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Danilo Duarte Costa e

Silva

Comunidades Não Alcançadas:


Uma proposta para ênfase em
missões de curto prazo

No Nordeste do Brasil viagens de curto


prazo são uma realidade a partir de esforços
missionários de agências sérias dentre as quais a
JUVEP (Junta para Evangelização dos Povos) e
mais recentemente a AMIDE (Associação
Missionária para Difusão do Evangelho) através da
Agência de Desenvolvimento para Povos Não
Alcançados (ADPNAS). E diante deste
empreendimento percebe-se que a obra missionária
de longo prazo tem sido alimentada por ações de
missões de curto prazo. Ou seja, nestas iniciativas
inicialmente se procede um avanço missionário de
curto prazo (missões de curto prazo) seguido por
um processo maior de plantio de Igreja (missões de
longo prazo). É interessante perceber que diversas
Igrejas tem sido plantadas nesta dinâmica. No caso
da JUVEP com a ênfase em municípios com baixas
taxas de evangélicos.

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Rumo aos não
alcançados

No caso da ADPNAS em comunidades rurais com


pouco ou nenhum percentual de evangélicos.
Aqui portanto percebe-se que a missão de
curto prazo está convivendo bem com um
modelo mais amplo de missões de longo prazo,
uma complementa a outra. A missão de curto prazo
bem direcionada tem a vantagem de “abrir portas”
em diversas localidades. E a missão de longo prazo
consolida e confirma estas portas abertas com um
seguro processo de discipulado.
Na situação das duas agências citadas
percebe-se que os fatores positivos de missões de
curto prazo citados pelo Moreau et al. (2004) estão
sendo confir- mados, sobretudo nas comunidades
não alcançadas.
Tal avanço, em comunidades não alcançadas
(que segundo estatística recente totaliza 6000 no
nordeste brasileiro) tem ido de encontro à uma das
críticas sobre missões de curto prazo, que está
exata- mente no fato de se gastar dinheiro em
locais onde já se tem avanço da obra missionária e
portanto gerando um gasto desnecessário que
poderia ser empregado no próprio projeto local
sem a ida de missionários de curto prazo. O
problema é resolvido uma vez que nestas
comunidades não alcançadas não existem projetos
em execução (que justifiquem investimento direto,
haja vista são não alcançados) e portanto o trabalho
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Danilo Duarte Costa e
Silva
é por vezes pioneiro e carente ainda das primeiras
iniciativas. Embora consideremos parcialmente
verdadeira a questão de gastos excessivos em
alguns contextos com missões de curto prazo1,
sobretudo no caso americano, conforme já foi
referido, existem diversas iniciativas marcadas pelo
uso das missões de curto prazo como complemento
à missões de longo prazo e isto tem se multiplicado
em diversos contextos em movimentos de plantio
ao redor do mundo (GARRISSON, 2004).
Observando o caso brasileiro de
evangelismo em comunidades com pouco ou
nenhum percentual de evangélicos, percebe-se que
a obra de evangeliza- ção tem avançado a partir de
um entendimento da existência de “não
alcançados” no nordeste brasileiro (COSTA E
SILVA ET AL., 2016). E neste sentido dentre os
conceitos que sido aplicados para delimitação de
“povos não alcançados” no caso brasileiro, Costa e
Silva et al. (2016) têm apresentado os conceitos
definidos a partir do Winter e Koch (2002) que
destacam uma conceituação mais adequada para
promoção de ações

1. Sobretudo quando se pensa no contexto americano, uma vez que


conforme nos mostra Long (2017) o princípio básico para tais iniciativas
promovidas no Estados Unidos é apenas está fora do seu ambiente de
conforto (podendo serem desenvolvidas fora ou dentro do próprio país)
e portanto por vezes não havendo foco em locais onde mais precisa do
evangelho.

de plantio de Igreja, definindo povos não alcançados

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Rumo aos não
alcançados
(a partir do critério Unimax, quadro a seguir)
caracte- rizados a partir de uma rede de famílias
(característica de comunidade). Winter e Koch
(2002) apresentam um resumo das principais
tendências para povos não alcançados, bem como o
detalhamento de cada uma delas, destacando o tipo
de povo, o que os define, como defini-los,
quantidade e significância estratégica.
Quatro 1. Tipos de povos não
alcançados
(WINTER E KOCH,2002)

Tipos de povos não alcançados

Blocos
culturais Povos etno- Povos Sociopovos
maiores linguísticos unimax

Composição

Redes de
Categorias Frequen- famílias que
de grupo temente comparti- Associados
de povos grupos lham uma por iguais
identidade

O que “os define”

