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Letras Português - Introdução à Produção de Texto

Unidade 1
Gêneros textuais: definição e
funcionalidade

1.1 Introdução
Começaremos agora os nossos estudos. Você, em poucos segundos, estará diante da primei-
ra unidade da disciplina “Introdução à Produção de Texto”.
Boas leituras!
Temos como objetivo principal proporcionar a você conhecimentos que o façam reconhecer
e diferenciar os tipos e gêneros textuais.
Você verá que o contato com diversos tipos e gêneros textuais permitirá que se chegue ao
domínio da escrita. Compreenderá que é necessário situar o texto no seu contexto pragmático
de produção, recepção e interpretação. As discussões sobre as práticas
de produção de texto levarão a compreender as relações autor/texto/
leitor e suas consequências na produção de diferentes práticas discursi-
vas e diferentes gêneros discursivos.
Como já foi apresentado, a primeira unidade, “Gêneros Textuais:
Definição e Funcionalidade”, está organizada com as seguintes seções:
Gêneros textuais e as práticas sócio-históricas; Distinção entre tipo e gê-
nero textual; Gêneros textuais e a prática de sala de aula.
Luiz Antônio Marcuschi é Doutor em Filosofia da Linguagem
(1976) e Pós-doutor em problemas de língua escrita e oral (1987), am-
bos na Alemanha. É Professor Titular em Linguística do Departamento
de Letras da UFPE, onde iniciou suas atividades em julho de 1976, lecio-
nando na Graduação e na Pós-Graduação. Na UFPE, criou o Núcleo de
Estudos Linguísticos da Fala e Escrita (NELFE). É um dos fundadores da ANPOLL e presidente de ▲
1988 a 1990. Membro de várias associações científicas nacionais e internacionais no âmbito da Figura 1: Luiz Antônio
linguagem. Pesquisador IA do CNPq, foi, por várias vezes, representante de área tanto no CNPq Marcuschi
quanto na CAPES. Possui uma vasta publicação entre artigos e livros, sendo muito deles pionei- Fonte: Disponível em
<http://www.google.com.
ros na área da Linguística. Pela editora Lucerna é autor das seguintes obras: ‘O livro didático de br/imgres> Acesso em 15
Português: múltiplos olhares’; ‘Gêneros Textuais e Ensino’; ‘Hipertexto e Gêneros Digitais’; e ‘Gêne- maio 2013.
ros Textuais: reflexões e ensino’.
Entre as contribuições teóricas do texto a seguir, é importante destacar que, embora o con-
junto dos gêneros seja tido como infinito e mutável, há aqui um esforço para criar campo e ter-
minologia comuns.
Assim, na primeira unidade, “Gêneros textuais: definição e funcionalidade”, apresentamos
contribuições de enorme relevância do autor Luiz Antônio Marcuschi.
Ele nos apresenta várias conceituações relevantes no campo e levanta argumentos para di-
ferenciar tipo textual de gênero textual, duas noções que, para ele, devem ser distinguidas, pois
sua confusão, segundo Ângela Kleiman:

pode esvaziar a noção de gênero textual da sua carga sociocultural, histo-


ricamente construída, ferramenta essencial, para alguns, na socialização do
aluno, via linguagem escrita. Esse rigor descritivo deveria dificultar uma com-
preensão equivocada do conceito de gênero no contexto escolar, que, por
exemplo, limitasse o ensino dos gêneros aos seus aspectos meramente estru-
turais ou que, para dar outro exemplo, ignorasse o fato de que a construção
dos gêneros valorizados da escrita está assentada nos gêneros da oralidade
(KLEIMAN, 2007, p.8).

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Você não pode esquecer-se de que as questões sugeridas junto ao texto são
fundamentais para a sua compreensão.
Nasceu no Chile. É professora titular do Instituto de Estudos da Linguagem
(I E L) da Unicamp . Licenciada em pedagogia e inglês pela Universidad de Chile-
-Santiago em 1967, obteve o mestrado e o doutorado na University of Illinois-EUA,
além do pós-doutorado em Linguistic Society of America Summer School na Uni-
versity of Illinois; em Foreign Languages Department, Georgia Institute of Tech-
nology e Reading Department pela University of Athens; no Center for the Study
of Reading pela University of Illinois; e em Linguistic Society of America, Summer
School, University of California. Foi master of arts in Tesl, University of Illinois em
1969, Ph.D in Linguistics pela University of Illinois em 1974 e teacher certificate
pela State of Michigan de 1974 a 1980. Coordenou o Centro de Linguística Aplica-
da do IEL em 1980. Implantou os cursos de espanhol, hebraico moderno e japonês
no Centro de Linguística Aplicada.

Figura 2: Angela Del

1.2 Gêneros textuais e as práticas


Carmen Bustos Romero
de Kleiman.
Fonte: Disponível em

sócio-históricas
<http://www.google.com.
br/imgres> acesso em 15
maio 2013.

Segundo Marcuschi (2002) , já se consolidou a ideia de que os gêneros textuais estão inti-
mamente ligados à vida social e cultural, sendo assim considerados fenômenos históricos. Os gê-
neros textuais ajudam a pôr em ordem e a estabilizar a nossa comunicação diária. É importante
termos em mente que eles não são estanques, como podemos observar na seguinte afirmação:

Caracterizam-se como eventos textuais altamente maleáveis, dinâmicos e plás-


ticos. Surgem emparelhados a necessidades e atividades sócio-culturais, bem
como na relação com inovações tecnológicas, o que é facilmente perceptível
ao se considerar a quantidade de gêneros textuais hoje existentes em relação a
sociedades anteriores à comunicação escrita (MARCUSCHI, 2002, p.19).

