Você está na página 1de 21

Contextos da Prática Terapêutica

Ocupacional

Conteudista
Prof. Me. Adriano Conrado Rodrigues

Revisão Textual
Esp. Danilo Coutinho de Almeida Cavalcante
OBJETIVOS DA UNIDADE
• Conhecer as áreas de atuação do terapeuta ocupacional, bem como ana-
lisar os aspectos geopolíticos associados;

• Adotar, sob análise ampla do cotidiano e da ocupação, os materiais e


métodos terapêutico-ocupacionais correlacionados.

Atenção, estudante! Aqui, reforçamos o acesso ao conteúdo on-line


para que você assista à videoaula. Será muito importante para o
entendimento do conteúdo.

Este arquivo PDF contém o mesmo conteúdo visto on-line. Sua dis-
ponibilização é para consulta off-line e possibilidade de impressão.
No entanto, recomendamos que acesse o conteúdo on-line para
melhor aproveitamento.

2
Áreas de Atuação do
Terapeuta Ocupacional
Essa importante profissão, já difundida em grande parte do mundo, caminha
rumo à sua consolidação também no Brasil; em especial nos espaços da saúde,
da educação e da assistência social. Portanto, é essencial o entendimento das
variáveis que permeiam e compõem a Terapia Ocupacional, bem como dos pa-
râmetros e justificativas que levem a esse cenário em nosso país e no mundo,
tanto no que se refere a distribuição geopolítica dos profissionais em diferentes
territórios como de suas práticas e contribuições para as políticas de atenção à
educação, à saúde e à assistência social.

Acredito que, a partir do correto entendimento desse contexto e da evidência do


impacto das ações profissionais, poderemos intervir para o crescimento da pro-
fissão, e planejar ações para a valorização dos profissionais — fatores que contri-
buirão fortemente para o sucesso de qualquer política de atenção pautada nos
preceitos da Organização Mundial da Saúde e nos preceitos das necessidades ou
demandas da própria população.

A Terapia Ocupacional, como profissão de nível superior e com atuação em todos


os ciclos da vida (recém-nascidos, crianças, adolescentes, jovens, adultos e ido-
sos), está regulamentada para atuar em equipamentos públicos e privados dos
setores de saúde, educação, assistência social, previdência social e nos sistemas
judiciário e penitenciário.

Além disso, os profissionais podem participar da organização, planejamento e


gestão dos serviços, da pesquisa, da prevenção de alterações funcionais dos sis-
temas do corpo humano e do desempenho nas atividades cotidianas de pessoas
em seus diferentes contextos sociais.

Principalmente no Brasil e em países em desenvolvimento com baixo Índice de


Desenvolvimento Humano – IDH, uma importante frente de ação se dá com pes-
soas em situações de risco, de fragilidade e de vulnerabilidade social, assim como
tem ocorrido com pessoas que possuem problemas de ordem física, cognitiva e
mental em diferentes níveis de complexidade.

Nessas condições, auxiliar na integração das pessoas aos diferentes cenários so-
ciais, conforme suas demandas, papéis ocupacionais, necessidades ou interesses,
pode levar à autorrealização, ao bem-estar e a uma melhor qualidade de vida.

3
Diante disso, no Brasil, para a consolidação das práticas terapêuticas ocupacio-
nais a um nível de maior excelência técnica, ética e deontológica; e principalmen-
te para atender às demandas específicas dessa população, o Conselho Federal
de Fisioterapia e Terapia Ocupacional – COFFITO reconheceu, em resoluções nor-
mativas e de procedimentos (inclusive para evidenciá-las à sociedade), as seguin-
tes especialidades do profissional terapeuta ocupacional:

Especialidade: Acupuntura
O exercício profissional do terapeuta ocupacional acupunturista é condicionado
ao conhecimento e domínio das seguintes áreas e disciplinas, entre outras: o
conhecimento, o estudo e a avaliação dos distúrbios e dos sistemas do corpo hu-
mano, amparado pelos mecanismos próprios e sistematizados pelos estudos da
Física, da Biologia, da Fisiologia, das ciências morfológicas, bioquímicas, biome-
cânicas e biofísicas, da cinesiologia e da patologia de órgãos e sistemas do corpo
humano; utilizando-se dos conhecimentos filosóficos milenares da Medicina
Tradicional Chinesa (MTC), como a dualidade do Yin/Yang, os cinco elementos
(movimentos), etiopatogenia e fisiopatologia dos órgãos e vísceras (Zang/Fu),
com bases filosóficas e científicas da acupuntura.

Área de atuação: todos os níveis de atenção à saúde, em todas as fases do de-


senvolvimento ontogênico, com ações de prevenção, promoção, proteção, edu-
cação, intervenção, recuperação e reabilitação do paciente.

