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Unidade 3 – Seção 1

Territorialidade
Para a Saúde Pública, a Territorialidade é definida como um espaço geográfico delimitado
com população definida. Essa divisão contribui para a organização do sistema e das formas de
atendimento, possibilitando a leitura das características e determinada região ou população, a
partir da visualização das problemáticas que precisam de atuação mais efetiva do Estado.
Já na Assistência Social, o conceito de território está associado as questões de risco e
vulnerabilidade.

O Território é um norteador das políticas públicas. O Brasil é extenso, não somente em sua
geografia, mas também na pluralidade de culturas, crenças e formas de vida. Dentro de uma
única cidade existem diferentes possibilidades de relações humanas.

Assim, para que as políticas contemplem as necessidades da população, é preciso, antes de


tudo, entender quais são as características de determinado território.
Nessa mesma lógica atua a psicologia. Faria algum sentido propor uma ação, para um
indivíduo ou grupo, que não tenha a ver com as características, com a demanda, com a
necessidade dos envolvidos? Não. Portanto, antes de se elaborar estratégias de ação
(prevenção ou intervenção), é preciso conhecer quem é o sujeito ou os sujeitos que constituem
o público-alvo do trabalho.

Territorialidade na Saúde

A compreensão do conceito de territorialidade é fundamental


na atuação do psicólogo em políticas públicas porque o
território não pode ser visto como mera divisão de um espaço
geográfico, mas, sim, entendido em sua amplitude, considera-se
as características culturais que compõem cada espaço.

Sempre que você sai, pra onde você volta? Qual é o seu território? A qual lugar você pertence?
Podemos pensar em macroespaços (como o país em que vivemos, nossa cidade) ou em
microespaços (como nosso bairro, nossa casa, nosso quarto). Todos esses espaços
geograficamente delimitados podem ser compreendidos como territórios, como lugares de
pertencimento.
A concepção de território ou territorialidade varia a partir do ponto de vista que utilizamos e
da política na qual estamos inseridos. Para esta seção, usaremos a lente da saúde, porém com
uma breve introdução de como este conceito é definido no SUAS, objetivando que você
construa uma relação entre ambas as políticas.
No SUS, o conceito de território está intimamente relacionado a dois princípios:
regionalização e descentralização.

Diversos autores defendem a ideia de uma territorialidade que seja maior do que a definição
de seus limites geográficos e que contemplem a cultura, as formas de ida, o vínculo e a
sensação de pertencimento do sujeito ao espaço.
Esta é uma concepção que deve também ser compreendida pela psicologia. Um dos grandes
desafios talvez seja inserir, no contexto da territorialidade, pessoas que vivem a margem da
sociedade, aceitando que aquele espaço também lhes pertence, também representa seu lugar
de morada, local onde a vida acontece. O SUAS contempla de forma um pouco mais ampliada
esse conceito, mas também, ao fazê-lo, reduz o território as noções de risco e vulnerabilidade.

De acordo com Spink et al. (2010), esse desafio da psicologia está relacionado:
A necessidade de a psicologia alinhar seu saber e sua técnica aos princípios e valores do SUS.
Não basta o psicólogo compreender a questão da territorialidade se a sua prática estiver
embasada no modelo médico-normatizado, tal qual seu início na sociedade brasileira –
momento em que seria a elite.

A psicologia passou por um grande processo de transformação desde então. Hoje, seu eixo
norteador é o compromisso com a sociedade. Portanto, ela precisa ocupar um lugar de
questionamento crítico, de provocadora de reflexões, para que possamos repensar práticas
instituídas que nada contribuem para o avanço das políticas públicas.

Ó O que é regionalização no SUS?


Área geográfica delimitada com população definida.
Ó O que é descentralização o SUS?
Reorganização das responsabilidades entre o município, o estado e federação.
Ó O que é território?
Espaço geográfico delimitado.
Ó Assim como SUS, o SUAS possui sua definição de território que está baseado: na
vulnerabilidade.
Ó A territorialidade compõe a organização do SUS. Por que é importante estudar a
territorialidade?
Para compreender a construção os ambientes subjetivos.
Ó O território, em saúde pública, também está associado aos conceitos de regionalização
e descentralização.