BOX 1
Nascido em Oriol, localidade a sul de Moscovo, de família
aristocrática em decadência, Mikhail Bakhtin cresceu en-
tre Vínius e Odessa, cidades fronteiriças com grande va-
Figura 3: Mikhail ►
Bakhtin riedade e línguas e culturas. Mais tarde, estudou Filosofia
Fonte: Disponível em <ht- e Letras na Universidade de São Petersburgo, abordando
tps://www.google.com. em profundidade a formação em filosofia alemã. Viveu
br/imagens> acesso em 15 em Leningrado após a vitória da revolução em 1917. En-
maio 2013.
tre os anos 24 e 29 conheceu os principais expoentes do
Formalismo russo e publicou Freudismo (1927), O méto-
do formal nos estudos literários (1928) e Marxismo e Filo-
sofia da Linguagem (1929), sendo esta última talvez a
sua obra mais célebre. Assinada com o nome de seu ami-
go e discípulo Volochínov (1995), só a partir dos anos 70
teve difusão e reconhecimento importantes, e apenas recentemente é que veio a ser confir-
mada a sua autoria (Bakhtin concedeu a atribuição de diversos de seus textos a colegas). Em
1929, foi obrigado ao exílio interno no Cazaquistão acusado de envolvimento em atividades
ilegais ligadas à Igreja Ortodoxa, o que nunca viria a ser demonstrado. Ficaria no Cazaquistão
até 1936.
Seu trabalho é considerado influente na área de teoria literária, crítica literária, sociolin-
guística, análise do discurso e semiótica. Bakhtin é na verdade um filósofo da linguagem e sua
linguística é considerada uma “trans-linguística” porque ela ultrapassa a visão de língua como
sistema. Isso porque, para Bakhtin, não se pode entender a língua isoladamente, mas qual-
quer análise linguística deve incluir fatores extralinguísticos como contexto de fala, a relação
do falante com o ouvinte, momento histórico, etc.

Fonte: WIKIPÉDIA. Acesso em 21 de maio de 2013.

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Letras Português - Introdução à Produção de Texto

Os gêneros multiplicaram-se após o século VII a.C. com a invenção da escrita alfabética.
Nova expansão ocorre a partir do século XV com a cultura impressa e, modernamente, com a
GLOSSÁRIO
chamada “cultura eletrônica”(MARCUSCHI, 2002, p.19) com a TV, celular, computador, rádio, inter- Híbrido: qualidade de
net, etc., observamos o surgimento de diversos gêneros. tudo o que resulta de
elementos de natureza
Portanto, podemos dizer que as novas tecnologias viabilizaram o surgimento destes novos distinta.
gêneros – videoconferências, telefonemas, e-mails, aulas virtuais, programas ao vivo, etc. Tênue: Com pouca
Marcuschi (2002) nos chama a atenção para o fato de que esses gêneros recém-chegados consistência ou espes-
são reformulações ou, recorrendo a Bakhtin (1997), “transmutações” de gêneros já existentes. sura; frágil; delgado; de
Veja a afirmação de Marcuschi a seguir: pouca importância.

Veja-se o caso do telefonema, que apresenta similaridade com a conversação


que lhe pré-existe, mas que, pelo canal telefônico, realiza-se com característi-
cas próprias. Daí a diferença entre uma conversação face a face e um telefo-
nema, com as estratégias que lhe são peculiares. O e-mail (correio eletrônico)
gera mensagens eletrônicas que têm nas cartas (pessoais, comerciais etc.) e Dica
nos bilhetes os seus antecessores (MARCUSCHI, 2002, p.20-21). O Prof. Dr. Luiz Carlos
Travaglia fez seus
Esses gêneros chamados de emergentes pelo autor possuem forma híbrida. E, por isso, fa- estudos superiores na
zem com que os limites entre oralidade e escrita se tornem cada vez mais tênues. Universidade Federal
de Uberlândia (UFU),
Os aspectos formais – estruturais ou linguísticos – não definem os gêneros por si sós. Para Minas Gerais, onde cur-
que seja possível caracterizar os gêneros, é preciso observar os aspectos sociocomunicativos e sou Licenciatura Plena
funcionais, ou seja, a forma, o suporte, a função, o contexto e os interlocutores. em Letras: Português-
-Inglês. Hoje é Professor
de Língua Portuguesa
e Linguística e pesqui-