Especialidade: Contextos Hospitalares


A área de atuação de Atenção em Cuidados Paliativos compreende o oferecimen-
to de cuidados terapêuticos ocupacionais, junto a equipes multiprofissionais, a
pacientes com condições crônico-degenerativas potencialmente fatais (oncológi-
cas e não-oncológicas) e que estão em tratamento sem condições de modifica-
ção da doença. Os cuidados paliativos podem ser realizados tanto em contextos
intra-hospitalares como por meio de ações em contextos extra-hospitalares ofe-
recidas por equipe hospitalar. Esses cuidados não se restringem à fase de ter-
minalidade da vida e são considerados preventivos, uma vez que previnem um
grande sofrimento causado por dores, sintomas e pelas múltiplas perdas físicas,
psicossociais e espirituais, podendo reduzir o risco de luto complicado.

Área de atuação: visita domiciliar, assistência domiciliar, internação domiciliar


e na rede assistencial de suporte em saúde, quando realizados por equipe hos-
pitalar. As Unidades de Terapia Intensiva – UTI e as enfermarias são locais de

4
atuação do terapeuta ocupacional, que pode organizar seu fluxo ou demandas
de atenção por meio de interconsultas, reuniões de casos/encaminhamentos ou
avaliações diretas em beira-leito.

Especialidade: Contextos Sociais


Para o exercício da Especialidade Profissional em Terapia Ocupacional nos
Contextos Sociais é necessário o domínio das seguintes grandes áreas de
competência:

• Realizar avaliação, planejamento, coordenação e acompanhamento de


atividades humanas como tecnologia complexa de mediação sócio-ocu-
pacional para a emancipação social, desenvolvimento socioambiental,
econômico, socioeducacional e cultural em suas dimensões simbólica,
cidadã e econômica — de pessoas, famílias, grupos e comunidades ur-
banas, rurais e tradicionais;

• Avaliar, planejar, coordenar, desenvolver e acompanhar estratégias só-


cio-ocupacionais, econômicas e cooperativas, ou outras formas asso-
ciativas e/ou individuais de geração de renda, de produção de bens, de
serviços, de saberes, de pertencimento identitário, de compreensão e
potencialização de saberes tradicionais e de valores sociais e culturais;

• Desenvolver atividades consideradas como tecnologia de mediação


sócio-ocupacional e cultural a fim de fortalecer e/ou de desenvolver redes
de suporte e de trocas afetivas, culturais, econômicas e de informações,
valorizando os saberes, os modos de vida, os laços familiares e de apoio já
existentes, facilitando o acesso às experiências diversas de manifestações
culturais, artísticas e expressivas, desportivas, ritualísticas e linguísticas;

• Realizar a reconstituição da memória e da história coletiva, da história


das relações intergeracionais e da valorização das formas socioculturais
de expressão.

Áreas de Atuação:

• Desempenho ocupacional e contexto asilar;

• Desempenho ocupacional e contexto prisional;

• Desempenho ocupacional e geração de renda;

5
• Desempenho ocupacional e justiça e cidadania;

• Desempenho ocupacional e inclusão laboral;

• Desempenho ocupacional e liberdade assistida;

• Desempenho ocupacional e liberdade condicional;

• Desempenho ocupacional e seguridade social.

Especialidade: Gerontologia
A formação profissional dessa especialidade apresenta quatro grandes âmbitos
de atuação: atenção à saúde da pessoa idosa; assistência social à pessoa idosa;
cultura e lazer para a pessoa idosa e educação à pessoa idosa.

O âmbito de atuação na atenção à saúde da pessoa idosa compreende o plane-


jamento e execução da intervenção terapêutica ocupacional visando à proteção,
à otimização das habilidades de desempenho, à prevenção de agravos, à pro-
moção e recuperação da saúde, à reabilitação e ao gerenciamento de situações
irreversíveis junto a pessoas idosas saudáveis, pré-frágeis e frágeis, assim como
a seus familiares e cuidadores e/ou acompanhantes, contemplando aspectos da
saúde biopsicossocial nos processos naturais ou patológicos do envelhecimento.

O âmbito de atuação na assistência social à pessoa idosa compreende a atuação


do terapeuta ocupacional junto a pessoas idosas, assim como a seus familiares
e cuidadores/acompanhantes, em situação de vulnerabilidade e/ou risco social.
Esse trabalho tem como objetivo promover a participação social, elaborar estra-
tégias e/ou ações voltadas para o desenvolvimento dos potenciais econômicos
e resolver problemáticas sociais, fortalecendo as redes de suporte e de trocas
afetivas, econômicas e de informação, favorecendo o empoderamento do idoso
como cidadão.