Territorialidade Regionalização Descentralização Hierarquização


Refere-se, em saúde, a Conta coma organização do É o reordenamento Concomitante ao processo
uma área geográfica território a partir de regiões administrativo no qual de regionalização encontra-
delimitada. Embora essa de saúde. Essa delimitação compete ao município a se a hierarquização dos
delimitação seja oferta aos gestores da organização e execução dos serviços, ou seja, a
importante para o política pública um serviços do SUS. A organização por
processo de panorama sobre o descentralização do poder complexidade tecnológica.
regionalização, ela não funcionamento e as das ações para o município Assim, dentro de um
considera as dinâmicas deficiências dos serviços em acontece porque este ente território, é esperado (e
que ocorrem dentro de determinado espaço federativo encontra-se mais preconizado pelo SUS) que
cada espaço. geográfico. próximo da realidade de sua haja equipamentos da
população, em comparação atenção básica, de média e
com o estado e a federação. de alta complexidades.
Unidade 3 – Seção 2

Promoção de Cidadania
O conceito de cidadania traz em seu bojo uma contradição que merece ser ampliada e
discutida. Quando falamos, hoje, em cidadania, nos referimos a busca pela igualdade de
direitos (sejam eles já conquistados ou a conquistar). Porém, o conceito de cidadania não está
vinculado, meramente, a um plano jurídico, e sim a um processo histórico que esconde
relações de poder e dominância ainda presentes em nossa sociedade.

Segundo Moisés (2005), nos séculos XVII e XVIII, Rousseau e Locke problematizaram outras
questões que ofertaram as bases filosóficas do conceito e, com o advento das revoluções
(inglesa, americana e francesa), o uso desse conceito estabeleceu um vínculo entre a questão
jurídico-legal; as noções de liberdade, igualdade, fraternidade; e o Estado. O cidadão passou a
ser reconhecido como quem pertence àquela comunidade e, portanto, que possui o direito de
participar da escolha de governos e representantes.

Desde então, os princípios básicos que envolvem a cidadania se referem a liberdade e a


igualdade de direitos. Mas o termo é muito dinâmico e flexível, variando de cultura para
cultura. No Brasil, um país democrático, a busca por cidadania inclui mais do que a igualdade
de direitos, consolidada nas leis. Ela propõe a execução desses direitos.
Portanto, garantir direitos na legislação não pressupões a diminuição das desigualdades
sociais, alimentada também pelo sistema capitalista. Ao contrário, muitas vezes, como afirma
Marx, ela oculta a verdadeira exclusão social.

Ofertar benefícios de transferência de renda é importante para atender as necessidades


materiais básicas, mas não é suficiente. É preciso empoderar os sujeitos, trabalhar sua
autonomia.
O Empoderamento é um instrumento importante na luta pela exclusão da pobreza, pois
permite que os sujeitos olhem para si e para suas histórias e, a partir delas, mobilizem-se
coletivamente em busca de transformação social. É este processo que o torna protagonista, e
não coadjuvante, de sua história.

Os movimentos sociais são espaço de participação cidadã e estão baseados na realidade


social, naquilo que é negligenciado pelo Estado e pelo Sistema.
A questão é transformar a necessidade em demanda e a partir daí mobilizar ações de
promoção de cidadania, de reconhecimento do sujeito cidadão.

O psicólogo, em sua atuação nas políticas públicas, trabalha para promover essa cidadania,
na busca por: emancipação.

Ó Quais os princípios relacionados ao conceito de cidadania?


Igualdade e liberdade.
Ó Por que no Brasil, ainda hoje, o conceito de cidadania é contraditório?
Porque a lei afirma que somos todos iguais, mas essa afirmação oculta as
desigualdades sociais.
Ó No âmbito do SUS, qual dos dispositivos abaixo desenvolve trabalho de inserção
social, promovendo a dignidade humana e a cidadania?
Centros de convivência.
Ó Um dispositivo de promoção de cidadania e interação coma comunidade é o Centro
de Convivência, dispositivo vinculado: a saúde pública.
Ó A conquista de direitos está baseada em conceitos jurídico-legais, com a garantia de
que todos são iguais perante a lei. Como Marx compreendia a cidadania baseada
nesse conceito?
Esse conceito ocultava a exclusão e a desigualdade vivida no sistema capitalista.

Unidade 3 – Seção 3

Programas de Políticas Públicas de Base Nacional


A compreensão do território precisa considerar as dinâmicas e relações que se desenrolam no
espaço geográfico, analisando: a cultura, os valores e as crenças das pessoas que constituem a
população local.

Mas a política de saúde apenas define território como a delimitação de um determinado


espaço geográfico, com população definida. Esse ponto é contraditório se considerarmos o
esforço das políticas públicas em buscar compreender os fenômenos humanos de forma plural
e transversal, contemplando múltiplos fatores.

