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Inclui bibliografia.
ISBN: 978-65-5637-272-3.
1. Política. 320
2. Formação de professores – Estágios. 370.71
3. Didática - Métodos de ensino instrução e estudo – Pedagogia. 371.3
4. Linguística Aplicada. 468
Copyright © 2021 - Do organizador representante dos colaboradores
Coordenação Editorial: Pontes Editores
Editoração: Eckel Wayne
Capa: Acessa Design
Revisão: Joana Moreira
Conselho Editorial:
Angela B. Kleiman
(Unicamp – Campinas)
Clarissa Menezes Jordão
(UFPR – Curitiba)
Edleise Mendes
(UFBA – Salvador)
Eliana Merlin Deganutti de Barros
(UENP – Universidade Estadual do Norte do Paraná)
Eni Puccinelli Orlandi
(Unicamp – Campinas)
Glaís Sales cordeiro
(Université de Genève - Suisse)
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(UnB – Brasília)
Maria Luisa Ortiz Alvarez
(UnB – Brasília)
Rogério Tilio
(UFRJ – Rio de Janeiro)
Suzete Silva
(UEL – Londrina)
Vera Lúcia Menezes de Oliveira e Paiva
(UFMG – Belo Horizonte)
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Rua Dr. Miguel Penteado, 1038 - Jd. Chapadão
Campinas - SP - 13070-118
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2021 - Impresso no Brasil
Agradecimentos
PREFÁCIO
(Rosana Paulino,
Geometria à brasileira, 2018
Fonte: Pinacoteca de São Paulo2)
(Clarice Lispector,
Todas as Crônicas, 2018)
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Que nosso grito de (–) luto (!) possa ser revigorado pela leitura
dos capítulos desta coletânea e que, a partir dos diálogos provocados,
possamos exercitar e alimentar nossa força de resistência e de insubor-
dinação. Que sejamos afetados pelos sentidos e pelos gritos mobilizados
desta obra, a ponto de permitir que o ato de resistir possa ser realizado
como um acontecimento contingente e, assim, trazer à cena o incomen-
surável e aquilo que ainda não percebemos (SAFATLE, 2018). Que
cada momento de leitura suscite gestos (im)possíveis e corporificados
de resistência (quando) vividos junto com as pessoas e com o mundo.
Que nossa leitura desta obra possa ser atenta, cuidadosa e interessa-
da, permitindo-nos viver esperançadamente o sonho ancestral anunciado
por Ribeiro (2019), o qual combina, com muita resiliência, a sutil e pro-
visória suspensão de nossa descrença com o compromisso desobediente
de duvidar do (nosso) fim. Que possamos (fazer) ouvir, sobretudo, as
vozes do sul global.
“[…] tem um ditado que diz que: o mais corajoso não é o primeiro
soldado que entra na batalha, mas o segundo, que sabe o que vai en-
contrar lá. Nóiz, de todas as quebradas, somos esse segundo soldado,
porque a gente sabe o que vai encontrar, e continuamos na batalha,
dia após dia.
[…]
[…]
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Nem sempre eu recebi apoio nas minhas ideias. Então, eu tive que ser
esse lugar inspirador. Encontrar ele dentro de mim.
[…]
Referências
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9 Entendemos que a “transformação social” pode ganhar diferentes frentes, desde a busca para
o crescimento vertiginoso da desigualdade social para alimentar mecanismos capitalistas
até o genocídio sanitário como proposta de saúde pública (sob comando do atual presidente
Jair Messias Bolsonaro). Nesse sentido, nos debruçamos para uma “transformação social”
ético-política, ético democrática, com olhares para as lutas de classes, as mazelas sociais, a
desigualdade na distribuição de capitais, as vozes negras e das minorias do nosso país com
objetivo de criar fissuras de mudanças de status quo.
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Rogério Tilio1
Paula Tatianne Carréra Szundy2
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Criticidade e indisciplinaridade na LA
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11 Tradução nossa para “Literacy, in this sense, then, is already part of a power relationship,
and how people take hold of it is contingent on social and cultural practices and not just on
pedagogic and cognitive factors. This raises questions that need to be addressed in any literacy
programme: What is the power relationship between participants? What are the resources?
Where are people going if they take on one literacy rather than another literacy? How do
recipients challenge the dominant conceptions of literacy?” (STREET, 2009, p. 337).
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14 Tradução nossa para “Critical applied linguistics is not about developing a set of skills that
will make the doing of applied linguistics more rigorous, more objective, but about making
applied linguistics more politically accountable”. (PENNYCOOK, 2004, p. 798).
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si de um locutor que se afigura negativa aos que não aderem a ele, mas
é considerada positiva pelos que aderem, ainda que estes não pareçam
aceitar propriamente as teses do locutor, mas apenas o tom com que ele as
diz, a partir de uma configuração prévia positiva de seu ethos, e da criação
de um “anti-ethos prévio”, obviamente negativo, de seus adversários.
Pretendemos investigar se essa “dissonância ethica” tem por base o
que se poderia denominar a junção entre a construção midiática de uma
idealização positiva do locutor objeto de adesão e de uma idealização
negativa (anti-ethos) de seu adversário e a criação e disseminação da
ideia de haver uma crise profunda que só o locutor em questão, com um
discurso populista autoritário, aparentemente “antissistema” poderia
resolver. Vamos considerar para isso o recurso às chamadas fake news
e ao falseamento (ver adiante) no que parecia ser uma campanha siste-
mática em mídias sociais e na mídia hegemônica contra o adversário e
seus substitutos, bem como a prisão intempestiva do referido candidato
às vésperas das eleições.
Como pode um público aceitar como positiva a imagem de um
locutor que se apresenta como sujeito preconceituoso, sem aceitar suas
teses preconceituosas (e, portanto, negativas para boa parte da popula-
ção) com base apenas no tom do discurso? Do mesmo modo, seria essa
imagem positiva, mesmo contraditada pelo dizer do locutor, coerente do
ponto de vista do público que a ele aderiu, isto é, seria possível dizer que
o candidato refletiu as opiniões do público que a ele aderiu ou então que
a parcela do público que o apoiou se deixou levar em parte pela imagem
negativa do adversário, sistematicamente reforçada, e o escolheu como
a alternativa contextualmente “menos pior”?