O âmbito de atuação na cultura e lazer para a pessoa idosa compreende a atu-


ação do terapeuta ocupacional no fomento, na organização e na promoção da
participação em eventos socioculturais, artísticos e de lazer. O profissional que
atua nessa área tem a finalidade de promover e preservar a memória e a identi-
dade pessoal e cultural, a autonomia e a sociabilidade, bem como de favorecer a
inclusão social, a fruição artística, a superação de desafios, a otimização de pro-
jetos e a melhoria da qualidade de vida das pessoas idosas, de seus familiares e
cuidadores/acompanhantes.

6
O âmbito de atuação na educação à pessoa idosa compreende a atuação do
terapeuta ocupacional na educação formal e não formal, na capacitação e no
desenvolvimento de novas habilidades profissionais, em programas de educa-
ção permanente, na construção de espaços de criação e formação continuada,
na promoção da participação nos programas de educação ao longo da vida, na
constituição de práticas socioeducativas com ênfase no envelhecimento ativo e
em projetos de vida, na promoção da intergeracionalidade e nos processos de
inclusão escolar e digital.

Especialidade: Terapia Ocupacional em


Contexto Escolar

O terapeuta ocupacional especialista em Terapia Ocupacional no Contexto Escolar


é um profissional competente e com formação específica, seja em contextos de
escola regular e/ou especial ou em salas multifuncionais. Também atua em ou-
tros contextos educacionais formais e não formais em todas as modalidades,
etapas e níveis de ensino, podendo realizar a gestão de processos para implanta-
ção e implementação das políticas que garantam a inclusão dos estudantes nos
espaços de aprendizagem e a formação da comunidade educativa.

Como especialista, o terapeuta ocupacional poderá avaliar e intervir no desem-


penho ocupacional do estudante no contexto escolar, identificando se ele é capaz
de realizar suas atividades ou ocupações, analisando os resultados da interação
dinâmica entre ele, o contexto escolar e a atividade a ser desempenhada nos
espaços de aprendizagem e de interação da escola.

Esse profissional pode ainda promover meios nos contextos escolares para de-
senvolver habilidades e padrões de desempenho dos estudantes que favoreçam
o seu envolvimento e a sua participação efetiva em ocupações ou atividades no
âmbito do contexto escolar.

Especialidade: Saúde da Família


Para o exercício da Especialidade Profissional do Terapeuta Ocupacional em Saúde
da Família, é necessário o domínio das seguintes grandes áreas de competência:

• Identificar potencialidades e habilidades do desempenho ocupacional;

• Propor estratégias de intervenção terapêuticas ocupacionais a fim de


prevenir doenças;

7
• Promover a saúde, a independência e autonomia no cotidiano quanto ao
desempenho ocupacional, às atividades de vida diária e instrumentais
de vida diária, trabalho e lazer;

• Promover a acessibilidade, o desmonte de processos de segregação e de


exclusão social, a justiça ocupacional, a emancipação social, o desenvol-
vimento socioambiental, econômico e cultural;

• E estimular a participação e inclusão social da pessoa, da família, dos


grupos e da comunidade em atividades culturais, expressivas, econômi-
cas, corporais, lúdicas e de convivência.

Área de Atuação:

• Desempenho ocupacional na saúde da criança e do adolescente;

• Desempenho ocupacional na saúde do adulto;

• Desempenho ocupacional na saúde do idoso.

Especialidade: Saúde Mental


Para o exercício da Especialidade Profissional em Saúde Mental, o terapeuta ocu-
pacional deve mostrar domínio em áreas de competência como: a realização de
interconsulta e o encaminhamento em saúde mental; a avaliação ocupacional, dos
componentes percepto-cognitivos, psicossociais, psicomotores, psicoafetivos e
sensoperceptivos no desempenho ocupacional; a avaliação dos fatores pessoais
e ambientais que, em conjunto, determinam a situação real da vida (contextos); a
avaliação das restrições sociais, atitudinais e do ambiente; a realização de avalia-
ção da função cotidiana em saúde mental; e a avaliação das AVD e AIVD.

Esse profissional deve ainda ser capaz de realizar, solicitar e interpretar o exame
psíquico-ocupacional, bem como exames complementares; de aplicar testes dos
componentes do desempenho ocupacional que sustentam a saúde mental; de re-
alizar reavaliações; de atribuir diagnóstico do desempenho ocupacional e da fun-
ção cotidiana em saúde mental; e de realizar diagnóstico diferencial e contextual.

