender.
 A disposição: determinação da forma como os
argumentos devem estar ordenados no discurso
(exórdio, narração, confirmação ou prova, refutação e
peroração ou epílogo).
 A elocução: redação e estilo do discurso (simples,
médio e elevado) centrados em duas questões
essenciais: clareza de expressão e ornamento.
 A memória: os longos discursos exigiam memorização,
que é considerada, por uns, como técnica e, por outros,
como aptidão.
 A ação: pronunciação efetiva do discurso.
PREMISSAS E PROVAS
CORRELATIVAS
1.1.2 A retórica latina
 Período latino

 Séc. I a. C: adesão dos romanos (influência da cultura grega)

 Período de florescimento do discurso forense, quando a


retórica desfruta de grande prestígio.

“[...] o que poderia ser mais régio, mais liberal, mais nobre do
que a arte retórica, a arte que nos faculta conceder súplicas,
animar os aflitos, garantir a segurança, libertar as pessoas do
perigo e mantê-las em estado civilizado?”
(CÍCERO apud PINTO, 2006, p. 94)
Grandes oradores romanos que
escreveram obras sobre retórica

Cícero (106 a.C.- 43 a.C.), estadista, orador e filósofo romano,


preocupou-se com a reconstrução histórica da retórica
clássica: a eloquência é ao mesmo tempo saber e palavra,
devendo esse saber estar adaptado pela arte oratória às
circunstâncias e aos homens de cada época (Orator [Sobre o
orador], Brutus).

Quintiliano (35-95 d. C.), advogado, orador e professor de


retórica romano, dedicou-se ao ensino dessa disciplina:
escreveu Institutio Oratoria, manual de retórica e tratado de
educação: homem ideal = orador (fundamento do
humanismo).
Decadência da Retórica
 Início da decadência da retórica: na época dos
imperadores, houve perda da liberdade, fazendo com
que a eloquência política também perdesse a sua
importância (retrocesso do discurso forense em razão
da ausência de processos públicos) (BARILLI, 1985).

 Queda do Império romano: mesmo sobrevivendo como


prática, a retórica não era mais considerada como
objeto de estudo.
Idade média
 Advento do cristianismo: a força da
verdade das Sagradas Escrituras
dispensando os tecnicismos da retórica

 Agostinho e Tomás de Aquino:


reafirmação da retórica como condição
menor em relação à dialética
Renascimento

Mona Lisa, pintura de Leonardo da Vinci, 1506.


http://www.infoescola.com/artes/renascimento-italiano/
 Desvalorização da retórica: retorno da corrente
platônica

 Separação entre a dialética, arte de


argumentação, e a retórica, reduzida ao
estudo dos meios de expressão ornados e
agradáveis, em suma, à elocução
René Descartes., 1596-1650
Pintura de Frans Hals (entre 1649-1700)

Idade moderna
http://www.infoescola.com/filosofos/rene-descartes/
 Condenação da retórica: anteparo artificial entre o
espírito e a verdade.
 Declínio da retórica: tendência agravada pelo
predomínio do pensamento cartesiano-positivista na
filosofia e na ciência moderna.
 Retórica: rejeitada pelo positivismo, em nome da
verdade científica; pelo romantismo, em nome da
sinceridade; pelo racionalismo, em nome das “noções
claras e distintas”.
 Descartes, Pascal, Leibniz, Bacon, Vico
 Para os racionalistas, as verdades são tão evidentes e
claras que não há necessidade de se perder tempo com
argumentos, destinados a convencer o interlocutor de
"nossas" verdades, especialmente o juiz.
 1885: desaparecimento da retórica no ensino francês.
1.2 A retórica moderna /
contemporânea
Reabilitação da retórica

 Da Idade Média ao século XX, ocorreram vários


ressurgimentos cíclicos da retórica, mas eles não
conseguiram recuperar sua dignidade intelectual.

