Você está na página 1de 21

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS

ESCOLA DE BELAS ARTES


CURSO DE CONSERVAÇÃO-RESTAURAÇÃO DE BENS CULTURAIS MÓVEIS
Disciplina: Conservação Preventiva

Julia Antunes Martins da Costa


Luciana Lacerda de Souza
Thalita Pereira Braga
Thaís Anyelle da Cruz Gomes

Relatório de Visita Técnica: Biblioteca Central Universitária - Coleções Especiais e


Divisão de obras raras

DEZEMBRO 2019
Relatório de Visita Técnica: Biblioteca Central Universitária - Coleção
Especial e Divisão de Obras Raras

Relatório de visita técnica, apresentado à disciplina de Conservação


Preventiva do curso de Conservação-Restauração de Bens Culturais
Móveis da UFMG como atividade avaliativa obrigatória da disciplina
ministrada pelo professor Willi de Barros no 2º semestre de 2019.

BELO HORIZONTE - 2019


SUMÁRIO
1. Introdução

As coleções especiais e divisão de obras raras da UFMG está localizada no


quarto andar da Biblioteca Universitária da UFMG. A origem dessa divisão remonta
à década de 1930, quando o então reitor, Mendes Pimentel, criou a sala de obras
raras ao lado da reitoria no centro da cidade de Belo Horizonte.
Em 1962, na mudança da Reitoria para o novo prédio no campus Pampulha,
a biblioteca, formada por livros raros e especiais que estavam sob a guarda da
Reitoria, também foi transferida para sala especial no prédio. Em 1976 foi criada a
Biblioteca Central (BC). Com a inauguração do prédio da Biblioteca Central em
1981, as coleções raras e especiais foram transferidas para o novo edifício, no
terceiro andar. Nos anos 2000, com o crescimento do acervo e com a reestruturação
do prédio, o acervo ficou assim disposto: 3º andar, Escritores Mineiros; 4º andar,
“Livros Raros do Reitor”.
O setor visitado é coordenado pela bibliotecária Diná Marques Pereira
Araújo e conta com dezenove coleções temáticas, produções que vão do século XV
ao século XXI.

2. Objetivo

O objetivo desse relatório é falar sobre o leiaute do mobiliário de circulação,


transporte e manuseio e do mobiliário de exposição e armazenamento do
departamento de coleções especiais considerando os riscos em relação ao material
do acervo e a infraestrutura, estabelecendo o contexto, identificando e analisando
os riscos.

3. Instituição

Inaugurada em 1981, a Biblioteca Central da Universidade Federal de Minas


Gerais localiza-se no Campus Pampulha, em Belo Horizonte, ao lado do Instituto de
Ciências Biológicas e da Praça de Serviços da UFMG. Atualmente, ela é integrada
ao sistema de bibliotecas da UFMG, que possui como missão:
Prestar serviços de informação técnico-científica que ultrapassem as
expectativas da comunidade acadêmica, sustentando e colaborando
com a UFMG para que ela permaneça entre as mais bem
conceituadas universidades do país. (SISTEMA DE BIBLIOTECAS
DA UFMG, 2019)
O prédio é constituído por quatro andares e foi construído de acordo com os
moldes americanos para bibliotecas, o que implica o uso de canalização de águas
com janelas de acesso interno aos canos - os shafts - e forro de material térmico.
Adequadas ao clima norte-americano da cidade de Washington (EUA) tais medidas
não são apropriadas para o clima tropical vivenciado no Brasil, tornando o ambiente
quente; além disso, devido aos shafts, ele é passível de inundações, o edifício da
BC contém o pé direito baixo, paredes finas, disposição solar inadequada, que
geram patologias que podem influenciar na conservação do acervo de toda a
biblioteca.

Localizado no quarto andar, o setor de Coleções Especiais apresenta


mobiliário constituído de estantes e equipamentos de metal, além de mesas, bancos
e equipamentos de madeira.
A fachada do prédio está voltada para leste, recebendo bastante incidência
solar durante grande parte do dia. Por esse motivo, grande parte das janelas
presentes no setor de Coleções Especiais encontram-se cobertas com papel kraft.

