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Campina Grande
2018
ANA CAROLINE PEREIRA DA SILVA
Campina Grande
2018
É expressamente proibido a comercialização deste documento, tanto na forma impressa como eletrônica.
Sua reprodução total ou parcial é permitida exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, desde que na
reprodução figure a identificação do autor, título, instituição e ano do trabalho.
Ao Deus da minha vida por consentir que eu respire todos os dias e tenha saúde para
lutar.
Ao meu orientador e incentivador, Fábio Marques de Souza, pelos puxões de orelha e
por acreditar em mim.
Ao Programa de Mestrado em Formação de Professores da Universidade Estadual da
Paraíba.
Aos membros das bancas (qualificação e defesa) por todas as valiosas contribuições.
A Ronny Diógenes pelo amor, paciência e pelos cafés preparados com tanto carinho.
Aos meus pais, Ana Lúcia Pereira e Sebastião Pereira, por me ensinarem o amor no
sentido mais completo da palavra.
Às minhas avozinhas, Maria de Lourdes e Maria Florentina, pelo colo sempre disponível
e pela doçura rigorosa de cada conselho que me dão.
Às minhas irmãs e sobrinho por suportarem as minhas ausências e me proibirem de
desistir.
Aos meus amigos: Maíra Rodrigues, Michele Leite, Anne Karen Salgado, João Paulo,
Thalita Ingrid Rocha, Renato Torres, Alysson Raonne, Karine Dias de Oliveira e Arilane
Florentino, pelo apoio incondicional e por todas as leituras e tequilas que compartilhamos.
À Cecilia Postiglione e sua equipe pela disponibilidade e cooperação.
Aos meus alunos do IFPB- Campus Patos pelo companheirismo na realização desta
experiência.
Todos estão no meu coração e são parte da minha composição como ser humano.
¡Muchas gracias!
A Educação se divide em duas partes: educação das habilidades e
educação da sensibilidade. Sem a educação da sensibilidade, todas as
habilidades são tolas e sem sentido.
Rubem Alves
RESUMO
Este estudo teve por objetivo destacar as contribuições obtidas a partir do uso, análise e da
produção dos textos multimodais no desenvolvimento de habilidades linguísticas em Português
e em Espanhol como línguas adicionais no contexto do teletandem. Para isso, foi realizado um
estudo de caso através de uma abordagem qualitativa de cunho etnográfico. Este trabalho
tornou-se necessário, pois percebeu-se que o ensino do Espanhol, em várias escolas brasileiras,
é baseado em um estudo predominante de textos escritos que objetiva desenvolver a habilidade
leitora do aluno, sem dedicar atenção aos textos multimodais. Além disso, o ensino dessa língua
possui uma pequena quantidade de aulas semanais nas escolas do nosso país, e isso limita, em
parte, a atuação do professor. Isto posto, é preciso tomar medidas para proporcionar aos alunos
a oportunidade de aprofundar seus conhecimentos sobre a língua e cultura dos hispanofalantes,
e o teletandem se apresenta como uma possibilidade de ensino-aprendizagem permitindo
solucionar esse problema. Por meio dele, os interagentes de países diferentes podem conhecer
mais sobre a cultura e língua do outro. Deste modo, participaram desta pesquisa alunos do
Ensino Médio integrado à educação profissional do Instituto Federal de Educação da Paraíba,
Patos, Brasil e da Escuela de Educación Técnica Profesional Nº466, de Santa Fe, Rosario,
Argentina. Os dados do estudo foram gerados a partir das interações realizadas entre uma
participante brasileira e um participante argentino. A interação dos alunos em videoconferência
pôde contribuir para a divulgação de uma forma de intercâmbio que ainda não se popularizou
nas instituições brasileiras. Por meio da geração e análise dos dados deste estudo de caso foi
possível confirmar que existe a possibilidade de aprimorar a competência comunicativa
intercultural, através da mediação e da aprendizagem colaborativa por meio da prática do
teletandem, lançando mão das tecnologias digitais e da utilização, análise e produção de textos
multimodais. Todo esse trabalho possibilitou a criação do “Guia de Aprendizagem colaborativa
para professores e estudantes de línguas adicionais: Espanhol e Português”, contendo
orientações de como organizar experiências de ensino-aprendizagem por meio do teletandem.
Este material está disponível on-line para que outros docentes possam implantar a prática do
teletandem como atividade complementar das aulas de línguas adicionais.
Esta investigación tuvo como objetivo destacar las contribuciones derivadas de la utilización,
análisis y producción de textos multimodales en el desarrollo de las habilidades lingüísticas en
Portugués y en Español como lenguas adicionales en el contexto del Teletandem. Para ello, fue
realizado un estudio de caso a través de un abordaje cualitativo de cuño etnográfico. Este trabajo
se hizo necesario, pues se percibió que la enseñanza del Español, en varias escuelas brasileñas,
se basa en un estudio predominante de textos escritos para desarrollar la habilidad lectora del
alumno, sin dedicar atención a los textos multimodales. Además, la enseñanza de esta lengua
tiene una pequeña cantidad de clases semanales en las escuelas de nuestro país, hecho que limita
en parte la actuación del profesor. Por esto, hace falta tomar medidas para proporcionar a los
alumnos la oportunidad de profundizar sus conocimientos sobre la lengua y la cultura de los
hispanohablantes, el teletandem se presenta como una posibilidad de enseñanza-aprendizaje
permitiendo solucionar este problema. Por medio de esta práctica los participantes de la
interacción de países distintos pueden conocer más sobre la cultura y lengua del otro. De este
modo, participaron de esta investigación alumnos de la Enseñanza Media integrada a la
educación profesional del Instituto Federal de Educación de Paraíba, Patos, Brasil y de la
Escuela de Educación Técnica Profesional Nº466 de Santa Fe, Rosario, Argentina. Los datos
del estudio se generaron a partir de las interacciones realizadas entre una participante brasileña
y un participante argentino. La interacción de los alumnos en videoconferencia pudo contribuir
a la divulgación de una forma de intercambio que aún no se ha popularizado en las instituciones
brasileñas. Por medio de la generación y análisis de los datos de este estudio de caso fue posible
confirmar que existe la posibilidad de perfeccionar la competencia comunicativa intercultural
a través de la mediación y el aprendizaje colaborativo con la práctica del teletandem, por medio
de las tecnologías digitales y de la utilización, análisis y producción de textos multimodales.
Todo este trabajo ha permitido la creación del “Guía de aprendizaje colaborativo para
profesores y estudiantes de lenguas adicionales: Español y Portugués”, con directrices sobre
cómo organizar la enseñanza y experiencias de aprendizaje a través teletandem. Este material
está disponible en Internet para que otros docentes puedan implantar la práctica del teletandem
como actividad complementaria en clases de lenguas adicionales.
1.3.3 Especificidades do teletandem como uma das modalidades de aprendizagem em tandem ......... 33
1.6 A oferta de línguas adicionais próximas (Língua Espanhola e Língua Portuguesa) nas escolas
brasileiras e argentinas .......................................................................................................................... 56
3.5 Evolução dos participantes, em relação a habilidade linguística: fala, de acordo com o feedback do
parceiro de interação ........................................................................................................................... 131
Anexo A.1- Termos de assentimento usados na pesquisa (Português e Espanhol) ..................... 214
Anexo A.2- Termos de consentimento usados na pesquisa (Português e Espanhol) ................... 218
INTRODUÇÃO
1
Compreende- se que professor-pesquisador é “o docente que consegue associar o trabalho de pesquisa a
seu fazer pedagógico, tornando-se um professor pesquisador de sua própria prática ou das práticas
pedagógicas com as quais convive” (BORTONI-RICARDO, 2008, p. 32-33).
2
Entende-se por textos multimodais aqueles “textos que são compostos de muitas linguagens (ou modos,
ou semioses) e que exigem capacidades e práticas de compreensão e produção de cada uma delas
(multiletramentos) para fazer significar” (ROJO, 2012, p.19).
13
as aulas de línguas adicionais como é o caso do Inglês e do Espanhol, que possuem uma
pequena quantidade de aulas semanais nas escolas brasileiras, bem como a tecnologia
disponível que pode ser melhor aproveitada para facilitar experiências de comunicação
real, ao longo dos processos de ensino-aprendizagem.
