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Macapá-AP
2018
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAPÁ
PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO
DEPARTAMENTO DE PÓS-GRADUAÇÃO
Macapá-AP
2018
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Autorizo a reprodução e divulgação total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio
convencional ou eletrônico, para fins de estudo e pesquisa, desde de que citada a fonte
Catalogação na publicação
398.098116
235 f.
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Nome: PAIXÃO, Joaciany do Carmo Nascimento
Título: Os Ladrões de Marabaixo: O legado das Cantigas para o Ensino de História no
Amapá.
Banca Examinadora
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Prof. Dr. Alexandre Guilherme da Cruz Alves Júnior
(Presidente/ Orientador)
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Prof. Dr. Sidney da Silva Lobato
(Membro/ProfHistória)
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Prof.º Dra. Piedade Lino Videira
(Membro externo)
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DEDICATÓRIA
Aos pais dos alunos, da Escola Estadual Professora Raimunda Virgolino, pela
compreensão quanto as atividades de Pesquisa de Campo, fora do espaço escolar.
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Aos meus colegas de curso do Mestrado Profissional em Ensino de História
– ProfHistória pelo compartilhamento das experiências profissionais, aprendizado, análi-
ses e reflexões quanto ao objeto da pesquisa. A Jaqueline Samara, Ângela Maria e Danilo
Pacheco pelas generosas contribuições.
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RESUMO
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ABSTRACT
The Marabaixo tells its story and the history of its people through the dance
and the letters of the Thieves that narrate through a poetic saga, the History of the African
presence in Amapá. What the lyrics of the songs tell and how they sing and how they
dance, shuffling their feet simulating the fetters that chained their ancestors at the time of
slavery, are rich repositories of life history and local genealogies. The Thieves lyrics are
composed of an important oral collection not only because it is a tradition left by the
ancestors of the festival, but because, as its participants, the legacy of the songs empha-
sizes, they are part of the most authentic cultural expression of Amapá. Our objective in
this work is the propositional dialogue of music in History Teaching, using as a theoretical
contribution the typology of African descendants songs and the ontogenetic theory of
Historical consciousness, bringing through the songs of Marabaixo the constitution of
historical sense about African slavery in Amapá, in the XVIII century. As a methodology,
we applied 4 workshops aiming to develop the practice of Historical Research and the
Production of Knowledge in the School Space with 12 students, of the 2nd year of High
School, of the State School Professor Raimunda Virgolino, at the incidence places of the
Marabaixo of Macapá (AP) and Old Mazagao. This proposal is based on a Teaching
Learning concept of history whose central objective is the formation of the student's his-
torical awareness, from the intertwining with different knowledge that dialogue within
the educational process. As the final product of the research, we present the ILLUS-
TRATED DICTIONARY OF MARABAIXO SONGS, TEACHER’S MATERIAL.
HIGH SCHOOL - VOL. 1. The same was produced from the meaning of words and ex-
pressions contained in the songs of Marabaixo researched.
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LISTA DE IMAGENS
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Imagem 14 – Marcelo Cláudio de Jesus Coimbra (Marcelo Favela), apresentando um
pedaço de couro para ser usado na Confecção das Caixas – Macapá/AP. Data:
20/05/2013. Foto: Eduardo Costa. ............................................................... 43
Imagem 15 – Caixas de Marabaixo da sede da Associação Cultural Raízes da Favela.
Foto: Aydano Fonseca. Data: 18/05/2017 Fonte: Acervo pessoal da
pesquisadora. ............................................................................................... 44
Imagem 16 – Dançadeira de Marabaixo na Associação Folclórica Marabaixo do Pavão –
Macapá/AP .................................................................................................. 45
Imagem 17 – Cortação do Mastro. Curiaú, Macapá (AP). Marabaixeiras da Associação
Folclórica Marabaixo do Pavão dando a primeira machadada simbólica no
tronco de árvore que servirá de Mastro. Em 16/06/2017. Foto: Aydano
Fonseca. Fonte: Acervo pessoal da pesquisadora. ....................................... 47
Imagem 18 – Cortejo do Mastro. .................................................................................... 49
Imagem 19 – Corte da Murta para revestimento do Mastro. Distrito do Coração. Macapá
(AP).............................................................................................................. 50
Imagem 20 – Associação Folclórica Marabaixo do Pavão- Cortejo da Murta bairro do
Laguinho, Macapá (AP). Em 4/6/2017. Foto: Aydano Fonseca. Fonte: acervo
pessoal da pesquisadora ............................................................................... 50
Imagem 21 – Associação Folclórica Marabaixo do Pavão . Cortejo da Murta. Bairro Jesus
de Nazaré, Macapá (AP). Em 4/6/2017. Foto: Aydano Fonseca. Fonte: acervo
pessoal da pesquisadora ............................................................................... 52
Imagem 22 – A caminho para a Consagração da Murta. Igreja Jesus de Nazaré, bairro
Jesus de Nazaré, Macapá (AP). Parte religiosa do ciclo de celebrações em
louvor a Santíssima Trindade e ao Divino Espírito Santo. Em 4/6/2017. Foto:
Aydano Fonseca. Fonte: acervo pessoal da pesquisadora. .......................... 52
Imagem 23 – Encontro das Encontro das Bandeiras da Santíssima Trindade e do Divino
Espírito Santo. As Bandeiras marcam a identidade e devoção dos grupos de
Marabaixo. Igreja Jesus de Nazaré, bairro Jesus de Nazaré, Macapá (AP). Em
4/6/2017. Foto: Aydano Fonseca. Fonte: acervo pessoal da pesquisadora.. 53
Imagem 24 – Coroas são artefatos permanentes da festividade. Representa os ramos
familiares que sustentam o Marabaixo, e são colocadas em altares nas casas
dos festeiros juntamente com seus Santos de devoção pessoal. Casa da
Família Congó, local onde funciona também a Associação Folclórica Raízes
da Favela, bairro Central. Macapá (AP). Em 18/6/2017.Foto: Aydano
Fonseca. Fonte: acervo pessoal da pesquisadora. ........................................ 55
Imagem 25 – Pessoas ajoelhadas diante da imagem da Santíssima Trindade no período
das novenas. Foto: Alysson Antero, 2014. .................................................. 55
Imagem 26 – Levantação do Mastro em devoção a Santíssima Trindade...................... 58
Imagem 27 – Derrubada do Mastro da Santíssima Trindade, ritual que simboliza o
encerramento do Ciclo de celebrações do Marabaixo de Macapá(AP).
Associação Folclórica Raízes da Favela, bairro Central. Foto: Aydano
Fonseca. Acervo pessoal da pesquisadora ................................................... 59
Imagem 28 – Foto: Aydano Fonseca. Data: 18/04/2017. Fonte: Acervo pessoal da
pesquisa........................................................................................................ 61
Imagem 29 – Foto: Aydano Fonseca. Data: 18/04/2017 Fonte: Acervo pessoal da
pesquisadora ................................................................................................ 62
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Imagem 30 – Foto: Aydano Fonseca. Data: 18/04/2017. Fonte: Acervo pessoal da
pesquisadora. ............................................................................................... 63
Imagem 31 – Dançadeiras da Associação Cultural Raízes da Favela. Foto: Aydano
Fonseca. Data: 25/05/2017. Fonte: Acervo pessoal da pesquisadora. ......... 65
Imagem 32 – Lago do Curiaú. Foto: Alan Kardec. Disponível em http://mapio.net/pic/p-
122835443/ .................................................................................................. 67
Imagem 33 – Casal de dançadores – Macapá/AP. ......................................................... 78
Imagem 34 – Torneio de Fut-lama. Ao fundo, a prática do kitesurf. Fonte:
https://www.alcinea.com/macapa/o-que-vi-hoje-na-orla-de macapá. Foto:
Alcinéia Cavalcante. Acessado em 29/12/2017........................................... 90
Imagem 35 – Vista aérea Parque do Forte e do seu complexo de lazer. Macapá/AP. ... 90
Imagem 36 – Umbanda, dança da vida. Foto: Templo Escola Filhos do Mar. Disponível
em http://tefilhosdomar.org/index.php/2015/09/29/umbanda-a-danca-da-
vida/. Acessado em 23/04/2018 ................................................................... 98
Imagem 37 – Ciclo do Marabaixo, 2017. Dança do Marabaixo. Barracão da Tia Gertrudes.
..................................................................................................................... 99
Imagem 38 – Auditório da Escola Estadual Professora Raimunda Virgolino no dia das
apresentações das temáticas das Disciplinas Eletivas. Data: 25/04/2018. Foto:
Acervo pessoal da pesquisadora ................................................................ 122
Imagem 39 – Aula audição das Cantigas de Marabaixo. Para audição utilizamos dois
módulos aula de 50 minutos cada. Biblioteca da Escola Estadual Professora
Raimunda Virgolino. Foto: Jocimar Paixão. Acervo pessoal da pesquisadora.
Macapá (AP). Data: 04/04/2018 ................................................................ 124
Imagem 40 – Palestra sobre a origem histórica do Marabaixo. Colaborador: Fábio José
do Espírito Santo Souza. Escola Estadual Professora Raimunda Virgolino.
Foto: Jocimar Paixão. Arquivo pessoal da pesquisadora. Data: 07/04/2018
................................................................................................................... 130
Imagem 41 – Fábio José do Espírito Santo Souza ouvindo as perguntas dos estudantes
sobre a origem das Cantigas de dor do Marabaixo. Escola Estadual Professora
Raimunda Virgolino. Foto: Jocimar Paixão. Arquivo pessoal da pesquisadora.
Data: 07/04/2018 ....................................................................................... 131
Imagem 42 – Fábio José do Espírito Santo Souza falando sobre a origem do Marabaixo.
Escola Estadual Professora Raimunda Virgolino. Foto: Jocimar Paixão.
Acervo pessoal da pesquisadora. 07/04/2018 ............................................ 131
Imagem 43 – Fábio José do Espírito Santo Souza mostrando para os estudantes o toque
tradicional das Caixas de Marabaixo. Escola Estadual Professora Raimunda
Virgolino. Foto: Jocimar Paixão. Acervo pessoal da pesquisadora. Data:
07/04/2018 ................................................................................................. 133
Imagem 44 – Fábio José do Espírito Santo Souza ensinado as alunas, com auxílio da
pesquisadora, a simbologia da dança do Marabaixo. Escola Estadual
Professora Raimunda Virgolino. Foto: Jocimar Paixão. Acervo pessoal da
pesquisadora. Data: 07/04/2018................................................................. 133
Imagem 45 – Registro da atividade com Fábio José do Espírito Santo Souza, a
pesquisadora e com as professoras Patrícia e Rita, docentes que também
estavam responsáveis pela Eletiva. Foto: Jocimar Paixão. Acervo pessoal da
pesquisadora. Data: 07/04/2018................................................................. 134
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Imagem 46 – Ainda na Estadual Professora Raimunda Virgolino, a pesquisadora
entregando o formulários de coleta de dados e dando orientações gerais para
a visita ao Curiaú. Foto: Jocimar Paixão. Acervo pessoal da pesquisadora.
Data: 14/04/2017 ....................................................................................... 135
Imagem 47 – Registro da saída da Escola Estadual Professora Raimunda Virgolino para
a pesquisa de campo no Curiaú. Foto: Jocimar Paixão. Acervo pessoal da
pesquisadora. Data: 14/04/2018................................................................. 135
Imagem 48 – A pesquisadora e os estudantes da Escola Estadual Professora Raimunda
Virgolino, ouvindo o relato de Pedro do Rosário dos Santos sobre a origem
de palavras e expressões das Cantigas de trabalho e dor do Marabaixo. Local:
oficina de produção de Caixas de Marabaixo. Curiaú. Data: 14/04/2018. Foto:
Jocimar Paixão. Acervo pessoal da pesquisadora...................................... 136
Imagem 49 – Estudantes da Escola Estadual Professora Raimunda Virgolino e a
pesquisadora do projeto, ouvindo atentamente os relatos de Pedro Rosário dos
Santos sobre a relação das Cantigas de trabalho e dor do Marabaixo, com a
origem histórica do local. Curiaú. Data: 14/04/2018. Foto Jocimar Paixão.
Acervo pessoal da pesquisadora ................................................................ 137
Imagem 50 – A Carioca “Em frente à matriz de Macapá, antes das competições de luta-
livre e capoeira (carioca)”. Legenda adapatada. In: PEREIRA, Nunes. O
sahiré e o Marabaixo: Tradições da Amazônia. Contribuição ao Primeiro
Encontro Brasileiro de Folclore. Rio de Janeiro: Gráfica Ouvidor, 1951. p.
43. .............................................................................................................. 138
Imagem 51 – Oficina de produção de Caixas de Marabaixo de Pedro do Rosário dos
Santos. Curiaú. Foto: Jocimar Paixão. Acervo pessoal da pesquisadora. Data:
14/04/2018 ................................................................................................. 140
Imagem 52 – Cotidiano no Curiaú. Fonte: Pesquisa de campo, 2013 (Unifap). Disponível
em http://comunidades.lides.unifap.br/condicoes_vida/curiau.html. ........ 144
Imagem 53 – Estudantes da Escola Estadual Professora Raimunda Virgolino juntamente
coma pesquisadora, ouvindo Pedro do Rosário dos Santo cantar alguns
trechos das Cantigas de trabalho, Cantigas de dor do Marabaixo. Local:
Curiaú. Oficina de produção de Caixas de Marabaixo. Data: 14/04/2018.
Foto: Jocimar Paixão. Acervo pessoal da pesquisadora ............................ 147
Imagem 54 – Fragmento 1: Registro dos estudantes da Escola Estadual Professora
Raimunda Virgolino, sobre o Curiaú. Visita de campo. Data: 14/04/2018
.................................................................................................................. .148
Imagem 55 – Fragmento 2: Registro dos estudantes da Escola Estadual Professora
Raimunda Virgolino, sobre o Curiaú. Visita de campo. Data: 14/04/2018
.................................................................................................................. .148
Imagem 56 – Fragmento 3: Registro dos estudantes da Escola Estadual Professora
Raimunda Virgolino, sobre o Curiaú. Visita de campo. Dia 14/04/2018
............................................................................................................... ....150
Imagem 57 – Fragmento 4: Registro dos estudantes da Escola Estadual Professora
Raimunda Virgolino, sobre o Curiaú. Visita de campo. Data: 14/04/2018
.................................................................................................................. .150
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Imagem 58 – Fragmento 5: Registro dos estudantes da Escola Estadual Professora
Raimunda Virgolino, sobre o Curiaú. Visita de campo. Data: 14/04/2018
.................................................................................................................. .151
Imagem 59 – Fragmento 6: Registro dos estudantes da Escola Estadual Professora
Raimunda Virgolino, sobre o Curiaú. Visita de campo. Data: 14/04/2018.
................................................................................................................... 152
Imagem 60 – Associação Cultural berço das Tradições Amapaenses, mais conhecida
como barracão da Tia Gertrudes, bairro Central, Macapá (AP). Na foto
pesquisadora explicando sobre a história de vida de Gertrudes Saturnino, uma
das primeiras moradoras na década de1940, do atual bairro Central. Foto:
Jocimar Paixão. Data: 18/04/2018. Acervo pessoal da pesquisadora. ....... 155
Imagem 61 – Na sequência visita a Associação Folclórica Raízes da Favela, bairro
Central, Macapá (AP). O Barracão onde se dança o Marabaixo é montado
todos os anos apenas uma semana antes da Páscoa, período em que antecede
a festividade do Marabaixo. São adaptações na residência onde as edificações
recebem uma estrutura aberta na frente e atrás. Foto Jocimar Paixão. Data
18/04/2018. Acervo pessoal da pesquisadora. ........................................... 156
Imagem 62 – Registro mostrando como fica a Associação Cultural Raízes da Favela
durante as festividades do Ciclo do Marabaixo. Macapá/AP. Foto: Aydano
Ferreira. Data: 05/05/2017. Acervo pessoal da pesquisadora.................... 157
Imagem 63 – Associação Folclórica Marabaixo do Pavão. Situado na avenida José
Tupinambá de Almeida, nº1160, bairro Laguinho, Macapá (AP). Na ocasião
explicação da pesquisadora sobre a trajetória de vida de Raimundo Lino
Ramos, o mestre Pavão, considerado um dos mais importantes precursores do
Marabaixo do Amapá. Foto: Jocimar Paixão. Data: 18/04/2017. Acervo
pessoal da pesquisadora. ............................................................................ 159
Imagem 64 – Acima, registro da visita a Associação Cultural Raimundo Ladislau, Rua
Eliezer Levy, nº 632, bairro do Laguinho, Macapá (AP). Foto: Jocimar
Paixão. Data 18/04/2018. Acervo pessoal da pesquisadora. ..................... 160
Imagem 65 – Registro que mostra a Associação Cultural Raimundo Ladislau durante as
festividades do Marabaixo. Neste período o festeiro responsável pela
coordenação do evento, juntamente com sua equipe de trabalho, prepara a
parte externa da residência enfeites de papel colorido nas cores azul, vermelho
e branco, cores quer representam o Divino Espírito Santo e a Santíssima
Trindade. Associação Cultural Raimundo Ladislau, Macapá/AP. Foto:
Aydano Ferreira. Data 05/05/2017. Acervo pessoal da pesquisadora ....... 160
Imagem 66 – Poço do Mato, bairro do Laguinho. Macapá (AP). Este Local era utilizado
pelos primeiros moradores na década de 1940, para coletar água potável. Ente
os primeiros habitantes temos famílias negras que viviam na Vila de Santa
Engrácia, próximo a Igreja da Matriz, no centro da cidade que foram
deslocadas para o bairro do Laguinho que na época, não possuía infraestrutura
para recebê-los. Foto: Jocimar Paixão. Data: 18/04/2018. Acervo pessoal da
pesquisadora. ............................................................................................. 161
Imagem 67 – Registro fotográfico dos estudantes da Escola Estadual Professora
Raimunda Virgolino na avenida Padre Manoel da Nobrega, em frente ao Poço
do Mato. Acima desenho retratando a da antiga igreja da Matriz. Abaixo
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pintura da Fortaleza de São José de Macapá. Av. Padre Manoel da Nóbrega,
bairro do Laguinho Macapá (AP). Entre as Ruas General Rondon e São José,
atrás do terreno da CAESA (Companhia de Água e Esgoto do Amapá). Foto:
Jocimar Paixão. Data: 18/04/2018. Acervo pessoal da pesquisadora. ....... 162
Imagem 68 – Av. Padre Manoel da Nóbrega, bairro do Laguinho, Macapá (AP) entre as
Ruas General Rondon e São José, atrás do terreno da CAESA (Companhia de
Água e Esgoto do Amapá). Foto: Jocimar Paixão. Data: 18/04/2018. Acervo
pessoal da pesquisadora. ............................................................................ 163
Imagem 69 – Fragmento 7: Registro dos estudantes da Escola Estadual Professora
Raimunda Virgolino, sobre o bairro Santa Rita e Central (antiga Favela).
Visita de campo. Dia 18/04/2018 .............................................................. 163
Imagem 70 – Fragmento 8: Registro dos estudantes da Escola Estadual Professora
Raimunda Virgolino, sobre os bairros Santa Rita e Central (antiga Favela).
Visita de campo. Dia 18/04/2018 .............................................................. 164
Imagem 71 – Fragmento 9: Registros dos estudantes da Escola Estadual Professora
Raimunda Virgolino, sobre o bairros do Laguinho, Santa Rita e Central
(antiga Favela). Visita de campo. Dia 18/04/2018 .................................... 164
Imagem 72 – Acesso principal para a visitação - Fortaleza de São José de Macapá. Foto:
Jocimar Paixão. Acervo pessoal da pesquisadora. Data: 18/04/2018. ....... 165
Imagem 73 – Registro da entrada dos alunos com a pesquisadora na Fortaleza de São José
de Macapá. Foto: Jocimar Paixão. Acervo pessoal da pesquisadora. Data:
18/04/2018 ................................................................................................. 166
Imagem 74 – Pesquisadora utilizando a maquete da Fortaleza de São José de Macapá,
localizada na entrada principal do monumento, para contextualizar
historicamente a diáspora africana para o Amapá no século XVIII e a chegada
do negro para trabalhar como mão de obra cativa na construção do Forte.
Foto: Jocimar Paixão. Acervo pessoal da pesquisadora. Data: 18/04/2018
................................................................................................................... 166
Imagem 75 – Segunda maquete da Fortaleza de São José de Macapá localizada na entrada
principal do monumento. Foto: Jocimar Paixão. Acervo pessoal da
pesquisadora. Data: 18/04/2018................................................................. 167
Imagem 76 – Fosso (esgotadouro) de águas pluviais localizada no centro da praça
rebaixada da Fortaleza de São José de Macapá. Foto: Jocimar Paixão. Acervo
pessoal da pesquisadora. Data: 18/04/2018 ............................................... 167
Imagem 77 – Registro fotográfico no terrapleno de acesso aos baluartes Fortaleza de São
José de Macapá. Foto: Jocimar Paixão. Acervo pessoal da pesquisadora. Data:
18/04/2018. ................................................................................................ 168
Imagem 78 – Fragmento 10: Atividade sobre a importância da Fortaleza e a relação da
mesma com o Marabaixo. Estudantes da Escola Estadual Professora
Raimunda Virgolino. Visita de campo. Data: 18/04/2018 ........................ 168
Imagem 79 – Sede do Grupo Folclórico Raízes do Marabaixo em Mazagão Velho. Alunos
da Escola Estadual Professora Raimunda Virgolino aguardando o momento
de coletar o relato de Jozué da Conceição Videira. Data 18/04/2018 ....... 171
Imagem 80 – Sede do Grupo Folclórico Raízes do Marabaixo. Município de Mazagão
Velho. Alunos da E.E. Raimundo Virgolino ouvindo atentamente Jozué da
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Conceição Videira, falando sobre o significado das Cantigas religiosas do
Marabaixo. Data: 18/04/2018 .................................................................... 171
Imagem 81 – Sede do Grupo Folclórico Raízes do Marabaixo. Município de Mazagão
Velho. Na imagem à esquerda, CDs com Cantigas religiosas do Marabaixo.
Nos encartes identificamos um panteão de Santos católicos com destaque para
Nossa Senhora da Piedade. À direita, banner em homenagem a Nossa Senhora
da Piedade. Foto: Jocimar Paixão. Acervo pessoal da pesquisadora. Data:
18/04/2011 ................................................................................................. 172
Imagem 82 – Jozué da Conceição Videira, e seus filhos, na sede do Grupo Folclórico
Raízes do Marabaixo. Município de Mazagão. Foto: Jocimar Paixão. Acervo
pessoal da pesquisadora. Data: 18/04/2018 ............................................... 173
Imagem 83 – Artefatos e indumentárias utilizadas nas festas do Divino e de São Thiago.
Grande parte das Canções religiosas do Marabaixo em Mazagão Velho ser
reportam a ocupação histórica do lugar e a devoção a São Thiago, padroeiro
do Município. Foto Jocimar Paixão. Acervo pessoal da pesquisadora. Data
18/04/2018 ................................................................................................. 173
Imagem 84 – Alunos da Estadual Professora Raimunda Virgolino, Macapá (AP)
escolhendo indumentárias do Marabaixo de rua, em Mazagão Velho. Sede
do Grupo Folclórico Raízes do Marabaixo. Foto: Jocimar Paixão. Data:
18/04/2018 ................................................................................................. 176
Imagem 85 – Alunos da Escola Estadual Professora Raimunda Virgolino, Macapá (AP)
aprendendo como se dança o Marabaixo de rua, em Mazagão Velho. Sede do
Grupo Folclórico Raízes do Marabaixo. Foto: Jocimar Paixão. Data:
18/04/2018 ................................................................................................. 176
Imagem 86 – Captura do vídeo “Rancho Folclórico Portugal Canta e Danca-Tirana”.
Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=tVOZ0R8ca_s. Acessado
em 04/06/2018. .......................................................................................... 177
Imagem 87 – Alunos da Escola Estadual Professora Raimunda Virgolino na parte externa
da Igreja de Nossa Senhora da Assunção em Mazagão Velho. A igreja de
Nossa Senhora da assunção possui Forte representatividade nos rituais
litúrgicos e nas Cantigas de resistência religiosa do Marabaixo. Durante as
festas do Divino são rezadas missas e ladainhas no local, este também é um
dos principais trajetos por onde passa o Marabaixo de rua. Foto: Jocimar
Paixão. Acervo pessoal da pesquisadora. Data 18/04/2018 ...................... 178
Imagem 88 – Parada para registro fotográfico na igreja de Nossa Senhora de Assunção
em Mazagão Velho ................................................................................... 179
Imagem 89 – Pesquisadora explicando a importância histórica das ruínas da antiga Igreja
da Matriz. Foto: Jocimar Paixão. Acervo pessoal da pesquisadora. Data:
18/04/2018 ................................................................................................. 179
Imagem 90 – Dia 1. Alunos pesquisando verbetes e expressões das Canções de
Marabaixo, em fontes secundárias. Laboratório de Informática da Escola
Estadual Professora Raimunda Virgolino. Foto: Joaciany do Carmo
Nascimento da Paixão. Acervo pessoal da pesquisadora. Data 23/04/2018
................................................................................................................... 181
Imagem 91 – Dia 2. Alunos pesquisando verbetes e expressões das Canções do
Marabaixo, em fontes secundárias. Laboratório de informática da Escola
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Estadual Professora Raimunda Virgolino.. Foto: Joaciany do Carmo
Nascimento da Paixão. Acervo pessoal da pesquisadora. Data 24/04/2018
................................................................................................................... 181
Imagem 92 – Laboratório de informática da Escola Estadual Professora Raimunda
Virgolino. Alunos fazendo aprofundamento da pesquisa dos verbetes e
expressões das Cantigas de Marabaixo. Foto: Joaciany do Carmo Nascimento
da Paixão. Acervo pessoal da pesquisadora. Data 24/04/201 .................... 183
Imagem 93 – Laboratório de informática da Escola Estadual Professora Raimunda
Virgolino. Alunos sendo orientados a fazer reflexões e analises da pesquisa
dos verbetes e expressões das Canções do Marabaixo. Foto: Joaciany do
Carmo Nascimento da Paixão. Acervo pessoal da pesquisadora. Data
23/04/2018 ................................................................................................. 184
Imagem 94 – Laboratório de informática da Escola Estadual Professora Raimunda
Virgolino. Alunos sendo orientados a fazer reflexões e analises da pesquisa
dos verbetes e expressões das Canções do Marabaixo. Foto: Joaciany do
Carmo Nascimento da Paixão. Acervo pessoal da pesquisadora. Data
24/04/2018 ................................................................................................. 185
Imagem 95 – Biblioteca da Escola Estadual Professora Raimunda Virgolino. Alunos
preenchendo a atividade de avaliação das competências cognitivas da teoria
ontogenética da consciência histórica. Foto: Joaciany do Carmo Nascimento
da Paixão. Acervo pessoal da pesquisadora. Data: 26/04/2018................. 186
Imagem 96 – Fragmento 11: Registro dos estudantes da Escola Estadual Professora
Raimunda Virgolino sobre o legado e importância das Cantigas de
Marabaixo. Data: 24/04/2018 .................................................................... 187
Imagem 97 – Fragmento 12: Registro dos estudantes da Escola Estadual Professora
Raimunda Virgolino sobre a relevância das Cantigas de Marabaixo para a
História local. Data: 24/04/2018 ............................................................... 187
Imagem 98 – Fragmento 13: Registro dos estudantes da Escola Estadual Professora
Raimunda Virgolino sobre a relevância das Cantigas de Marabaixo para a
História local. Data 24/04/2018 ................................................................. 188
Imagem 99 – Registro das ilustrações produzidas pelos estudantes. Biblioteca da Escola
Estadual Professora Raimunda Virgolino. Foto: Joaciany do Carmo
Nascimento da Paixão. Data: 26/04/2018 .................................................. 188
Imagem 100 – Oficina para a produção das ilustrações de palavras e expressões das
Canções do Marabaixo Biblioteca da Escola Estadual Professora Raimunda
Virgolino. Foto: Joaciany do Carmo Nascimento da Paixão. Acervo pessoal
da pesquisadora. Data: 27/04/2018 ............................................................ 189
Imagem 101 – Palestra das alunas Iranilce e Vitória Taynara (Turmas 211 e 213)
apresentando os resultados da pesquisa realizada nos locais de incidência da
manifestação do Marabaixo de Macapá e de Mazagão Velho. Culminância
das Eletivas. Foto: Patrícia Oliveira. Data 7/06/2018. Local: Escola Estadual
professora Raimunda Virgolino. Macapá (AP) ......................................... 190
Imagem 102 – Estudantes da Escola Estadual Raimunda ouvindo a palestra das
estudantes. Culminância das Eletivas. Foto: Patrícia Oliveira. Data:
27/06/2018 ................................................................................................. 190
_____________________________________________________________________________________
Imagem 103 – Exposição de mural com algumas fotografias tiradas pelos estudantes
durante a realização das oficinas nos redutos de incidência da manifestação
do Marabaixo de Macapá e de Mazagão Velho. Exposição Cultural das
Eletivas. Culminância das Eletivas. Foto: Patrícia Oliveira. Data: 27/06/2018
................................................................................................................... 191
Imagem 104 – Exposição de desenhos e de frases de repúdio contra todas as formas de
preconceito veladas ao negro e ao Marabaixo. A atividade retrata bem qual o
posicionamento dos jovens estudantes da Educação Básica e o que eles
pensam a respeito do tema. Foto: Patrícia Oliveira. Data: 27/06/2018 ..... 191
Imagem 105 – Caricatura da aluna Laura (212) desenhada por Kamila Ferreira (213).
