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Inclui bibliografia.
ISBN: 978-65-5637-205-1.
Nossa capa é uma foto que ilustra a quarentena de duas famílias aparentadas.
Helena e Marina pintaram uma parte da parede com tinta de tecido. Fizeram
várias mãozinhas. Quando flagradas, dois dos adultos ficaram malucos. Ao
verem que os outros dois adultos estavam rindo do que havia acontecido,
eles relaxaram e aí todos usaram as mãos para fazer a parede da quarentena.
Copyright © 2021 – Dos autores
Coordenação Editorial: Pontes Editores
Diagramação e capa: Vinnie Graciano
Revisão: Dos autores
Imagem da capa: Famílias Beato Canato e Beato Corradi
CONSELHO EDITORIAL:
Angela B. Kleiman
(Unicamp – Campinas)
Clarissa Menezes Jordão
(UFPR – Curitiba)
Edleise Mendes
(UFBA – Salvador)
Eliana Merlin Deganutti de Barros
(UENP – Universidade Estadual do Norte do Paraná)
Eni Puccinelli Orlandi
(Unicamp – Campinas)
Glaís Sales Cordeiro
(Université de Genève – Suisse)
José Carlos Paes de Almeida Filho
(UNB – Brasília)
Maria Luisa Ortiz Alvarez
(UNB – Brasília)
Rogério Tilio
(UFRJ – Rio de Janeiro)
Suzete Silva
(UEL – Londrina)
Vera Lúcia Menezes de Oliveira e Paiva
(UFMG – Belo Horizonte)
PONTES EDITORES
Rua Dr. Miguel Penteado, 1038 – Jd. Chapadão
Campinas – SP – 13070-118
Fone 19 3252. 6011
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www. ponteseditores. com. br
Dedicatória
PREFÁCIO................................................................................................................8
APRESENTAÇÃO...................................................................................................12
POSFÁCIO.............................................................................................................99
BIODATAS...........................................................................................................102
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PREFÁCIO
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compreender essa relação com base em uma gama de saberes que não
se limitam ao universo da linguística. A linguagem, como a estudamos,
é como se fosse o líquido amniótico que nutre o feto. Sem linguagem,
morremos. Estudamos a linguagem na vida, como discutimos em vá-
rios exemplos trazidos neste livro, sempre preocupadas com os impac-
tos que a linguagem exerce sobre nossa forma de ver o mundo, sobre
nossas ações e relações com outras pessoas e sobre nossas identidades.
Olhar para a linguagem, como linguistas aplicadas, envolve considerar
os mais diferentes saberes produzidos em várias áreas do conhecimen-
to, pois a linguagem atravessa todas elas; envolve considerar as vozes
das pessoas em suas práticas diárias, em seu cotidiano e inclusive em
diferentes áreas do conhecimento. Então, não nos vemos como ETs:
somos deste planeta, cujas práticas cotidianas de linguagem nos inte-
ressam na medida em que informam o que fazemos, o que pensamos,
quem somos, como nos vemos, como existimos, como vemos as outras
pessoas e o mundo. Estamos com os pés no chão e com as cabeças, os
corações e as mãos na linguagem.
É nesse sentido que para nós os estudos da linguagem constituem-
se numa área de conhecimento que se interessa pelo mundo e pelos
problemas existentes nele; portanto, suas contribuições são de diversas
ordens – sociais, educacionais, culturais, linguísticas, políticas,
dentre tantas outras. O trabalho que fazemos e compartilhamos com
você aqui neste livro é construído na interdisciplinaridade, em uma
interface direta com o campo da Educação e no diálogo com outras
áreas do conhecimento, como as Ciências Sociais e outras ciências que
também integram o que conhecemos por Humanidades. Os estudos da
linguagem a que nos referimos aqui caracterizam portanto uma área
do saber diretamente relacionada ao contínuo debate sobre sociedade,
educação, cultura, ética, relações de poder, desigualdades, diferenças.
O terceiro ponto a ressaltar está na elaboração de cada capítu-
lo como tendo um núcleo temático específico, mas não independente
dos núcleos temáticos de cada um dos outros capítulos. Neste livro,
tratamos de temas entrelaçados, todos enredados numa compreensão
de linguagem como prática social. Assim, nosso livro vai crescendo e
se desenvolvendo em sua infância, a partir das narrativas em torno das
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Laura: Mas..
