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e agroecologia
Desenvolvimento territorial
e agroecologia
Impressão Cromosete
Tiragem
Apresentação | 7
Desenvolvimento territorial e agroecologia
Prefácio
Desenvolvimento territorial e agroecologia
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Prefácio
Os organizadores
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Parte I
Reflexões sobre o
desenvolvimento à luz do
enfoque territorial
Território, Territorialidade e
Desenvolvimento: diferentes perspectivas
no nível internacional e no Brasil
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Desenvolvimento territorial e agroecologia
Território e territorialidade
Parece-nos que não há dúvidas, no meio acadêmico, sobre a importância da
renovação de ciências como a geografia, a sociologia e a economia, na efe-
tivação de novos arranjos para a própria ciência e, ao mesmo tempo, para
a compreensão da relação sociedade-natureza. Há uma interação entre a
produção do conhecimento científico e a vida em sociedade (para além des-
sa produção) e isso está na base da reelaboração de concepções, políticas e
projetos, a partir dos anos 1960-70, em países como a França e a Itália.
A incorporação, por exemplo, de aspectos do ideário marxista em
ciências como a sociologia, a geografia e a economia, possibilita o desven-
damento de processos e conflitos até então escondidos, possibilitando no-
vas leituras do mundo da vida. Há uma maior preocupação e conseqüente
intensificação dos estudos, a partir dos anos 1970, por parte de pesquisa-
dores denominados marxistas ou anarquistas ou ainda democráticos, com
as condições da natureza e da sociedade, enfim, com as condições de vida
no planeta e, de maneira especial, com os grupos sociais excluídos, tendo
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Desenvolvimento local
Vamos acrescentar mais alguns argumentos para tornar mais abrangente
este texto. Primeiramente, apresentamos algumas idéias sobre desenvolvi-
mento, partindo da nova ordem que se instaura na escala mundial e, num
segundo plano, das idéias de alguns autores que abordaram o tema de ma-
neira positiva, para posteriormente trabalharmos com o desenvolvimento
local mais especificamente.
Iniciamos com a constatação de que as atividades econômicas ain-
da são proeminentes na constituição da nova ordem mundial que, por sua
vez, rebate-se nos lugares com suas formas de centralização de gestão do
capital, resultado da combinação de diferentes arranjos institucionais e da
força de determinadas áreas geográficas, cujas formas de apropriação e
transformação da natureza se tornaram hegemônicas.
Pela nova lógica que se instaura nos territórios, não há uniformidade
na distribuição das riquezas e mesmo do acesso às novas tecnologias, por-
que a intensidade de coordenação se realiza em áreas bem demarcadas e
definidas pela força das atividades econômicas, gerando áreas excluídas. O
descompasso entre a existência da tecnologia e do acesso a ela pode ser con-
siderado, a grosso modo e sem pretensões de sermos conclusivos, como um
estímulo aos movimentos de população, às tensões entre grupos sociais, à
disputa pela competitividade e, enfim, pelo des-controle dos territórios.
Continuando neste momento, trabalharemos com as idéias de al-
guns autores que trataram da noção de desenvolvimento, como Alain Li-
pietz (1988), que procurou compreender as desigualdades espaciais do de-
senvolvimento a partir da divisão social e territorial do trabalho, tendo
como base a noção de formação econômico-social de Karl Marx.
Para explicar sua noção de desenvolvimento, ele enumera três tipos
de regiões:
1) regiões fortes em tecnologia ligadas aos centros de negócios e/ou de
engenharia, aos centros de pesquisa e ensino tecnológico e científi-
co, destacando como importantes as relações entre os ramos de ati-
vidades e o valor e a qualificação da mão-de-obra;
2) regiões que apresentam densidade de mão-de-obra qualificada (técni-
cos e operários qualificados) que tenham como base uma tradição
industrial, ou seja, que contam com a presença da grande indústria
e com valor médio da força de trabalho;
3) regiões com reserva de mão-de-obra com baixa qualificação e baixo
valor de produção, sendo, em alguns casos, derivadas do declínio
das indústrias.
Esses diferentes tipos de regiões estariam, em tese, aptos a alavan-
car o desenvolvimento em diferentes magnitudes, dependendo não só des-
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Desenvolvimento territorial
Na Europa, desde os anos 1970, deu-se um forte movimento direciona-
do ao entendimento dos processos de desenvolvimento local ou regional,
principalmente em países como a França e a Itália. Na Itália, por exem-
plo, há concepções elaboradas por pesquisadores como Calògero Musca-
rà, Giuseppe Dematteis, Giacomo Becattini, Gioachino Garofoli, Arnaldo
Bagnasco, Alberto Magnaghi, entre outros, destacando-se, desde os anos
1960-70, a importância do lugar e do território para a definição de estraté-
gias de desenvolvimento.
Há uma relação muito significativa entre o desenvolvimento econô-
mico do Centro-Norte-Nordeste italiano e estudos feitos por esses e outros
pesquisadores, que elaboram o que o sociólogo Arnaldo Bagnasco denomi-
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Referências
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Sistema Local Territorial (SLOT):
Um instrumento para representar,
ler e transformar o Território
Giuseppe Dematteis
Geógrafo, Professor de Geografia do Politécnico e Universidade de Turim-Itália |
giuseppe.dematteis@polito.it
Tradução: Professor Dr. Marcos Aurelio Saquet.
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Alguns problemas
A aplicação do modelo SloT à análise de um território denota alguns pro-
blemas metodológicos que merecem ser ilustrados brevemente, tendo pre-
sente as experiências de pesquisa de campo realizadas no curso de nossos
estudos.
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rial local, mas também se não destroem o capital territorial de outros sis-
temas locais ligados por interações materiais e imateriais ao que está sen-
do estudado. O problema se complica se, como indicamos anteriormente,
consideramos a sustentabilidade e, por isso, a capacidade auto-reproduti-
va do sistema local. Neste caso, as medidas sempre referidas a um deter-
minado sistema, processo ou projeto de desenvolvimento deveriam con-
siderar: i) o grau de autonomia do sistema territorial e o peso cognitivo,
de planejamento/projeção, de decisão, de financiamento e de atuação dos
sujeitos locais no interior do processo ou do projeto; ii) a capacidade de in-
clusão do ator coletivo local (é uma união restrita de atores “fortes” ou dá
voz e poder a uma multiplicidade de interesses, redes de sujeitos, “fracos”,
marginais e conflituais?). Esta última, ou seja, a capacidade de inclusão,
também significa, indiretamente, a capacidade inovativa do sistema local,
uma vez que requer um certo nível de diversificação e confronto.
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Referências
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Desenvolvimento Territorial:
algumas reflexões teórico-conceituais
derivadas de estudo monográfico
Texto baseado em parte do capítulo I da tese de doutoramento do autor, defendida em 2003,
no Curso de Doutorado em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade, da UFRRJ.
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fim de século, posto que novos fatores, anteriormente menos visíveis como
elementos decisivos, passaram a incidir com muito mais forças nestas últi-
mas décadas” (CARDOSO, 1998, p. 22). É Benko, porém, que expõe o que
estaria fundamentando tal tomada de consciência, em termos de forças
econômicas objetivas, ao afirmar, quando analisa o capitalismo contem-
porâneo e a sua dinâmica espacial, que “a exploração do espaço estará de
novo na origem de uma fase ascendente [do capitalismo]” (1996, p. 39).
Ressalta ainda essa importância do espaço afirmando que “a materializa-
ção das atividades [econômicas] no espaço” é a primeira forma de regula-
ção econômica no capitalismo (BENKO, 1996, p. 59).
Na pesquisa realizada sobre o Paraná Tradicional, tendo claras as
possibilidades advindas da consciência crescente sobre a importância do
espaço, considerou-se indispensável buscar incorporar uma perspectiva
espacial num enfoque de desenvolvimento regional. A referência à região,
ao regional ou ao territorial não garante adoção do viés espacial, como se
pretende discutir neste texto. Acredita-se, então, que tal enfoque renovado
do espacial pode ser garantido pela via da concepção de desenvolvimento
territorial. Então, sustenta-se que, com o quadro conceitual dessa concep-
ção, é possível construir um referencial teórico-metodológico eclético, que
permite um novo enfoque às análises regionais. A partir disso, é preciso,
antes de tudo, analisar essa concepção.
Território e Desenvolvimento
Essa tarefa deve começar pelo conceito de território, que é o ponto de sus-
tentação da concepção de desenvolvimento territorial. Para tal, pode-se co-
meçar com Abramovay, que define território como “uma trama de relações
com raízes históricas, configurações políticas e identidades” (1998, p. 2). De-
fini-lo como uma trama significa dizer que ele é o espaço no qual há uma in-
teração entre aspectos históricos, políticos, culturais e econômicos, e, acres-
centa-se, também uma interação homem/natureza que é indispensável, em
especial quando se trata de comunidades agrárias. Essa interação não é tra-
tada diretamente pelo autor, mas, quando ele faz referências às “raízes his-
tóricas”, considera-se que essa interação homem/natureza faça parte dessas
raízes, e aí melhor seria afirmar que elas são “histórico-geográficas”.
Esse é um ponto importante porque, ao se abordarem processos en-
dógenos, as raízes histórico-geográficas afloram quase que naturalmente
e a interação homem/natureza ou, melhor, sociedade/natureza, ganha em
importância, não obstante ser esse um aspecto negligenciado nas ciências
humanas e sociais. O que se defende, porém, é que se pretende superar essa
desconsideração, e que essa proposta foi testada ao se abordar a formação
territorial e o espaço rural do Paraná Tradicional (CUNHA, 2003). Percebe-
se de imediato que a sociedade de base agrária formada nessa região de-
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está. Isso leva Putnam a afirmar que “a subordinação à trajetória pode pro-
duzir diferenças duradouras entre o desempenho de duas sociedades, mes-
mo quando nelas existem instituições formais, recursos, preços relativos e
preferências individuais semelhantes” (PUTNAM, 1996, p. 188).
Há muito aqui, justamente, do velho dilema que se quer superar, o
qual pode ser resumido da seguinte forma: Como se explica a existência de
regiões desenvolvidas e subdesenvolvidas? Tudo indica que Putnam pre-
tende transferir a responsabilidade da economia para a cultura, usando
um bem estruturado esquema teórico e analítico. Acredita-se, porém, que,
quando se assume um conceito de território no qual as raízes histórico-
geográficas são decisivas, não se deve objetivar apenas colocá-las como
a causa ou não de uma situação de atraso ou subdesenvolvimento. Mais
importante é considerar essas raízes como um elemento indispensável do
processo endógeno de desenvolvimento regional.
Para Abu-el-Haj, as grandes conclusões de Putnam corroboram cer-
to culturalismo, porque a especificidade cultural passa a ser vista como a
chave para explicar as diferenças nos níveis de capital social de cada so-
ciedade. Esse posicionamento acaba por receber críticas sistematizadas de
um grupo de estudiosos denominados neo-institucionalistas. Esse grupo
acredita que as teses de Putnam se baseiam num “excessivo determinismo
cultural” (ABU-EL-HAJ, 1999, p. 70).
Neste texto, rejeita-se qualquer forma de determinismo, tanto cultu-
ral quanto ambiental. O texto, ao contrário, se alinha às abordagens que
acreditam que ações sociais bem formuladas e implementadas por um
aparelho estatal equipado e competente podem fazer diferença, não obs-
tante níveis baixos de capital social. Esse entendimento se dá porque ain-
da é o Estado que possui a função reguladora da interação social, com a
qual é possível promover um ativismo político-institucional mobilizador
do capital sócia, que teria o poder de incentivar “[...] redes cívicas ador-
mecidas ou historicamente reprimidas a ganharem uma vida autônoma”
(ABU-EL-HAJ, 1999, p. 72). Por isso, a valorização dos processos endóge-
nos não quer tentar ressaltar determinismos culturais, mas, sim, entender
como uma estrutura territorial foi construída e como se poderia agir so-
bre ela para superar os seus problemas ligados à pobreza e à desigualda-
de, sem utilizar receitas com um padrão único e pré-determinado, ou seja,
banidas de uma visão homogeneizadora. Acredita-se que isso é possível
através do referencial teórico-conceitual da concepção de desenvolvimen-
to territorial, não apenas e diretamente, por aquilo que Veiga espera que
seja a maior contribuição dessa “nova” concepção, que é trazer “[...] algo
de realmente novo para um eventual desenvolvimento das regiões sem di-
namismo econômico, que costumam ser chamadas periféricas e atrasa-
das” (1999, p. 19). Com essa concepção, pode-se, antes de tudo, rever a
análise do peso de uma formação territorial numa determinada dinâmica
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cial que permite uma forma de coordenação entre os atores capaz de valo-
rizar o conjunto do ambiente em que atuam e, portanto, de convertê-lo em
base para empreendimentos” (ABRAMOVAY, 1998, p. 2-7). Santos, contu-
do, ressalta melhor o valor desse elemento, ao destacar que a proximidade
social é um dos elementos fundamentais do lugar e do cotidiano, no sentido
de que ela “[...] não se limita a uma mera definição das distâncias; ela tem
que haver com a contigüidade física entre pessoas numa extensão, num
mesmo conjunto de pontos contínuos, vivendo com a intensidade de suas
inter-relações”(SANTOS, 1996, p. 255); acrescentando ainda que “[...] não
são apenas as relações econômicas que devem ser apreendidas numa análi-
se da situação de vizinhança, mas a totalidade das relações” (1996, p. 255).
