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TUTORIAL/PORTIFÓLIO
TERRITORIALIZAÇÃO NOS CENÁRIOS DE
PRÁTICA (COMPONENTE COMUNITÁRIO)
TERRITORIALIZAÇÃO DO COMPONENTE
COMUNITÁRIO (TURMA X)
13 a 31 de março de 2023
TERRITÓRIO E TERRITORIALIZAÇÃO NA RESMULTI-ESP/CE
O decreto 7508/2011 refere que a Atenção Primária à Saúde é responsável pela ordenação da
rede e organização do cuidado, sendo fundamental a articulação dos demais pontos da rede, visando a
integralidade do cuidado. Em ambas as redes e níveis de atenção, o Território é o centro estratégico da
organização do cuidado.
Sobre o conceito de território no campo da saúde, Santos e Rigotto (2011), afirmam que o
território “caracteriza-se por uma população específica vivendo em tempo e espaço determinados, com
problemas de saúde definidos, mas quase sempre com condicionantes e determinantes que emergem de
um plano mais geral”.
As ações nos territórios possibilitam um rico (re)conhecimento dos mesmos, identificando seus
equipamentos sociais, aspectos culturais e hábitos da comunidade, da mesma forma, a identificação e
mapeamento desses equipamentos sociais do território potencializam a atuação dos profissionais dessas
equipes e ampliam as possibilidades de cuidado e promoção da saúde (BRASIL, 2010a).
2. Etapas da Territorialização
Diz respeito a um “passo a passo” no qual os residentes deverão seguir para contemplar o processo de
territorialização que se pede na formação do profissional de saúde residente. Este material deve ser lido
com atenção, em equipe e individualmente, na presença de preceptores e profissionais de saúde
residentes e pactuadas as tarefas em coletividade. Haverá sempre a necessidade de relê-lo e de revisá-
lo e assim deverá ser feito quantas vezes necessário seja.
COMPREENDENDO A CENTRALIDADE DO
TERRITÓRIO NA ATENÇÃO À SAÚDE DE BASE
COMUNITÁRIA
Território é o espaço onde se dá a produção da saúde e da vida comunitária. É o locus onde se
desenrolam as nuances subjetivas, as crenças e os valores da comunidade (RIBEIRO et. al., 2010) e onde
se dá a interação da população com os serviços de saúde (GONDIM et. al., 2009). Segundo Oliveira e
Furlan (2008), território é o “espaço de vivência, de identidades, trajetórias pessoais, coletivos
organizados, movimentos sociais, de ação deliberada das pessoas, como também de relações sociais e
redes de poder”. O território, dessa maneira, está em constante construção, desconstrução e reconstrução
(PEREIRA, BARCELLOS, 2006). Por tudo isso, ele não pode ser enclausurado em um conceito físico
e estanque. O território é vivo e está em constante movimento (OLIVEIRA, FURLAN, 2008).
Entender-se dentro desse espaço de fluxos que é o território pode ser compreendido como o
processo de territorialização. Este, assim, como o território não é uma ação pontual, é um processo, um
ato que sempre está atrasado, visto que o território muda o tempo todo, é fluido (PEREIRA,
BARCELLOS, 2006). No entanto, nesse espaço e lugar existem relações e sensos de pertença que são
perenes. Por isso, para além de conhecer o território físico, territorializar-se exige inserção, implicação,
tempo, diálogo e flexibilidade (SANTOS, RIGOTTO, 2010). Para empreender tal feito é necessário
explorar, apreender as relações e a dinâmica local e, sentindo-se parte do contexto, estabelecer relações
de horizontalidade com os demais serviços existentes (PEREIRA, BARCELLOS, 2006).
Em suma, como aponta Ribeiro et al. (2010) ao falar sobre a atuação em Saúde Comunitária,
territorialização é o processo de identificação, de descrição de comunidade e de inserção comunitária
em que as equipes atuarão” (p. 118). A territorialização, nesse caso, pode ser entendida como uma
metodologia (GONDIM et al, 2009). E, nessa perspectiva, apresenta-se como uma forma de (re)orientar
a prática, os processos de trabalho em saúde e sua reflexão (SANTOS, RIGOTTO, 2010).
Pensando nesta necessidade de reorientar a prática é preciso pensar que a Atenção Psicossocial
deve também interferir na dimensão sociocultural da realidade. Desse modo a atuação no território deve
compreender inclusive como se formam os processos de estigmatização dos usuários para que se possa
interferir numa nova modalidade de relação da loucura com a sociedade. Assim é necessário perceber
também o território como espaço de produção subjetiva e, portanto tensionar mudanças e transformações
que incidem diretamente na produção de saúde.
Santos e Rigotto (2011, p. 398) apontam que o primeiro passo para as equipes de saúde (e na
residência podem ser as equipes que atuam no território bem como as lotadas na gestão) reconhecerem
um território é buscar conhecimentos já produzidos sobre o mesmo, que possibilitem acessar sua história
e relacionar elementos do passado com o presente, suscitando a identificação de “potencialidades,
tradições, cultura, valores e hábitos, e também aos possíveis conflitos – de poder, de uso e ocupação do
solo, culturais, étnicos, ambientais etc. – todos da maior relevância para a saúde”.
