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A retórica nas missas de José Maurício Nunes Garcia: a música como processo de comunicação numa corte no exílio View project
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Introdução
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Machado Neto, Diósnio. 2020. Sobre sombras, tempestades... e bruxas: um ensaio sobre as permanências na semântica
musical. MusiMid 1, no. 1 (2020): 46-70.
Da memória e da significação
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to say, without first conceiving of it in isolation, apart from all else, consisting only of
itself”(Bonds 2014, 1)1.
Este ponto, no entanto, abre uma outra questão: o que torna a música um campo
de entrelaçamento discursivo, se ela tem uma linguagem própria, não verbal? E essa
pergunta se torna importante na medida em que há correntes do pensamento musical
ocidental que partem da ideia de que essa restrição ao não-verbal a torna um arabesco
sonoro sem capacidade de, por si, criar significação; a significação seria um agenciamento
realizado “fora” da música.
O argumento que coloco aqui é simples. Toda linguagem suscita um acordo de
inteligibilidade. Ela se reconhece nas tramas de sons previamente definidos. Sem tais
acordos e convenções, construídos no vasto território das linguagens, não haveria
possibilidades/realidades de criar vínculos e identidades culturais. Com a música não é
diferente. O que pode ser questionado é a validade universal os enunciados musicais, logo
sua capacidade de criar vínculos de identidades. É evidente, inclusive, que o conceito de
identidade pode nos remeter a restrições culturais muito amplas e dispersas, como
falarmos de cultura ocidental; ou, pelo contrário, a particularidades específicas, como as
gestualidades da música cerimonial do Kuarup, das etnias do Xingu. Porém,
considerando os locais de cultura, são as identidades expressivas, ou seja, usos específicos
de simbolização através de objetos expressivos (cultos, música, artesanatos, danças etc.),
que permitem que uma comunidade específica possa atribuir inteligibilidade e valor às
linguagens. É nesse sentido, inclusive, que as culturas diversas podem, ou não,
reconhecer uma melodia associando-a a algum sentimento; ser funcional para uma
cerimônia, como o Natal; ou para jogos.
Assim, me parece que o ponto não é sobre algum valor em si da música, ou se ela é
uma linguagem ou não, mas sim como ela forma sentido sociocomunicativo quando
damos a ela vínculos representacionais para que participe da projeção de nossas
estruturas de sentido. Isso vale tanto para criar, interpretar, refletir ou mesmo ambientar
o espaço onde existimos. É o estar-no-mundo que determina os processos de
representação, seus simbolismos e, por fim, toda a capacidade acumulativa de
experiências cognitivas com a música e sua relação com os acervos que usamos no
cotidiano de nossa relação com o universo musical disponível. Mas não só, e eis aqui a
questão. Se é bem verdade que a semanticidade da música se realiza na nossa capacidade
de darmos a ela valor, o processo criativo se desenvolve a partir disso como uma espécie
de autopoiesis. Seja como Dahlhaus tratou em seu postulado de “presença estética” (1983,
3); seja reconhecendo a energia espontânea que torna a música uma forma de expressão
do humano, sem outra preocupação a não ser se manifestar.
1“Afinal, não podemos explicar como a música funciona sem antes estabelecer sua identidade, ou seja, sem antes
concebê-la isoladamente, além de tudo o mais, consistindo apenas em si mesma.” (tradução minha).
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Seja como for, a algo inexorável: a música é sempre um tipo de discurso. E como
tal deve considerar as relações de significados e significantes; os processos sociais de lugar
de fala e escuta; e, sobretudo, as condições de formação ideológicas nas quais os sentidos
são filtrados e se transformam em conteúdos.
Este é o ponto onde descolo a visão do pensamento canônico, observando que
sempre haverá algo que transcende a criação individual; algo que o demasiado humano
não liquida, e que movimenta uma cadeia de significações de campos expressivos e suas
restrições semânticas que são transmitidas de geração em geração, por diversas formas.
São valores que, como afirma Agnes Heller (1992, 4), formam parte de um processo de
construção que envolvem esferas sociais e suas hegemonias; conceituam partindo de usos
e costumes, a ponto de criarem estruturas morais; nunca desaparecem, pois sobrevivem
em camadas inatingíveis da cultura, seja em religiões, em comunidades específicas ou em
obras de arte. Portanto, valores históricos que se projetam como elementos de
organização do que chamamos “tempo histórico” e que, como afirma Heller, “(...) é a
substância da sociedade. [E] a sociedade não dispõe de nenhuma substância além do
homem, pois os homens são portadores da objetividade social, cabendo-lhes
exclusivamente a construção e transmissão de cada estrutura social” (1992, 2).