Fronteiras
Esfera linguísticas, Preconcei- Atividades
cultural/ étnicas e tos culturais ou
religiosa políticas e sociais interesses

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Danilo Duarte Costa e
Silva

Como defini-los

Dados Dados
publicados publicados Pesquisa Pesquisa
disponíveis disponíveis local local

Significância estratégica

Evange-
Mobilização Plantio de lismo de
Olhar global e estratégia Igreja pequenos
grupos

Quantidade

8 maiores
blocos Aproximada- Estimativa Desco-
culturais mente 3000 de 8000 nhecido

Fonte: Adaptado pelo autor (2017)

À luz do conceito de povos não alcançados a


partir do critério unimax do Winter e Koch (2002),
Costa e Silva et al. (2016) desenvolveram o
conceito de Comunidades Não Alcançadas como
sendo:

Uma comunidade de tamanho máximo


suficientemente unificado, formada a
partir de rede de famílias, que por vezes
sofreram exclusão social, a serem alvo de
um movi- mento único de pessoas à Cristo.

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Rumo aos não
alcançados

Observando o conceito de comunidades não


alcançadas (a partir do critério unimax) percebe-se
vantagens consideráveis se atrelando-as à avanços
missionários de curto prazo uma vez que são
formados a partir do que a antropologia
convencionou como etinicidade, ou seja, há uma
lógica de fluxo de entradas e saídas nas
comunidades que por sua vez formaram a base da
maneira de como se identificam (a partir de
preconceitos sociais). Tal cenário uma vez que é
flúido e não estático (como se fazia nas primeiras
contribuições de autores da antropologia dentre os
quais Malinowski e Evans-Pritchard) permite o
contato com o ambiente externo e isto tem uma
significância altamente estratégica, quando se
pensa em diminuir a distância cultural, motivo pelo
qual se tem elaboradas críticas à missões de curto
prazo2. Ou seja, focalizar tais comunidade não
alcançadas como alvo de missões de curto prazo
poderia ser uma alternativa para vencer estas
distâncias culturais que tem sido motivo de crítica
por parte de alguns autores.
Aqui portanto faço uma proposição de se
adotar as comunidades não alcançadas (CNAS) (a
partir do

2. Para maiores aprofundamentos sobre isto sugiro analisar o


pensamento exposto em Winter e Koch (2002).

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Danilo Duarte Costa e
Silva

critério unimax) como base para se introduzir um


traba- lho pioneiro de missões de curto prazo. Tal
proposição deve ser feita contudo a partir das
seguintes ressalvas:

a. Torna-se necessário uma investigação


prévia se tal comunidade está disponível
para rece- ber equipes e se tem
maturidade e experi- ência no processo
de fluxo com o ambiente externo
formando uma comunidade étnica. Ou
seja, se de fato é uma comunidade que
tem contato com fluxos externos e
portanto não se configura como uma
etnia ainda não explorada (hoje embora
seja raro no mundo atual pode-se talvez
se deparar com locais sem o mínimo de
contato com o mundo externo). Nestes
cenários uma pesquisa mais acurada se
faz necessária e portanto é preciso um
processo de plantio pautado em uma
ampla análise de antropologia aplicada à
missões (HIEBERT ET AL., 2000).
b. Torna-se necessário uma lógica de
continua-
ção do trabalho atrelada à iniciativa de
curto prazo. Embora reconheçamos
benefícios em trabalhos pontuais de curto
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Rumo aos não
alcançados
prazo de evangelismo, contudo a
proposta aqui vai

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Danilo Duarte Costa e
Silva

além de uma simples incursão de curto


prazo uma vez que tem a intenção de
plantio de Igreja em uma comunidade
não alcançada.

Analisando assim o cenário mais amplo


onde se pode aplicar o conceito de comunidades
não alcança- das, percebe-se que a mesma segue
uma lógica onde a introdução do evangelho tem
como possibilidade adentrar as barreiras
“transculturais” e uma vez que o mundo hoje está
marcado por uma lógica pautada pelo fluxo de
pessoas (características da globalização,
urbanização, viagens etc.) pensar de forma a
entender cultura como uma “ilha” isolada (com
raras exceções) não faz mais sentido em termos de
um sadio padrão cultural para introdução do
evangelho (WINTER E KOCH, 2002). Neste
sentido a ênfase na pregação do evangelho em
comunidades não alcançadas (apre- sentada acima,
a partir do critério unimax) está mais atualizada
com a situação do mundo hoje e portanto,
condizente em responder à pergunta da introdução
deste livro sobre uma ação de missões de curto
prazo adequada aos trâmites “transculturais”

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