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Michèle Sato

Aleth da Graça Amorim


Aluízio de Azevedo Silva Jr
Barbara Yadira Mellado-Perez
OS CONDENADOS DA PANDEMIA
Carlos Roberto Ferreira Michèle Sato
Cássia F. dos Santos Souza
Celso Sánchez (Coord.)
Cristiane C. de Almeida Soares
Débora Erileia Pedrotti
Déborah L. Moreira S. Santos
Denize A. Rodrigues Amorim
Elni Elisa Willms
Eronaldo Assunção Valles
Flavia Lopes Bertier
Giseli Dalla-Nora
Giselly Rodrigues N. S. Gomes
Irineu Tamaio
Jessica P. Trujillo Souza
Kathy de Freitas M. dos Reis
Marilena Loureiro da Silva
Priscilla Mona de Amorim
Raquel Batista Ramos
Regina Aparecida Silva
Roberta Moraes Simione
Romário Custódio Jales
Ronaldo E. Feitoza Senra
Tatiani do Carmo Nardi
Thiago Cury Luiz
Vitor Maciel Mello Banksy

CNPq-FAPEMAT
Grupo Pesquisador em Educação Ambiental, Comunicação e Arte – GPEA
Universidade Federal de Mato Grosso – UFMT
Rede Internacional de Educação Ambiental e Justiça Climática - REAJA OS CONDENADOS DA PANDEMIA
CNPq- Fapemat
Editora Sustentável Michèle Sato
Aleth da Graça Amorim
Capa e colaboradoras de imagens: Aluízio de Azevedo Silva Jr
Cristiane Almeida Soares e Roberta Simione Barbara Yadira Mellado-Perez
Carlos Roberto Ferreira
Arte gráfica: Michèle Sato
Cássia F. dos Santos Souza
COMITÊ DE LEITURA (Observare) Celso Sánchez
Angélica Cosenza, UFJF Cristiane C. de Almeida Soares
Fátima Marcomin, UNISUL
Marco Barzano, UEFS
Débora Erileia Pedrotti
Mauro Guimarães, UFRRJ Déborah L. Moreira S. Santos
Philippe Layargues, UnB Denize A. Rodrigues Amorim
Elni Elisa Willms
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Eronaldo Assunção Valles
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Flavia Lopes Bertier
Giseli Dalla-Nora
Os condenados da pandemia (livro eletrônico) / Giselly Rodrigues N. S. Gomes
Michèle Sato (Coord.) e vários autores
Irineu Tamaio
Jessica P. Trujillo Souza
Cuiabá, MT: GPEA-UFMT | PDF, 157 p. il.
Kathy de Freitas M. dos Reis
Vários autores. Marilena Loureiro da Silva Figueiredo
ISBN 978-65-00-03844-6 Priscilla Mona de Amorim
Raquel Batista Ramos
1.Coronavírus (COVID-19) – Epidemiologia 2. Desigualdade social 3. Grupos sociais. 4. Meio Regina Aparecida Silva
ambiente – aspectos sociais 5. Periferia – Brasil – Condições sociais I. Sato, Michèle Roberta Moraes Simione
Romário Custódio Jales
20-37282
CDD-305.5 Ronaldo E. Feitoza Senra
Tatiani do Carmo Nardi
Thiago Cury Luiz
Índices para catálogo sistemático: Vitor Maciel Mello
1. Coronavírus: COVID-19 : Grupos sociais : Desigualdade social : Sociologia 305.5
Cuiabá: 2020
Cibele Maria Dias – Bibliotecária – CRB-8/9427
GPEA-UFMT & Ed. Sustentável
RESUMO
Tudo Buscamos oferecer um breve panorama de 22 grupos sociais em
situação de vulnerabilidade, denunciando que há um falso discurso
será difícil de dizer: sobre a “democracia” do coronavírus, na afirmação de que é um
a palavra real vírus que atinge todos, sem distinção de classes. É um erro porque
se o contágio for universal, as mortes são localizadas. Na
nunca é suave. cartografia das desigualdades, a Covid-19 mata principalmente os
que habitam a geografia da fome.
Palavras-chave: Pandemia. Grupos expostos. Emergência climática. Educação
Não há piedade nos signos ambiental.

e nem o amor: o ser


é excessivamente lúcido ABSTRACT
e a palavra é densa e nos fere. We aim to give a brief overview of 22 social groups in situations of
vulnerability, denouncing that there is a false discourse about the
“democracy” of the coronavirus, in the affirmation that it is a
~ Orides Fontela virus that affects everyone, regardless of class. It is a mistake,
Toda palavra é crueldade because if the contagion is universal, the deaths are localized. In
Transpiração, 1969 mapping inequalities, Covid-19 mainly kills the inhabitants of
geography of hunger.
Keywords: Pandemic. Exposed groups. Climate emergency. Environmental
education.
GRUPOS FAMILIARES
(1) 30 (2) 38 (3) 46
8
Cthulhuceno: esperanças
Crianças em risco Crueldades duplas: Ser idoso em tempos
na pandemia Covid-19 e a violência de pandemia do
nas ruínas do capitalismo Covid – 19 contra as mulheres e coronavirus
meninas

GRUPOS IDENT ITÁRIOS


(4) 54 (5) 60 (6) 66 (7) 70 (8)76 (9) 82 (10) 88 (11) 94 (12) 98 (13) 102
Ciganos Como ficam os Quilombolas e as “Você ainda está Florestas: Quando as Covid 19: um Os condenados Covid-19 e o Pessoas com
andarilhos: indígenas em precárias em análise”: a povos, grupos, cores se triste olhar da cidade: vírus que avança deficiência (PcD) e
tolhidos para meio aos sóis condições de população negra comunidades e tingem de sobre os população em pela periferia a ausência de
confinamento da Amaral? saúde no e o coronavírus! trabalhadores sangue migrantes situação de rua urbana orientações
enfrentamento à de esperanças climáticos adequadas
Covid-19.

GRUPOS TRABALHADORES
(14) 108 (15) 112 (16) 116 (17)
120 (18)124 (19)128 (20)132 (21)
136 (22)140
Precarização Valores Trabalhadores dos Entregadores Catadores de No bem-estar das Em tempos de Transportes e Janelas
do trabalho, imateriais das supermercados na de sonhos: esperanças: nossas casas, Covid, de onde riscos coletivos balaustradas
da saúde e da profissionais garantia do recebedores de reciclando trabalhadores vem nosso e individuais de farrapos
vida digna da saúde alimento de todos solidão que não podem
144
possibilidades alimento? humanos
“ficar em casa”

Autoras
& Autores
CTHULHUCENO:
esperanças nas ruínas
do capitalismo

Michèle Sato
10 11
11
As autoras e os autores deste Caderno de Temos ciência de que a Covid-19
Condenamos, com o coração aflito, esses (COronaVIrus Disease) é
Balbúrdia acreditam que o período de
irmãos que são jogados à ação com a pandemia explicita claramente o abismo consequência das ações capitalistas,
brutalidade quase psicológica que faz socioeconômico entre os habitantes deste que destruíram a natureza e
nascer e manter uma opressão secular planeta. São centros e periferias que se libertaram vírus que viviam em seus
(Frantz Fanon). chocam injustamente em atendimento hospedeiros. Não é o coronavírus,
médico, disposição de leitos, acesso dos nem o morcego ferradura e nem o
remédios e ausência da formação pangolim que são os vilões desta
educativa que consiga demonstrar o pandemia, mas a interferência
Abrimos a apresentação deste perigo da pandemia. humana na natureza, destruindo
Caderno de Balbúrdia – “Os ambientes, comercializando animais
condenados da Pandemia”, de forma cruel e libertando os vírus
Somos do Grupo Pesquisador em
reconhecendo intensamente viva a para além de seus hospedeiros diretos
Educação Ambiental, Comunicação e
obra de Frantz Fanon (2004-original ou intermediários.
Arte (GPEA) da Universidade Federal de
de 1961), “Os condenados da Igualmente, recusamos a acreditar que
Mato Grosso (UFMT), em parceria com
Terra”, que buscou compreender a seja um coronavírus “socialista ou
5 países e 17 entidades governamentais
condição pós-colonial sob a democrata” por contaminar todos sem
e não governamentais, sendo que as
reinvenção de um pensamento entre distinção de classe, raça ou credo. Sua
universidades representam a maioria
centro e periferias, numa cartografia forma de contágio pode ter uma
do Brasil, México, Cuba, Portugal e
que rompesse com as visões cartografia universal, contudo, o índice
Espanha. Juntos, compomos a Rede
binárias entre metrópoles e colônias. de mortes é violentamente maior nas
Internacional de Pesquisa em Justiça
O título se refere à parte inicial do periferias, e expressa, novamente, a
Climática e Educação Ambiental
hino francês “A Internacional”, e geografia da fome. Democracia só
(REAJA), com financiamento do
Fanon ajuíza sobre a divisão de existe quando as condições de acesso
Conselho Nacional de Desenvolvimento
raças e as violências geradas entre o médico forem iguais, quando os
Científico e Tecnológico (CNPq - 2014-
colonizador e o colonizado. trabalhadores conseguirem comprar
Frantz Fanon em Accra (Gana), em 1958 16) e da Fundação de Amparo à
(Foto: African American Intellectual Pesquisa do Estado de Mato Grosso seus remédios, ou quando as máscaras
History Society). (Fapemat - 2016-20). forem de preços acessíveis a toda
população.
12 13
Essencialmente, os governantes carecem de valorizar a manutenção do Sistema Entretanto, interessa-nos bastante os
Único de Saúde (SUS), na advocacia da saúde pública de excelência para todos discursos de Donna Haraway (2015;
os cidadãos. É preciso criar um tempo e espaço diferente de brasilidade. É preciso 2016), que abrange o debate
criar uma era de soberania popular para garantir a JUSTIÇA PANDÊMICA, feminista questionando o termo
climática ou socioambiental. A Covid-19 é uma força que enfraquece a Terra, masculino “Homem – Antropo”. Por
mas o pior talvez esteja ainda por vir, nos desastres avassaladores da crise meio do Cthulhuceno, ela também
climática. combate o capitalismo, o racismo, o
colonialismo e promove a união da
Primeiro natureza e cultura, no convite ético de
round Patrick Chappatte Após o Antropoceno, diversos considerar a vida selvagem próxima
Climate Home News artigos científicos desfilam com às vidas humanas, como preconiza
diferentes propostas e contextos, Gudynas (2019), em suas
como Capitaloceno, Plantioceno, proposições biocêntricas e de direitos
Naftaloceno, Ginoceno, éticos da natureza.
Crise climática Cosmoceno, Ecoceno ou Necroceno,
entre outras denominações. São
tantas designações, que Clark
(2019) resolveu inventar o
“Idiotaceno”, uma era de eleições de
pessoas incompetentes e ecocidas.
Paul Crutzen (2002) intitulou o atual período geológico de “Antropoceno (Era do A publicação no site do Instituto
Humano)”, demarcado pelo crescimento acelerado das indústrias nas cidades, e Interdisciplinar de Pesquisa no
pela pesada mecanização da agricultura no campo, com altíssimo consumo de Antropoceno traz a fotografia do
energia e consequente liberação dos Gases de Efeito Estufa (GEE) – que NÃO se Donald Trump como ilustração
resumem somente em dióxido de carbono (CO2). Estas atividades geraram a crise deste período geológico.
climática e alguns autores alegam que a interferência humana no ambiente
varia de humano para humano, conforme a atividade mercadológica Cthulhu and Lovecraft
empreendida pelo capital (MOORE, 2016). By Michael Wolf
14 15
Haraway (2016) associa uma aranha de 8 patas (Pimoa cthulhu) com a A) GRUPOS FAMILIARES: crianças (1), mulheres
criatura dos abissais, Cthulhu, criado em 1934 por Harold Lovecraft (2017): (2) e idosos (3).
um ser cósmico, gigante e mortalmente poderoso que dorme nas profundezas
do Pacífico, sendo metade polvo (8 tentáculos), e metade dragão (muito
presente nos jogos atuais e com enorme presença nos filmes de terror).
Não se trata de adicionar uma personagem apocalíptica nas equações dos
desastres, mas de valorizar os invertebrados (97% da biodiversidade), nos
B) GRUPOS IDENTITÁRIOS: ciganos (4),
diálogos com outros saberes literários ou mitológicos. Haraway (2015),
clama para construir uma nova era geológica intitulada Cthulhuceno, como indígenas (5), quilombolas (6), negras e
proposta para se viver nas ruínas do capitalismo, com mais cuidado com os negros (7), povos da floresta (8), Lésbicas,
animais, menos episódios racistas, finalização dos ideários colonizadores e Gays, Bissexuais, Travestis e demais (LGBT+)
mais dignidade nas relações de gênero. Em palavras abreviadas, o (9), migrantes (10), pessoas em situação de
essencial da era Cthulhuceno é tornar visíveis as inúmeras rua (11), moradores da periferia e favelas (12);
existências invisibilizadas. além das Pessoas com Deficiência (PcD) (13).

É este também nosso objetivo, já que o contágio da Covid-19 pode ser


universalizado, contudo, os índices de mortes são muito maiores nos
subúrbios. Boaventura Santos (2020) lembrou de 8 grupos mais atingidos
pela pandemia: 1) Mulheres; 2) Trabalhadores precários (ou desempregados);
C) GRUPOS TRABALHADORES: desempregados
3) Trabalhadores de rua; 4) Populações de rua; 5) Moradores da periferia; 6) (14), trabalhadores da saúde (15), de
Refugiados e deslocados; 7) Deficientes e 8) Idosos. supermercados (16), entregadores (17), gari e
catadores (18), trabalhadores dos
Nesta obra, tratamos de 22 grupos sociais em situações de riscos, e estamos condomínios (19), trabalhadores do campo
cientes de que podemos estender esta lista, incluindo grupos como os (20), motoristas e passageiros (21), além dos
frentistas de postos, empregadas domésticas ou bombeiros, entre outros. agentes de segurança e presidiários (22).
No limite de nossa contribuição, e para efeito didático, dividimos os 22
coletivos em 3 grandes seções:
16 17
A capa desta obra foi
Não foi nossa intenção registrar números de contágios, mortes ou quadros desenhada pela Cristiane C.
que rapidamente oscilam num momento de pandemia. Nossa meta foi Almeida Soares e Roberta
evidenciar os grupos de maneira breve, mas incisiva em teimar pelas suas Simione, retratando uma
existências, suas dores e ser uma espécie de lanterna no túnel escuro, situação real de uma política
mostrando os contornos de corpos que estão invisibilizadas pelo sistema fascista contaminada pelo
excludente. coronavírus, com um
Algumas vezes são grupos que não bozoniano de verde amarelo
conseguem se defender das usando seu tempo de
violências verbais, físicas ou isolamento social no fitness, na
sexuais, sofrendo diversos tipos de direção oposta ao entregador
agressões e abusos. Outras vezes negro, que tem a sua bike
são grupos étnicos, cujas dimensões lotada de caixas e produtos
culturais se chocam violentamente
contra as orientações oficiais
para entrega. O muro branco
lembra o disco do Pink Floyd Pink
brancas, hegemônicas e
capitalistas. Na maioria das vezes,
(The Wall), e a música “Hey
you”, parece ressoar neste Floyd
são pessoas economicamente parágrafo, cujo trecho merece
desfavorecidas, em situação de ser destacado:
vulnerabilidade, que não possuem o
direito de “Ficar em Casa”, não têm “Hey you,
The
facilidade para acessar água limpa
e sabão, e muito menos comprar
do not help them WALL
to bury the light!
uma máscara para minimizar o
contágio. Vivem ainda em colônias Do not give in without a fight!”
escravocratas, muitas vezes sob o (Ei você,
chicote do patrão, ou exercem não os ajude
aquilo que chamamos de “serviços a enterrar a luz!
essenciais”. Não desista sem lutar!).
Michelle Blues
Toda situação é observada pelo Cthulhu, e Estamos vivendo uma guerra e as pessoas
de tempos em tempos, ele surgirá nas nem sequer sabem! Estamos diante do
páginas da obra, no convite reflexivo de colapso planetário que demarca o caos
construir uma nova era, pois o que estava civilizatório! No panorama das disputas
antes não pode ser considerado “normal”, de podres poderes, Andrew Korybko
já que foi o período que mais promoveu (2018) denuncia que a Guerra Híbrida é a
as desigualdades e os preconceitos, além combinação entre as revoluções coloridas
da destruição de animais silvestres, e as guerras não convencionais.
florestas, matas, rios, oceanos e ares,
gerando uma crise sem precedentes.