O segundo aspecto a se considerar é que qualquer linguagem é historicamente
localizada. Aqui é possível discutir como, e em que condições, as cadeias de significação
se projetam para além de seus tempos, criando ressignificações, reciclagens ou apenas
como modelo referencial. Aliás, este é um fenômeno que se intensifica sobretudo nos
tempos modernos da reprodução mecânica da música e que ganha contornos
incomensuráveis de trânsito de ideias pelas redes complexas de circulação. Em outras
palavras, a Era Digital hiperboliza o fenômeno, dando a ele uma dinâmica ainda pouco
estudada.
Posto isso renovo a questão para como o deslocamento dos conteúdos musicais de
“outros tempos” se sustenta “fora” de seu tempo histórico e de seu local de cultura. Parto
com a ideia de “presença estética” de Dahlhaus pelo simples fato que ela traduz bem uma
ilusão positivista que redime uma cosmovisão ainda potente no mundo atual ao
reconhecer que determinadas obras transcendem seu momento de criação e criam
impacto estético na posteridade2. Este é o ideal, entre outros, da Cultura Artística como
vontade de potência positiva de criar uma tradição que orienta e guia.
2 A ideia de “presença estética” de Dahlhaus é o fundamento para observar na prática de historização da música algo
que está além do exercício documental dos fatos. Para o musicólogo, a música se projeta, também, por obras seminais
que “capturam” uma tradução estética de forma tal que passam a determinar não só os modelos expressivos da
posteridade, mas a própria forma com a qual o ouvinte se relacionará com as obras a sua disposição, ou seja, seria o
motor propulsor de uma “tradição da escuta” (expressão minha): “For if we accept that the subject matter of music
history is made up primarily, if not exclusively, of significant works of music-works that have outlived the musical
culture of their age quently that the aesthetic presence of individual works will necessarily intervene in any account of
the past (whether as a selection criterion or as a factor in helping us decide what we want to know about), it then follows
that an account of the origins and later history of musical works will serve a dual function, illuminating the
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Pese a este comentário, reconheço que a tese de Dahlhaus tem grande valor, pois
dissocia uma história de fatos para uma história estética que impulsiona valores pelo
movimento de patrimonialização comum à cultura ocidental. No entanto, acredito que tal
tese desconsidera que a música seria formada por associações representacionais que não
dependem necessariamente de estar integralmente constituída como “obra”, ou presa
tão-somente a ideia de transmissão pelo cânone. É claro que a projeção de uma
gestualidade, um simbolismo, enfim, de uma expressão musical, se dá pelo impacto,
também, de obras singulares. Não há como, em tempos atuais, não relacionar momentos
solenes de felicidade à famosa melodia do quarto movimento da Sinfonia nº9 de
Beethoven. Porém, é fato que Beethoven tinha a perícia para potencializar inúmeros
recursos técnicos que o possibilitariam metaforizar não só o seu entendimento de
felicidade, mas, e principalmente, a uma ideia abstrata a partir de sonoridades-sínteses
de uso compartilhado entre compositores e ouvintes de sua época.
Assim, seria mais ajustado pensar que compositores com a perícia de Beethoven
ativavam uma memória acumulativa de esquemas que faziam parte de um campo
significativo de amplo alcance, de tal forma que ao se expressar usavam estratégias
(retóricas) que conectavam não só à sua própria subjetividade, enquanto músico de seu
tempo, mas a uma subjetividade coletiva que ativava vínculos de reconhecimento auditivo
estabelecidos por usos e costumes seculares da prática musical, através de padrões
musicais de amplo domínio.
Assim considerado, ou seja, a expressão musical não sendo uma propriedade
exclusiva da subjetividade, vamos para o ponto que opera, concomitantemente, a
consciência sustentada por um acervo adquirido. Para tanto, pensemos em uma
gestualidade de grande presença na música ocidental, o tetracórdio cromático
descendente. É inegável que ele tem sua potência expressiva independente do seu uso por
uma obra específica; ele é um campo representacional por si só e se estabelece por uma
trilha histórica que remete a acervos tão antigos como os cancioneiros palacianos da Baixa
Idade Média. Porém, ele se desdobra em muitos sentidos. No medievo vemos a
gestualidade cromática descendente (não necessariamente uma quarta cromática) nos
lamentos das sequências. Já no Renascimento aparece até mesmo como uma expressão
lexical de gênero (nas missas de réquiens ou árias de lamentos) e, concomitantemente, de
idioma (o baixo ostinato de lamento). A partir da segunda metade do século XVII, o
tetracórdio cromático descendente consolida-se como elemento de forte caracterização
dos afetos, até que, no estilo galante, tornar-se não só uma tópica, mas um léxico
fundamental do estilo eclesiástico para os momentos de grande agitação emocional, como
os réquiens. Resumindo, tal é sua força que se transforma em gestualidade com expressão
própria, independentemente do estilo. Mais que isso, transforma-se em marca sonora,
preconditions for a given work on the one hand and on the other shedding light on the implications of the present-day
listener's relation to that work.” (Dahlhaus 1983, 3).