1.3 Distinção entre tipo e gênero sador do Instituto de


Letras e Linguística da
Universidade Federal

textual de Uberlândia. Foi


professor do ensino
fundamental e médio
por quase duas déca-
das. Mestre em Letras
Para essa subunidade, utilizaremos, além das observações e discussões feitas por Marcuschi (Língua Portuguesa)
(2002), as considerações sobre Gênero Textual e Tipologia Textual feitas por Travaglia (2002). pela Pontifícia Univer-
É de suma importância que o professor de língua portuguesa saiba diferenciar Gênero Tex- sidade Católica do Rio
tual e Tipologia Textual para direcionar o trabalho na leitura, compreensão e produção de textos. de Janeiro (PUC-RJ),
Doutor em Linguísti-
Pretendemos também, neste texto, apresentar algumas considerações sobre questões rela-
ca pela Universidade
tivas ao termo Tipologia Textual. Estadual de Campinas
Acreditamos que o trabalho com a leitura, compreensão e a produção escrita em Língua (UNICAMP), com Pós-
Materna deve ter como objetivo principal o desenvolvimento no aluno de habilidades que façam -Doutorado em Linguís-
com que ele tenha capacidade de usar sempre mais recursos da língua para produzir efeitos de tica pela Universidade
Federal do Rio de
sentido de forma adequada a cada situação específica de interação humana.
Janeiro (UFRJ).
Marcuschi (2002) propõe o trabalho com textos na escola a partir da abordagem do Gênero
Textual. Para ele, o trabalho com a Tipologia Textual traz para o ensino algu-
mas limitações. Por exemplo, ao ensinar narrativa em geral, o professor, em-
bora possa classificar vários textos como sendo narrativos, não contemplaria
as formas diferentes em que eles se concretizam – os gêneros – portadores de
características específicas.
Outros autores, como Luiz Carlos Travaglia, defendem o ensino através da
Tipologia Textual. Para esse autor, os textos são de diferentes tipos e se concre-
tizam através de diferentes modos de interação ou interlocução. Sendo, por-
tanto, o trabalho com os diferentes tipos de texto fundamental para o desen-
volvimento da competência comunicativa dos alunos.
Segundo Travaglia (2002), cada tipo de texto é apropriado para um tipo

de interação ou situação específica. O profissional da educação não pode, pois, apresentar ao
aluno apenas alguns tipos de texto. Dessa forma, faria com que ele só tivesse recursos para co- Figura 4: Luiz Carlos
Travaglia
municar-se em alguns casos, tornando-o incapaz, ou restritamente capaz. Com certeza, o pro-
Fonte: Disponível em
fessor teria que fazer uma avaliação sobre quais tipos de textos seriam mais necessários para os <http://4.bp.blogspot.
alunos, para, a partir daí, iniciar o trabalho. Não deixando, contudo, de apresentá-lo aos demais, com/-Rv2XDkBkaFg/
na medida do possível. UUR49E0vo5I/AAAAAAA-
AI9k/WVjr-3t1vH4/s1600/
Marcuschi (2002) acredita que muitos livros didáticos utilizam, de forma equivocada, o ter- FINAL.jpg > acesso em 21
mo tipo de texto. Na verdade, para ele, nesses casos, a terminologia ou nomenclatura adequada de maio de 2013.

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seria gênero textual ou gênero de texto. O autor, entre outros exemplos, nos diz que não é corre-
to classificar a carta pessoal como um tipo de texto, como observado em alguns livros. Ele afirma
que se trata de um Gênero Textual.
É importante que você saiba que, para o autor, em todos os gêneros os tipos se realizam,
ocorrendo, muitas das vezes, a concretização do mesmo gênero em dois ou mais tipos. Marcus-
chi(2002) apresenta como exemplo uma carta pessoal e nos diz que ela pode apresentar as ti-
pologias descrição, injunção, exposição, narração e argumentação, ao mesmo tempo. Ele chama
essa miscelânea ou mistura de tipos presentes em um gênero de heterogeneidade tipológica.
Veja-se o exemplo:

BOX 2
CARTA PESSOAL

Montes Claros, 30 de julho de 2013.

Saudades
Minha querida irmã, quantas saudades eu sinto de você. Quero matar um pouco escre-
vendo um pouco pra você. Como vão todos aí? Por aqui todos vão bem. Apenas estou passan-
ATIVIDADE do por uma situação muito complicada na minha vida, queria tanto que você estivesse aqui
Faça uma pesquisa e para poder me ajudar.
recolha alguns gêneros Não tem aquele carinha que eu tava saindo, que te disse por telefone, então pronto, con-
comuns no seu dia a tinuamos saindo, só que de um tempo pra cá eu venho notando algo estranho.
dia (pelo menos cinco)
e apresente a seus co- Primeiro percebi algumas feridinhas na minha boca, mas como não doía deixei pra lá, e
legas no ambiente de elas desapareceram. Nesse período fiquei evitando meu parceiro com vergonha, ele podia
aprendizagem, descre- pensar que eu estivesse doente, e não querer nada comigo.
vendo as características Ficava sempre preocupada, sem saber o que seria. Agora, uma novidade que está tirando
de cada um. meu sono, minha menstruação está dez dias atrasada, será que tô grávida?
Mulher estou tão angustiada, queria tanto que você estivesse aqui para me ajudar a re-
solver essa situação.
Minha mãe me mata quando descobrir, e ele? Será que vai pensar o quê? Que foi de pro-
pósito? Como dizer? Será que devo tirar? Como enfrentar essa situação? E aquelas feridinhas o
que seriam elas? Será que sarou?
Só em você eu confio, se fosse você, o que faria? Vou esperar sua cartinha o mais rápido
possível, não deixe de me responder.
Tenha cuidado para ninguém ver e pegar essa carta. Me ajude, por favor.
Com carinho de sua irmã Paula.
Não esqueça de mim. Saudades! Beijos! Te adoro!