Afirmação da identidade e a beleza da cultura negra revelam a consciência
história da jovem estudante que ilustrou o desenho. Foto: Patrícia Oliveira.
Data: 27/06/2018 ....................................................................................... 191
_____________________________________________________________________________________
LISTA DE MAPAS
LISTA DE GRÁFICOS
_____________________________________________________________________________________
LISTA DE SIGLAS
_____________________________________________________________________________________
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 23
SEÇÃO 1 – OS MARABAIXOS EM MACAPÁ (AP) .............................................. 28
1.1. BEBIDAS E COMIDAS TRADICIONAIS DO MARABAIXO .................... 29
1.1.1. GENGIBIRRA ................................................................................................. 29
1.1.2. COZIDÃO ........................................................................................................ 31
1.1.3. A DANÇA DO MARABAIXO: SIMBOLOGIA ............................................ 32
1.1.4. AS DANÇADEIRAS DE MARABAIXO ....................................................... 33
1.1.5. MATRIARCAS ................................................................................................ 36
1.1.6. CANTADEIRA(S)/CANTADORE(S) DE MARABAIXO ............................ 38
1.1.7. TOCADORES .................................................................................................. 39
1.1.8. CAIXA DE MARABAIXO ............................................................................. 44
1.2. MARABAIXO: ARTEFATOS E RITUAIS .................................................... 46
1.2.1. CORTAÇÃO DO MASTRO............................................................................ 47
1.2.2. DOMINGO DO MASTRO .............................................................................. 48
1.2.3. A QUEBRA DA MURTA ............................................................................... 49
1.2.4. CORTEJO DA MURTA .................................................................................. 50
1.2.5. CONSAGRAÇÃO DA MURTA ..................................................................... 51
1.2.6. BANDEIRAS ................................................................................................... 53
1.2.7. COROAS .......................................................................................................... 54
1.2.8. NOVENAS E LADAINHAS ........................................................................... 55
1.2.9. LEVANTAÇÃO DO MASTRO ...................................................................... 57
1.2.10. DOMINGO DO SENHOR ............................................................................... 58
1.3. MARABAIXO EM MACAPÁ: LOCAIS DE INCIDÊNCIA ......................... 60
1.3.1. ASSOCIAÇÃO CULTURAL RAIMUNDO LADISLAU .............................. 61
1.3.2. ASSOCIAÇÃO FOLCLÓRICA MARABAIXO DO PAVÃO ....................... 62
1.3.3. ASSOCIAÇÃO CULTURAL BERÇO DAS TRADIÇÕES AMAPAENSES
........................................................................................................................ ..63
1.3.4. ASSOCIAÇÃO ZECA E BIBI COSTA .......................................................... 64
1.3.5. ASSOCIAÇÃO CULTURAL RAÍZES DA FAVELA.................................... 65
1.4. 1.4 BREVE HISTÓRICO DO MARABAIXO ................................................ 66
1.4.1. A CHEGADA DO AFRICANO AO AMAPÁ COMO MÃO DE OBRA
ESCRAVA ....................................................................................................... 66
_____________________________________________________________________________________
1.4.2. A CHEGADA DO AFRICANO AO CURIAÚ ............................................... 67
1.4.3. A CHEGADA DO AFRICANO EM MAZAGÃO VELHO ........................... 70
1.5. OS LADRÕES DE MARABAIXO ................................................................. 75
SEÇÃO 2 – OS LADRÕES DE MARABAIXO: O LEGADO DAS CANTIGAS DOS
AFRODESCENDENTES NO AMAPÁ ...................................................................... 79
2.1. OS LADRÕES DE MARABAIXO: CANTIGAS DE LIBERTAÇÃO .......... 81
2.2. OS LADRÕES DE MARABAIXO: CANTIGAS DE TRABALHO E
CANTIGAS DE DOR ...................................................................................... 83
2.3. OS LADRÕES DE MARABAIXO: CANTIGAS DE AMOR ....................... 87
2.4. A FORTALEZA DE SÃO JOSÉ DE MACAPÁ: SANGUE, SUOR E
MUSICALIDADE NEGRA NA SUA CONSTRUÇÃO ................................. 89
2.5. OS LADRÕES DE MARABAIXO: CANTIGAS DE RESISTÊNCIA
RELIGIOSA ..................................................................................................... 92
2.6. OS LADRÕES DE MARABAIXO: A RELIGIOSIDADE DE MACAPÁ E
MAZAGÃO VELHO NA FESTA DO DIVINO ............................................. 99
2.7. AS CANTIGAS DE MARABAIXO CONTAM E CANTAM A SAGA
HISTÓRICA DE MAZAGÃO VELHO ........................................................ 101
2.8. OS LADRÕES DE AFIRMAÇÃO DA IDENTIDADE ................................ 107
2.9. OS LADRÕES DE MARABAIXO: O LEGADO DAS CANTIGAS DOS
AFRODESCENDENTES NO AMAPÁ PARA O ENSINO DE HISTÓRIA
.........................................................................................................................114
2.9.1. MÚSICA, ENSINO E APRENDIZAGEM HISTÓRICA ............................. 114
SEÇÃO 3 – ELABORAÇÃO DO DICIONÁRIO ILUSTRADO LADRÕES DE
MARABAIXO. MATERIAL DO PROFESSOR. ENSINO MÉDIO. VOL. 1...... 119
3.1. A ESCOLA ESTADUAL PROFESSORA RAIMUNDA VIRGOLINO:
LOCAL DA PESQUISA DE INTERVENÇÃO ............................................ 119
3.2. OS COMPONENTES CURRICULARES DA ESCOLA DE TEMPO
INTEGRAL: A DISCIPLINA ELETIVA ...................................................... 120
3.3. AULAS AUDIÇÕES DAS CANTIGAS DE MARABAIXO ....................... 124
3.4. O CONCEITO DE ENSINO DE HISTÓRIA INSTRUMENTALIZADO E O
RECORTE TEMPORAL E ESPACIAL........................................................ 126
3.5. A APLICAÇÃO DO TRABALHO DE PESQUISA E COLETA DE DADOS
128
3.5.1. 1ª OFICINA: CURIAÚ UMA INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS HISTÓRICOS
DOS LADRÕES DE MARABAIXO............................................................. 128
3.5.1.1. 1ª ETAPA – PALESTRA SOBRE A ORIGEM HISTÓRICA DO
MARABAIXO. COLABORADOR: FÁBIO JOSÉ DO ESPÍRITO SANTO
SOUZA ........................................................................................................... 129
_______________________________________________
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3.5.1.2. 2ª ETAPA – VISITA AO CURIAÚ: A OFICINA DE CAIXAS DE
MARABAIXO DO MESTRE PEDRO DO ROSÁRIO DOS SANTOS ....... 135
3.5.1.3. A OFICINA .................................................................................................... 136
3.5.2. 2ª OFICINA: VISITA AOS LOCAIS DE INCIDÊNCIA DO MARABAIXO DE
MACAPÁ (AP): A FORTALEZA DE SÃO JOSÉ DE MACAPÁ, OS
BAIRROS DO LAGUINHO E CENTRAL ................................................... 153
3.5.2.1. VISITA AO SÍTIO TRADICIONAL DO MARABAIXO DA FAVELA:
BAIRRO CENTRAL ..................................................................................... 155
3.5.2.2. VISITA AO SÍTIO TRADICIONAL DO MARABAIXO DO LAGUINHO 157
3.5.2.3. VISITA A FORTALEZA DE SÃO JOSÉ DE MACAPÁ (AP) .................... 164
3.5.3. 3ª OFICINA: MAZAGÃO VELHO – VISITANDO NOSSAS RAÍZES ..... 168
3.6. 4ª OFICINA: ELABORAÇÃO DO DICIONÁRIO ILUSTRADO LADRÕES
DE MARABAIXO. MATERIAL DO PROFESSOR. ENSINO MÉDIO. VOL.
1 ...................................................................................................................... 179
3.6.1. 1ª ETAPA: LABORATÓRIO DE INFORMÁTICA EDUCACIONAL (LIED)
........................................................................................................................ 181
3.6.2. 2ª ETAPA: ANÁLISE DOS DADOS COLETADOS LABORATÓRIO DE
INFORMÁTICA EDUCACIONAL (LIED).................................................. 183
3.6.3. 3ª ETAPA: BIBLIOTECA DA ESCOLA ESTADUAL PROFESSORA
RAIMUNDA VIRGOLINO ........................................................................... 185
3.6.4. 4ª ETAPA: CULMINÂNCIA DAS ELETIVAS DA ESCOLA ESTADUAL
PROFESSORA RAIMUNDA VIRGOLINO (27/06/2018)........................... 190
CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................................... 192
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................... 194
ANEXO A: PARECER CONSUBSTANCIADO – CEP ........................................ 201
ANEXO B: LISTA DE VERBETES E EXPRESSÕES DO MARABAIXO
PESQUISADAS .......................................................................................................... 206
ANEXO C: ATIVIDADE DE AVALIAÇÃO DA COMPETÊNCIAS COGNITIVAS
DA TEORIA ONTOGENÉTICA DA CONSCIÊNCIA HISTÓRICA ................. 207
ANEXO D: TRANSCRIÇÃO DE LADRÕES DE MARABAIXO ........................ 211
ANEXO E: ILUSTRAÇÕES – RAQUEL SOARES E CAMILA FERREIRA
(TURMA 213) ............................................................................................................. 222
ANEXO F: ILUSTRAÇÕES – RAILA RAYKA (TURMA 211) ........................... 233
_______________________________________________
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INTRODUÇÃO
_______________________________________________
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África. Foram eles, que segundo Katy Montinha1 trouxeram para Mazagão Velho as prá-
ticas dos festejos ao Divino. Práticas religiosas que os negros absorveram do cristia-
nismo, mas que se constituíram em uma forma singular dos negros se expressarem através
do afrocatolicismo. Juntamente com as danças vieram também as Cantigas que hoje são
conhecidas pelo nome de Ladrões de Marabaixo.
1 MOTINHA, Katy E. F. A festa do Divino Espírito Santo: Espelho de Cultura e Sociabilidade na Vila
Nova de Mazagão. 2003. 346 f. Tese (Doutorado em História). Universidade de São Paulo, São Paulo,
p.7
2 CUNHA Jr., Henrique. Africanidade, Afrodescendência e Educação. Educação em Debate, Fortaleza,
Ano 23, v. 2, n° 42, 2001.
3 PAIVA, Eduardo França. Trabalho compulsório e escravidão: usos e definições nas diferentes épocas.
São Paulo: Loyola, 2011.
4 Lei que cria e insere no calendário cultural o Ciclo do Marabaixo e Batuque no âmbito do Estado do
Amapá. Disponível em http://www.al.ap.gov.br/ver_texto_lei.php?iddocumento=19732. Veja tam-
bém: Lei Nº 0845, de 13 de julho de 2004, que considera bem histórico e cultural do Estado do Amapá,
para fins de tombamento de natureza imaterial, a manifestação folclórica do Marabaixo. Disponível
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dentro do currículo escolar, as Cantigas ainda são pouco conhecidas. Assim, a proposta
deste estudo é a de dar voz a sujeitos históricos ainda invisíveis no currículo, apresentando
como estratégia viável a revisão da predominância da narrativa europeia, no que tange ao
processo de ocupação e povoamento do Amapá, pelos povos africanos no século XVIII.
A escola em questão passou a ser uma referência dentro desta temática e veio
ao longo dos anos acumulando know-how, o que lhe rendeu no ano 2013, o 1º lugar Na-
cional no Prêmio de Gestão escolar e 2º e 1ª Lugar nos anos de 2012 e 2013, respectiva-
mente, no prêmio “SEAFRO DE IGUALDADE RACIAL NA ESCOLA É COISA SÉ-
RIA”, promovido pela Secretaria de Estado e Políticas públicas para afrodescendentes
(AP), premiações em que representei a escola, com ações educacionais afirmativas de
minha autoria. Premiações estas recebidas através do incentivo da inserção do Marabaixo
no âmbito do Espaço Escolar.
Neste sentido, esta pesquisa representa a continuidade dos estudos que venho
desenvolvendo no exercício da docência, ao longo desses anos. Isto posto, o objetivo
central foi uma interlocução da música no Ensino de História utilizando como aporte teó-
rico a tipologia das Cantigas afrodescendentes7 (neste caso, as Cantigas de Marabaixo
conhecidas como músicas tradicionais) e a teoria ontogenética da Consciência Histórica8.
A intenção foi desenvolver mudanças estruturais nos níveis de Consciência Histórica com
proposito de orientação temporal e para a vida prática9 de jovens estudantes do Ensino
Médio da cidade de Macapá (AP) trazendo, através das Cantigas de Marabaixo, a consti-
tuição de sentido histórico acerca da escravidão africana no Amapá, no século XVIII.
7 ABREU. Martha. O legado das Canções escravas nos Estados unidos e no Brasil: diálogos musicais
no pós-abolição. Revista Brasileira de História. São Paulo, v. 35, nº 69, p. 181. 2015)
8 RÜSEN, J. A razão histórica: teoria da história; fundamentos da ciência histórica. Brasília, DF: UNB,
2001. p. 57.
9 Ibid., p. 57.
_______________________________________________
Página 27 de 235
No Seção 2, apresentamos o percurso teórico da pesquisa a partir da análise
das Cantigas de Marabaixo que afirmam a identidade negra e da classificação tipológica
das Canções afrodescendentes, os quais foram devidamente contextualizados com o ca-
tiveiro africano para Macapá e Mazagão Velho, no século XVIII. Na segunda parte do
capítulo, nos dedicamos em situar teoricamente os aspectos metodológicos e conceituais
da música no Ensino de História, trazendo através das Cantigas de Marabaixo, a consti-
tuição de sentido histórico, através de palavras e expressões presentes nas Cantigas, ori-
entação temporal e para a vida prática dos estudantes.
_______________________________________________
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SEÇÃO 1 – OS MARABAIXOS EM MACAPÁ (AP)
1.1.1. GENGIBIRRA
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Imagem 1 – Gengibirra - Associação Folclórica Raízes da Favela, bairro Central, Macapá
(AP). Em 18/06/2017. Foto: Aydano Fonseca. Fonte: Acervo pessoal da pesquisadora.
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1.1.2. COZIDÃO
Imagem 3 – Caldo (cozidão) servido nas festividades do Marabaixo. Associação Folclórica Raízes da Fa-
vela, bairro Central, Macapá (AP). Em 18/06/2017. Foto: Aydano Fonseca. Fonte: Acervo pessoal da pes-
quisadora.
14 No Brasil, dentre os muitos bens de natureza imaterial categorizados pelo IPHAN podemos citar: O
Círio de Nossa Senhora de Nazaré, Samba de roda do Recôncavo Baiano, Modo de fazer viola-de-
cocho, Ofício das baianas de acarajé, Jongo no Sudeste, Feira de Caruaru, Frevo, Tambor de Crioula,
Matrizes do Samba no Rio de Janeiro como o Samba Enredo, Modo artesanal de fazer o queijo minas
e o Toque dos sinos em Minas Gerais. IPHAN. Inventário das referências culturais do Marabaixo do
Amapá. (Produto 5: Dossiê do Marabaixo. 108p.). Macapá, 2013, p. 2. Disponível apenas em meio
digital no formato pdf (463 p.).
_______________________________________________
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interior do Estado, além das mesmas devoções de Macapá, cultua-se também São José,
Sagrada Família, Santa Maria, São Sebastião, São Tomé.
São as mulheres que dançam o Marabaixo, elas estão presentes nos rituais
religiosos e na parte lúdica da festividade. Na parte lúdica que acontece nos barracões das
Associações, onde se dança o Marabaixo, a primeira coisa que chama muita atenção nas
dançadeiras15 é a sua indumentária. Grandes saias rodadas e floridas até os pés, anágua
aparecendo durante os giros, flor artificial no cabelo e blusa do mesmo tecido e/ou da
estampa da saia e/ou branca de babados ou e/da Associação a qual pertence. Usam sapato
baixo sem salto ou sapatilha e toalha pendurada no ombro entoando Ladrões e bailando
em sentido anti-horário, ao redor dos tocadores de Caixa. Em Macapá (AP), no bairro
Central (nos perímetros da antiga Favela)16, onde a manifestação é em honra a Santíssima
Trindade dos Inocentes, as dançadeiras e cantadeiras mais antigas ainda mantém o cos-
tume, nos rituais tradicionais, de usar como predominância o azul e branco em suas ves-
timentas, cor que simboliza o Santo homenageado (ver imagem 6). Já no bairro do La-
guinho, onde as comemorações são alusivas a Santíssima Trindade e ao Divino Espírito
Santo, a predominância nos rituais religiosos são das cores vermelha, azul e branca nas
15 Cf. em Formas de expressão. p. 16-21. In: IPHAN. Inventário das referências culturais do Marabaixo
do Amapá. (Produto 5: Dossiê do Marabaixo. 108p.). Macapá, 2013. Disponível apenas em meio di-
gital no formato pdf (463 p.).
Fontes para Consulta:
SILVA, Anna Ruth; RODRIGUES, Edileuza; NASCIMENTO, Maria Jucely. Marabaixo: a
expressão musical como processo de transformação cultural na década de 1990 na cidade de
Macapá. Trabalho de Conclusão de Curso. Especialização em Arte Educação em Instituições
Culturais. Universidade Federal do Amapá. Macapá. Acervo Unifap.
PINHEIRO, Áurea (direção). MOURA, Cássia (direção). As Escravas da Mãe de Deus. Festa
religiosa – Folias; Nossa Senhora da Piedade; Igarapé do Lago; Mazagão; Amapá. Acervo:
Associação Amapaense de Folclore e Cultura Popular. 1 dvd vídeo (26'): formato 4:3, son.,
color, NTSC.
16 Segundo o historiador Sidney da Silva Lobato, a Favela era uma baixa alagadiça (área de ressaca). De
acordo com relatos coletados com moradores da antiga região da Favela, o local era composto de um
grande Lago que iniciava na Rua Odilardo Silva e se alongava até a Avenida Mendonça Júnior. Na
década de 1940, a Favela não possuía limites definidos sendo que se estendia para além dos atuais
limites do bairro Central. Durante a década de 1960, com a expansão urbana de Macapá e a criação de
novos bairros, alguns trechos da antiga Favela passam a pertencer ao bairro Central e outros, ao bairro
Santa Rita. Contudo, os marabaixeiros da Favela identificam hoje duas, das três Associações de Ma-
rabaixo localizadas no bairro Central, como partes integrantes dos perímetros do bairro Santa Rita.
Fonte: Josias Ferreira da Silva Filho, morador a 58 anos, do bairro Central. Maria Germina de Almeida
76 anos, moradora do bairro Central há 30 anos e praticante do Marabaixo da Favela, foi moradora
transferida da área central da cidade de Macapá para a antiga Favela. Seu Padrasto Hipólito da Silva
Gaia morava onde é hoje a residência oficial do Governador. Relatos concedidos dia 30/06/2018
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vestimentas das dançadeiras e cantadeiras mais antigas (ver imagem 5). No que diz res-
peito aos movimentos executados nas rodas de Marabaixo, as dançadeiras mais antigas
da manifestação explicam que a dança se concentram nos pés e no tronco arrastando os
pés, simulando os grilhões que acorrentavam os pés dos africanos escravizados. Hoje, o
movimento das saias rodadas, floridas traz beleza e alegria para a dança. O deslocamento
das dançadeiras nos barracões onde se dança o Marabaixo é feito para frente, para trás e
para os lados, não existem passos marcados, a liberdade desses passos e dos rodopios
predomina em cada participante. A dança é realizada no sentido anti-horário, mas não
existem regras pré-determinadas.
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Imagem 6 – Dançadeira de Marabaixo. Associação Folclórica Raízes da Favela, no bairro Central. Macapá
(AP), onde a festividade é em louvor a Santíssima Trindade
Em 16/04/2017. Foto: Aydano Fonseca. Fonte: Acervo pessoal da pesquisadora.
1.1.5. MATRIARCAS
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Imagem 7 – Na festividade, as Matriarcas possuem um papel de destaque sendo reverenciadas pela comu-
nidade do Marabaixo. Em destaque a segunda da direita para a esquerda, Maria José Libório, logo depois,
Natalina Costa (falecida em 2018) e a quarta da direita para esquerda, Josefa Lina da Silva, a “tia Zefa”,
102 anos. Associação Cultural Berço das Tradições Amapaenses. Bairro Central, Macapá/AP. Em
4/6/2017. Foto: Aydano Fonseca. Fonte: Acervo pessoal da pesquisadora.
Imagem 8 – Bênção da matriarca Benedita Guilherma Ramos a “tia Biló”, 91 anos. Ato de respeito pe-
rante a posição que ela exerce dentro festividade. Associação Folclórica Raimundo Ladislau, no bairro do
Laguinho. Macapá/AP. Em 16/4/2017. Foto: Aydano Fonseca. Fonte: Acervo pessoal da pesquisadora.
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1.1.6. CANTADEIRA(S)/CANTADORE(S) DE MARABAIXO
Imagem 9 – Sede da Associação Cultural Raízes da Favela. Data: 18/05/2017. Foto: Aydano Fonseca.
Fonte: Acervo pessoal da pesquisadora.
17 Cf. em ANEXO: Bens Culturais inventariados Ladrões de Marabaixo. p. 37 de 54. In: IPHAN. Inven-
tário das referências culturais do Marabaixo do Amapá. (Produto 5: Dossiê do Marabaixo. 108p.).
Macapá, 2013. Disponível apenas em meio digital no formato pdf (463 p.).
Consultar também:
I Festival de Ladrão de Marabaixo – DVD – Confraria Tucuju.
CANTO, Fernando. O Marabaixo de 1898. Canto da Amazônia. 14 de julho de 2009. Dispo-
nível em: <http://fernando-Canto.blogspot.com.br/2009/07/o-Marabaixo-de-1898.html >.
Acesso: 05 de maio de 2018.
18 VIDEIRA, Piedade Lino. Marabaixo: dança afrodescendente: significando a identidade étnica do ne-
gro amapaense. Fortaleza: Universidade Federal do Ceará, 2009. 285 p.
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dos rituais que sustentam tanto a parte religiosa quanto a parte lúdica do Marabaixo já
que em ambos, o acompanhamento das Cantigas é obrigatório. Por isso eles recebem
grande destaque dentro dos grupos, em certos casos até mais do que os próprios compo-
sitores, que nem sempre cantam.
1.1.7. TOCADORES
Os tocadores utilizam duas baquetas para tocar o instrumento que fica preso
a um suporte transversal passando do ombro esquerdo, até a altura da cintura, conforme
podemos ver na imagem a seguir:
Imagem 10 – Associação Cultural Berço das Tradições Amapaenses. Bairro Central, Macapá/AP ao cen-
tro da roda de Marabaixo a Caixa com a imagem de Tia Gertrudes.
Em4/6/2017. Foto: Aydano Fonseca. Fonte: Acervo pessoal da pesquisadora.
Imagem 11 – Membros da Associação Folclórica Marabaixo do Pavão entrando nas matas do Curiaú (AP)
para executar o ritual da Cortação do Mastro. Ciclo do Marabaixo de Macapá, 2017. Foto: Aydano Fon-
seca. Acervo pessoal da pesquisadora
19 Tocador de Caixa. p. 53-54. In: IPHAN. Inventário das referências culturais do Marabaixo do Amapá.
(Produto 5: Dossiê do Marabaixo. 108p.). Macapá, 2013. Disponível apenas em meio digital no for-
mato pdf (463 p.).
20 O dobrado é um ritmo de toque diferente do tradicional das Caixas de Marabaixo geralmente é execu-
tado por dois tocadores sendo que um, marca o ritmo e o segundo faz o contraponto, sincronizando a
cadência, introduzindo uma batida de improviso. Portanto, dobrar a Caixa significa introduzir uma
batida diferente, mas dentro do mesmo ritmo. Existem dois tipos de dobrados, o primeiro é executado
nos barracões das Associações onde se dança o Marabaixo, o segundo é realizado durante o Marabaixo
de rua onde neste caso, existe um toque de dobrado específico que é feito durante os rituais religiosos
da Cortação do Mastro, retirada da Murta e Levantação do Mastro.
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ditada conforme o grupo ou comunidade que o tocador se insere. No Marabaixo alguns
tocadores detêm o domínio da técnica de confeccionar as Caixas de Marabaixo. A arte de
confeccionar Caixas é um importante oficio que envolve mestres do saber com conheci-
mentos tradicionais adquiridos que vão desde a infância e são repassados geração a gera-
ção pelos seus familiares. Ensinamentos que iniciam com o aprendizado da confecção do
instrumento e vão até os conhecimentos mais aprofundados sobre seus toques e suas nu-
ances. Na história do Marabaixo de Macapá importantes tocadores e tocadoras influenci-
aram gerações como mestre Julião Ramos21 (ver imagem 12), mestre Pavão22, e as gran-
des Matriarcas do Marabaixo: Gertrudes Saturnino e Natalina Costa23, dentre outros.
Imagem 12 – Mestre Julião Ramos tocando a Caixa de Marabaixo. Fonte: Nunes Pereira, 1953, p. 41.
Acervo pessoal da pesquisadora
Imagem 13 – Pedro Bolão em sua oficina no Curiaú – Macapá/AP. Data: 06/05/2013. Foto: Pedro Gon-
tijo. IPHAN, 2013, p. 3-14.
