Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
O corpo humano
é formado por
60% de água
Pressão do
líquido intersticial
ar,
45%
1
+ +
Líquido ' Pressão coloidosmótica do líquido intersticial
Líquido intersticial, 10,5%
extracelular,
Líquido intravascular, 4,5% 15% Figura 3-6 Forças que controlam o fluxo de líquidos através dos
Figura 3-5 A água do corpo representa 60% do peso corporal. capilares.
Essa água está dividida entre líquido intracelular e líquido extra- 10 Nalional Association of Emergency Medical Technidans (NAEMT).
Classificação do
Choque Traumático
Os determinantes primários da perfusão celular são o cora-
ção (agindo como bomba ou motor do sistema), o volume de
líquido (agindo como fluido hidráulico), os vasos sanguíneos
(servindo como condutos ou encanamento) e, por fim, as
células do corpo. Com base nesses componentes do sistema
Figura 3-7 Um tubo em U, no qual as duas metades são sepa-
de perfusão, o choque pode ser classificado nas seguintes ca-
radas por uma membrana semipermeável, contém quantidades
tegorias (Quadro 3-1):
iguais de água e partículas sólidas. Se for acrescentado um soluto
que não consegue se difundir através da membrana semiperme- 1. O choque hipovolêmico é primariamente hemorrá-
ável a apenas um dos lados, o líquido fluirá através da membrana gico no paciente com trauma, estando relacionado
para diluir as partículas acrescentadas. A diferença de pressão à perda de células sanguíneas circulantes com capa-
da altura do líquido no tubo em U é chamada pressão osmótica. cidade de transportar oxigênio e de volume líquido.
0 National As5o<iation offm,ig,ncy Mtdical Technióans (NAEMT). Esta é a causa mais comum de choque no paciente
com trauma.
O sistema nervoso simpático produz a resposta de 2. O choque distributivo (ou vasogênico) está rela-
"luta ou fuga". Essa resposta faz o coração bater mais rápi- cionado com anormalidades no tônus vascular que
do e mais forte de maneira simultânea e causa constrição surgem de várias causas.
dos vasos sanguíneos para órgãos não essenciais (pele e trato 3. O choque cardiogênico está relacionado à interfe-
gastrintestinal) ao mesmo tempo que dilata os vasos e au- rência na ação de bomba do coração.
menta o fluxo sanguíneo para os músculos. O objetivo dessa
resposta é manter quantidades suficientes de sangue oxige-
nado para tecidos essenciais de modo que o indivíduo possa Tipos de Choque Traumático
responder a uma situação de emergência enquanto desvia o
sangue das áreas não essenciais. Em contrapartida, o siste- Choque Hipovolêmico
ma nervoso parassimpático diminui a frequência cardíaca A perda aguda de volume sanguíneo por hemorragia (perda
e ventilatória e aumenta a atividade gastrintestinal. de plasma e hemácias) causa desequilíbrio na relação entre
Em pacientes com hemorragia após uma lesão traumática, volume de líquido e tamanho do reservatório. O reservató-
o corpo tenta compensar a perda sanguínea e manter a produ- rio mantém seu tamanho normal, mas o volume de líquido
ção de energia. O sistema circulatório é regulado pelo centro diminui. O choque hipovolêmico é a causa mais comum de
vasomotor no bulbo. Em resposta a uma diminuição transitó- choque no ambiente pré-hospitalar, e a perda de sangue é,
ria na pressão arterial, estímulos são transmitidos até o cérebro de longe, a causa mais comum de choque em pacientes com
pelos nervos cranianos IX e X por barorreceptores no seio ca- trauma e a mais perigosa para o paciente.
rotídeo e no arco aórtico. Esses estímulos levam a um aumen-
to da atividade do sistema nervoso simpático, com aumento
da resistência vascular periférica resultante de vasoconstrição Quadro 3-1 Tipos de Choque Traumático
arteriolar e aumento do débito cardíaco por aumento na fre-
Os tipos comuns de choque vistos após trauma no
quência e na força de contração cardíaca. O aumento do tônus
ambiente pré-hospitalar incluem:
venoso eleva o volume de sangue circulante. O sangue é des-
viado das extremidades, dos intestinos e dos rins para áreas • Choque hipovolêmico
mais vitais - coração e cérebro - nas quais os vasos se con- • Volume vascular menor que o tamanho vascular
traem muito pouco sob estimulação simpática intensa. Essas normal
respostas resultam em extremidades frias e cianóticas, redução • Resulta da perda de sangue e líquidos
- Choque hemorrágico
do débito cardíaco e diminuição da perfusão intestinal.