Além disso, o especialista em saúde mental também é responsável pelo plano


de tratamento e intervenção, assim como por redesenhar as atividades em si-
tuação real de vida, promovendo o reequilíbrio dos componentes percepto-
-cognitivos, psicossociais, psicomotores, psicoafetivos e sensoperceptivos do
desempenho ocupacional.

8
Áreas de Atuação:

• Desempenho ocupacional psicossocial;

• Desempenho ocupacional percepto-cognitivo;

• Desempenho ocupacional senso-perceptivo;

• Desempenho ocupacional psicoafetivo;

• Desempenho ocupacional psicomotor.

Locais de Atuação:

Sistema Único de Saúde (SUS):

• Unidades Básicas de Saúde (UBS) e Unidades Básicas de Saúde da Famí-


lia (UBSF);

• Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF);

• Centro Dia para Idosos;

• Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) e outros serviços da Rede de


Atenção Psicossocial (RAPS);

• Unidade de Referência para Idosos;

• Clínicas e policlínicas;

• Hospitais (UTI, ambulatórios e enfermarias);

• Centro Especializado de Reabilitação (CER);

• Grupos de vigilância epidemiológica (municipal, regional ou estadual);

• Atendimento domiciliar (SAD).

9
Sistema Único de Assistência Social (SUAS):

• Centro de Referência de Assistência Social (CRAS);

• Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS);

• Terceiro Setor.

Entidades Públicas, Privadas e Filantrópicas:

• Consultórios particulares;

• Casas de repouso;

• Instituições de longa permanência;

• Creches;

• Clubes esportivos;

• Escolas;

• Organização Não Governamental (ONG’s);

• Redes de atenção especializada (AMA; Lucy Montoro; APAE; entre ou-


tros);

• Museus e pontos de cultura;

• Presídios;

• Universidades;

• Institutos de pesquisa;

• Indústrias;

• Gestão;

• Serviço militar em geral;

• Centros de defesa em direitos humanos.

10
Figura 1 – Fluxograma de atenção a adultos – Terapia ocupacional adulto (alterações
neurológicas, sensório-motoras e cognitivas)
Fonte: Adaptada de COFFITO
#ParaTodosVerem: a imagem mostra quadrados com bordas em azul, organizados como um fluxograma
cujo objetivo é auxiliar no fluxo do paciente adulto para atendimento em Terapia Ocupacional, considerando
o seu momento (agudo ou crônico), seu nível de autonomia e independência e a modalidade de atendimento
(presencial ou teleconsulta). Fim da descrição.

Figura 2 – Fluxograma de atenção ao idoso – Terapia ocupacional gerontologia


Fonte: Adaptada de COFFITO
#ParaTodosVerem: a imagem mostra quadrados com bordas em azul, organizados como um fluxograma
cujo objetivo é auxiliar no fluxo do paciente Idoso para atendimento em Terapia Ocupacional, considerando
o seu nível de autonomia e independência e a modalidade de atendimento (presencial ou teleconsulta). Fim
da descrição.

11
Figura 3 – Fluxograma de atenção à saúde mental – Terapia ocupacional em saúde
mental
Fonte: Adaptada de COFFITO
#ParaTodosVerem: a imagem mostra quadrados com bordas em azul, organizados como um fluxograma
cujo objetivo é auxiliar no fluxo do paciente em saúde mental para atendimento em Terapia Ocupacional,
considerando aspectos de complexidade dos casos (crônico, grave ou situação de crise), bem como a
modalidade de atendimento (presencial ou teleconsulta). Fim da descrição.

Materiais e Métodos em
Terapia Ocupacional
A importância desse tópico se dá na medida em que materiais e métodos nos
remetem diretamente à prática profissional, ou melhor, aos recursos que utiliza-
mos para a efetivação da prática profissional.

Desde o surgimento da Terapia Ocupacional, vários autores têm buscado eluci-


dar os impactos da Ciência Ocupacional tanto para sua teoria, quanto para sua
prática, seja como campo de conhecimento básico ou aplicado.

Influências conceituais, simbólicas e instrumentais têm sido levantadas para


avaliar os impactos em pesquisas e, por consequência, a eficiência e efetivida-
de dos materiais e métodos empregados na prática clínica para o desenvolvi-
mento dos objetivos traçados em avaliação e delineados no raciocínio clínico
terapêutico ocupacional.

Contribuições encontradas na literatura indicam uma orientação ou suporte teórico


para a prática profissional dos terapeutas ocupacionais, auxiliando serviços a
ofertarem novas possibilidades práticas, de forma a ampliar o conhecimento acerca

12
dos seres humanos como seres ocupacionais; daí a pertinência ou necessidade de
se aprofundar os conhecimentos sobre a relação entre ocupação e saúde.