Tentar levantar dados passíveis de indicar respostas a questões como
essas tem, a nosso ver, grande relevância tanto em termos teóricos, ao
refletir sobre a possibilidade de propor a noção de anti-ethos prévio para
dar conta desse fato, a nosso ver incomum, como pragmáticos, ao pensar
sobre o que permitiu socialmente a ocorrência desse fenômeno?. Vamos
recorrer a enunciados reais para identificar elementos que revelem de
que maneiras foi construído, na história recente do Brasil, o anti-ethos
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Cabe dizer que, por maior que seja sua produtividade, a noção de
anti-ethos, necessária porque tudo na linguagem se funda na lógica de
“A não é B” e “A e B se definem por um não ser o outro”, não parece
dar conta, por si só, de movimentos discursivos mais amplos de cons-
trução social de imagens negativas de um dado locutor (o que pretende-
mos caracterizar como anti-ethos prévio) e positivas de outro, nem do
moderno artifício de disseminação em massa das chamadas fake news,
usadas de modo a interferir indevidamente na criação de “verdades”
aceitas ou aceitáveis em um dado momento, ou da estratégia midiática
de falseamento, recurso de omissão de parte relevante de algum fato e
de destaque distorcido de aspectos outros.
Como se sabe, o ethos se constrói em associação com o logos (a
argumentação racional, que, no âmbito do discurso, pode recorrer a
falsas premissas e ainda assim fazer um raciocínio lógico a partir delas)
e com o pathos (a mobilização de elementos passionais, que pode ser
explorada indevidamente, mais uma vez usando falsas alegações e criando
um clima de descontrole e mesmo de histeria coletiva, como no caso do
nazismo, por exemplo)3. Isso é explicável pelo fato de o ethos precisar
reunir em si tanto a imagem corporal do locutor como a representação de
seu caráter, ou seja, a representação de algo racionalmente verificável e
a representação de algo que pode ser facilmente apresentado de modo a
3 Trata-se da tríade aristotélica: phrónesis (logos), areté (ethos), e eunóia (pathos).
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que o público forma dele: “Assim como o orador apoia seus argumentos
nas opiniões e normas atribuídas ao público, assim também ele ou ela
constrói um ethos a partir de representações coletivas dotadas de valor
positivo. O orador adota os modelos passiveis de produzir nos inter-
locutores uma impressão adequada as circunstâncias [grifos nossos]7.
Assim, mesmo o político “mentiroso” pode recorrer às crenças
(inclusive religiosas) do auditório e construir uma imagem de si capaz
de criar neste a impressão desejada (vou salvar o país da roubalheira, da
destruição, por exemplo, que se fundam na ideia prévia, tornada veros-
símil, de que há roubalheira e destruição). Claro que essas expectativas
do público, ou a aceitabilidade, por ele, de certa versão do ethos, não
são dadas de uma vez por todas nem construídas apenas via discurso.
É preciso que se creia haver roubalheira e destruição do país para se
aceitar que um dado político (quase desconhecido e sem expressão) seja
“diferente” dos outros, seja capaz de acabar com isso, que, se existir, é
de fato negativo. Vê-se que não é a veracidade, mas a verossimilhança,
que importa aqui: “se é possível, é verdade”.
O candidato adapta sua representação de si àquilo que o público
considera “um político confiável”, isto é, escolhe “uma apresentação de
si que atende às expectativas do público” (AMOSSY, Op. Cit., Loc. cit).
Julgamos ser isso uma espécie de esvaziamento do sentido do discurso
como materialidade: ao que parece, não importa o enunciado em si que
venha a ser proferido, mas o fato de o sujeito da enunciação enunciá-lo
com um dado tom. Em outras palavras, não se trata de “X disse a ver-
dade, logo, aceito X”, mas de “se X diz, é verdade”. O enunciado perde
o vínculo com o referente e se sustenta na expressividade do locutor
(o tom do discurso, o modo de dizer) como dispositivo para adequar a
imagem de locutor a uma dada expectativa do público: o locutor diz o
que se quer ouvir. O público aceita uma dada imagem e o político passa
a encarnar essa imagem.
7 Tradução nossa do trecho “Just as an orator to rest s arguments on the opinions and norms
ascribed to the public, so he or she builds an ethos on collective representations endowed with
positive value. An orator adopts the models which are likely to produce in the addressees an
impression befitting the circumstances.”
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compatíveis, por mais “estranho” que pareça, pode ser aceito como
quem atende a essa expectativa. Assim, embora a imagem de autor seja
discursivizada, seja uma construção de discurso, ela não é apenas uma
construção de língua, mas envolve tanto recursos argumentativos como
elementos contextuais, conjunturais, que vão determinar que ethos do
locutor, tanto prévio como discursivo, é aceitável ou rejeitável, bem
como que anti-ethos específico melhor serve ao fim de levar o público
a aceitar o locutor e rejeitar seu adversário.
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Fonte: Revista Veja – “As três condições para a queda de um presidente” / - Disponível: As três
condições para a queda de um presidente | VEJA (abril.com.br) - Atualizado em 30 jul 2020,
20h50 - Publicado em 24 jun 2017, 02h48
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Fonte: O Estado de São Paulo – “Homofobia de Bolsonaro é da boca para fora”, diz Regina
Duarte – Disponível: https://politica.estadao.com.br/noticias/eleicoes,homofobia-de-
bolsonaro-e-da-boca-para-fora-diz-regina-duarte
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Fontes: (Fig. 8) CANAL QUERO VER - YOU TUBE – LULA MAIOR LADRÃO DO MUNDO.
Disponível: https://images.app.goo.gl/zguKX7UzTNTHAmQ5A .
(Fig. 9) Facebook - Partido Anti-PT – “EXISTE PETISTA HONESTO?” – Disponível:
Https://www.facebook.com/PartidoAntiPT/photos/ - 9 de setembro de 2018
Considerações Finais
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sas formas de distorção dos fatos. Para isso, é preciso que os locutores
contra-hegemônicos consigam identificar os mecanismos de imposição
da “verdade” parcial dos locutores hegemônicos. Nesse sentido, cabe aos
grupos não-hegemônicos desenvolver imediatamente contraestratégias
de resistência para se opor a essas estratégias, cujos efeitos danosos hoje
vivenciamos.
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o que ditam aquelus que se supõe terem erguido seu véu. Pois bem, desse
pensamento para o fascismo e a ditadura estamos a um passo.
Felizmente existem outras maneiras de entender o mundo e o que
significa ideologia. Ao modo bakhtiniano, por exemplo, ideologia é modo
de ser, ver, interpretar, entender. Como tal, ela está presente em toda a ati-
vidade humana, e orienta nossos olhares, guia nossas interpretações, torna
possível nossos entendimentos de mundo. Ao conceber a linguagem como
um fenômeno social no qual diferentes vozes coexistem em permanente
contato, ou melhor, em incessante conflito dialógico (VOLÓCHINOV,
2017), o Círculo de Bakhtin associa linguagem a poder e ideologia.