4. Descrição da visita

A visita realizada no dia 7 de novembro teve início às 8 horas na Reserva


Técnica da Divisão e foi guiada por Diná Marques Pereira Araújo, que nos
apresentou dados sobre a espacialidade do local e o acondicionamento do acervo.
Adentramos o setor através da sala de exposição, onde encontravam-se
expostas algumas obras do século XIX e XX. Logo após, havia a sala de consulta,
conjugada com o ambiente de trabalho dos funcionários do setor - para segurança
do acervo em consulta. Do lado direito, nesta sala, estavam as antigas cabines de
consulta, atualmente utilizadas para guarda da Coleção de Livros de Artista.
Ao passarmos pela porta que se encontra no lado esquerdo da sala,
adentramos uma ante-sala onde estão dispostos algumas estantes e arquivos e a
copa. Logo em seguida, há um corredor que apresenta alguns shafts e dá acesso à
sala de guarda das obras raras e ao salão onde estão dispostos, em estantes de
aço, os livros que aguardam restauro, além de algumas estantes desmontadas e
prensas de ferro, além de um quadro de grandes dimensões que retrata a criação
da UFMG.
Em anexo ao salão, encontram-se a Sala de Análise - quarentena - e o
Laboratório de Conservação do setor.

Fig. 1 - Rota da visita.

5. Acervo
A Divisão de Coleções Especiais da Biblioteca Central da Universidade
Federal de Minas Gerais (BU-UFMG) é dividido em três grupos : Memória Intelectual
da UFMG, Obras Raras e Coleções Especiais.
O primeiro compreende aquilo que foi produzido na UFMG, que
correspondente aos campos institucionais administrativos, de pesquisa e extensão
da universidade. São livros, teses, dissertações, monografias de cursos de
especialização, objetos, periódicos e documentos. O segundo grupo é o de Obras
Raras compõe obras de valor histórico, estético e documental. São os livros mais
antigos da Universidade, bens patrimoniais de valor para a UFMG. O terceiro grupo,
o de Coleções Especiais, englobam as bibliotecas particulares de professores,
diretores e reitores da universidade que se sobressaíram em sua atuação.

6. Segurança

O setor fica localizado no quarto andar, que se divide de acordo com as


necessidades do acervo: setor de obras raras e especiais, coleção de livros de
artistas, sala de análise e laboratório de conservação. Por se tratar de uma coleção
valiosa, rara e , por vezes frágil, o espaço conta com controle climático, acesso
restrito, equipamentos de vigilância e controle como câmeras de segurança,
sensores de presença e portas com senha. Todo esse sistema visa evitar
vandalismo, dissociação, roubo ou qualquer prejuízo causado por ação antrópica.

7. Mobiliário

Para a organização e conservação de um acervo, o mobiliário cumpre


funções importantes de guarda, manutenção e exposição. O planejamento dos
móveis deve levar em consideração o espaço ocupado pela coleção, sua
volumetria, a tipologia, a localização, o acesso dos usuários e o material constituinte
do acervo e dele próprio. Além disso:

(...) é importante solicitar a um engenheiro ou arquiteto


responsáveis pela instituição ou mesmo do IPHAN
(principalmente no caso de prédios históricos) um cálculo de
carga, independente do patamar onde se encontra a R.T. O
peso do mobiliário deverá ser previsto, considerando a
tipologia do acervo em seu interior, o qual poderá dobrar e até
mesmo triplicar o peso desse sistema, dependendo da
característica do acervo a ser introduzido nas estantes
(FRONER, 2008, p.14).

7.1. Sala de Guarda das Obras Raras

Para a organização e acondicionamento dos materiais na sala que abriga as


obras raras do setor, além de estantes de aço galvanizado, é utilizado o arquivo
deslizante. Este se encontra distante das paredes, permitindo a circulação em todo
seu entorno e possíveis manutenções. Há um módulo fixo na extremidade e todos
os outros se movem. Não há padronização nos formatos dos livros portanto, os
mesmos podem ser guardados de forma vertical ou horizontal de acordo com o
estado de conservação.
A largura entre dois módulos, quando abertos, possibilita o acesso ao acervo
sem grandes dificuldades. Há uma borracha de vedação nas laterais para amenizar
o impacto de um módulo no outro no momento do deslocamento para abertura e
fechamento. A instalação desse sistema foi uma boa escolha, já que:

(...) Sistemas de compactação de acervo são recomendados na


maioria dos casos, pois são mais seguros; protegem o acervo contra
poeira, luz e controlam a entrada de insetos; proporcionam uma
visibilidade maior do acervo (visible storage) e, acima de tudo,
podem vir a significar um aproveitamento de espaço de até setenta
por cento a mais do que um mobiliário comum, pois necessitam de
apenas um vão operacional (FRONER, 2008, p.14).

Na parte superior existe uma pequena abertura que permite a entrada de


particulados e insetos na parte interna do móvel, porém, a vedação total pode criar
um microclima propício para o desenvolvimento de microrganismos tão prejudiciais
ao acervo quanto as sujidades que se depositam nas prateleiras através das
aberturas superiores do deslizante.