Fonte: Elaboração do próprio autor

Percebemos nesse texto uma tensão entre o oral e o escrito, porque podemos considerar a
referida carta como uma produção em transição, quanto à forma, em função do gênero que re-
presenta: por ser carta pessoal, é um tipo de comunicação escrita que permite mais liberdade en-
tre os interlocutores. Trata-se de uma situação em que, mesmo que se utilize a linguagem escrita,
esta não precisa ser enquadrada nas normas da escrita formal.
Nesse sentido, podemos destacar o que consideramos como estrutura de carta pessoal: a
presença de, por exemplo, clichês - “Saudades”-, frases feitas, vocativo - “Minha querida”-, o tom
de intimidade - “quantas saudades eu sinto de você”. São elementos que remetem a um discurso
de apelo emocional.
Com relação às tipologias presentes no texto, podemos observar os seguintes trechos: des-
critivo, “Montes Claros, 30 de julho de 2013”; injuntivo, “Minha querida irmã...” ou “Como vão to-
dos aí?”; narrativo, “Não tem aquele carinha que eu tava saindo, que te disse por telefone, então
pronto, continuamos saindo...”; expositivo, “Apenas estou passando por uma situação muito com-
plicada na minha vida...”, etc.
É visível a presença de uma variedade tipológica no exemplo citado. Você pode pensar en-
tão: como classificar os textos? Quando classificamos um texto, o fazemos pela predominância
dos seus traços linguísticos.
Travaglia (2002) menciona a existência de uma conjugação tipológica. Segundo ele, dificil-
mente são encontrados tipos puros. Em uma bula de remédio, por exemplo, tem-se a presença

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Letras Português - Introdução à Produção de Texto

de várias tipologias, como a descrição e a injunção. O autor afirma que um texto se define como
de um tipo por uma questão de dominância, em função do tipo de comunicação que se preten-
de estabelecer e não em função do espaço ocupado por um tipo na constituição desse texto.
Quando acontece de um texto ter aspecto de um gênero, mas ter sido construído em outro,
Marcuschi (2002) nos fala da presença de uma intertextualidade intergêneros, nesse caso, um gê-
nero assume a função de outro.
Travaglia (2002) nomeia essa mesma ocorrência como um intercâmbio de tipos. Ele afirma
GLOSSÁRIO
que um tipo pode ser usado no lugar de outro tipo de texto, criando determinados efeitos de
sentido não possíveis, na opinião do autor, com outro dado tipo. Para exemplificar, ele fala de Funcionalismo: é uma
descrições e comentários dissertativos feitos através de uma narração. corrente teórica que
tem seu alicerce no
Sintetizando essa questão, Marcuschi (2002) traz as seguintes definições: método de investiga-
• a intertextualidade intergêneros acontece quando um gênero exerce a função de outro; ção do funcionalismo
• a heterogeneidade tipológica ocorre quando temos um gênero com a presença de vários que busca a explicação
tipos. das instituições sociais
• Por sua vez, Travaglia (2002) apresenta a teoria a seguir: e culturais em termos
da sua função social,
• conjugação tipológica constitui-se no momento em que um texto apresenta vários tipos; e contribuição que estas
• intercâmbio de tipos configura-se quando um tipo é usado no lugar de outro. têm para a manuten-
Marcuschi (2002) afirma que os gêneros não são entidades naturais, mas produções cultu- ção da estrutura social
rais construídas historicamente pelo homem. Um gênero, para ele, pode não ter uma determi- (FGV, 1986, p. 500).
nada propriedade e ainda continuar pertencendo àquele gênero. O autor traz, mais uma vez, o
exemplo da carta pessoal. Mesmo que o autor da carta tenha deixado de assiná-la, ela continuará
sendo carta, em função de suas propriedades. Ele diz, em outro exemplo, que um texto publici-
tário pode ter o formato de um poema ou de uma lista de produtos em oferta. O que importa é
que ele esteja fazendo divulgação de produtos e estimulando a compra.
Segundo ele, o termo Tipologia Textual é usado: “para designar uma espécie de sequência Dica
teórica definida pela natureza linguística de sua composição (aspectos lexicais, sintáticos, tem-
pos verbais, relações lógicas)” (MARCUSCHI,2002,p. 22). A sociologia dialética
e crítica Marx utilizou o
Para Gênero Textual, encontramos a definição de uma noção vaga para os textos materiali- método dialético para
zados encontrados no dia a dia e que apresentam características sociocomunicativas definidas explicar as mudanças
pelos conteúdos, propriedades funcionais, estilo e composição característica. importantes ocor-
Apresentaremos, agora, um quadro comparativo produzido por Marcuschi (2002) para que ridas na história da
você visualize melhor a diferença entre tipo e gênero textual. humanidade através
dos tempos. Para
ele, o movimento da
QUADRO 1 - Quadro comparativo do tipo e gênero textual história possui uma
base material, econô-
TIPOS TEXTUAIS GÊNEROS TEXTUAIS
mica e obedece a um
1- Constructos teóricos definidos por 1- Realizações linguísticas concretas definidas por movimento dialético. E
conforme muda esta re-
propriedades linguísticas intrínsecas; propriedades sócio-comunicativas; lação, mudam-se as leis,
2- Constituem sequências linguísticas 2- Constituem textos empiricamente realizados a cultura, a literatura, a
ou sequências de enunciados e não são cumprindo funções em situações comunicativas; educação, as artes.
textos empíricos; 3- Sua nomeação abrange um conjunto aberto Fonte: FGV, 1986, P.723.
3- Sua nomeação abrange um conjunto praticamente ilimitado de designações concretas A sociologia com-
preensiva, proposta
limitado de categorias teóricas determi- pelo canal, estilo, conteúdo, composição e função; por Weber. Para ele,
nadas por aspectos lexicais, sintáticos, 4- Exemplos de gêneros: telefonema, sermão, car- as ciências humanas
relações lógicas e tempo verbal; ta comercial, carta pessoal, romance, bilhete, aula precisam compreender
4- Designações teóricas dos tipos: nar- expositiva, horóscopo, bula de remédio, cardápio, processos da experi-
ração, argumentação, descrição, injun- inquérito policial, bate-papo virtual, piada, edital ência humana que são
vivos, mutáveis, que
ção e exposição. de concurso, resenha, receita culinária, lista de precisam ser interpreta-
compras, outdoor, conferência, etc. das para que se extraia
deles o seu sentido. A
Fonte: Marcuschi (2002)
se fundamenta a análi-
se sociológica.
Tipologia Textual é definida por Travaglia (2002) “como aquilo que pode instaurar um modo Fonte: FGV, 1986,
de interação, uma maneira de interlocução, segundo perspectivas que podem variar”. Ainda de p.1150
acordo com o autor, essas perspectivas podem ligar-se ao produtor do texto em relação à neces-
sidade comunicativa.
Podemos concluir que cada situação comunicativa ou cada necessidade comunicativa
que surja gerará um tipo de texto. Assim, surgirão os tipos descrição, dissertação, injunção e
exposição.

