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E-ISSN: 2176-9893
nonada@uniritter.edu.br
Laureate International Universities
Brasil
Gomes, Lauro
ESTILO E ENUNCIAÇÃO NA LINGUAGEM: INTERSEÇÕES E DISTANCIAMENTOS
ENTRE A ESTILÍSTICA DE CHARLES BALLY E A TEORIA DIALÓGICA DE MIKHAIL
BAKHTIN
Nonada: Letras em Revista, vol. 1, núm. 28, mayo, 2017, pp. 120-134
Laureate International Universities
Porto Alegre, Brasil
Lauro Gomes1
ABSTRACT: This paper presents the main intersections and distances between Charles Bally's
stylistics of language and Mikhail Bakhtin's dialogical theory regarding the notions of style and
enunciation. Considering the lack of studies that rescue the epistemological-enunciative
potential of these two perspectives of language, we hope to contribute with the academic
community in the area of Language, especially with those interested in stylistics and /or
enunciation.
Introdução
1
Doutorando em Linguística e Letras pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul
(PUCRS). Bolsista integral do CNPq. E-mail: lauro.gomes.001@acad.pucrs.br.
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antes da época do papel e da pena de ganso. Isso pode inicialmente parecer uma
simples lembrança etimológica, mas já daí se pode verificar que o estilo está
diretamente associado a uma marca do homem. Por isso, note-se que pensar o
estilo − e, mais do que isso, a enunciação na linguagem − significa não só
conceber marcas identitárias (como fossem marcas de um estilete) deixadas pelo
homem, mas também reconhecer a presença do próprio homem na linguagem. Nas
palavras de Fiorin,
A palavra estilo tem uma utilização bastante ampla. Usa-se esse termo
para falar de um escritor (o estilo de Vieira, de Camões, de Alencar, de
Machado de Assis), de uma « escola » artística (o estilo barroco, o
estilo romântico, o estilo dos impressionistas), de um criador qualquer
(o estilo de Chanel, o estilo de Portinari), de uma época (o estilo dos
anos sessenta), de um tipo de linguagem (o estilo jurídico, o estilo
diplomático), de uma atividade humana qualquer (o estilo de governar
do Presidente Fernando Henrique). (FIORIN, 2000, p. 40, grifo do
autor).
3
Toute énonciation de la pensée par la langue est conditionnée logiquement, psychologiquement et
linguistiquement. Ces trois aspects ne se recouvrent qu'en partie; leur rôle respectif est très variable et
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très diversement conscient dans les réalisations de la parole. L'analyse permet cependant de les retrouver
par un jeu d'associations spontanées, soit discursives, soit mémorielles, mais toujours synchroniques, propres
à un même état de langue; ces associations permettent de découvrir les équivalences fonctionnelles qui sont à
la base de tout système linguistique.
4
La phrase est la forme la plus simple possible de la communication d'une pensée. (BALLY, 1965, p. 35,
tradução nossa).
5
Si la structure sémantique d'une phrase est toujours du type « Modus (= sujeito modal + verbo modal) +
dictum », la configuration signifiante peut réaliser plus ou moins explicitement cette structure.
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Bally dedica à memória de Ferdinand de Saussure dois dos seus livros mais importantes, Traité de
stylistique française v.1 (1909) e El lenguaje y la vida (1913).
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que o estudo da estilística apenas será correto e eficaz se também levar em conta a
natureza do gênero dos estilos linguísticos e caso seja baseado no estudo prévio
das modalidades de gêneros discursivos. Daí sua crítica mais explícita à
estilística de Bally − considerando-a fraca (p. 266) − por não levar em conta toda
essa base enunciativa dos gêneros, necessária ao estudo tanto dos estilos
individuais quanto dos da língua.
No texto A palavra na vida e na poesia, Volochínov (2012, p. 178) contrapõe-
se ao célebre enunciado segundo o qual "O estilo é o homem"10, afirmando que "o
estilo é pelo menos duas pessoas ou, mais precisamente, uma pessoa mais seu
grupo social na forma do seu representante autorizado, o ouvinte". Nessa
perspectiva, o estilo deve, portanto, ser entendido como o falante (autor) e o
ouvinte (leitor). Assume-se também, com isso, a tese de que as próprias emoções
individuais − (p. 165) em virtude do fato de acompanharem o tom básico da
avaliação social − surgem como sobretons.
Contrastando-se também o fenômeno estilístico com o gramatical,
11
Respectivamente, Exame Nacional do Ensino Médio e Exame Nacional do Desempenho dos Estudantes.
12
Programme for International Student Assessment (Pisa) - Programa Internacional de Avaliação de
Estudantes.
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Conclusão
Referências