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3 (2021)
Revista da Pós-Graduação em Letras – UNIANDRADE
Curitiba, Paraná, Brasil
WERLANG, Gerson Luís; DEBORTOLLI, Viviane Aparecida Pandolfo. Paisagem sonora: estudo
proveniente da acústica transposto à análise literária. Scripta Uniandrade, v. 19, n. 3 (2021), p.
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ABSTRACT: Soundscape relates to all the sounds present or absent in a given space; in
general, the process of human evolution has brought with it a wide range of changes in
the world’s soundscape, given the insertion of sounds produced by human action,
whether through work, life in society, industries, technologies, as well as through sonic
artistic representations, such as music. Considering that in literature, narrative diegesis
normally comprises the space and the psychological environment arising from it or
integrating it, to pay attention to the presence of soundscape in literature is necessary,
since it also composes the narrative space and environment and may be by itself an
element of the narrative, an aspect that is discussed in this article.
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
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paisagem sonora é de suma importância, e esses sons não são apenas os sons
musicais tradicionais, mas também o ruído das ruas, do trânsito, do canto dos
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Ou ainda:
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os sons criados por sua geografia e clima: água, vento, planícies, pássaros,
insetos e animais. Muitos desses sons podem encerrar um significado
arquetípico, isto é, podem ter-se imprimido tão profundamente nas pessoas que
os ouvem que a vida sem eles seria sentida como um claro empobrecimento.
(SCHAFER, 2011, p. 26)
um som regular que sustenta outros eventos sonoros, mais fugidios ou recentes.
Os sons fundamentais da fazenda eram numerosos, pois no campo a vida tem
poucas variações. Os sons fundamentais podem influenciar o comportamento
das pessoas ou criar ritmos que são transportados para outros aspectos da vida.
(SCHAFER, 2011, p. 79)
Assim, se for aceito que os sons podem despertar nos seres humanos
emoções, é possível estender isso a sua capacidade emotiva no campo ficcional,
pelo menos quando se entende a construção de personagens e enredos
verossímeis, cuja realidade tomada como base permite reconhecer as figuras
ficcionais como seres passíveis de emoções.
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(...) a paisagem sonora é demasiado complexa para ser reproduzida pela fala
humana. Assim, somente na música é que o homem encontra verdadeira
harmonia dos mundos interior e exterior. Será também na música que ele criará
os seus mais perfeitos modelos da paisagem sonora ideal da imaginação.
(SCHAFER, 2011, p. 70)
O escritor Érico Verissimo nunca escondeu seu apreço pela música. Diversas
passagens de sua obra atestam a influência ela exercia em sua vida, levando-o
mesmo a afirmar que, não fosse escritor, gostaria de ter sido músico.
Desde sua estreia como escritor com o livro de contos Fantoches, passando pelos
primeiros romances, pelo O tempo e o vento até o seu derradeiro livro, Solo de
clarineta, em toda sua obra sente-se a presença da música. Às vezes essa
presença está marcada de forma explícita, identificável nos títulos de diversas
obras (no romance Música ao longe, no livro infantil O urso com música na
barriga, no conto Sonata). Outras vezes aparece de forma velada, inserida no
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um indicador da época, revelando, para os que sabem como ler suas mensagens
sintomáticas, um modo de reordenar acontecimentos sociais e mesmo políticos.
Desde algum tempo, eu também acredito que o ambiente acústico geral de uma
sociedade pode ser lido como um indicador das condições sociais que o
produzem e nos contar muita coisa a respeito das tendências e da evolução dessa
sociedade. (SCHAFER, 2011, p. 23)
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apontam para fora; os ouvidos, para dentro. Eles absorvem informação. [...]
Assim, por sua própria natureza, o ouvido requer que os sons dispersos e
confusos sejam interrompidos para que ele possa concentrar-se naquilo que
realmente importa. (SCHAFER, 2011, p. 29)
reflete a paisagem sonora. Mesmo com a nossa linguagem avançada, ainda hoje
continuamos, no vocabulário descritivo, a resgatar sons ouvidos no ambiente
acústico; e bem pode ser que as mais complexas extensões acústicas do homem –
suas ferramentas e seus recursos de sinalização – também continuem, até certo
ponto, a ampliar os mesmos modelos arquetípicos. (SCHAFER, 2011, p. 68)
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Foi durante o século XIV que o sino se uniu a uma invenção técnica de grande
significado para a civilização europeia: o relógio mecânico. Juntos, eles se
tornaram os sinais mais inevitáveis da paisagem sonora porque, como o sino da
igreja, e mesmo com mais implacável pontualidade, o relógio mede a passagem
do tempo de forma audível. Por isso, ele difere de todos os instrumentos de
contagem de tempo usados anteriormente – clepsidras, ampulhetas e
quadrantes solares – que eram silenciosos (...).