Tais informações podem ser obtidas por vias institucionais, como consultas bibliográficas,
consultas em sistemas de informação ou nas escolas locais, bem como por vias não institucionalizadas,
como a abordagens a professores, lideranças comunitárias, idosos ou moradores antigos do lugar.
Também é importante apropriar-se de mapas do território e de dados sobre a população, como seu perfil
e indicadores de saúde. A prefeitura, as gestões de regionais (como as CRES), as secretarias, as
coordenações de pastas, de Centros de Saúde, da Rede de Atenção Psicossocial, os sistemas de bancos
de dados informatizados, os ACS e, sobretudo, a própria comunidade deve auxiliar no processo que se
denomina inserção comunitária da territorialização.
Para compreender, então, a territorialização de modo diferente da tradicional adscrição de
clientela, se faz necessária a apreensão de um conceito estratégico: a inserção comunitária. Esta se
remete à apreensão do modo de vida da comunidade.
Alguns modos de promover essa inserção podem ser: visitar os lugares onde acontece a vida da
comunidade; conhecer os equipamentos sociais, como ONGs, instituições religiosas, escolas, etc.;
conversar com as pessoas; buscar conhecer a história da comunidade; dentre outras formas de perceber
os problemas e as potencialidades de cada lugar (RIBEIRO et. al., 2010; ARAÚJO, 1999).
Essa divisão em etapas é uma sistematização didática com o intuito de melhor organizar a agenda
inicial dos residentes no território.
Primeira Etapa Terceira Etapa Quinta Etapa
Período e e
Segunda Etapa Quarta Etapa (27 a 31 de março)
(13 a 17 de março) (20 a 24 de março)
Realização de
Imersão Mobilização nos Sistematização oficinas de
no Imersão territórios/ das oficinas/ planejamento
Fase município Comunitária Execução de Planejamento participativo/
e Cenário oficinas de da quinta Avaliação dos
de territorialização etapa elementos
Práticas vivenciados e
condensados
É certo, entretanto, que as etapas se interpenetram e não precisam encaixar-se nessa divisão
estanque, por isso algumas ações propostas na primeira etapa podem acontecer apenas na segunda e
também algumas ações propostas para serem executadas posteriormente podem já iniciar ou serem
finalizadas em etapas anteriores.
Esse momento deve proporcionar à equipe não só o contato com os dados objetivos e
quantitativos sobre a área adscrita, mas experiências dotadas de subjetividade, uma vez que
conversar com os profissionais de saúde e pessoas da comunidade revela o olhar que cada um
desses atores têm sobre o território, os momentos de luta e de conquista que fizeram parte de sua
história, os sentimentos de identificação e de pertencimento comunitário. Tais informações exigem
uma escuta atenta e sensível, de modo que o caminhar pelo território (inerente à segunda etapa)
durante as visitas dê sentido à sua vivacidade tão discutida na literatura (OLIVEIRA, FURLAN,
2010; SANTOS, RIGOTTO, 2011).
Todas essas informações objetivas e subjetivas, desde então, já devem constituir-se como
subsídios para a elaboração, mesmo que inicial, de um planejamento de ações em saúde baseado
nas necessidades e problemas locais (em etapas posteriores, esse planejamento será mais
detalhado). Salienta-se ainda que é possível a utilização de instrumentos de avaliação de
diagnóstico local para as categorias profissionais, se necessário for.
Para auxiliar na sistematização de informações sobre essa etapa, propõe-se a utilização desses
instrumentos que foram adaptados de Ribeiro et al (2010):
Além disso, torna-se relevante utilizar o Check-list Ambiental cedido pela Universidade
Federal Rural de Pernambuco relativo à perspectiva da Saúde Única que poderá ser utilizado na
prática.
Estar na UBS/UAPS,CAPS e SMS com um olhar atento aos diversos atores que passam por
ali, faz parte com grande relevância desse processo de territorialização. A organização do serviço
de saúde diz muito sobre o território e, sendo este o locus de atuação dos residentes, é fundamental
esse olhar mais atento a tal dinâmica.
• Como se organiza o processo de trabalho das equipes dos serviços assistências (CAPS,
UBS/UAPS e de gestão (CRES) que os residentes serão inseridos? E no que tange às ações educativas,
quais foram identificadas?
• Como é estruturado e dividido o espaço físico da unidade de saúde?
• Como acontece a divisão de responsabilidades na unidade? Existem setores? Como eles se
organizam? Como eles dialogam?
• Quais os profissionais, quais os vínculos desses trabalhadores, há quanto tempo atuam naquele
serviço?
• Qual o perfil social, demográfico e epidemiológico da população adscrita?
• Como se organiza a gestão municipal e local na saúde? Quais as interfaces da ESF ou CAPS
com as demais pastas e secretarias?
• Como tem sido a implantação da Rede de Atenção Psicossocial no território? Como a RAPS se
organiza? Qual a participação da Gestão nesse processo?