Conceitos como heteroglossia e polifonia corroboram tal associação,
apresentando-nos uma concepção de linguagem em que vozes indivi-
duais e sociais (culturais, políticas, históricas) estão sempre em embate,
buscando sobrepor-se umas às outras. Nesse ambiente, as relações de
poder que se estabelecem nesses contatos (ou são estabelecidas por eles)
evidenciam a ideologia como sendo o nome dado a arranjos específicos
entre ideias, objetos, sujeitos, dimensões, aspectos, elementos enfim que
se entrecruzam nestas relações. Cada arranjo tem, assim, origens sociais e
individuais ao mesmo tempo, é particular e coletivo simultaneamente para
cada sujeito que o desenvolve. Desse modo, para o Círculo de Bakhtin,
o social e o individual estão inextricavelmente unidos na ideologia que
constitui o pensamento, a emoção, a mente e o corpo dos seres humanos.
Na visão bakhtiniana, portanto, não entra em discussão qual ideologia
estaria mais próxima ou mais distante da verdade, mas sim a partir de
quais quadros de referência interpretamos as diversas verdades com que
nos relacionamos. No posfácio de autoria de Carlos Alberto Faraco para
o ensaio de Bakhtin chamado “Para uma Filosofia do Ato Responsável”
(2010, p. 154), Faraco destaca que, no pensamento de Bakhtin, “não
tenho álibi na existência: ser na vida significa agir – eu não posso não
agir, eu não posso não ser participante da vida real”. O presente texto é
entendido por nós, portanto, como um agir ideologicamente implicado.
Entretanto, alinhadas à primeira visão de ideologia, que vê a neutra-
lidade como possível e desejável, algumas perspectivas sobre letramento
(STREET, 2003) entendem que a linguagem e os significados poderiam
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ser dissociados uns dos outros, que se poderia aprender língua de modo
apolítico, como se a língua fosse um mero instrumento que manuseamos
para fazer contato com o mundo. Vista deste modo, a língua se aproxi-
maria do modelo de comunicação que, no início do século XIX, colocava
a língua como intermediária entre o pensamento de emissoru e a com-
preensão desse pensamento pele receptoru, num modelo chamado por
Harris de telementização (HARRIS, 2003; MAKONI; PENNYCOOK;
SEVERO, 2015). A língua seria então um código neutro que, se bem
ensinado e bem aprendido mecanicamente, possibilitaria a transmissão
e recepção do pensamento. Neste sentido, língua e pensamento seriam
entidades discretas, distinguíveis entre si.
Com base na segunda perspectiva de ideologia, no entanto, língua
e pensamento são indissociáveis: uma informa a outra incessantemente
assim como significante e significado – um não existe sem o outro e
eles não podem ser separados. Essa perspectiva nos convida a pensar
sobre letramento a partir da ótica dos processos de significação compar-
tilhados social e culturalmente: letramento aqui significa produção de
sentidos, conjuntos de procedimentos interpretativos que construímos
nos entrecruzamentos que fazemos, cada um à sua maneira, entre os
diversos sentidos que produzimos e com que tomamos contato. Ou
seja, (re/co/des)construímos contextos dialogicamente em e através
de atitudes responsivas do “eu para mim”, do “eu para os outros” e
dos “outros para mim” (BAKHTIN, 2010). Portanto, todo letramento,
enquanto prática social, é “incrustrado de princípios epistemológicos
socialmente construídos” (STREET, 2003, p. 77). Isso significa que
todas as escolhas que fazemos, sejam elas no ambiente escolar ou não,
são carregadas de relações de poder e de questões culturais, sociais,
ideológicas, não sendo jamais universais. Nesse sentido, letramentos e
procedimentos interpretativos são sempre ideológicos, porque sempre
estarão imersos em processos responsivos de produção de sentidos. Essa
visão de letramentos, os quais Street (2003) chama de ideológicos (em
contraste à visão de letramentos como uma atividade autônoma, não
ideológica, dissociável de outras práticas com linguagem), clama pela
problematização constante e permanente de toda e qualquer perspec-
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tiva, uma vez que o olhar é sempre ideológico, está sempre inserido
em relações de poder e quadros de referência.
Para Street (2003), o senso comum distingue entre letramentos
autônomos, que seriam os relacionados ao que aqui estamos chamando
de primeiro conceito de ideologia, e letramentos ideológicos, que esta-
riam contaminados por valores morais e políticos. No entanto, para o
pesquisador, os letramentos são sempre ideológicos, porque só se tornam
possíveis nas práticas cotidianas, só adquirem existência em meio à
vida social, que é sempre política, sempre plural e ideológica, tomando
materialidade na associação com quadros referenciais específicos. Con-
cordamos plenamente com Street nesse sentido, e entendemos que o que
se nos apresenta são de fato letramentos dominantes e/ou letramentos
marginalizados, mas todos eles construídos nas relações assimétricas de
poder invariavelmente ideológicas.
Entendemos que essa perspectiva, que se pode entender como
bakhtiniana, está alinhada também ao pensamento do grupo de pesquisa
latino-americano conhecido como Modernidade-Colonialidade. Este
grupo de pensadorus, que inclui Mignolo, Escobar, Grosfoguel e Walsh,
para mencionar apenas alguns nomes mais representativos, defende a
ideia de que algumas ideologias promovem grandes violências, como
é o caso da colonialidade. O grupo explicita a inseparabilidade entre
modernidade e colonialidade, como dois lados de uma mesma moeda:
para eles o pensamento da modernidade, ligado ao capitalismo, à inva-
são e destruição de povos e suas culturas, à hierarquização de formas de
ser e de saber, à projeção do capital acima de todas as coisas, constrói a
colonialidade que, por sua vez, localiza os povos não-europeus (e alguns
povos europeus também – GROSFOGUEL, 2013) em espaços inferiores,
primitivos, infantilizados, caracterizando-os como povos sem conheci-
mento e sem erudição. Nesse patamar, fragmentado pela “linha abissal”,
fundam-se as universidades, os paradigmas de pesquisa científica, os
ideais de civilização e de sucesso, calcados exclusivamente no paradigma
ontoepistemológico europeu que se projetou como hegemônico. A fim de
perdurar, esse modelo precisava apagar suas raízes brutalmente violentas,
obscurecer as continuidades entre nosso passado colonial e a colonialida-
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Nos últimos anos, tal compreensão tem angariado cada vez mais
adeptes e, desde 2019, com a (extrema-)direita no governo, temos visto
triunfarem políticas alinhadas à narrativa da AESP, bem como frequentes
declarações de apoio ao movimento advindas tanto do presidente atual
quanto da base de seu governo ligada especialmente à educação, caso
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Figura 2 – Cartaz com Deveres do Professor – Escola Sem Partido (grifos nossos)
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Referências
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FRIGOTTO, G. (org.) Escola “Sem” Partido – esfinge que ameaça a educação e a
sociedade brasileira. Rio de Janeiro: UERJ, 2017. p. 63-74.
