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Inclui bibliografia.
ISBN: 978-65-5637-078-1
Conselho Editorial:
Angela B. Kleiman
(Unicamp – Campinas)
Clarissa Menezes Jordão
(UFPR – Curitiba)
Edleise Mendes
(UFBA – Salvador)
Eliana Merlin Deganutti de Barros
(UENP – Universidade Estadual do Norte do Paraná)
Eni Puccinelli Orlandi
(Unicamp – Campinas)
Glaís Sales Cordeiro
(Université de Genève - Suisse)
José Carlos Paes de Almeida Filho
(UnB – Brasília)
Maria Luisa Ortiz Alvarez
(UnB – Brasília)
Rogério Tilio
(UFRJ – Rio de Janeiro)
Suzete Silva
(UEL – Londrina)
Vera Lúcia Menezes de Oliveira e Paiva
(UFMG – Belo Horizonte)
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PREFÁCIO.................................................................................................................... 7
Kátia Augusta Curado Pinheiro Cordeiro da Silva
APRESENTAÇÃO
ESFORÇOS DECOLONIAIS E O DESEJO DE ROMPER COM BINARISMOS
E HEGEMONIAS NA RELAÇÃO ESCOLA-UNIVERSIDADE .............................. 13
Mariana Rosa Mastrella-de-Andrade
“SE EU NÃO SEI NEM PRA MIM, COMO EU VOU PASSAR ISSO PARA OS
ALUNOS?”: PROBLEMATIZAÇÕES DOS/AS AGENTES DO ESTÁGIO
SOBRE OS DESAFIOS DA FORMAÇÃO DE PROFESSORES/AS DE INGLÊS.... 75
Julma Dalva Vilarinho Pereira Borelli
Rosane Rocha Pessoa
Mariana R. Mastrella-de-Andrade
(UnB)
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ao longo dos meses em que nos engajamos nas ações formativas de que
aqui falamos. Ao longo deste artigo, voltaremos ainda a essas questões.
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SOBRE A PESQUISA
5 Pseudônimos.
6 Grupo formado em 2013, coordenado pelas professoras Mariana Rosa Mastrella-de-Andrade e
Julma Dalva Vilarinho Pereira Borelli, com o objetivo de “desenvolver reflexões, discussões e
pesquisas sobre a formação de professoras/es de línguas, tendo em vista a maneira como iden-
tidades são construídas; como emoções, socialmente motivadas, são indissociáveis de nossas
relações com línguas; e como projetos de letramentos podem contribuir para a promoção de
uma cidadania crítica na escola e para a escola” (DGP LATTES, 2018) [Disponível em: dgp.
cnpq.br/dgp/espelhogrupo/1353917763040302].
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Encontro Programação
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ANA: “É, NÃO É BEM ASSIM, NÃO; NÃO TEM QUE ESTAR FECHADO”
Material empírico 1
Ana: Não sei, às vezes como professora eu penso assim, eu já falei isso para
algumas pessoas. Hoje em dia tá invertido. Acho que a escola tinha que ser
lugar de conhecimento mesmo, entendeu? Não um lugar para, vamos dizer
assim, para a gente ter que ensinar que não pode jogar o papel no chão. Só
que… eu não sei se eu estou certa ou não…
Janaína: Uma das frases que a gente colocou foi “A escola ensina e a família
que educa”. É uma frase que eu escuto muito que eu acho que reflete mais ou
menos esse pensamento seu, mas eu discordo bastante dessa frase. Eu acho
que a educação tem que permear todos os espaços sociais e se a escola não
educar, a escola, na sociedade atual, não tem mais função nenhuma. Porque
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Material empírico 2
Essas reflexões estão sendo legais porque, por exemplo, igual hoje, eu falei
da questão do professor não ter que ensinar a jogar o papel no chão, né? Uma
coisa que eu já tinha pensado, né? Aí depois que vocês falaram eu pensei “é,
elas têm razão”, entendeu? Então já foi um ponto positivo pra mim, entendeu?
Olhar assim, de outra forma, né? (Ana, audiogravação. 27/10/17).
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Material empírico 3
Ana: Eu acho que os temas que a gente debateu são muito importantes, né?