Pedro Rosário dos Santo (ver imagem 13), é uma referência na arte de fazer
Caixas é conhecido como Pedro Bolão. Pedro mora na comunidade do Curiaú e faz parte
do Grupo Raízes do Bolão, trabalha confeccionando Caixas de Marabaixo e Batuque25, e
24 ANEXO: Bens culturais inventariados. Tocadores de Caixa. p. 51 de 54. In: IPHAN. Inventário das
referências culturais do Marabaixo do Amapá. (Produto 5: Dossiê do Marabaixo. 108p.). Macapá,
2013. Disponível apenas em meio digital no formato pdf (463 p.).
25 A palavra “Batuque” se originou da expressão “Batukajé”, termo Bantu, uma referência ao bater dos
tambores em cerimoniais africanos. No Estado do Amapá, o Batuque é considerado uma das mais
importantes manifestações culturais da população afrodescendente sendo que está ligado a devoção a
Santos e Santas da religiosidade católica. O Batuque envolve rezas, cantorias e louvações como forma
de agradecimentos aos Santos padroeiros, pelas graças alcançadas. São rituais que se sucedem, por
meio de elementos religiosos cristãos e afro-indígenas. O Batuque, tal como o Marabaixo, é dançado
arrastando os pés em sentido circular, ao redor ou em frente aos músicos. É realizado em algumas
comunidades tradicionais do Estado do Amapá porém se diferencia do Marabaixo devido os versos
que são cantados, serem chamados de “Bandaias”. Outra diferença é o ritmo do Batuque ser bem mais
acelerado e os instrumentos também não são os mesmos pois, recebem, o nome de macacos. Os ma-
cacos e Caixas respectivamente, distinguem-se em tamanhos, formas e sonoridade de toque que os
identifica como amassador e dobrador (repinicador). O Batuque também conta em sua constituição
musical, com um raspador e um pau de chuva. LOBATO, Decleoma. Marabaixo, p. 20- 26. In: Tam-
bores e Batuques: Circuito 2013-2014.Projeto Sonora Brasil. Rio de Janeiro: SESC, Departamento
Nacional, 2013.
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participa de diversos projetos como oficinas de Caixas para as crianças da comunidade e
escolas da região. Além disso, é percussionista já se apresentou no Sonora Brasil projeto
desenvolvimento pelo SESC, atualmente atua nas principais festividades de Macapá,
como o Encontro dos Tambores, e das festas religiosas do Curiaú. Também podemos citar
Marcelo Cláudio de Jesus Coimbra, residente no bairro Central, que confecciona Caixas,
e é um exímio tocador e conhecedor do Marabaixo (ver imagem 14).
Imagem 14 – Marcelo Cláudio de Jesus Coimbra (Marcelo Favela), apresentando um pedaço de couro
para ser usado na Confecção das Caixas – Macapá/AP. Data: 20/05/2013. Foto: Eduardo Costa.
26 Baseados no mapeamento das comunidades por meio do cartaz de Divulgação do Calendário Afro-
amapaense, organizado pela SEAFRO em 2015. Cf. em ANTERO, Alysson Brabo. Tambores no meio
do mundo: expressão de um catolicismo negro no Amapá. Dissertação (Mestrado em Ciências da Re-
ligião) – Universidade do Estado do Pará. Belém, 2015, p.34.
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1.1.8. CAIXA DE MARABAIXO
Imagem 15 – Caixas de Marabaixo da sede da Associação Cultural Raízes da Favela. Foto: Aydano Fon-
seca. Data: 18/05/2017 Fonte: Acervo pessoal da pesquisadora.
Do lado de fora das Caixas são colocados barbantes que servem para a afina-
ção do instrumento. E na parte inferior da Caixa é colocada uma linha com miçangas. As
Caixas são penduradas nos ombros e tocadas com baquetas. Durante as festas observamos
27 ANEXO: Bens culturais inventariados. Tocadores de Caixa. p. 49 de 54. In: IPHAN. Inventário das
referências culturais do Marabaixo do Amapá. (Produto 5: Dossiê do Marabaixo. 108p.). Macapá,
2013. Disponível apenas em meio digital no formato pdf (463 p.).
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dois, três e até quatro tocadores, mas esse número pode aumentar se houver amplificação
do canto com aparelhagem sonora. Entre os fazedores de Caixa, destacou-se Joaquim
Sussuarana (já falecido), que durante muitos anos foi o principal fazedor de Caixas de
Macapá e residia no bairro Laguinho.
Sem dúvida, o toque das Caixas hipnotiza o espectador que assiste pela pri-
meira, as festas tradicionais do Marabaixo. O toque das Caixas, único instrumento de
percussão que acompanha na roda de Marabaixo, as dançadeiras e cantadeiras entoando
os Ladrões, possui uma característica singular. O embalo das batidas das Caixas de Ma-
rabaixo, distingue-se do toque das marchas militares tradicionais já que segue um com-
passo harmonioso através do uso do toque de contraponto ou seja, enquanto dois tambores
seguem com batidas unívocas um terceiro entra ditando uma batida mais acelerada defi-
nindo assim, o aumento da intensidade do canto e da aceleração da roda. O toque das
Caixas remete a toda uma simbologia para a ancestralidade do Marabaixo uma vez que
segundo relatos dos tocadores mais tradicionais da festividade, suas batidas fazem refe-
rência ao som das grossas correntes que aprisionavam os pés dos africanos escravizados.
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1.2. MARABAIXO: ARTEFATOS E RITUAIS
Sábado do Mastro, dia em que o grupo se dirige para uma mata a fim
de cortar uma árvore de tronco fino e comprido que servirá como Mas-
tro; segue-se então o Domingo do Mastro, no qual o Mastro percorre
em cortejo as ruas dos bairros em que as festas ocorrem; a próxima data
é a Quarta-feira da Murta, quando acontece um cortejo pelas ruas dos
bairros com os ramos de Murta na mão; a seguir é o dia da Quinta-feira
da Hora, em que o Mastro é enfeitado com a Murta e levantado na frente
da casa do festeiro ou nas respectivas associações. Segundo sua devo-
ção, serão celebrados o Domingo do Divino Espírito Santo e o Domingo
da Santíssima Trindade, que ocorrem em datas diferentes e em diferen-
tes associações, distinguindo o ciclo entre as celebrações do Laguinho
e da Favela, sítios tradicionais da prática marabaixeira. Entre a levanta-
ção dos Mastros e esses domingos dedicados às invocações, em nome
das quais o Marabaixo sai, ocorrem missas, novenas, ladainhas, as duas
últimas nas associações encarregadas da celebração. Por fim, para fe-
char o ciclo ocorre a Derrubada do Mastro, que acontece no último dia
de festa, quando também é escolhido o festeiro para o próximo ano.30
28 O Mastro, conforme dados coletados para esta dissertação no Ciclo do Marabaixo em 2017, é um dos
mais importantes rituais presentes na festividade do Marabaixo. As celebrações envolvendo este
objeto são as seguintes: O Corte dos Mastros nas matas do Curiaú, o cortejo dos mastros pelas ruas do
Bairro do Laguinho, levantamento e derrubada dos mastros da Santíssima Trindade e do Divino Espí-
rito Santo.
29 IPHAN. Inventário das referências culturais do Marabaixo do Amapá. (Produto 5: Dossiê do Mara-
baixo. 108p.). Macapá, 2013. Disponível apenas em meio digital no formato pdf (463 p.). p.48
30 Ibid., 108.
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1.2.1. CORTAÇÃO DO MASTRO
Imagem 17 – Cortação do Mastro. Curiaú, Macapá (AP). Marabaixeiras da Associação Folclórica Mara-
baixo do Pavão dando a primeira machadada simbólica no tronco de árvore que servirá de Mastro. Em
16/06/2017. Foto: Aydano Fonseca. Fonte: Acervo pessoal da pesquisadora.
31 A Cortação do Mastro é um termo utilizado pelos marabaxeiros para designar o corte do Mastro. O
Mastro, conforme dados coletados para esta dissertação no Ciclo do Marabaixo de Macapá, no ano de
2018, é um dos artefatos sagrados mais importantes que compõe os rituais de celebração da festivi-
dade do Marabaixo. As celebrações envolvendo este objeto são quatro: A Cortação propriamente dita,
o Cortejo, sua Levantação e Derrubada.
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1.2.2. DOMINGO DO MASTRO
“Tenho fé em Deus
Na Sagrada Maria
Ora, a quem Deus promete não falta
Serei feliz algum dia”
32 Ibid., 56 e 72.
Consultar também:
SANTOS, Esmeraldina. Histórias do meu povo. Macapá: Confraria Tucuju, 2002. Onde en-
contrar Secretária do Meio Ambiente do Estado do Amapá; Agência Amapá. Ciclo do Mara-
baixo: Seafro e órgãos parceiros planejam o segundo Cortejo da Murta. Disponível em:
<http://www.agencia amapa.com.br/noticia/33004/>. Acesso em: 28 março. 2018; Agência
Amapá.
Seafro, igreja Católica e grupos de Marabaixo organizam o Cortejo da Murta no domingo. –
Cortejo da Murta. Disponível em: <http://www.agencia amapa.com.br/noticia/34006/ >.
Acesso:30 jun. 2018.
Cortejo da Murta. Disponível em: <http://fernando- canto.blogspot.com.br/2009/07/o-Mara-
baixo-de-1898.html >. Acesso: 28 jun. 2018.
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Imagem 18 – Cortejo do Mastro.
Em 5/5/2013. Foto: Pedro Gontijo. Fonte: IPHAN, Dossiê Marabaixo, 2013
33 A Murta é uma planta típica das Américas. É da família das melastomáceas (Mouriri guiannensis). Cf.
em MARTINS, Rostan. Aonde tu vai, rapaz, por esses caminhos sozinho? Comunicação e Semiótica
do Marabaixo, São Paulo, Scortecci, 2016. p. 53.
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Imagem 19 – Corte da Murta para revestimento do Mastro. Distrito do Coração. Macapá (AP)
Em 18/5/2013. Foto: Eduardo Costa. Fonte: IPHAN, Dossiê do Marabaixo.
Imagem 20 – Associação Folclórica Marabaixo do Pavão- Cortejo da Murta bairro do Laguinho, Macapá
(AP). Em 4/6/2017. Foto: Aydano Fonseca. Fonte: acervo pessoal da pesquisadora
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É bom frisar cada grupo de Marabaixo faz seu trajeto de cortejo separada-
mente. As Associações de Marabaixo do Laguinho34, incluem no percurso trechos do dos
bairros do Laguinho e Jesus de Nazaré e da Igreja Jesus de Nazaré, outras apenas perí-
metros do bairro do Laguinho com paradas rápidas e estratégicas na igreja São Benedito35
com intuito de pedir a bênção e louvar os Santos homenageados. Já as Associações de
Marabaixo da Favela em cortejo, percorrem perímetros dos bairros Santa Rita e Central,
ou apenas do bairro Santa Rita. Em todo trajeto a devoção ao Divino Espírito Santo e/ou
a Santíssima Trindade ficam expressos por meio das Cantigas de Marabaixo:
34 No Laguinho, o Cortejo da Murta acontece em dois momentos. O primeiro durante a quarta –feira da
hora, e o segundo, no domingo de pentecoste. A Associação Folclórica Marabaixo do Pavão realiza
seu cortejo em perímetros dos bairros do Laguinho e do Jesus de Nazaré, já a Associação Cultural
Raimundo Ladislau no próprio bairro do Laguinho.
35 A Igreja São Benedito fica localizada na Rua General Rondon, 429bairro do Laguinho. Fonte: mapa
de setorização do Plano Diretor Ambiental e Urbano da Cidade de Macapá, 2004, com revisão em
2017.
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os marabaixeiros fazem um ofertório e o padre, num palco colocado na porta da igreja,
abençoa as Bandeiras e as pessoas, aspergindo água benta com um ramo de Murta ao som
das Cantigas de Marabaixo.
Imagem 21 – Associação Folclórica Marabaixo do Pavão . Cortejo da Murta. Bairro Jesus de Nazaré, Ma-
capá (AP). Em 4/6/2017. Foto: Aydano Fonseca. Fonte: acervo pessoal da pesquisadora
Imagem 22 – A caminho para a Consagração da Murta. Igreja Jesus de Nazaré, bairro Jesus de Nazaré,
Macapá (AP). Parte religiosa do ciclo de celebrações em louvor a Santíssima Trindade e ao Divino Espí-
rito Santo. Em 4/6/2017. Foto: Aydano Fonseca. Fonte: acervo pessoal da pesquisadora.
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1.2.6. BANDEIRAS
Imagem 23 – Encontro das Encontro das Bandeiras da Santíssima Trindade e do Divino Espírito Santo.
As Bandeiras marcam a identidade e devoção dos grupos de Marabaixo. Igreja Jesus de Nazaré, bairro
Jesus de Nazaré, Macapá (AP). Em 4/6/2017. Foto: Aydano Fonseca. Fonte: acervo pessoal da pesquisa-
dora
36 Nas principais celebrações religiosas do Marabaixo, usa-se a Bandeira de tecido fino da Santíssima
Trindade ou do Divino Espírito Santo, conforme a devoção de cada grupo. As Bandeiras tanto em
cortejo, quanto nos rituais religiosos, têm a função de representar as Coroas, já que as mesmas só saem
da casa do festeiro, em datas pré-determinadas, para receber a bênção do padre na igreja. Assim, nos
rituais religiosos como o Domingo do Mastro, dia em que é realizado um cortejo com o Mastro; a
Quarta-feira da Hora, dia da realização do cortejo com a Murta; a Quinta-feira da Hora, dia em que os
Mastros são enfeitados com a mesma Murta do cortejo e, no outro dia, levantados na frente da casa do
festeiro, as Bandeiras estão presentes. Cf. em MARTINS, Rostan. Aonde tu vai, rapaz, por esses ca-
minhos sozinho? Comunicação e Semiótica do Marabaixo, São Paulo, Scortecci, 2016. p. 55.
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1.2.7. COROAS
37 As Coroas ficam expostas na sala principal da casa do festeiro em altares domésticos chamados de
oratórios
38 Podemos encontrar também nos oratórios a bíblia que cada dia fica aberta em uma página para a re-
flexão dos devotos, copo com água benta, ramos de Murta da missa do Domingo de Ramos, fotos de
santinhos, cartazes com divulgação das festas religiosas e profanas. Cf. em MARTINS, Rostan. Aonde
tu vai, rapaz, por esses caminhos sozinho? Comunicação e Semiótica do Marabaixo, São Paulo, Scor-
tecci, 2016. p. 43.
Consultar também:
Objetos e Instrumentos Rituais. p. 15 de 26. In: IPHAN. Inventário das referências culturais
do Marabaixo do Amapá. (Produto 5: Dossiê do Marabaixo. 108p.). Macapá, 2013. Disponí-
vel apenas em meio digital no formato pdf (463 p.).
BARRIGA, Ivaneide; SOUZA, Jane Selma; BORRALHO, Nilvânia da Conceição. Estudo
poético da linguagem do Marabaixo. Trabalho de Conclusão de Curso. Licenciatura Plena em
Letras. Universidade Federal do Amapá. Macapá, 1999.
39 No Ciclo do Marabaixo em Macapá (AP) as Coroas são retiradas dos altares domésticos em ocasiões
especiais como, por exemplo, no domingo do Divino Espírito Santo e domingo da Santíssima Trindade
onde são expostas no altar da igreja para receber a bênção do padre, logo em seguida retornam para a
casa do festeiro (organizador da festividade). Dados coletados com base na pesquisa do Ciclo do Ma-
rabaixo de Macapá, 2018.
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posse (ver imagem 24), indica que aquele grupo ocupa um lugar diferenciado na festivi-
dade por estar mais próximo da autoridade real que emana da santidade.
Imagem 24 – Coroas são artefatos permanentes da festividade. Representa os ramos familiares que sus-
tentam o Marabaixo, e são colocadas em altares nas casas dos festeiros juntamente com seus Santos de
devoção pessoal. Casa da Família Congó, local onde funciona também a Associação Folclórica Raízes da
Favela, bairro Central. Macapá (AP). Em 18/6/2017.Foto: Aydano Fonseca. Fonte: acervo pessoal da pes-
quisadora.
Imagem 25 – Pessoas ajoelhadas diante da imagem da Santíssima Trindade no período das novenas. Foto:
Alysson Antero, 2014.
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As novenas fazem parte da programação religiosa do Marabaixo (ver imagem
25). São realizadas sempre no final da tarde ou início da noite e se constituem de uma
sequência de 9 (nove) dias consecutivos de oração dedicadas a devoção a Santos e Santas
da religiosidade católica. Durante o ciclo do Marabaixo de Macapá são realizadas nove-
nas em louvor a Santíssima Trindade e ao Divino Espírito Santo. São cerimônias reser-
vadas que acontecem na casa do festeiro e contam com parentes, amigos e lideranças
negras dos ramos familiares que sustentam o Marabaixo.
40 OLIVEIRA, Edna dos Santos. Devoção, tambor e canto: Um estudo etnolinguístico da tradição oral
de Mazagão Velho. (Doutorado em linguística). Universidade de São Paulo: 2015. p. 84 a 118.
41 João da Cruz é morador do Curiaú, comunidade negra que fica localizada no perímetro urbano da
cidade de Macapá (AP) a mais ou menos 12 km do centro comercial
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comunidades rurais do Estado do Amapá e, Francisco Ferreira Ramos - “Chico da La-
goa”42. Fora da capital, nos municípios onde existe ocorrência do Marabaixo, as ladainhas
além de serem rezadas na casa de fiéis43 acontecem nas igrejas ou nas pequenas capelas
das comunidades.
42 Francisco Ferreira Ramos, seu “Chico da Lagoa” é morador da Lagoa dos índios, comunidade negra
que fica localizada no perímetro urbano da cidade de Macapá (AP).
43 OLIVEIRA, Edna dos Santos. Op. cit. p.125
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Imagem 26 – Levantação do Mastro em devoção a Santíssima Trindade
Na sede da Associação Cultural Berço das Tradições Amapaenses. Bairro Central, Macapá (AP)
Em 9/5/2013. Foto: Pedro Gontijo. Fonte: IPHAN, Dossiê do Marabaixo, 2013.
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1.3. MARABAIXO EM MACAPÁ: LOCAIS DE INCIDÊNCIA
Conforme podemos ver no mapa acima, esses rituais que estamos descre-
vendo acontecem nos sítios tradicionais de incidência da festividade dentro da cidade de
Macapá (AP). São realizados especialmente nos bairros Central e Laguinho, durante os
dois meses em que é celebrado o evento. Fora da capital Macapá, a festividade segue um
calendário mais flexível em louvor a diversos Santos católicos comemorado em diferentes
datas no decorrer do ano, conforme aponta pesquisa etnográfica realizada pelo IPHAN
em 2013. A catalogação feita pelo IPHAN dos diversos grupos que dançam o Marabaixo
em Macapá e das comunidades praticantes fora da capital, deu origem ao Inventário das
Referências Culturais do Marabaixo do Amapá. O IPHAN identificou diversos locais de
ocorrência do Marabaixo em várias comunidades rurais46 do Estado do Amapá, sendo que
46 As comunidades rurais praticantes do Marabaixo no Estado do Amapá foram catalogadas pelo IPHAN
em 2013 e se constituem a saber: Mazagão Velho, distrito do município de Mazagão distante 72 km
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os Municípios de Macapá e Mazagão receberam maior destaque na pesquisa devido ser o
local que os primeiros praticantes do Marabaixo chegaram ao Amapá, no século XVIII.
Situada na Rua Eliezer Levi, nº 632, bairro do Laguinho (ver imagem 28). A
Associação tem como matriarca Benedita Guilherma Ramos, a “tia Biló”, única filha viva
de Julião Ramos, grande liderança do Marabaixo do Amapá. A Associação fundada em
07.08.1988, presta homenagem em seu nome a Raimundo Ladislau, exímio tocador de
Caixas e grande compositor de Ladrões, suas composições que foram feitas ainda na pri-
meira metade do século passado, são inclusive hoje adotadas, por diversos grupos, de
diferentes comunidades, durante as programações do Marabaixo.
Imagem 28 – Foto: Aydano Fonseca. Data: 18/04/2017. Fonte: Acervo pessoal da pesquisa
de Macapá. Carvão e Campina Grande as quais fazem parte também, respectivamente do município
de Mazagão. Da área rural da cidade de Macapá temos: Torrão do Matapi, Ilha Redonda, Abacate da
Pedreira, Ressaca da Pedreira, Curiaú. Cf. IPHAN. Inventário das referências culturais do Marabaixo
do Amapá. (Produto 5: Dossiê do Marabaixo. 108p.). Macapá, 2013. Disponível apenas em meio di-
gital no formato pdf (463 p.). p. 13.
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Marabaixo, bailes dos sócios, e uma sequência de rituais como: a Cortação do Mastro nas
matas do Curiaú, o cortejo dos Mastros pelas ruas do bairro do Laguinho, levantação e
derrubada dos Mastros da Santíssima Trindade e do Divino Espírito Santo. São realizados
também entre uma programação e outra, novenas com ocorrência de ladainhas e missas.
As missas são realizadas na igreja São Benedito, localizada no mesmo bairro.
Imagem 30 – Foto: Aydano Fonseca. Data: 18/04/2017. Fonte: Acervo pessoal da pesquisadora.
47 Gertrudes Saturnino é uma das fundadoras ainda em meados do século XX, do Marabaixo na Favela.
48 CAVALCANTE, Alcinéa. Domingo tem Marabaixo na Favela e Laguinho. Disponível em
https://www.alcinea.com/cultura/domingo-tem-Marabaixo-na-favela-e-laguinho. Acessado em
20/04/2018.
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1.3.5. ASSOCIAÇÃO CULTURAL RAÍZES DA FAVELA
Imagem 31 – Dançadeiras da Associação Cultural Raízes da Favela. Foto: Aydano Fonseca. Data:
25/05/2017. Fonte: Acervo pessoal da pesquisadora.
49 CAMILO. Janaina Valéria Pinto. Homens e pedras no desenho das fronteiras: a construção da Forta-
leza de São Jose de Macapá (1764/1782). Dissertação (mestrado) - Universidade Estadual de Campi-
nas, Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, 2003.
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que diz respeito a chegada de africanos escravizados em Mazagão Velho, segundo Katy
Motinha, os primeiros chegaram por volta de (1775)50. Juntamente com os negros vieram
seus costumes, crenças e formas de expressão do canto e da dança. Os africanos trouxe-
ram vários elementos culturais de seus locais de origem, a música e a dança por exemplo,
foram fundamentais para a manutenção de uma memória da terra nativa servindo para
anemizar o banzo e, ao mesmo tempo, para o estabelecimento de uma identidade histó-
rica. Para que os senhores permitissem as manifestações musicais e danças, os negros
escravizados incorporaram aspectos da cultura portuguesa, sobretudo da religião. Assim
nasceu o Marabaixo, misturando tradições africanas e crenças de base católica.
50 MOTINHA, Katy E. F. A festa do Divino Espírito Santo: Espelho de Cultura e Sociabilidade na Vila
Nova de Mazagão. 2003. 346 f. Tese (Doutorado em História). Universidade de São Paulo, São Paulo,
p.7.
51 APA do Curiaú é uma área de proteção ambiental instituída pelo decreto Lei 1.417/1992 abrange uma
área de 23.000 hectares. Ficha de identificação: Lugares. p. 3 de 9. In: IPHAN. Inventário das referên-
cias culturais do Marabaixo do Amapá. (Produto 5: Dossiê do Marabaixo. 108p.). Macapá, 2013. Dis-
ponível apenas em meio digital no formato pdf (463 p.).
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Destacamos a beleza do lugar especialmente do lago do Curiaú que durante
os primeiros seis meses do ano fica cheio e serve de habitat natural para peixes, pássaros
e búfalos. Dentro desse santuário natural vivem, aproximadamente 285 famílias52. A
maior parte, são afrodescendentes que praticam o extrativismo, a pesca, a caça e a agri-
cultura familiar. Os principais produtos cultivados são a mandioca, milho, abacaxi, ba-
nana. As árvores frutíferas muito comuns nos quintais amplos das casas, servem tanto
para o abastecimento da comunidade quanto, para o abastecimento local.
57 Esmeraldina dos Santos. Entrevistada em 06 de maio de 2013. Entrevista concedida ao IPHAN. In:
IPHAN. Inventário das referências culturais do Marabaixo do Amapá. (Produto 5: Dossiê do Mara-
baixo. 108p.). Macapá, 2013. Disponível apenas em meio digital no formato pdf (463 p.). p.27
58 Pedro Rosário dos Santos. Relato concedido para esta pesquisa dia 30 de maio de 2018
59 SILVA, Sebastião Menezes da. Curiaú, sua vida, sua história. Macapá: Valcan. p. 9 APUD IPHAN.
Inventário das referências culturais do Marabaixo do Amapá. (Produto 5: Dossiê do Marabaixo.
108p.). Macapá, 2013. Disponível apenas em meio digital no formato pdf (463 p.). p.21.
60 VIDEIRA, Piedade Lino. Op. cit., p. 83 e 217.
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problemas ecológicos trazidos. Os moradores mais antigos guardam na memória a dis-
tância que a localidade ficava do restante da capital Macapá e do sossego que era morar
em um espaço que tinha uma relativa autonomia. Atualmente, o Curiaú se constitui de
famílias afrodescendentes que guardam na memória a história de resistência a escravidão
de seus antepassados por meio das festas religiosas do ritmo do Batuque e do Marabaixo.
Seus laços sanguíneos e tradições culturais são muito fortes e isso fica claro na forma
como são construídas suas residências algumas sem cercas nos quintais, outras com cer-
cas mas, com várias edificações e assim como bem dizem, “conservam a tarefa de dar
continuidade a cultura de seus ancestrais”61.
61 Pedro do Rosário dos Santos. Relato concedido no Curiaú, para estudantes da Escola Estadual Profes-
sora Raimunda Virgolino, no dia 14/04/2018.
62 RAMOS, Eliana. Estado e administração colonial: a vila de Mazagão. In: ROSA ACEVEDO, Marin
(org.). A Escrita da História Paraense. Belém do Pará: NAEA/UFPA, 1998, p. 95.
63 ARAÚJO, Renata Malcher de. As Cidades da Amazônia no século XVIII. Belém, Macapá e Mazagão,
Porto, Faup Publicação, 2ª ed., 1998, p. 267-268.
64 CAMILO. Janaina Valéria Pinto. Homens e pedras no desenho das fronteiras: a construção da Forta-
leza de São Jose de Macapá (1764/1782). Dissertação (mestrado) - Universidade Estadual de Campi-
nas, Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, 2003
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Muniz65 a Vila de Mazagão fez parte de um circuito produtivo de abastecimento de arroz.
Mais recentemente, as pesquisadoras Eliana Ramos e Rosa Elisabeth Acevedo Marin66,
também destacam que nos anos setecentistas a Vila de Mazagão possuía um importante
papel explorativo na atividade agrícola “baseado na mão de obra escrava e indígena”.
Porém, Rosa Elizabeth Acevedo Marin67 destaca que essa prosperidade foi
momentânea. Os colonos mazaganistas foram direcionados para desenvolverem ativida-
des de exportação, tendo como principais itens a já citada rizicultura, e também a produ-
ção de algodão. Até a década de 80 do século XVIII a Vila de Mazagão se tornou um
importante polo agrícola. Todavia, a partir de 1830 a decadência da Vila de Mazagão era
evidente com a situação de pobreza extrema. Entre os fatores, segundo Rosa Acevedo
68
Marin , há indícios de que os laços de dependência, as dívidas, a fiscalização e,
sobretudo, os baixos preços pagos pela produção dos mazaganistas, os conduziram
a um estado de “miséria”. Tais fatores foram agravados com as epidemias, má alimenta-
ção, desgastes físicos e insalubridade do local, causando fugas e a morte de muitos habi-
tantes. Isso levou os moradores a incessantes pedidos alegando motivações variadas à
Coroa portuguesa, para a saída da região.
65 MUNIZ, João Palma. Limites Municipais do Estado do Pará. Município de Mazagão. In: Anais da
Biblioteca e Arquivo Público do Pará, t. IX, 1916, p. 395-396 e 425.
66 RAMOS, Eliana. Estado e administração colonial: a vila de Mazagão. In: ROSA ACEVEDO, Marin
(org.). A Escrita da História Paraense. Belém do Pará: NAEA/UFPA, 1998, p. 98.