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line]. n. 50, 2017. e175001. ISSN 1809-4449. DOI: 10.1590/18094449201700500001.
Disponível em: http://ref.scielo.org/5zqkb7. Acesso em: 19 jul. 2018.
BAKHTIN, M. Para uma filosofia do ato responsável. Organização Augusto Ponzio
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Miotello e Carlos Alberto Faraco. Pedro & João Editores, 2010.
BEATO-CANATO, A. P. M.; FABRÍCIO, B. F. Construções textuais-escalares
dos direitos humanos e do politicamente correto: uma perspectiva decolonial sobre
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FREIRE, P. Pedagogia da autonomia – Saberes necessários à prática educativa. 31.
ed. São Paulo: Paz e Terra, 1996 [2005].
GROSFOGUEL, R. The structure of knowledge in westernized universities: epistemic
racism/sexism and the four genocides/epistemicides of the long 16th century. Human
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4 Original: “The epistemological South and the geographical South partially overlap, particularly
as regards those countries that were subjected to historical colonialism” (p. 4-5).
5 Original: “coloniality survives colonialism. It is maintained alive in books, in the criteria for
academic performance, in cultural patterns, in commonsense, in the self-image of peoples, in
aspirations of self, and so many other aspects of our modern experience. In a way, as modern
subjects we breath coloniality all the time and everyday” (p. 243).
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2018, p. 109), uma vez que buscou, a partir da historicidade dos sujeitos
e de seus contextos, possibilidades de ruptura com uma organização
monológica, a-histórica, a-crítica e a-política da linguagem. O trabalho
orientou-se por discussões com ênfase nas intervenções formativas
nos contextos pesquisados, problematizando fatores sociais, políticos,
culturais, históricos, no sentido de desconstruir percursos naturalizados
de pesquisa, para compreendê-los como “contingentes, dinâmicos e
produzidos no particular, em vez de serem entendidos como dotados de
um status ontológico anterior” (PENNYCOOK, 2006, p. 71).
Como destacado por Pennycook (2006, p. 69-70), a perspectiva críti-
ca da LA, refutando a neutralidade, não poderia negar questões de cunho
político e de responsabilidade social; não poderia ignorar “as muitas vozes
que reivindicam visões alternativas do mundo”, presentes nos contextos
educacionais em que atuam os alunos participantes da disciplina.
A ementa da disciplina Linguagem e Constituição de Educadores
Críticos destaca, especificamente, como um de seus objetivos, “abordar
a constituição de contextos de pesquisa e formação que questionem a
manutenção de hierarquias quanto a relações lineares e a-históricas da
linguagem que, usualmente, organizam o currículo e papéis de aluno e de
professor, de coordenador, de diretor, de pesquisador, (im)possibilitando
a constituição de profissionais agentes”.
Desenhada metodologicamente a partir de uma perspectiva trans-
gressiva, que busca romper limites (FREIRE, 1987 [1974]), a disciplina
procurou destacar as dimensões política (no plano do desejar trans-
formações, do revisitar a quem os interesses servem), ética (no plano
das relações de equidade, de justiça, de caráter subjetivo e valorativo),
epistemológica (no plano da reflexão crítica em direção aos fundamentos
para a práxis) e estética (no plano das ações movidas por sentimentos,
pela sensibilidade ao que emerge do contexto) das pesquisas realizadas
pelos participantes, para compreendê-las como processos coletivos em
situações-limite a serem enfrentadas e superadas.
A partir de dezesseis encontros semanais de três horas cada,
organizados por meio de discussões orientadas por leituras teóricas
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7 Original: “critical interventions that disrupt and interrogate epistemic hegemonies and mains-
tream perspectives (e.g. official histories, standard interpretations, ossified exclusionary
meanings, etc.) (…) involve the difficult labor of mobilizing scattered, marginalized publics
and of tapping into the critical potential of their dejected experiences and memories” (p. 11).
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8 Original: “When a group of people (…) search collaboratively for a new form for the productive
activity in which they are engaged” (p. 43).
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9 Original: “the concept is intended to capture a capacity to align one’s thoughts and actions
with those of others to interpret aspects of one’s world and to act on and respond to those
interpretations. In CHAT terms it is a capacity to work with others to expand the object that
one is working on by bringing to bear the sense-making of others and to draw on the resources
they offer when responding to that sense-making” (p. 4).
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10 Original: “Agency is conceptualized as a situated and collectively formed ability of people, qua
agents of social practices, history, and the world itself—each person as fully a community mem-
ber who at the same time is acting from a unique position and stance on a given community’s
predicaments and conflicts—to co-realize the world and themselves while challenging the
existing status quo and contributing to social practices of humanity with a particular horizons
of possibilities in sight. Importantly, this ability is contingent on the mastery of cultural tools
for transformative action and activism through participating in and contributing to the inherently
social, collective processes and practices of human communities” (p. 7).
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Excerto 1
M: Eu gostei muito do texto do Virkkunen… Eu gostei muito do texto
dele, eu gostei muito dos exemplos que ele trouxe. E vi muita aplicabi-
lidade no que ele falou, nos exemplos daqueles esquemas (…) usando
a teoria da atividade, trazendo do individual pro coletivo colocando as
duas possibilidades do individual para o coletivo. Eu achei muito, muito
rico… assim, eu fiquei bastante contente de ter lido e até de esse texto
me proporcionar algumas ideias de trabalho, sabe?
P: Isso… mas se a gente pensar nos três textos… Stetsenko como
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Excerto 2
M: Então… eu pensei em perguntar… é… olhando pra a vida deles hoje,
nessa situação [da pandemia] que eles estão vivendo, como eles estão
vivendo esse momento com os professores, o que está fluindo… e quais
são os gargalos… porque eu pensei assim: se eu faço isso, eles serão
obrigados a olhar também para o lado positivo das coisas. E também
poderão trazer esses gargalos (…) Pensei em fazer essa pergunta (…)
e pensar com eles de que modo estão vivendo em suas realidades. E
aí, eu coletar essas informações e (…) e aí, eu vou dizer que isso será o
meu trabalho, e que eu mudei porque a ideia era fazer outra coisa, mas
agora eu quero ouvi-los, porque eu acho que isso é mais emergencial
do que o que eu tinha antes (…) tudo isso eu pensei em discutir com
eles porque eles precisam dizer se querem participar ou não. Não sei
se isso interessará a eles. De repente, não.