Eu concordo com a Janaína que são assuntos que deviam ir pra escola e
não ficar só aqui. Pena que teve algumas pessoas que desistiram, porque é
importante esses debates. Eu aprendi muito, mudei alguns conceitos que eu
tinha e que eu pensava.
Clara: A gente muda.
Luís: Você pode dar algum exemplo?
Ana: Eu mudei aquilo que eu tinha falado, que eu falei que eu disse isso já.
Janaína: Ah, aquele dia das frases que são ditas na sala dos professores…
Ah, eu lembro, você disse assim, é… “A escola ensina e a família educa”, né?
Ana: Isso. Uma coisa que eu já tinha pensado, daí com a colocação de vo-
cês eu falei “é, não é bem assim, não”, não tem que estar fechado, “escola:
conhecimento; e casa: educação”. Né? Eu acho que faz um… Como dizer,
assim, uma relação.
Janaína: Faz a gente repensar todo o nosso papel enquanto… Educadores,
né? Quer dizer…
Ana: E, assim, ainda mais na minha realidade… Que eu vivo, né? Que é na
[fala o nome da região administrativa onde fica a escola, região de vulnera-
bilidade no DF] (Audiogravação, 24/11/17).
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Material empírico 4
[O texto] diz assim, que o material do professor de línguas é o discurso e
aí eu pensei, “bom, o.k., o material é o discurso, mas até que ponto a gente
consegue efetivamente dar uma aula… É… Seria possível que meu aluno
tivesse proficiência?”. E eu me pergunto, qual é o limite entre uma aula de
língua estrangeira e apenas um debate que usa a língua estrangeira? (Janaína,
audiogravação, 17/11/17).
Material empírico 5
Trabalho com meninos de [fala o nome da região administrativa do DF onde
trabalha]. Há questões sociais mais relevantes do que o verbo to be. (Janaína,
notas de campo, 25/08/17).
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Material empírico 6
[…] priorizar o que está sendo dito e não a regra gramatical (Janaína, audio-
gravação, 15/09/17).
Material empírico 7
[…] não temos que demonizar um momento com foco na estrutura. A gente
tem que ter consciência de que aquilo não tem uma possibilidade de situação,
que aquilo acaba ali (Janaína, audiogravação, 15/09/17).
Material empírico 8
[…] sempre vai ficar abstrato enquanto a gente tiver esse pensamento de
“ah, eu preciso trabalhar essa estrutura gramatical” (Janaína, audiogravação,
06/10/17).
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Material empírico 9
Janaína: Primeiro pelo tema, né? É claro. Mas também a questão de trazer
textos multimodais, texto escrito, texto visual, a música e tal […]. A questão
de “estrutura versus discurso” pra mim também ressalta bastante, que o foco
é no discurso porque eu estou usando os textos pra discutir a questão. O
momento que eu reservei talvez para trabalhar mais questões linguísticas foi
mais com a música que já está mais no final e eles continuariam as reflexões
na tarefa de casa, né? […]
Luís: Parte do discurso, mas eles estão trabalhando algumas estruturas lin-
guísticas também, né? Quais, por exemplo, eles vão trabalhar?
Janaína: Olha, tem muitas perguntas, a aula toda, após os textos, eles estão
respondendo perguntas, então a estrutura das perguntas de modo geral. Wh-
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Material empírico 10
Eu tenho muito em mente selecionar as problematizações certas, aquelas que
são mais relevantes pro meu grupo […] e eu fiquei muito focada e pensando,
assim, “o que que os meus alunos, na minha realidade, os meus meninos de
[fala o nome da região administrativa onde fica sua escola], mais precisam
refletir acerca dessa questão de raça e classe?” […] E como que a língua
inglesa tem a ver com isso, sabe? Foi meu pensamento principal, assim,
onde entra a língua inglesa naquilo que é mais relevante pra eles refletirem
(Janaína, audiogravação, 24/11/17).