Também contraditório é o termo cidadania que, nos tempos atuais, refere-se a busca por
igualdade de direitos, mas que em sua origem está relacionado a construção restritiva de
direito e interesses voltados a manutenção e preservação de propriedades privadas da
burguesia.

Portanto, é preciso analisar amplamente os conceitos e compreender suas estruturas, tal qual
a compreensão da vivência em situação de rua.

O Sistema Único de Saúde é uma política inovadora, que enfrenta muitos desafios, como
sabemos. Mas não podemos negar que, mesmo diante das inúmeras dificuldades, essa política
busca o aprimoramento contínuo de seu sistema.

TELESSAÚDE – Brasil Redes


 Foi instituído pela Portaria nº 2.546, de 27 de outubro de 2011.
 Refere-se a “uma ação nacional que busca melhorar a qualidade do atendimento e da
atenção básica no SUS, integrando ensino e serviço por meio de ferramentas de
tecnologias da informação” (MINISÉRIO DA SAÚDE), por meio de chat,
webconferência, e-mails, enfim, ferramentas de tecnologia e comunicação.
 Com esse programa, os gestores do SUS objetivam reduzir custos e deslocamento,
tornar o trabalho mais ágil e resolutivo a população.
 São oferecidos serviços como:
o Teleconsultoria: no qual os profissionais da rede básica recebem orientação e
um consultor sobre procedimentos, ações e saúde ou processos de trabalho
(essa Teleconsultoria também pode ser realizada por telefone).
o Telediagnóstico: no qual a equipe recebe apoio para realizar diagnóstico.
o Segunda opinião formativa: é a busca por referências bibliográficas de
pesquisas cientificas sobre determinado assunto que foi apresentado em uma
teleconsultoria.
o Tele-educação: é a oferta de seminários, cursos, aulas através das tecnologias
de comunicação.
 Por fim, o Telessaúde Brasil Redes contribui, inclusive, para o atendimento a
população em situação de rua, quer seja em municípios que contam com o serviço do
Consultório na Rua (CR) ou não (neste caso, as ações são realizadas pela equipe da
UBS).
CONSULTÓRIO NA RUA
 O Consultório na Rua e um dispositivo muito importante a saúde, vinculado a Atenção
Básica e que conta com o suporte de outros equipamentos (NASF, CAPS, rede de
urgência etc.). Ele envolve também a articulação da rede intersetorial no cuidado as
questões relativas a população em situação de rua.
 É um trabalho delicado que demanda acolhimento digno e qualificado, sem
julgamentos ou imposição de saber.
 O psicólogo que atua nesse dispositivo deve ofertar escuta que valorize as histórias
de vida de cada sujeito e respeite as escolhas de cada um.
 Muitas pessoas que vivem em situação de rua são usuárias de substâncias psicoativas
(álcool, tabaco, crack, cocaína, maconha, entre outros). Nesses casos, a estratégia
utilizada é a redução de danos que não objetive induzir o usuário a interrupção do
uso, mas ofertar orientação sobre os riscos e encaminhamentos necessários aos
cuidados em saúde.
 Além do desafio de cuidar da saúde de uma pessoa em situação de rua, o psicólogo, e
demais profissionais que atuam no CR, precisa refletir sobre como a sociedade
reproduz em suas relações o estigma, o preconceito, a negligência, a discriminação –
que culminam na invisibilidade social dessas pessoas.

Precisamos resgatar o sujeito que habita cada indivíduo e estabelecer com ele uma relação
verdadeira e vínculo e confiança.

Ó A política do Consultório na rua está vinculada ao atendimento de pessoas em situação


de rua, enquanto o Telessaúde Brasil Redes é um serviço aos profissionais do SUS.
Ambos estão vinculados a Atenção Básica.
Ó Como o trabalho com população em situação de rua pode se vincular ao Telessaúde
Brasil Redes?
Através da capacitação profissional, que objetiva ofertar melhor atendimento a
população.
Ó Qual o objetivo final o Telessaúde Brasil Redes?
Oferecer atendimento de qualidade a população.
Ó Uma das estratégias de atendimento a população em situação de rua é a redução de
danos. Essa estratégia se refere a:
Orientação, educação e aconselhamento sobre possíveis danos e riscos relacionados
ao uso de substâncias psicoativas; a articulação com serviços de assistência social e
saúde; e a distribuição de insumos de proteção a saúde e de prevenção ao IV/AIDS e
Hepatites.
Ó Outro dispositivo vinculado a Política de Atenção Básica é o Núcleo de Apoio á Saúde
da Família. Qual a sua função na rede de saúde?
Oferecer apoio às UBSs.
Ó O Consultório na Rua (CR) é um dispositivo criado para atender pessoas que vivem
em situação de rua. Quais as ações desenvolvidas por esse serviço?
O CR deve articular suas ações de cuidado em saúde com as demais políticas públicas
do território. Ele atua com equipe multiprofissional, em horários que atendam a
demanda da população. Quando o município não conta com o serviço de CR, o
atendimento a esta população específica deve ser ofertado pelo UBS.