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Excerto 3
L: Bom… Foi o que eu pensei (…) um projeto sobre linguagem e es-
crita… e aí eu pensei em uma pergunta: há agência na clínica? (…) Na
APAE, são crianças muito mais comprometidas, mas quando a gente
abre para esse público externo, chegam crianças que… que são autistas
e que estão nas escolas regulares… crianças que estão na fase de aquisi-
ção da escrita mesmo. (…) é um projeto que eu fiz no meu trabalho (…)
eu via que algumas crianças tinham um potencial bacana de desenhar,
de criar e aí (…) a ideia era que as crianças produzissem algo e que
pudéssemos mostrar pra todo mundo e então nós trabalhávamos em
cima de um tema e as crianças produziam algo a partir disso. (…) foram
4 meses de trabalho para um texto de… de 4 linhas (…) Se a criança
desenha bem, então a ideia era trabalhar esse desenho para desencadear
a escrita (…) Um propósito para escrever… Porque essas crianças não
veem propósito e significado nenhum no que fazem… porque elas vivem
no fracasso escolar… Esse desenho é uma forma de se chegar à escrita.
Não é como tem lá – escreva sobre tal coisa… É importante trabalhar
com o interesse deles… Hoje eu escolhi apenas uma criança, porque eu
acho estrondoso o que aconteceu com a escrita dessa criança (…) Na
medida que iam produzindo, eu ia dizendo que havia outras crianças
produzindo também e eles começam a se interessar pelas produções
dos outros (…) Eu digo aqui: o importante é resgatar o lugar da escrita
para essas crianças porque a escrita, para eles, é o lugar do fracasso…
então… (…) e para cada criança, eu trabalhei de uma forma… Para
esse menino… Com ele, o trabalho foi por meio de listas, de jogos, e ele
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encontrou o lugar da escrita a partir daí. (…) Uma criança que enjoava
para pegar na caneta, que sentia-se mal, tinha tontura… depois pedia
para escrever… Essa criança teve uma mudança enquanto sujeito. Ele
chegava de cabeça baixa… sem ânimo… sem vontade de conversar…
e ela mudou como pessoa… não só na escrita. (…) Esse menino passou
a desejar enviar mensagens escritas para mãe, pelo WhatsApp, e não
mais pelo áudio (…) E os profissionais da instituição também tiveram
uma certa mudança… de olhar de outra forma para o que é produzido
por essas crianças (…) E aí, eu trago a questão: qual a relação dessas
crianças com a escrita e com o mundo?… Porque elas passam a se ver
de outra maneira? E aí eu pergunto: qual é a agência dessas crianças
na clínica? Essas crianças podem ser agentes? (…)
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Excerto 4
D: Exatamente esse texto da Stetsenko é que me levou para um lugar
um pouco desconfortável… Somente no final do texto é que eu percebi
o que ela estava querendo dizer com essa agência transformadora…
Acho que é por isso que eu fui transportada para esse lugar… do… do
desconforto… Quando ela fala dessa agência transformadora radical…
dessa capacidade de mobilidade coletiva, das práticas sociais… histó-
ricas… em que essa comunidade está inserida, ela fala exatamente das
necessidades e conflitos… Então eu fiquei pensando exatamente na parte
do meu projeto que se propõe a oferecer um curso de formação… e aí eu
fui avançando na leitura e nas questões que a Stetsenko estava fazendo…
ela fala que…“a agência é fundamental para o ensino-aprendizagem se
for entendida como significativa, ativa, pelo saber-fazer… pelas pessoas
como atores da história e agentes do mundo em construção”. E agora eu
fiquei pensando… Como eu poderia… É … Será que o meu projeto…
em que medida o meu projeto assim como está seria possível, levando
em conta este momento… as possibilidades de ensino agora, neste
momento de pandemia, de maneira remota... Porque aqui na Bahia (…)
os alunos da escola pública ainda não têm isso… então eu fiquei muito
preocupada com isso, com essa força que oprime, com essas práticas
sociais (…) e com o que eu, como pesquisadora, estou propondo como
formação dos professores. Em que medida eu teria de alterar um pouco
dessa minha proposta… ou alterar muito (rs)… Pra dizer a verdade,
eu estou bastante preocupada. Penso… não sei se o que eu vou falar
ainda se mantém (…) eu sei que entram outras questões que eu acho
que não trabalho no meu projeto… Não sei se consegui me explicar…
é… porque o texto da Stetsenko fala dessa necessidade de criar essa
consciência de oposição a essas teorias… fala também da abordagem
decolonial… mas pede também uma concepção de agência política… e
não sei como pedir isso aos professores… neste momento… e também
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Referências
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“Nós vamos ter que fazer alguma coisa com a sua lín-
gua”, eu escutei a elevação raivosa na sua voz. Minha
língua retém-se, empurrando pra fora os tufos de algodão,
repelindo as brocas, as longas agulhas finas. “Eu nunca
tinha visto nada tão forte ou tão resistente”, ele diz. E eu
penso, como você doma uma língua selvagem, adestra-a
para ficar quieta, como você a refreia e põe sela? Como
você faz ela se submeter?
(Gloria Anzaldúa, Como domar uma língua selvagem,
2009)
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3 Entendemos que línguas nomeadas são um construto social e, portanto, o entendimento sobre o
que é uma língua (português, inglês, libras) e o que não é uma língua (muitas vezes reconhecidas
como um “dialeto” ou uma “variedade”) são também entendimentos sociais e determinados
por forças ideológicas e não por questões linguísticas (lexicais ou estruturais) em si. Conferir
Makoni e Pennycook (2007, p. 1) sobre os construtos de língua como invenção.
4 Embora nosso foco no capítulo seja a formação do professor de línguas, nossa experiência de
atuação com Licenciaturas em diferentes áreas (incluindo, para além das humanidades e das
ciências sociais, as ciências exatas) tem indicado a importância de uma educação linguística
ampliada para todos os professores que atuam nas escolas.
5 A tradução do excerto é de Joana Plaza Pinto e Karla Cristina dos Santos com revisão de Vi-
viane Veras. A tradução do capítulo “How to tame a wild tongue” (Como domar uma língua
selvagem) para a língua portuguesa foi publicada nos Cadernos de Letras da Universidade
Federal Fluminense (UFF) – Dossiê: Difusão da Língua Portuguesa, n. 39, p. 297-309, 2009.