Vale assinalar que, para esse último planejamento, três temas haviam
sido previamente propostos: a intersecção entre raça e classe, entre gênero
e classe ou entre sexualidade e classe. A sua escolha de trabalhar com
o primeiro destes três temas ganha, também, um novo sentido quando
consideramos que, das três participantes, Janaína foi a única a se declarar
negra no questionário sobre dados pessoais que cada participante preen-
cheu. Como ela afirma, enquanto apresentava este plano:
7 Pronomes interrogativos.
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Escolhi falar de raça e classe porque dos três, pra mim, no Brasil, raça e classe
são os mais indissociáveis (Janaína, audiogravação, 24/11/17).
Sua escolha e a justificativa dada para ela nos parecem muito pro-
ximamente ligados ao reconhecimento de como, enquanto professora,
mulher e negra (fazendo referência a hooks, 2010), ela também não existe
descorporificada. Ao buscar “selecionar as problematizações certas, aque-
las que são mais relevantes pro meu grupo”, ela percebe que a realidade
material, os desejos e investimentos de seus/suas alunos/as também são
variáveis importantes a serem consideradas durante seu planejamento
e que se estão, tanto Janaína quanto seu grupo de alunos/as, situados/
as em um aqui e em um agora, também devem-no estar os objetivos do
processo de ensino-aprendizagem de uma língua e, por conseguinte, as
práticas de letramento trazidas para a sua aula.
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experiência que ela nos narra afetou a sua percepção sobre esse papel. No
quinto encontro do curso, ela se refere pela primeira vez ao fato ocorrido:
Material empírico 12
[Havia] um aluno “super” defendendo a ditadura. Uma senhora disse: “eu vivi
a ditadura e não vou aceitar isso” […]. Esse aluno que defendeu a ditadura não
veio mais pra aula. E aí a gente perde o aluno (Clara, audiogravação, 06/10/17).
Essa experiência pode ter lhe gerado uma ansiedade com relação
aos debates em sala de aula, sobretudo os que abordem temas críticos. No
sétimo encontro, por exemplo, durante a discussão sobre os três textos
lidos até o momento, ela parece aludir a esse mesmo episódio:
Material empírico 13
No fundo eu sei que se eu chegar na escola com um discurso que pareça mais
político, e não é político de partidarismo, mas como a gente quer discutir a
desigualdade social, as questões sociais, a coisa é política, né? Eu corro o risco
de criar uma resistência em sala. Eu sei dizer hoje dos meus alunos quais são
os alunos que, se a coisa ficar muito óbvia, muito clara, quais são os que vão
reclamar, os que vão na direção e vão falar assim “olha, tá doutrinando, não
tá dando aula”. Ainda que eu não deixe de lado o conteúdo. […] Então, tem
uma… eu nunca lembro quem falou isso, ou foi o Foucault, ou foi o Bakhtin
ou foi alguém [risos], mas tinha uma coisa que falava assim […], “tem dois
jeitos de mudar o mundo, o radical — aliás, o revolucionário — e o subver-
sivo”. E a gente precisa dos dois. Agora, em via de regra, o revolucionário é
aquele que se coloca pro mundo e ele é que tende a ser massacrado. Ele é o
primeiro a ser derrubado. E a gente fica achando que o subversivo é aquele
que meio que se esconde e, ah, você meio que despreza. Mas o subversivo é
aquele que consegue ficar mais tempo dentro do sistema mudando a ordem
das coisas. E eu cheguei à conclusão de que se eu vou conseguir ser alguma
coisa é no máximo subversiva. Então eu acho, assim, enquanto eu conseguir,
por mais que pareça pouquinho, mas esse pouquinho que eu for conseguindo
fazer… Sabe? (Clara, audiogravação, 27/10/17).
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Material empírico 14
Eu cheguei a comentar que eu dei um curso de conversação e a gente ia falar
sobre a ditadura. Eu acho que eu falei aqui. Eu tive um aluno que apresentou
“super” defendendo a ditadura e uma senhora mais velha, do curso, ela…
Ela foi muito gentil, mas ela apresentou a opinião dela. Eu, na medida do
possível, tentei ficar neutra, mas é aquela coisa, a gente nunca é neutro, né? E
ele nunca mais voltou. Sabe, assim. Ele apresentou mas ele não voltou mais
(Clara, audiogravação, 17/11/17).
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