Figura 2 - Mobiliário deslizante - Sala de Obras Raras


Foto: Thalita Braga

A distância entre as estantes de aço existentes na sala está adequada e


possibilita a circulação de carrinhos, que servem como suporte para transporte,
monitoramento e organização das obras nas estantes. A largura desse corredor
entre as estantes deve ser uma medida além da largura do equipamento utilizado
para o transporte tanto para a circulação quanto para evitar que estes encostem nas
estantes e, por acidente, causem danos às obras nas prateleiras.

Obras mais frágeis estão acondicionadas em caixas confeccionadas em


materiais próprios para sua conservação e dispostas nas estantes, empilhadas, no
limite que não danifique as caixas abaixo.
Figura 3 - Caixas de Acondicionamento - Sala de Obras Raras

Foto: Thalita Braga

As prateleiras inferiores das estantes estão a uma altura segura do chão,


sem contato direto, funcionando como uma barreira de proteção contra insetos
rastejantes, sujidades carregadas pelos sapatos e produtos químicos utilizados na
limpeza do piso.

7.2. Salão de guarda das Coleções Especiais e Sala de Análise


O Mobiliário presente no salão de guarda do setor de Coleções Especiais
consiste, em sua maioria, de estantes de aço próprias para guarda de livros e
documentos e o espaço para a circulação de pessoas e carrinhos é suficiente nessa
sala, No entanto, uma parcela dessas estantes consiste em estantes comuns, de
almoxarifado.
Embora estas estantes não estejam em más condições de conservação - não
apresentam corrosão, empenamento ou instabilidade estrutural - elas não são
próprias para a guarda das coleções que o setor abriga, não possuindo uma base
larga o suficiente para abrigar todo o tipo de livro. Tal fato pode gerar deformações
nos livros, caso estes precisem ser armazenados na horizontal, devido a seu
tamanho.

Figura 4 - Estantes de Almoxarifado


Foto: Luciana Lacerda
Figura 5 - Estantes próprias para acondicionamento de livros e documentos
Foto: Luciana Lacerda

Há também mesas de madeira encostadas nas estantes. A sua colocação é


estratégica, uma vez que, caso um livro precise ser movido e analisado, o
funcionário não precisará se deslocar por muito tempo com ele em mãos até
alcançar uma superfície de apoio. Assim, evita-se acidentes com o acervo.
Figura 6 - Mesas de madeira junto às estantes.
Foto: Thalita Braga

Embora esta seja uma estratégia válida, as mesas dispostas são de madeira
e se encontram próximas às janelas do salão, que, embora não sejam abertas com
frequência, podem facilitar a entrada de cupins: em sua revoada, atraídos pela
madeira, os insetos podem se instalar nos móveis, colocando o acervo em risco.
Além das mesas junto às estantes, nesta parte do setor há outros móveis de
madeira como bancos, mesas maiores, e prensas de livros que também podem ser
afetados.

Figura 7 - Prensas de ferro, mesas e quadro


Foto: Thalita Braga

Já na chamada Sala de Análise - a quarentena - todo o mobiliário consiste de


estantes novas, sendo a maior parte delas próprias para a guarda de livros e
documentos, enquanto as demais - que ainda serão montadas, durante a expansão
da sala - são estantes comuns de almoxarifado. Assim, esta sala apresenta o
mesmo problema relacionado às estantes do Salão.
Figura 8 - Sala de Análise e estantes novas - vista de fora do setor
Foto: Thalita Braga

O espaço entre as estantes nesta sala é ideal para a movimentação de


pessoas, mas não de carrinhos ou um grande volume de acervo.

7.3. Laboratório de Conservação


O mobiliário do Laboratório de Conservação consiste em armários de
madeira, mesas de madeira, uma bancada com pia, bancos de madeira e estantes
de aço. Após a realização de exames organolépticos, foi constatado que o mobiliário
encontra-se em bom estado.
No entanto, o laboratório possui janelas em duas de suas paredes e, caso
estas permaneçam abertas por muito tempo, podem facilitar a entrada de insetos e
pombos - há uma grande quantidade dessas aves no ambiente externo - que podem
vir a danificar os bens em tratamento e o acervo em si, dada a proximidade do
laboratório com o salão de guarda.
Figura 9 - Laboratório de Conservação
Foto: Luciana Lacerda
Figura 10 - Laboratório de Conservação
Foto: Luciana Lacerda

O espaço para circulação entre os móveis do laboratório é ideal para até


quatro pessoas trabalharem ao mesmo tempo.