O cenário político é um verdadeiro


coquetel de desigualdades explosivas
(LATOUR, 2018), com
desregulamentação da governança e a
conversão do sonho da globalização em
pesadelo. A única maneira de O termo “colorido” está relacionado com
sobrevivência, para a minoria dos ricos, diversos movimentos do início da década
é não compartilhar o futuro com a dos anos 2000, que tiveram origem na
maioria pobre. Disso decorre o maciço Rússia e China. São revoluções não-
investimento ao negacionismo da crise violentas de “pretensa” resistência, como
climática e o absurdo da Terra plana. greve, protestos ou manifestações de
Insatisfeitos com os ideários da pressão. Tais movimentos adotaram cores
Modernidade, aumentam a proteção das ou símbolos que se evidenciaram como a
bordas de países com preconceitos revolução rósea da Georgia (2003), a
étnicos ou dos fluxos migratórios, revolução laranja da Ucrânia (2004), ou a
crescendo a xenofobia de maneira revolução azul do Kuwait (2005), entre
Observatório da evangelização outros exemplos.
neonazista. https://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/

18 19
20 21
A guerra híbrida é uma estratégia de Se estamos aprendendo a realizar
guerra que mescla vários meios – diversos tipos de guerras, é bom
artilharias conhecidas e também as deixar eloquente de que a crise
irregulares e não consagrados, como climática e a pandemia do
protestos, redes sociais ou hackers. coronavírus não são fenômenos
Há um estudo intenso sobre naturais, mas são antropogênicos,
psicologia e semiótica nas redes com fortes intervenções humanas no
sociais, visando criar mecanismos planeta. Por isso, o negacionismo e a
para desestabilizar alguma política Terra plana são estratégias da guerra
com fakenews, provocando híbrida para confundir e gerar
insegurança nas informações, incertezas sobre a emergência
escandalizando a imagem, semeando climática. No Brasil, a reunião
as mentiras, fomentando as pública do governo federal (maio
agressões das palavras, provocando 2020), com seus ministros, revelou
contradições ou frases abstratas para uma mórbida necropolítica da
confundir, chocar ou incendiar uma natureza e do genocídio Covid-19,
situação de conflito. Uma outra fase que Ritchie e outros (2020) projetam
mais agressiva tem uso das armas estudos de previsão de mortes com
convencionais, e se caracteriza como números assustadores no Brasil.
um “golpe rígido” (Ibidem, p. 10),
usando forças insurgentes como as
guerrilhas, as milícias, a diplomacia,
o cyberwar, golpes ou terrorismos
bastante presentes no Brasil atual,
como o assassinato da Marielle!

Anônimo – analfabeto político


https://www.facebook.com/pg/analfapolitico/about/?ref=page_internal
22 23
O Observatório do Clima (2020) alerta
que houve redução da emissão dos Os filmes e as animações de distopia
gases estufa na ordem de 6% em todo o sobre o futuro abordam o ser humano
mundo. Fruto da baixa poluição e vivendo de maneira primitiva. Para
isolamento social, diversos vídeos são Watson (2019), é imprescindível
compartilhados nas redes sociais, com vivermos de maneira simples, e ela
os animais invadindo as cidades. oferece outras propostas de se viver
Contudo, na contramão do processo, o com baixa tecnologia e muito
Sistema de Estimativas de Emissões de indigenismo. Publicações de como
Gases de Efeito Estufa acusa que as fazer pontes, casas, hortas e pequeno
taxas do Brasil aumentaram entre 10% manual de sobrevivência começam a
e 20% em razão do desmatamento na surgir nas ofertas das livrarias.
Amazônia, o que desvia e fere
brutalmente a Política Nacional de A depressão vai vagando nos labirintos
Mudança do Clima. existenciais, mas a esperança ainda busca
Marques (2020) apresenta bons energia para não sucumbir entre uma
argumentos na hipótese de que a pandemia que mata rápido, e um
próxima pandemia poderá ser fascismo que vai matando aos poucos por
originada por alguma zoonose da meio de torturas da atual política federal.
Amazônia. É provável que as Entretanto, não estamos cristalizados, e
máscaras sejam um novo perfil social cada qual faz o melhor de si. Uns
que integrará a cultura da realizam pesquisas científicas, outros
humanidade. Alguns realistas demais escrevem poesia. Uns escrevem livros,
(talvez pessimistas) já condenaram a outros pintam cenários. Uma mão borda,
Terra, buscando alternativas que a outra segura um doente no hospital.
possam conduzir o humano a Uma lágrima escorre e, por vezes, o
continuar sua jornada em outro desespero chega doloroso.
Tarsila do Amaral
planeta.
antropofagia
Sempre será um desafio, e sempre será uma oportunidade para
lembrar da travessia entre os moinhos de vento para que Quixote não
abandone seus sonhos. Da teimosia de Luther King por exigir seus
sonhos, HOJE! Do afinco do empate de Chico Mendes para combater a
noção de propriedade da natureza. Da libertação contra o opressor nas
aprendizagens mãos dadas com Paulo Freire. E no anoitecer da luta,
depois de engolir a seco as violências de um dia, será preciso dominar
a dor para alvorecer e tentar de novo. E se não der certo, tentar outro
meio. E de novo. E sempre!

A arte de esculpir uma nova humanidade talvez esteja longe de ser


concretizada, mas várias lições podem ser aprendidas quando a morte
se avizinha tão rapidamente. Quando o Estado se ausenta, as favelas
se organizam, pois os coletivos unem forças para que nunca percamos
a marca essencial da existência humana: a esperança.

24 Banksy 25
26 27

REFERÊNCIAS
CLARK, John. Welcome to the Idiocene. Institute for Interdisciplinary Research into the MOORE, Jason (Ed.). Anthropocene or Capitalocene? Oakland: PM Press, 2016.
Anthropocene, 10/07/2019. Retrieved on 20/05/2020
<https://iiraorg.com/2019/07/10/welcome-to-the-idiocene/> OBSERVATÓRIO do Clima. Brasil contraria tendência global e pode ter alta em emissões
na pandemia 21/05/2020. Acesso em 21/05/2020
CRUTZEN, Paul. Geology of mankind. Nature, v. 415, p. 23, january, 2002. [http://www.observatoriodoclima.eco.br/brasil-contraria-tendencia-global-e-pode-ter-alta-
em-emissoes-na-pandemia/].
FANON, Frantz. The wretched of the Earth. New York: Grove Press, 2004 [first published on
1963]. RITCHIE, Hanna et al. Coronavirus pandemic (Covid-19) in Brazil. Our World in Data, May
23th, 2020. Retrieved on May 23th, 2020 [https://ourworldindata.org/coronavirus-
GUDYNAS, Eduardo. Direitos da Natureza - ética biocêntrica e políticas ambientais. Trad. brazil?country=BRA].
Igor Ojedas. São Paulo: Elefante, 2019.
SANTOS, Boaventura S. A Cruel Pedagogia do Vírus. Coimbra: Almedina, 2020.
HARAWAY, Donna. Anthropocene, Capitalocene, Plantionocene, Cthulhucene: making kin.
Environmental humanities, v. 6, p.159-165, 2015. Retrieved on 17/07/2017 WATSON, Julia. Lo-Tek design by radical indigenism. Cologne: Taschen, 2019.
[https://environmentalhumanities.org/arch/vol6/6.7.pdf].

HARAWAY, Donna. Staying with the trouble - making kin in our Cthulhucene. London &
Durham: Duke University Press, 2016.

KORYBKO, Andrew. Guerras híbridas - das revoluções coloridas aos golpes. Trad. de Thyago
Antunes. São Paulo: Expressão Popular, 2018.

LATOUR, Bruno. Down to Earth - Politics in the new climate regime. Cambridge: Polity Press,
2018.

LOVECRAFT, Harold. Medo clássico v. 1. Rio de Janeiro: DarkSide Books, 2017.

MARQUES, Luiz, Serão as pandemias gestadas na Amazônia? Instituto Humanitas


Unisinos, em 15/05/20 – Acesso in 22/05/20 [http://www.ihu.unisinos.br/598974-serao-
as-proximas-pandemias-gestadas-na-amazonia-analise-de-luiz-marques]
GRUPOS
FAMILIARES

Modigliani
30 31
FAMILIAR
Damaris Martins

...Miguilim não sabia,


Miguilim quase nunca sabia
as coisas das pessoas grandes.
~ Guimarães Rosa [Campo Geral]

No atual cenário pandêmico, as crianças merecem


nossa total atenção, pois como anuncia Guimarães
Rosa (2010) na epígrafe, elas quase nunca sabem
das ameaças e por isso ficam mais expostas, tanto
pela Covid-19, como pelas agressões dos adultos:

O boletim mais recente [maio] da Secretaria


Estadual de Saúde do Rio de Janeiro já
contabiliza 23 crianças de 0 a 10 anos
contaminadas pelo novo coronavírus, no
entanto, segundo os especialistas, essa faixa
etária sofre menos com os sintomas da
doença (1).

(1) https://www.sbp.com.br/imprensa/detalhe/nid/criancas-na-pandemia-pais-
devem-explicar-a-doenca-e-ficar-atentos-aos-pequenos-em-casa/ Acesso em
09/05/2020
32 33
Devemos estar atentos para evitar
Mais uma razão por que precisam ser violências que podem provocar danos Devemos sempre dizer
protegidas como garante o Art. 227 com repercussões negativas para a abertamente ao paciente
da Constituição Federal de 1988 vida e saúde física e emocional dos infantil que ele é dono do seu
(BRASIL, 1988), e assegurado no Art. pequenos. corpo e explicar que ninguém
4º do Estatuto da Criança e do Se suspeitarmos de negligência, pode tocá-lo sem autorização.
Adolescente que aponta: violência ou exploração é nosso dever Além disso, esclarecer quais
entrar em contato com o Disque 100. são os limites do carinho e
É dever da família, da sociedade e É gratuito e não precisa identificar-se. ajuda, até mesmo com os
do Estado assegurar à criança, ao cuidados de limpeza e saúde.
adolescente e ao jovem, com Segundo a Sociedade Brasileira de (AZEVEDO, 2018).
absoluta prioridade, o direito à Pediatria (SBP) ao percebermos os
vida, à saúde, à alimentação, à sinais a seguir devemos estar
A promoção dessa autonomia no
educação, ao lazer, à atentos: lesões ou comportamentos
indivíduo desde pequeno é fundamental,
profissionalização, à cultura, à atípicos; medo por pessoa, mudança
pois na maior parte dos casos, as
dignidade, ao respeito, à liberdade brusca de comportamento, atitudes
violações de direitos acontecem no âmbito
e à convivência familiar e violentas, fugas repentinas sem
familiar, por aqueles que deveriam zelar e
comunitária, além de colocá-los a motivo aparente. Saber reconhecer
garantir a segurança das crianças e
salvo de toda forma de esses indicadores é parte
adolescentes. Infelizmente, o agressor
negligência, discriminação, fundamental da assistência que um
próximo dificulta a detecção e a
exploração, violência, crueldade e adulto pode oferecer a uma criança
visibilidade do abuso.
opressão(BRASIL, 1990). que sofre algum tipo de violência.
Embora todos os dias sejam importantes
A presidente do Departamento
Pediatras e professores ocupam uma para proteger uma criança, o dia 18 de
Científico de Adolescência da SBP, Dra.
posição privilegiada para perceber, maio é considerado o Dia Nacional de
Alda Elizabeth Azevedo esclarece que:
reconhecer e denunciar ameaças usadas Combate ao Abuso e Exploração Sexual
contra as crianças. Contra Crianças e Adolescentes.
34 35
Listamos alguns materiais produzidos recentemente com orientações para
cuidar e proteger as crianças:

Cartilha com orientações da FIOCRUZ para dar subsídios aos adultos que
cuidam e educam crianças (1).
Como falar sobre o Coronavírus com as crianças? Livro Pequenos cientistas:
mundo invisível (2).
Coronavírus: vamos nos proteger. Material acessível às crianças, produzido
pela secretaria de saúde do governo federal (3).
As colunas diárias do psicólogo e educador português Eduardo Sá trazem
importantes contribuições para adultos e educadores. Conferir alguns dos
textos nesse Blog do autor https://www.eduardosa.com/blog/a-escola-
toda/as-crian%C3%A7as-com-m%C3%A1scara-ser%C3%A3o-as-mesmas-de-
todos-os-dias/
“El estado emocional de las/os niñas/os y adolescentes a más de
unmesdelaislamiento social, preventivo y obligatorio”. Material produzido na
Argentina pode ajudar adultos e educadores a bem guiar as crianças neste
tempo de pandemia (4)..

(1). https://www.fiocruzbrasilia.fiocruz.br/wp-content/uploads/2020/05/crianc%cc%a7as_pandemia.pdf
Acesso em 08/05/2020
(2).http://www.ensp.fiocruz.br/portalensp/informe/site/arquivos/anexos/3215a7cc0290409c2e269c019856
66f97fa3f3fb.PDF Acesso em 09/05/2020
(3). https://www.saude.gov.br/images/pdf/2020/April/06/Cartilha--Crian--as-Coronavirus.pdf Acesso em
09/05/2020
Candido Portinari (4). https://www.sap.org.ar/uploads/archivos/general/files_estado-emocional-cuarentena-present-04-
20_1588036236.pdf
Meninos brincando
36 37

PARA SABER MAIS


FIOCRUZ - Crianças na pandemia Covid – 19. Disponível
em<https://www.fiocruzbrasilia.fiocruz.br/wp-
content/uploads/2020/05/crianc%cc%a7as_pandemia.pdf> Acesso em 08 maio 2020.

Sociedade Brasileira de Pediatria - Crianças na pandemia. Pais devem explicar a doença e


ficar atentos aos pequenos. Disponível
em:<https://www.sbp.com.br/imprensa/detalhe/nid/criancas-na-pandemia-pais-devem-
explicar-a-doenca-e-ficar-atentos-aos-pequenos-em-casa/> Acesso em 09 maio2020.
REFERÊNCIAS
AZEVEDO, Alda Elizabeth.Pelo enfrentamento ao abuso e à exploração sexual, SBP UNICEF - Nota técnica: Proteção da Criança durante a Pandemia do Coronavírus. Disponível
divulga orientações aos pediatras. Sociedade Brasileira de Pediatria. 8/05/2018. em: <https://www.unicef.org/brazil/media/7561/file> Acesso em 06 maio 2020.
Disponível em https://www.sbp.com.br/imprensa/detalhe/nid/pelo-enfrentamento-
ao-abuso-e-a-exploracao-sexual-sbp-divulga-orientacoes-aos-pediatras/Acesso em UNICEF - Dicas para proteger crianças e adolescentes da violência em tempos de
09/05/2020 Coronavírus. Disponível em: <https://nacoesunidas.org/unicef-da-dicas-para-proteger-
criancas-e-adolescentes-da-violencia-em-tempos-de-coronavirus/> Acesso em 06 maio
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil, 2020.
promulgada em 5 de outubro de 1988. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm> Acesso em 06
maio 2020.

BRASIL. Lei Federal n. 8.609, de 13 de julho de 1990. Estatuto da Criança e do


adolescente. Disponível em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm>
Acesso em 06 maio2020.

ROSA, João Guimarães. Corpo de baile. Volume I. 3.ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira,
2010.
38 39
FAMILIAR

A violência contra mulheres e meninas aumentou


consideravelmente devido ao isolamento social, medida
preventiva adotada na maioria dos países para conter o avanço
do contágio da Covid- 19 (NAÇÕES UNIDAS DO BRASIL, 2020a).
A violência contra pessoas do sexo feminino não é um fenômeno
social extraordinário, pelo contrário, é tão corriqueiro,
permanente e danoso à sociedade que também é considerada
pela Organização das Nações Unidas como uma pandemia
(NAÇÕES UNIDAS DO BRASIL, 2014).