A maioria dos que consideram as questões ligadas à proximidade
social está interessada nos empreendimentos e nas possibilidades de insta-
lação de círculos virtuosos visando ao futuro. Em outras palavras, pensam
nos modelos de ação que podem ser construídos. Importante, porém, é
tentar aproveitar também as possibilidades teóricas e analíticas resultan-
tes dessa posição, no sentido de analisar e confirmar a importância dos
processos endógenos de desenvolvimento regional e, a partir disso, cons-
truir novo conhecimento sobre um território específico ou, como a da fe-
liz conceituação de Boisier (1999), na formulação de modelos mentais ou
diagnósticos sobre determinada realidade socioterritorial.
Assim, como o território – como uma trama de elementos sociais e
ambientais, possui uma dimensão territorial de desenvolvimento, que o
torna um ator ou sujeito das possibilidades geradas pela proximidade so-
cial dos agentes inseridos no seu espaço geográfico – tem no seu interior
os componentes decisivos que orientam o seu futuro, acredita-se que os do
seu passado também foram decisivos no processo histórico-geográfico que
influenciou a estrutura territorial contemporânea, com toda a sua endoge-
nia, com todas as suas características. Em outras palavras, como a atual
trama territorial é capaz de orientar os rumos que serão seguidos pelo ter-
ritório, as condições interativas que se sucederam no passado também fo-
ram importantes para nortear o caminho formado pelo processo endógeno
que se interessa compreender.
Se esse processo foi basicamente o de uma sociedade de base agrá-
ria, cabe uma adaptação do referencial teórico-conceitual da concepção
de desenvolvimento territorial para abordar a questão do desenvolvimento
regional em si mesma. Essa operação é tentada por Abramovay, mas não se
pode dizer tenha sido totalmente bem sucedida. É verdade que ele, com a
perspectiva territorial contida na concepção de desenvolvimento que assu-
me, assim como outros estudiosos do assunto, busca superar, inicialmente,
as velhas dicotomias que opõem o urbano ao rural, a cidade ao campo, o
desenvolvimento urbano ao desenvolvimento rural. Segundo o autor, essas
categorias ou conceitos são de “natureza territorial e não setorial” (1999,
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Referências
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Conhecimentos Convencionais e
Sustentáveis: uma visão de redes
interconectadas
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Embora não haja uma definição única para desenvolvimento sustentável, esse conceito é o
mais institucionalizado na esfera estatal, bem como nos movimentos sociais.
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Inovação
A inovação é um elemento estratégico para o desenvolvimento dos siste-
mas agrícolas e rurais. O processo de inovação dentro da perspectiva do
rural ambiental articula em torno de si uma cadeia de elementos hetero-
gêneos que podem ser traduzidos não apenas pela adoção de novas tecno-
logias e arranjos produtivos, mas, também e fundamentalmente, por uma
revisão do processo de desenvolvimento vigente. A reflexão social sobre os
rumos do desenvolvimento pode conduzir potencialmente o espaço rural
a novos arranjos e articulações de redes de produção, consumo e conheci-
mento. Nesse sentido, pode-se citar, como exemplo do processo de inova-
ção, a adoção de propostas e de projetos de desenvolvimento territorial e a
construção de certificadoras de produtos orgânicos. A primeira iniciativa
é, por si só, uma complexa interface, entretanto tem aqui apenas o intuito
de mostrar como as discussões em torno de propostas de desenvolvimento
territorial sustentável introduzem na pauta de negociação não apenas ele-
mentos articulados à esfera produtiva, mas trazem à tona diversos outros
elementos da vida social. Uma experiência nesse sentido é a questão da
construção de certificadoras de alimentos produzidos organicamente. Elas
introduzem na pauta de discussões aspectos da construção de sistemas de
confiança que se articulam não apenas com as dimensões territoriais inter-
nas aos espaços da produção e vida social dos agricultores, mas dialogam
fundamentalmente com os consumidores de orgânicos, além de articula-
rem um discurso legal, institucional e científico com a sociedade.
Isto sinaliza para o fato de que as soluções inovadoras não são ape-
nas derivadas do progresso tecnológico, mas também, produto de novos
métodos de organização e administração envolvendo processos e informa-
ções. Este fluxo ocorre por dentro e entre setores e territórios. Segundo a
autora, “Inovação também é identificável na reintrodução de elementos,
espaços e pessoas em posições diferentes, integrados em estratégias rela-
cionais renovadas” (PUGLIESE, 2000, p. 118). Para ela, a agricultura or-
gânica pode representar um elemento importante de inovação em áreas
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Desenvolvimento territorial e agroecologia
Conservação
Na mesma linha de raciocínio, para Pugliese, o desenvolvimento rural
sustentável pode conciliar simultaneamente a interconexão entre o mer-
cado com regulamentações de salvaguarda do equilíbrio e da estabilidade
de sistemas rurais e agrícolas. Desse modo, não haveria necessariamen-
te uma oposição entre elementos de conservação e inovação. Segundo
ela, estratégias conservacionistas adequadas não agem necessariamente
como um obstáculo para mudança e crescimento, “ao contrário, elas po-
dem ajudar a evitar a erosão da vantagem comparativa rural e os limites
das transformações não desejadas” (PUGLIESE, 2000, p. 120). A con-
servação de traços característicos da localidade nos processos de desen
volvimento pode torná-los sustentáveis em longo prazo. O conceito de
conservação, no espaço rural, a depender do grau de intensidade das
transformações impostadas pela Revolução Verde pode trazer algumas
armadilhas. Existem exemplos possíveis de articulação entre conserva-
ção e inovação, como: agroflorestas, manejo sustentável de matas, reser-
va legal, proteção de fontes, utilização de pastagens orgânicas e, em mui-
tas áreas de floresta, as experiências de extrativismo, todas alternativas
que têm mostrado um relativo sucesso em articular geração de renda e
conservação ambiental, o que implica o aumento do conhecimento sobre
os sistemas locais.
Participação
A atuação dos atores locais, nas arenas e nos processos que envolvem pro-
jetos de desenvolvimento local, desempenha um papel central no paradig-
ma do desenvolvimento sustentável. A capacidade de agência dos atores
em sua interação e articulação com os diversos mundos (simbólico, técni-
co, político, global) desloca-os do eixo da vitimização. Esse deslocamento
recoloca em novos papéis, ou seja, também como agentes protagonistas do
processo e não meros receptáculos vazios à espera de soluções.
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Esta mudança na perspectiva no mundo rural é um movimento mundial. Enrique Leff
discute essa questão no texto: “Los nuevos actores del ambientalismo em el médio rural
mexicano”.
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Integração
O potencial processo de integração entre agricultura e sustentabilidade é
apresentado, por diversos movimentos sociais oriundos do campo como
um dos aspectos centrais do questionamento da Revolução Verde.
Visto sob o ângulo da política européia do Common European Agri-
cultural and Rural Policy, esta política reconhece que a agricultura, dentro
de um pacote amplo, é um dos fatores que afetam o desenvolvimento rural.
É necessário dizer que tal abordagem ocorre fundamentalmente dentro do programa LIE-
DER, cujos princípios norteadores são os seguintes: a) multifuncionalidade da agricultura,
ou seja, as diversas funções que desempenha, para além da produção de alimentos. Isto im-
plica o reconhecimento da vasta gama de serviços prestados pelos agricultores e o incenti-
vo a essas atividades; b) abordagem multissetorial e integrada da economia rural, a fim de
diversificar as atividades, criar novas fontes de rendimentos e emprego e proteger o patri-
mônio rural; c) flexibilização dos apoios ao desenvolvimento rural, baseada no princípio de
subsidiariedade e destinada a favorecer a descentralização, a consulta à escala regional e
local e o funcionamento em associação; e, d) transparência na elaboração e gestão dos pro-
gramas, a partir de uma legislação simplificada e mais acessível (Fonte: http://europa.eu.int/
comm/agriculture/rur/index_pt.htm).
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Referências
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Adilson Francelino Alves
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Desenvolvimento territorial e agroecologia
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Desafios da geração de renda em
pequenas propriedades e a questão do
Desenvolvimento Rural Sustentável no
Brasil
Antonio Nivaldo Hespanhol
Geógrafo, Professor Adjunto da FCT/UNESP – Presidente Prudente-SP |
nivaldo@fct.unesp.br
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Desenvolvimento territorial e agroecologia
Complexo Agroindustrial pode ser definido “[...] como o conjunto de processos tecno-econô-
micos que envolvem a produção agrícola, seu beneficiamento e transformação, a produção
de bens industriais para a agricultura e os serviços financeiros e comerciais corresponden-
tes” (MÜLLER, 1982, p. 48).
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Antonio Nivaldo Hespanhol
No ano de 1994 foi lançado o Plano Real, por meio do qual a econo-
mia foi estabilizada, a inflação controlada e a moeda sobrevalorizada.
Nos anos 1990 intensificaram-se os processos de desregulamenta-
ção e de abertura da economia à competitividade internacional. Com isso,
as margens de lucro foram reduzidas e os termos de troca entre indústria
e agricultura continuaram desfavoráveis a esta.
A combinação de fatores como baixos preços agrícolas, sobrevalori-
zação da moeda e reduzidos rendimentos de algumas lavouras em decor-
rência de condições atmosféricas desfavoráveis provocaram a ampliação
do nível de endividamento dos agricultores.
No ano de 1996, o governo Fernando Henrique Cardoso (FHC) ins-
tituiu o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar
(PRONAF), voltado ao atendimento de produtores rurais com áreas não
superiores a quatro módulos fiscais e que possuissem até dois trabalhado-
res contratados. Desde então tais produtores passaram a usufruir de tra-
tamento diferenciado, tendo acesso ao crédito oficial com taxas de juros
menores do que as vigentes para os agricultores comerciais.
No decorrer dos anos 1990 também ocorreram mudanças importan-
tes na maneira de se entender o campo, pois passaram a ser consideradas,
pelo menos em tese, as especificidades locais na formulação de políticas
públicas. Com isto se procurou favorecer a representação dos atores so-
ciais por meio das suas formas de organização coletivas na elaboração e
implementação de políticas voltadas ao meio rural.
Os mecanismos de participação foram instituídos principalmente
após a Promulgação da Constituição Federal de 1988 quando passaram a ser
constituídos os Conselhos Municipais de Desenvolvimento Rural (CMDR),
que apresentaram problemas em seu funcionamento quanto à participação
dos agricultores e à manipulação de técnicos e prefeitos, que tiveram pouco
interesse em seu funcionamento efetivo (ABRAMOVAY, 2001).
Apesar das dificuldades de democratização das políticas públicas, os
documentos oficiais sobre desenvolvimento rural romperam com a visão
produtivista e setorial e passaram a adotar a perspectiva territorial.
A Secretaria de Desenvolvimento Territorial, vinculada ao Ministé-
rio do Desenvolvimento Agrário, foi criada com a incumbência de estimu-
lar e coordenar projetos de desenvolvimento de territórios rurais, os quais,
de acordo com os documentos oficiais, devem dirigir “[...] o foco das polí-
ticas para o território, destacando a importância das políticas de ordena-
mento territorial, de autonomia e de autogestão, como complemento das
políticas de descentralização” (BRASIL, 2003, p. 30).
De acordo com o mesmo documento,
Na abordagem territorial o foco das políticas é o território, pois ele combi-
na a proximidade social, que favorece a solidariedade e a cooperação, com
a diversidade dos atores sociais, melhorando a articulação dos serviços pú-
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Desenvolvimento territorial e agroecologia
A missão oficial do Ministério do Desenvolvimento Agrário é “criar oportunidades para que
as populações rurais alcancem plena cidadania”.
A missão oficial do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento é “promover o Desenvol-
vimento Sustentável e a Competitividade do Agronegócio em Benefício da Sociedade Brasileira”.
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Commodities são produtos in natura, cultivados ou de extração mineral, que podem ser es-
tocados por certo tempo sem perda sensível das suas qualidades, como soja, trigo, bauxita,
prata ou ouro.
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Considerações finais
As políticas estabelecidas das três escalas da administração pública (fede-
ral, estadual e municipal) tendem a considerar o meio rural brasileiro ape-
nas na dimensão da produção agrícola.
No período áureo da modernização da agricultura, entre os anos de
1965 e 1980, toda a política pública esteve voltada à concessão de crédito
rural para que os médios e grandes produtores incorporassem técnicas me-
cânicas e químicas à agricultura e se convertessem em bons consumidores
de produtos industriais e grandes fornecedores de matérias-primas para
as agroindústrias, o que viabilizou a constituição de modernos complexos
agroindustriais no país.
91
Desenvolvimento territorial e agroecologia
Referências
92
Antonio Nivaldo Hespanhol
93
Identidade Territorial e Desenvolvimento:
a formulação de um Plano Territorial de
Desenvolvimento Rural Sustentável do
Território Sudoeste do Paraná
Roselí Alves dos Santos
Geógrafa, Professora Adjunta do curso de Geografia da UNIOESTE – Francisco
Beltrão-PR | roseliasantos@gmail.com
Walter Marschner
Sociólogo, Professor Adjunto da Universidade Federal Grande Dourados-MS |
walmars@ufgd.edu.br
95
Desenvolvimento territorial e agroecologia
A adoção do conceito “agricultura familiar” atende aqui ao contexto específico a que nos referi-
mos. Agricultura familiar, segundo Abramovay (2005, p. 7), é uma definição corrente no Brasil
(enquanto que na América Latina fala-se em “campesinato”), em especial na Região Sul, onde
vigora uma forte presença da migração européia, e da qual faz parte o Sudoeste do Paraná.
Segundo dados do IBGE, a população rural do Sudoeste do Paraná no ano de 2000 era de
189.582 habitantes, cifra que representava 40,11%, enquanto que a população urbana era
composta por 283.044 habitantes, o que equivale a 59,89%. Enquanto isso, a população ur-
bana no total do Estado do Paraná consistia, no ano de 2000, em 81%.