67 Cf. ROSA ACEVEDO, Marin. Prosperidade e Estagnação de Macapá Colonial: as experiências dos
colonos. In: Nas Terras do Cabo Norte. Fronteira, colonização e escravidão na Guiana Brasileira -
séculos XVIII/XIX, org. de Flávio dos Santos GOMES, Belém, Editora Universitária/UFPA, 1995, p.
419.
68 Cf. ROSA ACEVEDO, Marin. Prosperidade e Estagnação de Macapá Colonial: as experiências dos
colonos. In: Nas Terras do Cabo Norte. Fronteira, colonização e escravidão na Guiana Brasileira -
séculos XVIII/XIX, org. de Flávio dos Santos GOMES, Belém, Editora Universitária/UFPA, 1995, p.
419.
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vida em Marrocos, mas também porque deviam vender seus artigos ex-
clusivamente a companhia.69
69 DA SILVA, Maria Cardeira. TAVIM, José Alberto R. Marrocos no Brasil: Mazagão (Velho) do
Amapá em Festa– a festa de São Thiago, 2004, p. 12
70 Cf. SILVA, José Manuel Azevedo e. Mazagão: Retrato de uma cidade luso-marroquina deportada para
o Brasil. In: Camões: Revista de Letras e Cultura Lusófonas. Vol. 17-18. 2004. p. 171-172.
71 MACHADO, Sândala Cristina da soledade. A Festa do Divino, nos dois Lados do Atlântico. Revista
Tempo Amazônico. Vol. 1. Nº 2. janeiro-junho de 2014. p. 39.
72 MOTINHA, Katy E. F. A festa do Divino Espírito Santo: Espelho de Cultura e Sociabilidade na Vila
Nova de Mazagão. 2003. 346 f. Tese (Doutorado em História). Universidade de São Paulo, São Paulo,
2003
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e Castro, ao reprovar a conduta dos membros da Confraria do Espírito Santo, não deixa
dúvidas quanto aos vínculos solidários cumpridos por elas:
73 AHU_ ACL_CU 013, Cx. 97, D. 7749. In: MOTINHA, Katy E. F. Vila Nova de Mazagão: espelho de
cultura e de sociabilidade portuguesas no vale amazônico. p. 15. Disponível em: http://cvc.instituto-
camoes.pt/eaar/coloquio/comunicacoes/katy_motinha.pdf
74 Ibid., p. 15 e 16.
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Nesse sentido é completamente pertinente dizer que em Mazagão a situação
de extrema pobreza enfrentada no século XVIII a partir do declínio da vila como polo
agrícola exportador tenham contribuído para que as confrarias de leigos assumissem fun-
ções que dispensavam a autoridade eclesiástica para cumprir com seus participantes vín-
culos religiosos, mas também solidários. Martha Abreu75 destaca a importância dessas
irmandades durante o período da escravidão colonial no Brasil, enfatizando que os vín-
culos de solidariedade aconteciam através de ajuda mútua em troca de assistência quando
seus membros encontravam-se enfermos, presos ou passando necessidades. As confrarias
de leigos foram também grandes agentes do catolicismo barroco que com seu politeísmo
disfarçado acabaram atraindo um número significativo de negros.
75 ABREU, Martha. O império do Divino: festas religiosas e cultura popular (1830-1900). 1996. 507p.
(Tese de doutorado). Universidade Estadual de Campinas, UNICAMP. 1996. p. 09.
76 Ibid., p. 08.
77 REIS, João José, Identidade e diversidade étnicas nas irmandades negras no tempo da Escravidão. In:
Tempo, vol. 2, n. 3, 1997, p. 7-33. p. 4.
78 MACHADO, Sândala Cristina da soledade. A Festa do Divino, nos dois Lados do Atlântico. Revista
Tempo Amazônico. Vol. 1. Nº 2. Janeiro-junho de 2014. p. 15
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eram um atrativo para a participação nas comemorações, o que signifi-
cava aumento na arrecadação de donativos para a realização das festas79
Juntamente com as danças vieram também as Cantigas, que hoje são conhe-
cidos, no Estado do Amapá, incluindo a capital e algumas localidades rurais pelo nome
de Ladrões de Marabaixo. A origem das Cantigas pode ser explicada na própria origem
da realização da festividade do Divino. No século XVIII os açorianos das ilhas de São
Miguel, Terceira e Faial realizavam a festa em dois períodos o primeiro era conforme o
calendário litúrgico envolvendo o ciclo da páscoa e o segundo era feito nas duas últimas
semanas de agosto até o final de outubro com o império dos negros ou Espírito Santo dos
pardos. Entretanto por causa das insistentes perseguições da igreja frente a festejos de
Santos envolvendo rituais católicos os membros da elite branca abandonaram tais práticas
“persistindo apenas os costumes do império dos pardos, como o Marabaixo feito com as
Caixas, e os Ladrões”80.
Parte das letras das Cantigas que hoje são cantadas por vários grupos prati-
cantes do Marabaixo foram compostas ainda no início do século XX, por membros tradi-
79 Id., p. 40
80 Ibid., p. 44.
81 Quadras ou quartetos são estrofes compostas por quatro versos. Cf. em https://www.norma-
culta.com.br/estrutura-externa-de-um-poema/. Acessado em 23 de abril de 2018.
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cionais da festividade como Raimundo Ladislau, Bernardino Senna, Antônio Barca, Ma-
nuel da Paciência, João Clímaco82. Os referidos compositores tiveram músicas adotadas
por diversos grupos em várias comunidades e são hoje reconhecidos pelo legado musical
que deixaram para a manifestação. No que diz respeito ao conteúdo das letras das Canti-
gas podemos encontrar uma variabilidade de temáticas que vão desde a resistência ao
cativeiro africano em Macapá e em Mazagão, no século XVIII, até chegar em temáticas
mais atuais, como por exemplo, a afirmação da identidade negra. As letras das Cantigas
mais contemporâneas abordam a história dos redutos de incidência da manifestação do
Marabaixo de Macapá (AP), assim como, a relação dessa história com os antepassados
da festividade, que são afrodescendentes. Outras Cantigas abordam a luta pelo direito de
manter viva as suas raízes, o orgulho pela sua ancestralidade, a beleza da cultura negra,
bem como, seus atributos físicos que marcam a sua singularidade.
Passados quase meio século que Mestre Pavão, pai de Monica do Socorro
Ramos defendeu que o Marabaixo possui imensas potencialidades a serem exploradas no
Ensino, estamos aqui, para ratificar tais potencialidades no âmbito do Ensino de História.
Propomos através do estudo das tipologias das Cantigas de Marabaixo e das aprendiza-
gens Históricas nelas contidas, a mobilização de saberes e práticas que desenvolvam nos
87 Música no Ensino de História, a tipologia das Canções dos afrodescendentes: Ladrões de Marabaixo
e as aprendizagens históricas nelas contidas se constituem a vértice central deste trabalho de pesquisa.
88 Ficha de Identificação: Formas De Expressão. p. 9 de 26. In: IPHAN. Inventário das referências cul-
turais do Marabaixo do Amapá. (Produto 5: Dossiê do Marabaixo. 108p.). Macapá, 2013. Disponível
apenas em meio digital no formato pdf (463 p.)
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estudantes a prática da pesquisa histórica89. Essa proposta apoia-se numa concepção de
Ensino Aprendizagem da história que tem como objetivo central a formação da Consci-
ência Histórica do aluno, a partir do entrelaçamento da música no Ensino de História,
com diferentes saberes que dialogam no interior do processo educativo (científicos, his-
tóricos escolares e sociais).
90 Piedade Lino Videira define os Ladrões de Marabaixo como “versos tirados de improviso com objetivo
de criticar, exaltar, agradecer, lamentar ou satirizar todos os fatos ocorridos no cotidiano da comuni-
dade e nas relações sociais, no conjunto maior da comunidade. Os Ladrões são versos roubados da
memória por pessoas que tem habilidades com a rima”. Cf. VIDEIRA, Piedade Lino. Marabaixo:
dança afrodescendente: significando a identidade étnica do negro amapaense. Fortaleza: Universidade
Federal do Ceará, 2009. p. 138.
91 IPHAN. Inventário das referências culturais do Marabaixo do Amapá. (Produto 5: Dossiê do Mara-
baixo. 108p.). Macapá, 2013. Disponível apenas em meio digital no formato pdf (463 p.). p. 27.
92 As Cantigas fazem parte respectivamente dos CDs: Festival cantando o Marabaixo Macapá, Amapá-
Amazônia-Brasil, dez. de 2016. Marabaixo. Macapá, Amapá-Amazônia-Brasil, set. 2017. Os interpre-
tes dessas cantigas são considerados grandes lideranças do Marabaixo, porém, a maior parte das letras
pesquisadas não são deles.
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para tal motivo está na lógica da origem das Cantigas que é de, justamente, manter vivo
esse acervo oral deixado pelos seus ancestrais93.
As Cantigas de Marabaixo são constituídos por belas cantigas orais que po-
dem contribuir tanto para a constituição da história do Marabaixo, quanto para a história
do Povo do Amapá94 .E no que diz respeito ao Ensino de História, tais registros corrobo-
ram não apenas como forma de ampliar e diversificar o repertório musical dos estudantes
da Educação Básica mas, sobretudo, porque a inserção dessas Cantigas provenientes de
uma manifestação oral, atestam a herança musical negra que participa como matriz for-
madora do Estado do Amapá. Daí a importância de seu legado. Incontestavelmente, a
historiografia do Amapá se funde com a própria História da manifestação do Marabaixo
uma vez que a origem da festividade está atrelada a chegada de colonos ao Amapá no
século XVIII, para o atual distrito de Mazagão Velho após a desativação da cidade de
Mazagão no Marrocos, e também, de africanos escravizados para a construção da Forta-
leza de São José de Macapá.
A maré vazou
tô indo de Marabaixo (2x)
96
CAMILO. Janaina Valéria Pinto. Homens e pedras no desenho das fronteiras: a construção da Fortaleza
de São Jose de Macapá (1764/1782). Dissertação (mestrado) - Universidade Estadual de Campinas, Insti-
tuto de Filosofia e Ciências Humanas, 2003. p, 185.
98 Cf. Instruções Régias, Públicas e secretas para Francisco Xavier de Mendonça Furtado, capitão-Geral
do Estado do Grão-Pará e Maranhão.in: Mendonça, 1963,1º tomo, p. 27 e 35
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Ah eu vou cantar
O Marabaixo
Ah eu vou dançar
O Marabaixo
(refrão) (2x)
Logo na primeira quadra poética desta Cantiga temos uma das possíveis ver-
sões romanceadas quanto ao mito de origem do canto e da dança do Marabaixo: “A maré
vazou to indo de mar abaixo”. Apesar da falta de comprovações históricas da manifesta-
ção ter surgido dentro dos navios negreiros, durante as viagens transatlânticas, a comuni-
dade do Marabaixo a tem como justificativa ancestral que dispara a festividade. A relação
do Mar com a origem do Marabaixo é muito forte, não apenas pelo fato histórico estar
ligado ao cativeiro negro durante o período da escravidão no Brasil colonial, mas basica-
mente, porque dentro da cultura africana, algumas etnias como é o caso da Banto, tinham
o mar como sagrado seguindo as crenças Kalunga99. Na letra do Ladrão “Guadariô”, as
crenças Kalunga reverenciando o mar ficam bastante evidenciadas
No trecho acima do Ladrão, podemos ver que essa relação basicamente vem
acompanhada de proteção religiosa, e que neste caso, essa proteção é feita por Nossa
Senhora do Rosário na qual fica explicitada no trecho da estrofe: “o rosário de Maria,
guardariô”. Nossa Senhora do Rosário na cultura afrobrasileira tem uma estreita relação
com uma outra festividade: a Congada. Assim como no Marabaixo, a Congada também
faz a associação de seu mito de origem ao fato histórico da travessia transatlântica dos
africanos escravizados nos navios negreiros. No caso da Congada, a aparição no mar de
Nossa Senhora do Rosário, simboliza para os africanos escravizados proteção religiosa.
99 SOUZA, M. M. Reis negros no Brasil escravista: história da Festa de Coroação de Rei Congo. Belo
Horizonte: Editora UFMG, 2002.
Sobre o uso de barcos em cerimônias fúnebres, consultar:
MALINOWSKI, Bronislaw; FRAZER, James George. Argonauts of the western Pacific: an account
of native enterprise and adventure in the Archipelagoes of Melanesian New Guinea. [Illinois]: Wave-
land, 1984. Sobretudo os capítulos IV, V e VI.
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Já no Marabaixo, acreditamos que a conexão do nome da Santa aos versos das cantigas
se dá porque Nossa Senhora do Rosário é considerada para os marabaixeiros, a Santa
protetora dos negros. Deste modo, o Marabaixo compartilha com algumas festas tradici-
onais provenientes da cultura afrobrasileira, mitos que relacionam o mar com o próprio
surgimento da festividade
100 IPHAN. Inventário das referências culturais do Marabaixo do Amapá. (Produto 5: Dossiê do Mara-
baixo. 108p.). Macapá, 2013. Disponível apenas em meio digital no formato pdf (463 p.). p. 38.
101 CANTO, Fernando. Água benta e o Diabo. Fundecap: Governo do Estado do Amapá, 1998, p.18. O
autor faz referência a: BUARQUE, Aurélio Távora, In: História do Amapá, Jornal novo Amapá, nª
1574. Imprensa oficial, Macapá, 1972.
102 W. E. B. Du Bois, é uma das mais importantes personalidades políticas e intelectuais norte-americanas
no século XIX. Du Bois, tornar-se-ia uma das maiores lideranças do pensamento político negro norte-
americano e do pan-africanismo. In: ABREU. Martha. Op. cit. p. 179.
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similaridade com aquilo que o pesquisador categorizou como Canções de trabalho e
Canções de dor. As Canções de trabalho e Canções refletem a dor da escravidão, do duro
trabalho compulsório sendo que nesta categoria enquadram-se letras que abordam a re-
sistência africana a escravidão. Esta resistência está associada ao trabalho rítmico dos
africanos escravizados tanto na Construção da Fortaleza de São José de Macapá, quanto
no povoado que foi fundado em 1770 as margens do rio Mutuacá: Mazagão Velho. As
Cantigas de trabalho e Cantigas de dor, tem como signo central elementos como valor,
retidão, moral, integridade e resistência e erguem-se, para os afrodescendentes praticantes
da manifestação, como a mais autentica expressão de Cantigas que se reportam a sua
ancestralidade, durante o período da escravidão no Amapá.
Eu vim de longe
fui forçado a trabalhar (2x)
Preso e humilhado
mas não deixei de cantar (2x)
(refrão) (2x)
Perdi amigos
Minha história é conhecida
Perdi amigos
Minha história é conhecida
E mesmo assim
Vou cantando pela vida
E mesmo assim
Vou cantando pela vida
(Trecho da letra do Ladrão Mar – Abaixo. CD: Marabaixo. Macapá, Amapá-Amazônia-Brasil, faixa nº
02, set. 2017)
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escravizados encontraram para manter-se em integridade e retidão com seus lugares de
origem.
103 ABREU. Martha. O legado das Canções escravas nos Estados unidos e no Brasil: diálogos musicais
no pós-abolição. Revista Brasileira de História. São Paulo, v. 35, nº 69, p.177-204, 2015. p. 181
104 A identidade é relacional, e assim é marcada pela diferença é a vertente teórica na qual nos reportamos
a partir dos estudos de: HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. 11. Ed. Rio de Ja-
neiro: DP&A, 200, p. 13 e WOODWARD, Kathryn. Identidade e diferença: uma introdução teórica e
conceitual. In: SILVA, Tomaz T. (org.) identidade e diferença: a perspectiva dos Estudos Culturais. 4.
ed. Petrópolis: Vozes, 2000.
105 ABREU. Martha, Op. cit. p. 185.
“Sabbats africano”, Expressão utilizada para designar Canções de dor. Utilizadas para amenizar o
banzo (tristeza ou saudade da terra natal), as quais eram entoadas pelos africanos escravizados no
período do cativeiro.
106 Ibid., p. 185.
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dançar nas senzalas, não deixavam de entoar em suas Cantigas a dor e o sofrimento du-
rante as árduas tarefas diárias, como bem atesta a letra do Ladrão de Marabaixo a seguir:
A vida de sofrimento
guardou em sua memória
Na senzala ou no tronco
Escreveu sua história
(Trecho do Ladrão “Meu Tambor Rolou”, interprete José Hozana. CD: Marabaixo. Macapá, Amapá-
Amazônia-Brasil, faixa nº 15, set. 2017)
De Marabaixo eu vim
Trazendo tudo de lá
A mãe África está em mim
107 As religiões de matrizes africanas resistiram durante o cativeiro negro porque vieram alojadas nos
corpos dos cantadores sob formas de matrizes culturais in: CANDAU, Joël. O jogo social da memória
e da identidade: transmitir, receber. In. Memória e Identidade. São Paulo: Contexto, 2012. p. 120.
Consultar também:
ANTONACCI, Mari Antonieta. Memórias ancoradas em corpos negros. São Paulo: EDUC, 2013.
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É negro o meu cantar
(Trecho do Ladrão “Divino Rei”, interpretado por Laura do Marabaixo. CD: Marabaixo. Macapá, Amapá-
Amazônia-Brasil, faixa nº 08, set. 2017)
(refrão)
(refrão)
(Trecho do Ladrão “Eu caio, eu caio”, interpretado por Danny Pancadão) -CD: Marabaixo. Macapá,
Amapá-Amazônia-Brasil, faixa nº 09, set. 2017)
(refrão – 2x)
108 ABREU. Martha. O legado das Canções escravas nos Estados unidos e no Brasil: diálogos musicais
no pós-abolição. Revista Brasileira de História. São Paulo, v. 35, nº 69, 2015, p. 181.
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Não me deram novas tuas, oh Açucena (2x)
Que ver como eu chorei, oh morena (2x)
(refrão – 2x)
(refrão – 4x)
(Trecho do Ladrão “Balão de ouro”, interpretado por Aureliano Nek) -CD: Marabaixo. Macapá, Amapá-
Amazônia-Brasil, faixa nº 14, set. 2017)
109 No transcorrer do trabalho de pesquisa os aportes teóricos sinalizaram para a classificação das fontes
pesquisadas com base no cruzamento dos dados coletados. Em pesquisa etnográfica realizada durante
o Ciclo do Marabaixo em 2017 e 2018, constatou-se por meio de observação e de entrevistas com
praticantes da festividade, a importância da simbologia das expressões corpóreas nas Canções de dor,
os quais são tipificados dentro da manifestação do Marabaixo como “Canções de lamento”. Dados
coletados com Fabio Oliveira, membro de família tradicional do Marabaixo, neto de Raimundo dos
Santos Souza- “Mestre Sacaca”. Entrevista concedida em 15 de abril de 2018.
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2.4. A FORTALEZA DE SÃO JOSÉ DE MACAPÁ: SANGUE, SUOR E MUSI-
CALIDADE NEGRA NA SUA CONSTRUÇÃO
110 Ficha de Identificação: Sítio. Marcos edificados. p. 6 de 27. In: IPHAN. Inventário das referências
culturais do Marabaixo do Amapá. (Produto 5: Dossiê do Marabaixo. 108p.). Macapá, 2013. Disponí-
vel apenas em meio digital no formato pdf (463 p.).
111 IPHAN. Inventário das referências culturais do Marabaixo do Amapá. (Produto 5: Dossiê do Mara-
baixo. 108p.). Macapá, 2013. Disponível apenas em meio digital no formato pdf (463 p.). p. 67.
112 O Fut-lama é uma prática esportiva realizada as margens do rio Amazonas. O Fut-lama é uma adapta-
ção do futebol tradicional. A única diferença é que ao invés de campos e arenas os jogadores utilizam
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Imagem 34 – Torneio de Fut-lama. Ao fundo, a prática do kitesurf. Fonte: https://www.alcinea.com/ma-
capa/o-que-vi-hoje-na-orla-de macapá. Foto: Alcinéia Cavalcante. Acessado em 29/12/2017
a lama (solo arenoso com alta concentração de sedimentos) do Rio Amazonas quando a maré está em
baixa. Já o kitesurf é uma prática desportiva que utiliza um paraquedas de pequeno porte e uma prancha
madeira ou fibra de carbono para efetuar manobras sobre a superfície da água. É considerada pelos
praticantes esporte de aventura.
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lembra, até mesmo pelos próprios frequentadores do complexo, é que essa edificação foi
construída a custo de muito suor e sangue de indígenas e negros. Sangue, suor e musica-
lidade ditavam os ritmos de trabalho escravo na construção da Fortaleza de São José de
Macapá, uma vez que os africanos escravizados tinham seus ritmos de trabalho ditados
por marchas militares, sendo que está marcação rítmica realizada por instrumentos musi-
cais, como por exemplo, o tambor europeu, acabou por influenciar um dos principais ins-
trumentos utilizados na festividade: A Caixa de Marabaixo113.
De acordo com o IPHAN, foi pela mesma cadência rítmica ditada pelos ins-
trumentos musicais que proferiam as ordens do trabalho na construção da Fortaleza de
São José de Macapá que os africanos escravizados subvertiam a ordem, a estrutura lógica
de trabalho, recriando em suas Cantigas a árdua rotina diária. No que diz respeito à in-
fluência de instrumentos europeus de marcação do trabalho escravo na construção da For-
taleza de São José de Macapá e a sua relação com o Marabaixo atual, o IPHAN em pes-
quisa etnográfica em 2013 constatou:
113 Ficha de Identificação: Formas De Expressão. p. 20 de 26. In: IPHAN. Inventário das referências
culturais do Marabaixo do Amapá. (Produto 5: Dossiê do Marabaixo. 108p.). Macapá, 2013. Disponí-
vel apenas em meio digital no formato pdf (463 p.).
114 Ficha de Identificação: Ofícios e Modos de Fazer. p. 9 de 20. In: IPHAN. Inventário das referências
culturais do Marabaixo do Amapá. (Produto 5: Dossiê do Marabaixo. 108p.). Macapá, 2013. Disponí-
vel apenas em meio digital no formato pdf (463 p.).
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2.5. OS LADRÕES DE MARABAIXO: CANTIGAS DE RESISTÊNCIA RELI-
GIOSA
Além das Canções de trabalho e Canções de dor, os negros entoam nas sen-
zalas Canções que tinham por objetivo exorcizar o banzo. Para isso, se apegavam aos seus
deuses e as suas crenças como forma de se manter conectados com a África que estava
viva em seus músculos. É sabido que as religiões de matriz africana no Brasil, bem como
as próprias manifestações culturais trazidas entre os séculos XV e XIX durante a diáspora
negra, sofreram influência da religiosidade lusa, mas mantiveram em sua essência ele-
mentos da cultura africana. Tolhidos de cultuar seus deuses negros, os africanos escravi-
zados buscaram formas de reinventar suas matrizes de origem transplantando aos Santos
católicos a sua religiosidade por meio das Cantigas:
115 CANDAU, Joël. O jogo social da memória e da identidade: transmitir, receber. In. Memória e Identi-
dade. São Paulo: Contexto, 2012. p. 120
116 ANTONACCI, Mari Antonieta. Memórias ancoradas em corpos negros. São Paulo: EDUC, 2016. p.
157.
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propor sentidos a sua bagagem musical armazenada de saudades do ou-
tro mundo - de onde trouxeram os escravos seus tambores, flautas, ago-
gôs, afofiês, tabaques, marimbas.117
Vem cá ioiô
Vem pra cá iaiá (4x)
119 ABREU, Martha. O império do Divino: festas religiosas e cultura popular (1830-1900). 1996. 507p.
(Tese de doutorado). Universidade Estadual de Campinas, UNICAMP. 1996. p. 8.
120 CRIS. Umbanda sem mistérios e complicações: Glossário da Umbanda saudações e expressões. Dis-
ponível em http://umbandawiki.blogspot.com.br/2015/12/glossario-de-umbanda-saudacoes-e.html.
Acessado em 01/11/2017.
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pronuncia quanto no significado das palavras e expressões. Este por exemplo, pode ser
o caso da expressão - “odiá”.
Outras expressões nos trechos do Ladrão “Vem pra cá ioiô” também comple-
mentam a ideia de que a Cantiga pode estar associada a elementos provenientes da cultura
afrobrasileira, como por exemplo, o cheiro das flores. Na cultura afro-brasileira o cheiro
das flores tem todo um significado simbólico. Nas regiões de matriz africana por exem-
plo, o ponto focal é o Congá121, altar profusamente enfeitado com flores inclusive com
folhas de laranjeira, que simbolizam a energia dos diferentes Santos e Orixás, expressão
que claramente fica evidenciada no trecho a seguir:
(Trecho do Ladrão: Vem prá cá ioiô -CD: Marabaixo. Macapá, Amapá-Amazônia-Brasil, faixa nº 17, set.
2017)
Uma outra características das Cantigas de Marabaixo que tem por temática a
resistência religiosa, está no culto de adoração ao Divino Espírito Santo e a Santíssima
Trindade. Podemos dizer que na capital do Estado do Amapá este é o alicerce central das
Cantigas já que a própria festividade do Marabaixo de Macapá presta honra, tanto a um,
[...]
“Oh meu Padroeiro São José abençoe a nossa cidade e todas as famílias da nossa comunidade
(narração)
122 A santíssima Trindade é representada no catolicismo pela onipresença una do Pai, filho e Espírito
Santo. Já Divino Espírito Santo, é a manifestação espiritual na terra, do Espírito de Deus.
http://www.apologistascatolicos.com.br/index.php/patristica/estudos-patristicos/574-a-doutrina-da-
santissima-trindade-nos-padres-pre-nicenos Acessado em 02/06/2017.
123 IPHAN. Inventário das referências culturais do Marabaixo do Amapá. (Produto 5: Dossiê do Mara-
baixo. 108p.). Macapá, 2013. Disponível apenas em meio digital no formato pdf (463 p.). p. 13.
124 O título Nossa Senhora da Glória refere-se à passagem da Virgem Maria da vida terrena para a vida
celestial. Santos e ícones católicos. O significado de Nossa Senhora da Glória. http://cruzterra-
Santa.com.br/significado-e-simbolismo-de-nossa-senhora-da-gloria. Acessado em 12 de novembro de
2017.
125 São Thiago e Nossa Senhora da Assunção possuem todo um simbolismo na história de Mazagão Velho
(AP). Esta representação está relacionada ao fato histórico da transmigração portuguesa da Mazagão
Marroquina e a ocupação estratégica da Mazagão Amazônica (AP) pelos portugueses no século
XVIII. Somado ao episódio das batalhas entre portugueses e muçulmanos temos a devoção religiosa
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anteriormente e devidamente classificado, dentro da categoria Canções de trabalho e Can-
ções de dor. Aqui, podemos encontrar mais de uma classificação para a letra uma vez que
as Canções de trabalho e Canções de dor, tem como abordagem a resistência ao trabalho
escravo referendando também, a fé e o apego a Santos como forma de refrigério para o
sofrimento da escravidão. Fé que neste caso, estão nos Santos católicos que o negro afri-
canizou126 devido o contato, com o catolicismo português.
(Trecho do Ladrão Mar Abaixo CD: Marabaixo. Macapá, Amapá-Amazônia-Brasil, faixa nº 2, set.
2017)
lusa. Cf. em DA SILVA, Maria Cardeira. TAVIM, José Alberto R. Marrocos no Brasil: Mazagão
(Velho) do Amapá em Festa – a festa de São Thiago, 2004. p. 15.
126 ABREU, Martha. O império do Divino: festas religiosas e cultura popular (1830-1900). 1996. 507p.
(Tese de doutorado). Universidade Estadual de Campinas, UNICAMP. 1996. p. 08.