 No século XX, começa a se esboçar uma


corrente filosófica e acadêmica (filosofia da
linguagem e filosofia dos valores) com o intuito
de recuperar a dignidade dessa forma de
conhecimento tão antiga e tão intimamente ligada
à história da humanidade.
Chaïm Perelman,
jurista, filósofo da linguagem.
(1912-1984)

A NOVA RETÓRICA
Movimento da “nova
retórica” (heterogêneo)
(Final dos anos 1950 e início da década de 1960)

 Grupo µ e Roland Barthes, defensores de uma


corrente de tendência literária que reduzia a retórica ao
conhecimento das figuras de estilo

 Chaïm Perelman e Lucie Olbrechts-Tyteca, defensores


da chamada “nova retórica” (1958), movimento neo-
aristotélico que se incumbe de restaurar, renovando, a
dialética de Aristóteles, mas sob o nome de retórica →
princípios das práticas de argumentação persuasiva
Tratado de argumentação:
uma nova retórica (1958)

Em todos os campos do conhecimento nos quais


ocorre controvérsia de opiniões − a filosofia, a
moral, o direito etc. −, recorre-se a técnicas
argumentativas; a dialética e a retórica são
utilizadas como instrumentos para se chegar a
um acordo sobre os valores e sua aplicação.
Demonstração x argumentação
 Consequência da desvalorização da
dialética e da retórica por Descartes e
pelos lógicos de formação matemática
(séc. XIX)

Negação da razão prática e a impossibilidade da


constituição de uma filosofia moral, de uma
filosofia política e de uma filosofia do direito

 Solução para o impasse com que


Perelman se defronta: constituir uma
lógica dos juízos de valor
A lógica do preferível

 Não importa descobrir a verdade, mas


estabelecer o que é preferível utilizando-
se um método que não consiste mais em
deduções ou induções corretas, mas em
quaisquer argumentos por intermédio dos
quais se visa provocar e ganhar a adesão
do auditório às teses que lhe são
apresentadas.
sylviabbott/ufrn
Pontos de partida para a
argumentação

 Fatos e verdades (objetivos, mas contestáveis)


 Presunções (pressupostos razoáveis, mas
contestáveis por fatos)
 Valores(positivos e negativos, abstratos e
concretos)
 Lugares do preferível (comuns e específicos)
Auditório

Particular Universal
 Variedade infinita  Constituído por todos
aqueles que são capazes
 Constituído por um único de seguir uma
indivíduo ou um grupo argumentação
restrito de pessoas  O acordo determina o que
é verdade objetiva

Discurso persuasivo: Discurso convincente:


premissas - argumentos premissas - argumentos
adequados a esse auditório universalizáveis
Eficácia da argumentação
A eficácia da argumentação depende de uma
série de fatores:
• do efeito de argumentos isolados;
• da totalidade do discurso;
• dos argumentos que possam ocorrer
espontaneamente no espírito de quem ouve o
discurso;
• do ethos do orador;
• do interesse e da benevolência do auditório;
• da disposição/ordenação dos argumentos.
“O objetivo de toda argumentação é provocar ou
aumentar a adesão dos espíritos às teses que se
apresentam a seu assentimento: uma argumentação
eficaz é a que consegue aumentar essa intensidade
de adesão, de forma que se desencadeie nos
ouvintes a ação pretendida (ação positiva ou
abstenção) ou, pelo menos, crie neles uma disposição
para a ação, que se manifestará no momento
oportuno.”

(PERELMAN, 1996, p. 50)


RETÓRICA
TEORIA DA ARGUMENTAÇÃO
 Do ponto de vista retórico, a argumentação é
entendida como o conjunto de estratégias que
organizam o discurso persuasivo.

“A teoria da argumentação – conhecida como a Retórica dos


nossos dias, profundamente vinculada ao saber de nossos
antepassados culturais – pode conduzir a uma posição de
dialogicidade, que não anularia as subjetividades, mas
dialeticamente as incorporaria em sua trajetória, valendo-se delas
para chegar à construção de novos saberes, novas atitudes, na
construção de uma sociedade mais democrática.”
(MOSCA, 2006)
Correntes de estudos sobre
argumentação
(a retórica dos nossos dias)