96
Roselí Alves dos Santos | Walter Marschner
Tomamos como ponto de partida o início do século XX, ponto em que, se-
gundo Feres (1990), o Sudoeste do Paraná apresentava uma população in-
ferior a 3.000 habitantes, concentrados especialmente nos campos de Pal-
mas, em áreas planas abrangendo os municípios de Palmas e Clevelândia.
A atividade pecuária da época pressupunha um sistema de organização
social da grande propriedade rural com sua estrutura de agregados, que
representa, para alguns autores, a origem da população cabocla na região,
e, apesar do reduzido número de pesquisas, é importante destacar que ha-
via também a presença de índios. A esta população rarefeita acrescenta-se,
na década de 1920, o processo de migração aleatório que leva a população
a praticamente dobrar (6.000 habitantes). É, porém, a partir da década de
1940, com a vinda díária de migrantes de origem européia, que o cresci-
mento populacional é impulsionado significativamente.
A política getulista de integração nacional, visando à colonização
de áreas estratégicas do território nacional – a assim chamada “marcha
para o oeste“ –, trouxe grandes levas de imigrantes. Eram, em sua maioria,
Além dos paraguaios e dos argentinos que extraiam a erva-mate da região, o início do pro-
cesso de ocupação teve ligação com o excedente de mão-de-obra das fazendas de criação de
gado e de refugiados políticos da Guerra do Contestado (FERES, s/d). Até a década de 1940,
os migrantes, chamados por Feres (1990, p. 494) e Abramovay (1981) de caboclos, sobrevi-
viam por meio da caça e principalmente do extrativismo de erva-mate e da criação de porcos
em regime semi-selvagem.
97
Desenvolvimento territorial e agroecologia
Para Feres (1990) e Bonetti (1997), a suinocultura manteve-se como forte atividade econô-
mica, sendo responsável pela ampliação das áreas ocupadas pelo cultivo do milho, principal
fonte alimentar dos suínos. Assim, havia uma coexistência entre a suinocultura em regime
semi-selvagem e a de safra (1990, p. 495).
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Roselí Alves dos Santos | Walter Marschner
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Desenvolvimento territorial e agroecologia
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Roselí Alves dos Santos | Walter Marschner
São hegemônicas as leituras do que é o “rural”, quem são os “camponeses” ou “agricultores
familiares” partindo da pergunta do papel que estes assumem diante do avanço da industria-
lização. Seja através da assimilação das inovações tecnológicas (na perspectiva difusionista)
ou na perspectiva da sua integração parcial ao mercado (concepção a partir de CHAYANOV)
ou na integração do camponês em unidades coletivas de escala agroindustrial (a partir de
KAUTSKY), o campo não exprime nenhuma realidade em si mesmo, mas é observado muito
mais a partir de sua funcionalidade, dentro do viés econômico. (veja VILLELA, 1999, p. 26;
MARSCHNER, 2005, p. 28).
101
Desenvolvimento territorial e agroecologia
Antony Giddens (cf. GIDDENS, 1991, p. 9) caracteriza o desenvolvimento da modernidade
pelo que ele chama de “descolamento”: o crescente impacto da intervenção de atores ausen-
tes e, não raro, desconhecidos que passam a pautar o que acontece em nível local, causando
o esvaziamento das relações face a face na condução dos processos sociais.
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Roselí Alves dos Santos | Walter Marschner
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Desenvolvimento territorial e agroecologia
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Roselí Alves dos Santos | Walter Marschner
As organizações governamentais que compõem o grupo gestor do Sudoeste do Paraná são:
Associação das Câmaras Municipais do Sudoeste do Paraná, Associação dos Municípios do
Sudoeste do Paraná, Associação dos Secretários Municipais de Agricultura do Sudoeste do
Paraná, Emater, Escolas Agropecuárias, Instituto Ambiental do Paraná, Instituto Agronômi-
co do Paraná, Secretaria de Agricultura e Abastecimento, Universidade Estadual do Oeste
do Paraná e Universidade Tecnológica Federal do Paraná. As organizações não-governamen-
tais: Sistema de Cooperativa de Leite da Agricultura Familiar, Associação das Agroindústrias
Familiares do Sudoeste do Paraná, Centro de Apoio ao Pequeno Agricultor, Cooperativa
Iguaçu de Prestação de Serviços, Cooperativa de Crédito com Integração Solidária, Institu-
to Maytenus, Movimento dos Atingidos por Barragens, Centro Regional de Associações dos
Pequenos Agricultores, Movimento dos Sem-Terra, Associação de Estudos, Orientação e As-
sistência Rural, ACESI/FETRAF e Associação das Casas Familiares Rurais.
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Desenvolvimento territorial e agroecologia
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A análise teórica e a sistematização das informações foram desenvolvidas pelos pesquisa-
dores do Grupo de Estudos Territoriais da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (GE-
TERR) e do Centro de Pesquisa e Apoio ao Desenvolvimento Regional da Universidade Tec-
nológica do Paraná (CEPAD).
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Roselí Alves dos Santos | Walter Marschner
Análise crítica
Apresentamos alguns questionamentos e análises sobre conceitos e catego-
rias presentes no debate sobre as estratégias de desenvolvimento rural sus-
tentável apresentadas pelo MDA. A análise é pertinente justamente porque
a construção do projeto de desenvolvimento territorial se encontra ainda
em fase de experimentação, havendo assim o distanciamento crítico dos
atores, condição para que não se institucionalizem, já de berço, visões li-
mitadas da complexidade territorial.
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Desenvolvimento territorial e agroecologia
11
Segundo James Coleman, sociólogo da Universidade de Chicago, e um dos pais fundadores
da teoria do capital social, o capital social “como outras formas de capital, é produtivo, tor-
nando possível a realização de certos fins que não seriam atingíveis na sua ausência.” Ao
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Roselí Alves dos Santos | Walter Marschner
mesmo tempo, enfatiza a necessidade constante de investimentos nele: “igual que o capital
humano e com o capital físico, o capital social deprecia-se se não é renovado.” Cf. Coleman
(1990, p. 302, 321).
12
A partir do final da década de 1990, as relações sociais passaram a ser consideradas, concre-
tamente, como um “recurso” avaliado em termos de mercado. Como tal, pode ser “criado”,
“nutrido”, “sustentado” e “maximizado”. Agências de desenvolvimento como a CEPAL pro-
põem o uso do “novo paradigma do capital social” como forma de combater a pobreza. A
partir daí várias ONGs, em várias partes do mundo, passam a incluir esse conceito nos seus
programas de ação. Assim, o “capital social” passa a ser uma chave de leitura dos problemas
sociais, econômicos e políticos.
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Desenvolvimento territorial e agroecologia
é preciso explicitar onde se pretende chegar. Isto nos remete a outra ques-
tão: até que ponto a abordagem territorial está sendo construída e como
ela efetiva um rompimento com a forma de desenvolvimento geradora de
diferentes mazelas que são apresentadas, pelo próprio MDA, como factí-
veis de serem superadas?
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Roselí Alves dos Santos | Walter Marschner
Referências
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Desenvolvimento territorial e agroecologia
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Roselí Alves dos Santos | Walter Marschner
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Parte II
Perspectivas da agroecologia e
experiências no Estado do Paraná
Agroecologia: limites e perspectivas
Rosângela Ap. de Medeiros Hespanhol
Geógrafa, Professora dos cursos de Graduação e Pós-Graduação em Geografia da
FCT/UNESP de Presidente Prudente-SP | Líder do Grupo de Estudos “Dinâmica Re-
gional e Agropecuária” (GEDRA), cadastrado no CNPq | rosangel@fct.unesp.br
A busca por uma vida saudável pressupõe, entre outras condições, o con-
sumo de produtos de boa qualidade. Essa constatação, aliada a uma maior
consciência ecológica, à crescente desconfiança nos sistemas de produção
de alimentos convencionais em decorrência de vários problemas ocorridos
recentemente, como a doença da vaca louca, a contaminação de alimen-
tos, o ressurgimento da febre aftosa, a expansão da gripe aviária e as mui-
tas dúvidas que ainda cercam os produtos transgênicos, tem levado a uma
crescente expansão do consumo de alimentos produzidos sem o emprego
de agrotóxicos.
Ocorre perguntar, afinal, o que diferencia esses produtos generica-
mente identificados como orgânicos dos convencionais? Será que todas as
formas de produção que não se utilizam de agrotóxicos podem ser caracte-
rizadas como sustentáveis em médio e longo prazo? Quais são os limites e
perspectivas da Agricultura Alternativa e da Agroecologia?
A partir dessas questões se procurou averiguar a importância da
produção ecológica no Brasil e discutir as vantagens e os problemas deste
tipo de produção realizada em pequena escala, bem como apontar alterna-
tivas para a sua expansão.
O presente texto está estruturado em três partes, além desta intro-
dução, das considerações finais e das referências. Na primeira se abordou
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Desenvolvimento territorial e agroecologia
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Rosângela Ap. de Medeiros Hespanhol
Cabe destacar também nesse processo a presença dos “neorurais”, isto é, indivíduos que
exercem atividades urbanas (como autônomos, funcionários públicos, empresários etc.) que
optaram por dedicar-se à produção ecológica.
A transição agroecológica pode ser definida como o processo gradual de mudança através
do tempo nas formas de manejo e gestão dos agroecossistemas, tendo como objetivo a pas-
sagem de um sistema de produção para outro.
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Desenvolvimento territorial e agroecologia
Deve-se destacar que, sob esta perspectiva, há atualmente um importante segmento da pes-
quisa e da experimentação em Agroecologia que ainda se concentra em aspectos agronômi-
cos, ou seja, vinculados aos aspectos tecnológicos da produção agropecuária.
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Um marco dessas discussões foi a realização da Primeira Conferência Mundial sobre Meio
Ambiente que ocorreu em Estocolmo no ano de 1972. Nesse evento, “a concepção desen-
volvimentista passou a ser combatida, cedendo espaço, no plano das discussões, ao eco-
desenvolvimento e, a partir de meados dos anos 1980, ao desenvolvimento sustentável”
(HESPANHOL, 2006, p. 01).
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De acordo com a Instrução Normativa nº 7 de Maio de 1999 do Ministério da Agricultura,
Pecuária e Abastecimento e a Lei nº 10 831 de 23 de Dezembro de 2003.
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Segundo estes autores, “é difícil identificar quais dessas causas foram mais relevantes no aumento
do mercado de produtos orgânicos no país e, portanto, é mais sensato supor que houve uma com-
binação delas, não se descartando, porém, que em algumas localidades ou regiões possa ter havido
maior influência de umas do que outras” (CAMPANHOLA; VALARINI, 2001, p. 73).
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Desenvolvimento territorial e agroecologia
“É importante destacar que os países que têm o maior percentual de área sob manejo orgâ-
nico em relação à área total destinada à agricultura, computam também a área de pastagem.
Assim, por exemplo, em países como a Austrália e Argentina, mais de 90% da área de produ-
ção orgânica correspondem à áreas de pastagem. O mesmo acontece nos países da Europa:
na Áustria 80% da área orgânica referem-se à pastagem; na Holanda, 56%; na Itália, 47%, e
no Reino Unido 79%.” (DAROLT, 2003, p. 01).
Em termos da participação de produtores no sistema orgânico, a distribuição é a seguinte:
Europa, com 44,1%, Ásia com 15,1%, América Latina com 19,0%, América do Norte com
11,3%, África com 9,9% e Oceania com apenas 0,6%.
Esse total se refere apenas às áreas cultivadas com lavouras e ocupadas pelas pastagens, não
se referindo às áreas de florestas (nativas ou plantadas).
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Rosângela Ap. de Medeiros Hespanhol
A Região Sul, por sua vez, com a segunda maior área ocupada com
a produção orgânica no país, tem o mais expressivo número de produto-
res e a menor área média cultivada, o que a caracteriza como de pequena
escala de produção. A importância assumida pela produção orgânica na
Região Sul deve-se, dentre outros fatores, ao apoio institucional concedido
por meio das secretarias estaduais de agricultura e das empresas oficiais
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Desenvolvimento territorial e agroecologia
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Rosângela Ap. de Medeiros Hespanhol
10
Uma das críticas mais freqüentes a esta forma de certificação orientada pelas empresas na-
cionais e internacionais diz respeito ao alto custo e à centralização do poder de decisão so-
bre a concessão do selo.
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Desenvolvimento territorial e agroecologia
Considerações Finais
Podemos afirmar que existe consenso entre os especialistas de que o mo-
delo produtivista de agricultura derivado da Revolução Verde está em crise
e que é necessário (urgente) mudar a forma de produzir e de se relacionar
com o meio ambiente. Todavia, saber como, de que forma e a quem essa
mudança beneficiará efetivamente são questões fundamentais e que de-
vem ser discutidas pela sociedade.
Devemos reconhecer também que vivemos num período de transi-
ção e que, como tal, coexiste tanto o modelo convencional de agricultura,
responsável pela grande produção de commodities, quanto o feito por for-
mas alternativas de produção que se apresenta em expansão.
Apesar da existência de experiências de agricultura alternativa no
país, a configuração final do processo de transição agroecológica visando a
uma agricultura sustentável ainda não está determinada a acontecer de uma
única forma, além do que ainda não há garantias de que sua implementação
seja realizada de forma ampla, devido ao fato dessa transição ter se apresen-
tado como um processo muito complexo, tendo em vista a multiplicidade de
fatores e de variáveis a serem considerados para sua efetivação.