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3 “Se, por exemplo, um compositor galante estudasse um repertório particular de padrões desde tenra idade e os
empregasse em suas composições por décadas, esses padrões não ressoariam para ele quando os ouvisse em
composições de outros? Esses atos de reconhecimento não afetariam sua experiência com a música? Se ele e seus
colegas compositores compartilhassem quase o mesmo repertório de esquemas, a apresentação repetida desses padrões
não afetaria também as experiências de seus mecenas? Se esses esquemas constituíam um meio musical de troca entre
os compositores da corte e seus patronos, esse comércio estético de alguma maneira dependia de pelo menos um
reconhecimento geral desses padrões por muitos dos cortesãos? A familiaridade com a apresentação normal desses
esquemas não determinou padrões para julgar a propriedade musical, a invenção e o gosto?” (tradução minha).
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4 Em dois livros escritos em 1994: Musical Meaning in Beethoven: Markedness, Correlation, and Interpretation
Advances in Semiotics e, em 2004: Interpreting Musical Gestures, Topics, and Tropes: Mozart, Beethoven, Schubert,
Robert Hatten desenvolve o que considero a mais sofisticada teoria sobre o processo de significação musical da
musicologia contemporânea. Em síntese, parte da ideia da “marcação” de um elemento expressivo que não só o
transforma, mas indexa uma obra a tal ponto que pode criar um novo gênero, na medida da efetividade dessa marcação
para a semantização de uma ideia. Resumidamente, a “marcação” se desenvolve a partir do princípio de tipo e token.
Tipo é a estrutura original; Token é a especificidade dessa estrutura, conseguida a partir de uma inserção que restringe
o sentido original. Tropificação é um conceito de transformação tópica a partir de uma ideia de fusão de campos
expressivos. Ela se dá principalmente na forte identificação de certos parâmetros (léxicos) com o campo expressivo
original. A partir disso, a presença desses elementos em outras tópicas transformaria o sentido original,
individualizando-o. Por fim, gêneros expressivos é quando determinada estrutura dramática é transformada por
reiterados usos tópicos, a ponto de criar uma derivação assumida. Por exemplo, a escrita para a abnegação. Ela seria
sempre uma “fusão” de ombra, tempesta e pastoral.
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ao mesmo tempo não havia soluções a não ser romper com as questões semânticas da
música, como perceberam os compositores das diversas vanguardas de meados do século
XX. Porém, ironicamente para os vanguardistas, justamente foi numa das linguagens cara
a estes movimentos, o cinema, que os padrões retóricos voltaram com força.
5 Juliano de Oliveira afirma que: “as formas de representação musical passaram por um estágio de desenvolvimento e
maturidade da ópera para o poema sinfônico e, ainda no século XIX, tanto o teatro popular quanto às experiências
ópticas que precederam o cinema se apropriaram do repertório criado para o acompanhamento musical. Uma vez que
as projeções cinematográficas se desenvolveram nesse contexto, razões históricas, argumentos pragmático-estéticos e
psicossociológicos são razoáveis para justificar a pertinência da música para o cinema. Dado que as primeiras projeções
eram parte das atrações apresentadas nos teatros de variedades, o acompanhamento musical delas, destarte, seguia o
mesmo modelo dos demais espetáculos”. (Oliveira 2017, 119). Alinho-me com Oliveira, inclusive sabendo de que a
prática da música nas primeiras décadas do cinema (até ca. 1928) empregavam músicos de orquestras que,
evidentemente, traziam as práticas e repertórios para dentro da trilha sonora dos filmes, executando in loco peças das
mais variadas origens.
6 WILLIAMS, John. Finale (From "Star Wars: A New Hope). Youtube. Disponível em
<https://youtu.be/Vz69BumnD5g>. Acesso em: 18 fev. 2020.
7 Para uma melhor compreensão desse estilo consulte MONELLE, Raymond(2006) No canal de Youtube do Laboratório
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Williams recorre a outra estratégia narrativa, como a passagem, a partir do minuto 4:44,
onde há uma pequena paródia da peroração da Ouverture 1812 de Tchaikovsky. Poderia
ser essa paródia uma forma intertextual em nome do caráter épico, que ligaria a ficção da
guerra interestelar e a resistência russa à invasão napoleônica, em 1812? É bem provável
que sim. Independentemente disso, o que é claro são os usos de ferramentas de
significação como a intertextualidade e retórica tópica, justificados pela referencialidade
assimilada na cultura musical do senso comum da sociedade massificada.