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UAB/Unimontes - 1º Período

Para saber mais O Gênero Textual, segundo Travaglia (2002), caracteriza-se por servir a funções sociais espe-
cíficas que são vivenciadas pelos usuários da língua. Isso equivale dizer que, quando escrevemos,
É possível observar que por exemplo, um e-mail, sabemos que ele poderá funcionar de diferentes maneiras, dependendo
Travaglia (2002) dá ao
gênero uma função so- de como ele será produzido e de que elementos ele é composto. Dessa forma, escrever um e-
cial. Podemos dizer que -mail para um parente ou amigo não é o mesmo que escrever um e-mail para um órgão público,
ele faz a distinção entre pedindo informações sobre qualquer assunto.
Tipologia Textual e Marcuschi (2002) apresenta alguns exemplos de gêneros, mas não destaca sua função so-
Gênero Textual a partir cial. São eles: telefonema, sermão, romance, bilhete, aula expositiva, reunião de condomínio,
dessa característica que
o gênero possui. Mas conferência, piada, etc.
todo texto, indepen- Veja, agora, outros exemplos que se encaixam na definição de gênero.
dente de seu gênero ou
tipo, não exerce uma
função social qualquer?

Figura 5: Capa de ►
revista
Fonte: Disponível em
<https://www.google.
com.br/> acesso em 22
maio 2013.

GLOSSÁRIO
Injunção: É o texto
que, estando aberto,
requer uma resposta
direta (ou indireta) de
quem está lendo. É
construída, a partir da
dadas circunstâncias,
uma situação favorável
à indução do leitor,
à maneira de uma
imposição é organiza-
do de modo a incidir
diretamente sobre os
sentidos: linguagem
instigante, verbos no
imperativo, perguntas
direcionadas, trabalho
com identidade, etc.

Figura 6: Tirinha ►
Fonte: Disponível em
<https://www.google.
com.br/>acesso em 22
maio 2013.

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◄ Figura 7: Charge
Fonte: Disponível em
<http://www.google.
com.br/> acesso em 22
maio 2013.

Travaglia(2002), além de trazer alguns exemplos, mostra o que, na visão dele, seria a função
social básica comum a cada um dos gêneros: aviso, comunicado, edital, informação, informe, ci-
tação (todos com a função social de dar conhecimento a alguém de algo). Com certeza, o e-mail
e a carta estariam nessa lista, levando em consideração que o aviso pode ser dado sob a forma
de uma carta, e-mail ou ofício. Veja o exemplo que, em nossa opinião, também poderia ser en-
quadrado na função de informar.

BOX 3
EXEMPLO:

Para:
Atenção a:
De:
Assunto: Exposição ou feira

Caro Cliente,
A nome da empresa, tradicional ramo de atividade da empresa, tem o prazer de informá-
-lo que nosso estande estará na nome da feira, que será realizada de data a data, no nome do
local, localizado à endereço do local, das hh:mm às hh:mm horas.
Na ocasião V.Sa. poderá conhecer toda a nossa nova linha de produtos e serviços, além
de inteirar-se das novas tendências de mercado.
Esperamos sua visita. Cordialmente, nome cargo