Sandra (aflita, não deixa que Laura continue sua fala e retoma o turno
imediatamente): A gente sabe que uma das grandes dificuldades no
vestibular é a redação, e eu tenho acompanhado pela televisão como
estudantes em geral escrevem muito mal hoje em dia. Até o nosso pre-
sidente da República comentou isso numa entrevista que eu assisti
dias atrás. Me lembro também de uma reportagem, não sei se você viu,
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Sandra (cada vez mais nervosa, não deixa que Laura termine de falar e
continua, aos borbotões): Olha, eu não sei onde as coisas vão parar..
por que a escola mudou dessa forma, Laura? Lembro que quando eu
estava no colégio a minha professora de português dava textos para
copiarmos no caderno de caligrafia. Nossa letra era linda, toda dese-
nhadinha! A gente escrevia muito. Me lembro que quando voltávamos
das férias, a primeira atividade já era para praticar a escrita. A profes-
sora pedia uma redação com o título “Minhas férias”. Era ótimo! E as
aulas eram de explicação de gramática. A gente aprendia muito sobre
a língua portuguesa, repetindo a conjugação dos verbos. A gente deco-
rava tudo e quando chegava o dia da prova, a gente conseguia escrever
muito, completando os exercícios…
Laura: Sandra, minha amiga, são outros tempos, a escola precisa acom-
panhar, precisa ser significativa para os jovens..
Sandra: Ah, olha, Laura, eu sei que você gosta dessa escola, mas como
mãe vejo que ela está cada vez menos preocupada em ensinar a língua
e não sei o que vai ser de minha filha no vestibular! Na minha época a
gente aprendia português, matemática, história, geografia de verdade!
Nesse momento a filha de Sandra chega correndo, abraça a mãe e elas vão
embora, deixando Laura com suas reflexões sobre a conversa que teve com
Sandra.
Na cena que abre este primeiro capítulo, temos uma mãe aflita
com a educação da filha. Embora Sandra considere que “o principal ob-
jetivo do ensino deva ser o vestibular”, ela fala sob a impressão de que a
escola da filha tem outra intenção. Sandra demonstra maior apreen-
são com a disciplina de português, porque, em sua opinião, apesar de
as pessoas “em geral escreverem muito mal hoje em dia, a escola está
cada vez menos preocupada em ensinar a língua”, bem diferente de sua
época, em que se “aprendia português de verdade!”. Em sua análise, a
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escola tem promovido debates que nada têm a ver com a aula de por-
tuguês e estimulado o uso de tecnologias que impedem o aprendizado
da língua.
Situações como essa são corriqueiras em nosso cotidiano e reve-
lam embates gerados por compreensões distintas sobre língua, lingua-
gem e educação, temas que vamos abordar neste capítulo. Para isso,
primeiramente, vamos conversar sobre a diferença entre língua e lin-
guagem a partir de exemplos e situações que remetem ao cotidiano.
Em seguida, a partir dessa diferença, fazemos algumas reflexões sobre
a linguagem escrita, que tem sido extremamente importante em nos-
sa sociedade. Depois, tendo esclarecido a perspectiva que vai orientar
nossas discussões sobre as narrativas de Laura, traçaremos um breve
histórico de como a educação institucionalizada de massa passa por
uma demanda do mundo da vida para se adaptar aos novos tempos
que vivemos. Por fim, com essa breve recuperação histórica em mente,
fecharemos essa discussão tratando de percursos educacionais reali-
zados nas práticas de linguagem nas esferas cotidiana, educacional e
de trabalho do mundo contemporâneo. Vamos lá?
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Você achou engraçado? Nós, sim. A graça para nós está em que,
nesse exemplo, a professora queria explicar questões de significado a
partir de estruturas gramaticais, sem levar em consideração que essas
estruturas analisadas em separado da situação em que são utilizadas
não dão conta de como usamos a linguagem, como vimos anterior-
mente. Ao tratar a linguagem como algo pré-concebido e fechado, a
professora não se deu conta de que estava tentando limitar sentidos
a essas estruturas supostamente pré-estabelecidas, desconsiderando
situações específicas de contexto e de práticas sociais de linguagem. A
aluna, ao usar duas palavras de sentido positivo quando isoladas (yeah
= sim + right = certo), combina-as numa situação em que o sentido pro-
duzido tem a intenção de ser negativo, desfazendo assim o sentido fixo
e descontextualizado que a professora apresentou em sua explicação.