• As atividades realizadas nos serviços que ofertam ações de cuidado para as pessoas com
sofrimento psíquico, funcionam como catalisadoras de novos territórios existenciais, onde os usuários
possam reconquistar espaços perdidos e conquistar novos?
• Quais os instrumentos de territorialização utilizados na UBS/UAPS e no CAPS?
• Quais indicadores de saúde foram identificados? O que eles apontam sobre a situação de saúde
da população?
• Quais os indicadores de saúde mental foram identificados? O que eles apontam sobre a situação de
saúde da população?
• Quais os indicadores relacionados à internação psiquiátrica no território?
• Existem conflitos na UBS/UAPS e CAPS? E na rede assistencial mapeada? E na SMS?
Segunda etapa
“Imersão Comunitária”
Sugere-se que, tendo posse do mapeamento realizado na etapa anterior e das
informações obtidas junto à UBS/UAPS, CAPS e SMS, aos profissionais do município e à
observação da dinâmica das unidades (sobretudo àquela que haverá lotação de equipes da
residência), os profissionais de saúde residentes devem organizar visitas para observação e
coleta de informações relevantes junto aos atores chaves, moradores antigos, lideranças
comunitárias, equipamentos sociais do território, espaços de lazer da comunidade, etc.
• Qual o público-alvo?
• Esse público-alvo é diversificado? Seria interessante dividir esse público e fazer mais de
uma oficina? Como seria essa divisão?
• Onde acontecerão tais oficinas? Esse lugar é acessível? Esse lugar facilitará a presença
das pessoas que serão convidadas?
• Qual o horário dessas oficinas? Esse horário facilita a presença das pessoas?
• Para cada público-alvo, que metodologia pode fomentar melhor a participação das
pessoas?
• Que perguntas geradoras podem ser utilizadas para essas oficinas?
• Que estratégias de divulgação estão disponíveis e podem ser utilizadas? Convites
pessoais? Convites institucionais? Cartazes espalhados em espaços estratégicos dos territórios?
Retorno aos locais visitados para convidar? Que outras estratégias de comunicação a equipe de
residentes visualiza?
Quinta etapa
Realização das oficinas de planejamento participativo e
avaliação dos elementos vivenciados e condensados”
As oficinas devem ser realizadas em equipamentos sociais estratégicos do
território de atuação, visando à construção de um projeto comum e adequado às
necessidades de saúde da população. Também devem ser convidados os atores sociais
dentre aqueles que participaram das oficinas de territorialização, sendo
operacionalizada uma mobilização prévia pelos profissionais de saúde residentes. Em
suma, essas oficinas caracterizam-se como um momento para análise dos problemas
levantados nos encontros anteriores e construção de um plano de ação.
Quinta etapa
(continuação)
O planejamento participativo em saúde é uma ferramenta capaz de produzir
níveis crescentesde autonomia e incentivar o protagonismo dos diversos atores sociais
envolvidos com o sistema de saúde. O ato de planejar deixa de ser burocrático e se
torna uma ação político- pedagógica na medida em que é proporcionado a esses atores
o exercício de sua condição enquanto sujeitos reflexivos da realidade, solidários
coletivamente e comprometidos com mudanças nas suas práticas de trabalho ecom
seus processos de saúde (PARENTE, 2011).
Para esta atividade produto, o período de postagem na Plataforma ESP Virtual está
programada para o dia 07 de maio de 2023.
Por conseguinte, o período da Mostra e Vivências da Territorialização em Saúde
ocorrerá nos dias 08, 09 e 10 de maio de 2023, conforme calendário acadêmico.
Todos os arquivos que serão necessários para esta atividade constam na Plataforma
ESP Virtual, em caso de dúvida procurar seu supervisor/preceptor e/ou tutores de cada
programa.
Informamos que o modelo em anexo (ANEXO A) sugere uma forma, mas o
conteúdo é livre e criativo para as equipes, deve-se lembrar ainda que este será um
documento que será pesquisado/acessado por diversos atores que fazem parte desse
processo em rede, ou seja, é um documento de pesquisa que ficará enquanto memória
afetiva/criativa e simbólica da turma.
X
2023
1
6
REFERÊNCIAS
BRASIL. Política Nacional de Saúde Integral das Populações do Campo, da Floresta e das
Águas. BRASIL, 2013
GONDIM, G. M. de M.; MONKEN, M.; ROJAS, L. I.; BARCELLOS, C.; PEITER, P.;
NAVARRO, M.; GRACIE, R. O território em Saúde: A organização dos sistemas de saúde e a
territorialização. 2009.
SILVA, R. Psicose e laço social. IN Saúde loucura nº 09, Hucitec, 2010 SANTOS, A. L.;
RIGOTTO, R. M. Território e Territorialização: Incorporando as relações produção,
trabalho, ambiente e saúde naAtenção Básica à Saúde. Trab. Educ. Saúde, Rio de Janeiro, v.
6, n. 3, p. 387- 406, 2010.
SECRETARIA DA SAÚDE