Em tempos de angústia causada pela possibilidade da morte e de


ansiedade provocada pela insegurança financeira, os alvos da
violência doméstica continuam sendo mulheres e meninas isoladas
em casa com seus parceiros e parentes, como sempre têm sido na
sociedade brasileira (VIEIRA e GARCIA, 202O; MATOS e PARADIS,
2014). Elas têm a vida duplamente ameaçada: uma pela Covid-19; Sweta Prasad
e a outra, social quase patologicamente existente ao lume de
todos, com penalidades ainda nas sombras.
40 41

Seleção de algumas manchetes sobre a violência contra as mulheres (por Denize Amorim, 2020)
42 43
b) A Lei N°13.104/2015, inovação A Educação Ambiental compreende que as questões
Assim a crueldade contra as mulheres jurídica notável, tipifica o crime de socioambientais que tratam das violências e conflitos
nestes tempos de Covid 19 é feminicídio, mas ainda não é necessitam rapidamente de uma nova postura de aprendizagem
denominada de “pandemia das possível visualizar a diminuição dos para esses novos tempos (SATO, 2020).
sombras” (NAÇÕES UNIDAS DO atos criminosos. Por causa dessa
BRASIL, 2020b). Uma causada pelo dupla ameaça à vida, protocolos
vírus invisível e a outra invisibilizada internacionais estão sendo
pelo patriarcado. Nas últimas décadas recomendados aos países, mas
destacam-se duas ações jurídicas e de apesar do sofrimento pelo qual
segurança para conter tal violência: passa parcela significativa da sua
população, o governo brasileiro
a) A Lei N°11.340/2006, conhecida mantém-se praticamente inerte
como “Lei Maria da Penha”, que (ONU BRASIL MULHERES, 2020;
recrudesceu a violência às mulheres TOKARSKI e ALVES, 2020). Em Mato
brancas, mas aumentou a das Grosso, o feminicídio aumentou em
mulheres negras (CERQUEIRA et al, 400% em março, comparado ao
2014) - isso se deve a fatores mesmo mês do ano passado
interseccionados, destacando o (BUENO et ali, 2020). O amplo
patriarcado reinante e a desigualdade debate e divulgação de casos e
de renda das mulheres deste grupo em números dos dois temas é
relação aos dos demais grupos, importante para que a sociedade se
causada também pelo racismo sensibilize e promova, urgentemente,
estrutural e sexismo (RIBEIRO, 2016); ações públicas e cooperadas às
mulheres e meninas nessa situação
(BBC News, 2019; CORTEZ,
MOREIRA e GODOY, 2020).
Lisa Vollrath
44 45

REFERÊNCIAS CITADAS E CONSULTADAS


BBC News. O estupro não é um ato sexual, é de poder, de dominação', diz Rita Segato, a feminista NAÇÕES UNIDAS DO BRASIL. Chefe da ONU alerta para aumento da violência doméstica
que inspirou 'O estuprador é você'. G1 Notícias, 2019. Disponível em: durante a pandemia do corona vírus. Nações Unidas Brasil, 2020a. Disponível em:
https://g1.globo.com/mundo/noticia/2019/12/21/o-estupro-nao-e-um-ato-sexual-e-de-poder- https://nacoesunidas.org/chefe-da-onu-alerta-para-aumento-da-violencia-domestica-em-meio-
de-dominacao-diz-rita-segato-a-feminista-que-inspirou-o-estuprador-e-voce.ghtml. Acesso em: 11 a-pandemia-do-coronavirus/. Acesso em: 10 maio 2020.
maio 2020.
NAÇÕES UNIDAS DO BRASIL. Artigo: Violência contra mulheres e meninas é pandemia das
BUENO, Samira; LIMA, Renato Sérgio de; SOBRAL, Isabela; PIMENTEL, Amanda; FRANCO, Beatriz; sombras. Nações Unidas do Brasil, 2020b. Disponível em: https://nacoesunidas.org/artigo-
MARQUES, David; MARTINS, Juliana; NASCIMENTO, Talita (Redação). Violência doméstica violencia-contra-mulheres-e-meninas-e-pandemia-das-sombras/. Acesso em: 11 maio 2020.
durante a pandemia de Covid-19. Nota Técnica. Fórum Brasileiro de Segurança Pública, 2020.
17p. Disponível em: http://forumseguranca.org.br/wp-content/uploads/2018/05/violencia- ONU MULHERES BRASIL. ONU Mulheres faz lista de checagem de ações governamentais para
domestica-Covid-19-v3.pdf. Acesso em: 11 maio 2020. inclusão da perspectiva de gênero na resposta aa Covid-19. ONU Mulheres Brasil, 2020.
Disponível em: www.onumulheres.org.br/noticias/onu-mulheres-faz-lista-de-checagem-de-
CERQUEIRA, Daniel et al. (ORG). Atlas da Violência no Brasil. Brasília; Rio de Janeiro; São Paulo: acoes-governamentais-para-inclusao-da-perspectiva-de-genero-na-resposta-a-Covid-19/ Acesso
Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada; Fórum Brasileiro de Segurança Pública, 2019. Disponível em: 11 maio 2020.
em: www.ipea.gov.br/atlasviolencia/download/19/atlas-da-violencia-2019. Acesso em: 11 maio
2020. RIBEIRO, Djamila. Feminismo Negro para um Novo Marco Civilizatório. SUR 24, v. 13, n. 24, p.
99-104, 2016. Disponível em: https://sur.conectas.org/wp-content/uploads/2017/02/9-sur-24-
CORTEZ, Rayssa Saidel; MOREIRA, Marina Rago; GODOY, Veridiana Emília. Covid-19, era de crises por-djamila-ribeiro.pdf. Acesso em: 11 maio 2020.
e a luta das mulheres pela vida. Caderno Diálogos Socioambientais na Macrometrópole, Dossiê
Covid-19, São Paulo, v. esp.; n. 5, p. 50-51, 2020. Disponível em: SATO, Michèle. O mundo será igual se o ser humano não aprender, alerta pesquisadora para o
http://pesquisa.ufabc.edu.br/macroamb/wp-content/uploads/2020/05/Di%C3%A1logos- pós-pandemia. Entrevista concedida [telefone] para PNBonline, 10/05/2020. Acesso em
Socioambientais_Covid-19-5.pdf. Acesso em: 11 maio 2020. 10/05/2020 <https://www.pnbonline.com.br/geral/mundo-sera-igual-se-o-ser-humano-na-o-
aprender-alerta-pesquisadora-para-o-pa-s-pandemia/65948>
MATOS, Marlise; PARADIS, Clarisse Goulart. Desafios à despatriarcalização do Estado brasileiro.
Dossiê: O Gênero da Política: Feminismos, Estado e Eleições. Cadernos pagu, n. 43, p. 57-118, TOKARSKI, Carolina Pereira; ALVES, Iara. Covid-19 e Violência Doméstica: pandemia dupla para
jul./dez. 2014. Disponível em: www.scielo.br/pdf/cpa/n43/0104-8333-cpa-43-0057.pdf. Acesso as mulheres. Notícias. ANESP, 5 de abril de 2020. Disponível em: http://anesp.org.br/todas-as-
em: 11 maio 2020. noticias/2020/4/6/Covid-19-e-violncia-domstica-pandemia-dupla-para-as-mulheres. Acesso em:
11 maio 2020.
NAÇÕES UNIDAS DO BRASIL. A violência contra mulheres e meninas se transformou em uma
pandemia global que deve ser combatida, diz ONU. Nações Unidas, 2014. Disponível em: VIEIRA, Pâmela Rocha; GARCIA, Leila Posenato; MACIEL, Ethel Leonor Noia. Isolamento social e o
https://nacoesunidas.org/a-violencia-contra-mulheres-e-meninas-se-tranformou-em-uma- aumento da violência doméstica: o que isso nos revela? Rev. bras. de Epidemiologia, v. 23, abr.
pandemia-global-que-deve-ser-combatida-diz-onu/ Acesso em: 10 maio 2020. 2020. Disponível em: https://doi.org/10.1590/1980-549720200033. Acesso em: 11 maio 2020.
46 47
FAMILIAR

A situação da população idosa no Brasil


é profundamente atravessada pelos
estereótipos e estigmas que preenchem o
imaginário social com a ideia de
decrepitude, da incapacidade e do
estorvo para as famílias, o que, é muito
próprio da compreensão ocidental de
velhice, como o tempo da inutilidade, na
perspectiva do pensamento utilitário
próprio da sociedade encapsulada nas
amarras do capitalismo.

A convivência com os problemas e as


desigualdades sociais no Brasil impõe
aos idosos um conjunto de desafios, que Em tempos de Pandemia, como a
vão desde a mera sobrevivência, até a que estamos vivendo neste 2020, a
busca de respeito a sua condição, e condição de maior vulnerabilidade
escape da lógica da “velhofobia”, os fragiliza ainda mais frente aos
caracterizada pela imagem do idoso riscos de contaminação. Até o ano
como sujeito invisibilizado, algemado a de 2018 eram 28 milhões de pessoas
sua inutilidade, incapaz de ser percebido com mais de 60 anos no Brasil, o
como portador de diretos e de um lugar
que equivale a 13% da população do
Salvador Dalí de fala muito privilegiado pelo acúmulo
padre de vivências e de trajetórias de vida. país. (PERISSÉ & MARLI, 2019).
48 49

Percebemos, pela narrativa promissora desta senhora moradora de


Belém, um vislumbrar de esperança e amorosidade pela vida e pela afirmação
da condição de ser idoso, e ser dono de fala própria e autônoma, dono de
direitos, um apelo à vitalidade e a riqueza desse momento da vida, o que em
O envelhecimento natural do organismo, tudo contradiz a perspectiva linear e produtivista da sociedade capitalista,
chamado de imunosenescência, pode excludente e segregacionista.
deixar o idoso mais propenso a contrair
doenças e infecções. Dos 70 aos 79 anos,
o risco de a doença evoluir para a morte “...agora, ainda mais com essa
é de 8% e, entre as pessoas de 80 a 89 doença, é como se o idoso fosse um
anos, essa proporção chega a 14,8%. inválido, alguém que não tem mais
Esclarece Sonia Raboni, médica valor pra nada, mas todos estão
infectologista chefe do serviço de enganados, porque tem valor sim!
Infectologia do Hospital das Clínicas da Um idoso pode fazer muitas coisas,
Universidade Federal do Paraná -UFPR. e coisas que um novo não faz! Eu
(MILLÉO & JUSTINO, 2019). não me sinto assim velha não, de
ficar encolhida, sem andar, eu sou
velha na idade, mas na disposição
Em entrevista com a senhora Maria eu não me sinto velha, nem um
Loureiro, de 81 anos de idade, em pouquinho. E a gente vai ter que
isolamento social na cidade de Belém, no aguentar esse tempo ruim dessa
Pará, observou-se, no entanto, um doença, com fé e paciência, que
contradito à imagem autorizada da isso vai passar e vai melhorar. Eu
velhice: não tenho medo dessa doença!”
Foto: Kalyne Cruz
50 51

REFERÊNCIAS

PERISSÉ, Camille; MARLI, Mônica. Idosos indicam caminhos para uma melhor idade.
Revista Retratos, Ag. de Notícias IBGE, 19/03/2019. Disponível em:
<https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-noticias/2012-agencia-de-
noticias/noticias/24036-idosos-indicam-caminhos-para-uma-melhor-idade
> Acesso em 26/05/2020.

MILLÉO, Amanda; JUSTINO, Adriano. Idosos estão em maior risco para o novo
coronavírus - Doenças associadas, como diabetes e hipertensão, colaboram para
colocar os idosos entre o grupo de maior risco para a Covid-19. Gazeta do Povo,
Caderno Saúde, 26/05/2019. Disponível em:
<https://www.semprefamilia.com.br/saude/idosos-vulneraveis-estao-em-maior-
risco-para-coronavirus/>, acesso em 26/05/2020.

Harisson
GRUPOS
IDENTITÁRIOS
54 55
IDENT ITÁRIOS

As crises instauradas pela pandemia impactaram os povos


ciganos no mundo, no Brasil e em Mato Grosso, principalmente
as comunidades itinerantes. Muitos acampamentos não
possuem infraestrutura básica como água, luz, esgoto ou recolha
de lixo; o que inviabiliza a segurança e as ações de higienização
recomendadas pelos órgãos e profissionais de saúde.

A pandemia aflorou o racismo histórico já existente contra essas


populações, que pertencem a três troncos étnicos, os Kalon, os
Rom e os Sinti. No final de março, autoridades das cidades de
Cachoeira do Sul (RS), Imbituva (PR) e Dois Vizinhos (PR)
expulsaram famílias nômades Kalon, sob alegação de que
seriam vetores do coronavírus; violando direitos humanos e o
acesso à saúde para todos os povos, garantidos pela Constituição
Federal de 1988 (AEEC-MT, 2020).

Além disso, as famílias ciganas itinerantes e as que fixaram Rodrigo Ribeiro dos Santos Zaiden
residência – que representam em torno de 80% do total vivendo Acampamento Nova Canaã – Brasília (DF), 2017
hoje no Brasil – tiveram suas rendas bastante impactadas e
estão encontrando dificuldades para compra de produtos
alimentares e de higiene.
56 57
A maioria dos romani trabalha com o
comércio informal, como a venda de
roupas, enxovais, artesanatos, etc.; a
troca de produtos de segunda mão
(gambira); a leitura de mãos e de tarot; O IBGE não faz a contagem da
e os trabalhos em circos e parques de população cigana no censo. O
diversões; atividades suspensas pelas governo federal estima que são 500
medidas de isolamento. Desta forma, mil pessoas (SILVA JÚNIOR, 2018).
não possuem acesso à previdência social Segundo a Pesquisa de Informações
e existe uma parte que sequer tem Básicas Municipais” (Munic) do
registro de nascimento, o que dificulta o IBGE, dos 5.570 municípios
acesso a programas como o bolsa brasileiros, 337 em 22 Estados têm
família ou o auxílio emergencial. acampamento cigano. Destes, 73
dispõe de área para receber famílias
Por outro lado, as comunidades nômades. Em MT, a pesquisa
ciganas estão adaptando práticas registrou 15 acampamentos em
importantes de suas culturas, como as nove municípios. Outras 300
festas de casamento e o velório/luto, pessoas ciganas vivem em
para efetivar a prevenção aa Covid 19. residências, concentrando se nas
Porém, até o momento, os governos cidades de Cuiabá, Rondonópolis e
federal, estaduais e municipais não Tangará da Serra (CAVALCANTE;
elaboraram políticas específicas para COSTA; CUNHA, 2017).
assistir as populações ciganas.
Também não emitiram orientações de Karen Ferreira
Ciganos Kalon de Tangará da Serra – MT. 2017
como acessarão as políticas sociais
elaboradas para mitigar as crises
pandêmicas.
58 59

REFERÊNCIAS
ASSOCIAÇÃO ESTADUAL DAS ETNIAS CIGANAS DE MATO GROSSO –
AEEC/MT. Nota Pública: Pesquisadores e Ativistas alertam para racismo
contra grupos cigano durante a pandemia e cobram plano emergencial.
08 Abril 2020. Disponível em: <https://aeecmt.blogspot.com/2020/04/nota-
publica-pesquisadores-e-ativistas.html>. Acesso em 15 Maio 2020.

CAVALCANTE, L.; COSTA, E.; CUNHA, J. Acampamentos “ciganos” 2017: os


desafios da implementação de direitos. REIA – Revista de Estudos e
Investigações Antropológicas. Recife, ano 4, Vol. Esp. II, 2017, pp. 231-65.
Disponível em: <
https://periodicos.ufpe.br/revistas/reia/article/view/236305/29111>.
Acesso em 28 Março 2018.

SILVA JÚNIOR, A. A. A produção social dos sentidos nos processos


interculturais de comunicação e saúde: a apropriação das políticas
públicas de saúde para ciganos no Brasil e em Portugal. Tese (Doutorado)
- Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde,
Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, 2018, 622p. Disponível em:
<https://www.arca.fiocruz.br/handle/icict/33131>. Acesso em 20 Jan. 2020.

Candido Portinari
Mulheres e meninas
60 61
IDENT ITÁRIOS

Apesar dos 520 nos de


violência e genocídio, muitos Os povos indígenas de hoje
povos indígenas ainda vivem em enorme
resistem às investidas ao vulnerabilidade. A apatia de
criarem táticas que os parcela da sociedade e os
tornariam protagonistas de sucessivos ataques vem se
suas histórias, cultura e intensificando
território, via um movimento inacreditavelmente nestes
político de reivindicação do seu dias de pandemia, invasões
próprio sol em meio aos vários de terras indígenas,
“sóis de Tarsila do Amaral”, desmatamento e falta de
uma das fortes influências do
políticas específicas no
movimento antropofágico,
atendimento a saúde
que em 1922 já questionava
sobre as várias “educações”: indígena, expõe que a visão
“quem come quem?”. que muitos ainda tem desses
povos, pouco difere da de
Atualmente outro dilema vem séculos anteriores no cuidado
à tona, como resistir ao e proteção aos indígenas.
aumento de contaminação
pelo vírus Covid-19 em meio a
cegueira e ignorância alheia?
Quem vive e quem morre?
62 63
O que observa nesta alegoria neofascista, dada a inexistência e/ou ineficiência de De acordo com o Instituto
atendimento de saúde às comunidades indígenas (Coordenação das Socioambiental (ISA) atualmente 896,9
Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira, 2020), é um projeto de eugenia mil pessoas se declararam indígenas no
do atual governo em razão de não apresentar políticas efetivas para conter e Brasil, conforme dados coletados no
amenizar a pandemia da Covid-19 e mascarar e invisibilizar seus efeitos Censo de 2012 do Instituto Brasileiro de
destrutivos junto aos povos indígenas, fato que só tem agravado a Geografia e Estatística (IBGE) (Instituto
Socioambiental, 2020), com uma
vulnerabilidade destes grupos.
estimativa de pessoas localizadas em
Ao acompanharmos a dinâmica da 7.103 localidades indígenas (Agência
pandemia no Brasil, percebe-se que a IBGE notícias, 2020).
Covid-19 tem se alastrou rapidamente
em vários estados e a dinâmica de
contaminação não poderia deixar de
Diante deste quadro percebermos que
expor a riscos letais também o genocídio continua, exclusão,
indígenas. subnotificação e desassistência de
saúde aos indígenas, difícil é não se
Embora na pandemia os números incomodar com o neofascismo
oscilem rapidamente, o informativo presente na atual Fundação Nacional
publicado no dia 15 de maio de 2020, do Índio (Fundação Nacional do
pela (Coordenação das Organizações Índio, 2020). Sob título “Os fatos”, a
Indígenas da Amazônia Brasileira, instituição ataca os organismos não-
2020), mostra que 288 indígenas governamentais e religiosos não
testaram positivo para Covid-19 e, 80 evangélicos, na contra-mão da
pessoas já faleceram. Na plataforma história, desqualifica os trabalhos
de monitoramento da doença pelo desenvolvidos em favor da proteção
das populações indígenas no Brasil.
(Instituto Socioambiental, 2020), há
301 casos confirmados e 19 mortes.
Tarsila do Amaral
64 65