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a saia porque esses cânticos que estão sendo dançados são Ladrões re-
ligiosos.127
Imagem 36 – Umbanda, dança da vida. Foto: Templo Escola Filhos do Mar. Disponível em http://tefi-
lhosdomar.org/index.php/2015/09/29/umbanda-a-danca-da-vida/. Acessado em 23/04/2018
127 Relato concedido dia 06/05/2018 por um marabaixeiro pertencente a organização do Festival Estu-
dantil Cantando o Marabaixo.
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Imagem 37 – Ciclo do Marabaixo, 2017. Dança do Marabaixo. Barracão da Tia Gertrudes.
Foto Aydano Ferreira. Arquivo pessoal da pesquisadora
128 O Cortejo, a Derrubada e a Levantação do Mastro são rituais contidos na parte sacra da festividade do
Marabaixo. Essa liturgia envolve a louvação ao mais alto grau da espiritualidade cristã neste caso, a
Santíssima Trindade e ao Divino Espírito Santo. Ambos não possuem representação em forma hu-
mana, mas são simbolizados nos rituais através das Coroas que ficam em altares nas casas dos organi-
zadores da festa, juntos com os Santos de devoção pessoal da preferência de cada família. Todos vão
compondo um panteão que vai além dos Santos e adota muitas vezes, o preto velho e Yemanjá, de
forma discreta. São comuns: São Jorge, São Cosme e Damião, várias invocações de Nossa Senhora e
São Benedito. Cf. em IPHAN. Inventário das referências culturais do Marabaixo do Amapá. (Produto
5: Dossiê do Marabaixo. 108p.). Macapá, 2013. Disponível apenas em meio digital no formato pdf
(463 p.), p. 48.
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Velho (AP), a festa é em louvor ao Divino Espírito Santo sendo que além dos mesmos
elementos já citados nos rituais, cabe destacar nos cortejos a coroação do imperador
129 ABREU, Martha. O império do Divino: festas religiosas e cultura popular (1830-1900). 1996. 507p.
(Tese de doutorado). Universidade Estadual de Campinas, UNICAMP. 1996. p. 37.
130 MACHADO, Sândala Cristina da soledade. A Festa do Divino, nos dois Lados do Atlântico. Revista
Tempo Amazônico. Vol. 1. Nº 2. Janeiro-junho de 2014. p. 43 e 44.
131 MACHADO, Sândala Cristina da soledade. A Festa do Divino, nos dois Lados do Atlântico. Revista
Tempo Amazônico. Vol. 1. Nº 2. janeiro-junho de 2014. p. 43.
132 Fábio José do Espírito Santo - Relato concedido dia 05/05/2018
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[...]
Minhas raízes
Devotas rezam com fé
Do divino Espírito Santo
Padroeiro São José
(Trecho do Ladrão Divino Rei. CD: Marabaixo. Macapá, Amapá-Amazônia-Brasil, faixa nº 8, set. 2017)
Apesar das distinções entre a festa do Divino, que ocorre em Mazagão Velho,
e a que ocorre em Macapá, em ambas temos rituais envolvendo a dança do Marabaixo e
as Cantigas de Marabaixo representando a majestade da divindade do Espírito Santo. Em
Macapá (AP), a devoção ao Divino Espírito Santo é realizada também durante o Ciclo do
Marabaixo conforme calendário cristão, iniciando seus festejos durante o sábado de Pás-
coa, estendendo-se por 62 dias até o primeiro domingo, após Corpus Christi. É realizado
no bairro do Laguinho, um dos mais importantes sítios de incidência da festividade133,
pelos descendentes de Julião Ramos os quais são precursores do Marabaixo de Macapá,
e antepassados diretos dos africanos que vieram escravizados tanto para a construção da
Fortaleza de São José de Macapá, quanto daqueles serviram como força de trabalho cativa
para famílias de colonos que ocuparam nos setecentos, a região de Mazagão Velho (AP).
133 A história dos bairros de origem negra no Amapá: Laguinho, Central e Santa Rita. Os dois últimos
ainda denominados pelos praticantes do Marabaixo pelo nome de “Favela”, remonta a história mais
contemporânea da festividade. Na década de 1940 famílias negras que viviam na vila Engrácia, no
centro de Macapá (AP), foram deslocadas para regiões afastadas do centro urbano e administrativo da
cidade. Hoje estes bairros são sítios tradicionais da manifestação e redutos de resistência da cultura
negra na cidade de Macapá. LOBATO, Sidney da Silva. A cidade dos Trabalhadores: insegurança
estrutural e táticas de sobrevivência em Macapá (1944-1964). Tese de doutorado, USP, 2013. p. 78.
134 MOTINHA, Katy E. F. A festa do Divino Espírito Santo: Espelho de Cultura e Sociabilidade na Vila
Nova de Mazagão. 2003. 346 f. Tese (Doutorado em História). Universidade de São Paulo, São Paulo,
2003.
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matriz de Mazagão marroquina instalada nas terras do cabo norte, atual distrito de Maza-
gão Velho (AP). Segundo a Historiadora Sândala Cristina da Soledade Machado, basea-
das em estudos de Fernando Canto135, “a ligação das origens da festividade do Ciclo do
Marabaixo de Macapá com a comunidade de Mazagão Velho é muito forte”136 e logo
pode ser explicada pela presença de rituais provenientes da cultura portuguesa a folia, as
oferendas, as Bandeiras, Coroa, o Mastro enfeitado e da composição de elementos de
matriz africana, como por exemplo, a quebra da Murta137 e o toque das Caixas de Mara-
baixo.
135 CANTO, Fernando. A água benta e o diabo. 2. ed. Macapá: FUNDECAP, 1998, p, 19. Apud MA-
CHADO, Sândala Cristina da soledade. A Festa do Divino, nos dois Lados do Atlântico. Revista
Tempo Amazônico. Vol. 1. Nº 2. janeiro-junho de 2014. p. 44.
136 CANTO, Fernando. A água benta e o diabo. 2. ed. Macapá: FUNDECAP, 1998, p. 18.
137 Expressão utilizada pelos praticantes da manifestação para designar o Cortejo da Murta
138 MOTINHA, Katy E. F. A festa do Divino Espírito Santo: Espelho de Cultura e Sociabilidade na Vila
Nova de Mazagão. 2003. 346 f. Tese (Doutorado em História). Universidade de São Paulo, São Paulo,
2003.
139 Ibid., 2003.
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entre mouros e cristãos. Textos particulares oriundos da biblioteca de Lisboa140 atestam
que ainda nos períodos setecentistas da ocupação de Mazagão Velho aconteciam narrati-
vas de combates heroicos em frente do que seria hoje as ruínas da antiga Igreja da Matriz.
A documentação se reporta a narrativos de combates exaltando a resistência dos aguerri-
dos mazaganistas na praça de Mazagão, no Marrocos. Essa evocação de uma memória
muito forte da África pode ser atestada também pela presença “de vários elementos ma-
teriais transportados do Marrocos e que em tempos remotos encontravam-se na antiga
igreja da Matriz, hoje em ruínas”141.
Atualmente essas narrativas são encenadas na festa de São Thiago que acon-
tece em Mazagão Velho durante a segunda quinzena de julho, “com ladainhas, presentes,
procissão, baile das máscaras, cavalhada, e rememoração da luta entre mouros e cristãos
sobretudo acerca dos combates vitoriosos entre os muçulmanos e cristãos”142. É neste
contexto que surge a ideia de pertença à África. “Mas uma África enquadrada num mo-
delo visionário, clássico e cristão”143. Os grandes combates e a peleja dos soldados e
cavaleiros mazaganistas da praça de Mazagão na costa Atlântica do Marrocos contra os
mouros, e a alusão a São Tiago como Santo Cavaleiro que auxilia os cristãos em pequeno
140 14 textos, alguns com dois exemplares disponíveis. Estão depositados na Biblioteca Nacional de Lis-
boa (Secções de Reservados e de Leitura Geral). Tal documentação é analisada por:
DA SILVA, Maria Cardeira. TAVIM, José Alberto R. Marrocos no Brasil: Mazagão (Velho) do
Amapá em Festa – a festa de São Thiago, 2004. p. 14.
Para efeitos de aprofundamento a documentação apresenta pelos autores na qual nos baseamos para
fazer as interpretações acima são as seguintes:
Vide Biblioteca Nacional, Reservados (doravante BNR), 1352P e 432/1 P, Relaçam do Combate, que
tiveram, e vitória, que conseguirão as armas portuguezas Dos nobres Cavaleiros de Mazagão, coman-
dadas pelo Ilustríssimo, e Excelentíssimo Senhor D. Antonio Alves da Cunha, Governador e Capitão
General da dita Praça, Contra os Mouros da Aduquela; chamados os Alarves, os mais guerreiros da
Barbaria, em o dia 7 de Dezembro do anno próximo passado de 2751 [sic], escritual por um dos seus
cavaleiros, Lisboa, na Oficina de Pedro Ferreira, 1752, p. 3. Vide figura nº 4.
BNLR, 903/4 P, Relação da batalha que o presido de Marzagam teve com os Mouros em o dia primeiro
de Mayo do anno de 1753, perigo em que se viu, e a gloriosa Victoria que delle alcançou, Lisboa,
s.ed., s.d. [1754], p. 3.
BNLR, 1352P e 432/1 P, p. 2.
BNLR, 903/8 P e Fundo Geral (doravante FG) HG 9787/17 P, Notícia da Grande Batalha que houve
em a Praça de Mazagão no dia 6 de fevereiro do presente ano de 1757, Lisboa, s.ed., 1757, pp. 1-3.
141 PICANÇO, Estácio Vidal. Informações sobre a História do Amapá cit., p. 5. Em Perfil do Amapá,
1999/2000, p. 30, o referido autor em sua obra apresenta uma fotografia da antiga matriz de Mazagão
Velho, ainda de pé, da década de 1940. Segundo Vidal na antiga igreja, hoje em ruínas, havia imagens
enfeitadas de ouro e de pedras preciosas, bem como uma mesa de prata trazida pelos mazaganistas de
Marrocos.
142 Nota de rodapé nº 31. In: MACHADO, Sândala Cristina da soledade. A Festa do Divino, nos dois
Lados do Atlântico. Revista Tempo Amazônico. Vol. 1. Nº 2. Janeiro-junho de 2014. p.41.
143 DA SILVA, Maria Cardeira. TAVIM, José Alberto R. Marrocos no Brasil: Mazagão (Velho) do
Amapá em Festa – a festa de São Thiago, 2004. p. 14
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número, dando vitória aos portugueses, também são retratados nas letras das Cantigas de
Marabaixo, como é o caso da letra do Ladrão intitulado “Da Nossa História”
Na novena e ladainha
Eu encontro meus irmãos
E na maior alegria
Dando aperto de mão
(Ladrão Da nossa História, interpretado por Verinha. CD: Marabaixo. Macapá, Amapá-Amazônia-Brasil,
Faixa, nº 10, set. 2017)
144 DA SILVA, Maria Cardeira. TAVIM, José Alberto R. Marrocos no Brasil: Mazagão (Velho) do
Amapá em Festa – a festa de São Thiago, 2004. p.18
145 Idem, p.18.
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Com base nos estudos sobre a ocupação portuguesa em Mazagão Velho (AP)
e da construção de uma memória enquanto vila negra feitos por Véronique Boyer, é que
podemos conjecturar que as letras das Cantigas de Marabaixo, também corroboram na
atualidade, para que negros tomem para si a legitimidade tanto da origem de ocupação
histórica da vila, quando da própria Festa de São Thiago:
Podemos concluir com esse estudo, sem pretensões de esgotar a temática, que
as letras das Cantigas de Marabaixo tem profunda relevância não apenas para se entender
a sua força legitimadora de uma identidade negra para Mazagão Velho, mas também para
a própria história do negro no Amapá. As Cantigas de Marabaixo então, entram em cena
como símbolo de alteridade para a construção de uma interpretação de que “foram os
negros que se estabeleceram em Mazagão Velho, e que implantaram a festa de São Ti-
ago”147. Entretanto, ao longo deste entre curso da pesquisa, autores como Sândala Cristina
da Soledade Machado, Maria Cardeira da Silva e José Alberto R. da Silva Tavim e a
própria Véronique Boyer convergem no entendimento de que a principal matriz forma-
dora do atual distrito de Mazagão Velho foi a portuguesa.
Através dessas questões levantadas podemos concluir que o estudo das Can-
tigas de Marabaixo possibilitam entender como essas memórias sobre Mazagão Velho e
sobre a própria história do negro, que participa da matriz formadora do povo do Amapá
vem sendo construídas. As letras das Cantigas de Marabaixo possuem grande relevância
para o Ensino de História, uma vez que elas vêm interligando gerações e servem como
um grande catalizador de história de vida e de genealogias locais. As letras das Cantigas
possuem uma inegável importância para efeitos de pesquisa acadêmica no âmbito do En-
sino de História. Por isso, precisam ser agregadas ao currículo148 como narrativa étnico
146 BOYER, Véronique. Passado português, presente negro e indizibilidade ameríndia: o caso de Mazagão
Velho. Amapá, 2008. p. 17 e 18.
147 DA SILVA, Maria Cardeira. TAVIM, José Alberto R. Marrocos no Brasil: Mazagão (Velho) do
Amapá em Festa – a festa de São Thiago, 2004. p. 21.
148 SILVA, Tomaz Tadeu. Documentos da identidade: uma introdução às teorias do currículo. 2ª ed. 10ª
reimp. Belo Horizonte: Autêntica, 2007. p. 101.
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racial possibilitando através de seu estudo, pensar historicamente o processo de ocupação
negra no Amapá, no século XVIII.
(Trecho do Ladrão Divino Rei CD: Marabaixo. Macapá, Amapá-Amazônia-Brasil, faixa nº 3, set. 2017)
(Trecho do Ladrão Divino Rei, CD: Marabaixo. Macapá, Amapá-Amazônia-Brasil, faixa nº 8, set.
2017)
(Trecho Negra formosa, CD: Marabaixo. Macapá, Amapá-Amazônia-Brasil, faixa nº 7, set. 2017)
Bairros como Laguinho, Central e Santa Rita, estes dois últimos mais conhe-
cido pelos praticantes da festividade como “Favela”, são constantemente citados nas Can-
tigas de Marabaixo não apenas por serem hoje locais que são de incidência da manifesta-
ção na cidade de Macapá (AP), mas porque possuem estreita relação com a história dos
afrodescendentes no Amapá. Essa história remonta em Macapá (AP), à reforma urbana
durante o período de constituição do Território Federal do Amapá, com o remanejamento
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dos negros do centro da cidade para áreas periféricas150 e com a formação de redutos na
década de 1940, afastados do eixo administrativo e comercial. A história do bairro do
Laguinho e da Favela atualmente também estabelece relação com a geração de marabai-
xeiros contemporâneos a essas mudanças “uma vez que o deslocamento da famílias ne-
gras desapropriadas do entorno do Largo de São João (atual Praça Barão do Rio Branco),
na disputada área central da cidade de Macapá, representou um processo de segrega-
ção”151 o qual ficou imortalizado nos versos do Ladrão de Marabaixo “Aonde tu vai, ra-
paz”, de Raimundo Ladislau
150 LOBATO, Sidney da Silva. A cidade dos trabalhadores: insegurança estrutural e táticas de so-brevi-
vência em Macapá (1944-1964). Tese de doutorado. Universidade de São Paulo: São Pau-lo, 2013.
239p., p. 78
151 IPHAN. Inventário das referências culturais do Marabaixo do Amapá. (Produto 5: Dossiê do Mara-
baixo. 108p.). Macapá, 2013. Disponível apenas em meio digital no formato pdf (463 p.). p. 25.
152 LOBATO, Sidney da Silva. A cidade dos trabalhadores: insegurança estrutural e táticas de sobrevi-
vência em Macapá (1944-1964). Tese de doutorado. Universidade de São Paulo: São Paulo, 2013.
239p., p. 79.
153 Relato concedido Por Fábio José do Espírito Santo Souza dia 17 de Abril de 2018, na oficina: Intro-
dução aos estudos históricos dos Ladrões de Marabaixo, parte integrante deste trabalho de pesquisa.
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Rapaz eu não tenho casa
Tu me dá um armador
Destelhei a minha casa
Com a intenção de retelhar
Mas a Santa Engrácia não fica
Como a gente pode ficar?
154 LOBATO, Sidney da Silva. A cidade dos trabalhadores: insegurança estrutural e táticas de sobrevi-
vência em Macapá (1944-1964). Tese de doutorado. Universidade de São Paulo: São Paulo, 2013. p.
78.
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A análise da letra do Ladrão de Marabaixo “Aonde tu vai, rapaz”, feita por
Sidney da Silva Lobato155, nos dá a real dimensão da importância dos versos dessa mú-
sica. Foi justamente por causa destes versos que se tem uma outra versão além daquela
oficial acerca do deslocamento de famílias de afrodescendentes que viviam na área cen-
tral, na década de 1940, na cidade de Macapá (AP). Aqui temos um exemplo de uma
Cantiga que se enquadra na tipologia de Cantigas de afirmação da identidade negra156 e
que neste caso, pode ser considerada como tal, não pelo elementos implícitos presentes
na letra mas pelos elementos explícitos relacionados aos novos redutos negros que foram
criados, após a saída da população do perímetro central. A letra da Cantiga aborda nas
quadras poéticas, a saída do centro da cidade para o bairro do Laguinho e para a Favela.
O bairro do Laguinho e a antiga Favela são locais que representam hoje, gran-
des redutos de afirmação da identidade negra, uma vez que são lugares onde se tradicio-
nalmente dança o Marabaixo em Macapá (AP). Redutos que além de serem sítios tradici-
onais de incidência da manifestação dentro da cidade de Macapá (AP), são locais onde
vivem os descendentes dos precursores do Marabaixo, como por exemplo, os familiares
de mestre Julião Ramos, Antônio Barca, Manuel da Paciência, João Clímaco, Zeca Costa,
Raimunda Ramos dos Passos , Raimunda Rodrigues do Carmo (Dica Congó), Gertrudes
Saturnino e de Natalina Costa.
155 LOBATO, Sidney da Silva. A cidade dos trabalhadores: insegurança estrutural e táticas de sobrevi-
vência em Macapá (1944-1964). Tese de doutorado. Universidade de São Paulo: São Paulo, 2013. p.
77 e 78.
156 Afirmação baseada na análise da tipologia das Canções entoadas pelos africanos escravizados, segundo
os conceitos de W. E. B. Du Bois, apresentado por ABREU. Martha. O legado das Canções escravas
nos Estados unidos e no Brasil: diálogos musicais no pós-abolição. Revista Brasileira de História. São
Paulo, v. 35, nº 69, p.177-204, 2015. p.181 e 182
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diretos dos negros que resistiram a escravidão durante a construção da Fortaleza de São
José e para a ocupação estratégica de Mazagão Velho, no século XVIII.
(Trecho Negra Formosa, CD: Marabaixo. Macapá, Amapá-Amazônia-Brasil, faixa nº 4, set. 2017)
(refrão) – 2x
(Trecho do Ladrão Nossa Cultura, CD: Marabaixo. Macapá, Amapá-Amazônia-Brasil, faixa nº 5, set.
2017)
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especialmente para Elísia, que se encarrega de promover e levar o Marabaixo para as
novas gerações157
(narração)
Está é uma homenagem que o grupo Raízes da Favela
Dica Congó presta ao velho Congó
Compositor desse Ladrão
157 IPHAN. Inventário das referências culturais do Marabaixo do Amapá. (Produto 5: Dossiê do Mara-
baixo. 108p.). Macapá, 2013. Disponível apenas em meio digital no formato pdf (463 p.). p. 24.
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um acervo oral passado entre as gerações pelos afrodescendentes. São Cantigas das pri-
meiras décadas do Século XX, como é o caso da Letra do Ladrão “Aonde tu vai, rapaz”,
até composições mais recentes, oriundas de um repertório musical mais contemporâneo.
158 ABUD, Kátia Maria Registro e Representação no cotidiano: A música popular na aula de História
Cad. Cedes, Campinas, vol. 25, n. 67, p. 309-317, set./dez. 2005. p. 310.
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Neste sentido Katia Maria Abud acredita que a utilização de fontes documen-
tais, provenientes de interações imediatas, como é o caso da música, produzem conceitos
espontâneos que por sua vez podem ser transformados em situações formais de Aprendi-
zagem histórica. No caso das Cantigas de Marabaixo elas refletem a resistência a es-
cravidão dos antepassados dos afrodescendentes no Amapá, e se auferidos a métodos de
Ensino, permitem orientar a vida prática dos alunos na utilização de modelos de explica-
ção histórica acerca da escravidão durante o período do Brasil colonial. Defende-se aqui
que tais Cantigas de Marabaixo evocam a resistência negra a escravidão, e por isso, pos-
sibilitam extrair contextos históricos implícitos. São fontes que contribuem também para
a redefinição de conteúdos bem como, de novas abordagens, no que concerne as aprendi-
zagens históricas nelas contidas.
159 ABUD, Kátia Maria Registro e Representação no cotidiano: A música popular na aula de História
Cad. Cedes, Campinas, vol. 25, n. 67, p. 309-317, set./dez. 2005. p. 310
160 RÜSEN, J. A razão histórica: teoria da história; fundamentos da ciência histórica. Brasília, DF: UNB,
2001. p. 79.
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vez que a linguagem musical faz parte do cotidiano e das experiências práticas da vida
dos estudantes influenciando seu modo de vestir, de se comportar e de se comunicar. A
linguagem musical do jovem se desenvolve através de padrões de preferência na qual
envolve gostos pessoais com forte carga afetiva, transformando-se em modelos de refe-
rência para a apreensão e assimilação de audições equivalentes ou não, aquilo que ele já
escuta no dia a dia. Um gosto musical vai se afinando principalmente nas esferas do co-
tidiano familiar, do lazer e da escola, onde ouvir música é ouvir emotivamente, uma vez
que a mesma é utilizada para despertar ou reforçar algo bastante latente: a identidade de
grupo.
161 ABUD, Kátia Maria Registro e Representação no cotidiano: A música popular na aula de História
Cad. Cedes, Campinas, vol. 25, n. 67, p. 309-317, set./dez. 2005. p. 311 e 312.
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de Marabaixo convergem para o entendimento do “documento Canção”162 como uma ar-
ticulação do “texto-contexto” sendo ao mesmo tempo, uma fonte histórica, mas também,
expressão de um momento histórico que deve ser devidamente contextualizado. É neste
sentido que comungamos do mesmo entendimento de Marcos Napolitano acerca do trato
com fontes documentais relacionadas a música:
Nos últimos anos tem sido bastante comum a utilização da Canção, seja
como fonte para a pesquisa histórica, seja como recurso didático para o
ensino [...]. Por isso mesmo, o uso da Canção como documento e re-
curso didático deve dar conta de um conjunto de problemas nada sim-
ples de resolver [...]. Neste sentido, é fundamental a articulação entre
“texto” e “contexto” para que a análise não se veja reduzida, reduzindo
a própria importância do objeto analisado, o grande desafio de todo pes-
quisador em música popular é mapear as camadas de sentido embutidas
numa obra musical, bem como suas formas de inserção na sociedade e
na história, evitando, ao mesmo tempo, as simplificações e mecanicis-
mos analíticos que podem deturpar a natureza polissêmica (que possui
vários sentidos) e complexa de qualquer documento de natureza esté-
tica. Portanto, o historiador, mesmo não sendo um musicólogo, deve
enfrentar o problema da linguagem constituinte do “documento” musi-
cal e, ao mesmo tempo, “criar seus próprios critérios, balizas e limites
na manipulação da documentação163
166 Pretende-se com esta pesquisa e com a produção do material didático supramencionado atender a pro-
posta curricular das legislações vigentes tomando como base, a nova reformulação do Ensino Médio
no Estado do Amapá, a partir da experiência da Estadual professora Raimunda Virgolino de implan-
tação, no 1º ano do Ensino Médio, da Escola de Tempo Integral e da incorporação da parte diversifi-
cada do currículo do artigo 26ª, da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDBEN. Como
referencias básicas para atender os pressupostos educacionais em vigor é que nos fundamentamos:
AMAPÁ. Diretrizes Curriculares da Educação Básica do Estado do Amapá. Secretaria Estadual de
Educação, 2014;
BRASIL. [Lei Darcy Ribeiro (1996)]. LDB: Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional: Lei nº
9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional. – 13.
ed. – Brasília: Câmara dos Deputados, Edições Câmara, 2016. – (Série legislação; n. 263 PDF);
BRASIL. Lei nº 10.639, de 9 de janeiro de 2003. Altera a Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996,
que estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional, para incluir no currículo oficial da rede de
ensino a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira”, e dá outras providências.
Diário Oficial da União. Brasília, DF, 10 jan. 2003;
BRASIL. Lei nº 11.645, de 10 março de 2008. Altera a Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996,
modificada pela Lei no 10.639, de 9 de janeiro de 2003, que estabelece as diretrizes e bases da Edu-
cação nacional, para incluir no currículo oficial da rede de ensino a obrigatoriedade da temática “His-
tória e Cultura Afro-Brasileira e Indígena”.
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dade bastante pertinente, uma vez que nos tempos de intolerância, à produção deste ma-
terial didático ratifica as conquistas dos movimentos sociais negros e contempla a própria
legislação educacional vigente.
167 AZAMBUJA, Luciano de. Jovens alunos e Aprendizagem histórica: perspectivas a partir da Canção
popular. Tese (Doutorado em Educação) – Programa de Pós-Graduação em Educação, Universidade
Federal do Paraná. Curitiba, 2013.
168 FLICK, Uwe. Uma introdução à pesquisa qualitativa. Trad. Sandra Netz. Porto Alegre: Bookman,
2004.
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ano de 2017 a Instituição de Ensino foi selecionada pela Secretaria de Estado da Educação
do Amapá, juntamente com mais 03 Escolas Públicas de Macapá e 03 do Município de
Santana (AP) para integrarem o rol da modalidade de Ensino de Tempo Integral, passando
assim a serem denominadas, de Escolas “Do Novo Saber”169. A modalidade de Ensino de
Tempo Integral traz especificidades no Currículo do Ensino Médio, a partir da incorpo-
ração de componentes denominados de parte diversificada do currículo. Entre esses com-
ponentes temos: Estudo Orientado, Práticas Laboratoriais, Projeto de Vida, Tutoria e
Disciplinas Eletivas170.
169 Para mais informações sobre a implantação em Macapá (AP) das escolas do “Novo Saber” através do
programa de tempo integral.
Consultar:https://www.portal.ap.gov.br/noticia/0103/escolas-do-novo-saber-;
https://g1.globo.com/ap/amapa/noticia/estudantes-de-escolas-em-tempo-integral-no-ap-relatam-difi-
culdades-e-falta-de-estrutura.ghtml
170 Sobre o modelo pedagógico da Escola de tempo integral e dos componentes que compõe a parte di-
versificada do currículo, bem como suas especificidades, carga horária e interligação com a Base Na-
cional Comum Curricular (BNCC), consultar: ZIMMERMAN, Juliana (0rg). Modelo pedagógico me-
todologias de êxito da parte diversificada do currículo componentes curriculares Ensino Médio. Insti-
tuto de Corresponsabilidade pela Educação. Recife, 2º ed., 2016.
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da Secretária de Educação do Estado do Amapá (SEED). Compõe-se de uma carga ho-
rária fixa semanal de duas horas aulas que correspondem a 100 minutos, às quartas-feiras
conforme horário determinado pelo Serviço Técnico e Pedagógico da Escola, mais sába-
dos letivos equivalentes ao dia da semana supracitado. Devido as especificidades do Pro-
grama de Tempo Integral, o Projeto de Pesquisa foi realizado dentro do prazo de duração
da Eletiva que é de um semestre.