Fonte: Elaboração do próprio autor

Convite/Informativo

O autor prossegue exemplificando e apontando: a petição, o memorial, o requerimento, o


abaixo assinado, desta vez com a função social de pedir, solicitar. Persistimos colocando também:
a carta, o e-mail e o ofício. Nota promissória, termo de compromisso e voto são exemplos de gê-
neros que têm a função de prometer.
É importante observar que os exemplos dados por ele, mesmo os que não foram mostrados
aqui, apresentam função social formal, rígida.
Ele não apresenta exemplos de gêneros que tenham uma função social menos rígida, como
o bilhete.
Marcuschi (2002, p.24) discute, ainda, o conceito de Domínio Discursivo. Segundo ele, “os
domínios discursivos são as grandes esferas da atividade humana em que os textos circulam”. O
autor diz que esses domínios não são nem textos nem discursos, mas dariam origem a discursos
muito específicos.
Eles constituiriam práticas discursivas em que seria possível a identificação de um conjunto
de gêneros que, às vezes, lhes são próprias como práticas ou rotinas comunicativas instituciona-

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lizadas. Como exemplo, ele cita os discursos jornalístico, jurídico e religioso. De cada uma dessas
atividades, jornalística, jurídica e religiosa, originam-se vários gêneros.
Seguindo esse raciocínio, teríamos como exemplo o domínio jornalístico e dele surgiriam os
seguintes gêneros: editoriais, notícias, reportagens, artigos de opinião, entrevistas, etc.

A Justiça Federal ordenou a saída do Exército do morro da Providência, no Rio, acolhendo


um pedido da Defensoria Pública da União. A juíza Regina Carvalho, da 18ª Vara Federal, apontou
“despreparo” e “inabilidade” na atuação da Força. Segundo depoimentos, no sábado três jovens
do morro foram entregues por militares a traficantes de uma favela rival e mortos.

Notícia

Os dois autores, aqui mencionados, apresentam opiniões semelhantes quando falam que
texto e discurso não devem ser encarados como iguais.
Marcuschi (2002, p.24) considera o texto como “uma entidade concreta realizada material-
mente e corporificada em algum gênero textual”. Discurso para ele é “aquilo que um texto pro-
duz ao se manifestar em alguma instância discursiva. O discurso se realiza nos textos” .
Travaglia (2002, p.03) considera o discurso como a “própria atividade comunicativa, a pró-
pria atividade produtora de sentidos para a interação comunicativa, regulada por uma exte-
rioridade sócio-histórica-ideológica”. Texto é o resultado dessa atividade comunicativa. O texto
é visto por ele como “uma unidade linguística concreta que é tomada pelos usuários da língua
em uma situação de interação comunicativa específica, como uma unidade de sentido e como
preenchendo uma função comunicativa reconhecível e reconhecida, independentemente de sua
extensão”.
Travaglia (2002) diz que distingue texto de discurso levando em conta a tipologia de textos,
e não de discursos. Marcuschi (2002) afirma que a definição que apresenta de texto e discurso é
muito mais operacional do que formal.

1.4 Gêneros textuais e a prática de


sala de aula
Para concluir esta unidade, abordaremos agora os gêneros textuais e o ensino.
Alguns autores, de forma especial linguistas, têm se interessado pelas questões de ensino
de língua. Possenti (1996), por exemplo, diz que o papel da escola é ensinar o português padrão,
contanto que se desmistifiquem algumas crenças a respeito do que é uma língua. É preciso que
fique claro que não há língua homogênea, não há língua uniforme, todos os que falam, sabem
falar, etc.
A respeito do que deve ser ensinado, Cagliari (2003, p.101) afirma que “nas escolas de perife-
ria, alguns alunos não participam com empenho do aprendizado da escrita porque acham que a
escola faz o que não lhes interessa e deixa de fazer o que seria útil para eles”.
Sobre o processo da escrita, ele afirma que é preciso ter uma motivação para escrever.
O ensino normalmente está centrado em regras ultrapassadas, em variantes que não são
mais faladas atualmente e que, ainda assim, são solicitadas. A metodologia utilizada pela escola
para que os alunos adquiram a norma padrão é completamente inadequada. Sobre essa afirma-
ção, vejamos o trecho abaixo de Possenti:

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Letras Português - Introdução à Produção de Texto

(...) se ele dá aos alunos exercícios repetitivos (longas cópias, exercícios estru-
turais, preenchimento de espaços vazios etc.), é porque está seguindo (saiba
ou não – daí a importância de ter idéias claras!) uma concepção de aquisição
de conhecimento segundo a qual não há diferenças significativas entre os ho-
mens e os animais em nenhum domínio de aprendizagem ou de comporta- Atividade
mento (Possenti,1996, p. 24).
Será que o estudo da
gramática pode ajudar
De acordo com Possenti (1996, p.20), é necessário que os alunos “leiam produtivamente tex- na aquisição da leitura
tos variados: textos jornalísticos, como colunas de economia, política, educação, textos de divul- e da escrita? Vamos
gação científica em vários campos, textos técnicos”. Pesquisas diversas constataram que os ado- levar a discussão para
lescentes se envolvem com o mundo da leitura e escrita, através de práticas concretas de seu um fórum?
cotidiano: os jogos de computador, pesquisas na Internet para obter informações de jogos, lei-
tura de livros para RPG, conversas por e-mail e, em alguns casos, contato com outros tipos de
gêneros de leitura/escrita por causa de indicações de livros recomendados por amigos. A afirma-
ção de Cagliari deixa claro que “a escola é talvez o único lugar onde se escreve muitas vezes sem
motivo” (Cagliari, 2003, p.101).
Existe um descompasso entre a escola e as necessidades da sociedade. Isso causa descon-
forto em alguns profissionais, preocupados com a sua função de Educador.
Os Parâmetros Curriculares Nacionais afirmam ser necessário promover o letramento dos
alunos. Soares afirma que letramento é:

estado ou condição que adquire um grupo social ou um indivíduo como con-


seqüência de ter-se apropriado da escrita. [...] Letramento é prazer, é lazer, é ler
em diferentes lugares e sob diferentes condições [...] Letramento é informar-se
através da leitura, é buscar notícias e lazer nos jornais, é interagir com a im-
prensa diária, fazer uso dela, selecionando o que desperta interesse, divertin-
do-se com as tiras de quadrinhos (Soares, 2000, p.42).