Usando as Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação (TDIC) junto aos
estudantes com os quais trabalhamos, a saber, alunos do Ensino Médio integrado à
educação profissional 3do Instituto Federal de Educação da Paraíba, temos buscado meios
complementares de aprendizagem da Língua Espanhola para além da sala de aula.
Durante essa busca, conhecemos a prática do teletandem. Esse formato de ensino-
aprendizagem consiste em uma interação realizada em colaboração por falantes de
idiomas distintos em que um pretende aprender a língua do outro e ambos trabalham em
busca deste propósito comum, usando a internet como meio para se comunicar através de
videoconferências.
Entre os pontos a serem abordados sobre o teletandem, optamos por tomar como
objeto de pesquisa o processo de mediação e colaboração no uso e produção de textos
multimodais em línguas adicionais (Português e Espanhol). No decorrer do estudo,
buscamos responder ao questionamento de como trabalhar com textos multimodais para
a aquisição/aprendizagem4 de línguas adicionais, de forma colaborativa, em contextos,
nos quais, em vários casos, há a predominância do ensino focado no desenvolvimento da
leitura e produção apenas de textos escritos.
As hipóteses tomadas como ponto de partida foram a possibilidade de promover
a comunicação de forma autêntica, através do uso dos textos multimodais por meio da
prática do teletandem, aproveitando as tecnologias digitais disponíveis. Assim como
também a ideia de que as interações através de videoconferência é uma forma
complementar que pode auxiliar na aquisição/aprendizagem do Espanhol e do Português
como línguas adicionais e, por fim, a possibilidade de que essa prática pode ser
incorporada nas aulas de línguas adicionais no Ensino Médio como um meio para
estimular o engajamento do aluno através do protagonismo e da colaboração.
Assim, o estudo realizado teve por objetivo destacar as contribuições obtidas a
partir do uso, análise e produção dos textos multimodais no desenvolvimento de
3
De acordo com o Ministério da Educação, “em termos curriculares, essa modalidade reúne conteúdos do
Ensino Médio e da formação profissional que deverão ser trabalhados de forma integrada durante todo o
curso, assegurando o imprescindível diálogo entre teoria e prática” (BRASIL, 2006, p.4).
4
Alguns autores, a exemplo de Krashen (1985), fizeram distinção entre aquisição e aprendizagem, porém,
neste trabalho esses termos são usados como sinônimos.
14
5
O referido projeto será apresentado na seção que trata sobre o contexto e participantes da pesquisa, no
segundo capítulo desta dissertação.
6
Dentre as possibilidades de grafia para o nome do autor, optamos por utilizar, neste trabalho, aquela
adotada pela editora Martins Fontes nas traduções das obras de Vigostki no Brasil.
15
7
Neste trabalho, usaremos a nomenclatura gêneros textuais/discursivos, pois consideramos gênero textual
e gênero discursivo como sinônimos, mesmo sabendo que alguns estudiosos defendem a distinção entre os
dois termos. Nós compreendemos língua como prática social e como atividade social e, dessa forma,
consideramos que todo texto acontece como prática discursiva.
19
Durante bastante tempo, a LA foi estudada como sendo um sinônimo para o ensino
de línguas e como uma ponte entre a linguística e a prática de ensino de línguas. As
pesquisas desenvolvidas pelos linguistas aplicados traziam como temas, por exemplo, a
análise contrastiva, análise de erros e do desempenho comunicativo global.
A partir de 1980, a LA passou a estabelecer relações com outras ciências,
caracterizando-se a como interdisciplinar, porém permaneceu dedicada à busca por
soluções para os problemas de uso da linguagem. Sobre essa versão interdisciplinar,
Cavalcante (1986 apud ALMEIDA FILHO, 2005, p.14), a caracteriza como “o locus de
confluência das várias contribuições das ciências-fonte para a solução de um problema
de uso da linguagem”. Os linguistas aplicados passaram a contar com as contribuições
de outras ciências como psicologia, sociologia, pedagogia, etc., para tratar sobre os
problemas de linguagem que não podiam ser explicados apenas por meio dos
pressupostos da Linguística Geral.
Moita Lopes (2009, p. 16), afirma que “nenhuma área do conhecimento pode dar
conta da teorização necessária para compreender os processos envolvidos nas ações de
ensinar/aprender línguas em sala de aula devido a sua complexidade”, ele menciona
também que durante a fase interdisciplinar o caráter aplicacionista da LA teve uma
21
diminuição, porém, o mesmo autor deixa claro que, apesar dos esforços, a teorização
ainda predominou, principalmente nos estudos sobre a língua inglesa.
Foi no final de 1990, segundo Almeida Filho (2005), que a LA passou a ter objeto
de estudo e metodologia próprios, pois as percepções sobre a complexidade dos temas
relacionados à aquisição/aprendizagem de línguas situavam as questões de linguagem na
prática social e exigiam mais do que o apoio das ciências de contato ou ciências-fonte.
Conforme Moita Lopes (2009, p.17), essa mudança passou a ser bastante
perceptível no Brasil, pois os estudos da área começaram a “pesquisar contextos de ensino
e aprendizagem de língua materna, no campo dos letramentos, e de outras disciplinas do
currículo, e em outros contextos institucionais”. Com a incorporação de vários contextos
sociais aos estudos da LA, as teorias socioculturais ancoradas em Vigotski e Bakhtin
também começaram a integrar a base teórica dessas pesquisas.
A atuação do linguista aplicado não estava mais focada somente em buscar
soluções para problemas diretamente relacionados ao ensino de línguas, sua função social
abarcava processos amplos que influenciam na formação do indivíduo como cidadão.
Damianovic (2005) pontua que os avanços na LA possibilitaram tratar sobre assuntos
como políticas educacionais, avaliação, planejamento educacional, política, linguagem,
tecnologia etc.
8
Ao longo do nosso trabalho usamos o termo ferramentas baseados na perspectiva de Vigotski (2001, 2007,
2009), que as considera como sendo artefatos socialmente e culturalmente construídos que têm efeitos sobre
a mente do seu utilizador e o contexto que o envolve.
24
9
Tomamos por base a definição de insumo de Krashen (1985), para o autor eles são mostras da língua meta
com as quais o aluno tem contato no processo de aquisição/aprendizagem de línguas.
25
corporal, com áudios de músicas ou outros sons não verbais, além das imagens que podem
ser estáticas ou em movimento.
Uma característica da multimodalidade no espaço digital é que ela traz consigo a
noção de hipertexto, que são informações textuais, junto com imagens (fixas ou
animadas) e sons, organizados para promover uma leitura (ou navegação) não linear,
baseada em associações de ideias e conceitos, na forma de “links” (uma ligação entre
documentos na Internet), que atuam como portas virtuais que abrem caminhos para outras
informações.
Enfatizamos, neste trabalho, os textos multimodais que circulam no ambiente
digital e que são produzidos a partir da manipulação de programas específicos, mesmo
que, conforme já foi mencionado, eles possam ser publicados em veículos impressos e
mídias analógicas, além das mídias digitais.
Não é difícil constatar que, pelo menos uma parte dos alunos com os quais temos
contato nas salas de aulas de línguas adicionais são frequentadores de sites de redes
sociais digitais e se comunicam por meio de mensagens instantâneas, usando aplicativos
disponíveis em seus smartphones. Para atuar nas redes sociais e conseguir usar os
recursos digitais disponíveis, é necessário desenvolver habilidades de leitura, escrita,
audição e fala, porém, esse contexto comunicativo exige também que o usuário saiba
produzir textos multimodais. É válida a reflexão sobre o que fazer para ensinar e aprender
uma língua adicional em uma conjuntura na qual não basta conhecer o sistema da língua.
A esse respeito, Rojo (2012) avaliou que o ideal seria conceber uma prática de ensino que
utilize diversos meios para letrar o aluno, sejam eles: filmes, desenhos animados, textos
escritos, poemas, canções, imagens e outros.
É desejável, para alcançar uma aprendizagem satisfatória, que se aproveite o
conhecimento que o aprendiz possui, em favor de ampliar suas possibilidades de uso na
língua adicional, por meio de textos com os quais ele está familiarizado. Para Ribeiro
(2016), a tarefa de ensinar a ler e produzir textos multimodais é transdisciplinar, portanto,
todos os professores podem se ocupar dela, inclusive o professor de língua adicional.