Unidade 3 – Seção 4

Novas Políticas e Práticas – Brasil – República Inclusiva

O perfil mais adequado de liderança varia de situação, embora alguns autores afirmem que a
liderança democrática é a mais aconselhável.
Liderança Democrática Liderança Transacional
Neste tipo de liderança o gestor ouve sua O líder centraliza suas ações em si e opera
equipe, trabalha coletivamente, motivando na lógica da tarefa. Ele trabalha com reforço
o grupo e melhorando a qualidade na e punição, monitorando erros.
execução da tarefa. Não opera na lógica do Desmotivação.
reforço ou da punição. Com isso, caso o
gestor se ausente, não há diminuição no
ritmo de trabalho.
Liderança Autocrática Liderança Transformacional
É muito semelhante a lógica transacional, O líder procura aumentar a sensibilidade dos
em que os líderes estabelecem sozinhos as liderados procurando motivá-los além das
normas do grupo, permanecem no expectativas, segundo o que dizem Bass e
“pedestal”, como descrita por Pereira, Avolio (1997 apud DIAS; BORGES, 2015).
Rizzon e Braghirolli (2011). Neste grupo as - Os líderes compreendem os erros como
pessoas são hostis entre si. possibilidades de aprendizado, enfrentando
melhor a complexidade do trabalho e suas
incertezas.

O psicólogo, enquanto gestor, deve atuar considerando as suas características de


personalidade, pois o posicionamento do líder tem impacto tanto na produtividade do grupo
quanto em sua saúde física e mental.

Um modelo democrático de gestão no SUS é o Colegiado Gestor. Esse modelo instituído


pela Política Nacional de Humanização considera as tomadas de decisão a partir de um
coletivo, com representantes das categorias profissionais da unidade de saúde ou das
equipes dessa unidade (caso haja mais de uma equipe).
O Colegiado Gestor: configura-se por espaço coletivo e democrático de tomada de decisão.
No colegiado Gestor, o coordenador da unidade compartilha com
o coletivo os caminhos que deverão ser tomados para além e
decisões administrativas, considerando, inclusive, a assistência em
saúde. No entanto, é um modelo que ainda não foi implantado de
forma eficaz e está intimamente ligado a personalidade do gestor.
Fazer gestão, portando, não é uma tarefa fácil. E para complicar, não há produção cientifica
acerca do tem. É fundamental que os psicólogos publiquem seus fazeres cotidianos,
compartilham com a categoria os desafios, as potencialidades, as ideias inovadoras que estão
sendo eficazes no atendimento aos usuários. No entanto, pesquisa realizada aponta que
menos de 20% dos periódicos científicos publicados são escritos por profissionais atuantes.

Os demais são desenvolvidos por pesquisadores vinculados as instituições de ensino e tem


como público também outros pesquisadores ou alunos, não atingindo, assim, a imensa parcela
que atua cotidianamente nas políticas públicas.

Ó O que podemos afirmar sobre a produção de material científico no campo da


psicologia?
A extensa maioria dos artigos não é publicada por quem atua, e sim por quem
pesquisa.
Ó O melhor estilo de liderança: depende da situação.
Ó Uma das características importantes ao psicólogo que exerce a função de gestor é a
liderança. Qual a importância da liderança em um grupo?
É importante porque é o centro do processo do grupo.

Ó Quais os modelos de gestão que são encontrados no SUS e a qual tipo e liderança
eles estão vinculados?
Colegiado Gestor e Apoio Institucional/ Democrático.
Ó Descentralização: reorganiza as responsabilidades entre o município, o estado e a
federação, objetivando reforçar o poder municipal sobre o cuidado em saúde,
cabendo as prefeituras a maior responsabilidade na execução de serviços e ações
voltadas a população (BRASIL, 1990).

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