REFERÊNCIAS

AGENCIA IBGE NOTÍCIAS. Contra Covid-19, IBGE antecipa dados sobre indígenas e
quilombolas. 24/04/2020. Acesso em: 09/05/2020
[https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-noticias/2012-agencia-de-
noticias/noticias/27487-contra-Covid-19-ibge-antecipa-dados-sobre-indigenas-e-
quilombolas]

APIB. Apib organiza comitê para registrar avanço da Covid-19 sobre povos indígenas.
13/05/2020. Acesso em: 15/05/2020 [http://apib.info/2020/05/13/apib-organiza-
comite-para-registrar-avanco-da-Covid-19-sobre-povos-indigenas/]

Neste mote, vale-nos pensar em que sóis e solos haverá os indígenas de prover COIAB. Covid-19 e Povos Indígenas na Amazônia Brasileira. Informativo Coaib. 15-05-
sustento, permanecer no território e manter suas práticas culturais e 2020. Acesso em: 15/05/2020.
ancestrais? Sendo grandes os desafios (Instituto Socioambiental, 2020), o que [https://coiab.org.br/conteudo/1589575942855x644577865264529400]
fica é o esperançar e resistir em prol destas comunidades em conformidade
FUNAI. Os fatos. 04/05/2020 Acesso em: 15/05/2020
como o movimento da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), cuja [http://funai.gov.br/index.php/comunicacao/noticias/6079-osfatos]
tática de resistência articulou a criação de um comitê - Comitê Nacional pela
Vida e Memória Indígena, afim promover ações de combate aa Covid-19 ISA. Covid-19 e os Povos Indígenas. Plataforma de monitoramento da situação indígena na
(Articulação dos Povos Indígenas do Brasil, 2020). pandemia do novo coronavírus (Covid-19) no Brasil. Acesso em: 15/05/2020
[https://Covid19.socioambiental.org]

ISA. IBGE detalha dados sobre povos indígenas. 14/08/2012. Acesso em: 11/05/2020
[https://www.socioambiental.org/pt-br/blog/blog-do-monitoramento/ibge-detalha-
dados-sobre-povos-indigenas]
66 67
Contempla-nos com suas
IDENT ITÁRIOS
É justamente essa precariedade na saúde dos
composições, Seo Jorge, Ulisses quilombos que já somam estatística negativa
Capelleti e Marcelo Fontes (2002) no Brasil. “Nos últimos 20 dias, foram
(1). A arte musical nos revelando registradas 17 mortes pela Covid-19 e 63 casos
as desigualdades raciais nas confirmados de contágio entre quilombolas”,
condições de saúde de populações como nos informa a CONAQ – Coordenação
negras, onde a saúde pública no Nacional de Articulação das Comunidades
“A carne mais barata do mercado Brasil tem expressão de agressões Negras Rurais Quilombolas (2020).
é a carne negra. biológicas, disparidades sociais e
Ta ligado que não é fácil, discriminação étnica.
né, mano? A Covid-19 veio acentuar a situação de
Se liga aí!” vulnerabilidade que já existia nos
quilombos, agregando percentual soberano
A população dos quilombos há sobre a ausência de uma política que
muito vive em situação de atenda a população negra para além do
vulnerabilidade diante ao SUS – Sistema Único de Saúde, que sempre
enfrentamento a todos os tipos de se distanciou dos territórios quilombolas.
saúde. Entre essa população, as De acordo com a Sociedade Brasileira de
mulheres são as mais vulneráveis. Medicina de Família e Comunidade, 67%
Estão diretamente ligadas às dos brasileiros que dependem
tarefas domésticas: lavar, exclusivamente do SUS, são negros, e estes,
cozinhar, realizar a higiene da também são maioria dos pacientes
casa, cuidar dos filhos, com diabetes, tuberculose, hipertensão e
administrarem a manutenção da doenças renais crônicas no país - todos
água na residência, que na sua considerados agravantes para o
maioria, tem serviço de desenvolvimento de quadros mais gravosos
saneamento precário. da Covid-19.

Carlos Roberto Ferreira (1). https://www.youtube.com/watch?v=yktrUMoc1Xw. Acessado: 18 maio 2020.


Mata Cavalo
68 69

De forma sistemática e instituída, os


quilombos sofrem exclusão,
morosidade na solução de
problemas legais, preconceitos não REFERÊNCIAS
apenas étnicos, mas também
socioeconômicos. No período de FREITAS, Daniel Antunes; CABALLERO,
pandemia, estes problemas se Antonio Diaz, et al. Saúde e Comunidades
intensificam e os quilombolas ficam Quilombolas: uma revisão da literatura.
mais expostos, sendo facilmente Rev. CEFAC; Set-Out; 13(5):937-943, 2011.
contaminado pelo coronavírus. Fundação Cultural Palmares. Covid-19 se
Além disso, muitos não conseguem alastra pelos quilombos: 17 mortos e 63
ficar em isolamento social, pois a casos confirmados. CUT. Redação RBA,
precária condição exige que o 2020. Disponível em:
trabalho seja realizado. https://www.cut.org.br/noticias/Covid-
19-se-alastra-pelos-quilombos-17-
mortos-e-63-casos-confirmados-6ead.
Acessado em: 18 maio 2020.
Os quilombos precisam da garantia
de solidez em suas estruturas
domésticas, de saúde, de trabalho,
de educação para combater a
qualquer inimigo, sobretudo uma
pandemia como esta, se houvesse o Michèle Sato
acesso a política púbica. Dança do Congo em Mata Cavalo
70 71
Na base da pirâmide social é, em sua
IDENT ITÁRIOS

maioria, a população negra que segue


Ainda que violentamente garantindo que a vida não pare, fruto de
invisibilizada – pois é sufocada um passado colonial que persiste ainda
em um contexto de racismo, a hoje. Em seu horizonte, uma sociedade
população negra coloca à sem iniquidades, discriminação, sem
disposição da sociedade violência, feminicídios, sem as
O Brasil é palco de intensas alterações demográficas, sociais, séculos de lutas, de desigualdades de classe social, de
econômicas e políticas, refletindo amplamente na realidade social, pensamento a serviço da ação orientação sexual, de geração ou de
em especial na condição de vida da população negra. Compondo a transformadora. condição física e mental. Ainda assim,
maior parte da população brasileira, os negros têm avançado na continuam em análise.
conquista de seus direitos, mas ainda são muitos os indicadores
sociais que revelam uma intensa desigualdade racial.
Face à pandemia da Covid-19 (infecção
O título deste texto faz menção à resposta causada pelo novo coronavírus), propomos
recebida por muitos trabalhadores um olhar para mais um destes indicadores
informais, autônomos e desempregados
sociais: pretos e pardos compõem a maioria
ao solicitarem o Auxílio Emergencial,
benefício financeiro cujo objetivo é fornecer das pessoas mortas por Covid-19 no Brasil,
proteção emergencial no período de segundo os boletins epidemiológicos do
enfrentamento à crise causada pela Ministério da Saúde.
pandemia do Coronavírus – a síndrome
respiratória da Covid 19.
Associamos esta condição de “ainda estar
em análise” à situação que vive a população
negra no Brasil, que, excluída, muitas vezes,
sofre preconceitos e injustiças sociais como
consequência de uma abolição tardia e
Zumbi
ineficaz nos aspectos sociais.
72 73
Devido à desigualdade social que a Apresentamos nossa solidariedade a
pandemia agora escancara, vemos todas as vítimas, aproveitamos para “O futuro só será diferente
as condições socioeconômicas defender o Sistema Único de Saúde se pensado a partir das filas
gerarem maior vulnerabilidade em (SUS) e reivindicamos medidas de
para pegar o benefício da Caixa”
saúde, boa parte dessas apoio à população negra, porque não
comorbidades é ligada a questões estamos no mesmo barco e, muito
sociais, como a falta de menos, se pode afirmar que o vírus (Você ainda está em análise)
saneamento básico e agravada não escolhe raça ou classe social. As BRITO, 2020
pelas desigualdades raciais, notícias, narrativas, vivências e
como condições precárias de informações oficiais dão mostras mais
moradia, ou alimentação do que suficientes do racismo
inadequada. Realidade já conhecida instituído na sociedade, que se agrava
pelos estudiosos da área, uma vez absurdamente nos tempos de
que pretos e pardos, em maioria, pandemia, abrindo mais o fosso das
pertencem às classes econômicas desigualdades e das violações de
mais baixas e com menos assistência direitos humanos.
médica.
Assim, é possível afirmar que as
condições econômicas piores
significam assistência médica pior,
o que resulta em condições piores
de atendimento. E o tempo de
contágio desta doença não permite
que se intensifiquem ações
pedagógicas sobre uma Política
Junião
Nacional de Saúde Integral da https://ponte.org/por-que-o-coronavirus-prejudica-mais-a-populacao-negra/
População Negra.
74 75

REFERÊNCIAS

BRITO, Gisele. Só o seu mundo parou. Uol Canal Ecoa, 20/05/2020. Coluna
Opinião. Disponível em:
https://www.uol.com.br/ecoa/colunas/opiniao/2020/05/20/so-o-seu-mundo-
parou.htm?cmpid=copiaecola. Acesso em 20/05/2020.

PARA SABER MAIS...

- Por que o coronavírus prejudica mais a população negra.


https://ponte.org/por-que-o-coronavirus-prejudica-mais-a-populacao-negra/

- Política Nacional de Saúde Integral da População Negra:


https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/politica_nacional_saude_integral_po
pulacao.pdf

- População negra e Covid-19: desigualdades sociais e raciais ainda mais


expostas:
https://www.abrasco.org.br/site/noticias/sistemas-de-saude/populacao-negra-e-
Covid-19-desigualdades-sociais-e-raciais-ainda-mais-expostas/46338/

Tarsila do Amaral
A negra
76 77
IDENT ITÁRIOS
Podemos evidenciar que os trabalhadores do
Entre os trabalhadores do campo e os povos da floresta tem em comum o
campo no Brasil distanciamento que vivem das grandes cidades
podemos considerar as brasileiras, o que poderia ser um grande
diversas atividades do benefício em tempos de pandemia, mas ao
campesinato, como considerarmos suas péssimas condições de vida
os(as) agricultores(as) e vulnerabilidade econômica e a distância que
camponeses(as), estão do atendimento médico hospitalar, por
acampados(as), certo, poderemos incluí-los como povos mais
assentados(as) da expostos a contrair a Covid-19.
reforma agrária, entre
outros. Entre os povos da Esses povos sofrem, mesmo antes da pandemia,
floresta podemos incluir com uma nefasta atuação política do atual
os povos que dependem governo federal brasileiro, uma necropolítica que
diretamente da floresta os retiram direitos fundamentais e desmontam as
para manutenção de políticas ambientais, destruindo os sistemas e os
suas vidas, com uma órgãos de fiscalização que buscam barrar o
identidade, uma história avanço do desmatamento no Brasil.
e uma memória
partilhada, algumas Infelizmente, essas injustiças se agravam durante
a pandemia, recentemente, o Instituto do Homem
vezes vivendo em um
e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) divulgou
território comum, como
que o desmatamento da Amazônia em abril deste
os(as) seringueiros(as), ano teve um aumento de 171% comparado ao
os(as) ribeirinhos(as), os mesmo mês em 2019, perdemos 529 quilômetros
povos extrativistas e os quadrados de floresta, a maior taxa de
Regina Silva
povos indígenas. desmatamento dos últimos dez anos (1).
Seringueiro de Guariba, MT
78 79
Dom Roque Paloschi, arcebispo de Porto Velho, em
entrevista ao Instituto Humanitas Unisinos, Regina Silva
ressalta que “a principal preocupação e ameaças
[...] é que garimpeiros, grileiros, madeireiros e
invasores em geral, não fazem a quarentena. Ao
contrário, aproveitam a falta de fiscalização e de
gestão política e administrativa no país para
continuar com as ações ilícitas” (2). Aproveitando
essa situação pandêmica e incentivados pelo
discurso desenvolvimentista do Governo do Brasil,
os desmatadores avançam sobre a floresta,
espalhando a morte, destruindo a biodiversidade e
levando o coronavírus aos povos que lá vivem.

O descaso político com os povos e profissionais da


floresta são graves, e se acentuam mais nos
momentos de pandemia. O coronavírus pode
afetar todos, mas a morte é mais certa às
populações economicamente desfavorecidas. O
tipo de modelo desenvolvimentista que nós
adotamos, herança da grande aceleração e
revolução industrial, privilegiou o capital como
prioridade da felicidade. O coronavírus se libertou
exatamente porque o capital destruiu as florestas,
aproximou-se de animais silvestres e espalhou a
pandemia.
80 81

Não se trata, assim, de retomar à


“normalidade” prévia, já que este
modelo não mais responde à
sustentabilidade planetária. Será
preciso reinventar um novo jeito de
cuidar da natureza e cuidar de nós
mesmos. Sem altos consumos ou
emissão de gases do efeito estufa –
será urgente recuperar as florestas e REFERÊNCIAS
construir políticas fortalecidas aos
seus povos. 1 – IMAZON. Instituto do Homem e
Meio Ambiente da Amazônia. Boletim
do Sistema de Alerta de Desmatamento.
A pandemia mostrou o quanto a Abril de 2020. Disponível em:
https://k6f2r3a6.stackpathcdn.com/wp-
solidariedade é eficaz à construção content/uploads/2020/05/Boletim-SAD-abril-2020.pdf.
das políticas públicas, permitindo o Acesso em 15 mar 2020.
esperançar por uma sociedade que
2 - Garimpeiros, grileiros e madeireiros
não perca jamais a beleza de ser não fazem quarentena e avançam sobre
Humanidade, com suas teias a floresta e povos indígenas. Entrevista
conectadas com os ecossistemas. especial com Dom Roque Paloschi
http://www.ihu.unisinos.br/159-noticias/entrevistas/598636-
garimpeiros-grileiros-e-madeireiros-nao-fazem-quarentena-e-
avancam-sobre-a-floresta-e-povos-indigenas-entrevista-
especial-com-dom-roque-paloschi
Regina Silva
Guariba-MT
82 83
IDENT ITÁRIOS

Antes de trazer os motivos que incluem a população LGBT+


(lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais, transgêneros e
outras pessoas com orientações sexuais e identidades de gênero)
como grupo vulnerável a pandemia do coronavírus, é preciso
contextualizar que, para algumas autoridades, sobretudo líderes
religiosos, esse grupo não está sendo associado como vítimas,
mas como culpado pelo momento que estamos vivendo.

O cardeal estadunidense Raymond Burke, que mora em Roma,


afirmou que os perigos que rondam o mundo se devem aos
esforços para promover igualdade de sexo e gênero (BURKE,
2020). Ralph Drollinger, pastor do gabinete de Donald Trump, e
Muqtada al-Sadr, influente clérigo xiita do Iraque, também
associaram a pandemia como resposta divina aos avanços dos
direitos LGBT+ no mundo (FANG, 2020; BBC, 2020). Tais
posicionamentos não são novidade para quem se lembra de que
os homossexuais já haviam servido de bode expiatório durante a
pandemia da peste negra que assolou a Europa e Ásia no século
XIV (TESTONI, 2020).
Há, contudo, uma outra verdade: mesmo com as últimas
conquistas em relação aos direitos LGBT+ essa população ainda
está em situação de vulnerabilidade social, a qual se intensifica
nesse período de distanciamento social. Marvel: Wiccan and Hulkling
84 85
Grande parte das pessoas LGBT+,
infelizmente, não possuem vínculos
afetivos com suas famílias, ora por
terem sido expulsas de casa por sua
Ironicamente o governo federal
identidade, ora por terem cedo
brasileiro lançou uma cartilha de
buscado sua independência e
orientação à comunidade LGBT+ sobre
privacidade para viver. Proibidos
o coronavírus (BRASIL, 2020). Um
agora de se encontrar com os
material que reforça estereótipos,
amigos que acabam se tornando sua
nova família, essa população vê preconceitos e visivelmente feita por
quem pouco conhece as características e
afetada sua saúde mental, já tão
necessidades dessa comunidade.
exposta pelos obstáculos de um
mundo sem pandemia, e agora
intensificados por ela.
Por outro lado, a pandemia traz luz
Num recorte especial a população de a uma luta que se arrasta há anos: o
travestis e transexuais, cuja atividade direito de gays doarem sangue
econômica de cerca de 90% é a (D'AGOSTINO; RODRIGUES, 2020).
prostituição, o distanciamento social A situação dos bancos de sangue
representa queda drástica no número brasileiro fez com que uma votação
de clientes e uma maior exposição ao iniciada em 2017 seja retomada e se
vírus àquelas que precisam se expor encerre esse erro discriminatório, o
para conseguir sobreviver que representa uma vitória para a
(FERNANDES, 2020). Ao recorrerem comunidade que agora pode Latuff
ao sistema de saúde, enfrentam contribuir para salvar vidas com seu Bancada evangélica e a “cura gay”
muitas vezes discriminação e próprio sangue, literalmente.
preconceito, já parte cotidiana da
vida dessas pessoas (FERREIRA,
2017).
86 87

REFERÊNCIAS CITADAS E CONSULTADAS


FANG, Lee. Coronavírus: pastor do gabinete de Trump diz que pandemia é ira de deus – e
BBC News. 'Gripezinha ou resfriadinho' e outras 7 frases controversas de líderes mundiais culpa a china, homossexuais e ambientalistas. The Intercept, 26/03/2020. Disponível
sobre o coronavírus. BBC News Mundo. BBC News Mundo. 07/04/2020. Disponível em em http://www.theintercept.com/2020/03/26/coronavirus-pastor-trump-ira-de-deus/ . Acesso em 22 mai. 2020.
https://www.bbc.com/portuguese/internacional-52205918. Acesso em 20 mai. 2020.
FERNANDES, Yuri. Prostituição e pandemia: ‘Terei que aceitar 20 ou 30 reais, preciso
BRASIL. Governo Federal. Já sabe o que fazer para se proteger do novo coronavírus? comer’. Projeto Colabora, 27/03/2020. Disponível em
https://projetocolabora.com.br/ods8/prostituicao-e-pandemia-terei-que-aceitar-20-ou-30-reais-preciso-comer/. Acesso em
Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos. Disponível em
https://www.gov.br/mdh/pt-br/assuntos/noticias/2020-2/abril/Corona_banner_LGBT.pdf. Acesso em 21 mai. 2020.
21 mai. 2020.