Como nós entendemos o que seja linguagem, então, para resu-
mir? Entendemos que a linguagem constitui e é constituída por
pessoas. Isso significa dizer que a linguagem não é um instrumento
ou um conjunto de estruturas simplesmente, nem um sistema externo
às pessoas que a utilizam, nem foi construída a priori das situações de
interação. A linguagem é um processo que faz parte das pessoas. Isso
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desabafo, ela diz que “as crianças hoje em dia não escrevem mais [.. ].
Elas ficam o tempo todo trocando mensagens pelo celular, abreviando
tudo, usando memes e figurinhas”. Sandra ressalta ainda sua preocu-
pação em relação à prova de redação do vestibular, que, para ela, se
trata da avaliação mais difícil dentre todas as etapas de um vestibular.
Segundo Sandra, a escola interrompeu exercícios importantes de es-
crita quando deixou de exigir das alunas a produção de textos como
“Minhas férias!”, por exemplo.
A compreensão de Sandra sobre o que seja a linguagem escrita
é interessante de ser analisada. Em sua forma saudosa de lembrar de
seu tempo como aluna, ela diz que “a gente escrevia muito”. No entan-
to, ela parece não perceber a existência da escrita na vida cotidiana
das crianças atualmente e nem refletir sobre o que seja a linguagem
escrita. Podemos nos perguntar: as mensagens trocadas pelo celular
não seriam linguagem escrita? Ou ainda, a proposta da professora de
língua portuguesa em solicitar que sua turma crie uma história de for-
ma colaborativa em um aplicativo (“E além disso, a professora foi pedir
depois para as crianças criarem uma história a partir do debate que foi
promovido em sala usando o celular?”) também não seria linguagem
escrita?
Um primeiro aspecto a ser observado está no fato de as formas
de linguagem escrita terem se alterado em relação, digamos, ao século
passado, mas não terem deixado de ser linguagem escrita. Sabemos
que com o advento das novas tecnologias de comunicação, certamen-
te diferentes maneiras de escrever surgiram nas últimas décadas, tais
como blocos eletrônicos de anotações, e-mails, postagens em redes so-
ciais, mensagens de textos pelo celular, currículos virtuais, livros digi-
tais, etc. (conforme discutiremos mais adiante neste mesmo capítulo
e também no terceiro). Além disso, a preocupação de Sandra remete
ao fato de a linguagem escrita estar comumente associada à norma
gramatical de determinada língua em uma sociedade, como podemos
perceber nas frequentes aproximações que Sandra faz em relação à ne-
cessidade de redação e ao ensino da gramática na escola.
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Isso nos leva a pensar que não é raro encontrar pessoas, assim
como Sandra, entendendo que os textos escritos precisam estar sem-
pre gramaticalmente corretos. Essa compreensão acaba por gerar uma
linha divisória entre aquilo que é considerado “certo”, de um lado, e
“errado”, de outro. Os textos escritos por pessoas no mundo tendem,
portanto, a ser mais valorizadas quando essas pessoas que escrevem
dominam as normas gramaticais legitimadas em suas comunidades e,
assim, seus escritos são considerados legítimos em detrimento de ou-
tros, que acabam desconsiderados ou não entendidos como válidos.
Se pensarmos, por exemplo, nas comunidades que têm a escrita como
essencial em sua organização, e acabaram por registrar suas histórias
nessa forma de linguagem (como é o caso da nossa sociedade), essas
comunidades acabaram sendo consideradas como mais avançadas em
relação a sociedades de tradição oral, que são muitas vezes entendi-
das como primitivas, sem que haja uma reflexão sobre quais normas,
perspectivas são legitimadas ou consideradas para que tais avaliações
sejam feitas.
A linguagem está sempre atrelada à existência de pessoas que
a usam em determinadas situações culturais e histórico-sociais. Isso
significa que a forma escrita da linguagem também é dependente das
pessoas envolvidas no ato da escrita. Da mesma forma como na lingua-
gem oral, quando escolhemos modos de dizer e expressar, a linguagem
escrita também está atrelada à razão pela qual se escreve, para quem
se escreve, de que forma se escreve e quem é a pessoa que desempenha
o ato de escrever. Desse modo, simplesmente copiar textos ou ape-
nas reproduzir estruturas gramaticais da língua na escola, ou mesmo
escrever uma redação sobre “minhas férias” sem considerar a relação
intrínseca entre quem escreve e quem lê o texto, não poderiam ser
consideradas práticas que caracterizam a escrita como uma atividade
social, como uma prática de construção de sentidos no mundo.