Alguns estudos desenvolvidos no âmbito da Ciência Ocupacional têm auxiliado


na ampliação da compreensão acerca da ocupação, como, por exemplo, na influ-
ência de aspectos hegemônicos de determinados grupos populacionais, culturas
e instituições sociais. Esse tema traz também repercussões sobre a prática pro-
fissional, ampliando conceitos para se determinar aspectos de saúde e aspectos
de doença nos contextos relacionais do cotidiano.

Pesquisadores buscam ainda entender a Ciência Ocupacional para aprimorar


o desenvolvimento de uma perspectiva ocupacional sobre o ser humano que
mostre correlação direta com o raciocínio clínico e com a prática profissional
dos terapeutas ocupacionais. Isso pode influenciar diretamente na escolha mais
assertiva das abordagens, dos materiais e métodos para o atendimento de di-
ferentes públicos divididos de acordo com as fases da vida ou, até mesmo, por
diagnósticos clínicos ou patologias.

No Brasil, temos autores que trazem importantes reflexões sobre a compreen-


são e os conceitos da Ciência Ocupacional para o campo da ocupação ou da ati-
vidade humana, detalhando, inclusive, implicações para a Terapia Ocupacional.

De forma mais específica, com base na compreensão dos significados ocupacio-


nais, já podemos estabelecer uma valiosa relação entre ocupação e espiritualida-
de, assim como suas implicações para a prática profissional.

Ainda no contexto nacional, pesquisas, em sua maioria com enfoques descritivos


e relacionais, têm sido desenvolvidas no âmbito da disciplina, tanto para atenção a
clínicas específicas (como o setor de queimados de um hospital — atenção terciá-
ria à saúde, por exemplo) como para usuários de centros de atenção psicossociais.

Esses são apenas alguns exemplos aplicados sob perspectivas advindas do


campo da Ciência Ocupacional. Além disso, vários outros conceitos e teorias
têm sido desenvolvidos e aprofundados no interior dessa disciplina, como os de
forma, função e significado ocupacional, de ocupação compartilhada, de justiça
ocupacional, de lacuna ocupacional, de possibilidades e necessidades ocupacio-
nais, entre outros.

No entanto, diante das diferentes realidades existentes no Brasil, é possível levantar


algumas possibilidades de contribuição de estudos gerados sob os preceitos da
disciplina. Por exemplo, um dos principais problemas de saúde da população
brasileira atualmente está relacionado ao aumento da incidência e da prevalência
de doenças crônicas, como hipertensão arterial, diabetes, entre outras.

13
Com base nos conceitos abordados, algumas questões podem ser levantadas,
tais como: individualmente, quais são as características das ocupações de pes-
soas com hipertensão arterial? No âmbito familiar, como uma condição crônica
de saúde pode influenciar as ocupações desempenhadas pelos membros da fa-
mília? No nível comunitário ou territorial, como os contextos sociais, políticos,
econômicos e culturais inibem ou possibilitam o envolvimento das pessoas em
suas ocupações, e de que forma tal fato pode estar relacionado ao envolvimento
em fatores de risco para o surgimento de doenças crônicas, como sedentarismo,
ausência de hábitos alimentares saudáveis, tabagismo, entre outros?

Por outro lado, de que maneira práticas baseadas nas ocupações destas pes-
soas podem melhorar sua condição de saúde e participação na sociedade,
bem como contribuir para melhoria da qualidade do viver e da participação da
população em geral? Tais pesquisas podem auxiliar na prática dos terapeutas
ocupacionais, indicando abordagens que respondam em atenção às demandas
desses públicos.

Em correlação com esse importante aporte teórico, e retomando os conceitos


de Domínio e Processo para estruturar a prática terapêutica ocupacional (onde
o Domínio nos remete a conceitos, classificando as ocupações por áreas; e
Processo nos remete à forma de avaliar e intervir), passaremos a explorar mais
profundamente abaixo.

Assim, o terapeuta ocupacional, em sua prática clínica, deverá ser capaz de de-
terminar que materiais ou métodos utilizará como recurso de intervenção frente
a diferentes públicos ou contextos. Como exemplos, podemos citar: tecnologias
de comunicação e informação, tecnologia assistiva, acessibilidade, ludicidade,
criatividade, horizontalidade, participação e apoio matricial, reabilitação baseada
na comunidade, ações intersetoriais, acesso à inclusão digital como ferramen-
ta de empoderamento para pessoas, famílias, grupos e comunidades, além de
uma série de métodos padronizados que instrumentalizam o profissional para a
ampliação do olhar e do aprofundamento técnico, assim como do manejo e das
condutas terapêuticas ocupacionais.