• Choque distributivo
Redução na pressão de enchimento do átrio esqu erdo, • Espaço vascular maior que o normal
queda na pressão arterial e alterações na osmolalidade plas- - "Choque" neurogênico (hipotensão)
mática (a concentração total de todas as substâncias quími - • Choque cardiogênico
cas no sangue) causam liberação de hormônio antidiurético • O coração não bombeia adequadamente
(ADH, de antidiuretic hormone) pela hipófise e aldosterona • Resulta de lesão cardíaca
pelas glândulas suprarrenais, o que aumenta a retenção de
76 PHTLS I Atendimento Pré-hospitalar ao Traumatizado, Nona Edição
Via lntraóssea
Uma alternativa para o acesso vascular e m adultos é a via
2 27
intraóssea. •· A via intraóssea para a administração de lí-
quidos não é nova : ela foi descrita pelo Dr. Walter E. Lee em
l 94 l. Esse método de acesso vascular pode ser obtido de vá-
rias maneiras. Ele é mais comumente estabelecido em locais
como o fêmur distal, a cabeça do úmero ou a tíbia proximal
ou distal. Os estudos mostram me lhores taxas de fluxo atra-
vés da cabeça do úmero e do fêmur distal. O acesso também
pode ser estabelecido por meio da técnica esternal, usan-
do dispositivos apropriadamente projetados (Figura 3 -18 e
2 29
Figura3-19). "· Essas técnicas são comumente utilizadas no
ambiente pré-hospitalar, mas o foco deve ser o transporte
rápido em vez da reposição volêmica IV. No caso de trans-
porte demorado ou prolongado até os cuidados definitivos,
o acesso vascular intraósseo pode ser relevante em pacientes
adultos com trauma. A administração de líquidos por via in-
traóssea em um paciente acordado pode ser bastante dolo-
rosa. Deve ser administrada a analgesia adequada conforme
os protocolos locais.
e
J
/
J
CAPÍTUL03 Choque: Fisiopatologia de Vida e Morte 77
corpo humano quando ele está parado e entra em contato, no iníci o do evento é igual à força transferida ou dissipada
interagindo com um objeto em movimento, como uma faca , ao fim do evento.
um projétil ou um bastão de beisebol.
A energia cinética é uma função da massa e da velo-
Massa x Aceleração =Força =Massa x Desaceleração
cidade de um objeto. Ainda que não sejam tecnicamente a A força (energia) é necessária para colocar uma estrutura
mesma coisa, o peso de uma vítima pode ser usado para re- em movimento. Essa força (energia) é necessária para criar
presentar a sua massa . Da mesma maneira, a aceleração é a aceleração específica . A aceleração colocada depende do
utilizada para representar a velocidade (que, na verdade, é peso (massa) da estrutura . Quando essa energia é aplicada
aceleração e direção). A relação entre peso e aceleração afe- à estrutura e colocada em movimento, a estrutura perma-
tando a energia cinética é: necerá em movimento até que a energia cesse (primeira lei
do movimento de Newton - inércia) . Essa perda de energia
Energia cinética = Metade da massa vezes a
colocará outros elementos em movimento (partículas teci-
velocidade ao quadrado
duais) ou ela será perdida como calor (dissipada nos discos
EC = 1/2 (mv2 ) de freio das rodas). Um exemplo desse processo é o trauma
Assim, a energia cinética envolvida quando uma pessoa de relacionado às armas de fogo . Na câmara de uma arma está
150 libras (lb) (68 quilogramas [kg]) viaja a 30 milhas por um cartucho que contém pólvora. Quando a pólvora se in-
hora (mph) (48 quilômetros por hora [km/h]) é calculada cendeia, queima rapidamente, explodindo e criando energia
da seguinte forma: que empurra o projétil para fora do cano em grande veloci-
dade. Essa velocidade equivale ao peso do projétil e à quan-
EC = 150/2 x 30 = 67.500 unidades
2
tidade de energia produzida pela queima da pólvora ou pela
Para o propósito dessa discussão, nenhuma unidade fí- força. Para frear (segunda lei de Newton), o projétil deve
sica espeáfica de medida (p. ex., pés-libras, joules) é usada. passar a sua energia para a estrutura atingida. Essa transfe-
As unidades são utilizadas meramente para ilustrar a ma- rência de energia produzirá uma explosão no tecido que é
neira como essa fórmula afeta a alteração na quantidade de igual à explosão que ocorreu na câmara da arma quando a
energia. Conforme mostrado, uma pessoa de 150 lb (68 kg) aceleração inicial foi aplicada no projétil. O mesmo fenôme-
viajando a 30 mph (48 km/h) teria 67.500 unidades de no ocorre no automóvel em movimento, no paciente que
energia que devem ser convertidas em outra forma quando cai de um prédio ou na explosão de um dispositivo explosivo
ela parar. Essa mudança toma a forma de dano ao veículo e improvisado (DEI).