É preciso que, durante as aulas, o professor contemple a multiplicidade das práticas sociais
que se desenvolvem em torno da escrita e da leitura. Para que se consiga atingir o letramento,
é dever dos profissionais do ensino elaborar métodos que se aproximem das práticas concretas
desses alunos.
Dessa forma, estaremos cumprindo boa parte do objetivo do ensino de Língua Portuguesa: PARA SABER MAIS
formar alunos que dominem a norma padrão da língua e gramática, além de levá-los a ler/pro- Reflita um pouco: Um
duzir com relativa facilidade diferentes gêneros textuais reais e, mais que isso, formar cidadãos aluno que sai da escola,
(PCN, 1998, p.37). tendo cursado até o
Marcuschi (2002) defende a abordagem textual no ensino a partir dos Gêneros Textuais. Se- 7º ano, teria convivido
muito mais com o tipo
gundo ele, o trabalho com o gênero é uma maravilhosa oportunidade de se lidar com a língua narrativo, de acordo
em seus mais diversos usos. Ao citar os PCN’s, o autor apresenta a ideia básica de que um maior com o conteúdo per-
conhecimento do funcionamento dos Gêneros Textuais é importante para a produção e para a tinente àquela etapa.
compreensão de textos. Será que ele estaria
Marcuschi (2002) afirma não acreditar na existência de Gêneros Textuais ideais para o ensino preparado para produ-
zir, quando necessário,
de língua e, segundo ele, talvez fosse interessante o trabalho através da identificação de gêne- outros tipos textuais?
ros com dificuldades progressivas, como, por exemplo, do nível menos formal ao mais formal, do
mais privado ao mais público e assim por diante.
Apesar de Travaglia (2002) não mencionar nada sobre o trabalho com a Tipologia Textual,
pensamos que, para que possa ser colocada em prática uma metodologia a partir da tipologia,
deveríamos considerar algumas questões tais como: com quais tipos de texto deve-se trabalhar
na escola e a quais será dada maior atenção. Acredito que a escolha pelo trabalho através da ti-
pologia, levando-se em conta a ideia do autor, deve pautar-se em pelo menos dois fatores:
• o trabalho com os tipos deveria preparar o aluno para a composição de quaisquer textos,
não somente aquele que for posto em destaque. Pode ser que o trabalho apenas com o tipo
narrativo, por exemplo, não dê ao aluno o preparo ideal para lidar com o tipo dissertativo, e
vice-versa; e
• a utilização prática que o aluno fará de cada tipo em sua vida.
A proposta do trabalho com o Gênero Textual na escola, segundo definição do Marcuschi
(2002), nos parece mais adequada, mesmo sabendo que todo gênero realiza-se através de uma
ou mais sequências tipológicas e que todos os gêneros inserem-se em algum tipo textual.
É perceptível, ainda hoje, que o ensino de produção de textos é tratado como um procedi-
mento único e global, como se todos os tipos de textos fossem iguais e não apresentassem de-
terminadas especificidades e, por isso mesmo, não exigissem aprendizagens distintas.

19
UAB/Unimontes - 1º Período

O ensino de produção textual é desenvolvido nas escolas brasileiras através da seguinte di-
visão: narração, descrição e dissertação. Existe uma falsa crença de que desenvolver as habilida-
des para produzir textos narrativos e descritivos seria mais simples, comparando-se à produção
de textos dissertativos. Em função disso, o ensino relativo ao tipo dissertativo fica reservado às
últimas séries do ensino fundamental e do ensino médio.
O ensino-aprendizagem de leitura, compreensão e produção de texto pela perspectiva dos
gêneros textuais coloca o professor de Língua Materna no seu devido lugar. Ele, hoje, não é mais
tido como um especialista em textos científicos ou literários, longe da realidade e da prática tex-
tual do aluno, mas como um especialista nas diversas modalidades textuais, orais e escritas, de
uso social.
Pensando ou agindo dessa forma, o espaço da sala de aula é transformado numa verdadeira
oficina de textos, sendo viabilizado e concretizado pela adoção de algumas estratégias. Algumas
sugestões podem ser interessantes; como, por exemplo, escrever um bilhete para alguém, enviar
uma carta para um aluno de outra classe, produzir um cartão e enviar a alguém, encaminhar uma
carta de solicitação à direção da escola, realizar entrevistas durante o intervalo das aulas ou no
horário de recreio, etc. Esses exercícios proporcionam a diversificação e concretização das produ-
ções, além de permitirem o envolvimento dos discentes, amigos, colegas e familiares.
Seria muito produtivo que esse trabalho fosse realizado a partir do contato com diversos
gêneros disponíveis, como por exemplo:

▲ ▲
Figura 8: Propaganda Figura 9: Folheto educativo
Fonte: Disponível em <https://www.google. Fonte: Disponível em <https://www.google.com.br/> acesso em 22
com.br/> acesso em 22 maio 2013. maio 2013.