BURKE, Raymond Leo Cardinal. Mensagem do Cardeal Burke sobre o combate ao FERREIRA, Breno de Oliveira et al. Vivências de travestis no acesso ao SUS. Physis:
coronavírus. ABIM, 21/03/2020. Disponível em http://www.abim.inf.br/mensagem-do-cardeal-burke-sobre- Revista de Saúde Coletiva, v. 27, p. 1023-1038, 2017.
o-combate-ao-coronavirus/. Acesso em 21 mai. 2020.
TESTONI, Marcelo. Como na Peste Negra, Covid-19 põe em risco homossexual,
D'AGOSTINO, Rosanne; RODRIGUES, Mateus. Supremo Tribunal Federal derruba restrições prostituta e gato. Universa UOL, 03/05/2020. Disponível em
https://www.uol.com.br/universa/noticias/redacao/2020/05/03/como-na-peste-negra-Covid-19-poe-em-risco-homossexuais-
à doação de sangue por homens gays. G1, 09/05/2020. Disponível em prostitutas-e-gato.htm?aff_source=56d95533a8284936a374e3a6da3d7996. Acesso em 21 mai. 2020.
https://g1.globo.com/politica/noticia/2020/05/09/supremo-tribunal-federal-derruba-restricoes-a-doacao-de-sangue-por-homens-
gays.ghtml. Acesso em 28 mai. 2020.
88 89
IDENT ITÁRIOS

A crise do novo Coronavírus prevalece Os fluxos migratórios estão cada vez


no rosto de mulheres, indígenas, na maiores, pelo colapso climático
população afrodescendente, além de causador de desequilíbrios, extinção de
trabalhadores informais e migrantes, ecossistemas, eventos climáticos e uma
ressaltada pela desigualdade no pandemia que se alastrou, causando
acesso à água, saneamento, saúde e mortes em uma velocidade
avassaladora (SATO et al, 2020).
moradia para esses grupos,
potencializando uma maior taxa de
infecção e morte (AGÊNCIA DO RÁDIO
MAIS, 2020). A população migrante, por todo o
mundo tem enfrentado um
Atualmente, há cerca de 763 milhões de processo excludente, considerando
migrantes internos em todo o mundo e que uma parcela considerável dos
272 milhões de migrantes que vivem no Brasil encontram se
internacionais. Mais de 1 bilhão de em situação de vulnerabilidade
pessoas estão em movimento, e quase social (FIOCRUZ, 2020). Nas
71 milhões são forçadas a deixar suas políticas públicas, são ausentes as
casas devido a conflitos armados, legislações que possam atender às
violência generalizada e desastres. suas particularidades, para o
Destes, quase 26 milhões são refugiados, reconhecimento dos direitos e as
41,3 milhões são deslocados internos e devidas condições de
3,5 milhões são requerentes de asilo regulamentação e permanência
(Instituto Humanitas Unissinos, 2020). digna (PISTÓRIO; VITALIANO,
2019).
90 91
A realidade dos migrantes
Por conta do isolamento social descreve histórias de pessoas
como medida preventiva de vítimas de preconceito e
transmissão da Covid 19, xenofobia, muitas vezes sem
aumentaram ainda mais as lar, vivendo em campos de
restrições para a mobilidade dos refugiados, retratando solidão e
migrantes, que se encontram isolamento, sem redes de apoio
impedidos de retornar ao convívio pelas limitações de língua,
de seus familiares, em seus locais conhecimento e cultura. São um
de origem. A vida dessas pessoas grande conjunto que superam
tem se tornado ainda mais difícil, as estatísticas e esforços
pois muitos deles, não possuem assistencialistas, em uma triste
reservas para se manterem durante perspectiva, cada vez mais
a quarentena. crescente, para este grupo
social.
Os que precisam trabalhar em
tempos de pandemia, acabam se
expondo prolongadamente, para
garantir seu sustento e de suas
famílias (MIGRAMUNDO, 2020). No
Brasil, ainda enfrentam a
morosidade em conseguir
documentação local, sendo
impedidos de receber o auxílio
emergencial do governo, e em muitos
casos, sequer conseguem receber o Banksy
Criança migrante – Veneza, IT
benefício (BRASIL DE FATO, 2020).
92 93

PISTÓRIO, Bianca Vasques; VITALIANO, Eliana Aparecida. O Centro de Pastoral para


REFERÊNCIAS migrantes em Mato Grosso e seus desafios no atendimento integral ao migrante. In:
WERNER, Inácio; SATO, Michèle; SANTOS, Déborah (Orgs). Relatório Estadual n.5 – 2019
AGÊNCIA DO RÁDIO MAIS. Relatório da ONU mostra que mulheres, indígenas e migrantes Fórum de Direitos Humanos e da Terra. 5.ed. Cuiabá: Associação Antônio Vieira, 2019. p.
são os mais afetados pela crise da Covid 19. Agência do Rádio Mais, 2020. Disponível em: 54 59.
https://www.agenciadoradio.com.br/noticias/relatorio da onu mostra que mulheres
indigenas e migrantes sao os mais afetados pela crise da Covid 19 pran208774 Acesso em: 14 SATO, Michèle; et al. Vírus: Simulacro da Vida? Rio de Janeiro: GEA SUR, UNIRIO, 2020;
maio 2020. Cuiabá: GPEA, UFMT, 2020. 20 p. il. Disponível em:
https://gpeaufmt.blogspot.com/p/materiais e apoio pedagogico.html Acesso em: 10
BRASIL DE FATO. Sem recursos, migrantes enfrentam barreiras para acessar auxílio maio 2020.
emergencial. Direitos Humanos, 2020. Disponível em:
https://www.brasildefato.com.br/2020/04/14/sem recursos migrantes enfrentam barreiras
para acessar auxilio emergencial Acesso em: 16 maio 2020.

FIOCRUZ. Saúde mental e atenção psicossocial na Pandemia Covid 19: Pessoas migrantes,
refugiadas, solicitantes de refúgio e apátridas. FIOCRUZ, 2020. Disponível em:
https://www.fiocruzbrasilia.fiocruz.br/wp PARA SABER MAIS
content/uploads/2020/04/cartilhamigranterefugiados3004.pdf Acesso em: 15 maio 2020.
Estadão – as desigualdades sociais e a assistência social, SP
https://politica.estadao.com.br/blogs/gestao-politica-e-sociedade/o-Covid-19-as-desigualdades-brasileiras-e-a-assistencia-social/
INSTITUTO HUMANITAS UNISINOS. Migrações e refugiados na era da Covid 19. Instituto
Humanitas Unissinos, 2020. Disponível em: http://www.ihu.unisinos.br/78 noticias/597414 Justificando – políticas migratórias no Brasil, SP
migracoes e refugiados na era da Covid 19 Acesso em: 15 maio 2020. https://www.justificando.com/2020/04/14/Covid-19-e-as-politicas-migratorias-no-brasil/

MIGRAMUNDO. Como a Covid 19 afeta imigrantes e refugiados no Brasil. Refugiados, 2020. UNISSINOS – a Covid-19 em populações que vivem em situações precárias, RS
Disponível em: https://www.migramundo.com/como a Covid 19 afeta imigrantes e http://www.ihu.unisinos.br/159-noticias/entrevistas/597542-como-se-dara-a-evolucao-de-Covid-19-na-populacao-que-vive-em-
condicoes-precarias-entrevista-especial-com-guilherme-werneck-2
refugiados no brasil/ Acesso em: 10 maio 2020.
94 95
A população continua Em meados de maio, o Brasil é o
IDENT ITÁRIOS
invisibilizada nas ações sexto país em número de mortes por
governamentais, e agora, a Covid-19, e o mais ineficiente da
pandemia escancara o descaso, e o América Latina na implementação de
despreparo dos gestores públicos
ações que garantam o direito à saúde
para lidar com esse profundo
às populações em situação de
abismo das injustiças sociais.
vulnerabilidade.

População de rua de Salvador, BA


“Senhor Deus dos desgraçados! Rafael Martins - Agência a Tarde
Dizei-me vós, Senhor Deus!
Se é loucura...
se é verdade.
Tanto horror perante os céus?!”
(Castro Alves).

A pandemia causada pelo Embora instituída em 2009,


Coronavírus traz reflexões pelo governo do Partido dos
sobre as consequências da Trabalhadores (PT), a Política
degradação e às injustiças Nacional para a População
em Situação de Rua, que
ambientais, expondo a
busca garantir os direitos
incompetência, o preconceito
básicos às pessoas que vivem
e, a truculência de agentes em extrema pobreza, pouco
públicos brasileiros, com a avançou nos últimos anos,
população em situação de pois, não foi implementada.
rua.
96 97
Neste caos, as pessoas em situação de
rua sofrem duplamente, primeiro pelo
preconceito da sociedade e pelo próprio Até quando às populações vulneráveis
poder público, como expresso pela sofrerão às maiores cargas e
ministra de Direitos Humanos: “ninguém consequências do desenvolvimento
pega na mão deles”, demonstrando o insustentável? Quando a justiça
descaso com este grupo, além do desejo socioambiental reinará no planeta
de mantê-los invisibilizados. Em segundo que vive plenamente sua era de
lugar, pela maior exposição de riscos. Capitaloceno? Quais humanos
Quais são as possibilidades de uma conseguirão aprender com a Covid-
pessoa pobre ter os meios necessários 19? (Sato, 2020).
para seguir a orientação de Skid Robot - Los Angeles – EUA
confinamento social, o uso de máscaras, Faz desenhos aos moradores de rua
lavagem e assepsia das mãos, roupas ou REFERÊNCIAS
calçados? SATO, Michèle. "Mundo será igual se o
ser humano não aprender", alerta
Diante da gravidade, as ações dos pesquisadora para o pós-pandemia.
governantes são brutais e a crueldade é de PNB Online. 2020.
baixa eficiência. Em São Paulo, a população [https://www.pnbonline.com.br/geral/mundo-sera-
igual-se-o-ser-humano-na-o-aprender-alerta-
de rua tem sido expulsa do centro da cidade pesquisadora-para-o-pa-s-pandemia/65948]

com uso da violência. No Rio de Janeiro, o


Conheça mais:
prefeito aglomerou no sambódromo todos
Documentário Situações de Rua (10
juntos: idosos, grávidas, e mulheres com minutos).
crianças. Em Salvador, o Centro de https://www.youtube.com/watch?v=JgbhJAwYlz8

Referência Especializado para Pessoas em


Politica Nacional para a População em
Situação de Rua (Centro POP) gera
Situação de Rua
aglomerações ao distribuir máscaras, http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-
2010/2009/Decreto/D7053.htm
materiais de higiene pessoal e alimentos.
98 99
IDENT ITÁRIOS

A pobreza extrema, a falta de saneamento básico, a falta de comunicação


sobre a prevenção e a precariedade das moradias, são os desafios de
contenção da Covid-19 (Lima, 2020). O impacto da desigualdade social é
A chegada do coronavírus no Brasil afetou inicialmente os refletido nos dados de óbitos da cidade de São Paulo no mês de abril, o
grupos sociais mais favorecidos economicamente. No entanto, a bairro rico do Morumbi tinha 297 casos confirmados e sete mortes, já o
doença agora se espalha de forma avassaladora junto à
bairro pobre da Brasilândia, situado na periferia, tinha 89 casos
população desassistida e em situação de vulnerabilidade da
região periférica urbana. Numa sociedade marcada pela trágica confirmados e 54 mortes (Rodrigues, Borges e Figueiredo, 2020).
e vergonhosa desigualdade social, doenças infecciosas
encontram campo fértil para a sua propagação e extermínio.
Em uma situação de crise como essa, as regiões periféricas urbanas
Morador usa máscara próximo à comunidade da Rocinha, no Rio de Janeiro revelam a tragédia da concentração de renda fruto de um modelo
Foto: Fábio Motta / Agência O Globo econômico excludente e predatório, onde o lucro, e não a vida, é a única
finalidade: como diz Santos (2020, p.18) “habitam na cidade sem direito
à cidade, já que, vivendo em espaços desurbanizados, não têm acesso às
condições urbanas pressupostas pelo direito à cidade”.

O aumento do desemprego, a elevação da taxa de informalidade no


trabalho e a falta de investimentos em programas sociais, são fatores
que também dificultam a contenção do vírus nas comunidades. Para o
sociólogo Tiarajú D’andrea, “a Covid-19 aprofunda e apresenta as
gritantes desigualdades do país e a situação de miséria das periferias
brasileiras” (Fachin, 2020).
100 99

REFERÊNCIAS

FACHIN, Patrícia. A pandemia de Covid-19 aprofunda e apresenta as


gritantes desigualdades sociais do Brasil. Ihu Unisinos. 2020.
Disponível em: <http://www.ihu.unisinos.br/159-
noticias/entrevistas/597914-a-pandemia-de-Covid-19-apresenta-as-
gritantes-desigualdades-sociais-do-brasil-entrevista-especial-com-
tiaraju-pablo-d-andrea> Acesso em: 9 de maio de 2020.

LIMA, Juliana Domingos de. Por que as periferias são mais vulneráveis
ao coronavírus. Nexo Jornal. 2020. Disponível em:
<https://www.nexojornal.com.br/expresso/2020/03/18/Por-que-as-
periferias-s%C3%A3o-mais-vulner%C3%A1veis-ao-coronav%C3%ADrus>
Acesso em: 9 de maio de 2020.

RODRIGUES, Rodrigo, BORGES, Beatriz, FIGUEIREDO, Patrícia. Morumbi


tem mais casos de coronavírus e Brasilândia mais mortes; óbitos
crescem 60% em uma semana em São Paulo. G1 SP. 2020. Disponível
em: <https://g1.globo.com/sp/sao-
paulo/noticia/2020/04/18/morumbi-tem-mais-casos-de-coronavirus-
e-brasilandia-mais-mortes-obitos-crescem-60percent-em-uma-semana-
em-sp.ghtml> Acesso em: 9 de maio de 2020.

SANTOS, Boaventura de Sousa. A cruel pedagogia do vírus.


Coimbra/Portugal: Edições ALMEDINA, 2020.
Candido Portinari
Morro da Favela
98 103
Buscando romper com a tentação Na luta contra a contaminação pelo
IDENT ITÁRIOS
do individualismo, propomos Sars-Cov-2 (do inglês, coronavírus 2
uma reflexão sobre os desafios da síndrome respiratória aguda
das pessoas com deficiência, cujas grave), as Pessoas com Deficiência
desigualdades sociais têm sido (PcD) relatam as limitações para
intensificadas pela Covid-19, cumprir com as recomendações da
podendo produzir novas ameaças Organização Mundial da Saúde
Em meio ao caos provocado por uma doença severamente às suas vidas (1). (OMS), e reivindicam serem incluídas
letal à espécie humana, a pandemia da Covid-19 está Historicamente essas pessoas no grupo de risco.
causando mudanças profundas não apenas em nossa vivenciam o isolamento e exclusão A exemplo das pessoas cegas e com
rotina, mas, fundamentalmente, em nossas relações. social diante das muitas barreiras que baixa visão, a implementação de
as impedem de ter acesso aos serviços medidas básicas de higiene torna-se
Ricardo Ferraz ainda mais complexa diante da
de forma igualitária, além do
impedimento à participação social (2). condição de dependência do tato com
superfícies, o que aumenta as chances
de se contaminarem.
Em outras condições de deficiência, quanto maior o grau de limitações de
mobilidade ou de comunicação, a dependência de cuidados específicos, seja
por meio do auxílio cotidiano de cuidadoras(es), home care, equipe
terapêutica, faz com que o distanciamento social seja algo impraticável (3).

(1) NAÇÕES UNIDAS DO BRASIL. ONUBR. Resposta à Covid-19 deve incluir pessoas com deficiência, diz
relatório da ONU, 06 mai. 2020. Disponível em: https://nacoesunidas.org/acao/pessoas-com-deficiencia/ Acesso em:
10 mai. 2020.
(2). ² WORLD HEALTH ORGANIZATION/THE WORLD BANK. World Report on Disability, 13 dez. 2011.
Disponível em: https://www.who.int/publications-detail/world-report-on-disability Acesso em: 10 mai. 2020.