O apoio matricial das equipes em saúde pública também está no escopo da


Terapia Ocupacional, com aspectos referentes a indivíduos e comunidades, como
a restrição ocupacional, o comprometimento de habilidades e potencialidades e
o auxílio aos profissionais na promoção da saúde mental, física ou funcional e da
saúde comunitária.

Nesse sentido, o terapeuta ocupacional pode determinar sua abordagem por


meio ativo no diagnóstico territorial, no planejamento, na gestão e na avalia-
ção de ações, bem como sendo responsável pelo registro informacional dos

14
dados, pela atualização da sala de situação e pela publicidade dos indicadores
referentes à sua atuação profissional, determinando os materiais e métodos
mais indicados.

A análise do perfil epidemiológico da população também define o caminho que o


terapeuta ocupacional seguirá, podendo organizar sua prática para os diferentes
níveis de atenção.

Destaque especial pode ser dado às Práticas Integrativas e Complementares de


Saúde - PICS, que hoje totalizam mais de 15 práticas ou abordagens reconheci-
das pelo Ministério da Saúde e que podem compor o repertório de ação (abor-
dagens e recursos com materiais e métodos próprios) do terapeuta ocupacional.

Por fim, outras abordagens terapêuticas ocupacionais específicas também me-


recem destaque, como os trabalhos nas áreas da integração sensorial, equote-
rapia, terapia aquática, contexto esportivo, terapia da mão e práticas de gestão
ou coordenação.

Figura 4 – Sala de atendimento da Terapia Ocupacional em Integração Sensorial


Fonte: Acervo do Conteudista
#ParaTodosVerem: sala com artefatos multicoloridos (piscina de bolinhas, balanços, rampas, parede
de escalada, móveis com brinquedos, escadinhas, redes, bolas, caixas, tatames e pufes) e dispostos
organizadamente para compor o ambiente ou espaço de trabalho do terapeuta ocupacional na abordagem
de integração sensorial. Fim da descrição.

Nesse cenário, com trânsito de aplicabilidade em todas as áreas de atuação


da Terapia Ocupacional, estão as OPM (Órteses, Próteses e Dispositivos de
Mobilidade). Em alguns serviços, essa área representa os maiores orçamentos,
com grande demanda de dispensação para a população brasileira, principalmen-
te pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

15
Figura 5 – Criança recém-nascida e a mesma criança com deformidade em pé torto con-
gênito anterior após o emprego de órteses para posicionamento plantar (suropodálicas)
Fonte: Acervo do Conteudista
#ParaTodosVerem: montagem com duas figuras a primeira mais à esquerda mostra uma criança recém-
nascida ainda em ambiente hospitalar, deitada e vestindo somente fralda. É possível observar o membro
inferior direito em flexão de joelhos e inversão do pé e o membro inferior esquerdo em extensão de joelho
e pé igualmente em inversão (onde a equipe clínica posicionou o sensor de onde parte um fio azul escuro
referente à aferência e monitoramento de sua oxigenação). A segunda figura a direita mostra a mesma
criança, vestida com um body listrado em amarelo e cinza; as perninhas estão de fora e os pés vestidos com
meias azuis, já posicionados com órteses suropodálicas em alinhamento anatômico. Excelente resultado
obtido para a prevenção de deformidade óssea e perda funcional. Fim da descrição.

Figura 6 – Criança com polegar em abdução; órtese para corrigir abdução do polegar;
Criança com órtese nos dedos com perda da função manual posicionados para favore-
cer o uso funcional da mão
Fonte: Acervo do Conteudista
#ParaTodosVerem: montagem com três figuras a mais a esquerda mostra a mão direita de uma criança,
com o polegar abduzido e demais dedos em flexão, uma condição resultante de perda motora decorrente de
lesão neurológica. A segunda figura no meio, por sua vez, mostra uma órtese para correção de polegar em
abdução, confeccionada em plástico termomoldável branco e cujo objetivo é auxiliar na abertura dos dedos e
no uso funcional da mão (o que, no caso da criança, se dá principalmente no ato de brincar). Por fim, a terceira
figura mais à direita mostra a mão da mesma criança da imagem anterior, porém já utilizando a órtese de
posicionamento e com todos os dedos em extensão (mão aberta e favorável à função). Fim da descrição.