BOX 4
Of. nº 20/2008.

Montes Claros, 26 de agosto de 2008. Senhor Secretário:


Em atendimento ao que dispõe a Resolução nº20/2008 dessa Secretaria, estamos infor-
mando o nome dos dois professores selecionados para prestarem assessoramento técnico à
campanha contra a evasão escolar a ser implementada por essa Secretaria no decorrer do pró-
ximo semestre letivo:
Joana Pereira Silva, Madalena José de Deus.

Na oportunidade, apresentamos nossos protestos de estima e consideração.


Atenciosamente, Paulo das Dores Diretor

Exmº Sr. Fulano de Tal.


DD. Secretário da Educação – MG.

Fonte: Elaboração do próprio autor

20
Letras Português - Introdução à Produção de Texto

Para saber mais


Para aprofundar mais
seus conhecimentos
sobre gênero e ensino,
leia o seguinte texto
◄ Figura 10: Cartum “gêneros textuais e
Fonte: Disponível em ensino: contribuições
<https://www.google. do interacionismo só-
com.br/> acesso em 22 cio- discursivo” de Vera
maio 2013. Lúcia Lopes Cristovão
(UEL) e Elvira Lopes
Nascimento (UEL).

Podemos e devemos pensar em formas também diferentes de avaliação dessas produções,


abandonando os critérios relacionados à gramática ou à qualidade literária e enfocando a ade-
quação do texto à situação comunicacional para a qual foi produzido, isto é, se a escolha do gê-
nero, a estrutura, o conteúdo, o estilo e o nível de língua foram escolhidos adequadamente, ten-
do em mente o interlocutor e a finalidade do texto.
Outra sugestão interessante seria levar para a sala de aula uma receita, explorar a compo-
sição do gênero, palavras selecionadas para construí-lo e, no final, caso seja possível, colocar os
alunos para fazerem o prato apresentado, utilizando, assim, o espaço para interação entre o gru-
po. Como exemplo, veja o texto:

Receita de bolo de cenoura

Ingredientes:
2 ovos
½ xícara (chá) de óleo de girassol ou canola
1 colher (sopa) de fermento em pó
½ copo de iogurte natural
1½ xícara (chá) de farinha de trigo 1 xícara (chá) de açúcar
1 lata (200g) de cenoura escorrida

Cobertura:
½ copo de iogurte natural
100 g de chocolate meio amargo

Preparo
Em um liquidificador bata os ovos, o óleo, o açúcar e o iogurte até obter um creme. Junte a ▲
Cenoura ETTI e triture levemente. Em uma tigela média peneire a farinha com o fermento, depois Figura 11: Bolo
junte o creme de cenoura e misture tudo muito bem para obter a massa de bolo. Unte com óleo Fonte: Disponível em
e enfarinhe uma fôrma de orifício central com 25 cm de diâmetro. Coloque a massa e leve ao for- <http://7em1.files.word-
press.com/2012/07/bolo-
no pré-aquecido à temperatura média (180ºC), por cerca de 30 minutos, para assar o bolo. Der- -de-cenoura.jpg> acesso
reta o chocolate com o iogurte para obter a cobertura. Desenforme o bolo e espalhe a cobertura em 22 maio 2013.
para finalizar.

Podemos afirmar que, trabalhando na perspectiva dos gêneros, a escola estaria dando aos
alunos a oportunidade de se apropriar devidamente de diferentes Gêneros Textuais utilizados
socialmente, podendo interagir, percebendo que o exercício da linguagem será o lugar da sua
constituição como sujeito participante de uma sociedade letrada.

21
UAB/Unimontes - 1º Período

Referências
BAKHTIN, M. Os gêneros do discurso. In: ____. Estética da criação verbal. São Paulo: Martins
Fontes, 1997. p. 277-326.

BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: terceiro e


quatro ciclos: apresentação dos temas transversais / Secretaria de Educação Fundamental. Brasí-
lia: MEC/SEF, 1998.

CAGLIARI, Luiz Carlos. Alfabetização & Lingüística. São Paulo: Editora Scipione, 2003.

KLEIMAN, Ângela Del Carmen Bustos Romero de. Gêneros textuais e ensino. 5. ed. São Paulo:
Lucerna, 2007.

MARCUSCHI, L. A. Gêneros textuais: definição e funcionalidade. In: DIONÍSIO, Â. et al. Gêneros


textuais e ensino. Rio de Janeiro: Lucerna, 2002.

POSSENTI, Sírio. Por que (não) ensinar gramática na escola. Campinas: Ed. Mercado das Letras,
1996.

SOARES, Magda. Letramento: um tema em três gêneros. 2 ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2000.

TRAVAGLIA, Luiz Carlos. Composição tipológica de textos como atividade de formulação


textual. In: Revista do GELNE. Fortaleza, Universidade Federal do Ceará, Grupo de Estudos Lin-
guísticos do Nordeste, v. 4, n.ºs 1 e 2, p. 32-37, 2002.

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