Vejamos, por exemplo, a questão da redação no vestibular.
Podemos nos perguntar: o que exatamente é uma redação? E o que
seria considerada uma redação de qualidade? O que acontece com uma
candidata ao vestibular no momento da produção de sua redação?
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Depois de tudo isso, afinal para que e por que estudamos a lin-
guagem? Antes de mais nada, é preciso lembrar que refletir sobre a
linguagem não é responsabilidade apenas das especialistas que a es-
tudam diretamente, mas se estende a qualquer pessoa, uma vez que
a linguagem, sendo constitutiva de quem somos, nos afeta e traz im-
plicações para nossas relações no mundo, tanto no âmbito da escola
quanto para além dela. Nossa perspectiva sobre os estudos da lingua-
gem enfatiza a sua relevância nas práticas diárias, como estamos ven-
do aqui e aprofundaremos nos próximos capítulos deste livro.
É fundamental observarmos que existem diferentes formas
de construir textos orais, visuais, escritos, em diversas modalidades
e conforme as situações comunicativas em que elas acontecem. Um
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Em um dia comum de sua rotina, Laura encontra, por acaso, Ana, uma
amiga de infância. Logo após se atualizarem quanto aos caminhos de vida
de cada uma, Ana acaba por trazer para a conversa sua “saudade dos bons
tempos” e de como a vida era boa no passado. Nessa altura da conversa,
as duas já estão confortavelmente acomodadas num café na vizinhança.
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1 <https://twitter. com/nando_reis/status/941361327150387202>.
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Laura não quer comprar gato por lebre, então ela pede que a ami-
ga desconfie, questione. Nós diríamos que Laura está sugerindo a Ana
que desenvolva seu pensamento crítico.
Ler criticamente exige, cada vez mais, que consideremos a justa-
posição de diversas culturas, modos de pensar, maneiras de existir no
mundo. Essa complexidade aparece ainda mais evidentemente agora
do que em outras épocas, e portanto se torna inegável; não podemos
ler o mundo de forma ingênua, como dizia Paulo Freire. Reconhecer
essa diversidade constitutiva do mundo contemporâneo nos impede
de sequer imaginar que os sentidos sejam “dados” e “incontestáveis”.
No entanto, quando Ana protesta dizendo “Que história é essa que não
dá para confiar no que a gente lê?!”, ela está remetendo à ideia de que
existiriam sentidos contidos no texto, e que esses sentidos deveriam
ser resgatados na leitura, independentemente das outras dimensões
da leitura que já vimos neste capítulo.
Paulo Freire afirma que esta maneira de ler, pressupondo a deco-
dificação e a decifração, é uma maneira ingênua de se relacionar com a
linguagem, e precisa ser substituída por uma forma de ler mais rigoro-
sa. Tal forma de ler não pode deixar de se pautar num processo cons-
tante de reflexão crítica, em que o ato de produzir sentidos na leitura
se coloca num processo contínuo de questionamento, movimento no
qual as leitoras se indagam incessantemente sobre os procedimentos
de leitura de que lançam mão para entender os textos. No caso da afir-
mação de Ana sobre “confiar” no que se lê, uma forma crítica e produ-
tiva de ler seria, por exemplo, se perguntar:
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valorizar essas diferenças. Sim, talvez para Laura a escola seja o lugar
de aprender com o que é diferente de si, de crescer nessa aprendiza-
gem, de conviver com a produtividade do encontro, mesmo que geral-
mente conflituoso, com modos diversos de pensar, ser, fazer.
Acreditamos que Laura possa pensar na escola dessa forma.
Desejamos que Laura pense assim, pois, como professora, ela aceitará
em sua sala de aula os jeitos peculiares de existir que identificam nos-
sas filhas, sobrinhas, primas como pessoas únicas que são. Se Laura
estiver pensando dessa forma, ela estará compartilhando conosco o
que entendemos como letramento crítico. Nossas leituras sobre o que
pensa Laura, como toda e qualquer leitura, são situadas, contingentes
e emergem da maneira como entendemos a linguagem e seu impac-
to em nossas identidades e práticas sociais. São leituras desejosas de
uma escola acolhedora para todas, repleta de diferentes linguagens e
democrática, que ensine a conviver. Não sabemos com certeza se Laura
pensa assim, mas são essas compreensões cheias de esperança que
atribuímos aos comentários da professora Laura, e que gostaríamos de
também atribuir ao trabalho com leitura Brasil afora.