Fonte: Diagnóstico realizado na Escola Estadual Professora Raimunda Virgolino para a elaboração das
Eletivas do 1º semestre. Data 20/03/2018
171 No 1ª semestre de 2018 os docentes da Escola Estadual Professora Raimunda Virgolino executaram
seis projetos transdisciplinares, sendo que cada um deles englobou as três diferentes áreas do conhe-
cimento: Ciências exatas e da natureza, códigos e linguagens e Ciências humanas e suas tecnologias.
Cada projeto foi coordenado por no máximo 03 docentes. No caso especifico das oficinas envolvendo
este trabalho de pesquisa, incorporamos a proposta, dentro deste componente curricular a partir de um
trabalho em conjunto com as disciplinas inglês e matemática. Porém, no que diz respeito à sua aplica-
ção por causa das singularidades metodológicas, optamos em executar a metodologia proposta, apenas
com 12 estudantes (04) de cada turma.
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Entende-se por disciplina Eletiva, conforme as diretrizes reguladoras da Es-
cola de Tempo Integral, as diferentes necessidades dos estudantes nas diversas áreas do
Conhecimento e na vida pessoal. Essas necessidades, conforme o gráfico 1 apresentado
acima, sugestiona algumas opções temáticas. Entre as sugestões apresentadas pelos es-
tudantes podemos observar no gráfico 1, a temática relacionada ao preconceito racial foi
contemplada. Embora exista uma quantidade significativa de alunos negros que estudam
na Escola, a temática do preconceito racial ainda aparece de maneira tímida e velada,
porém, ela ocupa o seu espaço de reivindicação.
Imagem 38 – Auditório da Escola Estadual Professora Raimunda Virgolino no dia das apresentações das
temáticas das Disciplinas Eletivas. Data: 25/04/2018. Foto: Acervo pessoal da pesquisadora
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estudante após ouvir as propostas das Eletivas apresentadas pelos professores, teve o di-
reito de escolher uma primeira e uma segunda opção em que desejaria participar, porém,
o estudante foi preferencialmente agrupado conforme a primeira opção de escolha. Sendo
assim, a Eletiva Tendência Black foi composta de 35 estudantes de salas e de sérias dife-
rentes (1ª e 2ª ano). A Eletiva Tendência Black teve como proposta principal abrir o es-
paço de discussão sobre o preconceito racial a partir da ressignificação da beleza, e da
cultura negra por meio das Cantigas de Marabaixo. Cada professora da Eletiva optou por
vieses diferentes para alcançar tais objetivos.
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3.3. AULAS AUDIÇÕES DAS CANTIGAS DE MARABAIXO
Imagem 39 – Aula audição das Cantigas de Marabaixo. Para audição utilizamos dois módulos aula de 50
minutos cada. Biblioteca da Escola Estadual Professora Raimunda Virgolino. Foto: Jocimar Paixão.
Acervo pessoal da pesquisadora. Macapá (AP). Data: 04/04/2018
172 Festival cantando o Marabaixo Macapá, Amapá-Amazônia-Brasil, dez. de 2016 e Marabaixo. Macapá,
Amapá-Amazônia-Brasil, set. 2017. Ambos tiveram as letras das músicas devidamente transcritas por
esta pesquisadora uma vez que os CDs não vem acompanhados do encarte das mesmas.
173 ABREU. Martha. O legado das Canções escravas nos Estados unidos e no Brasil: diálogos musicais
no pós-abolição. Revista Brasileira de História. São Paulo, v. 35, nº 69, p. 177-204, 2015. p. 185.
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Portuguesa, internet, livros físicos e online, os significados e trazer na próxima aula. A
grande maioria teve muita dificuldade em fazer a tarefa, uma vez que o significado de
muitas palavras e expressões sequer aparecem no dicionário de Língua Portuguesa. Ao
entregarmos a correção da atividade informamos que as poucas palavras retiradas da fonte
de pesquisa proposta, não condiziam com o real significado presente na manifestação.
Propusemos enquanto resolução, uma pesquisa contemplando o significado de palavras e
expressões das Cantigas de Marabaixo. Na ocasião apresentamos o Dicionário Histórico
Brasil – Colônia e Império de Ângela Viana Botelho e Liana Maria Reis174 e o Dicionário
Virtual e Ilustrado Africano175 onde tomamos como referência para o nosso trabalho, o
layout das duas obras citadas.
174 VIANNA BOTELHO, Ângela. MARIA REIS, Liana. Dicionário Histórico Brasil – Colônia e Império.
6ª ed.- SP: Autêntica, 2007.
175 DICIONÁRIO VIRTUAL E ILUSTRADO AFRICANO CULTURA E HISTÓRIA AFROBRASI-
LEIRA. Alunos do 2º ano B - Profª Elenice 2014. Disponível em http://pt.calameo.com/bo-
oks/0010585343f2aa72dc7f6.
176 O conceito operacionalizado nas três oficinas foi o de consciência história. Para cada oficina foi ins-
trumentalizado uma competência cognitivas. Orientação temporal, expectativas futuras e orientação
para a vida prática. RÜSEN, Jorn. El desarrollo de la competência narrativa en el aprendiaje histórico.
Una hipótesis ontogenética relativa a la conciencia moral. Revista Propuesta Educativa, Buenos Aires,
Ano 4, n.7, p.27-36. oct. 1992.Tradução para o espanhol de Silvia Finocchio. Tradução para o portu-
guês por Ana Claudia Urban e Flávia Vanessa Starcke. Revisão da tradução: Maria Auxiliadora Sch-
midt, p. 27 a 37.
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LADRÕES DE MARABAIXO. MATERIAL DO PROFESSOR. ENSINO MÉDIO.
VOL. 1.
177 A tipologia das Canções do Marabaixo foi dividida em: Canções de trabalho, Canções de dor, de amor,
religiosas e de afirmação da identidade étnica. Cf. em ABREU. Martha. O legado das Canções escra-
vas nos Estados unidos e no Brasil: diálogos musicais no pós-abolição. Revista Brasileira de História.
São Paulo, v. 35, nº 69, p. 177-204, 2015, p. 181.
178 RÜSEN, Jorn. Op. cit., p. 27 a 37.
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sim, em competências que são alcançadas de forma progressiva, passando das formas
tradicionais de pensamento, aos modos genéticos179.
Isto posto, faz-se relevante mencionar que o recorte temporal e espacial para
a utilização das Cantigas da festividade do Marabaixo foi pautada em critérios que refe-
rendam as proposições do Art. 26 A, da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
– LDBEN, das competências e habilidades propostas pelos Parâmetros Nacionais Curri-
culares (PCNs) e da Lei 11.645/2008182. Assim, as proposições que foram trazidas para
integralizar a parte diversificada do currículo do 2º ano do Ensino Médio, da disciplina
História, contemplaram como escopo principal desta metodologia de pesquisa, instigar o
179 A teoria ontogenética a qual possibilita, segundo Jorn Rüsen (1992), mudanças estruturais nos níveis
de Consciência histórica, é apresentada pelo autor a partir de quatro estágios (tradicional, exemplar,
critica e genética), para cada um deles existem seis fases. Optamos em trabalhar apenas as três opera-
cionalizações básicas da Consciência Histórica proposta na teoria, a saber: orientação temporal, ex-
pectativas futuras e orientação para a vida prática, uma vez que elas são pré-requisitos para os estágios
propostos. Cf. em RÜSEN, Jorn. El desarrollo de la competência narrativa en el aprendiaje histórico.
Una hipótesis ontogenética relativa a la conciencia moral. Revista Propuesta Educativa, Buenos Aires,
Ano 4, n.7, p.27-36. oct. 1992.Tradução para o espanhol de Silvia Finocchio. Tradução para o portu-
guês por Ana Claudia Urban e Flávia Vanessa Starcke. Revisão da tradução: Maria Auxiliadora Sch-
midt. p. 27 a 37.
180 RÜSEN, Jorn. Op. cit., p. 31 a 35.
181 No Seção 2 desta dissertação analisamos também as Canções de afirmação da identidade negra e a
partir delas, outras, que estão interligadas como o processo de escravidão negra no Amapá no século
XVIII, como por exemplo, as Canções de resistência religiosa que abordam a origem histórica de
Mazagão Velho (AP).
182 Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional: Lei nº 9.394/96; Leis 10.639/2003 e 11.645/2008 que
instituem o Ensino de História e cultura africana e indígena; AMAPÁ. Diretrizes Curriculares da Edu-
cação Básica do Estado do Amapá, 2014.
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aluno a adquirir competências que o levassem a experimentar o tempo passado, a inter-
preta ló na forma histórica, e a utiliza ló com um propósito prático na vida diária. Por
fim, produzimos, ao término da pesquisa, o DICIONÁRIO ILUSTRADO LADRÕES DE
MARABAIXO. MATERIAL DO PROFESSOR. ENSINO MÉDIO. VOL. 1.
A primeira oficina foi dividida em duas etapas sendo que para ambas focamos
na operacionalização do conceito de orientação temporal, considerado um dos elementa-
res na teoria ontogenética da Consciência Histórica183. Utilizamos a tipologia das Canções
de trabalho e Canções de dor184 para associar palavras e expressões presentes nas Cantigas
de Marabaixo, ao processo histórico da escravidão negra no Amapá, no século XVIII. As
Cantigas de Marabaixo foram utilizados como forma de unir o passado ao presente185
com vistas a produzir, através de coletada de dados das palavras e expressões contidas
nas músicas, interpretações históricas da realidade atual186.
183 RÜSEN, Jorn. El desarrollo de la competência narrativa en el aprendiaje histórico. Una hipótesis
ontogenética relativa a la conciencia moral. Revista Propuesta Educativa, Buenos Aires, Ano 4, n.7,
p.27-36. oct. 1992.Tradução para o espanhol de Silvia Finocchio. Tradução para o português por Ana
Claudia Urban e Flávia Vanessa Starcke. Revisão da tradução: Maria Auxiliadora Schmidt, p. 33 a 34.
184 Na Seção 2 desta dissertação, analisamos também as Canções de afirmação da identidade negra e a
partir delas, outras, que estão interligadas como o processo de escravidão negra no Amapá no século
XVIII, como por exemplo, as Canções de resistência religiosa que abordam a origem histórica de
Mazagão Velho (AP).
185 RÜSEN, Jorn. El desarrollo de la competência narrativa en el aprendiaje histórico. Una hipótesis on-
togenética relativa a la conciencia moral. Revista Propuesta Educativa, Buenos Aires, Ano 4, n.7, p.27-
36. oct. 1992.Tradução para o espanhol de Silvia Finocchio. Tradução para o português por Ana Clau-
dia Urban e Flávia Vanessa Starcke. Revisão da tradução: Maria Auxiliadora Schmidt, p.33 a 34.
186 Ibid., p. 38.
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3.5.1.1. 1ª ETAPA – PALESTRA SOBRE A ORIGEM HISTÓRICA DO MARA-
BAIXO. COLABORADOR: FÁBIO JOSÉ DO ESPÍRITO SANTO
SOUZA
187 Fábio José do Espírito Santo Souza, 20 anos, é morador do bairro do Laguinho, sitio tradicional do
Marabaixo em Macapá (AP) é considerado uma das lideranças do grupo Juventude Marabaixeira, As-
sociação composta de jovens e crianças da nova geração de dançadeiras, tocadores e cantadores, que
vem se preparando para receber a responsabilidade da continuidade do Marabaixo. A família de Fábio
possui uma história dentro do Marabaixo, ele é neto de uma das mais importantes lideranças da mani-
festação Raimundo dos Santos Souza, profundo conhecedor das plantas medicinais, das raízes e ervas
da floresta amazônica, contador de histórias, griô, suas garrafadas ficaram famosas em todo o Estado
do Amapá, foi também folião nato e por muitos anos, rei momo do carnaval amapaense, hoje já fale-
cido, seu nome empresta a vida a um museu na cidade: Museu Sacaca. Foi por todo esse histórico
familiar e de militância jovem dentro do Marabaixo, que escolhemos o palestrante.
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dor as palavras e expressões se enquadraram nesta temática, a partir do estudo da seguinte
Cantiga: Mar Abaixo, de autoria de Manoel Duarte e Rosangela Gungá.
Imagem 40 – Palestra sobre a origem histórica do Marabaixo. Colaborador: Fábio José do Espírito Santo
Souza. Escola Estadual Professora Raimunda Virgolino. Foto: Jocimar Paixão. Arquivo pessoal da pes-
quisadora. Data: 07/04/2018
188 Como já frisamos no início do capítulo, as especificidades do programa de tempo integral e do com-
ponente curricular onde nos propusemos a aplicar as oficinas do trabalho de mestrado possui especi-
ficidades. Consultar: ZIMMERMAN, Juliana (0rg). Modelo pedagógico metodologias de êxito da
parte diversificada do currículo componentes curriculares Ensino Médio. Instituto de Corresponsabi-
lidade pela Educação. Recife, 2º ed., 2016.
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Imagem 41 – Fábio José do Espírito Santo Souza ouvindo as perguntas dos estudantes sobre a origem das
Cantigas de dor do Marabaixo. Escola Estadual Professora Raimunda Virgolino. Foto: Jocimar Paixão.
Arquivo pessoal da pesquisadora. Data: 07/04/2018
Imagem 42 – Fábio José do Espírito Santo Souza falando sobre a origem do Marabaixo. Escola Estadual
Professora Raimunda Virgolino. Foto: Jocimar Paixão. Acervo pessoal da pesquisadora. 07/04/2018
189 Fábio José do Espírito Santo Souza, trecho do relato concedido dia 07/04/2017, para os estudantes do
2º ano do Ensino Médio, da Escola Estadual Professora Raimunda Virgolino. Macapá (AP).
190 As indagações aqui descritas sobre a Caixa de Marabaixo não faziam parte do questionário de palavras
e expressões da Canção auditada, porém, devido o instrumento possuir um conteúdo ancestral que liga
seu som, ao significado de resistência a escravidão africana no Amapá e consequentemente, contribui
para estabelecer marcos de orientação temporal, foi que escolhemos frisar este momento da oficina.
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Imagem 43 – Fábio José do Espírito Santo Souza mostrando para os estudantes o toque tradicional das
Caixas de Marabaixo. Escola Estadual Professora Raimunda Virgolino. Foto: Jocimar Paixão. Acervo
pessoal da pesquisadora. Data: 07/04/2018
Imagem 44 – Fábio José do Espírito Santo Souza ensinado as alunas, com auxílio da pesquisadora, a sim-
bologia da dança do Marabaixo. Escola Estadual Professora Raimunda Virgolino. Foto: Jocimar Paixão.
Acervo pessoal da pesquisadora. Data: 07/04/2018
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Imagem 45 – Registro da atividade com Fábio José do Espírito Santo Souza, a pesquisadora e com as pro-
fessoras Patrícia e Rita, docentes que também estavam responsáveis pela Eletiva. Foto: Jocimar Paixão.
Acervo pessoal da pesquisadora. Data: 07/04/2018
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3.5.1.2. 2ª ETAPA – VISITA AO CURIAÚ: A OFICINA DE CAIXAS DE MARA-
BAIXO DO MESTRE PEDRO DO ROSÁRIO DOS SANTOS
Imagem 47 – Registro da saída da Escola Estadual Professora Raimunda Virgolino para a pesquisa de
campo no Curiaú. Foto: Jocimar Paixão. Acervo pessoal da pesquisadora. Data: 14/04/2018
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3.5.1.3. A OFICINA
191 Pedro Rosário dos Santos é considerado um dos maiores divulgadores do Batuque e Marabaixo no
Brasil e no mundo, desenvolvendo trabalhos a mais de 20 anos na comunidade Curiaú, através do
grupo Raízes do Bolão. Em 2002, o grupo Raízes do Bolão apresentou as Canções do Marabaixo em
alguns países europeus como a Alemanha, França e Inglaterra e em 2013, fez turnê em todos os estados
brasileiros através do projeto Sonora Brasil. O sonora Brasil é um dos mais importantes projetos
culturais do país, realizado em circuito nacional e promovido pelo Serviço Social do Comércio (Sesc).
Em 2017, nosso colaborador recebeu o prêmio de Mestre da Cultura Brasileira, pelo Ministério da
Cultura. Em março de 2018, com a criação da Academia do Marabaixo e Batuque no Amapá, recebeu
uma cadeira como imortal.
192 Devido ao Curiaú estar a aproximadamente 10 km de distância da Escola Estadual Professora Rai-
munda Virgolino, solicitamos autorização e dispensa dos estudantes do turno da manhã, para partici-
parem da oficina, sem prejuízo das demais atividades escolares.
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guardam na memória a história de resistência a escravidão de seus antepassados por meio
das festas religiosas, do ritmo do Batuque, da dança e das Cantigas de Marabaixo.
Os relatos apresentados por Pedro Rosário dos Santos (Pedro Bolão) a res-
peito do significado das seguintes palavras e expressões: negro nagô, mar-abaixo, dança
do Marabaixo e escravidão, tronco, capitão do mato, senzala, África, Portugal, Marrocos,
Mazagão Velho, açucena, presentes nas seguintes letras das Cantigas de Marabaixo:
“Mar Abaixo” (Gungá), “Meu tambor rolou” (José Hosana), “Eu caio, eu caio” ( inter-
pretado por Danny Pancadão) e “Balão de ouro” ( interpretado por Nek), apontam indícios
193 O Curiaú é uma comunidade quilombola que fica localizada em Macapá (AP). Distante a 8 km do
centro comercial da capital, a região encontra-se dentro da área de proteção ambiental (APA-Curiaú),
e é considerada um importante sítio histórico e ecológico. Fonte: http://amazoniareal.com.br/vila-do-
curiau-guarda-a-memoria-da-historia-dos-quilombolas-no-amapa/
194 Pedro do Rosário dos Santos. Relato concedido no Curiaú, para estudantes da Escola Estadual Profes-
sora Raimunda Virgolino no dia 14/04/2018.
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para a origem ética do povos africanos que vieram para o Amapá durante o período do
tráfico negreiro no Brasil. De acordo com Canto195 os negros que vieram escravizados
para o Amapá eram provenientes da África ocidental inclui o Mali, Gâmbia, Guiné e Se-
negal, fazem parte os povos Mandê ou mandingas, Fulbe ou Fula, Hausa, Songhai, Tu-
kulóor, Wolof, Serer, Mossi, Dagomba, árabes da Mauritânia e muitos outros pequenos
grupos. Mas no relato de Pedro bolão podemos identificar evidencias que atestam no
Amapá a presença também de povos do sudoeste do continente africano, conforme narra:
“[...] os primeiros Marabaixos eram bem diferentes desses atuais os homens jogavam a
carioca”196.
A carioca é uma versão local criada para o jogo da capoeira, prática comum
no início do século XX na frente da Igreja de São José de Macapá, durante as festividades
do Marabaixo. O IPHAN em 2013, fez um minucioso inventário do Marabaixo atestando
através de depoimentos e de fotos datadas197 do início do século passado, que o jogo da
carioca era realizada em tal espaço.
Imagem 50 – A Carioca “Em frente à matriz de Macapá, antes das competições de luta-livre e capoeira
(carioca)”. Legenda adapatada. In: PEREIRA, Nunes. O sahiré e o Marabaixo: Tradições da Amazônia.
Contribuição ao Primeiro Encontro Brasileiro de Folclore. Rio de Janeiro: Gráfica Ouvidor, 1951. p. 43.
O certo é que tal evidencia também colhida através do relato de Pedro Bolão
aponta a presença de africanos escravizados provenientes da região de Angola, uma vez
Quem sustentou o Amapá foi (sic) os negros o pessoal não sabe a im-
portância que esses negros tem em fazer aquela Fortaleza, foi o pessoal
meu que trabalhou naquele lugar, pessoal da minha tribo trabalhou para
ficar aquilo tudo bonito carregando pedra daqui da Pedreira para lá, não
é fácil não201
201 Pedro do Rosário dos Santos. Relato concedido 14/04/2018. Retirado da transcrição realizada pelos
estudantes da Escola Estadual Professora Raimunda Virgolino.
202 GONÇALVES, Márcia de Almeida. História local: O reconhecimento da identidade pelo caminho da
insignificância, p.182 in: Didática e Prática de Ensino de História experiências, reflexões e aprendiza-
gens, p 205 e 206. Ed. Papiros: Campinas, São Paulo, 2003. (Coleção magistério: formação e trabalho
pedagógico)
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análise dos relatos coletados pelos estudantes, procuramos indícios que apontavam tanto
para o significado das palavras e expressões contidas nas Cantigas de Marabaixo, quanto
para os elementos constituintes do autorreconhecimento e do sentimento de se sentir per-
tencer enquanto negro. Este foi o ponto de partida para o estudante compreender como se
constitui e se desenvolve a sua historicidade em relação aos demais, entendendo quanto
há de história em sua vida que é construída por ele mesmo e quanto tem a ver com ele-
mentos externos a ele.203
A respeito desta questão, a fala de Pedro Bolão revela muito bem sua Cons-
ciência Histórica sobre a história da ocupação negra no Amapá, quando diz que a história
de seus antepassados que viveram no Curiaú está diretamente associada aos africanos
escravizados que trabalharam na construção da Fortaleza de São José de Macapá (1777-
1815): “minha avó, mãe da minha mãe, nasceu em 1888, 13 de maio, nasceu liberta aqui
nos campos do Cria-ú”204
203 SCHMIDT, Maria Auxiliadora. O Ensino de História Local e os seus Desafios da Formação da Cons-
ciência Histórica, p.190. In: Didática e Prática de Ensino de História experiências, reflexões e apren-
dizagens, p 205 e 206. Ed. Papiros: Campinas, São Paulo, 2003. (Coleção magistério: formação e
trabalho pedagógico)
204 Pedro do Rosário dos Santos. Relato concedido 14/04/2018. Retirado da transcrição realizada pelos
estudantes da Escola Estadual Professora Raimunda Virgolino.
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Tivemos a oportunidade de presenciar a transmissão dessa herança cultural
africana através dos relatos colhidos pelos estudantes na oficina, mas sem dúvida, a prin-
cipal maneira de identificar o real significado de palavras e expressões presentes nas Can-
tigas de Marabaixo, foi por meio de observações da vivência cotidiana do Curiaú.
Olha o Curiaú foi essa vila que lhe eu falei, chegou essas três pessoas
aqui que vieram fugidos e se abancaram aqui no lago de Cria-ú. Eles
conseguiram esse campo e colocaram dois negros que vieram daí que
dessa descendência eu faço dessa parte dessa família que eram meus
antepassados e daí se criou essa gíria Cria-ú, campo do Cria-ú. Criar
boi, búfalo, boi selvagem, com o tempo vieram outras pessoas e modi-
ficaram para ser mais fácil de ser chamado. Mas a nossa linguagem, a
nossa origem é Cria-ú, eu moro no Cria-ú, é o maior orgulho que eu
tenho de falar assim, minha mãe dizia, tá entendendo? Essa é nossa his-
tória206
[...] o cara que trouxe o Marabaixo para cá, para o Curuçá (grifo meu)
foi Inácio da Bacaba. Ele chegou aqui numa jangada atravessando o rio
Mocambo, abaixo do rio Amazonas, com uma Caixa de Marabaixo. Ele
205 RÜSEN, Jorn. El desarrollo de la competência narrativa en el aprendiaje histórico. Una hipótesis on-
togenética relativa a la conciencia moral. Revista Propuesta Educativa, Buenos Aires, Ano 4, n.7, p.27-
36. oct. 1992.Tradução para o espanhol de Silvia Finocchio. Tradução para o português por Ana Clau-
dia Urban e Flávia Vanessa Starcke. Revisão da tradução: Maria Auxiliadora Schmidt, p. 37.
206 Pedro do Rosário dos Santos. Relato concedido 14/04/2018. Retirado da transcrição realizada pelos
estudantes da Escola Estadual Professora Raimunda Virgolino.
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chegou aqui numa jangada e se abancou aqui no Curuçá, ele trabalhava
muito na roça, a noite ele...Para dar uma refrescada, ele amarrava os
quatro cachorros na cintura e tocava Caixa a noite todinha para os ca-
chorros dele207
São versões riquíssimas como essa, sobre a origem histórica do Curiaú, que
atestam a presença africana no Amapá, que participa como matriz formadora. Procuramos
desenvolver a sensibilidade histórica do estudante, através da capacidade de olhar o pas-
sado e resgatar, sua qualidade temporal210. Assim, propomos antes mesmo que chegás-
semos ao Curiaú, que eles ficassem atentos a tudo, em seus mínimos detalhes, durante o
trajeto. A mudança na paisagem, a disposição de como as casas são construídas, os uten-
sílios domésticos, as mobílias, a maneira de falar dos moradores, cada especificidade,
cada gesto foi pedido que descrevessem por escrito minuciosamente. Eles mais tarde se-
riam valiosos para nos ajudar a refletir e descortinar nas oficinas seguintes, novos signi-
ficados de palavras e expressões presentes nas Cantigas de Marabaixo mas que, não foram
contemplados nesta oficina.
207 Pedro do Rosário dos Santos. Relato concedido 14/04/2018. Retirado da transcrição realizada pelos
estudantes da Escola Estadual Professora Raimunda Virgolino.
208 Fazendo o cruzamento de fontes, Inácio da Bacaba aparece em vários relatos da velha guarda do Ma-
rabaixo, como um dos moradores mais antigos da comunidade quilombola do Curiaú. Cf. Ficha de
Identificação: Ofícios e Modos de Fazer. p. 10 de 20. In: IPHAN. Inventário das referências culturais
do Marabaixo do Amapá. (Produto 5: Dossiê do Marabaixo. 108p.). Macapá, 2013. Disponível apenas
em meio digital no formato pdf (463 p.).
209 Ficha de Identificação: Formas de Expressão. p. 7 de 21. In: IPHAN. Inventário das referências cultu-
rais do Marabaixo do Amapá. (Produto 5: Dossiê do Marabaixo. 108p.). Macapá, 2013. Disponível
apenas em meio digital no formato pdf (463 p.).
210 RÜSEN, J. A razão histórica: teoria da história; fundamentos da ciência histórica. Brasília, DF: UNB,
2001. p. 40.
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Todos esses elementos serviriam posteriormente para a busca de outros ver-
betes e aprofundamento e ampliação da pesquisa. O intuito foi de levar o estudante a
perceber que os atos de pesquisar continuam a se questionar permanentemente em busca
de novos horizontes na produção de saberes
Imagem 52 – Cotidiano no Curiaú. Fonte: Pesquisa de campo, 2013 (Unifap). Disponível em http://comu-
nidades.lides.unifap.br/condicoes_vida/curiau.html.
211 GUIMARÃES, Selva. A pesquisa e produção de conhecimento em sala de aula. p. 207. In: Didática e
prática de Ensino de História, experiência reflexões e Aprendizagem, 13ª ed. São Paulo: Papiros, 2014.
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Conforme podemos ver na imagem acima, esta africanidade fica claramente
expressa no modo como se constrói as casas; a relação com a natureza; como estão dis-
postos os utensílios e a mobília doméstica, ou seja, cada detalhe no interior do Curiaú
demonstra a ancestralidade da cultura africana. Ancestralidade esta que é traduzida com
sutileza nas Cantigas de trabalho e Cantigas de dor, veículo responsável em perpetuar
ensinamentos que em alguns momentos foram contados nos relatos, em outros apenas
cantados e em algumas vezes justapostos – cantados e contados de como foi a saga da
resistência africana a escravidão no Amapá, no século XVIII.