Outro fenômeno interessante está no uso de determinadas gestualidades que,
durante séculos, foram sendo identificadas com emoções específicas. Vejamos aqui a
repetição em circulatio de passagens em semitons. Esta gestualidade simples sempre foi
uma figura retórica de grande poder de persuasão para momentos de suspense ou aflição
dentro dos estilos disfóricos, como a ombra e a tempesta8.
No quadro Cabana de Baba Yaga do Quadros de uma exposição (1874), de Modest
Mussorgsky, esse uso consegue um efeito poderoso, dentro de uma tópica de tempesta,
pois o semitom é muito eloquente como impulso de uma cena musical que mimetiza o
voo de um ser sobrenatural das florestas, que tanto pode acolher como maltratar os
humanos. Quase como uma citação, vemos essa gestualidade usada por John Williams,
agora no tema de Tubarão9. Arriscaria sugerir que a força musical com a qual Mussorgsky
apresenta o perigo iminente do voo da bruxa parece ter sido o motivo que aproxima John
Williams de Mussorgsky.
Há uma terceira categoria de uso retórico de elementos assimilados numa longa
tradição semântica da música: o uso abstrato dos campos expressivos. Nesta categoria um
caso exemplar está no musical Mary Poppins, com canções dos irmãos Richard e Robert
Sherman. Nesse musical identifico dois problemas importantes usando correlações de
sentido que poderiam ser usados dentro do conceito das Teorias tópicas.
O primeiro problema entraria na discussão das tópicas pela janela adaptada do
termo “estilos apreendidos”10,. pois interpreto que a estratégias narrativas, o que
8 O autor referencial para o entendimento dos estilos disfóricos é Clive McCleland (2012) Para excertos de uso destes
estilos consulte-se: https://www.youtube.com/watch?v=9WwiO7scm6A&list=PLGXCw1ReUmTV8FxZo_8OcqQdge
Ia1m16p.
9 Jaws 1975. Direção e roteiro: Steve Spielberg. Peter Benchley & Carl Gottlieb Peter Benchley
Carl Gottlieb. Produção: Richard Zanuck & David Brown. Universal Pictures.
10 Por Learned Styles, Ratner entende toda um agama de escrita para a liturgia que depende de concepções diferentes
do uso do contraponto, por isso a ideia de “aprendido” (Ratner 1980, 23). Já Keith Chapin expande esse conceito através
de uma janela hermenêutica interessante ao associar a escrita do contraponto polifônico, especificamente o cânone, à
um tipo de uso na forma minueto: “The tradition of sophisticated galanterie would later flow into the canonic minuet,
which had achieved the status of a subgenre by the end of the eighteenth century. When E. T. A. Hoffmann composed
his Symphony in E flat major in 1806, he showed off his learning and his modernity with just such a movement. Yet the
distance between the simplicity of the minuet and the learn- edness of the canon may also have provided musicians
with the opportunity to stake positions on high and low stylistic spheres” (Chapin 2014, 313). Em outras palavras,
poderíamos expandir a ideia de “aprendido” para técnicas assimiladas de outros gêneros e estilos além do uso
contrapontístico do estilo eclesiástico. Nesse sentido, qualquer gramática específica (por exemplo, os elementos
característicos de uma “abertura francesa”) usadas em outros contextos poderia ser considerada um estilo “aprendido”,
pois possibilitaria uma correlação de sentidos com os significados sociais/expressivos do gênero original.
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condiciona o caráter das canções, se vale do estilo típico de operetas, que é o uso das
danças rústicas como base de toda a escrita. Aliás, nada mais aparente do que isso do que
a cena The Penguin Dance. Tudo nesse número remete ao frescor da ópera ligeira do
século XIX. Diria até mesmo que essa cena tem grande similaridades com algumas cenas
de La Veuve Joyeuse, de Franz Lehár. Considerado assim, podemos pensar num tipo de
empréstimo de estratégia expressiva das operetas para as cenas musicais de Mary
Poppins. O que não seria comum, pois os musicais americanos tinham estruturas
dramáticas diferentes das operetas populares no começo do século XX, mas, também, não
seria esdrúxulo, até porque no final da década de 1920, quando o cinema sonorizado
tornou-se uma realidade, não foram poucos os que trataram de pensar modelos para
colocar em cena musicais, entre eles, Ernest Lubitch, que tratou de adaptar as operetas
às telas em Love Parade (1929). Ainda na década de 1940, não eram raras as adaptações
diretas dos palcos para as telas, como La Casta Susana de Benito Perojo (1944), escrito a
partir do libreto de Georg Okonkovski, Die Keusche Susanne.