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Assim que Laura termina suas aulas online após um longo dia de tra-
balho, ela confere suas mensagens de WhatsApp enquanto degusta um
bom café feito em casa. Nisso, Laura se envolve em uma conversa no
grupo da família.
Andréia
Vocês viram essa história de um novo vírus
e a campanha para ficarmos em casa, né?
#FicaEmCasa. A minha chefe, Dra. Vanessa,
mandou avisar. A Laura já está dando
aulas online faz duas semanas!
Marcelo
Ficar em casa? Como assim? Vamos fazer a
economia parar. #BrasilNãoPodeParar.
João
Pois é, como vamos fazer isso? Só as
escolas é que vão conseguir! E os pais
que trabalham? O que vão fazer com as
crianças?
Andréia
Gente, precisamos manter o isolamento.
É hora de parar, de ficar em quarentena e
proteger a todos nós. Quem pode, precisa
trabalhar à distância. Quem trabalha em
serviços essenciais, como Júlia e Alison,
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Pedro
Será mesmo que precisamos ficar em
casa? Eu estou em casa há uma semana e
não aguento mais. Ficar trancafiado por
causa de uma gripezinha não faz sentido.
Além disso, vejam os encontros entre
Doria, Lula, FHC etc. com os chineses. Será
que não é tudo invenção chinesa?
Laura
Invenção chinesa? Que irresponsabilidade!
#FicaEmCasa. Aproveitem pra perceber o
quanto o corre-corre diário nos absorve
e, muitas vezes, nos distancia dos valores
mais preciosos da humanidade. Curtam
a quarentena e busquem momentos de
reflexão, de conforto e aconchego na
família, nas amizades, na natureza, na arte.
Pelo amor de Deus, é hora de salvar vidas,
de mostrar empatia.
Marcelo
Mas e a economia? Eu enxergo o
lockdown vertical como uma estratégia
para manter pequenos e médios negócios.
Não acha, Laura? #BrasilNãoPodeParar.
Laura
Bem, não sou economista, mas o que sei é
que é preciso encontrar formas de salvar
vidas agora e que temos inconsequentes
mandando todo mundo pra rua. Sabe o
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Andréia
Oi? Quem de nós vai pra carreata? Depois,
quem vai trabalhar, pegando ônibus
lotado? #FicaEmCasa
Laura
Por que carreatas e não passeatas?
Silêncio.
1 Meme construído a partir de imagens do site Pixabay. As imagens utilizadas, ambas obtidas
gratuitamente, respeitam os Termos de Uso do site.
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Laura
Desisto. Isso não era uma disputa
política, mas sim uma discussão sobre o
que devemos priorizar nesse momento.
Cansei. Nessa disputa #FicaEmCasa x
#BrasilNãoPodeParar, algumas perguntas
que não querem calar são: na nossa
família quem pode morrer pra economia
não parar? Que vidas importam? Que
vidas valem ser vividas e quais vidas são
descartáveis? Fica a sugestão para uma
reflexão e vamos ouvir música, meditar,
etc. pra ver se a gente caminha em busca
de um mundo mais humano.
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que são, na verdade, coisas já ditas por outras vozes, ouvidas antes e
que vão se enrolando com as vozes ali no grupo de WhatsApp.
A complexidade dessa trama ainda aumenta quando lembramos
das várias vezes em que uma mensagem demora um pouco para ser
digitada e acaba aparecendo na hora “errada”, quando um outro as-
sunto já está sendo discutido. Outra situação comum é receber uma
mensagem encaminhada que “cai de paraquedas” na conversa e acaba
por quebrar, de modo não intencional, a conversa em andamento. Isso
evidencia como podemos estar falando sobre várias coisas simulta-
neamente. Em outras palavras, percebemos que nossos processos de
comunicação e atribuição de sentidos não são lineares: são, na prática,
interrompidos, retomados, emergenciais, e acontecem num processo
constante de fazer e refazer, dizer e retomar sentidos. Daí a importân-
cia de ouvir, ou seja, de estarmos sempre prontas a negociar os senti-
dos que construímos para nós e para as outras pessoas, de checar nos-
sas interpretações com as leituras das outras pessoas, de nos abrirmos
para os entendimentos das outras pessoas. Quando dizemos algo, por-
tanto, dizemos um conjunto de coisas ao mesmo tempo: quem somos,
de onde somos, o que pensamos e sentimos sobre o mundo, aquilo que
aprendemos e acreditamos. E tais dizeres são interpretados por quem
faz contato com eles também conforme seu próprio carretel, emara-
nhadas que somos em sentidos múltiplos.