Nesse contexto, cabe ressaltar a importância de se considerar o pa-
pel ativo a ser desempenhado pelos sujeitos desse processo de transição,
ou seja, os produtores rurais. Não obstante as inúmeras vantagens apre-
sentadas pela agricultura de pequena escala, eles (os produtores rurais)
consideram um conjunto de aspectos (econômicos, sociais, culturais etc.)
como orientadores de suas decisões de mudança. Assim, no plano indivi-
dual, a conversão ou não para sistemas mais sustentáveis dependerá não
134
Rosângela Ap. de Medeiros Hespanhol
Referências
135
Desenvolvimento territorial e agroecologia
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136
Reflexões sobre a Agroecologia no Brasil
Adriano Arriel Saquet
Engenheiro Agrônomo, Doutor em Ciências Agrárias (Universität Hohenheim,
Alemanha, Professor Adjunto do Centro Federal de Educação Tecnológica de
São Vicente do Sul-RS | adrianosaquet@hotmail.com
137
Desenvolvimento territorial e agroecologia
tina com 20%, sendo que esta possui o maior número de propriedades
rurais com o sistema de cultivo orgânico (WILLER; YUSSEFI, 2006). É
de se presumir, com isso, que a Austrália possua propriedades maiores
que os outros países.
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Algumas perspectivas
O Brasil é considerado um país-continente pela sua extensão territorial,
sua diversificação no clima e solo e sua grande diversidade em seus ecos-
sistemas. Os solos são profundos e férteis permitindo o cultivo de uma
grande variedade de plantas anuais e perenes. A existência de clima tro-
pical e subtropical, aliado às boas condições de solo, permite o cultivo de
várias espécies frutíferas e hortaliças. Vantagem esta que existe em poucos
países do mundo, o que torna o Brasil um país privilegiado.
Levando em conta todos os aspectos positivos mencionados anterior-
mente que a agricultura orgânica proporciona com relação à produção, qua-
lidade dos alimentos, valorização dos produtos agropecuários, saúde do pro-
dutor e população em geral, bem como a comercialização dos produtos, os
143
Desenvolvimento territorial e agroecologia
Área agricultável
O Brasil possui área agricultável disponível de aproximadamente 152 mi-
lhões de hectares, o que corresponde a 17,9% da área total do território
nacional, mas que utiliza apenas em torno de 62 milhões de hectares (7,3%
do território) (MARQUES, 2004). A possibilidade de expansão agropecuá
ria é invejável em relação aos demais países do mundo, visto que muitos
possuem área infinitamente menor, mas mesmo assim, produzem muito
mais produtos orgânicos.
De acordo com Willer e Yussefi (2006) a área cultivada com agricul-
tura orgânica no Brasil, apesar do aumento significativo nos últimos anos,
é de apenas 0,34% sobre o total de área agricultável, valor que fica muito
aquém quando comparado com o total de área agricultável disponível que
nosso país possui.
Clima e solo
Conforme mencionado anteriormente, nosso país dispõe de clima tropical
e subtropical permitindo o cultivo de frutíferas das mais variadas espécies.
Com as hortaliças não é diferente, sendo possível o cultivo de uma quantida-
de muito grande de espécies e cultivares. Aliado a este fato, os solos são, em
sua grande maioria, profundos e férteis bastando, em muitos casos apenas
a correção da acidez para que possam ser usados na agricultura. Em muitos
países da Europa ou América do Norte, onde o inverno é rigoroso, o preparo
do solo somente é possível em épocas específicas durante o ano em função do
congelamento. No Brasil, o preparo do solo e cultivo vegetal é possível o ano
todo, sendo desta forma, uma grande vantagem para nossos produtores.
Diversidade de espécies
O Brasil é um dos países mais ricos do mundo em diversidade vegetal e
animal, pelo fato de possuir condições edafoclimáticas muito favoráveis
aliado aos solos de boa qualidade, o que favorece muito o cultivo de vege-
tais e, consequentemente, a criação de animais domésticos e suas respec-
tivas fontes de alimentos. Muitos países não conseguem produzir frutas e
hortaliças em função das restrições de clima e solo e o mesmo acontece
com os animais domésticos, pois não há condições adequadas para cultivo
de pastagens e de outros alimentos necessários para sua nutrição.
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Adriano Arriel Saquet
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Desenvolvimento territorial e agroecologia
Diversificação da produção
A diversificação da produção é favorecida devido ao contato estabelecido
entre produtor e consumidor nas vendas diretas. Incluindo a integração
entre produção vegetal e animal, no mesmo estabelecimento rural, auxilia
na adoção dos princípios agroecológicos, ao mesmo tempo em que confe-
re ao pequeno agricultor maior estabilidade econômica, pois uma possível
queda nos preços de alguns produtos pode ser compensada pela alta de
outros; fato que faz com que haja uma diversificação natural de produtos
no espaço e no tempo.
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Desenvolvimento territorial e agroecologia
Considerações finais
A agricultura ecológica constitui-se no elemento mediante o qual se pre-
tende gerar estratégias de desenvolvimento sustentável e inclusão social. A
partir de seus princípios elementares é possível, uma menor agressão ao
meio ambiente, a produção de alimentos mais saudáveis e recursos para a
auto-sustentação dos produtores, além do auxílio no processo de indepen-
dência de recursos externos. Atualmente, muitos países encontram-se em
plena fase de expansão com a produção ecológica, destacando-se a Alema-
nha, a Suíça, a Austrália e outros.
O Brasil situa-se entre os países que ainda estão muito dependentes
do sistema convencional de produção agrícola, empregando enormes quan-
tidades de insumos químicos provenientes de fontes externas, causando uma
grande dependência de tais produtos e empresas, além da agressão ao meio
ambiente e da cadeia produtiva de alimentos com altos índices de contami-
nação dos ecossistemas por agrotóxicos. Percebe-se, entretanto, no país, uma
crescente sensibilização, tanto por parte de pesquisadores, produtores, go-
vernos, como da comunidade em geral, sobre a importância de se produzir
alimentos mais saudáveis não esquecendo também da preservação do meio
ambiente e dos ecossistemas em geral. A agroecologia torna-se, dessa forma,
uma alternativa em potencial ao sistema tradicional de produção agrícola.
Referências
152
Adriano Arriel Saquet
153
Agroecologia: desafios para uma
condição de interação positiva
e co-evolução humana na natureza
Valdemar Arl
Engenheiro Agrônomo, especialista em Agroecologia e Desenvolvimento Susten-
tável e Administração Rural, Membro da Rede de Consultores Colaboradores do
MDA/SDT (Ministério de Desenvolvimento Agrário/ Secretaria do Desenvolvimen-
to Territorial), Professor do Curso de Desenvolvimento Rural Sustentável e Agroe-
cologia da UnC/Concórdia-SC | valdemar@ecovida.org.br
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Desenvolvimento territorial e agroecologia
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Valdemar Arl
A modernização conservadora
Embora grandes transformações já viessem ocorrendo na agricultura eu-
ropéia no século XVIII, a “modernização” da agricultura é um processo
que se instala efetivamente a partir do pós-guerra. Surge agora uma “Se-
gunda Revolução Agrícola” e nesta se constrói uma nova compreensão de
agricultura, intitulada “Revolução Verde”, um padrão agrícola químico,
motomecânico e genético gestado nos EUA e na Europa, que transforma-
do em “pacote”, vai gradativamente se espalhando e se instalando em todo
o mundo, criando uma nova racionalidade produtiva. O grande “chavão”
deste modelo era: “acabar com a fome no mundo”. Preconizava-se que,
com a modernização tecnológica e com o conseqüente aumento da pro-
dutividade e da produção, haveria aumento da renda familiar e, portanto,
desenvolvimento rural.
Quebra-se a relativa autonomia do rural. A indústria aos poucos se
apropriou de atividades relacionadas à produção e ao processamento. Esse
processo foi chamado de apropriacionismo.
O apropriacionismo envolvia a produção de adubos químicos
para substituir o emprego da matéria orgânica, a motorização e mecani-
zação na substituição da tração animal e trabalho braçal, e a produção de
sementes melhoradas, através da engenharia genética a partir das desco-
bertas de Mendel, na substituição da seleção e produção de sementes.
Durante as guerras mundiais houve grandes investimentos tecno-
lógicos e científicos no desenvolvimento de armas, máquinas e substân-
cias mortais a serem usadas nos combates e nos campos de extermínios.
Passadas as guerras, muito deste “arsenal” (capacidade industrial de pro-
dução) passou a ser adaptado e reutilizado em campanhas de saúde pú-
blica e principalmente na agricultura. Entre os exemplos mais clássicos
estão os casos do DDT e do Schradan, adaptados posteriormente como
inseticidas agrícolas.
157
Desenvolvimento territorial e agroecologia
158
Valdemar Arl
Inicialmente esse plano parecia dar certo, mas, aos poucos, a cidade
já não absorvia mais o êxodo rural que continua ocorrendo, não só pelo es-
tímulo, mas agora também pela crescente inviabilização do campo, invia-
bilização em função da destruição da fertilidade natural e da dependência
externa, da monocultura e do fim dos cultivos para o autoconsumo, fatores
que são responsáveis pela progressiva e drástica diminuição da renda.
Esse modelo da revolução verde gerou um ciclo vicioso, porque o
adubo químico mantém a produção sem aumentar a fertilidade do solo,
provocando outros desequilíbrios nele e na planta, proporcionando inços,
pragas e doenças. Agora são necessários também os agrotóxicos e os pro-
blemas são multiplicados à medida que aumenta a dependência de insu-
mos externos.
Além do bem conhecido “chavão” da revolução verde, de “acabar
com a fome no mundo”, associou-se a modernização à melhoria das con-
dições de vida e de bem-estar como condição automática e universal, além
de um status quo social valorizado. Não é, porém, o que se deu na práti-
ca, pois, além da descapitalização e do empobrecimento do campo, houve
efeitos ainda mais catastróficos no meio urbano.
O êxodo rural da década de 1990 para cá tem um sentido cada vez
mais problemático: primeiramente porque é resultado da crescente invia-
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Desenvolvimento territorial e agroecologia
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Valdemar Arl
Um desafio científico
A ciência resulta da interpretação humana das coisas, dos fenômenos, dos
fatos e dos outros objetos de seu estudo realizado através de um instru-
mental metodológico, e por isso não é infalível. O maior desafio reside, po-
rém, na aplicação de seus resultados, quando transformada em tecnologia
a serviço de corporações, momento em que ela perde sua neutralidade.
Também precisa incorporar novas perspectivas e visões. “O humano
do futuro parece motivado por uma rebelião contra a existência humana
tal como lhe foi atribuída […] ele a deseja trocar por algo produzido por
ele mesmo” (ARENDT, 1958). E, na medida em que o afastamento da exis-
tência humana da natureza se realiza, necessita-se aumentar o nível de
artificialização para poder continuar vivendo, afastando-se cada vez mais
da ciência da vida e exercendo uma vida dominada pela ciência. Interrom-
pem-se os ciclos e segmenta-se a teia da vida, e gastam-se fortunas com
tecnologias e produtos para sustentar a vida nesta nova condição.
Um exemplo clássico desta lógica da ciência pode ser verificado jun-
to ao modelo da revolução verde aplicado na agricultura, onde, simplifi-
cando a análise, conclui-se que os adubos altamente solúveis e os agrotóxi-
cos são recursos que nos permitem produzir em ambientes cada vez mais
degradados.
A agroecologia desafia a fusão da ciência, projeto e processo, pro-
pondo uma nova inserção e relação ecológica necessária para uma relação
produtiva sustentável, e, ao mesmo tempo, partilha de novas condições e
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Desenvolvimento territorial e agroecologia
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Valdemar Arl
Um desafio educacional
Criar uma nova cultura não significa apenas fazer individualmente desco-
bertas originais; significa também, e, sobretudo, difundir criticamente ver-
dades já descobertas, socializá-las por assim dizer; transformá-las, portanto
em base de ações vitais, em elemento de coordenação e de ordem intelectual
e moral. O fato de que uma multidão de pessoas seja levada a pensar coe-
rentemente e de maneira unitária a realidade presente é um fato “filosófico”
bem mais importante e original do que a descoberta, por parte de um “gê-
nio”, de uma nova verdade que permaneça como patrimônio de pequenos
grupos intelectuais (GRAMSCI).
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Desenvolvimento territorial e agroecologia
Um desafio organizacional
Todas as ações devem constituir-se em processos formativos e organiza-
tivos assumidos pela população, entendendo o trabalho de base como ca-
paz de reforçar e ampliar a construção de uma hegemonia popular fun-
damental para sustentar e colocar em prática a perspectiva mais ampla
de transformação. Qualquer AÇÃO pode tornar-se transformadora se in-
corporar as dimensões: formAÇÃO – organizAÇÃO – multiplicAÇÃO em
caráter de simultaneidade e de inseparáveis. Numa perspectiva dialética,
“formação e organização política são vividas como duas expressões de um
mesmo fazer transformador; fazer que amplia a consciência na sondagem
do real e que, no mesmo processo, organiza a prática social na transfor-
mação do real” (CEPIS, 1996).
Um primeiro desafio organizacional na construção da agroecologia
em sua dimensão estratégica na transformação do campo é a ampliação
do assumir desta bandeira pelos Movimentos Sociais do Campo. O avanço
da proposta de uma agroecologia transformadora ganha muita força com
a adesão deste movimentos tratando-se de avanços tanto nas elaborações
e sistematizações propositivas, como na multiplicação da agroecologia.
Multiplicam-se as iniciativas práticas, os espaços de formação e as articu-
lações. Isto impulsionará e qualificará a luta por políticas públicas mais
abrangentes e efetivas para a conversão agroecológica.
Um segundo desafio organizacional é a articulação e a organização
das próprias iniciativas de agroecologia e a confluência nacional destas
iniciativas dos Movimentos Sociais envolvidos e das Redes. Quanto ao for-
mato organizacional, a articulação em Rede é uma estratégia eficaz porque
pode perpassar Instituições e Movimentos, sendo a organização de socie-
dades articuladas em redes, formas muito atuais e efetivas de sustentação
de identidades coletivas embasadas em padrões comuns de comportamen-
to, valores e perspectivas.