Uma saga, escrita com sangue, suor e trabalho escravo durante a diáspora
africana, mas que hoje se traduz em versos nas Cantigas de Marabaixo através do senti-
mento de pertencimento, enquanto afrodescendente. Um sentimento que se traduz tam-
bém nas letras das Cantigas e nas batidas rítmicas das Caixas de Marabaixo. Assim, as
músicas servem como forma de reforçar ensinamentos vividos no dia a dia do Curiaú. No
que diz respeito as Cantigas de trabalho e Cantigas de dor, as músicas são um importante
veículo que denota a resistência da ancestralidade africana a escravidão e neste caso, esses
momentos de reforço por meio da música são tipicamente na cultura africana, uma tarefa
da mãe:
Grande parte desses ensinamentos passados pela mãe de Pedro bolão foi por
meio da música. Francisca Ramos dos Santos a “Tia Chiquinha”, sua mãe, é considerada
uma das maiores sumidades dentro do Marabaixo devido ao legado deixado como dança-
deira e tocadora de Caixas, por ser uma grande divulgadora do Batuque e das Bandaias,
mas principalmente, por causa do legado musical de suas composições sendo a mesma,
uma grande referência de ancestralidade. Isso atesta que as Cantigas dos afrodescenden-
tes no Amapá, que falam da resistência ao cativeiro, estão sempre associadas aos ensina-
mentos passados entre gerações.
212 Pedro do Rosário dos Santos. Relato concedido 14/04/2018. Retirado da transcrição realizada pelos
estudantes da Escola Estadual Professora Raimunda Virgolino.
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genealógica periodiza, com base na história familiar, a experiência dos
últimos escravos [...], em geral descendentes de escravos chegados ao
Brasil na primeira metade do século XIX, e que viveram o impacto213
Foi demostrando por meio da música os atributos que validam essas tradições
orais que nos propusemos, nesta oficina, unir passado/presente214 estabelecendo marcos
de orientação temporal. A Associação de palavras e expressões das Cantigas de Mara-
baixo ao relato coletado, conectou o passado da escravidão africana no Amapá, com in-
terpretações históricas sobre a realidade atual do negro. Neste caso, as Cantigas de Mara-
baixo serviram em parte, para mostrar como se mantém viva através da música, tanto a
resistência a escravidão, quanto as tradições da cultura africana. As tradições são um im-
portante elo de orientação temporal logo, as músicas que outrora expressavam lamento
dos antepassados que foram escravizados hoje, passam a proferir orgulho.
213 RIOS, Ana Maria Lugão e MATTOS, Hebe Maria. Memórias do cativeiro: família, trabalho e cidada-
nia no pós-abolição. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2005, 2005, p. 63.
214 RÜSEN, Jorn. El desarrollo de la competência narrativa en el aprendiaje histórico. Una hipótesis on-
togenética relativa a la conciencia moral. Revista Propuesta Educativa, Buenos Aires, Ano 4, n.7, p.27-
36. oct. 1992.Tradução para o espanhol de Silvia Finocchio. Tradução para o português por Ana Clau-
dia Urban e Flávia Vanessa Starcke. Revisão da tradução: Maria Auxiliadora Schmidt. p. 37.
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Imagem 53 – Estudantes da Escola Estadual Professora Raimunda Virgolino juntamente coma pesquisa-
dora, ouvindo Pedro do Rosário dos Santo cantar alguns trechos das Cantigas de trabalho, Cantigas de dor
do Marabaixo. Local: Curiaú. Oficina de produção de Caixas de Marabaixo. Data: 14/04/2018. Foto: Joci-
mar Paixão. Acervo pessoal da pesquisadora
É possível observar a partir da foto acima, que o ato de contar a história dos
antepassados que foram escravizados por meio das Cantigas de Marabaixo além de ser
motivo de orgulho tende a reforçar ensinamentos e tradições e, para aproximarmos de
uma maneira mais concreta com os estudantes, partimos de uma situação real dentro do
próprio Curiaú. Suscitamos nesta oficina reflexões sobre o uso e legitimação das músicas
já que isso requer a necessidade da Consciência Histórica para construir argumentos em-
basados historicamente. Já dissemos em vários momentos deste capítulo que a inserção
dessas Cantigas provenientes de uma manifestação da cultural oral, são de suma impor-
tância para o Ensino de História pois, afirmam a herança musical negra, que participa
como matriz formadora do Estado do Amapá, daí a importância de seu legado. Por isso,
para fomentar tal compreensão, pedimos além da coletada de dados, uma descrição deta-
lhada de todos os elementos considerados interessante desde a mudança de paisagem du-
rante o trajeto, até os principais elementos característicos do Curiaú.
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Imagem 54 – Fragmento 1: Registro dos estudantes da Escola Estadual Professora Raimunda Virgolino,
sobre o Curiaú. Visita de campo. Data: 14/04/2018
Imagem 55 – Fragmento 2: Registro dos estudantes da Escola Estadual Professora Raimunda Virgolino,
sobre o Curiaú. Visita de campo. Data: 14/04/2018
O objetivo desta atividade foi de levar o estudante a perceber que muitas das
histórias contadas sobre os antepassados que foram escravizados também são cantadas
nas Cantigas de Marabaixo. Elas são expressas nas músicas através da maneira de fazer
as coisas, a lida com a roça, o tempo de plantar, de colher, de agradecer por meio das
ladainhas, das louvações e das festividades. São valores que vem se perpetuando por ge-
rações e que nem mesmo com chibatadas e açoites, e com a destruição de grande parte
dos arquivos do tráfico e da tentativa de apagar da história oficial, uma parte da história
da escravidão, não foram capazes de calar as tradições da cultura africana. São tradições,
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que por intermédio das músicas se tornam princípios, guias de comportamento que ex-
pressam orientações valorativas e temporais. Imprimem códigos de condutas dirigindo-
nos até a essência de nossa subjetividade, a nosso sentido de corresponsabilidade, quanto
a importância do legado dessas Cantigas de Marabaixo para o Ensino de História.
Por fim, reconhecer tudo isso requer como pré-requisito necessário a Consci-
ência Histórica, sem tal consciência não é possível entender o que legitima a perpetuação
das Cantigas e muito menos compreender a importância de seu legado. Como a Consci-
ência Histórica funciona como um modo específico de orientação em situações reais da
vida prática: tem como função ajudar-nos a compreender dentro de uma matriz temporal
o passado, a partir de uma interpretação histórica do presente, foi que enfatizamos nesta
oficina o estudo das tradições africanas. Entender que algumas palavras e expressões que
aparecem nas Cantigas de trabalho e dor moldam valores morais a um corpo temporal
(por exemplo, o corpo de validade contínua de tradições transmitidas pelos afrodescen-
dentes no Amapá) permite estabelecer conexões de temporalidade histórica com a escra-
vidão africana. Porém, esses marcos de orientação temporal só recebem validade quando
são confrontados com valores e códigos de condutas morais, com base na experiência da
vida prática dos estudantes.
Por isso, pedimos que durante o relato de Pedro Bolão eles ficassem atentos
a tudo que diz respeito aos significados de palavras e expressões que viessem porventura
a se reportar às tradições da cultura africana, a ensinamentos perpetuados entre gerações
e, comparecem aos seus próprios códigos de valores morais, condutas e ensinamentos
familiares.
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Imagem 56 – Fragmento 3: Registro dos estudantes da Escola Estadual Professora Raimunda Virgolino,
sobre o Curiaú. Visita de campo. Dia 14/04/2018
Imagem 57 – Fragmento 4: Registro dos estudantes da Escola Estadual Professora Raimunda Virgolino,
sobre o Curiaú. Visita de campo. Data: 14/04/2018
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ou pouco contato diário e criação delegada a amigos de “confiança” da família bioló-
gica215. Essas são algumas das problemáticas detectadas que atestam a dificuldade de o
estudante estabelecer marcos de orientação temporal, com a temática apresentada. Par-
tindo do viés que a Aprendizagem história deve estar correlacionada a competências cog-
nitivas procedimentais e atitudinais, acreditamos que a coleta do relato, contribuiu no
sentido de levar a uma reflexão de valores que muitas das vezes não fazem parte do dia a
dia do estudante e, sobre isso achamos interessante dar voz ao que foi dito:
Imagem 58 – Fragmento 5: Registro dos estudantes da Escola Estadual Professora Raimunda Virgolino,
sobre o Curiaú. Visita de campo. Data: 14/04/2018
Mediante o que está sendo relato percebe-se também, que existe uma grande
dificuldade de se reconhecer a importância de outros tipos de saberes, fora do espaço
escolar. Foi por isso que achamos oportuno nesta oficina problematizar sobre as tradições
africanas, mas, utilizando como ponto de referência, a experiência da vida prática dos
estudantes. Consideramos que a oficina foi um grande desafio porque a prática da pes-
quisa216 envolvendo interlocução com outros agentes que produzem saberes baseados em
suas experiências de vida e a própria prática da coleta e análise de dados, ainda são desa-
fiadores na Educação Básica. Desafios que envolvem desde condições logísticas para a
sua execução, até a própria proposta do trabalho de fazer das músicas do Marabaixo, não
215 Tais informações sobre os responsáveis legais dos estudantes foram obtidas durante a assinatura dos
familiares, da documentação autorizando a participação dos mesmos, neste projeto de pesquisa.
216 FONSECA, Selva Guimarães. Didática e Prática de Ensino de História: Experiências, Reflexões e
Aprendizados. Ed. Papiros: Campinas, São Paulo, 2003. (Coleção magistério: formação e trabalho
pedagógico)
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apenas um mero espelho do passado da escravidão, mas, trazendo para o presente a im-
portância e o seu legado.
Imagem 59 – Fragmento 6: Registro dos estudantes da Escola Estadual Professora Raimunda Virgolino,
sobre o Curiaú. Visita de campo. Data: 14/04/2018
Porém, são valores que externos a festividade necessita serem revistos tanto
fora, mas principalmente dentro da Educação Básica pois, cada vez mais estão se per-
dendo, e se refletem, no processo de Ensino na perda da figura de valor atribuído ao papel
do docente. Acreditamos que a oficina foi pertinente porque o contato com diferentes
tipos de saberes (científicos, históricos escolares e sociais) fomentou tal despertar, mas
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principalmente possibilitou a prática da pesquisa217 histórica. Estabeleceu marcos e uma
matriz temporal situando historicamente a escravidão africana no Amapá, por meio das
Cantigas de trabalho e Cantigas de dor do Marabaixo. E contribuiu no espaço escolar
para a divulgação de um legado musical tão rico, mas ainda, pouco abordado devido à
escassez de produções didáticas e a fragmentação de informações em livros físicos e on-
line sobre o tema proposto.
217 FONSECA, Selva Guimarães. Didática e Prática de Ensino de História: Experiências, Reflexões e
Aprendizados. Ed. Papiros: Campinas, São Paulo, 2003. (Coleção magistério: formação e trabalho
pedagógico).
218 RÜSEN, Jorn. El desarrollo de la competência narrativa en el aprendiaje histórico. Una hipótesis on-
togenética relativa a la conciencia moral. Revista Propuesta Educativa, Buenos Aires, Ano 4, n.7, p.27-
36. oct. 1992.Tradução para o espanhol de Silvia Finocchio. Tradução para o português por Ana Clau-
dia Urban e Flávia Vanessa Starcke. Revisão da tradução: Maria Auxiliadora Schmidt.
219 ABREU. Martha. O legado das Canções escravas nos Estados unidos e no Brasil: diálogos musicais
no pós-abolição. Revista Brasileira de História. São Paulo, v. 35, nº 69, p. 177-204, 2015.
220 RÜSEN, Jorn. Op. cit. p. 27-36.
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citadas nessas Cantigas, uma vez que eles possuem grande relevância para o Marabaixo
e para a própria História do Amapá.
A segunda oficina não teve como propósito fazer coleta de dados com prati-
cantes da manifestação, mas apenas de apresentar os sítios tradicionais do Marabaixo de
Macapá os quais estão localizados nos bairros Laguinho e Central (este último, por com-
preender perímetros da antiga Favela). O objetivo de se fazer uma visita aos locais de
incidência da manifestação e de também, estabelecer a relação dos mesmos com a Forta-
leza de São José de Macapá, deveu-se ao fato de que para a velha guarda do Marabaixo,
os africanos escravizados que trabalharam na construção do Forte, são considerados seus
descendentes diretos. Na visita que fizemos aos sítios tradicionais da festividade, procu-
ramos enfatizar a relação mais contemporânea que a nova geração do Marabaixo possui,
com os redutos negros que se formaram dentro da cidade de Macapá, a partir da década
de 1940.
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3.5.2.1. VISITA AO SÍTIO TRADICIONAL DO MARABAIXO DA FAVELA:
BAIRRO CENTRAL
Imagem 60 – Associação Cultural berço das Tradições Amapaenses, mais conhecida como barracão da
Tia Gertrudes, bairro Central, Macapá (AP). Na foto pesquisadora explicando sobre a história de vida de
Gertrudes Saturnino, uma das primeiras moradoras na década de1940, do atual bairro Central. Foto: Joci-
mar Paixão. Data: 18/04/2018. Acervo pessoal da pesquisadora.
221 Devido a natureza pesquisa requerer a necessidade de tempo hábil para visitação foi que solicitamos
autorização e dispensa dos estudantes no turno da manhã, para participarem da oficina sem prejuízo
das demais atividades escolares.
222 “Compreendia a área urbana o chamado ‘bairro Alto’ margeado pelas ruas Siqueira campos (atual
Mário Cruz), Barão do Rio Branco (atual Cândido Mendes) e Floriano Peixoto (Atual Avenida Presi-
dente Vargas), com todo o centro político-social incluso e mais a Vila Presidente Vargas. A área su-
burbana compreendia os bairros: (Doca da) Fortaleza, Trem, Igarapé das Mulheres, Favela, Beirol e
Laguinho (mais o Campo Agrícola). A área suburbana, que inicialmente abrigava parte não majoritária
da população de Macapá”. In: LOBATO, Sidney da Silva. A cidade dos trabalhadores: insegurança
estrutural e táticas de sobrevivência em Macapá (1944-1964). Tese de doutorado. Universidade de São
Paulo: São Paulo, p. 84(em PDF). Embora o historiador designe a Favela como um bairro, conforme
consta nos planos urbanísticos da cidade de Macapá tal designação nunca foi reconhecida pelo poder
público. Amapá, Governo do Território Federal. Planejamento Urbano, Turismo e Arquitetura. Con-
sultória de H.J.Cole+Associados S.A. 1976/1979
223 Localizada na Av. Duque de Caxias, nº 1203, bairro Central, Macapá (AP)
224 Sito Av. Mendonça Júnior, nº 12 75 bairro Central, Macapá (AP)
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Silva, mais conhecida como Elísia Congó225, filha de Dica Congó. A visitação teve como
proposta apresentar um pouco da história de vida da família desses duas baluartes do
Marabaixo da Favela: Gertrudes Saturnino e Dica Congó. Em muitas Cantigas elas são
citadas porque as suas histórias de vida estão interligadas a chegada dos seus antepassados
negros que foram escravizados durante a construção da Fortaleza de São José de Macapá
no século XVIII por isso, falar das percussoras do Marabaixo da Favela, é falar das Can-
tigas que seus antepassados entoavam.
Imagem 61 – Na sequência visita a Associação Folclórica Raízes da Favela, bairro Central, Macapá (AP).
O Barracão onde se dança o Marabaixo é montado todos os anos apenas uma semana antes da Páscoa, pe-
ríodo em que antecede a festividade do Marabaixo. São adaptações na residência onde as edificações re-
cebem uma estrutura aberta na frente e atrás. Foto Jocimar Paixão. Data 18/04/2018. Acervo pessoal da
pesquisadora.
225 Maria Elísia Carmo Silva (Elísia Congó) é presidente da Associação Folclórica Raízes da Favela,
membro da família Congó, considerada dentro do Marabaixo da Favela uma das mais importantes e
tradicionais. Em março de 2018, representou sua mãe, Dica Congó, recebendo na recém criada Aca-
demia de Batuque e Marabaixo, uma cadeira como imortal.
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Imagem 62 – Registro mostrando como fica a Associação Cultural Raízes da Favela durante as festivida-
des do Ciclo do Marabaixo. Macapá/AP. Foto: Aydano Ferreira. Data: 05/05/2017. Acervo pessoal da
pesquisadora.
226 O bairro do Laguinho fica localizado próximo a região central da cidade de Macapá (AP). É conside-
rado um dos bairros mais antigos da capital, sua fundação ocorreu na década de 1940, período em que
o governador do Território Federal do Amapá, Janary Gentil Nunes, implementou várias reformas
urbanas na região central da cidade de Macapá (AP) inviabilizando “a permanência dos moradores
mais pobres, por meio do estabelecimento de padrões ocupacionais que eles não podiam alcançar”. In:
LOBATO, Sidney da Silva. A cidade dos trabalhadores: insegurança estrutural e táticas de sobrevi-
vência em Macapá (1944-1964). Tese de doutorado. Universidade de São Paulo: São Paulo, 2013.
239p. 84 (em PDF)
227 IPHAN. Inventário das referências culturais do Marabaixo do Amapá. (Produto 5: Dossiê do Mara-
baixo. 108p.). Macapá, 2013. Disponível apenas em meio digital no formato pdf (463 p.), p. 27 e 67
228 Ficha identificação de lugares, p. 3 de 10. In: IPHAN. Inventário das referências culturais do Mara-
baixo do Amapá. (Produto 5: Dossiê do Marabaixo. 108p.). Macapá, 2013. Disponível apenas em meio
digital no formato pdf (463 p.).
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Mapa 2 – Delimitação do núcleo urbano da cidade de Macapá na década de 1940,
conforme relatos coletados em pesquisa e mapa georretificado da Planta da Vila de
São José de Macapá (1761)
Mapa: Jocimar Paixão, 2018. Fonte: Planta da Vila de São José de Macapá, 1761 (GRONFELDE, Gaspar
João de (eng.). Planta da vila de São de José Macapá. Cartografia e iconografia relativa ao Pará, 1761. In:
Biblioteca Digital, Fórum Landi (UFPA). Disponível em http://forumlandi.ufpa.br/biblioteca-digital/dese-
nho/planta-da-vila-de-s-jose-macapa. Acessado em 30 de maio de 2018.)
229 Consideradas as personalidades negras mais importantes do bairro do Laguinho sendo que a contri-
buição e legado seja como ladronistas (compositores das Canções do Marabaixo), ou através dos en-
sinamentos perpetuados através da oralidade, os tornaram referências dentro da manifestação do Ma-
rabaixo do Amapá.
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possível entender e compreender, a trajetória do negro, que participa como matriz forma-
dora da História do Amapá.
Imagem 63 – Associação Folclórica Marabaixo do Pavão. Situado na avenida José Tupinambá de Al-
meida, nº1160, bairro Laguinho, Macapá (AP). Na ocasião explicação da pesquisadora sobre a trajetória
de vida de Raimundo Lino Ramos, o mestre Pavão, considerado um dos mais importantes precursores do
Marabaixo do Amapá. Foto: Jocimar Paixão. Data: 18/04/2017. Acervo pessoal da pesquisadora.
230 Localizada na rua Eliezer Levy, nº 632, bairro do Laguinho, Macapá (AP)
231 Julião Ramos participou do momento histórico na década de1940 da transferência das famílias negras
da parte central da cidade de Macapá (AP) para o bairro do Laguinho. A história dessa transferência
ficou imortalizada nos versos da Canção de Marabaixo “Aonde tu vai, rapaz”, de autoria de Raimundo
Ladislau.
232 Raimundo Ladislau é considerado um dos mais importantes ladronistas (compositores das Canções do
Marabaixo). Seus Ladrões são reconhecidos, através da penetração de suas músicas nos Marabaixos
de todo o Amapá. Cf. Ficha de identificação: Ofícios e modos de fazer. p. 4 de 20. In: IPHAN. Inven-
tário das referências culturais do Marabaixo do Amapá. (Produto 5: Dossiê do Marabaixo. 108p.).
Macapá, 2013. Disponível apenas em meio digital no formato pdf (463 p.)
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que acima de tudo contribui hoje, para a alteridade do local como bairro genuinamente
negro.
Imagem 64 – Acima, registro da visita a Associação Cultural Raimundo Ladislau, Rua Eliezer Levy, nº
632, bairro do Laguinho, Macapá (AP). Foto: Jocimar Paixão. Data 18/04/2018. Acervo pessoal da pes-
quisadora.
Imagem 65 – Registro que mostra a Associação Cultural Raimundo Ladislau durante as festividades do
Marabaixo. Neste período o festeiro responsável pela coordenação do evento, juntamente com sua equipe
de trabalho, prepara a parte externa da residência enfeites de papel colorido nas cores azul, vermelho e
branco, cores quer representam o Divino Espírito Santo e a Santíssima Trindade. Associação Cultural Ra-
imundo Ladislau, Macapá/AP. Foto: Aydano Ferreira. Data 05/05/2017. Acervo pessoal da pesquisadora
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avenida Padre Manoel da Nóbrega233, o local é bastante citado nas Cantigas de Marabaixo
devido a ligação da geração mais contemporânea da manifestação e o povoamento da
área, na década de 1940. Procuramos estabelecer a relação do Poço do Mato com as Can-
tigas de Marabaixo, pois as mesmas reportam-se ao lugar envolto em histórias que dão
conta de encantamentos e lendas narrados pelos moradores locais. Surgiram muitas cu-
riosidades sobre essas lendas e da real importância histórica que o Poço do Mato possui.
Explicamos então, que através do projeto de Lei nº 037/93, da Câmara Municipal de Ve-
readores de Macapá, ele é considerado Monumento de Interesse Cultural do Município
de Macapá devido ao legado dos registros orais deixados pelos antigos moradores afro-
descendentes.
Imagem 66 – Poço do Mato, bairro do Laguinho. Macapá (AP). Este Local era utilizado pelos primeiros
moradores na década de 1940, para coletar água potável. Ente os primeiros habitantes temos famílias ne-
gras que viviam na Vila de Santa Engrácia, próximo a Igreja da Matriz, no centro da cidade que foram
deslocadas para o bairro do Laguinho que na época, não possuía infraestrutura para recebê-los. Foto: Joci-
mar Paixão. Data: 18/04/2018. Acervo pessoal da pesquisadora.
Ainda na rua padre Manoel da Nóbrega, bem em frente ao Poço do Mato, dois
desenhos no muro que fica aos fundos da Companhia de Água e Esgoto de Macapá (CA-
ESA), chamaram muita atenção dos estudantes: o desenho da antiga Igreja da Matriz e o
da Fortaleza de São José de Macapá. Estabeleceu-se então a relação de tais desenhos com
233 O Poço do mato fica localizado no meio da avenida Padre Manoel da Nobrega, bairro do Laguinho,
entre as ruas General Rondon e São José, atrás do terreno da CAESA (Companhia de Água e Esgoto
do Amapá)
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o local e consequentemente, com as Cantigas de Marabaixo ao ser explicado que a refe-
rência a imagem da antiga igreja da Matriz associa-se ao Marabaixo em virtude de a ma-
nifestação ter seu lado religioso na qual envolve rituais católicos, com elementos da cul-
tura africana. Já no caso da Imagem da Fortaleza de São José de Macapá, sua associação
se dá porque segundo relatos que coletamos com a velha guarda do Marabaixo, os pri-
meiros praticantes da festividade foram os africanos escravizados que vieram para a cons-
trução do Forte no século XVIII e como os antigos moradores do Laguinho são seus des-
cendentes, reportar-se a este fato histórico é afirmar a identidade da manifestação e de
seus ancestrais.
Imagem 67 – Registro fotográfico dos estudantes da Escola Estadual Professora Raimunda Virgolino na
avenida Padre Manoel da Nobrega, em frente ao Poço do Mato. Acima desenho retratando a da antiga
igreja da Matriz. Abaixo pintura da Fortaleza de São José de Macapá. Av. Padre Manoel da Nóbrega,
bairro do Laguinho Macapá (AP). Entre as Ruas General Rondon e São José, atrás do terreno da CAESA
(Companhia de Água e Esgoto do Amapá). Foto: Jocimar Paixão. Data: 18/04/2018. Acervo pessoal da
pesquisadora.
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Imagem 68 – Av. Padre Manoel da Nóbrega, bairro do Laguinho, Macapá (AP) entre as Ruas General
Rondon e São José, atrás do terreno da CAESA (Companhia de Água e Esgoto do Amapá). Foto: Jocimar
Paixão. Data: 18/04/2018. Acervo pessoal da pesquisadora.
Imagem 69 – Fragmento 7: Registro dos estudantes da Escola Estadual Professora Raimunda Virgolino,
sobre o bairro Santa Rita e Central (antiga Favela). Visita de campo. Dia 18/04/2018
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Imagem 70 – Fragmento 8: Registro dos estudantes da Escola Estadual Professora Raimunda Virgolino,
sobre os bairros Santa Rita e Central (antiga Favela). Visita de campo. Dia 18/04/2018
Imagem 71 – Fragmento 9: Registros dos estudantes da Escola Estadual Professora Raimunda Virgolino,
sobre o bairros do Laguinho, Santa Rita e Central (antiga Favela). Visita de campo. Dia 18/04/2018
Por fim, o último local visitação foi a Fortaleza de São José de Macapá234, a
ida ao local se deu por causa de seu caráter histórico e sua relação com a presença dos
234 A Fortaleza de São José de Macapá fica localizada na área central da capital de Macapá (AP) entre as
avenidas Beira Rio e Candido Mendes. Segundo relatos dos praticantes do Marabaixo, nos tempos
setecentistas da colonização portuguesa no Amapá, os africanos escravizados se reuniam neste local
para amenizar o banzo, tocando, cantando e revivendo suas lembranças. Cf. em IPHAN. Inventário
das referências culturais do Marabaixo do Amapá. (Produto 5: Dossiê do Marabaixo. 108p.). Macapá,
2013. Disponível apenas em meio digital no formato pdf (463 p.). p. 40. Para mais informações con-
sultar:
Marabaixo: do lúdico ao moderno. Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=wE-
veF0jO4mU; Ladrões de Marabaixo - Sala de Notícias (Canal Futura). Disponível em
https://www.youtube.com/watch?v=xxhu6RIwmcw&t=267s
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africanos e de seus descendentes no Amapá e por sua vez, devido aos Cantigas de Mara-
baixo que se reportam a Fortificação como o lugar em que os seus antepassados foram
escravizados. Procuramos durante a visitação contextualizar historicamente a diáspora
africana para o Amapá no século XVIII, já que o fato histórico da travessia transatlântica
é bastante referendado nas músicas, pelos principais compositores de referência do Ma-
rabaixo. Como um dos vértices centrais da pesquisa foi levar os alunos a coletarem dados
que dessem conta da relação entre as Cantigas de Marabaixo e o fato histórico da resis-
tência ao cativeiro negro no Amapá, foi explicado que ainda nos tempos dos setecentos
da colonização portuguesa, o lugar, segundo registros orais que aparecem nas Cantigas,
e no relato dos praticantes mais antigos da manifestação, era local onde os africanos es-
cravizados se reuniam para dançar, tocar e reviver suas lembranças da África.
Imagem 72 – Acesso principal para a visitação - Fortaleza de São José de Macapá. Foto: Jocimar Paixão.
Acervo pessoal da pesquisadora. Data: 18/04/2018.
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Imagem 73 – Registro da entrada dos alunos com a pesquisadora na Fortaleza de São José de Macapá.
Foto: Jocimar Paixão. Acervo pessoal da pesquisadora. Data: 18/04/2018
Imagem 74 – Pesquisadora utilizando a maquete da Fortaleza de São José de Macapá, localizada na en-
trada principal do monumento, para contextualizar historicamente a diáspora africana para o Amapá no
século XVIII e a chegada do negro para trabalhar como mão de obra cativa na construção do Forte. Foto:
Jocimar Paixão. Acervo pessoal da pesquisadora. Data: 18/04/2018
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Imagem 75 – Segunda maquete da Fortaleza de São José de Macapá localizada na entrada principal do
monumento. Foto: Jocimar Paixão. Acervo pessoal da pesquisadora. Data: 18/04/2018
Imagem 76 – Fosso (esgotadouro) de águas pluviais localizada no centro da praça rebaixada da Fortaleza
de São José de Macapá. Foto: Jocimar Paixão. Acervo pessoal da pesquisadora. Data: 18/04/2018
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Imagem 77 – Registro fotográfico no terrapleno de acesso aos baluartes Fortaleza de São José de Macapá.