Os meios pelos quais o aluno pode produzir textos multimodais estão disponíveis
e, em alguns casos, fazem parte do cotidiano de adolescentes e jovens. Nas palavras de
Ribeiro (2016, p.31), “as ferramentas de edição estão, faz algumas décadas, ao nosso
alcance”. Sendo assim, cabe ao professor encontrar os meios adequados para incorporar
tais instrumentos nas aulas para que os alunos aprendam a se comunicar em língua
adicional por meio dos textos que são usados no seu cotidiano.
26
10
Entendemos letramento “não apenas enquanto elemento de apropriação da leitura e da escrita, mas
enquanto elemento de poder que instaura quem o possui numa dimensão de transformação de si e do meio
ao qual pertence” (LINS; SOUZA, 2016, p. 33).
11
Neste trabalho, os teóricos que usamos como referência para tratarmos sobre multimidalidade são
brasileiros e é a partir deles que usamos o termo semiose, mesmo tendo ciência do significado a ele atribuído
pelos semioticistas peirceanos (norte-americanos).
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12
O termo cultura, pode ser considerado de diversas formas, de acordo com Salomão (2012, p.74), “Moran
(2001) descreve as diferentes visões de cultura que se estabelecem segundo distintas perspectivas de estudo
que as norteiam, a saber: cultura como civilização, como comunicação, como comunicação intercultural,
como interação entre grupos e comunidades, como construção dinâmica entre pessoas e como psicologia
evolucionária”. Neste trabalho tomamos por base a definição que o autor apresenta de cultura como
comunicação intercultural, sendo ela “um processo ou habilidade interacional, o que envolveria a
capacidade e habilidade de entrar em diferentes culturas e comunicar-se eficazmente e adequadamente,
estabelecer e manter relacionamentos e levar a cabo tarefas com pessoas de outras culturas” (MORAN,
apud SALOMÃO, 2012, p. 76).
13
De acordo com Rojo e Barbosa (2015), a web 2.0 é uma versão mais interativa da internet em que os
usuários são os protagonistas na produção de conteúdo, principalmente nas postagens e publicações em
redes sociais, na Wikipédia e nas redes de mídia, contando com a possibilidade de marcações e etiquetagem
dos conteúdos.
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com a escrita, vivemos, sem dúvida, numa sociedade cada vez mais
visual.
Considerando que boa parte das atividades humanas são desenvolvidas usando a
web, através de uma comunicação rápida proporcionada pelo envio de e-mails, trocas de
mensagens em aplicativos como o WhatsApp e interações em redes sociais, dentre as
quais podemos destacar o Twitter e o Facebook. Os gêneros textuais/discursivos na
contemporaneidade passam por mudanças que são possibilitadas por programas
específicos do ambiente virtual.
Para Araújo (2016), é o ambiente tecnológico que permite a manipulação de vários
padrões de gêneros textuais/discursivos distintos para a criação de um gênero novo, de
acordo com o referido autor, essas reelaborações acontecem conforme a necessidade
comunicativa gerada na internet.
Araújo (2016) também destaca que o fenômeno da reelaboração tem sido estudado
pelo grupo Hiperged14, como fruto dessas pesquisas ele destaca os trabalhos de Lima-
Neto (2009), Costa (2010) e Costa (2012). Além destes, o autor menciona Zavam (2009)
como propositora das subcategorias, transmutação criadora e transmutação inovadora,
tomando por base a ideia de transmutação de Bakhtin (1997), desde então essas
subcategorias têm sido usadas pelo mesmo grupo de estudiosos para pesquisas sobre os
gêneros textuais/discursivos ambientados na web, porém com a substituição do termo
transmutação por reelaboração, em acordo com o que propôs Costa (2010), conforme é
possível verificar na figura 2:
14
“O Hiperged é um grupo de pesquisa que congrega pesquisadores e estudantes de várias universidades e
institutos brasileiros. O grupo, vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Linguística (PPGL),
do Departamento de Letras Vernáculas, da Universidade Federal do Ceará (UFC) e coordenado
pelo Professor Dr. Júlio Araújo, surgiu em 2006.2, como uma célula do Protexto, outro grupo de pesquisa,
também vinculado ao PPGL da UFC”. Disponível em: http://www.hiperged.ufc.br/. Acesso em: 20 de junho
de 2017.
29
caracterizada como sendo remixes de natureza híbrida mais acentuadas que combinam
elementos de várias matrizes, através das colagens.
Levando em conta as características do ambiente virtual como sendo propício para
desenvolver habilidades que nossos alunos irão utilizar, ou já utilizam no convívio social,
nossa proposta foi fazer uso dos ambientes digitais e dos textos multimodais, que
carregam a criatividade como principal característica, sendo produzidos a partir dos
recursos gerados pela própria internet para fomentar a prática colaborativa de ensino-
aprendizagem de línguas adicionais (Português- Espanhol).
Meneghini (2013, p. 28) destaca que as TDIC “aumentam a possibilidade de se
comunicar com professores e alunos de diferentes lugares, trazendo o uso da língua-alvo
como uma realidade na aprendizagem de línguas”. Apresentamos neste trabalho o
teletandem como um contexto digital viável para aprender e ensinar línguas adicionais,
por isso ao longo do próximo tópico expomos algumas especificidades desta forma de
interação, bem como apresentamos o estado da arte das pesquisas realizadas sobre o tema.
De acordo com Rammé (2014), tandem é uma palavra de origem latina usada na
língua inglesa para designar as bicicletas de dois lugares que funcionam através do
esforço de um par de ciclistas. Na metade do século XX, o sentido da palavra foi ampliado
para nomear trabalhos feitos em colaboração e que envolviam duas ou mais pessoas com
31
objetivos em comum. No fim da década de 1960, foi concebida como forma de ensinar e
aprender línguas adicionais e passou a ser usada em vários países da Europa.
Segundo Telles (2009, p.17), o tandem é “conhecido como complemento da
aprendizagem levada a cabo na sala de aula em muitos países do mundo”. Ao tomar por
base a ideia de língua como um produto derivado da interação, essa modalidade de ensinar
e aprender promove a inserção em um contexto real de comunicação.
Conforme Rammé (2014), a prática de tandem segue a linha sociointeracionista,
pois leva em consideração o desenvolvimento sociocultural ao possibilitar um processo
de contato com línguas adicionais socialmente mediado, através das parcerias
estabelecidas com usuários mais competentes da língua que se deseja aprender. Algumas
teorias que seguem essa linha servem de base para o referido contexto de interação, as
obras de Vigotski e Bakhtin são tomadas como referência, pois trazem contribuições
sobre a constituição do sujeito como ser social que adquire conhecimento a partir de um
processo de co-constução de sentidos. De acordo com Benedetti (2010), o tandem
consiste no compartilhamento de conhecimentos entre indivíduos pertencentes a culturas
distintas, porém que têm em comum o propósito de aprender línguas de forma
colaborativa.
Os alunos de línguas adicionais envolvidos nesse tipo de interação têm a
responsabilidade de aprender uma língua adicional com um parceiro mais competente, ao
mesmo tempo em que ensina sua língua materna para a pessoa com quem ele está
interagindo. Nessa forma mútua, solidária e sem interferência de um professor, é possível
que os estudantes desenvolvam maior independência e comprometimento com a própria
aprendizagem.
A partir de uma relação de parceria e maior contato com o outro, desempenhando
a função de ajudá-lo a se comunicar em uma língua adicional, o interagente pode passar
a refletir de forma mais consciente sobre sua própria forma de estudar uma língua
adicional e as estratégias que servirão para auxiliar o seu par ao longo do processo. O
comprometimento e o gerenciamento das atividades, bem como a solidariedade em
relação ao parceiro de interação são algumas das atitudes a serem desenvolvidas com a
prática do teletandem. O fato de ter a possibilidade de adequar o horário de interação às
demais atividades do cotidiano e ter oportunidade de tirar dúvidas, sempre que necessário,
com um parceiro mais competente, são algumas vantagens desse tipo de intercâmbio
linguístico e cultural.
32
De acordo com Rammé (2014), o tandem pode ser praticado em três modalidades.
A modalidade face a face é realizada de forma presencial e consiste em reunir os parceiros
no mesmo espaço físico, que pode ser disponibilizado pela instituição promotora das
interações. Os encontros também podem ocorrer em outros locais como bibliotecas,
lanchonetes ou na casa dos participantes.
Outra forma de interagir, é praticando o tandem à distância ou e-tandem, usando
e-mail, mensagens de voz, chats, nessa forma de interação, os participantes não dividem
o mesmo espaço físico e realizam uma comunicação por mensagem de voz e/ou escrita
com o auxílio de dispositivos como computadores, tablets e smartphones.