A organização em rede é o exercício da própria vida, aplicado tam-
bém na organização dos que lutam por esta nova forma de perceber e exer-
cer a vida, ligados entre si da mesma forma como tudo na natureza está
ligado. Tudo é uma grande rede, assim como o nosso corpo é uma rede de
órgãos e funções. A articulação em rede é uma forma de organização que
pode se conectar planetariamente, ultrapassando o limite das instituições
e inclusive a divisa dos Estados nacionais.
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Valdemar Arl
Conclusão
A mudança de comportamento de toda a sociedade é o grande desa-
fio, colocando as questões ambientais e sociais como prioritárias. O
campo possui um papel estratégico e de grande influência, mas neces-
sita de uma nova proposta para sua sustentabilidade e sua inserção
sustentável no desenvolvimento territorial, destacando-se os seguintes
desafios:
• a ressignificação conceitual de desenvolvimento e re-significação do
papel do campo da agricultura familiar/camponesa no desenvolvi-
mento;
• a reconstrução dos sistemas de produção da agricultura familiar/
camponesa e a incorporação da Agroecologia nos processos de cons-
trução da sustentabilidade do desenvolvimento;
• a construção conceitual da própria agroecologia;
• a formação e a organização para as necessárias transformações ideo
lógicas e sociopolíticas.
Referências
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Agroecologia no Paraná: evolução e desafios
Antonio Carlos Picinatto
Engenheiro Agrônomo, Mestrando em Geografia pela UNIOESTE, campus de Fra-
cisco Beltrão-PR, Instituto Maytenus para Desenvolvimento da Agricultura Sus-
tentável. Toledo-PR | picinatto@maytenus.org.br
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Antonio Carlos Picinatto
menores que 30 hectares e apenas uma com 181,50 hectares. A menor pro-
priedade para esta associação é de 6,3 hectares.
Outra Associação descrita para caracterizar o público que está se
convertendo para a Agricultura Orgânica no Oeste paranaense, é a de Assis
Chateaubriand, denominada APOAC – Associação de Produtores Orgâni-
cos de Assis Chateaubriand, na qual estão associados 13 agricultores, com
áreas entre 2,50 a 29,04 hectares tendo como principais atividades agríco-
las: soja, milho, arroz, batata doce, bovinos de leite, mandioca, café, frutas
cítricas, caqui, frangos, cana-de-açúcar para cachaça e hortaliças.
O surgimento dos projetos de Agricultura Orgânica no Oeste do Pa-
raná foram mais evidentes a partir de 2000, sendo que no ano de 2007
observou-se a organização territorial da APOMOP – Associação dos Pro-
dutores Orgânicos do Médio Oeste do Paraná, abrangendo os municípios
de Palotina, Assis Chateaubriand, Formosa do Oeste, Nova Aurora, Jesuí
tas e Iracema do Oeste. Na APOMOP 51 agricultores são produtores de
café orgânico certificados pelo IBD – Instituto Biodinâmico. Sua marca é
a ORGANIVIDA e a sua estratégia principal é a venda direta ao consumi-
dor, com 15 feiras. A comercialização internacional também é um objetivo,
sendo que no ano de 2007 participou da Feira BioFAch em Nurenberguer,
Alemanha. Além do café esta associação também produz soja orgânica. A
organização territorial permite o estabelecimento de parcerias, sendo que
a cooperativa COPACOL está inserida no processo.
Outra atividade em pleno desenvolvimento no Estado do Paraná é
a produção de algodão orgânico. A partir da parceria entre MAYTENUS,
Coexis Pesquisa e Desenvolvimento, Emater e prefeituras, desenvolveu-se
a tecnologia e a conseqüente produção do produto nos municípios de Cru-
zeiro do Oeste, Pérola, Altônia, São Jorge do Patrocínio, Esperança Nova,
Francisco Alves, São José das Palmeiras e Diamante do Oeste. O total de
hectares cultivados é de 21, com participação de 24 famílias. A produtivi-
dade, considerando todas as propriedades, está em torno de 1.600 kg/ha,
sendo que é menor nos solos de arenito. A comercialização foi contratada
com a empresa YD Confecções com sede na cidade de São Paulo, com va-
lores 30% acima do maior preço de mercado ou acima do preço mínimo,
valendo o que fosse maior. A tecnologia utilizada propiciou a certificação
para produtos orgânicos destinados ao mercado nacional, europeu e norte-
americano, feita atualmente pelo IBD – Instituto Biodinâmico.
No Norte do Paraná, na regional de Londrina, considerando os mu-
nicípios de Kaloré, Marilândia do Sul, Rosário do Ivaí e Borrazópolis, fo-
ram cadastradas para efeito de certificação no ano de 2003 pelo Instituto
Maytenus, 51 propriedades totalizando 1.102,81 hectares, dos quais 434,56
hectares estão em processo de conversão. Para esta região a média das pro-
priedades dos participantes dos grupos de agricultores orgânicos fica em
21,62 hectares. Ainda no Norte do estado, considerando os municípios de
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Desenvolvimento territorial e agroecologia
Desafios
Promover a evolução do ser humano para propiciar o entendimento quan-
to aos malefícios provocados pelos insumos agrícolas convencionais e a
necessidade de utilização racional dos recursos naturais é o maior desafio
da agricultura agroecológica. As associações vinculadas à APROSUDOES-
TE promovem jantares orgânicos todos os anos objetivando a formação de
consumidores, sendo destaque a APROVIDA de Pato Branco, que recebeu
aproximadamente 500 pessoas no jantar promovido em 2006, durante o
evento da Expopato. Quando a população descobre a contaminação exis-
tente nos seus alimentos começa a apoiar a Agroecologia. O relatório do
Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos no Esta-
do do Paraná, Secretaria de Estado da Saúde do ano de 2003 aponta para
a contaminação de alimentos utilizados diariamente. De um total de 407
amostras, 55,3% apresentaram resíduos de agrotóxicos, com destaque para
tomate, maçã e morango os atingindo o percentual de 90%. Das 225 amos-
tras contaminadas, 118 (65%) apresentaram agrotóxicos não autorizados
para a cultura e 45% apresentaram resíduos acima dos valores permitidos
pela legislação vigente. O total de princípios ativos detectados foi de 21.
O relatório orienta para o cancelamento do registro do Endossul-
fan e Dicofol porque na classificação internacional (IUPAC – Internation
Union of Pure and Applied Chemistry) são do grupo químico dos organo-
clorados, os quais foram proibidos na maioria dos países, bem como orien-
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Referências
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Agroecologia: o desenvolvimento no
Sudoeste do Paraná
Nilton Luiz Fritz
Engenheiro Agrônomo, Instituto Emater – Francisco Beltrão – PR |
niltonfritz@emater.pr.gov.br
O Sudoeste hoje
A produção ecológica tem no Sudoeste um solo fértil para seu desenvolvi-
mento, considerando que sua população tem uma forte identidade com a
agricultura. O processo de diversificação das atividades agrícolas, basea-
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que deveriam nortear a agricultura. Neste evento, que teve cunho regional,
reuniram-se mais de 240 técnicos e agricultores.
Na década de 1990, os trabalhos de agricultura orgânica se intensifi-
caram a partir de 94/95, com produção de soja na região de Capanema; no
ano de 1997, com a olericultura e fruticultura clima temperado em Francis-
co Beltrão e fruticultura tropical em Capanema e Cruzeiro do Iguaçu; a par-
tir do ano 2000 começou o trabalho através do projeto Pró-Caxias, envolven-
do os municípios de Nova Prata do Iguaçu, Cruzeiro do Iguaçu, São Jorge do
Oeste e Salto do Lontra, na produção de olericultura e fruticultura tropical.
Atualmente são as seguintes entidades/empresas/associações que
atuam em agricultura orgânica: Emater, Assesoar, Secretarias Municipais
de Agricultura, Sindicatos dos Trabalhadores Rurais, Coopafi, Agrorgânica,
Capa, Terra Solidária, Rede Ecovida, Claf (Sisclaf), Cresol, Instituto Mayte-
nus, Senar, Sebrae, Projeto Pró-Caxias, Projeto Vida na Roça, Casas Familia-
res Rurais, Empresa Gralha Azul, Gebana, Tozan, Colégio Agrícola, UTFPR,
Unioeste, IAPAR, Embrapa e várias Associações de Agricultores Ecológicos.
As áreas de produção orgânica gradativamente estão ocupando es-
paço em todos os municípios da região, sendo uma perspectiva importante
que ajudará no desenvolvimento da agricultura familiar, com preocupação
em relação à sustentabilidade ambiental, social, cultural e econômica.
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pando e como será no futuro? Como controlar estas novas doenças, além do
custo elevado do controle?”, finaliza ele.
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Nilton Luiz Fritz
era uma praga muito prejudicial à cultura do trigo, exigindo várias aplica-
ções de inseticidas para o seu controle, caso contrário corria-se o risco de não
produzir. A partir do final da década de 1980, são raras as situações em que
há necessidade de aplicações de inseticidas para o controle de pulgão apesar
de sua ocorrência, devendo-se esse fato ao controle biológico da vespinha que
vêm atuando até nos dias atuais. Neste período, embora num contexto desfa-
vorável, essa tecnologia conseguiu mostrar sua eficiência. Tanto o manejo de
pragas da soja com o uso de baculovírus, como a utilização da vespinha para
o controle de pulgões, foi viabilizado dentro da agricultura convencional, ca-
racterizada pela monocultura numa época que se priorizava principalmente a
visão econômica, sendo o enfoque ambiental pouco enfatizado”, finaliza.
Quadro 1 – Técnicos do instituto EMATER com atuação em agricultura orgânica no Sudoeste do Paraná
MUNICÍPIO TÉCNICO TELEFONE E-MAIL
Capanema Gilmar Gobato (46)3552-1060 capanema@emater.pr.gov.br
Cruzeiro do Iguaçu Marcos Bourscheid (46)3572-1284 cruzeirodoiguacu@emater.pr.gov.br
Dois Vizinhos Valdir da Silva (46)3536-5884 doiszvizinhos@emater.pr.gov.br
Enéas Marques Adair Rech (46)3544-1395 eneasmarques@emater.pr.gov.br
Francisco Beltrão Nilton Luiz Fritz (46)3523-3821 niltonfritz@emater.pr.gov.br
Marmeleiro Valdir Felberg e Sady D. A. Grisa (46)3525-2236 marmeleiro@emater.pr.gov.br
Planalto Libanor Viesseli (46)3555-1303 planalto@emater.pr.gov.br
Realeza Odir Basso (46)3543-1122 realeza@emater.pr.gov.br
Renascença Leandro Molinetti (46)3550-1394 renascenca@emater.pr.gov.br
Salto do Lontra Valdir Koch (46)3538-1468 saltodolontra@emater.pr.gov.br
São Jorge do Oeste Jair Klein e Sidney Carneiro (46)3534-1855 saojorgedoeste@emater.pr.gov.br
Verê Neuri Beche (46)3535-1396 vere@emater.pr.gov.br
Emater Regional de Fco. Beltrão Ericson Max (46)3524-2021 erfranciscobeltrao@emater.pr.gov.br
Clevelândia Otto Bruno Becker (46)3252-2017 clevelandia@emater.pr.gov.br
Saudades do Iguaçu Rosane Dalpiva Bragatto (46)3246-1169 saudadesdoiguacu@emater.pr.gov.br
Fonte: dados de campo (maio/2007). Org. FRITZ, N. L. (2007).
Município de Capanema
De acordo com Gilmar Gobato, técnico em agropecuária e extensionista do
Instituto Emater, a agricultura orgânica no município de Capanema ini-
ciou junto com a colonização. Mesmo sem saber, os colonizadores adota-
ram as práticas de não-uso de agroquímicos na agricultura, contudo, após
a revolução verde, parte dos agricultores adotaram as novas tecnologias e
todos o rol de alternativas de insumos para a agricultura. Como os coloni-
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CRESOL
A Cresol de Francisco Beltrão decidiu, junto ao seu quadro social, pri-
vilegiar os cooperados que praticam a agroecologia ou aqueles agriculto-
res que desejam comprar adubo orgânico para recuperação da fertilida-
de do solo. Wilmar Vandresen, presidente da Cresol de Francisco Beltrão,
observa que “estamos operacionalizando empréstimos a juro mais barato,
utilizando de recursos da própria Cooperativa. Estamos também realizando
ensaios de milho variedade em três propriedades do município, com acom-
panhamento técnico, avaliando os experimentos e divulgando os resultados
junto ao quadro de associados”.
Luiz Ademir Possamai, vice-presidente da Central Cresol Baser, in-
forma que o Sistema Cresol tem como orientação da direção e da equipe
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Município de Marmeleiro
Conforme informações de Sady Grisa, engenheiro agrônomo e extensionis-
ta da EMATER, a produção comercial de produtos orgânicos no município
de Marmeleiro teve início no ano de 1998, com a empresa GAMA, a qual
viabilizava a certificação, através do Instituto Biodinâmico, e a comerciali-
zação. Esta produção é centrada na cultura da soja e, hoje, com a empresa
TOZAN, dez produtores.
Há algumas iniciativas pontuais com outras culturas não certificadas,
sendo mais intensas na produção de olerícolas e milho de pipoca através da
COOPAFI (Cooperativa de Produção da Agricultura Familiar Integrada).
Anteriormente, conforme divulgado em jornal no ano de 1997,
ocorreu o cultivo de soja orgânica através da empresa Agrorgânica, da
Família Perin.
Município de Planalto
Conforme informações dos extensionistas e técnicos em agropecuária Li-
banor Vieselli e Sérgio Delani, o Emater de Planalto acompanhou curso
realizado no ano de 2003 pelo Instituto Maytenus, com 16 produtores, na
localidade de Santa Terezinha, município de Planalto. Após este período, o
envolvimento com a produção orgânica ficou a cargo das empresas Agror-
gânica, Gebana, e Terra Preservada.