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que não se dão como o modo eleito ou que não ocorrem via língua nome-
ada) e muito menos as corporificações e outras semioses que compõem
as práticas sociais de língua(gem). Não se vai, como deseja Cavalcanti
(2013, p. 225), para “[…] além das fronteiras linguísticas, [no sentido de]
estabelecer um posicionamento político-ideológico, [e] buscar desenhar
novas paisagens em mesmas e diferentes geografias sociais”.
Concepções que apontam para a língua enquanto uma entidade
nomeada, uniforme, relativamente homogênea e fixada a territórios e
falantes nativos, com seu valor atribuído principalmente na sua forma
escrita apenas reforçam a ideia de língua (e, consequentemente, ensino
de língua) para a formação de cidadãos que seriam os “adequados” (con-
ferir SIGNORINI, 2004). Nesse sentido, acreditamos que somente uma
Linguística Aplicada transgressiva e crítica (conforme PENNYCOOK,
2006, 2010) poderá lançar luz sobre tais questões, de modo a mobilizar
na formação do professor uma educação ampliada.
Considerando a problemática exposta, organizamos as discussões
deste capítulo da seguinte forma: (i) como pode ser possível formar
professores de línguas para uma educação linguística ampliada (CA-
VALCANTI, 2013) numa abordagem translíngue (HORNER et al., 2011;
LOPES; NASCIMENTO, 2018; dentre outros); (ii) um olhar sobre a
Base Nacional Comum Curricular (BRASIL, 2018, doravante BNCC),
enquanto documento que reverbera em currículos e em formação de
professores de línguas (e também de outras áreas); e (iii) uma discussão
sobre as compreensões (apreciações de valor) de conceitos como “va-
riedade linguística” e sobre as ações educativas recomendadas para o
trabalho com “as variedades” na seção sobre o componente curricular
Língua Portuguesa na BNCC (BRASIL, 2018). Por fim, finalizamos
com o argumento de que os questionamentos que propomos, em relação
à construção social das línguas e de seus usos, podem sensibilizar os
docentes para a pluralidade linguística, cultural e social que expande as
compreensões de ensino para além das amarras “de um cenário [brasi-
leiro] naturalizado como monolíngue” (CAVALCANTI, 2013, p. 216)
desde que as diferentes práticas de linguagem tenham espaço para serem
apresentadas e vividas.
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fato de que o conteúdo linguístico que precisa ser aprendido porque será
ensinado “[…] não é livre de relações e implicações sociais, políticas e
culturais” (CAVALCANTI, 2013, p. 224). É nesse sentido que a autora
enfatiza a urgência do desenvolvimento da sensibilidade do(a) professor(a)
para o ensino de línguas(gens) que tenha no horizonte questões relacionadas
à pluralidade e diversidade. Nas palavras da autora:
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Essa reflexão sobre o lugar do aluno ainda nos interessa pelo fato de
a BNCC (BRASIL, 2018) discutir amplamente o conceito de letramentos
e multiletramentos como norteadores do ensino de línguas, sem parecer
entender que letramentos, enquanto práticas sociais – impossíveis de
serem desvinculadas de suas realidades locais e situadas –, não podem ser
confundidas como simples habilidades a serem adquiridas – muito menos
de forma homogênea por todos os estudantes espalhados pelo Brasil.
Mais uma vez temos uma tentativa de unir nosso país como um
espaço monolíngue, monocultural, monoidentitário (conferir CAVAL-
CANTI; MAHER, 2018) e que, consequentemente, pode executar um
currículo único e comum. Essa breve contextualização sobre como a
BNCC (BRASIL, 2018) se coloca enquanto política educacional que
norteia currículos e cursos de formação é necessária para então questio-
narmos: qual é a concepção de língua(gem) que esse documento carrega?
A partir dessa concepção, qual é a língua(gem)/variedade12 escolhida
como saber legítimo no documento? Quais são as línguas(gens)/varie-
dades que (re)existem para serem respeitadas e, assim, parecem não ter
valor como objeto de estudo?
12 É relevante pontuar que entendemos que as formas de comunicação sem prestígio são “línguas
de fato” e não mera “variação”. Na BNCC, contudo, tais línguas são descritas por meio do uso
do termo “variedades [da língua portuguesa]”. Acreditamos que ver as línguas não-prestigiadas
como variedades resulta na invisibilização de suas comunidades (CAVALCANTI, 2013) e, por
isso, aqui utilizamos os dois termos para formular as perguntas desencadeadoras da discussão:
o termo que adotamos no capítulo e o termo adotado pelo texto da Base.
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A citação acima cai como uma luva para a discussão das práticas
linguísticas locais como essenciais para uma formação docente de visão
ampla e sensível às diversas práticas situadas possíveis nesse Brasil
continental e de tantas desigualdades – cerne que motivou a escrita deste
capítulo.
Um segundo aspecto a destacar nos trechos (Quadro 3) se refere
ao tratamento das variedades com respeito e sem preconceitos. Como
vimos na discussão do Quadro 1 – Competências, também no Quadro
3 – Habilidades aparece a rejeição a preconceitos de origem linguística
e o desenvolvimento do respeito às diversas variedades como habilida-
des a serem trabalhadas por meio de identificação e discriminação das
características de diferentes variedades (EF35LP11 – Quadro 3). Assim,
reiteramos que em vários momentos em que a BNCC (BRASIL, 2018)
aborda o trabalho com as variedades linguísticas, o movimento se dá em
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Considerações Finais
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4 Notícia publicada na Folha de S. Paulo, sob o título “Sem fé, jovens do Brasil são ‘zumbis
existenciais’, diz ministro da Educação”. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/
educacao/2020/09/sem-fe-jovens-do-brasil-sao-zumbis-existenciais-diz-ministro-da-educacao.
shtml?origin=uol. Acesso em: 13. set. 2020.
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10 Notícia publicada no site da Revista Fórum, sob o título “Weintraub afirma que universidades
federais escondem ‘plantações extensivas de maconha’”. Disponível em: https://revistaforum.
com.br/politica/weintraub-afirma-que-universidades-federais-escondem-plantacoes-extensi-
vas-de-maconha/. Acesso em: 10. set. 2020.
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aspas como se essas falas não pertencessem a ele e sim a um outro, não
identificado no texto. A única opinião dele estaria no último parágrafo
em que lança uma pergunta aos seus seguidores.