(3). MODELLI, Laís. 4 pessoas com deficiência relatam a rotina nos tempos de Covid-19: “Preciso tocar nas
coisas e nas pessoas para me situar”, 04 mai. 2020. Disponível
em: https://g1.globo.com/bemestar/coronavirus/noticia/2020/05/04/4-pessoas-com-deficiencia-relatam-a-rotina-nos-tempos-de-Covid-19-
preciso-tocar-nas-coisas-e-nas-pessoas-para-me-situar.ghtml Acesso em: 13 mai. 2020.
104 105

O cenário de crise Como forma de irmanar-se a elas,


ambiental global, evidencia respeitando seus direitos, a Organização
que nos próximos poucos das Nações Unidas (ONU), pede que a
anos novos surtos virais resposta à crise da Covid-19 seja
[mais letais] podem inclusiva, destacando ações e
ocorrer(4), o que recomendações abrangentes à todas as
representa uma ameaça à PcD, tais como, garantia da acessibilidade
vida humana, das informações, que sejam pertinentes
especialmente para as às PcD, com devidos aportes dos cuidados
pessoas com deficiência, de saúde, instalações, serviços,
que representam mais de 1
programas; e a garantia da participação
bilhão da população
ativa das pessoas com deficiência e de
mundial (5).
suas organizações representativas (6).

(4) MARQUES, Luiz; A pandemia incide no ano mais importante da história da humanidade. Serão as
próximas zoonoses gestadas no Brasil?, 05 mai. 2020. Disponível
em: https://www.unicamp.br/unicamp/noticias/2020/05/05/pandemia-incide-no-ano-mais-importante-
da-historia-da-humanidade-serao-proximas Acesso em: 11 mai. 2020.

(5) WORLD HEALTH ORGANIZATION/THE WORLD BANK. World Report on Disability, 13 dez. 2011.
Disponível em: https://www.who.int/publications-detail/world-report-on-disability Acesso em: 10 mai.
2020.

(6) UNITED NATIONS SUSTAINABLE DEVELOPMENT GROUP. Policy Brief: A Disability Inclusive Response
ONG Movimento SuperAção
ta Covid-19, May. 2020. Disponível em: https://unsdg.un.org/resources/policy-brief-disability-inclusive-
response-Covid-19 Acesso em: 12 mai. 2020. Pessoas Com Deficiência
GRUPOS
TRABALHADORES

Zinaida Lapshina
glory to worker woman
102 109
TRABALHADORES
Com o agravamento da crise sanitária e econômica, as empresas optam por
medidas como demissões, suspensões de contratos e cortes de jornada e
remuneração. Estas duas últimas, patrocinadas pela Medida Provisória 936,
de 1º de abril de 2020, colocam em situação desumana os trabalhadores, que
Em tempos de pandemia do Os dados da Pesquisa Nacional por podem ter jornada de trabalho e salários reduzidos em até 70%. Sem falar da
novo coronavírus, onde as Amostra de Domicílios Contínua falácia do auxílio emergencial de seiscentos reais criado pela Lei 12.982, de 2
medidas de (PNAD-contínua) do Instituto de abril de 2020: ao vincular o cadastramento do pleiteante a um aplicativo
isolamento/distanciamento Brasileiro de Geografia e Estatística de celular, restringe a possibilidade de pessoas sem conhecimento de
social impedem a busca por (IBGE) com informações de janeiro a informática e acesso à internet ao benefício.
empregos e dificultam o março de 2020 indicam, ainda, que
trabalho dos informais, 12,9 milhões de pessoas estão
Alberto Caez
quase 50% da força de desempregadas/desocupadas e que Diário de Cuiabá
trabalho brasileira está a taxa de informalidade alcança
extremamente fragilizada 39,9% da população ocupada,
pela ausência de renda totalizando 36,8 milhões de
mínima para subsistência trabalhadores informais. Para estas
(IBGE, 2020). pessoas, ficar em quarentena
significa a total inanição.

No Brasil o desemprego é estrutural, isso significa que temos


mais mão de obra disponível do que empregos (ANTUNES,
2010). Enquanto o sistema capitalista de produção continuar
a forçar o afastamento da mão de obra do sistema formal,
teremos maior precarização do trabalho. A publicação da Lei
Complementar 13.467/2017 (Reforma Trabalhista) contribui
para fragilizar as relações trabalhistas, estimulando o trabalho
autônomo, intermitente, parcial, temporário e terceirizado.
110 111

Em contrapartida aos desmandos Mas uma lição talvez tenhamos


do Governo Federal, a população aprendido: Quando o mercado e o
se une e reinventa mecanismos governo não demonstram interesse em
para sobreviver: ações auxiliar os mais pobres, a economia
cooperativas (como a reunião de Wallace Pato
colaborativa e a solidariedade Sem emprego
pequenos produtores autônomos compartilhada tornam a realidade
para vender sua produção em menos dolorosa.
sites de comércio eletrônico), ou a
inovação na criação de produtos
e serviços (confecção e venda de REFERÊNCIAS
máscaras de tecido, por ANTUNES, Ricardo. A crise, o desemprego e
exemplo), tem alimentado muitas alguns desafios atuais. Serviço Social &
famílias neste momento. Sociedade, n. 104, p. 632-636, 2010.
https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-sala-de-
imprensa/2013-agencia-de-noticias/releases/27534-pnad-continua-
Se a crise é sistêmica e gerada pelo taxa-de-desocupacao-e-de-12-2-e-taxa-de-subutilizacao-e-de-24-4-no-
modelo de desenvolvimento trimestre-encerrado-em-marco-de-2020. Acesso em 12 mai.
capitalista, as desigualdades 2020.
surgem de forma injusta,
preconceituosa e com abismo
socioeconômico de forma nefasta. PARA SABER MAIS
Organização Internacional do Trabalho (OIT) -
Tudo isso se intensifica frente à
Acesso em 16 mai. 2020.
catástrofe pandêmica, fomentando https://www.youtube.com/user/ILOTV

mais exclusão social, dificuldades


financeiras e estes grupos ficam Tópicos em coronavírus - Acesso em 16 mai.
2020.
muito mais expostos a contrair https://www.ilo.org/global/topics/coronavirus/country-
infecções ou síndromes responses/lang--en/index.htm#BR.

respiratórias.
106 113
Assim, ao se pensar nesse grupo que
TRABALHADORES
As trabalhadoras da saúde (e aqui a
linguagem no feminino por sabermos tem gênero, classe e cor, e que
da sua predominância e sem arriscam suas vidas por outras é
desconsiderar os trabalhadores) talvez reconhecer o quanto se precisa
sejam os grupos que mais apresentam avançar nas garantias dos direitos
riscos na pandemia da Covid 19. Uma dessas profissionais. Muitas delas
das explicações prováveis são o fato que neste período pandêmico fizeram a
estão expostas com uma grande escolha, e não sabemos o quanto de
frequência ao vírus e às pessoas que fato se pode escolher em tudo isso, a
estão com a carga viral elevada. não voltar para suas casas de forma a
não expor ainda mais suas famílias.
Somam se a isso as precárias condições
de trabalho, como falta de matérias de Vemos relatos do quanto é difícil
proteção ou até mesmo para passar o dia dentro dos
higienização. Além da carga física de equipamentos de segurança, do alto
atuação profissional, lidar com doenças nível de demanda do trabalho, a
e mortes em tamanha proporção ausência de casa, fatores que
pandêmica exige um excedente esforço impactam diretamente a
mental e moral. subjetividade dessas trabalhadoras.
Ao mesmo tempo, que colocam suas
Em Cuiabá, Ataíde¹ e Alessandra² foram fotos sorrindo nos crachás para
vítimas fatais dessa pandemia, ambos aliviar de alguma forma o
eram da área da enfermagem e distanciamento a/aos pacientes,
trabalhavam na Unidade III do CIAPS barreiras de proteção nas mesas pra
Adauto Botelho. Atravessam a esse garantir almoço em conjunto,
debate não só as fragilidades alternativas que nos mostram o
relacionadas à implementação das nosso humano pulsando e dizendo
políticas públicas em saúde mental, mas que resistiremos com vida e pela
Banksy toda a condição de trabalho e vida vida, na sua mais forte expressão de
Homenagem às trabalhadoras da saúde institucionalizada. força e luta!
114 115

Não é à toa que


testemunhamos
inúmeras notícias, por REFERÊNCIAS
toda parte da Terra, de COREN. Conselho Regional de Mato Grosso. Nota de pesar – Ataíde Celestino da
pessoas que prestaram Silva. Maio de 2020. Disponível em: http://mt.corens.portalcofen.gov.br/nota-de-
homenagens e pesar-ataide-celestino-da-silva_13394.html . Acesso em 20 mai de 2020.
agradecimentos aos
profissionais da saúde, COREN. Conselho Regional de Mato Grosso. Nota de pesar – Alessandra Bárbara
em especial às Pereira Leite. Maio de 2020. Disponível em:
http://mt.corens.portalcofen.gov.br/index.php?s=nota+de+pesar+alessandra .
enfermeiras, técnicas de Acesso em 20 mai de 2020.
enfermagem, assistentes
sociais, atendentes e/ou
as trabalhadoras da PARA SABER MAIS
cozinha ou de limpeza Enfermeiro morre por Covid-19
dos hospitais. É o caso https://g1.globo.com/mt/mato-grosso/noticia/2020/05/02/enfermeiro-morre-por-Covid-19-apos-ficar-37-dias-
internado-em-uti-em-cuiaba.ghtml
do grafiteiro britânico,
Banksy, que Morre enfermeira pela Covid-19
https://www.rdnews.com.br/coronavirus/apos anos de dedicacao a saude morre enfermeira do adauto vitima da Covid
recentemente fez sua 19/128302
homenagem às
enfermeiras, como novas Covid-19 afeta profissionais da saúde
https://noticias.r7.com/saude/coronavirus por que a Covid 19 afeta tanto os profissionais de saude 01042020
heroínas num mundo
doente de patologias Profissionais da saúde expostos à Covid-19
materiais e imateriais. https://www.sinditest.org.br/2020/04/por que profissionais da saude estao mais expostos ao coronavirus/
110 117
Sendo assim, quais medidas
TRABALHADORES
As medidas decretadas pelo Estado,
de flexibilização das relações de preventivas contra infecção e
trabalho com redução de jornada e disseminação do vírus estão sendo
dos salários, além da suspensão de realizadas entre trabalhadoras/es
contratos de trabalho, permitem que expostas/os ao atendimento ao
patrões dos setores econômicos público?
Em meio à pandemia da Covid-19, muitos setores econômicos mais atingidos realizem demissões Na cidade de Cuiabá, Estado de Mato
foram prejudicados durante o isolamento no mundo todo, mas em massa, aprofundando para uma Grosso, em março de 2020, o
face à vida, talvez não sejam os setores mais importantes. No parcela das/os trabalhadoras/es Ministério Público do Trabalho (MPT)
Brasil, o isolamento social está mais frouxo que em outros países, uma crise trabalhista social notificou diversas redes de
devido às estratégias desencontradas das políticas de saúde entre (RAMOS, 2020). supermercados que não estavam
ministérios, governadores e presidente da república. utilizando o protocolo da Organização
Mesmo assim, alguns setores
aumentaram suas demandas de Mundial de Saúde (OMS) entre
Marcelo Casagrande / Agencia RBS
produção e trabalho como é o caso suas/seus funcionárias/os, sendo
da indústria farmacêutica, recomendado um plano de contenção e
hospitalar, redes de supermercados e prevenção de infecções, propondo a
distribuição de alimentos, entre adoção de medidas para evitar a
outros setores e atividades exposição ao vírus e sua propagação
(JACKSON FILHO et al., 2020). para o público em geral (G1 MT,
2020).
Nas redes de supermercados, Da mesma forma, mesmo com a
desde o início da pandemia, pandemia instaurada, em Vila Velha,
houve um aumento nas Estado do Espírito Santo, no final de
demandas de operações, sendo abril de 2020, uma rede de
necessária a contratação de supermercados foi fechada devido à
novas/os trabalhadoras/es em contaminação por Covid-19 de 22
diversos estados do Brasil. funcionárias/os (DEVENS, 2020).
118 119

As duas reportagens acima citadas demonstram que grande parte das


SITES CONSULTADOS
redes de supermercados não estão seguindo os protocolos de contenção e G1 MT. Covid-19: MPT notifica 5 supermercados de Cuiabá e alerta sobre
prevenção de infecções. Logo, percebemos que o sistema capitalista medidas de proteção a trabalhadores. Acesso em 16 de maio de 2020, disponível
novamente se interessa pelos lucros não considerando a amplitude dos em <https://g1.globo.com/mt/mato-grosso/noticia/2020/03/26/mpt-
impactos de suas ações sobre suas/seus trabalhadoras/es e usuários. notifica-5-supermercados-de-cuiaba-e-alerta-sobre-medidas-de-protecao-a-
trabalhadores.ghtml>
Por outro lado, é imperativamente considerar que as/os Trabalhadoras/es DEVENS, Natália. Com funcionários com Covid-19, supermercado é interditado
dos setores vinculados aos serviços essenciais estão sendo submetidas/os em Vila Velha. Acesso em 16 de maio de 2020, disponível em
a jornadas mais intensas de trabalho, baixos salários e riscos de contágio <https://www.agazeta.com.br/es/economia/com-funcionarios-com-coronavirus-
devido à ausência de equipamentos de segurança e ao aumento da supermercado-e-interditado-em-vila-velha-0420>
situação de exploração (RAMOS, 2020).

Na verdade, estes trabalhadores prefeririam estar em isolamento social,


mas trabalham acuados, com medo da contaminação, da exposição diária
e o pior: da perda de seus empregos que ainda acalentam os sonhos de
melhores condições de vida.

REFERÊNCIAS
JACKSON FILHO, José Marçal; ASSUNÇÃO, Ada Ávila; ALGRANTI, Eduardo; GARCIA,
Eduardo Garcia; SAITO, Cézar Akiyoshi; MAENO, Maria. A saúde do Trabalhador e o
Enfrentamento da Covid-19. Revista Brasileira de Saúde Ocupacional, vol. 45, ed.14,
2020.

RAMOS, Valena Ribeiro Garcia. Pandemia do Coronavírus (Covid-19) e a Classe Banksy