Partindo deste ponto, ou seja, a referencialidade das operetas na construção dos
caráteres das canções, há uma em particular que remete a estruturas mais complexas do
que o empréstimo dos estilos dos números de operetas. Por ela percebo um
desdobramento de referências sedimentares, que nos remete a um estado de correlações
de profundo alcance no imaginário simbólico de personagens arquetípicos. Por sua
amplitude de significação, transcendem não só o tempo, mas os próprio gêneros a que
estão associadas. A canção em questão é a valsa Chim Chim Cher-ee.
Este é um belo exemplo da plasticidade referencial dos campos expressivos
lapidados na esteira do que podemos chamar de tradição cultural da música ocidental. A
dimensão dessa plasticidade é tal que poderíamos pensar em agenciamento virtual, ou
seja, quando o sentido da obra é expandido a partir de relações significantes que fogem,
inclusive, do projeto expressivo do compositor.11
Tratarei de desenvolver essa ideia começando no que considero aparente; aquilo
que possivelmente se desvela a alguém com uma razoável perícia de escuta: a questão do
gênero e a relação entre tonalidade e afeto. O primeiro ponto é o lugar comum, pois,
considerando uma escuta treinada, é bem provável que uma valsa em tom menor suscite
a percepção de drama-jocoso. Isso, inclusive, seria intensificado se a percepção pudesse
entender a canção, também, reconhecendo um certo caráter de dança rústica
11 Em seu último livro, Robert Hatten justamente discute a ideia de agência virtual como um fenômeno importante no
processo da discursividade. Em suas próprias palavras: “a virtual agent in music is not an actual agent, but its efficiency
lies in its capacity to simulate the actions, emotions, and reactions of a human agent. More theoretically, the virtual
addresses the gap between music’s actual material or physical aspects as (organized) sound and those both irreducible
and emergent semiotic inferences that enable us to hear music as having movement, agency, emotional expression, and
even subjectivity. Thus, a virtual agent in music can never be actualized in any literal sense (as in “it’s virtually/almost
an actual agent; just give me time for a finishing touch”), but a virtual agent can be interpreted as functioning in
important ways like an actual agent—for example, having a degree of independent action. A virtual agent can be further
embodied with other humanlike characteristics. It can also be fictionalized as an actor in a dramatic trajectory and even
internalized as part of a subjectivity, akin to an active stream of consciousness.” (Hatten 2018, 18)
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solução pelas forças da Natureza ativadas por espíritos “em estado de Natureza”. Isso se
expande para todos os tipos de curandeiros; para entidades como os “pretos velhos”,
médiuns, videntes como magos e astrólogos; e, inclusive, para a legitimação da “sabedoria
popular” como uma das fontes de estabilidade da sociedade contemporânea; inclusive do
cancioneiro popular. Aqui há a força de uma secular valorização da intuição que se
amplifica num mundo percebido por uma kenosis, que se expressa tanto na conexão com
o divino, como no das forças da natureza; intuição e revelação, nesse sentido, são atos da
mesma espécie. Em síntese, há algo que encanta a humanidade que é acreditar numa
força primordial que redime a todos a um único ponto: a criação como Natureza.
Assim, se é bem verdade que a ideia do rústico como fonte de uma sensibilidade
imaculada, pois seria parte da expressão de uma metafísica que potencializaria uma
proximidade a um estágio de pureza, na medida que a educação do “gentleman” cortesão
passou a ser fundada num acervo literário da Antiguidade Clássica, essa ideia ganhou
novas potências. A própria categorização na arte cortesã do vínculo de danças e canções
populares a uma ideia de rústico se justifica nesse resgate do classicismo da Antiguidade.
Segundo, essa ideia se expande para estilizações retóricas de tal forma que danças
populares, desde a mais antiga citação do gênero, como a estampie, até a sua estilização
como tópica pastoral (ver Monelle 2006, 220 e seg.) passaram a ser consideradas dentro
de um acervo simbólico da representação de pessoas fora da lógica das cortes 12.