Foto: Jocimar Paixão. Acervo pessoal da pesquisadora. Data: 18/04/2018.
Imagem 78 – Fragmento 10: Atividade sobre a importância da Fortaleza e a relação da mesma com o Ma-
rabaixo. Estudantes da Escola Estadual Professora Raimunda Virgolino. Visita de campo. Data:
18/04/2018
235 RÜSEN, Jorn. El desarrollo de la competência narrativa en el aprendiaje histórico. Una hipótesis on-
togenética relativa a la conciencia moral. Revista Propuesta Educativa, Buenos Aires, Ano 4, n.7, p.
27-36. oct. 1992.Tradução para o espanhol de Silvia Finocchio. Tradução para o português por Ana
Claudia Urban e Flávia Vanessa Starcke. Revisão da tradução: Maria Auxiliadora Schmidt.
236 ABREU. Martha. O legado das Canções escravas nos Estados unidos e no Brasil: diálogos musicais
no pós-abolição. Revista Brasileira de História. São Paulo, v. 35, nº 69, p. 177-204, 2015. p. 181.
237 RÜSEN, Jorn Op. cit., 27-36.
238 ENEM. Matriz de Referência. Ciências humanas e suas Tecnologias. Competência de área 1 - Com-
preender os elementos culturais que constituem as identidades, H1 - Interpretar historicamente e/ou
geograficamente fontes documentais acerca de aspectos da cultura. Disponível em http://por-
tal.inep.gov.br/educacao-basica/encceja/matrizes-de-referencia
239 BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Média e Tecnológica. Parâmetros Curricu-
lares Nacionais (Ensino Médio). Brasília: MEC, 2000. p. 04-06
_______________________________________________
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injustiça, desrespeito e preconceito, incluindo o preconceito religioso às matrizes africa-
nas, foi o objeto central desta oficina, como proposta de orientação para a vida prática
dos estudantes.
240 Mazagão é um município ao sul do Estado do Amapá distante a 72 km da capita Macapá cujos limites
são: Pedra Branca do Amapari e Porto Grande ao norte; Santana a nordeste; a foz do rio Amazonas a
sudeste; Vitória do Jari ao sul e Laranjal do Jari a oeste. Devido justamente a esta distância da Escola
Estadual Professora Raimunda Virgolino foi que solicitamos autorização e dispensa para participar da
oficina no turno da tarde, sem prejuízo das demais atividades escolares.
241 Jozué da Conceição Videira é pedreiro e carpinteiro de profissão, bastante comprometido com ativi-
dades culturais segue no município ministrando oficinas, para crianças e jovens aprendem o legado
musical do Marabaixo. Em suas oficinas esse exímio mestre no oficio da arte de fazer e tocar Caixas,
segue os ensinamentos tradicionais do toque e da confecção do instrumento.
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Imagem 79 – Sede do Grupo Folclórico Raízes do Marabaixo em Mazagão Velho. Alunos da Escola Esta-
dual Professora Raimunda Virgolino aguardando o momento de coletar o relato de Jozué da Conceição
Videira. Data 18/04/2018
Imagem 80 – Sede do Grupo Folclórico Raízes do Marabaixo. Município de Mazagão Velho. Alunos da
E.E. Raimundo Virgolino ouvindo atentamente Jozué da Conceição Videira, falando sobre o significado
das Cantigas religiosas do Marabaixo. Data: 18/04/2018
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festa do Divino em Mazagão Velho242 sendo explicitado as diferenças e semelhanças,
com os rituais da festividade que acontecem em Macapá (AP). Entre as similaridades
temos as missas, alvoradas, queima de fogos, novenas, ladainhas, levantação e derrubada
do Mastro, quebra da Murta, cortejos e Marabaixo243. Entre as singularidades destacam-
se a procissão fluvial a remo no rio Mutuacá, a cerimônia de coroação da imperatriz mo-
mento, que são apresentadas as empregadas do Divino e a data do próprio período da
festividade que em Mazagão Velho, acontece no mês de agosto, e está relacionado aos
períodos de colheitas agrícolas244.
Imagem 81 – Sede do Grupo Folclórico Raízes do Marabaixo. Município de Mazagão Velho. Na imagem
à esquerda, CDs com Cantigas religiosas do Marabaixo. Nos encartes identificamos um panteão de Santos
católicos com destaque para Nossa Senhora da Piedade. À direita, banner em homenagem a Nossa Se-
nhora da Piedade. Foto: Jocimar Paixão. Acervo pessoal da pesquisadora. Data: 18/04/2011
242 Em Mazagão Velho tal como na cidade de Macapá (AP), a festividade do Marabaixo inclui rituais
religiosos onde a vértice central é a louvação ao Divino Espírito Santo. Porém, na Capital do Estado,
cultua-se a Santíssima Trindade e demais Santos de devoção pessoal das famílias organizadoras do
Marabaixo do Laguinho e Favela.
243 Sobre os rituais religiosos que fazem parte da festividade do Marabaixo, ver Seção 1, desta dissertação.
244 Sobre os rituais religiosos que fazem parte da festividade do Marabaixo em Mazagão Velho, consultar
Seção 2 desta dissertação.
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Imagem 82 – Jozué da Conceição Videira, e seus filhos, na sede do Grupo Folclórico Raízes do Mara-
baixo. Município de Mazagão. Foto: Jocimar Paixão. Acervo pessoal da pesquisadora. Data: 18/04/2018
Imagem 83 – Artefatos e indumentárias utilizadas nas festas do Divino e de São Thiago. Grande parte das
Canções religiosas do Marabaixo em Mazagão Velho ser reportam a ocupação histórica do lugar e a devo-
ção a São Thiago, padroeiro do Município. Foto Jocimar Paixão. Acervo pessoal da pesquisadora. Data
18/04/2018
Este último Santo (São Thiago), por exemplo, recebeu grande destaque du-
rante o relato do colaborador, uma vez as Cantigas de resistência religiosa comumente se
reportam ao fato histórico da batalha entre mouros e cristãos na África e a transmigração
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de colonos portugueses de Mazagão marroquina para o Amapá. A saga histórica de Ma-
zagão Velho cantada e contada nos versos do Marabaixo e a alusão a São Thiago como
“Santo guerreiro” foi bastante enfatizada já que ambas, atestam o alicerce histórico, tra-
zendo a ideia de pertença a África.
245 Em vários trechos do relato coletado pelos estudantes, Jozué da Conceição Videira enfatiza a devoção
a São Thiago e a importância que o Santo teve na batalha contra os mouros na África.
246 O catolicismo barroco tem como características principais práticas pomposas acompanhadas de dan-
ças, músicas e fogos de artifícios. REIS, João José, Identidade e diversidade étnicas nas irmandades
negras no tempo da Escravidão. In: Tempo, vol. 2, n. 3, 1997, p. 04. Ver também: ABREU, Martha.
O império do Divino: festas religiosas e cultura popular (1830-1900). 1996. 507p. (Tese de doutorado).
Universidade Estadual de Campinas, UNICAMP. 1996.
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Imagem 84 – Sede do Grupo Folclórico Raízes do Marabaixo. Município de Mazagão Velho. 1 Foto in-
dumentária utilizada nos rituais religiosos da Festa do Divino. 2 Foto vestimenta usada na Festa de São
Thiago. As vestimentas das duas maiores expressões culturais de Mazagão Velho, retratadas nas Cantigas
religiosas do Marabaixo, ficam agrupadas de maneira equivalente. Foto: Jocimar Paixão. Acervo pessoal
da pesquisadora. Data: 18/04/2017
Acima podemos ver alguns dos artefatos que já foram utilizados tanto nos
rituais da Festa do Divino quanto, quanto na Festa de São Thiago estão justapostos, isso
contribui para a construção de uma memória enquanto vila para que os negros tomem
posse e tomem para si a legitimidade tanto da ocupação histórica do local, quando da
própria Festa de São Thiago. Porém, as Cantigas de resistência religiosa não podem ser
estudadas a parte sem levar em conta os elementos do catolicismo barroco e a influência
da ocupação portuguesa em Mazagão Velho. São elementos que ficam expressos em vá-
rios rituais da parte religiosa do Marabaixo e vão desde frases em latim, rezadas por meio
das ladainhas247 das missas nas igrejas, e dos ofertórios248 os quais ficam externados tam-
bém na maneira de rezar, de louvar e de dançar o Marabaixo. Em se tratando da dança do
Imagem 84 – Alunos da Estadual Professora Raimunda Virgolino, Macapá (AP) escolhendo indumentá-
rias do Marabaixo de rua, em Mazagão Velho. Sede do Grupo Folclórico Raízes do Marabaixo. Foto: Jo-
cimar Paixão. Data: 18/04/2018
Imagem 85 – Alunos da Escola Estadual Professora Raimunda Virgolino, Macapá (AP) aprendendo como
se dança o Marabaixo de rua, em Mazagão Velho. Sede do Grupo Folclórico Raízes do Marabaixo. Foto:
Jocimar Paixão. Data: 18/04/2018
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Imagem 86 – Captura do vídeo “Rancho Folclórico Portugal Canta e Danca- Tirana”. Disponível em
https://www.youtube.com/watch?v=tVOZ0R8ca_s. Acessado em 04/06/2018.
Para encerrar nossa visita, estivemos na parte externa da igreja de Nossa Se-
nhora de Assunção e no Sítio Arqueológico de Mazagão Velho, onde este último, fica
localizada as ruínas da antiga igreja da Matriz, construída em 1772. Na ocasião, explica-
mos a simbologia para a História do Amapá e do próprio Marabaixo, uma vez que ambos
estão relacionados a ocupação portuguesa e a presença africana no local, e por sua vez,
comumente aparecem nas Cantigas de resistência religiosa. No caso da Igreja de Nossa
Senhora da Assunção, a sua associação com as Cantigas de Marabaixo se dá porque é o
lugar onde acontecem missas e uma novena durante a festa do Divino. Além Disso, “nessa
igreja ficam guardados, nos dias de festa do Marabaixo, o cetro e a Coroa, artefatos sim-
bólicos usados pela imperatriz durante os principais ritos religiosos da festividade”249. No
tempo em que durou nossa passagem pela Igreja, enfatizamos250 que Nossa Senhora da
Assunção, padroeira do município de Mazagão Velho, é bastante retratada nas Cantigas
249 Consultar:
ANEXO: Bens culturais inventariados. Festa do Divino Espírito Santo de Mazagão Velho. p.4
de 54. In: IPHAN. Inventário das referências culturais do Marabaixo do Amapá. (Produto 5:
Dossiê do Marabaixo. 108p.). Macapá, 2013. Disponível apenas em meio digital no formato pdf
(463 p.)
MOTINHA, Katy E. F. A festa do Divino Espírito Santo: Espelho de Cultura e Sociabilidade na
Vila Nova de Mazagão. 2003. 346 f. Tese (Doutorado em História). Universidade de São Paulo,
São Paulo, 2003. p. 279-280
MACHADO, Sândala Cristina da soledade. A Festa do Divino, nos dois Lados do Atlântico.
Revista Tempo Amazônico. Vol. 1. Nº 2. Janeiro-junho de 2014. p.43
250 As explicações dadas para os estudantes da Escola Estadual Professora Raimunda Virgolino Sobre a
Igreja de Nossa Senhora da Assunção, primeiramente foram com base nos trechos do relato de Jozué
da Conceição Videira.
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de Marabaixo, especialmente naqueles que tem como temáticas a resistência ao cativeiro
negro, a fé e o apego aos Santos católicos africanizados e a batalha entre mouros e cristãos
na África.
Imagem 87 – Alunos da Escola Estadual Professora Raimunda Virgolino na parte externa da Igreja de
Nossa Senhora da Assunção em Mazagão Velho. A igreja de Nossa Senhora da assunção possui Forte re-
presentatividade nos rituais litúrgicos e nas Cantigas de resistência religiosa do Marabaixo. Durante as
festas do Divino são rezadas missas e ladainhas no local, este também é um dos principais trajetos por
onde passa o Marabaixo de rua. Foto: Jocimar Paixão. Acervo pessoal da pesquisadora. Data 18/04/2018
251 DA SILVA, Maria Cardeira. TAVIM, José Alberto R. Marrocos no Brasil: Mazagão (Velho) do
Amapá em Festa – a festa de São Thiago, 2004, p. 18.
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s
Imagem 88 – Parada para registro fotográfico na igreja de Nossa Senhora de Assunção em Mazagão
Velho
Imagem 89 – Pesquisadora explicando a importância histórica das ruínas da antiga Igreja da Matriz.
Foto: Jocimar Paixão. Acervo pessoal da pesquisadora. Data: 18/04/2018
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Esta oficina foi para discutir, produzir reflexões e apresentar os resultados da
pesquisa realizada com os estudantes nos sítios tradicionais de incidência da manifestação
de Macapá (AP), e em Mazagão Velho. Utilizamos o material coletado nas três oficinas
anteriores para identificar, a partir do estudo das Cantigas de Marabaixo, as aprendizagens
históricas concernentes a escravidão africana no Amapá. Sendo assim, estimulamos in-
vestigações e análises sobre os relatos coletados em áudio e/ou vídeo e transcrições bem
como, do material fotográfico e ilustrações. As reflexões estiveram relacionadas aos sig-
nificados de palavras e expressões contidas nas Cantigas de Marabaixo e aprofundadas
por meio de fontes secundárias.
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3.6.1. 1ª ETAPA: LABORATÓRIO DE INFORMÁTICA EDUCACIONAL
(LIED)
Imagem 90 – Dia 1. Alunos pesquisando verbetes e expressões das Canções de Marabaixo, em fon-
tes secundárias. Laboratório de Informática da Escola Estadual Professora Raimunda Virgolino.
Foto: Joaciany do Carmo Nascimento da Paixão. Acervo pessoal da pesquisadora. Data 23/04/2018
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Nesta primeira etapa aprofundamos o significado de 67 verbetes (incluindo
palavras e também expressões) pesquisadas nos sítios tradicionais de incidência da mani-
festação do Marabaixo de Macapá – Bairros do Laguinho, Central e Santa Rita, no Curiaú
e em Mazagão Velho (AP). Dos 12 estudantes que participaram da atividade cada um
ficou com 05 verbetes para fazer o detalhamento das informações sendo que a proposta
principal foi de ensinar o aluno a pesquisar em fontes secundárias, pesquisamos com eles,
nos seguintes endereços eletrônicos:
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3.6.2. 2ª ETAPA: ANÁLISE DOS DADOS COLETADOS LABORATÓRIO DE
INFORMÁTICA EDUCACIONAL (LIED)
Imagem 92 – Laboratório de informática da Escola Estadual Professora Raimunda Virgolino. Alunos fa-
zendo aprofundamento da pesquisa dos verbetes e expressões das Cantigas de Marabaixo. Foto: Joaciany
do Carmo Nascimento da Paixão. Acervo pessoal da pesquisadora. Data 24/04/201
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Apresentamos e classificamos também a tipologia das Canções afrodescen-
dentes : Canções de trabalho e Canções de dor; Canções de amor; de afirmação da iden-
tidade e de resistência religiosa252. Ao término, propusemos uma atividade para a avali-
ação das competências cognitivas da Teoria Ontogenética da Consciência Histórica.
Através desta atividade o estudante fez a associação entre trechos das Cantigas de Mara-
baixo que foram auditados, com a tipologia das Canções afrodescendentes. Utilizamos
fragmentos das Cantigas e dos relatos colhidos, para identificar quais foram as aprendi-
zagens históricas obtidas acerca da escravidão africana no Amapá, no século XVIII. Para
tal selecionamos (01) fragmento de cada tipologia das Cantigas afrodescendentes basea-
dos em perguntas que contemplaram as competências cognitivas da teoria ontogenética
da Consciência Histórica (Rüsen, 1992. p. 5, 6, 7)253. As perguntas desenvolverão a se-
guinte linha epistemológica:
252 ABREU. Martha. O legado das Canções escravas nos Estados unidos e no Brasil: diálogos musicais
no pós-abolição. Revista Brasileira de História. São Paulo, v. 35, nº 69, 2015. p. 181 e 182.
253 RÜSEN, Jorn. El desarrollo de la competência narrativa en el aprendiaje histórico. Una hipótesis on-
togenética relativa a la conciencia moral. Revista Propuesta Educativa, Buenos Aires, Ano 4, n.7, p.27-
36. oct. 1992.Tradução para o espanhol de Silvia Finocchio. Tradução para o português por Ana Clau-
dia Urban e Flávia Vanessa Starcke. Revisão da tradução: Maria Auxiliadora Schmidt. p. 19.
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Imagem 94 – Laboratório de informática da Escola Estadual Professora Raimunda Virgolino. Alu-
nos sendo orientados a fazer reflexões e analises da pesquisa dos verbetes e expressões das Canções
do Marabaixo. Foto: Joaciany do Carmo Nascimento da Paixão. Acervo pessoal da pesquisadora.
Data 24/04/2018
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Imagem 95 – Biblioteca da Escola Estadual Professora Raimunda Virgolino. Alunos preenchendo a ati-
vidade de avaliação das competências cognitivas da teoria ontogenética da consciência histórica. Foto:
Joaciany do Carmo Nascimento da Paixão. Acervo pessoal da pesquisadora. Data: 26/04/2018
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Imagem 96 – Fragmento 11: Registro dos estudantes da Escola Estadual Professora Raimunda Virgolino
sobre o legado e importância das Cantigas de Marabaixo. Data: 24/04/2018
Imagem 97 – Fragmento 12: Registro dos estudantes da Escola Estadual Professora Raimunda Virgolino
sobre a relevância das Cantigas de Marabaixo para a História local. Data: 24/04/2018
No que diz respeito a orientação para a vida prática, levar o aluno a aprender
a posicionar-se sociamente, estimular o respeito e entender a importancia dessas
Cantigas de Marabaixo para a história local, repudiar qualquer tipo de descriminação as
matrizes africanas dentro e principalmente, fora do espaço escolar deu voz a seguinte
reflexão:
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Imagem 98 – Fragmento 13: Registro dos estudantes da Escola Estadual Professora Raimunda Virgolino
sobre a relevância das Cantigas de Marabaixo para a História local. Data 24/04/2018
Para finalizar, pedimos que tudo aquilo que foi relato nas oficinas, a singula-
ridade dos locais visitados, a importância dos tocadores, das dançadeiras e dos principais
rituais que são retratados nas Cantigas pelos praticantes do Marabaixo, fossem feitos em
forma de ilustrações.
Imagem 99 – Registro das ilustrações produzidas pelos estudantes. Biblioteca da Escola Estadual Profes-
sora Raimunda Virgolino. Foto: Joaciany do Carmo Nascimento da Paixão. Data: 26/04/2018
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Imagem 100 – Oficina para a produção das ilustrações de palavras e expressões das Canções do Mara-
baixo Biblioteca da Escola Estadual Professora Raimunda Virgolino. Foto: Joaciany do Carmo Nasci-
mento da Paixão. Acervo pessoal da pesquisadora. Data: 27/04/2018
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3.6.4. 4ª ETAPA: CULMINÂNCIA DAS ELETIVAS DA ESCOLA ESTADUAL
PROFESSORA RAIMUNDA VIRGOLINO (27/06/2018)
Imagem 101 – Palestra das alunas Iranilce e Vitória Taynara (Turmas 211 e 213 ) apresentando os resulta-
dos da pesquisa realizada nos locais de incidência da manifestação do Marabaixo de Macapá e de Maza-
gão Velho. Culminância das Eletivas. Foto: Patrícia Oliveira. Data 7/06/2018. Local: Escola Estadual pro-
fessora Raimunda Virgolino. Macapá (AP)
Imagem 102 – Estudantes da Escola Estadual Raimunda ouvindo a palestra das estudantes. Culminância
das Eletivas. Foto: Patrícia Oliveira. Data: 27/06/2018
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Imagem 103 – Exposição de mural com algumas fotografias tiradas pelos estudantes durante a realização das
oficinas nos redutos de incidência da manifestação do Marabaixo de Macapá e de Mazagão Velho. Exposição
Cultural das Eletivas. Culminância das Eletivas. Foto: Patrícia Oliveira. Data: 27/06/2018
Imagem 104 – Exposição de desenhos e de frases de repúdio contra todas as formas de preconceito vela-
das ao negro e ao Marabaixo. A atividade retrata bem qual o posicionamento dos jovens estudantes da
Educação Básica e o que eles pensam a respeito do tema. Foto: Patrícia Oliveira. Data: 27/06/2018
Imagem 105 – Caricatura da aluna Laura (212) desenhada por Kamila Ferreira (213). Afirmação da iden-
tidade e a beleza da cultura negra revelam a consciência história da jovem estudante que ilustrou o dese-
nho. Foto: Patrícia Oliveira. Data: 27/06/2018
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
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TRADO LADRÕES DE MARABAIXO. MATERIAL DO PROFESSOR. ENSINO MÉ-
DIO. VOL. 1, foi devidamente, alvo de indagações, questionamentos, reflexões visando
a produção do conhecimento histórico escolar.
Assim, aliamos a música no Ensino de História, por meio das Cantigas, pre-
sentes na manifestação do Marabaixo, para a produção do DICIONÁRIO ILUSTRADO
LADRÕES DE MARABAIXO. MATERIAL DO PROFESSOR. ENSINO MÉDIO.
VOL. 1 com o intuito, de tirar da invisibilidade a contribuição africana no que tange ao
processo da constituição histórica e cultural do Amapá. Dentro desta Configuração este
Trabalho Acadêmico se enquadrou na Linha de Pesquisa Saberes Históricos Fora do Es-
paço Escolar. Linha que se configura a partir dos processos de Ensino e Aprendizagem
da História, considerando as especificidades dos Saberes e das Práticas mobilizadoras no
ambiente Escolar. Configuração que correspondeu ao anseio de produzir, além do debate
e de reflexões da música no Ensino de História, Material didático voltado para a Educação
Básica.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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CRIS. Umbanda sem mistérios e complicações: Glossário da Umbanda saudações e ex-
pressões. Disponível em http://umbandawiki.blogspot.com.br/2015/12/glossario-de-
umbanda-saudacoes-e.html. Acessado em 01/11/2017.
CURIAÚ :http://amazoniareal.com.br/vila-do-curiau-guarda-a-memoria-da-historia-dos-
quilombolas-no-amapa/.
DICIONÁRIO VIRTUAL E ILUSTRADO AFRICANO CULTURA E HISTÓRIA
AFROBRASILEIRA. Alunos do 2º ano B - Profª Elenice 2014. Disponível em
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área 1 - Compreender os elementos culturais que constituem as identidades, H1 - Inter-
pretar historicamente e/ou geograficamente fontes documentais acerca de aspectos da cul-
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1753, perigo em que se viu, e a gloriosa Victoria que delle alcançou, Lisboa, s.ed., s.d.
[1754], p. 3. BNLR, 1352P e 432/1 P, p. 2. BNLR, 903/8 P e Fundo Geral (doravante
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I Festival de Ladrão de Marabaixo – DVD – Confraria Tucuju.
Implantação em Macapá (AP) das escolas do “Novo Saber” através do Programa de
Tempo Integral. Consultar: https://www.portal.ap.gov.br/noticia/0103/escolas-do-novo-
saber-; https://g1.globo.com/ap/amapa/noticia/estudantes-de-escolas-em-tempo-inte-
gral-no-ap-relatam-dificuldades-e-falta-de-estrutura.ghtml.
Lei de diretrizes e Bases da Educação Nacional: Lei nº 9.394/96; Leis 10.639/2003 e
11.645/2008 que instituem o Ensino de História e cultura africana e indígena; AMAPÁ.
Diretrizes Curriculares da Educação Básica do Estado do Amapá, 2014.
LOMBAERDE, Júlio Maria. Diário do Pe. Júlio Maria. Belo Horizonte: O lutador, 1991.
Mapa de setorização do Plano Diretor Ambiental e Urbano da Cidade de Macapá, 2004,
com revisão em 2017.
Mapeamento das comunidades praticantes do Marabaixo no Amapá. Cartaz de Divulga-
ção do Calendário Afro-amapaense, organizado pela SEAFRO em 2015. Cf. em AN-
TERO, Alysson Brabo. Tambores no meio do mundo: expressão de um catolicismo negro
no Amapá. Dissertação (Mestrado em Ciências da Religião) – Universidade do Estado do
Pará. Belém, 2015, p. 34.
Marabaixo: do lúdico ao moderno. Disponível em https://www.you-
tube.com/watch?v=wEveF0jO4mU; Ladrões de Marabaixo - Sala de Notícias (Canal Fu-
tura). Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=xxhu6RIwmcw&t=267s.
MARTINS, Rostan. Aonde tu vai, rapaz, por esses caminhos sozinho? Comunicação e
Semiótica do Marabaixo, São Paulo, Scortecci, 2016.
Mônica do Socorro Ramos – Entrevistada em 20 de maio de 2013. Formas de expressão.
p. 7 de 26. In: IPHAN. Inventário das referências culturais do Marabaixo do Amapá.
(Produto 5: Dossiê do Marabaixo. 108p.). Macapá, 2013. Disponível apenas em meio
digital no formato pdf. (463 p.).
MUNIZ, João Palma. Limites Municipais do Estado do Pará. Município de Mazagão. In:
Anais da Biblioteca e Arquivo Público do Pará, t. IX, 1916.
O significado de Nossa Senhora da Glória. http://cruzterraSanta.com.br/significado-e-
simbolismo-de-nossa-senhora-da-gloria. Acessado em 12 de novembro de 2017.
Pedro Rosário dos Santos. Relato concedido para esta pesquisa dia 30 de maio de 2018.
PEREIRA, Nunes. O sahiré e o Marabaixo: Tradições da Amazônia. Contribuição ao
Primeiro Encontro Brasileiro de Folclore. Rio de Janeiro: Gráfica Ouvidor, 1951.
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4:3, son., color, NTSC.
Programação do Ciclo do Marabaixo de Macapá - 2018, Associação Cultural Raimundo
Ladislau e Associação Folclórica Raízes da Favela.
Quadras ou quartetos são estrofes compostas por quatro versos. Cf. em https://www.nor-
maculta.com.br/estrutura-externa-de-um-poema/. Acessado em 23 de abril de 2018.
FONTES ORAIS
Fabio Oliveira, membro de família tradicional do Marabaixo de Macapá, neto de Rai-
mundo dos Santos Souza – “Mestre Sacaca”. Entrevista concedida em 15 de Abril de
2018.
Josias Ferreira da Silva Filho, morador a 58 do bairro Central (antiga Favela). Relato concedido
dia 30/06/2018.
Maria Germina de Almeida 76 anos moradora do bairro Central há 30 anos, foi moradora trans-
ferida da área central para a antiga Favela. Seu Padrasto Hipólito da Silva Gaia morava onde é
hoje a residência oficial do Governador.
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ANEXO A: PARECER CONSUBSTANCIADO – CEP
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ANEXO B: LISTA DE VERBETES E EXPRESSÕES DO MARABAIXO PESQUI-
SADAS
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ANEXO C: ATIVIDADE DE AVALIAÇÃO DA COMPETÊNCIAS COGNITIVAS
DA TEORIA ONTOGENÉTICA DA CONSCIÊNCIA HISTÓRICA
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ANEXO D: TRANSCRIÇÃO DE LADRÕES DE MARABAIXO
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ANEXO E: ILUSTRAÇÕES – RAQUEL SOARES E CAMILA FERREIRA
(TURMA 213)
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ANEXO F: ILUSTRAÇÕES – RAILA RAYKA (TURMA 211)
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