Trabalhadora Brasileira em Xeque Mate. Revista Estudos Libertários, UFRJ, vol. 2. nº BristoL, UK
4, ed. especial nº 2, 2020.
114 121
TRABALHADORES
A falta de empregos já era uma crise
Contudo, se o serviço de entrega existente antes da pandemia, e a oferta de
protege as pessoas, estes trabalho para entrega de produtos tornou-
entregadores realizam o trabalho se uma oportunidade de gerar rendas. Para
inverso e continuam alguns, é a única fonte de rendimento, mas
Durante a pandemia causada pela Covid 19, o isolamento social
invisibilizados pela sociedade de agravada pela Covid-19, em função da alta
(Lockdown) se fez necessário para que o número de pessoas
consumo: entregam sonhos, e exposição destas pessoas nas ruas, nas
infectadas não seja maior que a capacidade de atendimento nos
recebem solidão. diversas caixas amontoadas, ou no contato
postos de saúde. Para a manutenção da população em casa,
direto com os clientes, ou porteiros de
alguns serviços essenciais (restaurantes, farmácias, padarias,
condomínios.
etc) passaram a adotar ou reforçaram ainda mais os serviços de Estêncil anônimo
entrega, fato que aumentou a quantidade desses profissionais Foto Mauro Pimentel
circulando pelas ruas.
Embora os devidos cuidados com a proteção (uso de máscaras,
luvas, álcool em gel) estejam sendo tomados com a maioria
desses profissionais, a exposição sofrida por eles, durante o
trabalho, é de alto risco. Sabemos que esse tipo de trabalho é
executado em grande parte por pessoas negras e com baixas
condições financeiras, fato que é facilmente entendido quando
fazemos uma análise histórica da situação socioeconômica de
pessoas negras e pobres no Brasil, e que ainda hoje pode ser
percebido em nosso cotidiano.
A prestação de serviços por delivery, que há muitos anos já é
adotado mundialmente pelos comerciantes, se tornou essencial
nesse período de pandemia, pois tem a capacidade de diminuir
em grande número a quantidade de pessoas que circulam nas
ruas e comércios.
122 123
Muitos desses trabalhadores são
contratados na informalidade, o que Ironicamente, são pessoas que moram REFERÊNCIAS:
não lhes garante muitos direitos, na periferia, locais de difícil acesso a PETROCILO, Carlos. Expostos ao corona vírus entregadores de delivery atuam sem
postos de saúde ou demais condições proteção. Folha de São Paulo, São Paulo, 6 de abril de 2020. Cotidiano. Disponível em:
inclusive não existe pagamento extra <https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2020/04/expostos ao coronavirus entregadores de delivery atuam sem protecao.shtml>.
pelos riscos de se contrair a doença de vidas dignas. São trabalhadores que Acesso em: 18 de maio de 2020.
(insalubridade). A remuneração, em vencem ambientes inóspitos e buscam
sua maioria, é feita pela quantidade construir suas vidas de forma digna. UOL, Notícias. Covid 19: entregador tem diagnóstico positivo e isola 72 pessoas na Índia.
São vítimas da injustiça UOL, São Paulo, 17 de abril de 2020. Notícias. Disponível em:
de entregas que são capazes de <https://noticias.uol.com.br/internacional/ultimas noticias/2020/04/17/Covid 19 entregador tem diagnostico positivo e isola 72 pessoas
realizar, o que leva muitos desses socioambiental, com piora sensível em na india.htm>. Acesso em: 16 de maio de 2020.
trabalhadores a exaustão e os deixam momentos de pandemia. Embora
ainda mais expostos aos riscos não só pareça que perderam tudo, a eles ainda MELLO, Gabriela. Número de entregadores de aplicativo cresce após Covid 19. Terra, São
restam as esperanças na utopia por Paulo, 2 de abril de 2020. Tecnologia. Disponível em: <https://www.terra.com.br/noticias/tecnologia/numero de
da Covid, mas a outras inúmeras
entregadores de aplicativo cresce apos Covid 19,a260720f923439424d686333ed8d32ee9arc7ofd.html>. Acesso em 16 de maio de
doenças físicas e mentais. um planeta mais justo e mais
2020.
protegido.
Os serviços realizados por esses Patomena
PARA SABER MAIS: História abreviada da escravidão
profissionais são indispensáveis diante da GALVAO, Paulo. Motoboys devem ter
situação pandêmica que nos cuidado redobrado com o corona vírus.
encontramos, porém é necessário um Estado de Minas Gerais, Belo Horizonte, 13 de
olhar especial as condições de trabalho abril de 2020. Coronavirus. Dsiponível em:
<https://www.em.com.br/app/noticia/gerais/2020/04/13/in
que lhes é proporcionado e a garantia de terna_gerais,1137970/motoboys devem ter cuidado redobrado
com o coronavirus.shtml>. Acesso em 18 de maio de
assistência necessária em caso de
2020.
contaminação. Estes profissionais que
parecem estar invisíveis na paisagem, LOPES, Vitoria. Entregador relata exposição e
contudo, têm contato com grande cuidados com coronavírus. Gazeta Digital,
Cuiabá, 24 de março de 2020. Cidades.
número de pessoas por causa das Disponível em:
entregas, além disso, podem contrair as <https://www.gazetadigital.com.br/editorias/cidades/entrega
dor relata exposio e cuidados com coronavrus/611120>.
doenças e carregá-las para dentro de seus Acesso em: 19 de maio de 2020.
próprios lares.
118 125
TRABALHADORES
Mas, enquanto os trabalhadores formais (garis e varredores de ruas) são, em
sua maioria, os que realizam a coleta convencional dos resíduos, contratados
por empresas públicas ou privadas e que gozam de todos os direitos
trabalhistas, sendo obrigatório o uso de Equipamento de Proteção Individual
Os coletores de lixo e Estudos recentes demonstraram (EPIs) (3). Já os coletores de materiais recicláveis individuais, associados ou
catadores de materiais que o vírus da Covid-19 pode cooperados estão, em sua maioria, na informalidade, sem garantias
recicláveis são um dos sobreviver por horas em trabalhistas ou plano de saúde, tendo sua renda oriunda das coletas diárias de
grupos de trabalhadores superfícies e infectar outras recicláveis.
que mais estão expostos pessoas (2), soma-se a isto, a
ao risco de estimativa de que as medidas Marcelo Putisglione: catadores
contaminação ao emergenciais adotados
Coronavírus, tendo em (isolamento social e quarentena)
vista que realizam um aumentarão entre 15 e 25% os
serviço essencial às resíduos sólidos domiciliares e 10
cidades (estima-se que a 20 vezes os resíduos
90% dos materiais hospitalares. Todavia, há de se
recicláveis no Brasil em considerar uma diferença entre os
2011 passaram pela mão trabalhadores formais e os que
dos coletores 1) e a estão na informalidade, apesar
saúde pública e que de ambos os grupos estarem em
mantém contato diário e graus similares de exposição ao
direto com os resíduos risco de contrair o vírus.
sólidos.
126 127
Não há, por parte do Estado, políticas
A situação de vulnerabilidade
públicas que assegurem direitos
econômica que se agrava com as
trabalhistas, ou até mesmo a distribuição
condições sociais destes REFERÊNCIAS
de máscaras e os outros equipamentos
trabalhadores, considerando que dois (1) MORI, Letícia. ‘Acham que a gente é lixo”: a rede invisível de catadores que processa
de proteção individual a esse conjunto de
terços são pretos ou pardos, tudo o que é reciclado em SP. Disponível em: bbc.com/portuguese/brasil-40664406. /
trabalhadores, ações que já não existiam
apresentam baixa escolaridade, Acesso em: 19 de maio de 2020.
antes, e tão pouco agora com a
residem em regiões periféricas e com
pandemia e o isolamento social. Aliado a (2) ABRELPE. Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais.
renda média próxima de um salário
falta de informação da população em Medidas para proteção da saúde e segurança dos profissionais de limpeza urbana.
mínimo (4), ou seja, estão em Disponível em: http://abrelpe.org.br/abrelpe-no-combate-a-Covid-19/ Acesso em 19 de
geral referente ao descarte seguro dos
situação de risco à saúde, na maio de 2020.
resíduos sólidos, são fatores que
insegurança alimentar e
contribuem para o agravamento do
invisibilizados socialmente. (3) ABRELPE. Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais.
quadro de risco dos catadores de lixo e Recomendações para a gestão de resíduos sólidos durante a pandemia de Coronavírus
coletores de materiais recicláveis. (Covid-19). Acesso em: http://abrelpe.org.br/abrelpe-no-combate-a-Covid-19/ Acesso em
19 de maio de 2020.

(4) DAGNINO, R. S.; JOHANSEN, I. C. Os catadores no Brasil: características demográficas e


socioeconômicas dos catadores de material reciclável, classificadores de resíduos e
varredores a partir do Censo demográfico de 2010. Mercado de Trabalho. n. 62, p. 115-
125, 2017. Link:>
http://repositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/7819/1/bmt_62_catadores.pdf.

SAIBA MAIS
Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis. Link:
http://www.mncr.org.br/

Thiago Vaz
Saci coletor
122 129
TRABALHADORES
Neste caso, a recomendação é para que o próprio morador se dirija à portaria e
retire a encomenda junto ao entregador. Em relação à manutenção do espaço de
trabalho da portaria, a administração do prédio/condomínio deve
disponibilizar aos funcionários os materiais de limpeza para higiene própria e
da estrutura da guarita: portas, maçanetas, interfones e telefones, utensílios e
objetos a todo momento tocados pelos(as) porteiros(as). Uma vez que estes(as)
Todo cenário de crise impõe ao mundo uma série de dificuldades
retornarão às suas famílias no fim do dia ou ao início da manhã, não podem se
com as quais temos de lidar. No entanto, é preciso compreender que
contaminar no local de trabalho.
os efeitos dessa conjuntura recaem mais fortemente sobre os
grupos sociais em situação de vulnerabilidade. É neste contexto que
se encontram os trabalhadores de prédios e condomínios durante a
pandemia de Covid-19 (coronavírus).
Os profissionais mais expostos são os que atuam nas guaritas ou
portarias, além do pessoal encarregado da limpeza das áreas
comuns, como elevadores, repositórios de lixo e espaços de lazer. É
justamente eles que trabalham na linha de frente do
funcionamento do condomínio, controlando o fluxo externo que
entra na área do prédio e lidando diretamente com espaços por
onde passa a maioria dos moradores do local.
Dessa forma, o serviço de portaria se responsabiliza pela interação
com quem vem de fora, ou seja, aqueles que passaram por outros
lugares e estiveram com diversas pessoas antes de chegar ali. Os
serviços mais comuns são os oferecidos por empresas prestadoras
de serviço (TV a cabo, internet, telefonia fixa, construção civil); o de
entrega de correspondência e produtos, realizada pelos Correios e
transportadoras; e o delivery, ramo do mercado informal que conta
com motoqueiros e ciclistas para a entrega de alimentos.
130 131
REFERÊNCIAS CONSULTADAS
Nesse sentido, as áreas de lazer, SÍNDICONET. Tudo sobre o coronavírus em condomínios, 13 mar. 2020. Disponível em:
como academias, salão de jogos e <https://www.sindiconet.com.br/informese/tudo-sobre-o-coronavirus-em-condominios-convivencia-especial-Covid-
19>. Acesso em: 26 mai. 2020
festas, brinquedotecas, espaços Já os funcionários da limpeza são os
gourmet, playground, saunas, responsáveis por manter limpos os SÍNDICONET. Manual do síndico e do condomínio: medidas e orientações para gestores sobre como lidar com o
coronavírus nos condomínios, 23 abr. 2020. Disponível em: <https://sindiconet-files.s3-sa-east-
piscinas e churrasqueiras, devem ser espaços comuns de prédios e 1.amazonaws.com/Documentos/Covid-19_ebook_sindiconet_update23abr2020.pdf>. Acesso em: 26 mai. 2020.
interditadas pela administração. condomínios, como elevadores e áreas
Uma vez que a orientação da JUNQUEIRA, André L. Limites e responsabilidades do condomínio em relação ao coronavírus, 18 mar. 2020.
de lazer. Para tanto, necessitam ter à
Disponível em: <https://www.conjur.com.br/2020-mar-18/andre-luiz-junqueira-responsabilidade-condominio-
Organização Mundial da Saúde sua disposição os equipamentos de coronavirus>. Acesso em 26 mai. 2020.
(OMS) é evitar aglomerações e a proteção individual (EPIs), tais como
RACHKORSKY, Márcio. O impacto da Covid-19 nos condomínios. Folha de São Paulo, São Paulo, 11 abr. 2020.
disseminação do vírus, deixar esses máscaras, luvas, óculos e botas. É Disponível em: <https://www1.folha.uol.com.br/colunas/marciorachkorsky/2020/04/o-impacto-da-Covid-19-nos-
espaços funcionando exporia os(as) responsabilidade do condomínio condominios.shtml>. Acesso em 26 mai. 2020.
trabalhadores(as) da limpeza a um disponibilizar produtos para que os
risco ainda maior. próprios moradores se higienizem ao
A preocupação com os trabalhadores frequentar as áreas comuns, não
de prédios e condomínios ocorre em sobrecarregando o pessoal da limpeza.
função do contexto socioeconômico
em que vivem: em regra, são pessoas
que enfrentam dificuldades
financeiras (baixa remuneração) e
instabilidade no emprego, uma vez
que trabalham em empresas
terceirizadas, condição que os obriga
a morar em localidades muito
povoadas e sem a infraestrutura
Slavica Jovanovic
básica, tão necessária em tempos de <https://www.artpal.com/slavicajovanovic>
pandemia.
132 133
TRABALHADORES
Ronaldo Senra

Se de um lado, a Globo afirma que o Agro é pop-tec, por outro lado,


sabemos que o agronegócio é tóxico! (1). E em tempos de Covid-19
acreditamos que os assentados e acampados serão atingidos pela
pandemia, representando um grupo em situação de vulnerabilidade.
Sabemos que existem diferentes assentamentos rurais no Brasil e
sabemos da ineficiência do Estado em efetivar suas políticas
públicas, alguns locais são mais estruturados - é fato, mas em
outros há situações precárias de vida, de produção, de escola, de
transporte e, de saúde.
Em locais com escassez de água, como é o caso de assentamentos e
dos acampamentos (territórios temporários, muitas vezes na beira Ronaldo Senra – arquivo de pesquisa
de estradas e que não têm uma infraestrutura mínima), como
Como se já não bastasse os conflitos agrários no nosso país (3), a diminuição de
manter as normas de sanidade e higiene necessárias? Com a recursos para as diversas políticas públicas, a exemplo do PAA (4); agora, os
proibição das feiras livres, e com o isolamento social nos municípios camponeses/as precisam se proteger para evitar a contaminação por um inimigo
a questão da produção também se tornou um fator de invisível.
vulnerabilidade que pode agravar a fome nos centros urbanos e
(3) Vídeo O Agro é Voraz: https://www.youtube.com/watch?v=eQ565er2wpM. Acesse o Caderno de Conflitos no
rurais também, afinal campo-cidade estão interligados (da Campo de 2019 (CPT): https://www.cptnacional.org.br/component/jdownloads/send/41-conflitos-no-campo-brasil-publicacao/14195-conflitos-no-
campo-brasil-2019-web?Itemid=0
produção ao transporte à venda final). É preciso se reinventar, como
aponta algumas ações (2). (4) Tanto o PAA-Programa Nacional de Aquisição de Alimentos, quanto o PNAE – Programa Nacional de
Alimentação Escola são os principais meios no qual a Agricultura Familiar vende sua produção. Contudo, mesmo
durante a pandemia o governo autorizando esta compra, nem sempre se efetiva como deveria ocorrer, compra
(1) http://recoopsol.ic.ufmt.br/index.php/2020/04/21/cooperativas-realizam-entregas-de-produtos-da-agricultura-familiar/
direta dos produtores. Acesse: https://www.fnde.gov.br/index.php/acesso-a-informacao/institucional/area-de-imprensa/noticias/item/13438-
(2) http://recoopsol.ic.ufmt.br/index.php/2020/04/21/cooperativas-realizam-entregas-de-produtos-da- publicada-a-lei-que-autoriza-a-distribui%C3%A7%C3%A3o-de-alimentos-adquiridos-com-recursos-do-pnae-durante-a-suspens%C3%A3o-das-aulas-na-rede-
agricultura-familiar/ p%C3%BAblica
134 129

Candido Portinari
Pau Brasil

Os próprios modos de vidas destas populações não permitem o


isolamento total, já que nenhum território é autossustentável, a
organização é comunitária, os sistemas de trocas e de convívio com
outros sitiantes, continuam, assim como o trabalho.

Mesmo com pandemia, “se a roça não planta, a cidade não janta”, o que
vemos é a solidariedade em tempos de adversidades se efetivando, justamente
destes camponeses/as, aqueles sem terras, posseiros, Sem Terras-MST,
assentados, acampados/as, agricultores/as, sitiantes, aqueles/as que a mídia
tanto critica que diante do perigo do desabastecimento de alimentos, começam
a produzir o dobro para destinar aos mais necessitados (5). Reiteramos a
urgente necessidade de efetivas políticas públicas para os camponeses/as, que
inclusive destina alimentos que deveriam chegar às famílias, o pão de cada
dia! Afinal ninguém come commodities!

(5) http://recoopsol.ic.ufmt.br/index.php/2020/05/05/associacoes-da-agricultura-familiar-realizam-
doacoes-de-alimentos-durante-a-pandemia-da-Covid-19/ . Acampamento Padre Tem Cate, junto
com Secretaria de Assistência Social produzindo máscaras para doação. Podcast
(áudios) feito pelo GIAS (Grupo Intercâmbio Agroecologia) sobre a solidariedade de
classe do MST-MT realizando doações de alimentos e a orientação aos militantes, assim
como sobre o PNAE. Acessado em: https://anchor.fm/fran-paula.
https://mst.org.br/2020/05/02/acoes-de-solidariedade-e-atos-online-marcam-o-1o-de-maio-em-todo-
brasil/
130 137
TRABALHADORES
Mas decisões como essa causam É importante pontuar que os motoristas
pânico e medo na população e nota de prestadoras de serviços eletrônicos na
se nesse caso um afastamento entre área do transporte privado urbano,
o povo e o estado. Outra medida também se encaixam no grupo de risco
Frente ao exposto, na que corrobora também para a ainda maior, considerando que estes tem
Segundo a Associação Nacional atualidade alguns gestores lotação do transporte público é, contato direto com dezenas ou até
de Transportes Públicos, o serviço públicos determinaram neste momento indubitavelmente mesmo centenas de pessoas todos os
conta, na atualidade, com cerca medidas de diminuição de frota ineficaz e já revogado, o rodízio de dias; as chances de contaminação
de 40 milhões usuários. E é fato para o sistema público de carros em São Paulo, pois ao chegam até 70% para os motoristas,
que a maioria desses usuários transportes, portanto, diminuir diminuir o número de veículo nas segundo uma pesquisa realizada por
pertencem a classe desfavorecida a frota neste momento, tem ruas aumenta a procura pelo pesquisadores da UFRJ, e a capacidade de
economicamente. significado um perigo ainda transporte público e aplicativos. transmitir o vírus de maneira indireta
maior para os usuários do
(pegando dinheiro e devolvendo o troco
transporte. Considerando que
Constate se que em horários de sem higienizar as mãos, por exemplo) é
nem todos tomam as devidas
maior fluxo, aglomerações altíssima (RIO DE JANEIRO, 2020).
precauções, o que pode levar a
desumanas, causadas pelo intervenção da autoridade Alexandre Beck
descaso de donos de empresas de policial, dentre outras medidas. Armandinho
transporte, que em muitos casos
não se preocupam com a
disponibilidade de uma frota
capaz de abarcar a população com
segurança. Assim uma população
já desfavorecida econômica e
socialmente, no momento de
Pandemia se torna um grupo
altamente vulnerável às doenças
transmissíveis, como a
perigosíssima Covid 19.
138 139