O teletandem é uma modalidade de tandem vinculada às tecnologias digitais e que
apresenta mais possibilidades de desenvolvimento, pois oferece interação através da
escrita, do áudio e vídeo, em tempo real por meio de programas gratuitos disponíveis na
internet como o Skype e o Hangouts.
Para a prática do teletandem são usados programas para realização de
videoconferências. A aproximação entre os interagentes acontece de forma autêntica e
com possibilidade de compartilhar informações e arquivos disponíveis na internet ou
armazenados em computadores e outros dispositivos móveis.
O tandem pode ser realizado de forma livre, institucionalizada, integrada ou não
às aulas ministradas nas instituições de ensino. No primeiro caso, são os estudantes que
decidem estudar o idioma por conta própria, não é necessário possuir conhecimento
técnico sobre línguas ou métodos específicos para interagir através dessa modalidade de
ensino-aprendizagem. Geralmente, não existe a interferência de mediadores e todas as
atividades a serem realizadas são combinadas entre o par de participantes, bem como as
correções e o esclarecimento de dúvidas são realizados de acordo com o que os próprios
os interagentes determinam. Para esse tipo de atividade pressupõe-se um nível
considerável de compromisso e um senso de disciplina maior para conduzir a própria
rotina de estudos.
No segundo caso, que consiste no tandem integrado, os participantes ou seus
mediadores são profissionais da área de Letras, ou têm experiência docente, por isso,
geralmente possuem conhecimento técnico, teórico e didático para aprender e ensinar
uma língua adicional. Para Rammé (2014, p. 09), “todas as modalidades de tandem podem
33
ser integradas à prática de sala de aula”, desde que sejam oferecidas as condições
materiais como fones, webcans e microfones.
Na maior parte dos casos, a interação é feita por duplas, porém pode ser realizada
em trios ou grupos mais numerosos, conforme Kaneoya (2015, p. 261) “cada interagente
é visto como tutor de sua língua materna e aprendiz de outra língua, e cada parceria
assume uma caracterização própria, dependendo daquilo que os interagentes mostram
estar dispostos e interessados em aprender”.
Além dos interagentes, o mediador também possui uma função importante no
teletandem institucionalizado, esse papel pode ser desempenhado por um professor da
língua que o aluno deseja aprender ou alguém com conhecimento sobre essa língua-alvo.
Conforme Souza (2009, p.70), “nesta concepção, o professor seria um interculturalista
articulador de muitas vozes ao propiciar ao aluno a reflexão, o conhecimento dos outros
e, consequentemente, de si mesmo, auxiliando na compreensão dos lugares que essas
múltiplas vozes ocupam”. Ao cumprir sua função, o mediador pode propor atividades
colaborativas e posicionar-se criticamente entre o conteúdo, a tecnologia e os aprendizes.
As atividades institucionalizadas, em alguns casos, são monitoradas pelo
mediador que também pode auxiliar no agendamento dos encontros virtuais, incentivar a
realização das interações e propor atividades que podem direcionar a aprendizagem ao
abordar conhecimentos linguísticos e culturais, além de ajudar a solucionar dúvidas sobre
o uso das plataformas digitais nas quais são propostas as atividades.
São amplas as possibilidades de realização de ensino-aprendizagem em tandem,
conforme mostrado até aqui. Entre as modalidades disponíveis, a nossa pesquisa aborda
uma experiência realizada no contexto de um projeto de teletandem institucionalizado.
Essa modalidade tem sido objeto de estudo em alguns trabalhos na área da LA no Brasil,
como é possível verificar nas considerações feitas a seguir.
15
O projeto teve início em 2006 e ganhou visibilidade internacional, pois apresentou evidências de
potencial educacional, colaborativo, educacional e linguístico, ao promover contato intercultural on-line e
comunicação por videoconferência entre estudantes de línguas adicionais. Disponível em:
http://www.teletandembrasil.org/brief-history.html. Acesso em: 12 de abril de 2017.
35
02 Sudeste Teletandem e mal-entendidos na comunicação intercultural Souza (2016) Doutorado- UNESP, São José do
on-line em língua estrangeira. Rio Preto.
03 Sudeste Aspectos linguísticos emergentes em sessões de Franco (2016) Mestrado- UNESP, São José do Rio
teletandem: uma análise a partir da conscientização da Preto.
linguagem.
04 Sudeste Cultura e(m) telecolaboração: uma análise de parcerias de Zakir, (2015) Doutorado- UNESP, São José do
teletandem institucional. Rio Preto.
05 Sudeste Performatividade e gênero nas interações em teletandem. Costa (2015) Doutorado- UNESP, São José do
Rio Preto.
06 Sudeste Pertencer e deslocar virtualmente: teletandem como espaço Freitas (2015) Mestrado- UNESP, São José do Rio
antropofágico. Preto.
Sudeste Avaliação de produções escritas em Português para falantes Brocco (2014) Doutorado- UNESP, São José do
07 de outras línguas em contexto teletandem: contribuições Rio Preto.
para a formação inicial de professores.
37
10 Sudeste A articulação língua-cultura na coconstrução da Rodrigues (2013) Doutorado- UNESP, São José do
competência intercultural em uma parceria de teletandem Rio Preto.
(Português/ Espanhol).
11 Sudeste As percepções de professores de Espanhol sobre seu Meneghini (2013) Doutorado- UNESP, São José do
processo de formação contínua em contexto de uso de Rio Preto.
tecnologias.
12 Sudeste Variáveis influenciadoras da continuidade ou Luz (2012) Doutorado- UNESP, São José do
descontinuidade de parcerias de teletandem à luz da teoria Rio Preto.
da atividade.
14 Sudeste Os primeiros contatos de professores de línguas Souza (2012) Mestrado- UNESP, São José do Rio
estrangeiras com a prática de teletandem. Preto.
15 Sudeste O projeto teletandem Brasil: as relações entre as Silva (2012) Mestrado- UNESP, São José do Rio
comunidades virtuais, as comunidades discursivas e as Preto.
comunidades de prática.
16 Sudeste A formação de parcerias de teletandem: da organização ao Araújo (2012) Mestrado- UNESP, São José do Rio
sistema de atividades. Preto.
38
19 Sudeste Aprendizagem de alemão e Português via teletandem: um Luvizari-Murad Doutorado- UNESP, São José do
estudo com base na teoria da atividade. (2011) Rio Preto.
20 Sudeste Desempenho oral em Português para falantes de outras Furtoso (2011) Doutorado- UNESP, São José do
línguas: da avaliação à aprendizagem de línguas Rio Preto.
estrangeiras em contexto on-line.
21 Sudeste Teletandem e formação contínua de professores vinculados Funo (2011) Mestrado- UNESP, São José do Rio
à rede pública de ensino do interior paulista: um estudo de Preto.
caso.
22 Sudeste A motivação na aprendizagem de língua estrangeira via Kami (2011) Mestrado- UNESP, São José do Rio
teletandem. Preto.
23 Sudeste Teletandem: acordos e negociações entre os pares. Garcia (2010) Doutorado- UNESP, São José do
Rio Preto.
24 Sudeste Relações de poder em parcerias de teletandem. Toren (2010) Doutorado- UNESP, São José do
Rio Preto.
25 Sudeste Teletandem: sessões de orientação e suas perspectivas para Candido (2010) Mestrado- UNESP, São José do Rio
o curso de letras. Preto.
39
27 Sudeste A autonomia no processo de ensino e aprendizagem de Luz (2009) Mestrado- UNESP, São José do Rio
línguas em ambiente virtual (teletandem). Preto.
28 Sudeste Crenças sobre a língua inglesa: o antiamericanismo e sua Mendes (2009) Mestrado- UNESP, São José do Rio
relação com o processo de ensino - aprendizagem de Preto.
professores em formação.
29 Sudeste A gramática em contexto teletandem e em livros didáticos Brocco (2009) Mestrado- UNESP, São José do Rio
de Português como língua estrangeira. Preto.
30 Sudeste A auto-avaliação em um contexto de ensino-aprendizagem Cavalari (2009) Doutorado- UNESP, São José do
de línguas em tandem via chat. Rio Preto.
31 Sudeste A formação inicial de professoras de línguas para/em Kaneoya (2008) Doutorado- UNESP, São José do
contexto mediado pelo computador (teletandem): um Rio Preto.
diálogo entre crenças, discurso e reflexão profissional.
