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SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PÁRA


Campus Universitário de Abaetetuba
Faculdade de Educação e Ciências Sociais
Disciplina: Sociedade, Trabalho e Educação
Docente: Dr. João Paulo
Discente: Gevanildo Silva

Resenha crítica do texto: “Trabalho e educação:


fundamentos ontológicos e históricos de Dermeval Saviani”

SAVIANI, Dermeval. Trabalho e educação: fundamentos ontológicos e históricos.


Revista Brasileira de Educação. [online]. 2007, vol.12, n.34, pp.152-165. ISSN 1413-
2478.

Introdução
O presente texto se trata de uma resenha crítica de um artigo de Dermeval
Saviani que foi apresentado em 2006 na 29ª Reunião da Associação Nacional de Pós-
Graduação e Pesquisa e Educação (ANPEd), realizada em Caxambu, MG; e
posteriormente, em 2007, publicado na Revista Brasileira de Educação, cujo título é
“Trabalho e educação: fundamentos ontológicos e históricos”. Dermeval Saviani é um
professor, filosofo e pedagogo brasileiro, nascido em 25 de dezembro de 1943; autor de
vários livros e artigos sobre Educação, é o idealizador da Pedagogia Histórico-Crítica.
No artigo sobre o qual pretendo discorrer e analisar, Saviani busca definir e analisar o
trabalho em seu sentido ontológico, juntamente a uma perspectiva histórica; ele debate
como se efetua a relação entre o trabalho e a Educação, como eles se separaram com o
passar do tempo; o que ocorreu para se iniciar uma tentativa de juntarem eles
novamente; quais são as consequências dessa “união”; ele discorre sobre o trabalho
como princípio educativo e por fim termina falando sobre a educação politécnica.

Desenvolvimento

O sentido histórico-ontológico da relação trabalho-educação nasce a partir do


momento que entendemos que o homem é um ser que trabalha e educa. Entretanto,
essas características, segundo Saviani, não são inatas do ser humano, mas surgem por
acidente, frente à necessidade humana de transformar a natureza para se adequar ao seu
modo de vida, e por isso pode ser considerado como sendo a essência humana – o
trabalho. Sendo assim o homem cria sua própria essência o que “não é, então, dada ao
homem; não é uma dádiva divina ou natural; não é algo que precede a existência do
homem. Ao contrário, a essência humana é produzida pelos próprios homens.” (p. 154).
Daí a relação entre trabalho e educação, já que o homem não tem essência
natural, sua existência não é garantida pela natureza, sendo necessário ao homem
produzir sua existência, e para tal ele precisa aprender. É aí que Saviani vem dizer que
“a origem da educação coincide com a origem do homem mesmo.” (p.154). O que
podemos evidenciar em nossas experiencias, pois se observamos determinada
comunidade, percebemos que os mais velhos e mais experientes instruem e passam o
conhecimento aos mais novos, que por sua vez adquirem esse saber e o moldam a partir
da própria experiencia de vida e assim passam esse conhecimento remodelado para a
geração seguinte e assim sucessivamente.
É sob este contexto que o autor discorre a respeito das sociedades primitivas,
onde o modo de subsistência e produção ocorriam por meio de “produção comunal,
também chamado de ‘comunismo primitivo’. Não havia divisão em classes Tudo era
feito em comum”. (p. 154). A educação ocorria em concomitância com a vida do
indivíduo e não como um preparo para algo que ele viveria no futuro. A partir daí que
Saviani explica os fundamentos históricos-odontológicos da relação trabalho-educação:

“Fundamentos históricos porque referidos a um processo produzido e desenvolvido ao longo do


tempo pela ação dos próprios homens. Fundamentos ontológicos porque o produto dessa ação, o
resultado desse processo, é o próprio ser dos homens.” (Saviani, 2007, p.155)

Continuando sua discussão Saviani diz que com o desenvolvimento da produção


resultou na divisão de classes. Pois até então poderia ser afirmado que seria impossível
para o homem poderia viver sem trabalhar, mas com a divisão das classes se torna
possível aos proprietários viver do trabalho alheio, sendo responsabilidade dos não
proprietários sustentarem a si próprios bem como ao seu senhor. A divisão dos homens
em classes provoca uma divisão também na educação:

A partir do escravismo antigo passaremos a ter duas modalidades distintas e separadas de


educação: uma para a classe proprietária, identificada como a educação dos homens livres, e
outra para a classe não-proprietária, identificada como a educação dos escravos e serviçais. A
primeira, centrada nas atividades intelectuais, na arte da palavra e nos exercícios físicos de
caráter lúdico ou militar. E a segunda, assimilada ao próprio processo de trabalho. (Saviani,
2007, p.155)

Ele deixa claro que, diferente das sociedades primitivas, onde o trabalho era
comum a todos, e logo a educação também; na sociedade com divisão de classes a
educação destinada à classe dominante é diferente da qual é oferecida para a classe
dominada. De um lado os aprendizes provenientes da elite da sociedade eram educados
e preparados para o governo, do outro o que se ensinava era a arte e técnicas para ser
utilizadas no trabalho. (p. 156). Partindo daí ele apresenta a hipótese de que a escola é
usada como aparelho ideológico do estado para reprodução do modo de produção
capitalista. (p. 157). Ele conclui dizendo que “o modo como se organiza o processo de
produção – portanto, a maneira como os homens produzem os seus meios de vida – que
permitiu a organização da escola como um espaço separado da produção.” (p. 157).
A partir desse ponto ele começa a discutir a tentativa de retomar o vínculo entre
a educação e o trabalho. Como consequência às novas formas de produção e à
mecanização, a sociedade evolui “com isso, o domínio de uma cultura intelectual, cujo
componente mais elementar é o alfabeto, impõe-se como exigência generalizada a todos
os membros da sociedade.” (p. 158). Daí surge a necessidade de oferecer um ensino
básico a toda a população, “portanto, à Revolução Industrial correspondeu uma
Revolução Educacional: aquela colocou a máquina no centro do processo produtivo;
esta erigiu a escola em forma principal e dominante de educação.” (p. 159). Ainda assim
a divisão continuou presente “em dois grandes campos: aquele das profissões
manuais[...]; e aquele das profissões intelectuais”.
Desse momento em diante Saviani expõe somo o sistema de ensino como base
no principio educativo do trabalho. Segundo esse pressuposto necessita-se de um acervo
mínimo de conhecimentos sistemáticos para poder participar ativamente da vida da
sociedade. Sendo assim a escola, principalmente a educação básica, se torna responsável
por transmitir e sistematizar esse saber. No ensino fundamental, não é necessário “fazer
referência direta ao processo de trabalho”, pois a escola é somente “um instrumento, por
meio do qual os integrantes da sociedade se apropriam daqueles elementos, também
instrumentais, para a sua inserção efetiva na própria sociedade.” No ensino fundamental
a relação trabalho-educação é implícita e indireta, já no ensino médio “a relação entre
educação e trabalho, entre o conhecimento e a atividade prática deverá ser tratada de
maneira explícita e direta.” (p. 160). Nesta etapa da educação se desenvolvera a prática
a partir, e em conjunto com o estudo das teorias. “O ensino médio envolverá, pois, o
recurso às oficinas as quais os alunos manipulam os processos práticos básicos da
produção.”. Porém, não se trata somente de o aluno aprender e desenvolver técnicas, o
se pretende aqui, é formar politécnicos. “Politecnia significa, aqui, especialização como
domínio dos fundamentos científicos das diferentes técnicas utilizadas na produção
moderna.” (p.161). A última etapa da educação, é a educação superior a qual “cabe a
tarefa de organizar a cultura superior como forma de possibilitar que participem
plenamente da vida cultural,” (p.161). Saviani conclui seu texto discutindo sobre o uso
do termo politecnia, ele termina dizendo que “Não será o uso ou não de determinado
termo que as colocará em confronto.” (p.165).

Conclusão

Concluindo, pode-se afirmar que este artigo é importante para melhor


compreendermos como se dá a relação trabalho-educação. É um texto de fácil
entendimento e bastante relevante, principalmente no cenário em que se encontra a
educação brasileira atualmente; onde se apresentam reformas educacionais para o
ensino público, enquanto que o ensino privado permanece intacto, evidenciando assim a
divisão de classes, claramente representada pela diferenciação na maneira de se educar.
O texto ajuda a conscientizarmos e nos posicionarmos frente a situação e assim poder
reivindicar nossos direitos, bem como o direito de toda uma classe.

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