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ELABORAÇÃO DE SÍNTESE
Embora essa seja uma síntese dos conceitos de língua e fala, achamos por bem iniciá-la fazendo
uma breve diferenciação entre língua e linguagem, a partir das leituras de Marcuschi e Saussure.
A faculdade da linguagem é um fato distinto da língua, mas que não pode ser exercido sem ela. (Saussure, 1997)
Para Saussure, não se confundem os dois conceitos; embora sejam complementares, a linguagem é
uma faculdade humana que antecede a língua; esta, por sua vez, é um instrumento de expressão da
linguagem. A língua ocupa espaço social e, portanto, é de natureza coletiva, como pode ser
observado no trecho seguinte:
A língua, em suas diferentes manifestações, é o principal instrumento de comunicação entre os seres humanos,
passando, portanto, por influências das múltiplas formas de interação e vivências sociais. (Marcuschi, 2008).
Ao sintetizarmos o conceito de fala, entendemos que esta se trata de uma comunicação dinâmica e
em tempo real, sujeita a modificações.
Para ilustrar esses conceitos, utilizaremos informações trazidas à tona pelo Maestro Letieres Leite
no campo da Música Popular Brasileira e pelo Professor Robert W. Slenes, em seu estudo
histórico-linguístico sobre o escravismo no Brasil.
Letieres é autor de um método de ensino musical conhecido como UPB, o Universo Percussivo
Baiano. Esse método nos permite compreender as claves (pequenos padrões rítmicos) como
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elementos que interagem com a herança dos povos trazidos ao Brasil durante a escravidão. Ele
utiliza a língua "tocada" nos instrumentos do Candomblé para rastrear sua origem étnica,
reconstruindo conexões históricas entre os ritmos fundamentais da diáspora africana e a música
contemporânea, onde esses padrões são mantidos, seja de forma deliberada ou intuitiva.
Slenes identifica um “contínuo cultural” entre os povos da África Central Ocidental e o Brasil,
consequência das interações entre cativos durante o escravismo. Através dessas interações foi
criado um elo cultural que se manifestou na língua, na comunicação, nas tradições e nos costumes,
permitindo a preservação de aspectos culturais desses povos mesmo em um ambiente adverso e
distante de suas terras de origem. Essa continuidade cultural possibilitou a formação de um
patrimônio comum, apesar das diferenças de origens e dialetos entre os escravizados.
Apesar de os cativos serem de origens diferentes e falarem dialetos distintos, havia entre eles uma
unidade etnolinguística e cultural (bantu/ centro-africana ocidental). Desde sua entrada nos navios,
sua longa e tormentosa viagem para as Américas serviria ao menos para refinar uma comunicação
em torno de palavras de fonética comuns ou semelhantes. Para que a comunicação fosse efetiva, se
fez necessário que os escravizados navegassem habilmente entre línguas para encontrar sentido
comum.