Tomando, como referência antigas religiões, como o Orfismo, podemos vislumbrar
a potência dessa estética partindo do conceito metafísico, ou seja, a música para o estado
“puro” dos sentimentos só poderia ser rústica, pois traria em si um elemento primaz que
induziria a sensibilidade humana ao ideal de estado de natureza, “domando-a”. O vínculo
dessa doma era o homem predestinado pelas divindades, como Orfeu. Essa ideia, que
aliás está tanto no Orfismo como no judaísmo através de David, se espraia em vários
paradigmas que sustentam o pressuposto da música como transformadora de uma
realidade concreta, sendo exercida por pessoas em estado de sensibilidade condicionada
a não ser pelo estado de intuição com uma harmonia universal fora do alcance da ação do
homem político e protocolar.
Desta forma, impregnada desde tempos imemoriais com um sentido metafísico de
transformação da alma, chegamos ao vínculo do rústico a seres mágicos, já que estes
acessariam a força vital que possibilitaria a transformação da realidade por uma
12Aqui vale recorrer ao Orfeu, de Monteverdi, para exemplificar que esse axioma se faz presente já no primeiro ato da
primeira ópera, onde ninfas se juntam com pastores em uma animada tópica de dança rústica (ritornello do coro
Laciate i monti) com a qual as ninfas dançam para celebrar o enlace do semideus com Eurídice. Tópica porque não era
uma dança original, mas uma estilização alcançada por usos de parâmetros específicos como o ritmo em tactus binário,
com com prolação perfeita—sesquialtera—a multiseccionalidade da forma (o que induzia ao simulação das
coreografias); as escolhas da orquestração; a busca da simplicidade melódica; o afeto eufórico. Aliás, Monelle aponta
que os compositores da primeira era da ópera não tinham a preocupação com a legitimidade/apropriação da referência
folclórica das danças, e sim a perspectiva da verossimilhança: “Indeed, the first opera composers affected a kind of
musical simplicity that had nothing to do with folksong research.” (Monelle 2006, 220)
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confluência da alma com a harmonia universal. De certo modo, assumimos isso quando
acreditamos que a música, e o músico, possuem a chave sensível dos afetos humanos, tal
qual expõe Virgílio na voz de Títiro, ou tantos outros, como Alessandro Striggio no
prólogo de Orfeu, musicado por Monteverdi: “Io la Musica son, ch'a i dolci accenti so far
tranquillo ogni turbato core, ed or di nobil ira, ed or d'amore posso infiammar le più gelate
menti”. (Striggio [1615] 2012, 2) 13.
Em síntese, tanto em Virgílio, como em Striggio/Monteverdi, Schikaneder/Mozart
(por Papageno), ou mesmo no cancioneiro popular contemporâneo, o homem em estado
de natureza sempre é a redenção via ideal de simplicidade diante das complexas
armadilhas da vida protocolizada. E assim se projeta, por que não, em personagens
“ordenadores/redentores” como Mary Poppins. Nela, o estado de natureza não está nos
costumes, pois se apresenta como uma governanta burguesa tradicional, mas na arte da
magia. Portanto, uma canção de caráter rústico no prólogo da história é perfeita para
ambientar o chamamento de uma entidade mágica, que usará sua arte para trazer
harmonia a uma família, até então disfuncional.
Logo, considerando que a construção de uma ideia de “música rústica” ou “estilo
rústico” vincula-se ao “estado de natureza”, e este se apresenta como ideia-força da
redenção face a problemas que a razão não alcança, iniciar um conto de fadas com uma
canção de caráter rústico não só é um acerto retórico, como uma sutileza fina. Isso porque,
o rústico “marca” essa canção para ativar as correlações desse caráter com um estado de
expressão redimido no espontâneo, na pureza, ou na compaixão. Assim, criando um
significante que se constitui desde remotas épocas como expressão oriunda de uma
conexão com um estado de sensibilidade transformadora, a canção rústica resume Mary
Poppins, como os operistas faziam nas aberturas de ópera, desde a época de Mozart.
Porém, é importante fazer um outro exercício de desconstrução das formas de
representação das bruxas para alcançar outra sutileza de discurso velado na canção,
independentemente se foram propositais ou mero fruto de uma subjetividade virtual
construída “fora” da canção.
13Eu sou música, que com sotaques doces/Posso acalmar todo coração perturbado/E com raiva nobre e com
amor/Posso inflamar as mentes mais frias. (Trad. minha)
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Deus e cometiam os mais fortes ultrajes morais do ponto de vista cristão, como o incesto,
a antropofagia, assassinatos por envenenamento ou adivinhações de mau agouro.
Ademais, a bruxas eram associadas a profecias que induziam conflitos ou, no mínimo,
discórdias que levariam a rupturas de laços amorosos ou de poder. A melhor tradução
dessa tipologia são as bruxas de Macbeth, de Shakespeare.