16
Figura 7 – Piscina adaptada para a prática de terapia aquática, com materiais organi-
zados de forma que estejam disponíveis para a efetivação da prática terapêutica, para
além da própria água, recurso principal dessa abordagem
Fonte: Acervo do Conteudista
#ParaTodosVerem: a imagem mostra uma piscina em formato retangular, adaptada para acessibilidade
(escada e barras internas acompanhando as bordas), com equipamentos e brinquedos coloridos dispostos
organizadamente do lado esquerdo (lateral da piscina, em contraposição à escada). Dentro da água estão
aproximadamente oito pessoas, entre terapeutas e pacientes em atendimento terapêutico. A água da
piscina é translúcida e muito calma, e o ambiente é fechado (como um grande salão, parecendo não ter luz
natural, mas bem iluminado). Fim da descrição.

Figura 8 – Atendimento de equoterapia


Fonte: Acervo do Conteudista
#ParaTodosVerem: a imagem mostra um cavalo marrom, preso pela cabeça em um ponto de apoio na parede
por uma corda fina e vermelha. O animal é montado por uma criança de dez anos, que executa atividade de
estímulo motor e sensorial com bambolê em preensão bimanual. A criança está assistida e sendo conduzida
por dois terapeutas, estando um em cada lado, dispostos em pé e paralelos ao paciente. O ambiente é aberto e
com luz natural, como se as pessoas estivessem em um campo. O cavalo apresenta-se calmo, mas concentrado,
bem como os terapeutas e o paciente, que parece estar bem integrado ao método proposto. Fim da descrição.

17
Figura 9 – Sala equipada para atendimento em neurologia (neuromotricidade e habili-
dades motoras)
Fonte: Acervo do Conteudista
#ParaTodosVerem: a imagem mostra uma sala ampla, com boa iluminação natural, através de janelas
em todo o seu entorno, complementada com luz artificial. Equipamentos diversos e coloridos (tatames,
pufes, colchonetes, pontes, cones, escadinhas, grades, prancha de equilíbrio, elásticos, cordas, balanços,
bolas e cilindros acolchoados) estão dispostos organizadamente, sendo utilizados para obstaculizar,
estimular, desafiar, simular situações rotineiras ou treinar padrões motores de controle, desempenho e
desenvolvimento, além de habilidades específicas que auxiliem no ganho de autonomia dos pacientes.
Olhando para além das janelas, é possível observar uma vasta natureza no entorno. Fim da descrição.

Vida Pós-COVID – Método ou Técnica:


Conservação de Energia

Fadiga, falta de ar, desânimo, apatia, irritabilidade, alterações do sono, dores,


alteração da memória, entre muitos outros fatores, podem estar presentes no
que vem sendo chamado de “síndrome pós-COVID” ou quadro de “COVID longa”.
Assim sendo, torna-se importante estabelecermos as dimensões do impacto
dessa doença após a fase aguda de sua evolução.

Estudos mostram que 80% das pessoas acometidas por COVID-19, apresentam
um sintoma persistente causado pela doença, que não apenas irá atrapalhar seu
dia a dia como exigirá atenção, cuidados ou acompanhamento de uma equipe
multiprofissional, mais especificamente (em se tratando de dificuldade no de-
sempenho nas tarefas diárias), do terapeuta ocupacional.

O terapeuta ocupacional, com enfoque na ocupação humana, avaliará cada pes-


soa de forma única e proporá estratégias para conservação de energia. Essas

18
estratégias possibilitarão o engajamento do paciente em atividades significati-
vas de suas rotinas diárias (como atividades de automanutenção, trabalho, lazer,
novos interesses, entre outras). Características de desempenho, segurança e sa-
tisfação são muito importantes nesse processo, que tem como seu maior objeti-
vo permitir que a pessoa mantenha-se ligada àquilo que tenha significado para
ela, seja trabalho, lazer ou automanutenção, ou que ressignifique questões de
impedimento decorrentes da doença (temporárias ou definitivas) para o caso
de restrição da participação, a partir da experiência e do engajamento em novas
atividades que lhe tragam satisfação.

As ações terapêuticas ocupacionais acerca da conservação de energia provida a


esse grupo de pacientes consistirão em adaptações aplicadas à própria pessoa,
facilitando a relação dela com as tarefas; adaptação da tarefa, situação em que
o modo de execução ou tempo podem ser alterados; e adaptações do ambiente,
que pode ser facilitador no desempenho ou no engajamento na tarefa a ser exe-
cutada. A partir disso, as possibilidades de melhor desempenho e satisfação do
paciente aumentam.

Assim, pode ser estabelecido um projeto terapêutico que envolva a consciência


das dimensões física, emocional e ocupacional para organização da rotina (agen-
da ocupacional, por exemplo) e para o aumento do repertório ocupacional atra-
vés de experiências de bem-estar e autorrealização.