32 Sudeste A (re)construção das crenças do par interagente e dos Bedran (2008) Mestrado- UNESP, São José do Rio
professores mediadores no teletandem. Preto.
16
Nesta dissertação tomamos por base a definição de Barcelos (2006), sobre crenças. Segundo a autora, “as crenças são uma forma de pensamento, como construções da
realidade, maneiras de ver e perceber o mundo e seus fenômenos, coconstruídas em nossas experiências e resultantes de um processo de interpretação e (re)significação. Como
tal, crenças são sociais (mas também individuais), dinâmicas, contextuais e paradoxais” (BARCELOS, 2006, p.18).
40
34 Sudeste O desenvolvimento intra-interlingüístico intandem a Silva (2008) Mestrado- UNESP, São José do Rio
distância (Português e Espanhol). Preto.
35 Sudeste Características da interação no contexto de aprendizagem Santos (2008) Mestrado- UNESP, São José do Rio
in-tandem. Preto.
36 Sudeste Crenças e práticas de avaliação no processo interativo e na Mesquita (2008) Mestrado- UNESP, São José do Rio
mediação de um par no tandem a distância: um estudo de Preto.
caso.
37 Sudeste Investigando o processo de ensino-aprendizagem de LE in Fernandes (2008) Mestrado- UNESP, São José do Rio
tandem: aprendizagem de língua francesa em contextos Preto.
digitais.
A pesquisa realizada por Salomão (2012) teve como contexto um curso de extensão para
formação continuada de professores de E-LA da rede pública de uma cidade no interior do
estado de São Paulo. A autora destaca que a interação virtual oferecida pelo projeto
“Teletandem Brasil: línguas estrangeiras para todos” gerou experiências para reformular as
concepções e crenças dos participantes, por meio da interação entre conceitos cotidianos e
científicos.
O trabalho de Rodrigues (2013) apresenta uma investigação sobre os componentes
linguísticos e culturais usados pelo par de interagentes, formado por um brasileiro e uma
uruguaia, para promover a coconstrução da competência intercultural, usando a comunicação
sincrônica possibilitada por programas da internet.
Meneghini (2013) apresenta um estudo da interação entre professores brasileiros de
Língua Espanhola e uruguaios e argentinos professores de Língua Portuguesa, ao longo de um
curso de formação continuada de professores. A autora mostra que os benefícios linguísticos
alcançados pela interação em teletandem para os pesquisados relacionavam-se muito à
ampliação de vocabulário e o desenvolvimento crítico-reflexivo dos professores.
Depois de refletir a respeito de algumas questões relacionadas a como pode ser realizado
o teletandem e verificar o panorama dos trabalhos produzidos sobre esse tema, apresentamos,
no próximo item, algumas considerações sobre o ensino-aprendizagem das línguas adicionais
próximas, enfatizando o par linguístico Espanhol-Português.
ambas derivadas do latim, e isso faz com que algumas questões sejam levantadas a respeito do
processo de ensino-aprendizagem dessas línguas próximas.
Segundo afirmação de Carvalho (2013, p. 329), “sendo o Português e o Espanhol,
oriundos do mesmo tronco linguístico, apresentam uma miríade de fatores em comum”. Não
pretendemos realizar uma análise contrastiva, considerando semelhanças e diferenças entre as
línguas em questão, pois não é esse o nosso foco. As considerações apresentadas nesta parte do
trabalho visam mostrar a necessidade de interação real na língua adicional a ser
adquirida/aprendida, com mediações adequadas para que os interagentes avancem na
aquisição/aprendizagem na língua-alvo.
As semelhanças entre Língua Espanhola e Língua Portuguesa podem ser consideradas
um fator facilitador da aquisição/aprendizagem. De acordo com Carvalho (2013, p. 349), “a
proximidade entre os dois idiomas permite que nos aproveitemos de seus benefícios, sem tirar
a atenção daqueles pontos específicos que costumam ser mais problemáticos”. Em outras
palavras, é possível, a professores e alunos, se valerem das semelhanças estruturais, históricas
e culturais que existem entre as duas línguas para adquirir/aprender a língua próxima, mas sem
esquecer que também existem diferenças que precisam ser trabalhadas para não causar
conformismo com o uso de uma interlíngua, como é o caso do “portunhol” usado
principalmente em regiões de fronteira entre o Brasil e os países hispano-falantes. Segundo
Carvalho (2013, p. 349),
o ensino de línguas próximas tem suas peculiaridades, principalmente o caso
do Português e do Espanhol. É possível encontrar no Brasil inúmeros falantes
de Espanhol que mantêm suas relações cotidianas utilizando apenas a Língua
Espanhola para a comunicação, ou uma interlíngua pouco desenvolvida.
17
Segundo Celada (2002), espaguês é outro termo usado ao invés do portunhol para referir-se à língua falada por
hispano-falantes que moram ou visitam o Brasil.
44
Espanhol e Português são as línguas oficiais do Mercosul, esse entre outros fatores,
como a identificação entre as culturas e questões históricas comuns entre os países que têm
essas línguas como idiomas oficiais deram origem ao aumento do número de brasileiros
aprendizes de Espanhol e hispano- falantes que se interessam em estudar Português. Conforme
Carvalho (2013, p.348),
O ensino de Português para falantes de Espanhol tem ganhado bastante espaço
nos últimos anos na área de Linguística Aplicada no Brasil. Por outro lado,
alguns países têm implementado o ensino da Língua Portuguesa em suas
escolas, e, em contrapartida, o Brasil adotou o ensino de Espanhol nas escolas
públicas de ensino regular.
língua adicional, ainda que ela apresente semelhanças com a língua materna, como é o caso da
Língua Espanhola e da Língua Portuguesa.
O desafio de buscar alternativas para promover o contato com a língua-alvo continua
existindo, mesmo entre línguas próximas. Ao apresentar o teletandem como uma forma de
ensino-aprendizagem de línguas adicionais pretendemos mostrar que ele pode ser uma das
várias formas de auxiliar no avanço dos interagentes que pretendem aprender uma língua
próxima a sua língua materna e ensinar sua língua para o outro.
Feitas estas considerações, o ponto seguinte consiste em trazer informações sobre o
papel da mediação estratégica nas interações, destacando alguns conceitos da teoria de Vigotski
e mostrando como eles podem se relacionar com a prática do teletandem.
Conforme Johnson (2009), as atividades inicialmente mediadas por outras pessoas ou por
artefatos culturais, em um momento posterior, serão concretizadas pelo indivíduo por meio do
seu próprio controle, através de recursos reconstruídos por ele ao longo da mediação.
A proposta do teletandem é transformar o que poderia ser uma conversa
descomprometida entre pessoas que falam línguas diferentes, em uma forma de tornar possível
o ensino-aprendizagem de línguas adicionais por meio de videoconferências. Para isso, o
mediador organiza espaços de interação e facilita o contato entre os interagentes.
Já o parceiro de interação, na condição de usuário mais competente da língua-alvo,
pode tirar dúvidas do outro e proporcionar o feedback necessário para que exista consciência a
respeito daquilo que o aprendiz precisa aperfeiçoar.
O uso das TDIC, através dos computadores, tablets e smartphones, ao longo das
interações, permite um contato que se aproxima bastante de uma conversa presencial, pois é
possível ver e ouvir a pessoa em tempo real, assim como o diálogo que acontece de forma
simultânea e livre do controle exercido nos diálogos pré-definidos realizados em várias salas
de aulas de línguas adicionais.
Complementando o processo, tarefas são propostas e cumpridas, usando a língua-alvo
para que o estudante verifique o que consegue realizar sozinho e no que ele precisa contar com
o usuário mais competente da língua. Nesse mesmo sentido, são propostas fichas para que eles
acompanhem seu processo de aquisição/aprendizagem e o do seu companheiro, a partir disso,
ele pode elaborar formas de ensinar e aprender as línguas em estudo.
O contato das pessoas com as várias línguas adicionais pode acontecer no cotidiano.
Compreendemos que, através de um contato no qual aconteçam processos de mediação, como
os já mencionados nesse trabalho, entre o indivíduo e a língua adicional, com objetivos
definidos, podem ser realizados mais avanços em relação à aquisição/aprendizagem dessas
línguas.
As interações em teletandem podem tornar possível o desenvolvimento da comunicação
em língua adicional, pelo fato de aproximar o conteúdo formal às práticas realizadas de forma
contextualizada, ao permitir que o aprendiz interaja em um contexto real de comunicação,
usando a língua-alvo.