Os motoristas de caminhão também REFERÊNCIAS CONSULTADAS


A obrigatoriedade do uso de máscaras,
ALBUQUERQUE, Lucca. Efeitos da pandemia de Covid-19 no setor de transportes. Jota Opinião
estão suscetíveis ao coronavírus, pois álcool em gel na entrada dos e análise, 18/04/2020. Disponível em <https://www.jota.info/opiniao-e-analise/artigos/efeitos-da-pandemia-de-Covid-
transportam mercadorias para todo comércios, a autoridade policial 19-no-setor-de-transportes-18042020>, acesso em 26/05/2020.
o país, expondo se em locais onde contendo aglomerações e o
ocorrem grande tráfego de pessoas, distanciamento social, apesar de ainda GLOBO, G1. Viagem de ônibus é interrompida e PM é aionada após a passageira se recusar a
como postos de gasolina, centros de não totalmente efetivas, mostram certo usar máscara em Belém. Rede Liberal PA – G1. Disponível em
carga e descargas, portos, armazéns resultado na constante tentativa de
<https://g1.globo.com/pa/para/noticia/2020/05/07/viagem-de-onibus-e-interrompida-e-pm-e-acionada-apos-passageira-se-recusar-a-
usar-mascara-em-belem.ghtml>, acesso em 26/05/2020.
e oficinas mecânicas. conter a Covid 19.
ROBERTO, Igor. Coronavírus aumenta o número de passageiros no transporte em SP. Rede
Entretanto, as profissões aqui A alteridade com esses Noticiando, seção mobilidade urbana, 18/04/2020. Disponível em <https://noticiando.net/coronavirus>.
citadas, na maioria das vezes não profissionais, e com tantos outros, Acesso em 26/05/2020.
podem se manter nem em nesse momento, é uma forma de SilkStreet - bus
distanciamento social, que dirá em se sentir vivo, já que a
isolamento social, pois a elas cabe solidariedade e o cuidado ainda
somente a decisão de se prevenir restam nesta crise planetária que
por meio do uso de máscaras e põe em xeque diversos valores que
equipamentos de higiene durante e estamos vivenciando nesta enorme
ao final das viagens, pois não crise civilizatória
podem deixar de abastecer a
população em geral. REFERÊNCIAS
RIO DE JANEIRO, Governo de Estado. 4361
Nesse momento, cabe a população óbitos e 40.024 casos confirmados no Rio
em geral também ser solidária a de Janeiro. Boletim Coronavírus,
esses profissionais e tomar as 26/05/2020. Disponível em
medidas que podem salvar a vida http://www.rj.gov.br/NoticiaDetalhe.aspx
>, acesso em 26/05/2020.
do perigo eminente.
134 141
No reinado da Terra plana, os
TRABALHADORES
cientistas, professoras, ecologistas,
educadores ambientais, negras,
entregadores, trabalhadores do
campo e das cidades, e de tantos
O mundo se tornava fascista.
outros aqui abordados neste caderno
Num mundo assim, que futuro nos reservariam?
de balbúrdia, são considerados
Provavelmente não havia lugar para nós,
farrapos vivos e fantasmas
éramos fantasmas,
indesejados. E a travessia pelo Fórum Cris Almeida
rolaríamos de cárcere em cárcere,
de Direitos Humanos e da Terra de
findaríamos num campo de concentração.
Mato Grosso (FDHT-MT) revela que Em tempos de pandemia, aumentam as
entre tantos malditos, existe um grupo amarguras desta narrativa, porque as
~ Graciliano Ramos
à margem das margens, que vive situações vividas foram e continuam
[Memórias do cárcere, 2008 – original de 1953]
como esquecidos de qualquer sentido sórdidas: prisioneiro e agentes do
do perdão: os habitantes do cárcere. sistema de segurança não têm o direito
Enquanto os governantes não de “ficar em casa”, vivendo ou vigiando
encarar com seriedade a política as celas superlotadas, mal cheirosas e
Jérôme Thomas – Paris, FR
Não fosse pela data da criminal, os presídios continuarão excedendo 80% de sua capacidade de
obra de Graciliano sendo um dos principais focos de ocupação (Simões, 2020). Qualquer tipo
Ramos, a epígrafe parece violações e de exposições à de prisão, seja feminino, masculino ou
servir ao ano 2020, pandemia. Os problemas do sistema juvenil, as celas não possuem condições
quando nos sentimos prisional é um modelo cruel que não de higiene, máscaras ou
aprisionados em casa e o consegue responder os complexos distanciamento. A janela balaustrada é
mundo vai se tornando desafio de segurança pública. uma metáfora dúbia, oscilando entre a
fascista - talvez escrito Atualmente, o Brasil tem a quarta justiça e a injustiça. O presídio é um
por Stephen King, maior população carcerária mundial, espaço de fácil infecção e contágios para
escritor de histórias de mas definitivamente não figuramos qualquer tipo de doença, agravado nos
terror, como anuncia a entre os mais seguros, muito menos períodos de contaminação massiva
arte nas ruas de Paris. respeitamos os direitos humanos. como a Covid-19.
142 143

SAIBA MAIS
Agência pública – presídios femininos, SP
https://apublica.org/2020/05/gestantes-e-maes-com-bebes-enfrentam-
Acompanhando as notícias pandemia-dentro-das-prisoes-paulistas/

recentes, é feroz a quantidade de Globo 1 – presídios da região amazônica, AM


agentes penitenciários, guardas https://g1.globo.com/am/amazonas/noticia/2020/05/08/com-casos-de-
Covid-19-em-tres-presidios-do-interior-numero-de-infectados-no-sistema-
e prisioneiros que sucumbem ao prisional-do-am-sobe-para-31-diz-seap.ghtml
coronavírus, elevando
dramaticamente os números de Globo - Penitenciária da Papuda, DF
https://oglobo.globo.com/sociedade/complexo-penitenciario-da-papuda-
cadáveres que oscilam tem-100-casos-confirmados-de-Covid-19-entre-os-presos-24389933

rapidamente nas covas ou Ponte – Vítimas da Covid em prisões, SP


sepulcros. Contudo, o presídio é https://ponte.org/quarta-vitima-da-Covid-19-morre-em-presidio-de-sp/

um local de paradoxos -
Agência Brasília – Balança Covid, DF
selvageria ou solidariedade https://www.agenciabrasilia.df.gov.br/2020/05/08/balanco-da-Covid-19-
podem vazar das grades da no-sistema-penitenciario-sexta-feira-8/

janela de modo aleatório, Folha S. Paulo – Aumento de 35% da Covid, SP


tirando o cárcere da https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2020/05/coronavirus-avanca-e-
35-de-presidios-de-sp-tem-casos-suspeitos-ou-confirmados.shtml
invisibilidade do perdão.

REFERÊNCIAS
RAMOS, Graciliano. Memórias do cárcere. Rio de Janeiro: Record, 2008 [1953] acesso em
19/05/2020 <https://www.passeiweb.com/estudos/livros/memorias_do_carcere>

SIMÕES, Mariana. A pior prisão do Rio de Janeiro em tempos de coronavírus. Agência


Pública, 12/05/2020. Acesso em 19/05/2020 [https://apublica.org/2020/05/a-pior- Evangeline Gallagher
prisao-do-rio-de-janeiro-em-tempos-de-coronavirus/]. Inside the prison
https://www.mississippicir.org/news/inside-the-prison
AS AUTORAS
OS AUTORES

René Magritte
tomb of the Wrestlers 1960
146 A temática investigava é ampla, mas 147
Todas as pessoas que todos desenvolvem pesquisa com Justiça INTRO. Cthulhuceno: esperanças nas ruínas
Climática e Educação Ambiental, em do capitalismo [p. 8]
participaram deste Caderno de
Balbúrdia são pesquisadoras do interface com outra área do
conhecimento. Excepcionalmente nesta 22. Janelas balaustradas de farrapos
Grupo Pesquisador em Educação humanos [p. 140]
Ambiental, Comunicação e Arte obra, muitos fizeram o exercício de
estudar outro campo do conhecimento. MICHÈLE SATO (coordenadora)
(GPEA), do Programa de Pós-
Graduação em Educação (PPGE), Contudo, a maioria de nós já tem Doutora em Ciências, Pós-doutorado em
da Universidade Federal de Mato interface com as temáticas propostas e Educação, tem pesquisa em arte-educação-
coletivamente participamos de várias ambiental em diversas dimensões, inclusive a
Grosso (UFMT). Somos membros arte da rua. É militante do Fórum de Direitos
da educação básica, graduação, seções e tópicos. Cristiane Almeida Soares
Humanos e da Terra.
estudantes de mestrado e e Roberta Simione foram maravilhosas
doutorado, mestres, doutores e colaboradoras de Michèle Sato na parte Anônimo – Cthulhu
pós-doutores da UFMT, imagética do caderno. Los Angeles, California
Universidade Federal de Embora a obra seja de todos nós, houve
Rondonópolis (UFR), Instituto responsáveis por cada grupo social. Nesta 1. Crianças em risco na pandemia Covid –
Federal de Mato Grosso (IFMT), última seção, trouxemos uma arte de rua 19 [p. 30]
Universidade de Cuiabá (UNIC), [em cores reais] para conectar capítulos e
Secretaria de Estado de Educação ELNI ELISA WILLMS
autorias.
Doutora em Educação, professora do IE/UFMT
(SEDUC-MT), Secretaria Municipal
e do PPGEdu da UFR. Pesquisa com Guimarães
de Educação (SME), Universidade Todas as imagens desta seção são do Rosa, crianças e fenomenologia.
de Brasília (UnB), Universidade álbum do artista de rua, Blaise Runart,
Federal do Pará (UFPA), Paris, França [www.facebook.com/blaise.runart.5/photos]. TATIANI DO CARMO NARDI
Universidade Federal do Estado do As fotos foram publicamente Pedagoga pela UFMT, pesquisadora sobre
Rio de Janeiro (UNIRIO), imagética de crianças migrantes da Venezuela
compartilhadas no grupo “Street Art
Universidade Estadual de World Wide” – EDMX
Campinas (Unicamp) e [www.facebook.com/groups/149698931835055/].
Henrique Montanari
Universidad de Havana (UH-
Cuba). AGRADECEMOS A LEITURA!
https://gpeaufmt.blogspot.com/
148 149
2. Crueldades duplas: Covid-19 e a 4. Ciganos andarilhos: tolhidos para
violência contra as mulheres e meninas [p. confinamento
38]
ALUIZIO DE AZEVEDO SILVA JÚNIOR
DENIZE APARECIDA RODRIGUES DE Doutor em Informação, Comunicação e
AMORIM Saúde. Pesquisa com Ciganos Kalon, sendo
Doutoranda em Educação na UFMT, servidora diretor da Associação Estadual de Etnias
da Secretaria de Planejamento e militante do Ciganas de MT (AEEC).
movimento de Mulheres em MT.

@johnnykibutz Irony
Gypsy

3. Ser idoso em tempos de pandemia do 5. Como ficam os indígenas em meio aos


coronavirus [p. 46] sóis da Amaral? [p. 60]

MARILENA LOUREIRO ROBERTA MORAES SIMIONE


Doutora em Desenvolvimento Sustentável, Doutoranda em Educação pela UFMT,
professora do Núcleo de Altos Estudos professora de história da educação básica,
Amazônicos, NAEA-UFPA, com pesquisa e tem vivência com educação escolar indígena e
Educação Ambiental e Sustentabilidade migração climática.
Amazônica
CELSO SÁNCHEZ
RAQUEL RAMOS Doutor e pós-doutor em educação,
Pedagoga pela UFMT, realizando mestrado compositor, militante ambiental e professor
em Ensino no IFMT com educação da Unirio, com pesquisa em movimentos
quilombola indígenas e outros movimentos sociais.

Gregg Deal Anônimo


São Paulo, BR
150 151
6. Quilombolas e as precárias condições de 8. Florestas: povos, grupos, comunidades e
saúde no enfrentamento à Covid-19 [p. 66] trabalhadores de esperanças [p. 76]

CARLOS ROBERTO FERREIRA REGINA APARECIDA DA SILVA


Doutorando em educação pela UFMT, Doutora em Ciências, pós-doutora em
professor de artes da educação básica e com educação e professora da UFR e do PPGE-
pesquisa no quilombo Mata Cavalo. UFMT, realiza as pesquisas no âmbito de
grupos sociais de MT.

Eme Street Art 2


Ador

9. Quando as cores se tingem de sangue [p.


7. “Você ainda está em análise”: a
82]
população negra e o coronavírus [p. 70]
ROMÁRIO CUSTÓDIO JALES
CÁSSIA FABIANE DOS SANTOS SOUZA Mestrando em educação pela UFMT,
Doutora em educação, professora da
professor da Unic e militante LGBT+,
Pedagogia e do Núcleo de Educação Aberta e
realizando sua pesquisa sobre crise climática
a Distância (NEAD) da UFMT, com pesquisas e LBGT+.
nas relações etnicorraciais e ambientais.
Salvatore Benintende
@Trey Wilder
152 153
10. Covid-19: um triste olhar sobre os
migrantes climáticos [p. 88] 12. Covid-19 e o vírus que avança pela
periferia urbana [p. 98]
CRISTIANE C. ALMEIDA SOARES
Doutoranda em educação, professora da IRINEU TAMAIO
educação básica, artista plástica e com Doutor em Desenvolvimento Sustentável, Pós-
pesquisa na área de migração climática de doutor em educação, professor da UnB-
Moçambique. Planaltina. Pesquisa sobre a relação “clima e
água” na formação de professores.
BÁRBARA YADIRA MELLADO-PÉREZ
Socióloga e Doutora em Pedagogia. KATHY DE FREITAS MARINHO DOS REIS
Professora da Universidade da Havana, com Mestranda em Ensino pelo IFTM. Professora
pesquisas no campo de migração climática de da educação básica (SME), Marxista,
Cuba. Freiriana e Educadora
RBS CREW- migrant
#Jorkan_Mwakana

13. Pessoas com Deficiência (PcD) e a


11. Os condenados da cidade: população ausência de orientações adequadas [p.102]
em situação de rua [p. 94]
GISELLY RODRIGUES DAS N. S. GOMES
DÉBORAH LUIZA MOREIRA S. SANTOS É doutora em educação pela UFMT, e
Doutoranda em Educação, professora da professora da Seduc e da SME, com pesquisa
educação básica e com pesquisa sobre as sobre desastres do clima e Pessoas com
Guerras Híbridas nos processos de migração Deficiência.
da Venezuela.
acob schaeperkoetter
@arasch.saffari cochran-ASL
154 155
16. Trabalhadores dos supermercados
14. Precarização do trabalho, da saúde e ajudando na alimentação de todos [p. 116]
da vida digna [p. 108 ]
JESSICA PRUDENCIO TRUJILLO SOUZA
FLAVIA LOPES BERTIER Doutoranda em Ensino de Ciências e
Mestre em Educação, publicitária e analista Matemática - Unicamp, Bióloga, Educadora
ambiental (ICMBio). Atua no Parque Nacional Ambiental e com pesquisa em formação de
da Chapada dos Guimarães, MT. professoras/es.

GISELI DALLA-NORA
Doutora em educação, professora do
departamento de Geografia da UFMT, com
forte atuação sobre a água e justiça climática. Justin Mugits

Sanchai chaiyanan

17. Entregadores de sonhos e recebedores


15. Valores imateriais das profissionais da
de solidão [p. 120]
saúde [p. 112]
PRISCILLA MONA DE AMORIM
ALETH DA GRAÇA AMORIM Doutoranda em educação, professora da
Mestranda em Educação, psicóloga com
educação básica. Sua pesquisa agrega a
aperfeiçoamento em clínica sócio-histórica,
migração climática com os andarilhos
mamãe da Aurora, e militante do movimento ciganos (Kalon).
da Psicologia Social

Ardif Streetart
Casey Drake
156 157

18. Catadores de esperanças: reciclando


20. Em tempos de Covid, de onde vem
possibilidades [p. 124]
nosso alimento? [p. 132]
ERONALDO ASSUNÇÃO VALLES
RONALDO EUSTÁQUIO FEITOZA SENRA
Mestre em educação, professor da educação
Doutor e pós-doutor em Educação, é
básica e com pesquisa no campo da
professor do IFMT, campus Jaciara e Cuiabá.
soberania alimentar e conexões com o ensino
Tem vivência e pesquisa em educação do
de Geografia.
campo e militância do MST.
Coverone

Brenda Barrios

21. Transportes e riscos coletivos e


individuais [p. 136]
19. No bem-estar das nossas casas,
trabalhadores que não podem “ficar em VITOR MACIEL MELLO
casa” [p. 128] Estudante da educação básica, desenvolve
pesquisa sobre as percepções de jovens sobre
THIAGO CURY LUIZ a emergência climática.
Doutor em educação, professor do
Departamento de Comunicação Social da DÉBORA ERILÉIA PEDROTTI
UFMT. Pesquisa transmídia e Doutora em Ciências, professora do Instituto
educomunicação, com vivência no quilombo. de Biociências e da Secretaria de Tecnologia
Educacional, com inserção em ensino de
JO BER ciências

Valott
Capítulo 22 – ver introdução de Michèle Sato

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