lesão na pessoa, a menos que a dissipação de energia possa Outro fator importante em uma colisão é a distância
tomar uma forma menos prejudicial, como em um cinto de de parada . Quanto mais curta for a distância de parada e
segurança ou airbag. mais rápida for a velocidade dessa parada, mais energia é
Porém, qual fator da fórmula tem o maior efeito sobre transferida para o ocupante e mais dano ou lesão ocorre no
a quantidade de energia cinética produzida: massa ou ve- paciente. Considere um veículo que para contra um muro
locidade? Considere acrescentar I O lb (4, 5 kg) à pessoa de de tijolo versus um que para quando se aplica o freio. Ambos
150 lb (68 kg) viajando a 30 mph (48 km/h) do exemplo dissipam a mesma quantidade de energia, apenas de manei-
anterior, tomando a massa igual a 160 lb (73 kg) : ra diferente. A taxa de transferência de energia (no corpo do
EC = 160/2 x 30 =72.000 unidades
2
veículo ou nos discos de freio) é diferente e ocorre ao lon-
Esse aumento de 10 lb resultou em aumento de 4.500 uni- go de distância e tempo diferentes. Na primeira situação, a
dades na energia cinética. Usando o exemplo inicial de uma energia é absorvida em uma distância e quantidade de tem -
pessoa de 150 lb (68 kg) mais uma vez, vejamos como um po muito curtas, alterando a estrutura do veículo. No último
aumento de 10 mph (16 km/h) na velocidade afeta a energia caso, a energia é absorvida ao longo de uma distância e tem-
cinética: po maiores pelo calor nos freios. O movimento do ocupante
do veículo (energia) para a frente é absorvido, no primeiro
EC = 150/2 x 402 = 120.000 unidades caso, pelo dano aos tecidos moles e aos ossos do ocupante.
Esse aumento de velocidade resultou em aumento de 52.500 No segundo caso, a energia é dissipada, junto com a energia
unidades na energia cinética. do veículo, pelos freios.
Esses cálculos demonstram que o aumento da velocida- Essa relação inversa entre a distância de parada e a lesão
de (aceleração) aumenta a energia cinética muito mais que também se aplica às quedas. Uma pessoa tem mais chances
um aumento da massa. Ocorrerá muito mais troca de ener- de sobreviver a uma queda se cair sobre uma superfície com-
gia (e, assim, produzirá mais lesão ao ocupante, ao veículo pressível. como uma grande quantidade de neve. Uma que-
ou a ambos) em um acidente em alta velocidade, comparado da da mesma altura terminando sobre uma superfície dura,
a outro em velocidade menor. A velocidade é exponencial e como o concreto, pode produzir lesões mais graves. O mate-
a massa é linear; portanto, a velocidade é o fator mais crítico rial compressível (i.e., neve) aumenta a distância de parada
mesmo quand o há grande disparidade de massa entre dois e absorve pelo menos parte da energia em vez de permitir
objetos. que toda a energia seja absorvida pelo corpo. O resultado
Para prever as lesões ocorridas durante um incidente em é menos lesão e dano ao corpo. Esse princípio também se
alta velocidade, pode ser útil lembrar que a força envolvida aplica a outros tipos de colisão. Um motorista sem cinto de
544 PHTLS I Atendimento Pré-hospitalar ao Traumatizado, Nona Edição