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Desenvolvimento territorial e agroecologia
Município de Realeza
Para Odir Basso, técnico em agropecuária e extensionista do Instituto EMA-
TER, em julho de 2002 foi lançado, em Realeza, o primeiro encontro sobre
agricultura orgânica, com a presença de 103 agricultores familiares interes-
sados no cultivo de produtos orgânicos, sendo que 38 destes se inscreveram
para curso de 12 etapas em conjunto com Emater e Instituto Maytenus.
Foi o início da conversão das propriedades para cultivo de orgâ-
nicos. A prefeitura do município disponibilizou uma área de 45 ha para
plantio de soja orgânica e posteriormente trigo e mandioca. Nesse espaço
foi realizado o 1º Encontro Regional de Grãos Orgânicos do Sudoeste do
Paraná, com dia de campo.
Com a perspectiva de bons preços da soja orgânica, 26 produtores
efetuaram, neste período plantio, de soja, totalizando uma área de 390 ha,
e mandioca, com uma área de 76 ha, além de feijão, com mais 14 ha nos
anos de 2002, 2003 e 2004. Ocorreu, porém, a queda dos preços, a estiagem
nos últimos dois anos (2004 e 2005), e a entrada da soja transgênica que
desestimularam os agricultores.
Nestes períodos foram efetuados vários encontros com eles, com
objetivo de fabricação de produtos orgânicos (biofertilizantes), e dias de
campo em nível municipal e regional, com excursões para São Jorge, Pato
Branco e municípios vizinhos.
Os produtos são comercializados em feiras no município, compra
direta CONAB e empresas da região.
Município de Renascença
De acordo com informações dos extensionistas, o técnico em agrope-
cuária Alberto Nerci Muller (atual secretário municipal da Agricultura), a
técnica social Maria Helena Fracasso, do Instituto EMATER, e o técnico em
agropecuária Leandro Molinetti, do convênio Prefeitura Municipal/EMA-
TER, a Agricultura Orgânica certificada teve início no município na década
de 1990, com a cultura da soja. De início foi impulsionada pelos altos preços
pagos aos produtores orgânicos, que tivera, seu número de adoção reduzido
posteriormente em função de que, no mesmo período, o sistema de produ-
ção convencional aumentou a produtividade consideravelmente, bem com
o valor da soja aí produzida. Na agricultura orgânica houve diminuição dos
valores pagos, pela falta de tecnologia adequada e pela falta de maturidade
destes agricultores, que migraram para o sistema convencional no ano de
1999. Então surgiu um novo público, o qual, sem condições de se adaptar
ao sistema tradicional, optou pelo orgânico. Este público estava excluído do
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Desenvolvimento territorial e agroecologia
Município de Verê
De acordo com o CAPA e com o EMATER, no município de Verê as discus-
sões tiveram seu início a partir da instalação do Centro de Apoio ao Peque-
no Agricultor (CAPA) no ano de 1997.
O CAPA é uma ONG que realiza assessoria para agricultores fami-
liares há mais de 30 anos na Região Sul do Brasil, também é um depar-
tamento da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB),
fazendo parte de seu compromisso de Igreja de Jesus Cristo, não se con-
formar com as injustiças sociais e a agressão à natureza, colocando-se à
disposição dos agricultores familiares para, em conjunto com eles e com
base nos princípios da agroecologia e da cooperação, desenvolver expe
riências de produção, beneficiamento, industrialização e comercializa-
ção, de formação e capacitação, e de saúde comunitária, que sirvam de
sinais de que o meio rural pode ser um espaço de vida saudável e realiza-
ção econômica para todos.
Com a assessoria desta ONG no município e com o apoio das enti-
dades parceiras como Emater, algumas atividades começaram a ter desta-
que, como a produção de soja e de hortifrutigranjeiros orgânicos. A partir
de 2003, quando a soja convencional obteve bons preços, a soja orgânica
deixou de ser tentadora.
Na época, além dos produtores de soja orgânica, cinco famílias ini-
ciaram a produção de hortaliças orgânicas. Cada uma delas produzia um
pouco e, com o transcorrer do tempo, começaram ter quantidade de pro-
duto e regularidade de oferta, que não foi absorvida pelos consumidores
locais. Logo em seguida os agricultores sentiram a necessidade de se orga-
nizarem em uma associação.
Em agosto de 2001 é fundada, com o apoio do CAPA e do Emater,
a APAVE (Associação de Produtores Agroecológicos de Verê), a qual tem
o papel de organizar os agricultores, tanto no planejamento da produção
quanto na comercialização. Hoje na região acreditamos que a APAVE, que
leva a marca “Vereda Ecológica”, já tem seu espaço, contando com 75 fa-
mílias associadas.
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Município de Chopinzinho
O trabalho foi iniciado em 1998 pela Prefeitura Municipal com 15 produ-
tores de soja. Posteriormente, em parceria com o Instituto Maytenus, foi
criado um grupo de 30 produtores que receberam capacitação e certifica-
ção do Instituto Biodinâmico. Atualmente existem cerca de 15 agricultores
certificados, trabalhando com fruticultura e olericultura, que comerciali-
zam a produção em bancas instaladas nos supermercados do município.
Município de Clevelândia
De acordo com relato de Otto Bruno Becker, engenheiro agrônomo e exten-
sionista do EMATER, as atividades da Agricultura Orgânica em Clevelândia
iniciaram-se no ano de 1997/98 com a produção de soja orgânica, por agri-
cultores apoiados pela cooperativa CAMISC de Clevelândia, incentivados
principalmente pela colega engenheira agrônoma Idanir Menegotto, que
também plantava em áreas arrendadas, mas desmotivou-se no decorrer dos
anos devido à falta de apoio e induzida por outras propostas mais convin-
centes. “Era a visão somente de produto, e devido aos dólares adicionais à
produção. Também ocorreu uma reunião com a presença de técnicos do IBD.
Nesta ocasião foi convidada principalmente pela Sara. Maria Annibelli. Havia
uma proposta da cooperativa dispor de uma moega para recepção especial de
soja orgânica, fato que não ocorreu e deu-se início, em 2000/01, ao incentivo
e fomento para a soja transgênica. Certamente ocorreram propostas mais van-
tajosas para as pessoas que têm o poder de decisão nas mãos.”
Em Clevelândia ocorreu o Primeiro Encontro Municipal de Agricul-
tura Orgânica em 25 de junho de 2.001, com 75 produtores participantes,
fruto do trabalho do técnico local da Emater que, por ocasião da partici-
pação no Conselho de Desenvolvimento de Zelândia, coordenado pelo SE-
BRAE, levantava esta bandeira; e por ocasião da escolha de prioridades,
o trabalho em Agricultura Orgânica foi eleito como sendo uma das ativi-
dades a serem apoiadas e desenvolvidas no município. A partir de então,
juntamente com o SEBRAE/Instituto Hipotenusa, foi realizado o primeiro
curso de capacitação de agricultores, com 20 módulos, durante os anos de
2001, 2002 e 2003. A partir daí, salvo algumas visitas de supervisão, ficou
o EMATER com a incumbência de assistir os produtores. No início o gru-
po teve a participação média de 35 famílias, mas somente 12 chegaram
ao final, devido ao fato dos seus participantes estarem muito dispersos
no município todo e dependerem de transporte coletivo da prefeitura. Era
compromisso do município dispor de transporte, mas às vezes isso não
207
Desenvolvimento territorial e agroecologia
ocorria. Cabe salientar que sempre havia alguns produtores que demanda-
vam informações sobre produtos alternativos, naturais e sem heroicidade
e também, solicitavam capacitação neste assunto. Durante o ano de 2006
também foi efetuado curso de capacitação em Agricultura Orgânica, com
12 módulos de duração e participação média de 20 famílias. È importante
salientar que, sem a parceria com SEBRAE/Instituto Hipotenusa/Prefei-
tura Municipal, pouco ou nada teria sido feito. Durante o terceiro ano al-
gumas famílias do grupo estão presentes na feira livre, no início uma vez
por semana e a partir de 2007 duas vezes, nas quartas-feiras e nos sábados,
pela manhã. O apoio à produção Orgânica/Agroecológica na região de Pato
Branco é muito insignificante, tendo em vista a participação de apenas um
técnico da EMATER, do local de Zelândia. Sabe-se da demanda e da exis-
tência de grupos em quase todos os outros municípios da região, mas que
não são motivados/estimulados por opção e desconhecimento dos técni-
cos de cada local. Em termos de recursos financeiros, pouco foi gasto com
Agricultura Orgânica. São pequenas produções agrícolas de frutas e grãos,
absorvidos no próprio mercado local. Houve a proposta de produção para
a demanda da alimentação escolar Orgânica, mas os produtores não en-
cararam o desafio. Um maior mercado dependerá de mais segurança e ga-
rantia na comercialização da produção.
Município de Vitorino
No município de Vitorino havia quatro produtores que plantavam soja or-
gânica, que deixaram a atividade. Foi efetuado curso de puericulturas or-
gânicas para 15 produtores em 2002/03, mas, devido à dificuldade de co-
mercialização dos produtos e a preços não compensatórios, nenhum deles
cultiva orgânicos.
208
Nilton Luiz Fritz
Agroindústria Regional
A agroindústria também tem apresentado evolução constante em produtos or-
gânicos/diferenciados, transformados, segundo dados do engenheiro agrôno-
mo João Francisco Marchei, do Instituto EMATER, conforme quadro abaixo:
Comercialização
Gebana
Segundo César Colusão, da Empresa Abanares: “o nosso pequeno agricultor
familiar, cada vez mais terá que procurar produtos diferenciados para conse-
guir viabilizar sua propriedade, onde a agricultura orgânica, a agricultura para
“mercado justo” e mesmo culturas alternativas que consigam uma boa agre-
gação de valor venham a ser uma boa opção pensando no organismo agrícola,
meio ambiente, qualidade de vida e sustentabilidade e também econômica.”
A empresa trabalha: com: soja, milho, feijão adzuki, banana desidra-
tada, trigo, farelo de trigo, óleo de soja, lecitina de soja, farinha de milho,
farinha de trigo, soja texturizada (PTS), abacaxi desidratado e cachaça e
já está produzindo ração para camarão e enviando para o Rio Grande do
Norte, onde é usada na criação de camarões orgânicos.
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Desenvolvimento territorial e agroecologia
Biorgânica
De acordo com a direção da Orgânica Comércio de Produtos Orgânicos Ltda.,
de Planalto-PR: “Estamos vivenciando a demanda crescente de produtos orgâni-
cos no mercado internacional e nacional, e com isso se facilita a comercialização
interna de produtos orgânicos. Atualmente comercializamos soja, trigo e milho,
e temos boas perspectivas para comercialização futura de feijão, arroz e centeio.
A agricultura familiar pode ser um forte aliado na produção de alimentos orgâni-
cos, podendo ocupar esse espaço que ainda está aberto no ramo, pois a agricultu-
ra familiar disponibiliza de pequena área, e mão-de-obra própria, que são fatores
fundamentais. Acreditamos que o manejo orgânico seja um dos meios de viabili-
zar financeiramente o pequeno produtor no campo, com dignidade, responsabi-
lidade social e ambiental, e, acima de tudo, com qualidade de vida”.
210
Nilton Luiz Fritz
Coopafi
Para José Carlos Farias, presidente do Sistema Coopafi (Cooperativa de Co-
mercialização da Agricultura Familiar), “a agricultura familiar da região Su-
doeste tem uma capacidade de produzir alimento dentro de uma diversidade
de produtos que nossa região produz”. No que diz respeito a produtos orgâni-
cos e também todos os tipos de alimentos, “vivemos um limite no armazena-
mento dos produtos assim como o beneficiamento dos mesmos. A região tem
necessidade de organizar uma ação no campo de beneficiamento e armazena-
mento dos alimentos da agricultura familiar, pois estamos fora de todas as es-
truturas em operação da região, e sempre que demandamos serviços nesta área
encontramos barreiras que impedem a nossa participação efetiva ou em pro-
gramas institucionais do Estado ou para o próprio consumo dos produtos em
nossas atividades da agricultura. Hoje não basta saber produzir. Será preciso
organizá-la de maneira que possamos atingir os mercados com uma identidade
e um produto padrão da agricultura familiar”, conclui José Carlos.
211
Desenvolvimento territorial e agroecologia
Referências
ABRAMOVAY, Ricardo. Conselhos além dos limites. In: O futuro das regiões
rurais. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2003.
ALTIERI, M. Agroecologia: a dinâmica produtiva da agricultura sustentá-
vel. 3. ed. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2001.
CAMBOTA. Revista Assesoar. Diversas edições.
CAPORAL, F. R.; COSTABEBER, J. A. Agroecologia: alguns conceitos e prin-
cípios. Brasília-DF: Ministério do Desenvolvimento Agrário – Secre-
taria da Agricultura Familiar – DATER: IICA, 2004.
Depoimentos de Técnicos e Agricultores.
FRITZ, Nilton Luiz. Avaliação econômico-financeira de uma propriedade
rural de Francisco Beltrão (Pr). 1994. Monografia (Aperfeiçoamen-
to/Especialização em Administração Rural) – Universidade Federal
de Viçosa.
______. Os rumos da agricultura – Texto Jornal de Beltrão e Folha do Su-
doeste, 2001.
MARTINS, Rubens da Silva. Entre jagunços e posseiros. Curitiba: Estúdio
GMP, 1986.
212
A Agroecologia e as Agroflorestas no
contexto de uma Agricultura Sustentável
Entendemos tecnicização como sendo a incorporação e a ampliação do fenômeno técnico, ma-
nifestado por técnicas materiais e imateriais, conforme a perspectiva de Milton Santos (1996).