No caso da interação em mídias digitais, temos alguns recursos
característicos para marcar a força e/ou a autoridade do que está sen-
do dito, como o uso de #: de início, a hashtag era utilizada simples-
mente para ajudar nas buscas nas redes sociais, como uma forma de
localizar temas semelhantes e pessoas com interesses semelhantes;
mais recentemente, ela tem sido utilizada também para indicar motes
como se fossem gritos de guerra, afirmações condensadas em poucas
palavras mas com grande força argumentativa, identitária e ideológi-
ca. Na conversa do grupo da família de Laura nos parece que o uso da
hashtag remete mais a um mote do que a um tema a ser identificado,
especialmente quando consideramos os demais elementos da conver-
sa, e quando lembramos que, no WhatsApp, não existem mecanismos
de busca entre grupos, pois nessa mídia a busca se faz pelo comando
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da terra, doando ou vendendo seu terreno. Essa lógica, que atinge tan-
to a educação privada (na qual há pagamento direto de mensalidades
escolares) quanto a pública (na qual estão envolvidos recursos públi-
cos), a nosso ver, prejudica todas as pessoas envolvidas. Prejudica as
alunas, que, quando percebidas como clientes, ao escolherem o que
querem “comprar” (ou melhor, aprender), podem perder a oportuni-
dade de entrar em contato com algo diferente daquilo que elas já co-
nhecem; é como se a cliente buscasse encontrar o objeto que ela já co-
nhece e, com isso, perdesse a chance de conhecer um “produto” novo.
Prejudica as professoras que, quando percebidas como prestadoras de
serviço, ficam sujeitas a satisfazer os desejos de suas clientes, silen-
ciando conhecimentos que eventualmente tenham construído em seus
processos de formação profissional e enquanto cidadãs. Todas perdem
quando se afastam da ideia de educação como um processo relacio-
nal, social, formativo, criativo, ou seja, um processo de crescimento e
transformação mútuos.
Portanto, referir-se à escola com a linguagem típica do mercado
normaliza, insidiosamente, uma determinada forma de ver e tratar a
formação das alunas, o papel das professoras e o espaço educacional.
Esse deslocamento de termos do mercado para a educação influencia
nossos modos de conceber a escola e seu papel social, o que ilustra o
quanto a linguagem é ideológica: vemos que nela se constroem sem-
pre sentidos, pois até o que parece não ter sentido já é um sentido, não
é mesmo?
Uma terceira dimensão do entrelaçamento entre linguagem e
ideologia, ao lado do uso de eufemismos e do deslocamento de termos
de uma área para outra, é construir uma sensação de pertencimento,
um sentimento de unidade. A partir desse sentimento, algumas pes-
soas são construídas como amigas, outras como inimigas. Construir
um grupo de pessoas como semelhantes estabelece uma suposta iden-
tidade entre elas, além de excluir aquelas que são entendidas como
diferentes. As hashtags #FicaEmCasa e #BrasilNãoPodeParar, que dis-
cutimos anteriormente, criam esse efeito de marcar tais identidades e
relações de proximidade ou distanciamento.
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“Na noite passada, tive um sonho cheio de detalhes, daqueles que pa-
rece que aconteceram mesmo. Foi um sonho bem vivo, um sonho em
que eu lembrava de uma criança migrante, a Safira, que foi minha alu-
na no sexto ano. Ela era uma menina pequena, magrinha, e no sonho
parecia ter talvez até menos do que os 10 ou 11 anos de idade que tinha
de verdade. No sonho, eu lembrava bem que ela tinha uma irmã mais
velha, Yasmin, que também tinha sido minha aluna uns anos antes de
Safira chegar e que, assim como Safira, tinha dificuldades em aprender
o que a gente achava que ela devia aprender.