Ribeiro (2018) argumenta que, ao se desqualificar as pessoas de
esquerda chamando-as de esquerdopatas, firma-as como inimigos a se-
rem combatidos, pois, segundo esse ponto de vista, elas seriam um risco
para a sociedade. Nesse entendimento, o chefe dessa quadrilha seria o
ex-presidente Lula, pois nomeou, na sua gestão e na da ex-presidenta
Dilma, ministros do STF e dos movimentos sociais e sindicatos, os quais
serviram aos interesses de um governo mais preocupado em mandar
dinheiro aos países da América Latina do que em governar para os tra-
balhadores brasileiros. Assim, na visão dos movimentos de direita que
propagam o ódio à ala esquerdista,
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Ê, Calunga, ê! Ê, Calunga!
Preto Velho me contou, Preto Velho me contou
Onde mora a Senhora Liberdade
Não tem ferro nem feitor
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Metáforas e metonímias
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Análise
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Figura 2 – Manifestoches
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9 https://artsandculture.google.com/theme/GwLyao99SLXVKg
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Fonte: DELACROIX, Eugène. A Liberdade guiando o Povo. 1830. Pintura, óleo sobre
tela, 260 x 235 cm.
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Figura 6 – Neotumbeiro
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Fonte: G1
Conclusões
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Érica Lima1
Janine Pimentel2
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falta ou uma ausência na tradução, mas sim um aspecto que torna o ato
da tradução partidário, engajado e comprometido, implícita ou explici-
tamente (TYMOCZKO, 2010).
Por esses motivos, tradutores e tradutoras não podem fugir da
participação da dialética do poder, do discurso político e de estratégias
de mudança social, sejam elas favoráveis para muitos ou poucos. Dizer
que uma tradução é resistente, engajada ou ativista não é o suficiente,
nem garante que também seja ética e responsável. Como afirma Derri-
da, “[a] filosofia da tradução, a ética da tradução, se é que existe, seria,
hoje, uma filosofia da palavra, uma linguística ou uma ética da palavra.
No início da tradução existe a palavra” (2000, p. 20, grifos do autor). A
questão ética do tradutor e da tradução nem sempre é clara (ou declarada)
e depende de (ou é determinada por) vários fatores, como abordaremos
nas seções seguintes.
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Tradutores de Direita
Fonte: https://www.youtube.com/channel/UCJqOdpqndf1MPequlvDgGkA/videos
14 De acordo com o site www.monitordigital.org o projeto “Monitor do debate político no meio
digital” é um “projeto de pesquisa realizado desde 2016 pelo Grupo de Politicas Públicas para
o Acesso à informação (GPoPAI) com sede na USP Leste. O projeto investiga a polarização
do debate político por meio de pesquisas de opinião e da análise do conteúdo político de
abrangência nacional que circula nas quatro maiores plataformas de redes sociais: Instagram,
Twitter, YouTube e Facebook”.
15 O mapa pode ser conferido em: https://www.boletimdaliberdade.com.br/2017/09/17/projeto-
que-analisa-paginas-de-politica-na-internet-mapeia-a-direita-virtual/ Acesso em 10 ago. 2020
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Fonte: https://www.facebook.com/tradutoresdedireita
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Fonte: https://www.estibordo.org/sobre
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Fonte: https://twitter.com/tradutores_br
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Fonte: https://www.instagram.com/tradutoresdedireita/
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20 Ben Shapiro, Donald Trump e Olavo de Carvalho estão entre os exemplos trazidos no vídeo.
Disponível em: https://www.instagram.com/p/Bqcfm8VhUsW/. Acesso em: 03 ago. 2020.
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com outra cultura, para a nossa realidade, como se não fossem situações
diferentes – apesar de partirem da “mesma” ideologia política. Assim,
falar de aborto no Brasil é diferente de falar de aborto nos Estados Unidos,
mesmo que ambos tenham, em comum, o fato de serem contra o direito
da mulher de decidir se quer ou não levar adiante a gravidez. A realidade
educacional superior dos norte-americanos é diferente da nossa realidade,
e essas diferenças ocorrem em várias áreas dos vídeos traduzidos – si-
tuação que não é apontada nem mesmo nas descrições de apresentação
desses vídeos. Há uma promessa de um nacionalismo, mas a resposta é o
apagamento das diferenças e valorização única daquele que supostamente
devemos imitar, independentemente das circunstâncias ou, para usar uma
expressão mais adequada à área, sem considerar os contextos. Não há,
portanto, uma desterritorialização, ao contrário, o inglês é a única língua
traduzida, o que mostra um imperialismo linguístico e hegemonia das
ideias sociopolíticas estadunidenses. As diferenças que nos constituem
são apagadas, e, com elas, a possibilidade de pensar caminhos que sejam
adequados para nossa sociedade.
Considerações finais
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Referências
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Deleuze e Guattari (1987), para proposição de estruturas complexas sociais que sejam fluidas,
múltiplas, nômades, em contextos de continuidade e heterogeneidade, possuindo paradoxal-
mente características de estabilidade e mudança.
13 Materializado em sua constituição orgânica em conjunto com tecnologias diversas para de-
sempenhar suas atividades de cirurgião.
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14 As chamadas bruxas eram, em geral, mulheres viúvas ou solteiras que participavam do comér-
cio sem responder a um homem (marido ou pai). Foram, em grande parte, queimadas entre
os séculos XV e XVII. Para maiores informações, veja o livro Calibã e a Bruxa, de Silvia
Federici (2017).
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Contextualização
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Figura 1 – QRcode para acesso ao Prezi - Disciplina Língua Inglesa III – Fonética e
Fonologia
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Christine Nicolaides1
Renata Archanjo2
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De onde viemos?
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Onde estamos?
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8 Excerto retirado do Simpósio do 120 CBLA “Sarau como gramática de resistência da juventude
negra da periferia de Fortaleza”, apresentado por Claudiana Nogueira de Alencar (UECE).
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11 Excerto retirado do Simpósio do 120 CBLA – “Encontrando Sua Voz: formação de professores
de línguas em sociedades em transformação” apresentado por Renata Archanjo (UFRN).