213
Desenvolvimento territorial e agroecologia
Desenvolvimento Sustentável
Entre o final dos anos 1960 e início da década de 1970, começaram a surgir
publicações alertando para as conseqüências ambientais do ritmo acelerado
da produção de mercadorias e da exploração dos recursos naturais. Desta-
cam-se, nesse contexto, o Relatório Meadows, produzido em 1972 pelo Clu-
be de Roma, denominado “Os Limites do Crescimento”, que alertava para
o caráter finito dos recursos naturais e para os riscos dos diferentes tipos
de poluições, fatos comprometedores para a sobrevivência do planeta e da
humanidade (GONÇALVES, 1992); e a teoria do “ecodesenvolvimento”, de
Ignacy Sachs, também do início da década de 1970, clamando por novos di-
recionamentos em relação à própria concepção de desenvolvimento.
No início da década de 1980, a idéia do desenvolvimento sustentável
começa a ser divulgada através da publicação, pela União Internacional de
Conservação da Natureza (UICN), da Estratégia de Conservação Mundial
(WCS). Tal estratégia foi preparada por instituições como a UICN, UNEP
(Programa de Educação Ambiental das Nações Unidas), WWF (World
Na obra “A história do Ambientalismo”, escrita por Augusto Carneiro em 2003, há um deta-
lhamento das principais publicações da época nesta temática.
Em 1948, a UICN foi fundada sob a premissa de que tanto a natureza quanto seus recursos
deveriam ser protegidos para o benefício das gerações atuais e futuras.
214
Luciano Z. P. Candiotto | Beatriz R. Carrijo | Jackson A. de Oliveira
Agricultura Sustentável
Para Almeida e Navarro (1997), a expressão “desenvolvimento rural sus-
tentável” englobaria as propostas que prometem um novo padrão produti-
vo, alternativo às formas de desenvolvimento convencional, devido ao fato
de estas serem altamente dispendiosas, tanto na produção quanto na recu-
peração de impactos ambientais já ocorridos.
Altieri e Masera (1997) informam que o movimento ambientalista
foi a principal força social que impulsionou o debate crítico sobre os im-
pactos no mundo rural, questionando o atual modelo de produção rural.
215
Desenvolvimento territorial e agroecologia
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Luciano Z. P. Candiotto | Beatriz R. Carrijo | Jackson A. de Oliveira
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Desenvolvimento territorial e agroecologia
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Luciano Z. P. Candiotto | Beatriz R. Carrijo | Jackson A. de Oliveira
Agricultura Biodinâmica
Idealizada pelo filosofo austríaco Rudolf Steiner, sugere o equilíbrio e a
harmonia entre a terra, as plantas e os animais, além do cosmos e o ho-
mem. Segundo Rocha (2004), Rudolf Steiner alertava para a idéia de que
219
Desenvolvimento territorial e agroecologia
Agricultura Biológica
O mais importante da agricultura biológica é a integração dos recursos na-
turais da propriedade, visando ao desenvolvimento em conjunto da produ-
ção e da manutenção dos ecossistemas. Seu foco se dá na saúde da planta
e do solo, considerando que “Uma planta bem nutrida, além de ficar mais
resistente à doenças e pragas, fornece ao homem um alimento de maior
valor biológico” (DAROLT, 2002, p. 9).
Na agricultura biológica, recomenda-se a incorporação de rocha
moída ao solo, pois a fertilização dos solos não exclui a adubação mineral,
mas sua base deve ser orgânica. Apesar de buscar o aproveitamento dos
recursos da propriedade, Ehlers (1999) alerta para o fato de que a matéria
orgânica utilizada na produção pode ser de procedência externa, ou seja,
“a agricultura deve fazer uso de várias fontes de matéria orgânica, sejam
estas do campo ou da cidade” (p. 56).
“Quanto ao manejo do solo deve-se ter como meta propiciar con-
dições adequadas para o crescimento e manutenção de sua microbiota”
(EHLERS, 1999, p. 58), ou seja, das diversas formas de vida que habitam
o solo.
Agricultura Natural
Com gênese no Japão a partir de 1935, através dos estudos do mestre
Mokiti Okada, a agricultura natural teve como princípio respeitar as leis
naturais, recomendando ao produtor “rotação de culturas, uso de adubos
verdes, emprego de compostos e uso de cobertura morta” sobre o solo (EH-
LERS, 1999, p. 64).
Esse método tem como principal objetivo a redução máxima do im-
pacto sobre o ecossistema, respeitando as leis da natureza; por isso, não
220
Luciano Z. P. Candiotto | Beatriz R. Carrijo | Jackson A. de Oliveira
são aceitas, neste sistema de produção, nem a remoção do solo e nem a uti-
lização de dejetos de animais como fertilizante. O preparo do solo é feito
através do auxílio de microorganismos e compostos orgânicos de origem
vegetal (DAROLT, 2002).
Assim, a agricultura natural, ao contrário da biológica, não utiliza
insumos externos às propriedades rurais, nem incorpora rejeitos de outras
atividades, como no caso dos dejetos de animais como adubo. Seu princí-
pio básico reside na manutenção do equilíbrio do ecossistema, que se dá
por meio de um manejo simples dos recursos naturais.
Agricultura Orgânica
Idealizada por Sir Albert Howard, entre os anos de 1925 e 1930, na Índia,
resultava em um meio alternativo de produção. Opondo-se ao meio de pro-
dução convencional que se expandia rapidamente pelo mundo, em espe-
cial na Europa e nos EUA, a produção agrícola orgânica ressaltava a im-
portância da matéria orgânica no processo produtivo (EHLERS, 1999).
Desde 1920, quando os fertilizantes químicos começaram a ser usados co-
mercialmente em larga escala, têm havido denúncias de que a agricultura
química produz colheitas de alimentos menos saudáveis e nutritivos. Em
torno de 1940, o movimento orgânico europeu começou a ganhar forças, em
parte pela crença de que alimentos orgânicos eram mais saudáveis (AZEVE-
DO, 2003, p. 44).
A produção orgânica é toda a produção agrícola animal ou vegetal em
que se adotam tecnologias que prezem pelos recursos naturais, respeitando
a integridade dos cultivares com o objetivo de, em harmonia com o ambien-
te natural, ser auto-suficiente ao homem. A não-utilização de recursos não
renováveis, bem como a eliminação do emprego de agrotóxicos (como fun-
gicidas, herbicidas, inseticidas e bactericidas) ou de fertilizantes sintéticos
e de sementes geneticamente melhoradas em qualquer fase do processo de
produção, armazenamento, distribuição e consumo de alimentos agrícolas,
é o que define a produção agrícola orgânica (AZEVEDO, 2003).
A idéia de produzir de forma orgânica surge com base nos primór-
dios da agricultura tradicional, onde o uso de insumos e de técnicas agrí-
colas era reduzido, pois, antes da revolução verde não existiam insumos
químicos nem máquinas agrícolas.
Para Darolt (2002, p. 09), “a produção orgânica é baseada na melho-
ria da fertilidade do solo por um processo biológico natural, pelo uso da
matéria orgânica, o que é essencial à saúde das plantas.”
Há muito tempo, o homem já possuía, portanto, conhecimentos de
agricultura orgânica, mas estes foram praticamente ignorados a partir da
disseminação mundial da revolução verde. Foi somente após a percepção
da humanidade sobre os impactos socioambientais da revolução verde, e
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Desenvolvimento territorial e agroecologia
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Luciano Z. P. Candiotto | Beatriz R. Carrijo | Jackson A. de Oliveira
Agroecologia
A agroecologia é uma das opções que vem sendo destacadas dentro do con-
texto de uma agricultura sustentável, pois, além de produzir sem agrotóxi-
cos, encontra-se destinada à subsistência e à qualidade de vida do pequeno
produtor rural e de sua família, não deixando de lado sua inserção em um
mercado cada vez maior, que é o de produtos agroecológicos, mas atuando
no mercado com relações mais solidárias.
Segundo Gliessman (2001), a agroecologia é uma fusão da agronomia
(ciência que estuda especificamente os métodos agrícolas) com a ecologia
(ciência que estuda os sistemas naturais em todo o seu âmbito) e se constitui
em uma ciência. Teve sua gênese nos anos 1920, consumando-se no pós-II
Guerra Mundial, quando cada vez mais ecologistas do mundo inteiro passa-
ram a analisar ecossistemas de produção a fim de promover mudanças na
produção agrícola, possibilitando a sustentabilidade do agroecossistema. “A
agroecologia proporciona o conhecimento e a metodologia necessários para
desenvolver uma agricultura que é ambientalmente consistente, altamente
produtiva e economicamente viável” (GLIESSMAN, 2001, p. 54).
Na mesma linha de análise, Altieri (2000, p. 18) entende que ela con-
siste em uma “nova abordagem que integra os princípios agronômicos,
ecológicos e socioeconômicos à compreensão e avaliação do efeito das tec-
nologias sobre os sistemas agrícolas e a sociedade como um todo.”
Para Azevedo (2003), a agroecologia apresenta uma série de prin-
cípios metodológicos que permitem estudar, analisar, dirigir, desenhar e
avaliar ecossistemas, contribuindo para o desenvolvimento de uma agri-
cultura sustentável e complexa, capaz de gerar satisfação econômica social
e ambiental.
Gliessman (2001) também aponta para seu duplo papel, como ciên-
cia e como movimento político.
[...] por um lado, a agroecologia é o estudo de processos econômicos e de
agroecossistemas, por outro, é um agente para as mudanças sociais e ecoló-
gicas complexas que tenham necessidade de ocorrer no futuro a fim de le-
var a agricultura para uma base verdadeiramente sustentável (GLIESSMAN,
2001, p. 56)
223
Desenvolvimento territorial e agroecologia
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Agroflorestas
De acordo com Wiersum apud Gliessman (2001), o termo agroflorestas foi
dado à práticas que intencionalmente mantêm ou recompõem a cobertura
florestal, isto é, herbácea e arbórea, em terras usadas para agricultura ou
pastoreio.
O princípio das agroflorestas se baseia na sucessão ecológica, que
consiste no desenvolvimento de estágios sucessivos de recuperação do am-
biente florestal, sendo que, em cada fase de recuperação se procura utilizar
espécies nativas adequadas para determinada finalidade. Temos, portan-
to, no manejo agroflorestal, a agrossilvicultura (manejo de árvores com a
cultura); os sistemas silvopastoris, que combinam florestas com produção
animal; e os sistemas agrossilvopatoris, onde há combinação de agricultu-
ra, florestas e produção animal.
Quando um solo é abandonado, a primeira vegetação que apare-
ce são pequenas unidades rasteiras. Em seguida, começam a aparecer
os capins mais consolidados e só após estes é que aparecem as plantas
herbáceas. Juntamente com as plantas herbáceas e os arbustos, surgem
as espécies gramíneas, e, após algum tempo, que varia de solo para solo,
as gramíneas cedem lugar para as capoeiras, compostas tanto por plantas
herbáceas como por arbustos, em virtude do sombreamento que impede a
proliferação das gramíneas.
A partir do estágio das capoeiras é que uma floresta inicia sua traje-
tória até chegar a sua estabilidade com o aparecimento de árvores grandes
da flora nativa de determinada região.
Com o início da formação do sistema agroflorestal, os solos abando-
nados, que antes eram praticamente nus, passam a ter pelo menos quatro
camadas de proteção: as raízes; as folhas e os galhos caídos na superfície;
a vegetação intermediária; e as árvores maiores. A característica deste solo
agora é a grande quantidade de húmus e elementos microbióticos, além da
presença de seres maiores, como as minhocas.
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Desenvolvimento territorial e agroecologia
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Considerações finais
Como procuramos mostrar nesse texto, a agroecologia faz parte de uma
das principais correntes que objetivam desenvolver uma produção agrícola
alternativa ao modelo convencional predominante desde meados do sécu-
lo XX. Essa corrente é a agricultura orgânica, que, da mesma forma que
as correntes da agricultura biodinâmica, biológica e natural, é tida como
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Referências
231
Desenvolvimento territorial e agroecologia
232
Centro de Apoio ao Pequeno Agricultor*:
experiências e desafios em agroecologia**
Valdir Luchman
Técnico do CAPA (Centro de Apoio ao Pequeno Agricultuor) – Verê-PR |
capasud@vere.com.br / capa-vere@capa.org.br
*
Colaboradores da equipe técnica do CAPA: Décio Alceu Cagnini (Técnico em Horticultu-
ra), Maria Helena Mari (Engenheira Agrônoma), Rome Schneider (Engenheira Agrônoma),
Elaine Zanetti (Assessora Administrativa).
**
O autor não apresentou referências para esse texto.
233
Desenvolvimento territorial e agroecologia
234
Valdir Luchman
Realidade atual
Após dez anos de caminhada, sendo a maior parte destes envolvidos na
produção através de assessoria direta à muitas famílias, pode-se destacar
vários aspectos no processo de fortalecimento do movimento agroecológi-
co na agricultura familiar.
Por vezes flagramo-nos um tanto quanto desolados diante da avalan-
che química que inunda cada vez mais a agricultura familiar, como quem
quisesse sufocar a resistência agroecológica. Quando, porém, refletimos
sobre a trajetória nos últimos anos, podemos ver que a agroecologia teve
muitos avanços, não só na produção, mas também nas políticas públicas e
como tema importante dentro das instituições de ensino e pesquisa.
E é justamente nesse campo que ela difere das demais correntes
ou escolas de agricultura alternativa, como a agricultura orgânica, a eco-
lógica, a biodinâmica e a permacultura, que tiveram sua origem em paí-
ses com seus problemas sociais mais ou menos resolvidos. A agroecologia
vai muito além de tecnologia alternativa de produção, permeando hoje as
grandes discussões sociais, ambientais e de segurança alimentar, fazendo
ainda parte das discussões de política pública propondo um desenvolvi-
mento sustentável.