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Por mais paradoxal que pareça, alguns países foram criando re-
gras cada vez mais rígidas que dificultam o trânsito de (certas) pes-
soas. Consequentemente, ainda vemos com frequência tentativas de
migração supostamente “ilegal”, especialmente em busca de sobrevi-
vência. De acordo com a Agência da ONU para Refugiados, a diferença
mais marcante nos processos migratórios da atualidade está no fato
de estarmos diante do maior número de pessoas se deslocando con-
comitantemente desde que há registros dessa prática. É interessante
pensar se essa diferença estaria relacionada à quantidade de pessoas
que migram, ou se ela se daria por causa das mudanças realizadas por
diferentes países em suas regras migratórias, que, se por um lado per-
mitem um registro mais fidedigno sobre a entrada de estrangeiras nos
seus países, por outro lado parecem buscar inviabilizar o ato de sair de
um país para outro em busca de uma vida melhor.
Essa expansão da crise migratória em nossa atualidade nos mos-
tra os desafios que pessoas, em diferentes partes do mundo, estão en-
frentando para sobreviver, para se adaptar a uma nova vida em um
novo país, nova cidade, nova comunidade, nova língua, nova cultura.
Migrar é recomeçar com tudo ao seu redor sendo diferente e, em muitos
casos, distante de suas referências anteriores, de seus valores, crenças,
afetos, histórias, sentimentos de pertencimento; é levar a outro lugar
um pouco de si, com a esperança de se sentir em casa novamente.
É nesse cenário migratório que vamos aprender um pouco do que
a história de Safira tem a nos ensinar, uma vez que tem sido cada vez
mais comum crianças, adolescentes e pessoas adultas – estrangeiras,
migrantes, refugiadas ou qualquer outro nome que se possa lhes
dar – buscarem acolhimento em cidades, escolas (e universidades),
igrejas e tantas outras comunidades e instituições. Podemos então
nos perguntar: como as escolas podem acolher essas pessoas? Qual a
função dos estudos da linguagem e da educação na atual globalização,
atravessada por tanta mobilidade e diversos tipos de conflitos e fluxos?
Como os estudos da linguagem podem nos ajudar a pensar a relação
entre linguagem, identidade, interculturalidade e migração? De que
forma histórias como a de Yasmin e Safira podem contribuir para essas
ponderações?
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espaços que fazem parte dela, quanto na sua vida para além dos muros
escolares. Ou seja, Safira irá aprender português nas relações com co-
legas, professoras, funcionárias e demais pessoas de seu convívio edu-
cacional – dentro e fora da escola, em ambientes formais e informais,
porque afinal se aprende também fora da escola, não é mesmo? Ela irá
aprender quando for ao supermercado com sua mãe, quando for pegar
um ônibus, quando for comprar algo em uma loja, quando for ao médi-
co, e assim por diante. Ainda, mesmo que a língua a ser aprendida não
seja usada no cotidiano da sociedade em que estamos vivendo, pode-
mos pensar nas vivências que surgem nos mais diversos contextos, tais
como: bater papo na internet, ouvir músicas, ler livros, jogar videoga-
mes online, assistir filmes e seriados, fazer cursos em escolas de idio-
mas e pelo YouTube, estudar línguas na escola regular, etc. Todos esses
exemplos nos mostram que esse entendimento de língua como prática
social e relacional, ou seja, língua como linguagem, se opõe à ideia,
muitas vezes comum, de que Safira, ou qualquer pessoa que aprenda
uma língua, precisaria primeiro aprender unidades específicas formais
desta língua para somente depois poder se comunicar.
Outra dimensão que enfatizamos está no fato de que aprender é
uma prática processual e contínua – ad infinitum. Pensando especifica-
mente na aprendizagem de línguas, você já se perguntou, por exem-
plo, o que lhe faz dizer que sabe português, ou inglês, ou espanhol, ou
guarani, ou LIBRAS? Há um momento específico em que você passa
do “não saber” para o “saber” essas línguas? No nosso entendimen-
to, pode até ser que alguém sinta esse momento como tendo ocorrido
em suas experiências: muitas vezes, quando a gente passa a se sentir
mais confortável numa língua, parece que a gente finalmente “apren-
deu”, certo? No entanto, aprender uma língua não é uma atividade que
ocorre e acaba em um tempo específico: não conseguimos precisar o
momento exato em que começamos ou terminamos de aprender uma
língua – no máximo podemos saber quando começamos ou termina-
mos de estudar formalmente uma determinada língua.