8. Análise de Riscos

Imediatamente acima do mobiliário deslizante, há um aparelho de


ar-condicionado em funcionamento que pode vir a danificar o mobiliário e o acervo
através de vazamentos ou curtos.
Depositados sobre as estantes, há pequenos copos de plástico contendo
cravo, cânfora e café como medida preventiva de controle microbiótico, no entanto é
questionável a qualidade do plástico e se o mesmo poderá provocar futuras
deteriorações aos documentos.

Novas estantes foram adquiridas para abrigar a continuidade das


coleções, porém, devido a alocação das mesmas em um determinado ponto da
reserva técnica, sem distribuição equilibrada, o peso pode comprometer a laje do
edifício, gerando um rompimento da estrutura.

Há lacunas no teto facilitando a entrada de animais que habitam o forro,


que ao depositar excrementos e substratos podem degradar o acervo e mobiliários.
A exemplo, houveram relatos de que, há menos de uma semana datado da visita,
foram retirados do fôrro, animais mortos e a urina dos mesmos chegou a danificar
as coleções.

Segundo Diná, após uma avaliação dos canos realizada por terceiros, foi
constatado a incidência de bastante ferro presentes na água mesmo tratada pelo
deionizador, o que dificulta o trabalho feito no laboratório de conservação, já que a
água deionizada é aquela ideal para tratar o acervo gráfico.

A sala de lanches dos funcionários ocupa a região interna do setor de


Coleções Especiais, o que pode atrair insetos à procura de alimentos facilitando
uma infestação.

8.1. Propostas de Intervenção

A troca do forro é imprescindível à conservação do acervo, optando-se por


um material isolante térmico e com características neutras, sendo colocado próximo
ao telhado a fim de evitar a proliferação de animais e manter uma temperatura
amena no ambiente.
A confecção de luvas em poliéster para proteção de capas contra a abrasão e
caixas brancas de papel não ácido para abrigar folhas soltas, fotografias e papéis
ácidos, prolongam a vida útil da coleção.
Sobre a higienização do ambiente, Sabrina, a bibliotecária do setor, segue
protocolos indispensáveis de manuseio das obras: limpeza das mesas com álcool
70% e água (1:1), preparação de atril ou camada de proteção, no caso almofadas
de manta acrílica, para evitar o contato com a madeira e amortecer impactos e o
uso constante de luvas durante o manuseio das obras.
A dedetização traria benefícios quanto ao controle de pragas, bem como a
manutenção do ar-condicionado e a fixação de filtros contra radiação U.V. na janelas
do edifício evitaria eventuais foto deteriorações.
Outra proposta de intervenção é a colocação de contenção às estantes
abertas, para evitar quedas e criar maior sustentação aos livros.
Referências:

FRONER, Yacy-Ara. Reserva técnica. Belo Horizonte: LACICOR, 2008. (Tópicos em


Conservação Preventiva, 8).

FRONER, Yacy-Ara; ROSADO, Alessandra. Planejamento de mobiliário. Belo


Horizonte: LACICOR, 2008. (Tópicos em Conservação Preventiva, 9).

GONÇALVES, Willi de Barros. Gerenciamento de riscos na divisão de coleções


especiais biblioteca central da UFMG: relatório preliminar. Belo Horizonte, [201-]. 6
p. Não publicado.

GONÇALVES, Willi de Barros; ARAÚJO, Diná Marques Pereira; FERREIRA,


Carolina Concesso. Uso de critérios de raridade e valoração de acervo no
gerenciamento de riscos em acervos bibliográficos raros e especiais. Belo
Horizonte, [201-]. 10 p. Não publicado.

SISTEMA DE BIBLIOTECAS DA UFMG. Sobre o sistema: missão, visão e valores.


Acesso em: 29 nov. 2019. Disponível em:
https://cerrado.bu.ufmg.br/bu/index.php/sobre-o-sistema/missao.

SOUZA, Luiz Antônio Cruz. Conservação preventiva: controle ambiental. Belo


Horizonte: LACICOR, 2008. (Tópicos em Conservação Preventiva, 5).

TEIXEIRA, Lia Canola; GHIZONI, Vanilde Rohling. Conservação preventiva de


acervos. Florianópolis: FCC, 2012. (Coleção Estudos Museológicos, v. 1). Acesso
em: 25 nov. 2019. Disponível em:
<http://www.aber.org.br/noticia/livro-sobre-conserva%C3%A7%C3%A3o-preventiva-
dispon%C3%ADvel-para-download>.

Você também pode gostar