Por outro lado, a convivência direta com as famílias de “pequenos”
agricultores permite-nos fazer uma análise bem realista e que geralmente
fica muito distante das discussões que, por vezes, são meros discursos filo-
sóficos, idealistas ou políticos.
É necessário fazer uma interpretação a partir da realidade do dia-
a-dia das famílias no sentido da propriedade para fora e não no sentido
contrário. A organização de grandes discussões envolvendo intelectuais e
estudiosos em agricultura alternativa, exigindo a mobilização e o desloca-
mento de grandes distâncias, para reunirem-se em salas com ar condicio-
nado para discutir e “resolver” os problemas dos “pequenos” agricultores,
nem sempre surte resultados aplicáveis ou viáveis.
235
Desenvolvimento territorial e agroecologia
Realidades e tendências
Os temas de fundo, como do aquecimento global, incendeiam acirradas dis-
cussões sobre sustentabilidade em todos os setores, discussões que ocorrem
com tanta intensidade que, não raras vezes, ultrapassam de sua importância
como tema, fugindo para apenas um termo de modismo abstrato.
Dentro da esfera, não desconectada da agricultura familiar, a sus-
tentabilidade não é apenas um tema de discussão, mas uma ação de so-
brevivência de muitas famílias, que, bem antes do assunto tornar-se tão
“famoso”, já viviam e sentem até hoje as conseqüências de um sistema in-
sustentável.
Nesse meio, o CAPA pauta a agroecologia como alternativa de orga-
nização e de produção entre as famílias envolvidas de forma realista, dei-
xando de lado os extremismos da filosofia utópica e o radicalismo sociopo-
lítico. O que se busca é a diversificação da propriedade integrando várias
atividades que se complementam com o mínimo de aporte de insumos e a
promoção da troca de experiências para aprimorar e aprofundar os conhe-
cimentos em tecnologias alternativas de produção.
O envelhecimento da agricultura
A grande maioria dos produtores envolvidos na produção alternativa não é
jovem, e por isso preocupante o futuro da agricultura familiar agroecológi-
ca. Quem serão os futuros produtores agroecológicos?
A introdução da revolução verde causou um choque nos agricultores
que até então praticavam a agricultura tradicional, na qual o conhecimen-
to era repassado de pai para filho, assim como os esforços do trabalho ti-
nham como objetivo adquirir terra para os filhos, sucessivamente. No novo
modelo, agora o repasse de conhecimento vem dos profissionais a serviço
de transnacionais, que rapidamente implantaram um modelo dependente
e excludente, sem espaço e sem motivação para os jovens.
Não basta apenas aplicar cursos de formação e palestras para a ju-
ventude rural. É necessário tentar envolvê-la num processo de quebra de
paradigmas e despertá-la para uma nova realidade rural onde os jovens
possam ser protagonistas de um novo “mundo”, mais justo e sustentável
também economicamente, e não venham a ser apenas meras vítimas do
acaso. Esse despertar para o novo exige não só vontade política e crédito
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Valdir Luchman
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Desenvolvimento territorial e agroecologia
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Valdir Luchman
Produção de hortaliças
Formação de produtores
É de suma importância reunir as famílias interessadas na atividade para uma
primeira exposição de esclarecimento, para que elas conheçam melhor a ativi-
dade geralmente nada tradicional para elas. Na seqüência, inicia-se um curso
básico que é dividido em várias etapas, que são realizadas em uma proprie-
dade que trabalha com a produção de hortaliças para conciliar embasamento
teórico com atividades práticas. Entre as etapas, são feitas algumas visitas nas
propriedades de cada uma das famílias para fazer um diagnóstico e orienta-
ção na implantação da atividade. Depois de vencido o curso básico, a família
é integrada ao grupo que recebe a assessoria permanente, com a exigência de
que participem das reuniões e práticas em forma de dias de campo.
Viveiro comunitário
A iniciativa da construção foi uma necessidade frente à dificuldade de pro-
dução em nível de propriedade, principalmente em pequena escala. A qua-
lidade baixa das mudas, o que não é admissível no cultivo comercial, foi
um dos fatores que motivou a realização de um viveiro que oferecesse uma
estrutura mínima para a produção de mudas de qualidade. Um outro fator
muito importante é a regularidade desta produção, que reflete na da pro-
dução final. O viveiro foi instalado na propriedade de um associado que é
responsável pela produção, sendo que a parte administrativa fica por conta
da associação dos produtores ecológicos, que repassa as mudas aos asso-
ciados com custo viável. A Associação não visa lucro na produção das mu-
das, apenas repassa seus custos.
Planejamento
O planejamento tem dois aspectos importantes, sendo que um é a regula-
ridade de oferta de produtos exigida pelo mercado consumidor, que, em
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Desenvolvimento territorial e agroecologia
Comercialização
Como já dissemos, não basta apenas produzir ecologicamente. É neces-
sário buscar alternativas de comercialização que atendam à realidade do
produtor e às exigências do consumidor. Vamos usar o exemplo da APAVE
(Associação de Produtores Agroecológicos de Verê), fundada com apoio do
CAPA em agosto de 2001, que surgiu justamente da necessidade de um es-
paço de comercialização para oferecer os seus produtos sem agrotóxicos
diretamente ao consumidor.
A APAVE hoje mantém uma loja em Verê, que atende diretamente
um grande número de consumidores conscientes que participam no pro-
cesso de melhoria no relacionamento com os produtores, pondo em prá-
tica a essência da agroecologia que envolve a sociedade preocupada com
segurança alimentar e sustentabilidade ambiental e que começa a enten-
der a irregularidade da oferta de produtos em determinadas épocas. A as-
sociação também participa do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA),
fornecendo alimentos saudáveis para várias entidades beneficiadas. Outro
canal de comercialização é o envio de hortaliças para a feira orgânica de
Curitiba. A APAVE montou um sistema de comercialização em supermer-
240
Valdir Luchman
cados de Verê e municípios vizinhos, com bancas próprias onde expõe seus
produtos com os preços definidos pela própria associação, sendo que o su-
permercado apenas pratica a sua margem, o que é um avanço dentro de
estabelecimentos, que muitas vezes tratam os produtores isolados de for-
ma brutal e desumana. Além disso, outras iniciativas foram e estão sendo
praticadas, como a participação em feiras da região e cestas ou sacolas de
entrega em domicílio.
O intercâmbio de produtos entre associações regionais, estaduais e
interestaduais, que há muito vem sendo estimulado nos grandes encontros
de agroecologia, finalmente sai do papel e começa a ser praticado, opera-
ção que ajuda a escoar a produção e proporciona maior variabilidade de
oferta para o consumidor.
Muitas dessas iniciativas citadas se repetem em outros municípios
da região, como, por exemplo, a AORSA (Associação de Produtores Orgâ-
nicos de São Jorge d’Oeste), que, juntamente com a COOPAFI (Cooperativa
da Agricultura Familiar Integrada), realiza sua comercialização nos mes-
mos moldes.
As constantes experiências e tentativas de ajuste são necessárias
para buscar o equilíbrio entre redução dos custos de operacionalização
sem perder o vínculo entre produtor e consumidor, o que facilmente pode
ocorrer em terceirizações visando abaixar custos.
Considerações Finais
Vamos usar o exemplo de uma grande enchente, com a imagem das águas
levando tudo, inclusive as casas, e, nesse cenário, pessoas rapidamente ten-
tando salvar o que é possível e, ironicamente, nessa situação, é possível ver
o que lhes é de maior valor.
Da mesma forma, a inevitável “enchente” da agricultura química
vem devastando o que encontra pela frente, e, assim como o exemplo usa-
do, não é possível evitar ou querer barrá-la para não morrer afogado. É ne-
cessário, sim, salvar o que é possível. O que será que os agricultores estão
salvando? Queremos acreditar que muitos estejam preocupados com as
sementes, como bem mais valioso.
Quando fazemos algumas análises críticas, queremos, contudo, não
nos opor a profundos estudos e manifestações sociais de oposição frente à
absurda “enchente” química devastadora e a desumana negligência políti-
ca em nosso país.
O CAPA é solidário aos movimentos de resistência, porém entende
que é tempo de salvar, resgatar e guardar o que é possível para poder man-
ter e recomeçar. Salvar as sementes é imprescindível, pois a inconseqüente
erosão genética é um processo de perda irreversível dos recursos naturais.
Sob esse prisma, centra boa parte de suas atividades em ações de realida-
241
Desenvolvimento territorial e agroecologia
242
Referências em Agroecologia:
um olhar sobre a renda e os caminhos
trilhados pelaAgricultura Familiar
do Sudoeste do Paraná*
Aspectos metodológicos
Este texto parte de um estudo da renda e dos caminhos trilhados pela agri-
cultura familiar do Sudoeste do Paraná, trazendo reflexões sobre o uso da
terra, trabalho, autoconsumo, custos, entre outros indicadores.
Estes dados foram obtidos de um conjunto de famílias que estuda-
ram suas UPVF (Unidade de Produção e Vida Familiar) no Sudoeste do Pa-
raná: 38 famílias do curso de Desenvolvimento e Agroecologia, realizado
pela Assesoar nos anos de 2005 e 2006; 70 famílias participantes do Projeto
“Rede de Agricultores Gestores de Referência”, coordenado pelo DESER
(Departamento de Estudos Sócio-Econômicos Rurais), em parceria com as
entidades da Agricultura Familiar Local, nos anos de 2004/2005; e 7 famí-
lias consideradas aqui “históricas na agroecologia”. Todas estas pesquisas
usaram a mesma metodologia.
Os dados levantados sugerem uma caracterização da agricultura
regional, identificados aqui por 4 “caminhos”: a) agricultura convencio-
nal sem fumo; b) agricultura integrada ao fumo; c) agricultura orgânica;
*
O autor não apresentou referências para esse texto.
243
Desenvolvimento territorial e agroecologia
Renda e agroecologia
Qual a real importância da renda na agricultura familiar? As categorias
econômicas como renda, capital e lucro, são inerentes a um sistema basea-
do no trabalho assalariado. Na agricultura familiar seria, portanto, impró-
prio utilizar da mesma ferramenta para o estudo da sua vida econômica.
Feita esta ponderação, buscamos dar importância a outras categorias eco-
nômicas, como a do autoconsumo, e estabelecer relações entre as catego-
rias valor da produção, renda, custos, trabalho, uso da terra, tendo como
desafio superar a abordagem economicista de renda, gerando indicadores
de sustentabilidade.
A importância da renda para a Agricultura Familiar se dá à medida
que ela deixa de ser apenas um indicador quantitativo e passa a ter signi-
ficados qualitativos.
A produção ecológica, antes de ser uma opção econômica, é uma
alternativa de vida e de trabalho, contrapondo-se aos desmatamentos, à
exaustão dos recursos naturais, ao emprego da mecanização pesada, à im-
portação de insumos e à lógica da monocultura exportadora.
As estratégias produtivas organizadas na agricultura familiar, sejam
orgânicas ou convencionais, ainda não construíram uma nova lógica de
mercado. O retorno de famílias à produção convencional é perceptível e
não se tem notado um crescimento significativo de UPVFs agroecológicas.
Esta situação já nos revela a fragilidade presente na agricultura ecológica.
Alguma razão há de se ter e queremos nos somar nesta busca.
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Serinei César Grígolo
245
Desenvolvimento territorial e agroecologia
• UT – Unidade de Trabalho: número de pessoas na família multiplicado pelo tempo que cada
um se dedica ao trabalho na UPVF.
• VBP – Valor Bruto da Produção comercializada.
• Custos Variáveis – custos de produção que variam de acordo com a quantidade cultivada,
como insumos, despesas com máquinas. Neste caso, transformamos em % do VBP.
• CMF – Custos de Manutenção Familiar: são os custos que uma família tem para se manter,
ou seja, alimentos, saúde, educação, vestuário, taxas…
• CME – Custos de Manutenção das Estruturas – custo que a família tem para manter a es-
trutura produtiva, como consertos de instalações e máquinas. Não é depreciação.
• Renda: é o VBP subtraído dos custos variáveis, do CMF e do CME. É o valor disponível para
investimentos.
• Autoconsumo – é a quantidade de alimentos que a família consome, daquilo que foi por ela
produzido, multiplicando pelo preço destes alimentos no mercado. Serve como um referen-
cial de autoconsumo monetarizado.
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Serinei César Grígolo
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Desenvolvimento territorial e agroecologia
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Serinei César Grígolo
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Desenvolvimento territorial e agroecologia
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251
Desenvolvimento territorial e agroecologia
Os custos da produção representam 12,42% do valor da venda da produção, sem considerar o autoconsumo
como valor bruto da produção. Se assim considerarmos, os custos representam entorno de 10%.
A produção de autoconsumo da família é composta pelos seguintes itens com os respectivos valores:
hortaliças
(R$ 576,00), frutas (R$ 600,50), milho pipoca (R$ 20,00), ovos (R$ 75,00), mandioca (R$ 328,50), feijão
(R$ 105,00), carnes (R$ 1.314,00), amendoim (R$ 160,00), leite (511,00), queijo (R$ 360,00), farinha de
milho (R$ 100,00), batata doce (R$ 80,00), batatinha (R$ 120,00), alho (R$ 75,00), mel (R$ 240,00).
Os insumos para reposição da fertilidade são de origem orgânica.
A área total é a área de escritura da propriedade.
A área de produção é o somatório das produções do ano agrícola, incluindo safras de inverno, verão,
safrinhas e produções permanentes.
Fonte: Rede de Agricultores Familiares Gestores de Referências/Deser (2006).
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Serinei César Grígolo
Considerações Finais
O estudo nos permite concluir que a opção pela produção orgânica não
melhorou a renda se comparada aos cultivos convencionais. O caminho
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Desenvolvimento territorial e agroecologia
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