Uma última dimensão do processo de aprendizagem de línguas
que queremos discutir diz respeito à problematização da ideia de falan-
te nativa como modelo a ser imitado. Antes de mais nada, é importante
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Pensar nessas questões nos leva ainda mais além, refletindo so-
bre como a ideia de “falante nativa” está atrelada a outras construções
sociais que nos rotulam e influenciam nossos olhares, determinando
a legitimidade que conferimos a quem consideramos ser “falante na-
tiva”. Obviamente, não sugerimos tudo isso como uma forma de dis-
criminação entre “falantes nativas” de determinadas regiões, cidades,
classes sociais, níveis de escolaridade, etnias, etc. – discriminações es-
sas que são bastante reais e que ocorrem diariamente, infelizmente,
e contra as quais temos que lutar, não apenas como pessoas interes-
sadas em linguagem mas também como cidadãs. Trazemos esse exer-
cício de levantar tais perguntas para ilustrar que, mesmo dentro da
noção idealizada de “falantes nativas”, elas seriam demasiado diversas
para generalizarmos todas elas em um único “modelo”, especialmen-
te quando esse modelo é usado para excluir “falantes não nativas” ou
mesmo hierarquizar as “falantes nativas”.
Pensando no caso de Safira, poderíamos, portanto, levantar os
seguintes questionamentos: se existe tanta heterogeneidade entre
“falantes nativas” e se reconhecemos essa heterogeneidade no nosso
dia-a-dia, por que é comum que se espere que pessoas como Safira se
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você pensasse sobre como sua leitura dele pode ter modificado, estar
modificando, ou vir a modificar suas práticas de letramento: este livro
causou algum impacto em quem você se percebe ser, em como você
percebe a linguagem no mundo, em como você percebe o mundo e as
outras pessoas, e outras formas de existência? Você sente que seu re-
pertório se expandiu de alguma maneira?
Se você responde “sim” às duas perguntas, ficamos extremamen-
te satisfeitas e convidamos você a continuar conosco em nossas redes
sociais, em nossos textos acadêmicos que se encontram em diversas
revistas de acesso gratuito no Portal de Periódicos da CAPES e em ou-
tras revistas acadêmicas por aí.
Se sua resposta às perguntas é “não”, convidamos você a fazer o
mesmo que estamos convidando a fazer quem responde que sim; afi-
nal, esperamos que este livro tenha influenciado você, mesmo que de
forma leve, a se sentir motivada a continuar investigando, instigando
seu pensamento, sua percepção, sua interpretação de si e do mundo.
Esse fim (término e finalidade) provisório vem com a esperança
de que a leitura dos capítulos deste livro tenha sido tão construtiva
para você quanto escrever este livro foi para nós: um processo desafia-
dor, sem dúvida, e repleto de aprendizagem, sem dúvida.
Agradecemos pela companhia.
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POSFÁCIO
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BIODATAS
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Enfrentamos com coragem e determinação o desafio de escrever
um livro colaborativamente, e discutimos entre nós cada palavra,
cada gesto, cada ideia. Mesmo tendo todas nós uma formação
acadêmica dentro da mesma área, a área de Letras, nossos
percursos nos levaram a teorias e práticas diversas. Nossas
reuniões para a escrita desse livro foram conflituosas e intensas,
mas recheadas de disposição e abertura para o contato com o
diferente. Eis o resultado. Um livro que é produto de aprendizagem
advinda sobretudo do trabalho envolvido em negociar sentidos,
calcado no movimento de aprender, ou seja, de desaprender e
reaprender umas com as outras, para logo em seguida iniciar esse
movimento outra vez. Oferecemos ao público nossos saberes,
certas de que eles serão reescritos em cada leitura. Esperamos
que as reações interpretativas das leitoras suscitem nelas algo
próximo do que o processo de escrever a 12 mãos suscitou em
nós: finalizamos este livro com uma sensação de fortalecimento
vinda das generosas trocas de saberes teóricos e práticos, que
enriqueceram quem estamos sendo, na contingência de nossos
existires. Problematizamos e expandimos nossos repertórios e
oferecemos este livro como uma oportunidade para que também
outras pessoas experimentem esse processo e façam dele uma
constante em suas interações com o mundo.
Eis aqui um livro escrito a 12 mãos com mangas arregaçadas
e profundamente engajadas no trabalho de escrever de forma
colaborativa para conversar sobre linguagem. São 12 mãos de
professoras, pesquisadoras, educadoras, formadoras, pensadoras,
alfinetadoras e várias outras -oras. Este livro convida a um diálogo
colaborativo para compreender, transformar e complexificar nossas
práticas de linguagens: como percebemos a linguagem em nós, no
mundo, nas outras pessoas e em outras formas de existência? Como
podemos expandir nossos repertórios a esse respeito?