Quanto à música, sugiro percorremos a forma com a qual Handel trata a sua
Medeia, na ópera Teseu (1713). Poderíamos partir de um autor também canônico para os
dias atuais, como Purcell, mas por Handel é possível vislumbrar melhor muitos elementos
que se projetaram no cânone ocidental sobre a relação semântica-musical das bruxas.
Arrisco dizer que sua geração tenha sido a que moldou essa estrutura expressiva, já que a
tipologia musical desses personagens, senão muitos, formam o “lugar comum” na qual
não só estão elementos representativo de feiticeiras como Medeia, mas também em
cantos de outros tempos e universo musical, como o canto no qual Bert evoca Mary
Poppins.
A primeira consideração que pretendo sublinhar é que Handel, ao contrário de
Purcell para as bruxas de Dido e Enéas (1688), não vincula Medeia a um campo
expressivo único. Ele escreve as árias numa perspectiva de mostrar a instabilidade
crescente da feiticeira até o estágio da profunda ira, que ocorre no Ato V de sua ópera
Perseu.
A primeira ária que revela o surgimento da raiva em Medeia é O Stringerò nel sen.
É uma cena que a feiticeira se mostra contrariada com o Rei Egeu e pretende provocar
uma vingança a partir de Teseu. Escrita em modo maior, porém com a seção contrastante
da ária da capo em modo menor (o que é uma indexação para toda a obra), a sua tipologia
está distante das ombras e tempestas com o qual os compositores da geração de Purcell
tratavam os seres mágicos até então. O caráter que Handel usou para tratar do espírito
instável de Medeia, ao contrário de Purcell, não de ira, e sim de certa euforia. Esta
caracterização, aliás, é a mesma que usa Alessandro Scarlatti no intermezzo Palandrana
e Zamberlucco (1716) (ária A me strega) e que consagrará Pergolessi vinte anos mais
tarde, no trato das cenas de um enredo que trata das confusões amorosa entre Uberto e
Serpina (La Serva Padrona, 1733). Uma simples comparação entre O Stringerò nel sen,
de Handel, e ária Son imbrogliato io già, de Pergolesi, serve para revelar a estratégia de
Handel: uma retórica tópica para cenas de confusões entre amantes. É desse ponto que
parte Handel, a ideia do imbróglio, ou seja, Handel parte de forças que ativam o desatino,
e seriam iguais tanto para bruxas como para amantes: a frustração, a rejeição, o ciúme,
enfim, afetos negativos, desatando forças irracionais. A questão é o desenlace.
A questão do imbrogliato é interessante na medida em que ele é
fundamentalmente um tipo de tópica de tempesta, ou seja, para momentos de grande
agitação. No entanto, em modo maior, torna-se recorrente em cenas de confusões
amorosas muitas vezes fúteis. Pergolesi é um mestre dessas tempestas do amor
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Machado Neto, Diósnio. 2020. Sobre sombras, tempestades... e bruxas: um ensaio sobre as permanências na semântica
musical. MusiMid 1, no. 1 (2020): 46-70.
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musical. MusiMid 1, no. 1 (2020): 46-70.
14 A Bela Adormecida 1959. Direção e roteiro: Les Clark; Eric Larson & Wolfgang Reitherman. Erdman Penner.
Produção: Walt Disney Production. Buena Vista Distribution. Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=MODMlFVX_XM
15 The Skeleton Dance 1929. Direção, roteiro e produção: Walt Disney. Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=vOGhAV-84iI.
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em: https://youtu.be/jFA-2hvJZAk
19 Beetlejuice 1988. Direção e roteiro: Tim Burton. Michael McDowell et all. The Geffen Film Company. Disponível em
https://youtu.be/Zvl8pzXoXww
20 The Witches 1990. Direção e roteiro: Nicolas Roeg. Allan Scott. Warner Bros.
21 Lembremos que o gênero bufo tratava de desencontros amorosos não só entre pessoas comuns, ou seja, sem a
educação e etiquetas cortesãs, mas, também, entre nobres como é o caso de As bodas de Fígaro, de Lorenzo da
Ponte/Mozart ou, para nos remeter ao universo luso-brasileiro, As Guerras de Alecrim e Manjerona de Antônio José
da Silva/Antônio Teixeira.
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intertextualidade explícita, exposto no que seria o exordium da obra musical, Myers passa
a reciclar o estilo levando o ambiente rossiniano para uma atualização neoclássica, num
interessante jogo de seções contrastantes e, algumas vezes, justapondo os estilos.