O conhecimento sobre as próprias limitações ou dificuldades auxilia no pla-


nejamento da execução das tarefas, possibilitando que as demandas sejam
cumpridas e os objetivos alcançados conforme planejados. Isso envolve o
tempo de execução, o gasto energético, a análise postural, as habilidades, os
aspectos cognitivos, a expectativa, entre outros fatores inerentes ao ser hu-
mano e ao seu comportamento na interação com as pessoas, os ambientes e
as atividades cotidianas.

As tarefas ou atividades cotidianas, por sua vez, podem ser moduladas ou fracio-
nadas e executadas de uma forma que possibilite a interação da pessoa confor-
me sua capacidade. E referente ao ambiente de relacionamento, permanência
e trânsito da pessoa, o mesmo pode ser adaptado de forma a dar continência e
facilitar o desempenho das tarefas.

Como vimos, sempre que houver dificuldade na realização das tarefas diárias, na
autonomia ou na participação, é importante a avaliação de um terapeuta ocupa-
cional. Daí também a importância de o profissional ter um bom repertório de re-
cursos, a partir de materiais e métodos que possibilitem o desenvolvimento dos
objetivos terapêuticos ocupacionais propostos em seu raciocínio clínico, ponto
esse que abordaremos com mais propriedade ainda nesta disciplina.

19
MATERIAL COMPLEMENTAR

Vídeos

Práticas Integrativas e Complementares da Saúde – Cartilha de


Orientação
https://bit.ly/3syUECX

Terapia Ocupacional X Covid-19 – Reflexões e Premissas para a


Prática
https://bit.ly/3sx7rFS

Leituras

Especialidades Reconhecidas pelo COFFITO


https://bit.ly/47VvPBa

Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares em


Saúde
https://bit.ly/3PdeZ9D
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CARLO, M. M. R. do P.; BARTALOTTI, C. C. (org.). Terapia ocupacional no Brasil: fun-


damentos e perspectivas. 4. ed. São Paulo: Plexus, 2001.

CAVALCANTI, A.; GALVÃO, C. R. C. Terapia ocupacional: fundamentação e prática. Rio


de Janeiro: Guanabara Koogan, 2007.

MEDEIROS, M. H. R. Terapia ocupacional: um enfoque epistemológico e social. São


Paulo: Editora HUCITEC, 2003.

MONZELI, G. A.; MORRISON, R.; LOPES, R. E. Histórias da terapia ocupacional na Amé-


rica Latina: a primeira década de criação dos programas de formação profissional.
Cad. Bras. Ter. Ocup., São Carlos, SP, v. 27, n. 2, p. 235-250, 2019. Disponível em:
< https://www.scielo.br/j/cadbto/a/RLnxNfnB73kZSG7H5Mt8KRd/?format=pdf
& l a n g = p t > . Acesso em: 16/03/2023.

NEISTADT, M. E.; CREPEAU, E. B. Willard & Spackman’s Terapia Ocupacional. 9. ed.


Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2002.

PEDRAL, C.; BASTOS, P. M. Terapia ocupacional: metodologia e prática. Rio de Janei-


ro: Rubio, 2008.

COFFITO. Definição de Terapia Ocupacional. c2023. Disponível em: < h t t p s : / / w w w .


c o f f i t o . g o v . b r / n s i t e / ? p a g e _ i d = 3 3 8 2 > Acesso em: 16/03/2023.

COSTA, E. F. et al. Ciência ocupacional e terapia ocupacional: algumas reflexões. Rev.


Interinst. Bras. Ter. Ocup., Rio de Janeiro, v. 1, n. 5, p. 650-663, 2017. Disponível
em: < h t t p s : / / r e v i s t a s . u f r j . b r / i n d e x . p h p / r i b t o / a r t i c l e / v i e w / 9 6 8 7 >. Acesso em:
16/03/2023.

CRUZ, D. M. C. Os modelos de terapia ocupacional e as possibilidades para a prática e


pesquisa no Brasil. Rev. Interinst. Bras. Ter. Ocup., Rio de Janeiro, v. 2, n. 3, p. 504-
517, 2018. Disponível em: < h t t p s : / / r e v i s t a s . u f r j . b r / i n d e x . p h p / r i b t o / a r t i c l e / v i e w
/ 1 8 4 3 6 >. Acesso em: 16/03/2023.

MORRISON, R. et al. Por que uma ciência ocupacional na América Latina? Possíveis
relações com a terapia ocupacional com base em uma perspectiva pragmatista. Cad.
Bras. Ter. Ocup., São Carlos, SP, v. 29, 2021. Disponível em: < h t t p s : / / w w w . s c i e l o . b
r / j / c a d b t o / a / f 8 F V w 6 f f p v R X g z J F 4 B x 8 7 G g / >. Acesso em: 16/03/2023.

Você também pode gostar