49
Para explicar o teletandem como espaço fértil no qual se pode adquirir/ aprender a língua
do outro, recorremos ao conceito de Zona de Dezenvolvimento Proximal (ZDP) que também
foi elaborado por Vigotski, de acordo com o autor,
Ela é a distância entre o nível de desenvolvimento real, que se costuma
determinar através da solução independente de problemas, e o nível de
desenvolvimento potencial, determinado através da solução de problemas sob
a orientação de um adulto ou em colaboração com companheiros mais capazes
(VIGOTSKI, 2007, p. 97-98).
Compreendemos que é importante que o ensino de uma língua adicional sirva para
tornar o educando apto para se comunicar. Neste sentindo, conforme aponta Iragui (2005), ser
comunicativamente ativo significa conhecer a língua e atuar usando-a em situações concretas.
Ao longo do nosso trabalho, considerarmos a língua como ferramenta social para
interação, por isso é importante que o aluno desenvolva habilidades necessárias para ampliar a
comunicação na língua adicional que ele pretende aprender. Entre tais habilidades destacamos
a competência comunicativa intercultural, pois conforme Souza (2014, p. 182), “Pensar o
ensino de línguas em nossa contemporaneidade implica conceber o aluno como um potencial
falante intercultural”. Diante desta necessidade, acreditamos que se faz necessário
apresentamos, a partir de agora, algumas reflexões sobre competência comunicativa e
competência comunicativa intercultural como aptidões necessárias para o ensino-aprendizagem
de línguas adicionais.
51
(SOUZA, 2014, p. 183). Por isso, compreendemos que conhecer a cultura do outro, faz parte
do intercâmbio linguístico e cultural, e desenvolver uma postura respeitosa diante disso, precisa
ser uma atitude incentivada nas interações.
Compartilhamos da visão de Souza (2014, p.108), o autor destaca que “a busca pela
formação de um aprendiz que além da competência comunicativa, tenha insumos que instiguem
seu potencial para alcançar o perfil intercultural”, por isso enfatizamos que a
interculturalidade18 é fundamental no desenvolvimento do diálogo entre falantes de idiomas
diferentes.
Na condição de participantes do complexo processo de ensino-aprendizagem de línguas
adicionais, entendemos que o respeito ao outro, bem como aos seus costumes e a todo o
universo cultural do qual ele faz parte, é algo que também precisa ser trabalhado.
Salomão (2012) discute sobre a cultura e o ensino de língua estrangeira no âmbito do
teletandem. A autora destaca a competência intercultural é necessária no processo formativo,
pois ela é “a capacidade de perceber, usando-se de todos os mecanismos disponíveis,
diversidade do outro, e sendo capaz de dominar seus sentimentos pessoais, de neutralizar suas
crenças e de pensar de forma a poder se colocar no lugar do outro” (SALOMÃO, 2012, p. 108).
Em seu estudo sobre a articulação língua-cultura na construção da competência
intercultural no contexto teletandem com o par linguístico Espanhol-Português, Rodrigues
(2013, p.61), firma que, “ao interagir com outras pessoas, a linguagem é a principal ferramenta
do indivíduo e é por meio dela que a cultura de cada aprendiz é evidenciada e relacionada com
as demais”, acreditamos que a partir desse diálogo, evidenciado pela autora, é possível
estabelecer relações de respeito entre os indivíduos que visam o bom desenvolvimento de um
trabalho colaborativo em que um deseja aprender a língua do outro.
Ante as considerações apresentadas, compreendemos que além da competência
comunicativa, é preciso que o aprendiz desenvolva competência comunicativa intercultural.
Essa competência é apresentada por Byram (1997) e ilustrada na figura 5:
18
Utilizamos esse termo com base em Walsh (2009) que define interculturalidade “como um processo e projeto
que se constrói a partir das gentes. Aponta e requer a transformação das estruturas, instituições e relações sociais,
e a construção de condições de estar, ser, pensar, conhecer, aprender, sentir e viver distintas” (WALSH, 2009,
p.3).
53
realizada com os alunos dentro e fora da sala de aula; e iv) a avaliação do rendimento dos alunos
e autoavaliação.
Cada uma das dimensões ou fases citadas anteriormente estão relacionadas umas às
outras, de modo que alterações operadas em uma delas poderão acarretar mudanças nas demais.
Segundo Almeida Filho (1993, p.17), “o fenômeno de produzir alterações se apresenta como
reações em cadeia nas fases à frente (proativas) ou para trás (retroativas)”. Atentar para as
mudanças que ocorrem em todas essas dimensões é perceber o caráter dinâmico e complexo
dos atos de ensinar e aprender.
O aluno, como parte importante do processo, comporta o filtro afetivo, sua própria
maneira de aprender, suas necessidades, interesses, fantasias, projeções, etc. O modelo proposto
por Almeida Filho (1993, p.20), “visa melhor compreender a constituição e o funcionamento
da grande e complexa operação de ensino-aprendizagem de uma LE, prestando-se com isso à
análise de processos de ensinar e aprender outras línguas”. Dentro deste complexo processo de
ensino-aprendizagem de línguas adicionais, podemos classificar o teletandem como um
procedimento para experienciar a L-alvo (técnicas e recursos), conforme destacado na figura
seguinte:
1.6 A oferta de línguas adicionais próximas (Língua Espanhola e Língua Portuguesa) nas
escolas brasileiras e argentinas
De acordo com Ponte (2016), a partir da década de 1990, a Língua Espanhola no Brasil
se expandiu como disciplina na grade curricular das escolas particulares e nos cursos de idioma,
esse fato aumentou a demanda por profissionais da área e, consequentemente, fez crescer o
número dos cursos de licenciatura em Letras com habilitação em Espanhol. Além disso, mais
materiais didáticos passaram a ser produzidos, tanto para os cursos livres quanto para a
Educação Básica.
Ainda, segundo a autora, “nesse momento já se alardeava a importância do Espanhol
como segunda língua internacional, com muitos milhões de falantes, etc., etc., etc” (PONTE,
2016, p.15). No território brasileiro, esse momento de efervescência no ensino-aprendizagem
dessa língua fez com que, em 2005, fosse publicada a Lei n.º 11.161 que tornava obrigatória a
oferta da Língua Espanhola no Ensino Médio das escolas do Brasil.
Entre os motivos para a existência de uma lei que regulamentasse o oferecimento da
Língua Espanhola nas escolas do Brasil podemos destacar duas questões contraditórias, a
integração regional e a necessidade de estabelecer acordos com a Espanha. A integração da
América Latina, principalmente entre os países que compõem o MERCOSUL, é citada em
vários documentos, como é o caso das Orientações Curriculares para o Ensino Médio (OCEM)
para argumentar sobre a necessidade de implantação do Espanhol no currículo.
Segundo os documentos oficiais “a presença do Espanhol responde ao caráter formador
do currículo do Ensino Médio [...] e fundamentalmente, à formação do indivíduo, do cidadão.
57
Responde a questões identitárias mais do que mercantis” (PONTE, 2016, p.17). Essas questões
de identidade estão relacionadas à integração da América Latina, comentada e defendida por
vários autores. De acordo com Souza (2014), essa integração consiste em uma consciência que
seja capaz de ir além de uma fronteira em comum e ultrapasse as alianças comerciais,
promovendo uma construção cultural, histórica e política que gere interculturalidade e
alteridade entre os povos latino-americanos.
Para que exista uma consciência em relação a integração, “o povo latino-americano terá
que ampliar suas identidades nacionais rumo a uma identidade que implica a consciência de um
destino comum” (ARNOUX, 2010 apud SOUZA, 2014, p. 116). Mesmo diante da necessidade
de integração com os países vizinhos e mantendo alianças comerciais e culturais com eles, o
interesse da Espanha pela implantação do Espanhol no Brasil, na época de publicação da Lei,
deu origem ao questionamento destacado por Ponte (2016), se o objetivo do documento seria
integrar os países latino-americanos ou estabelecer negócios com a Espanha. Para a autora,
Não é de hoje que a presença da Espanha no ensino de Espanhol no Brasil é
significativa. A influência, junto à grande maioria das Associações de
Professores de Espanhol por meio da Consejería de Educación, os cursos de
capacitação oferecidos pela própria Consejería e também por outras
instituições Espanholas às Secretarias de Educação e sua atuação inclusive
dentro de algumas universidades não são novidade (PONTE, 2016, p.19).