É esse ponto que intensifica a ideia do imbrogliato de feitiçaria, pois o
deslocamento do clássico para o neoclássico em transições rápidas, e, ao mesmo tempo,
usos de tópicas disfóricas, mimetiza musicalmente tudo o que esperamos de um
imbróglio de feitiçaria, ou seja, confusões que vão do sarcasmo diante do mundo
“normal” à trapalhada de feitiçarias mal executadas (a ideia do feitiço que vira contra a
feiticeira)22. E a música de Myers abre essa janela de correlações a partir do ambiente
clássico: o imbrogliato da ópera bufa. É a partir dessa base que realiza uma transição
bastante eficiente para o imbrogliato de feitiçaria, assumindo que o imbrogliato amoroso
encaixa perfeitamente bem com o drama-jocoso envolvendo personagens sobrenaturais,
como podemos ver em A Flauta Mágica, de Mozart.
Aqui, há um último ponto importante de se destacar. Este ponto é justamente
como, a partir dos campos expressivos já estabilizados desde a geração de Alessandro
Scarlatti (tempesta, ombra, militar, pastoral, eclesiástico etc.), as gerações posteriores
acrescentaram novos parâmetros e ampliaram seu espaço semântico.
Para não perder a referência, continuemos usando como exemplo a tópica de
imbrogliato. Como postulei acima, haveria dois tipos de imbrogliato: o amoroso e o de
feitiçaria. O amoroso foi consagrado para o cânone da Música Ocidental por autores da
escola napolitana de ópera com destaque para Pergolesi, Leonardo Leo, Paisiello e
Rossini, para citar alguns. Caracteriza-se, basicamente pelas melodias rápidas em notas
em graus conjuntos, fortes contrastes de dinâmica e acentos inusitados que, por vezes
quebram a métrica para criar a sensação de desarticulação melódica; é uma metáfora da
confusão. A agilidade da linha melódica parece ser uma marca característica indelével.
Porém, sublinho que essa agilidade e leveza só conseguem criar a semântica da confusão
sendo em modo maior.
Logo, é o modo maior o que redime o imbrogliato de amor, inclusive distinguindo-
o das tempestas. E esse é um detalhe importante, pois a paixão amorosa é, assim,
entendida a partir da mesma energia, ou quase a mesma, que outras agitações, como o
medo, a expectativa da morte ou os perigos diante da força da natureza. Assim, no acervo
das metáforas musicais as agitações do amor foram moldadas como uma espécie de
tempesta modulada pelo modo maior, principalmente quando estas agitações tratam da
torpeza que as paixões envolvem os amantes.
Resta comentar uma questão; como se ajustou a tópica de imbrogliato de amor à
representação da feitiçaria. Parece-me evidente que a modulação ocorre antes no
imbrogliato de amor que pela tempesta. Como podemos ver nos exemplos de Berlioz,
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gestualidades que poderiam ser entendidas como passus ou saltus duriusculus.23 Assim,
marcando o imbrogliato com o modo menor e evitando figuras de retórica pathopoieticas
(figuras melhor adaptadas às catarses de heróis ou mártires), Mendelssohn parece ter
indexado o que se espera de um conto de bruxas: o caráter instável que o “divertimento”
dos seres mágicos criam no “outro” mundo. E isso parece ter se tornado uma referência,
já que bruxas não serão mais musicadas em modo maior, nem terão suas ambientações
musicais como se fossem meras artífices das confusões amorosas, como vemos em Chim
Chim Cher-ee.
23Para comparar com uma tempesta para um argumento sobrenatural escrito na mesma época, escute O rei dos elfos
(Erlkönig, 1782), de Schubert.
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Concluindo...
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Poderíamos citar inúmeros usos desses recursos retóricos em outros universos, a ponto
de presumirmos, empiricamente, sua efetividade, dentro do todo da cultura ocidental.
Enfim, é evidente que essa perspectiva considera como ideia-força a esteira pela
qual a história cultural resguarda e impulsiona valores. Outros buscarão respostas na
Antropologia, na Psicologia Cognitiva, na Teoria Crítica, enfim, em outros campos.
Porém, acredito que todos encontrarão respostas a partir de uma só perspectiva: valores
culturais são ancorados por forças vitais que encontram sentidos numa cadeia constituída
de certos axiomas inquebrantáveis. É sobre essas “certezas” da condição humana, forjada
em plataformas civilizacionais minimamente associadas, como a ideia de Ocidente, que
os campos expressivos tópicos permaneceram na constituição de acervos e instituições
que nos traduzem em arte.
Referências
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Press.
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Companhia das Letras.
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19: 208-35
Striggio, Alessandro. [1615]. L’Orfeo: Favola in Musica. Disponível em:
http://www.earlymusic.bc.ca/wp-content/uploads/2017/03/Orfeo-Texts-Translations-
for-Web.pdf. Acessado em: 12 de Abril de 2020.
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