 Teoria dos atos de fala: Searle e Austin


(pragmática linguística de Oxford)
 Teoria da conversação: Grice
 Pragmadialética: Van Eemeren e
Grotendorst
 Teoria da argumentação: Michel Meyer
 Argumentação e análise da conversação:
Moeschler, Roulet (escola de Genebra)
 Pragmáticalinguística integrada à língua: Anscombre e
Ducrot (semântica argumentativa)
 Pragmática sociológica e filosófica do “agir
comunicativo”: Habermas
 Lógica
pragmática: Vignaux, Grize; Borel (escola de
Nêuchatel)
 Argumentação e interação: Christian Plantin e Catherine
Kerbrat-Orecchioni
 Retórica integrada: Olivier Reboul e Ruth Amossy
Argumentação e inferência
 Inferência lógica
 Dedução: na inferência dedutiva parte-se de uma
premissa geral para formar uma conclusão. “Quem
nasce em Salvador é soteropolitano.”. “Raquel nasceu
em Salvador.”. “Raquel é soteropolitana.”. Os critérios de
validade da dedução são os mesmos do silogismo
perfeito: premissas verdadeiras produzem uma
conclusão verdadeira, também chamada de coerência.
 Indução: neste caso, não se elabora uma consequência
lógica entre as premissas mas apenas uma previsão ou
probabilidade. A indução apresenta maior potencial de
erro que a dedução mas também um caráter
maximizador. “O gato nunca arranhou o sofá.”. “O gato
subiu no sofá.”. “O gato arranhará o sofá.”.
Argumentação e inferência
 Inferência lógica
 Dedução
 Indução
 Abdução: ou retrodução, assim como a indução,
elabora uma probabilidade mas de natureza
explicativa.
 Exemplo: 1) “Mônica chegou hoje ao trabalho
com sono.” 2) “Mônica fez aniversário ontem.”
3) Mônica dormiu pouco porque esteve
aproveitando a festa de seu aniversário.”
Argumentação e inferência
 Inferência semântica: implicaturas geradas por
expressões linguísticas, pelo contexto, pela situação
comunicativa e pela doxa. Além dos conteúdos postos
(conhecidos), a inferência semântica refere-se aos
implícitos, pressupostos e subentendidos.
 No texto “Os ônibus continuam lotados.”, a lotação
atual é um conteúdo posto mas o verbo “continuam”
desvela o conteúdo pressuposto de que os ônibus
estavam lotados no passado.
 Os subentendidos são construções que permitem ao
locutor ocultar sua responsabilidade objetiva pela
interpretação profunda do enunciatário. “Ela é muito
inteligente apesar de ser mulher.”.
Argumentação e inferência
 Inferência pragmática: resulta do emprego
dos quatro princípios conversacionais de
Grice.
 Quantidade de informação adequada.
 Veracidade e qualidade da contribuição.
 Pertinência da contribuição ao assunto
tratado.
 Maneira (Clareza, linearidade lógica, força
sintética, encadeamento).
Tipos de argumentos
(PERELMAN; OLBRECHTS-TYTECA, 1996)