Na ausência de uma definição sobre qual o propósito da Lei, o Brasil foi considerado
um campo fértil para a política de expansão do Espanhol promovida pela Espanha. De acordo
com Ponte (2016), o propósito dessa ampliação não estava relacionado ao caráter formador,
integrador ou reflexivo de uma disciplina para integrar o currículo do Ensino Médio, muito
menos se relacionava à diversidade da Língua Espanhola.
Perante motivações e objetivos incompatíveis e confusos, é possível afirmar que,
“convivemos com um suposto discurso de integração latino-americana, que há muito tempo
permeia nossos textos oficiais, ao lado de claras evidências de imperialismo e colonização
linguística que convertem essas leis em letras mortas” (SOUZA, 2014, p. 114).
Assim como o Brasil fez com a Língua Espanhola, alguns países hispânicos
manifestaram, através de algumas atitudes políticas, o desejo de que a fosse implantado o
componente curricular Língua Portuguesa nas suas escolas, conforme mostra a figura seguinte:
58
É possível notar que a Língua Portuguesa está presente principalmente nas escolas das
fronteiras, além disso, alguns países firmaram acordos e sancionaram leis de oferta dessa língua
nas escolas. Destacamos o caso da Argentina que, em 17 de dezembro de 2008, sancionou a
Lei n.º 26. 468 e a promulgou em 12 de janeiro de 2009.
Além dessa Lei, outros documentos oficiais também se dedicam a essa questão, além de
obras publicadas pelo Programa de Apoio ao Setor Educativo do Mercosul (PASEM) que “se
constituiu em torno do desafio de contribuir para o processo de integração regional e a qualidade
da educação através do fortalecimento da formação docente no marco do Plano Estratégico do
Setor Educativo do MERCOSUL”19 (BRITOS E VARELA, 2015, p.11). Através da cooperação
de vários estudiosos da área, os trabalhos desenvolvidos por esse programa cumprem a função
19
Tradução nossa para: “se constituyó alrededor del desafío de contribuir al proceso de integración regional y la
calidad educativa a través del fortalecimiento de la formación docente en el marco del Plan Estratégico del Sector
Educativo del MERCOSUR” (BRITOS E VARELA, 2015, p.11).
59
de informar e refletir sobre os rumos que o Espanhol e o Português têm tomado na condição de
línguas oficiais do Mercado Comum do Sul.
Razões políticas, econômicas e culturais parecem ter guiado propostas de implantação
de ensino de Língua Espanhola e Língua Portuguesa adicionais em busca de uma prática que
possibilitasse o intercâmbio linguístico e cultural entre o Brasil e os países com os quais temos
laços históricos significativos ao mesmo tempo em que deveriam ser componentes curriculares
que contribuíssem para a formação geral do educando.
As leis que tornaram obrigatória a oferta de Língua Espanhola e Língua Portuguesa
podem ser considerados gestos de política linguística dos países que compõem o Mercado
Comum do Sul (MERCOSUL). Nesse trabalho compreendemos política linguística como sendo
“escolhas e determinações no que se refere às relações entre língua(s) e sociedade(s)” (PONTE,
2016, p.16). No ponto seguinte, teceremos alguns comentários sobre pontos importantes dos
documentos oficiais que tratam dessas línguas adicionais na grade curricular das escolas
brasileiras e argentinas. Faremos também algumas considerações sobre o cenário atual de
implantação desses componentes curriculares nas escolas.
OCEM destacam que: “é fato, portanto, que sobre tal decisão pesa um certo desejo brasileiro
de estabelecer uma nova relação com os países de Língua Espanhola, em especial com aqueles
que firmaram o Tratado do Mercosul” (BRASIL, 2006, p. 128).
Após a publicação da Lei e de vários documentos sobre ensino-aprendizagem de
Língua Espanhola contendo orientações para que ela passasse a integrar o currículo, o prazo
dado para sua implantação era de cinco anos, ou seja, em 2010 todas as escolas deveriam contar
com a oferta desse componente curricular, algo que não se consolidou. É possível verificar,
através dos dados apresentados por Britos e Varela (2015) que, em 2015, apenas uma parte das
escolas no Brasil ofereciam a Língua Espanhola, isso mostra que o prazo para implantação do
componente curricular nas escolas não foi cumprido.
Tanto é assim que, em 2015, um livro foi publicado com o título Dez anos da “Lei do
Espanhol” (2005-2015), nele os relatos dos professores, depoimentos de alunos e reflexões dos
envolvidos com essa temática no Brasil cumprem a função de nos alertar sobre “um panorama
da situação, em um contexto que deveria ser favorável, em sintonia com as ações para a
integração latino-americana, mas que se mostra tão tortuoso em afirmar essa língua enquanto
componente curricular relevante para a formação de nossos alunos” (BARROS; COSTA;
GALVÃO, 2015, p.13).
Em um cenário de incertezas sobre o futuro do ensino da Língua Espanhola, a reforma
do Ensino Médio proposta pelo Governo Federal, através da medida provisória n.º 746, de 22
de setembro de 2016, trouxe à tona a questão do oferecimento dessa língua nas escolas do
Brasil, esse texto foi convertido na lei n.º 13.415, em 16 de fevereiro de 2017. O referido
documento revogou a lei n.º 11.161 ao alterar algumas questões da LDB, entre os pontos que
sofreram modificações, está a oferta das línguas adicionais:
§ 8º Os currículos de Ensino Médio incluirão, obrigatoriamente, o estudo da
língua inglesa e poderão ofertar outras línguas estrangeiras, em caráter
optativo, preferencialmente o Espanhol, de acordo com a disponibilidade de
oferta, locais e horários definidos pelos sistemas de ensino (BRASIL, 2016).
Fica claro que cada escola precisará incluir no currículo obrigatoriamente o inglês como
língua adicional, podendo oferecer mais uma língua em caráter optativo que não precisa ser,
necessariamente, a Língua Espanhola. Com isso, é invalidada a proposta de sua oferta
obrigatória nesse nível de ensino, além disso, fica a cargo de cada instituição escolher qual será
a língua oferecida. Mesmo com a indicação de que a língua a ser oferecida de forma opcional
seja preferencialmente o Espanhol, não existe mais nenhuma exigência de que ela esteja
disponível na grade curricular.
61
É evidente a preferência por outra língua que não aquela falada pelos que estão perto do
nosso território e com os quais compartilhamos traços históricos e culturais. O texto da Base
Nacional Comum Curricular justifica a escolha pela Língua Inglesa como componente
curricular obrigatório, afirmando que “trata-se, portanto, de definir a opção pelo ensino da
língua inglesa como língua franca” (BRASIL, 2016, p.199). Dessa forma, o Brasil segue uma
tendência de submissão ao projeto de propagação desenfreada de um único idioma. Esse
fenômeno já tem sido observado por alguns estudiosos. A esse respeito, Moita Lopes (2009, p.
17), afirma que,
Teorizações sobre práticas de ensinar e aprender Inglês e de influenciar
políticas públicas locais colonizaram e continuam a colonizar o mundo como
um novo evangelho, por assim dizer, principalmente devido aos interesses
mercantilistas que subjazem em tal língua.
20
Tradução nossa para: “Todas las escuelas secundarias del sistema educativo nacional en sus distintas
modalidades, incluirán en forma obligatoria una propuesta curricular para la enseñanza del idioma portugués como
lengua extranjera” (ARGENTINA, 2009, Art. 1.º).
62
Portuguesa no Ensino Médio de todas as escolas, porém sua matrícula é facultativa, conforme
mostra o terceiro artigo: “a matrícula no componente curricular Língua Portuguesa será optativo
para os estudantes” (ARGENTINA, 2009, Art. 3.º)21.
A oferta obrigatória com matrícula facultativa é um dos aspectos do documento que se
aproxima bastante da Lei do Espanhol no Brasil. É importante ressaltar que, no texto da Lei n.º
26.468, existem também alguns aspectos que não foram contemplados na Lei brasileira de
oferta do Espanhol, e que são trazidas à tona na Lei argentina, por exemplo, um artigo específico
que trata da formação de professores de P-LA, conforme o documento argentino:
O Instituto Nacional de Formação de Professores em conformidade com as
disposições do artigo 139 da Lei n.º 26.206, irá desenvolver e implementar um
plano plurianual para promover a formação de professores em Português, para
o período 2008-2016, incluindo um esquema formação contínua em serviço,
uma implementação gradual para o ensino de Português (ARGENTINA,
2009, art. 5º).