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Considerações finais
24 Palavras utilizadas pelo Presidente Jair Bolsonaro ao se referir a manifestantes que participam
de protestos contra cortes na educação. Leia matéria completa em: https://www.gazetadopovo.
com.br/educacao/idiotas-uteis-sendo-usados-como-massa-de-manobra-diz-bolsonaro/. Acesso
em: 26/07/2021
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Referências
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Metodologia
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Fonte: http://www.contoerotico.com/princ.cfm
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Passivo Ativo
Jovem pouco viril e afeminado Homem viril e mais velho
Ex: “Quando eu tinha aproximadamente Ex: “O motorista do ônibus, um senhor
18 anos, o meu jeitinho meio efeminado de meia-idade, calvo e com uma certa
começou a incomodar meus pais.” (conto barriguinha…” (conto “Deflorado no
“Deflorado no bambuzal”) bambuzal”)
Obediência a autoridade Controle
Ex: “Decidi obedecer, afinal ele era mais Ex: “O homem me falou sorrindo que não
velho e até aquele momento sempre foi havia do que ter medo.” (conto “Deflorado
digno tanto da minha confiança como da no bambuzal”)
dos outros alunos que usavam aquele trans-
porte.” (conto “Deflorado no bambuzal”)
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Fonte: Quadro elaborado pelos pesquisadores com base na análise dos dados
Como pode ser visto no quadro, a relação entre passivo e ativo nos
contos é marcada pela violência física e simbólica. Frequentemente, o
primeiro é descrito como alguém mais jovem, que não se apresentava
como um modelo de virilidade esperado, assumindo, portanto, papel de
katapugon/kinaidos14, nos termos gregos, para os homens que se aproxi-
mavam da feminidade. Amiúde, o passivo é descrito como alguém que
tem medo e em estado de inação perante a violência sofrida, enquanto o
ativo é mostrado como alguém com pênis funcional, viril e violento, que
utiliza de sua força física para o exercício da sua satisfação pela submissão
do sujeito passivo. Sendo assim, a dor do passivo e a violência do ativo
marcam peremptoriamente os enunciados dos contos.
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Considerações finais
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Referências
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que levou à construção desse texto. Por fim, apresentamos uma discussão
teórico-prática sobre o ensino de pronúncia, buscando sempre responder
à pergunta estabelecida no título.
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em conjunto com suas falas (trouxemos apenas algumas das falas que
achamos relevantes, por questões de espaço).
…the main goal of the language use is about intelligibility, which in-
volves negotiation in many aspects like meaning negotiation, values,
cultural aspects, identity, in a relationship with solidarity and respect.
[…o principal objetivo do uso da língua é inteligibilidade, que envolve
negociação em vários aspectos, tais como negociação de significados,
valores, aspectos culturais, identidade, em uma relação de solidarie-
dade e respeito]. (Estudante 1).
Talvez em uma primeira lida dos trechos trazidos acima, possa pare-
cer que os estudantes estão meramente tratando de aspectos considerados
“batidos” (ou seja, já antigos) pela literatura sobre ILI/ILF. No entanto,
é interessante notar especialmente como a maneira como os estudantes
1 e 2, mais especificamente, aprofundam seus comentários. No caso do
Estudante 1, é particularmente interessante como o entendimento de
inteligibilidade ultrapassa não apenas questões de pronúncia, mas as ques-
tões linguísticas como um todo. Ao tratar sobre solidariedade e respeito,
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Referências
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Francisco Estefogo1
Fernanda Coelho Liberali2
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Programa DIGITMED
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Resistir DIGITMEDIANO
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Brasileiros
Tristes
Futuro
Talvez
Voltar
Melhor
Amanhã
Potência
Ação
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de seus lugares de direito para dar visibilidade às suas lutas e aos seus
posicionamentos. O slam articula os meandros do público e do privado,
da família e do estado, da rua, da casa e da comunidade, do pessoal e do
coletivo, das questões políticas, da violência, da educação, bem como
do questionamento das leis que regem o Estado, dentre outras temáticas
sociais (PAULA, 2019).
O slam é um porta-voz para os agentes de letramento de “reexis-
tência”, fusão das palavras existência e resistência (NEVES, 2017). Para
a autora, a poesia é uma forma de reexistência, pois, por meio dela, os
alunos expressam seus modos de existir, bem como manifestam sua
revolta, suas vontades, seus desejos, sua identidade e resistência.
Freitas (2020), no seu artigo “Slam Resistência: poesia, cidadania e
insurgência”, afirma que as poesias do slam flertam com o cancioneiro
popular. Como uma prática coletiva, o evento se organiza na interface
entre as manifestações orais, escritas e visuais, o que faz da performance
um componente fulcral para a competição. Ainda no mesmo trabalho,
Freitas (2020) faz menção do grupo Slam Resistência que promove a
batalha mensalmente, na Praça Roosevelt, no centro da cidade de São
Paulo, desde 2014. Além desse, a autora ainda aponta outros grupos
paulistanos de slam tais como o ZAP! Slam (ZAP é uma abreviação para
Zona Autônoma da Palavra), do bairro de Pompéia, bem como o Slam
da Guilhermina, desde fevereiro de 2012 em atividade, da Zona Leste,
dentre outros.
No segundo encontro do DIGITMED, cujo foco foi o slam, em
março de 2019, slammers profissionais foram convidados a participar do
evento. Catharine Moreira, uma jovem surda, Yasmin Gabrielle, e o Geóh
primeiro fizeram suas apresentações de slam. Depois visitaram os grupos
para dar explicações e contar a história da competição. Posteriormente,
como os participantes do DIGITMED tinham que, em grupos, elaborar
uma poesia para que fosse declamada como slam, os 3 profissionais
também monitoraram essa fase de criação autoral.
Para efeito de apresentação de um slam profissional, este capítulo
se detém à apresentação da Catherine Moreira que apresentou seu poema
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ação policial por ser negro, gay e usar vestimentas simples, como as pa-
lavras “homofobia, cabelo crespo, roupa que não é de marca” suscitam.
O autor ainda espera que esse slam seja um veículo que possa difundir
sua estória, uma vez que é premente em sua memória.
A performance é fortemente marcada por um arroubo opressor,
principalmente o da polícia, que normalmente recorre à truculência
contra cidadãos, simplesmente por serem negros. O slam é uma forma
de se vociferar uma dor e angústia para o autor simplesmente ser ou-
vido e permitir que o deixem viver sua liberdade do jeito que nasceu e
se constituiu como ser humano. Como discute Espinosa (2005), agir de
forma ativa e livre é uma das fases para estimular a potência do conatus.
No encontro de novembro de 2019, o foco foi shows musicais com
ênfase em diferentes tipos de música e dança. Os participantes vivencia-
ram a história de diferentes ritmos musicais. Em grupos, como a Figura 4
abaixo ilustra, discutiram como os gêneros musicais permitem/favorecem
a resistência, bem como retratam as desigualdades sociais. Também
abordaram quais instrumentos são usados para os referidos ritmos e como
criam os efeitos demandados pelos gêneros, além de quais grupos sociais
mais consomem/vivenciam os ritmos apresentados. No final, os grupos
fizeram uma apresentação musical que sintetizou a discussão no grupo.
Figura 4 – Discussão dos ritmos musicais
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Considerações Finais
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Referências
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