Quase lógicos

Fundados na
Argumentos estrutura do
real
Fundam a
estrutura do
real
2 CONSIDERAÇÕES
FINAIS
Funções da retórica:
(MOSCA, 2004, p. 49-51)
• suscitar o comentário, a discussão e, portanto, a argumentação;
• inocular a dúvida, levando à reflexão crítica;
• conhecer os modos de organização retórica dos gêneros em
determinada cultura;
• examinar criticamente a argumentação e os apelos do interlocutor, suas
propostas e contrapropostas, explicações e justificativas;
• enriquecer a visão de mundo pela diversidade de confrontos e colaborar
para a construção de um pluralismo fundamentado numa lógica dos
valores;
• estabelecer o diálogo na busca do verossímil (valor heurístico);
• estruturar, por meio da argumentação, toda troca comunicativa;
• levar ao posicionamento diante das situações de conflito e,
consequentemente, à tomada de decisões e à busca de soluções.
“A retórica em si mesma é neutra, podendo ser
mal ou bem usada. A única forma de alertar para
o potencial lesivo da retórica e evitar que ela
cause danos às pessoas é levar ao conhecimento
do maior número de pessoas as técnicas
argumentativas e esperar que, com isso, sejam
evitados os efeitos nefastos que a retórica pode
causar e de cujos exemplos a História está
cheia.”
(PACHECO, 1997)
Referências
ABREU, Antônio Suárez. A arte de argumentar: gerenciando razão e emoção. Cotia: Ateliê Editorial, 2004.
ALLEN, Steve. Falácias lógicas: as 59 falácias lógicas mais poderosas. [Livro digital]. CreateSpace: Amazon, 2017.
AMOSSY, Ruth. A argumentação no discurso. São Paulo: Contexto, 2020.
ARAÚJO, Inês Lacerda. Do signo ao discurso: introdução à filosofia da linguagem. São Paulo: Parábola Editorial, 2004. pp.19-142.
ARISTÓTELES. Retórica. [Livro digital]. São Paulo: Edipro, 2019.
AUGUSTINE. De doctrina christiana. (Org. by GREEN, R.). [eBook] Oxford/Glasgow: Clarendon Press, 1996.
BARILLI, Renato. Retórica. Lisboa: Presença, 1985.
CÍCERO, Marcus Tullius. Retórica a Herênio. São Paulo: Editora Hedra, 2005.
DUMONT, Jean-Paul. Górgias. In: HUISMAN, Denis (dir.). Dicionário dos filósofos. São Paulo: Martins Fontes, 2004. p. 445-449.
FIORIN, José Luiz. Argumentação. São Paulo: Contexto, 2018.
LARAIA, R. de B. Cultura: um conceito antropológico. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2001. (Obs.: livro repleto de exemplos e citações
linguísticas).
MARQUES, Regina. Retórica e argumentação: origens e territórios de acção. Rêthorikê, mar. 2008. Disponível em:
http://www.rhetorike.ubi.pt/00/index.html. Acesso em: 18 nov. 2010.
MARTINS, Helena. Três caminhos na filosofia da linguagem. IN: MUSSALIM, F; BENTES, A. C. (org.) Introdução à linguística vol. 3:
fundamentos epistemológicos. São Paulo: Cortez, 2005.
MOSCA, Lineide Lago Salvador. A atualidade da Retórica e seus estudos: encontros e desencontros. Congresso virtual da Universidade de
Lisboa, 1, 2006, Lisboa. In: Actas do... Lisboa: DLR (Departamento de Literaturas Românicas), 2005.
MOSCA, Lineide Lago Salvador. Velhas e novas retóricas: convergências e desdobramentos. In: MOSCA, Lineide do Lago Salvador (org.).
Retóricas de ontem e de hoje. 3. ed. São Paulo: Associação Editorial Humanitas, 2004. p.17-54.
PACHECO, Gustavo de Britto Freire. Retórica e nova retórica: a tradição grega e a teoria da argumentação de Chaïm Perelman. Disponível
em: http://www.puc-rio-br/sobrepuc/deptp/direito/pet_jur/textos/c1gpache.doc . Acesso em: 16 ago. 2010.
PACHECO, Gustavo de Britto Freire. Retórica e nova Retórica: a tradição grega e a teoria da argumentação de Chaïm Perelman. Cadernos
PET-JUR/PUC-RIO, Rio de Janeiro, p. 27-47, 1997.Disponível em: http://www.egov.ufsc.br/portal/sites/default/files/anexos/25334-25336-1-
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PERELMAN, Chaïm; OLBRECHTS-TYTECA, Lucie. Tratado da argumentação. A nova retórica. São Paulo, Martins Fontes, 1996.
PINTO, Fabiana Magalhães. O discurso humanista de Erasmo. 2006.Tese de doutorado - Departamento de História, Pontifícia
Universidade Católica, Rio de Janeiro, 2006.
REBOUL, Olivier. Introdução à retórica. São Paulo: Martins Fontes, 1998.
ROHDEN, Luiz. O poder da linguagem: a Arte Retórica de Aristóteles. 2. ed. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2010. (Coleção Filosofia, 54)
WEINREICH, U. Languages in contact. The Hague: Mouton, 1964.

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