O relógio sonoro tinha uma grande vantagem sobre o de mostrador, porque para
se ver o mostrador é preciso estar à sua frente, enquanto a pancada do relógio
envia os sons do tempo para todas as direções, uniformemente. (SCHAFER,
2011, p. 88)
O uivo é um som que o imaginário constrói desde a infância e que está impresso
na imaginação humana. Além do mais, “no grito do lobo, encontramos um ritual
vocal que define a demarcação territorial da alcateia pelo espaço acústico –
exatamente do mesmo modo que a trompa de caça demarca a floresta e o sino
da igreja, a paróquia”. (SCHAFER, 2011, p. 66)
O som da coruja, por sua vez, profetiza a languidez e com frequência está
relacionado ao mau agouro. Tal associação foi estabelecida ao longo da história
e pode estar relacionada aos hábitos noturnos da ave, os quais teriam se
juntado a crenças em outros elementos noturnos, como espíritos, e daí sua
associação com a morte. Lendas e mitos que envolvem a coruja e seus maus
presságios podem ser facilmente encontrados em diferentes sociedades e
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pano de fundo das ações, mas que componha o enredo no sentido mais profundo
do termo. Bastante presente em espaços de fazenda, nesses casos ele se mistura
a outros sons tradicionais desse tipo de lugar e passa a produzir efeitos sonoros
específicos.
O urro do leão, o uivo do lobo ou a risada da hiena, têm qualidades de tão grande
impacto que se imprimem imediatamente na imaginação humana, provocando
intensas imagens acústicas. Uma vez ouvidos, nunca mais serão confundidos
ou esquecidos. Estão entre os sons que fazem história. Os homens que apenas
ouviram falar deles pelos lábios de um bardo estremecerão só de pensar.
(SCHAFER, 2011, p. 66)
Semelhante ao que ocorre com os sons das corujas, os dos lobos também
estão impregnados no imaginário coletivo social, desde a literatura infantil até
a de terror, já que, ao estarem miticamente associado a trocas de lua, fazem
parte inclusive de crenças e lendas que circulam há gerações em diferentes
locais do mundo, não apenas no campo ou fazendas, mas também em regiões
urbanas, que apresentam também características importantes no processo
evolutivo (ou linear) de sua configuração sonora. Nesse sentido, Schafer (2011)
afirma que “um dos sons fundamentais mais influentes das primeiras paisagens
sonoras urbanas deve ter sido o tropel dos cavalos, audível em toda parte, nas
ruas pavimentadas de pedra, e diferente do cavo ruído dos cascos em campo
aberto” (SCHAFER, 2011, p. 98). Essa é uma questão interessante de se pensar,
tendo em vista que os sons dos cavalos podem estar associados a diversas
situações, desde tranquilos passeios no campo até a guerra, já que seu tropel
era audível quando as tropas passavam dizimando povoados, ou em lutas em
campo aberto. Inclusive, de modo geral, as guerras são sonoras, até porque o
barulho está associado ao poder e ao medo. Schafer (2011) chega a afirmar que
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“se os canhões fossem silenciosos, nunca teriam sido utilizados na guerra” (p.
115), já que
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Embora não seja possível reproduzir com exatidão os sons (o mais perto que se
chega disso é a onomatopeia), deve-se pensar no surgimento da linguagem, da
fala e da música.
Estamos naquele tempo da Pré-história em que ocorre o duplo milagre da fala e
da música. Como essas atividades começaram? Seria precipitado insistir que a
fala originou-se exclusivamente da imitação onomatopaica da paisagem sonora
natural. Mas não pode haver dúvida de que a língua dançou e ainda continua a
dançar com a paisagem sonora. Os poetas e os músicos têm mantido viva a
memória, ainda que o homem moderno se tenha convertido em um “espectador
de óculos”. (SCHAFER, 2011, p. 68)
Os pastores tocavam flauta e cantavam uns para os outros a fim de fazer passar
as horas solitárias (...); e a música delicada de suas canções constituem talvez
os primeiros e decerto os mais persistentes arquétipos sonoros produzidos pelo
homem. Séculos de flauta produziram um som referencial que ainda sugere
claramente a serenidade da paisagem pastoril, embora muitas imagens e
recursos literários tradicionais estejam começando a desaparecer. (SCHAFER,
2011, p. 73)
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REFERÊNCIAS
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