21
Tradução nossa para: “El cursado de la propuesta curricular para la enseñanza del idioma portugués será de
carácter optativo para los estudiantes” (ARGENTINA, 2009, ART. 1º).
22
Tradução nossa para: priorizando las escuelas de las provincias fronterizas con la República Federativa del Brasil,
para alcanzar la obligatoriedad de la oferta en el año 2016 região” (ARGENTINA, 2009, ART. 8º).
63
23
Tradução nossa para: “fue fortalecer el proceso de integración de los países del MERCOSUR en el plano
sociocultural y comercial a través del desarrollo de una fluida comunicación. Por la buena recepción de esta
experiencia y los objetivos que plantea, es preciso que se constituya en una instancia estable y de mayor alcance”
(POZZO, 2009, p.16).
24
Disponível em:
<http://servicios2.abc.gov.ar/lainstitucion/organismos/consejogeneral/disenioscurriculares/secundaria/materias_o
rientadas_de4anio/lenguas_extranjeras/portugues.pdf>. Acesso em: 12 de abril de 2017.
64
países latino-americanos, destacando que entre a Argentina e o Brasil existem aspectos sociais,
culturais e históricos que são comuns.
Essas diretrizes apontam que, diante do cenário atual, o ensino de P-LA é uma
indicação para fortalecer os meios que proporcionam a conexão entre os países em questão,
conforme o documento:
Neste contexto de fortalecimento de integração regional, na Província de
Buenos Aires surge uma nova proposta para enfrentar os desafios atuais e
futuros dos/das bonaerenses: o ensino de PLE no marco da Escola Secundária
com orientação em Línguas Estrangeiras (ARGENTINA, s/d, p.1).25
Além das questões de integração cultural, existe outros temas importantes que são
trazidos à tona, como é o caso das competências que os alunos podem desenvolver ao estudar
línguas adicionais. A ênfase recai sobre o ensino de P-LA e destaca que sua aprendizagem tem
os seguintes propósitos:
25
Tradução nossa para: “en este contexto de fortalecimiento de la integración regional, en la Provincia de Buenos
Aires surge una nueva propuesta para enfrentar los desafíos actuales y futuros de los/las bonaerenses: la enseñanza
de PLE en el marco de la Escuela Secundaria con orientación en Lenguas Extranjeras” (ARGENTINA, s/d, p. 01).
26
Tradução nossa para: “• Capacitar a los/las estudiantes/as para adquirir conocimientos que los ayuden a acceder
a los estudios superiores mediante la comprensión y producción escrita y oral en lengua portuguesa. • Fortalecer
la formación de ciudadanos/as con una visión amplia de la realidad que los rodea al reconocer que existen otros
modos de pensar y expresar el mundo y, al mismo tiempo, advertir que es por y en el lenguaje que un individuo se
constituye como sujeto social. • Conocer, problematizar y profundizar los conocimientos para tomar decisiones
futuras sobre la continuidad de los estudios y su inserción en el mundo productivo” (ARGENTINA, s/d, p.2).
65
Faz-se necessário pensar sobre os motivos pelos quais ainda não temos a oferta de tais
componentes curriculares em todas as escolas, já que em termos legais vários acordos já foram
firmados para que seja realizado o intercambio linguístico e cultural entre brasileiros e
hispânicos, no nosso contexto de pesquisa, os argentinos.
Diante do exposto, é possível destacar três pontos importantes que precisam ser melhor
esclarecidos para que o processo de integração dos países do MERCOSUL, em termos
linguísticos-culturais, seja bem-sucedido. O primeiro deles é a clareza quanto aos objetivos das
diretrizes legais para o ensino de línguas adicionais, nas escolas, pois elas podem ser meios para
articular ações e tornar o ensino de línguas tão importante quanto o ensino dos demais
componentes que compõem o currículo, tanto em termos de implantação do idioma na escola
como na qualidade do ensino da língua adicional oferecida.
Outra questão é a formação dos professores de E-LA e P-LA, pois a consolidação de
um corpo docente suficientemente capacitado para promover a implantação dessas línguas no
currículo das escolas brasileiras e argentinas é fundamental, conforme apontam alguns
estudiosos que realizam pesquisas a respeito da situação do ensino de Língua Espanhola e
Língua Portuguesa nos países do MERCOSUL, “devido o lugar que ocupa a formação inicial
do docente no sistema educativo, é necessário definir medidas específicas para incrementar,
mobilizar e universalizar o ensino de Espanhol e de Português nesse âmbito” (BRITOS E
VARELA, 2015, p.33).
Por último, destacamos a articulação de atitudes que promovam a compreensão, por
parte do aluno, sobre o lugar a ser ocupado por essas línguas adicionais na grade curricular das
escolas e o significado do ensino dessas línguas na sua formação como cidadãos mais críticos
e reflexivos com capacidade de interagir em uma sociedade tecnológica na qual a comunicação
entre pessoas em vários idiomas é cada vez mais comum.
Os vários conceitos destacados ao longo deste capítulo foram necessários para mostrar
várias questões relacionadas ao complexo processo de ensino-aprendizagem de línguas
adicionais. O próximo capítulo traz informações sobre a metodologia que usamos para realizar
nossa pesquisa.
66
Neste ponto, nosso estudo pode ser assim classificado, pois não estivemos interessados
na quantidade dos dados gerados nem de participantes envolvidos na pesquisa. Nosso foco
recaiu sobre a prática do teletandem como processo complexo que envolveu a mediação ao
longo de várias interações para comprovação empírica de que é possível viabilizar o ensino-
aprendizagem de línguas adicionais no Ensino Médio integrado à educação profissional. Porém,
é preciso destacar que, nestas pesquisas, o pesquisador pode apresentar, em alguns momentos,
dados quantitativos, como fazemos no nosso estudo, porém a análise desses dados está
relacionada à interpretação qualitativa, com baseado em nosso referencial teórico, submetido à
nossas reflexões enquanto pesquisadores.
Podemos afirmar que a nossa investigação também apresenta as principais
características dos estudos de cunho etnográfico listadas por André (2000), são elas: o princípio
da interação constante entre pesquisador e objeto pesquisado; o pesquisador é o instrumento
68
principal na coleta/geração e na análise dos dados; a ênfase está no processo e não nos
resultados finais; preocupação com o significado, pois o pesquisador deve buscar apreender e
retratar a visão pessoal dos participantes; descrição; indução; busca a formulação de hipóteses,
conceitos, abstrações e teorias.
Entre as possibilidades de pesquisa qualitativa, optamos pela realização de um estudo
de caso. De acordo com Severino (2007, p.121), o pesquisador “se concentra no estudo de um
caso particular, considerado representativo de um conjunto de casos análogos, por eles
significativamente representativo”. Ainda sobre o estudo de caso, Leffa (2006) explica que a
investigação feita por meio desse tipo de pesquisa deve contar com a participação de um número
pequeno de colaboradores e deve ser um estudo profundo e exaustivo no qual as descrições
devem ser feitas da forma mais detalhada possível.
O estudo de caso que realizamos pode ser classificado como exploratório. De acordo
com Leffa (2006, p.18), este tipo de pesquisa “é uma espécie de estudo piloto que pode ser feito
para testar, principalmente os instrumentos e procedimentos”. O trabalho que realizamos
aconteceu dentro do projeto de extensão “Intercult: aprendizagem colaborativa e intercultural
de línguas via teletandem” que será melhor explicado nas próximas seções, neste ponto é
importante salientar que essa experiência foi a primeira feita com alunos do Ensino Médio, haja
vista que os participantes das interações neste projeto são, em sua maioria, estudantes de
graduação.
Este estudo é, também, uma pesquisa aplicada, pois testamos os instrumentos e
procedimentos que acreditamos poderem possibilitar aos alunos deste nível de escolaridade
outra forma de contato com a língua-alvo, além da sala de aula. Além disso, ele funcionou como
um estudo preliminar para a elaboração do Guia de aprendizagem colaborativa para
professores e estudantes de línguas adicionais: Espanhol e Português, direcionado para
Ensino Médio. Esse foi o principal produto pedagógico criado a partir da pesquisa, com base
nas reações e na interação dos participantes ao realizarem as tarefas, foram feitas modificações
no material pedagógico.
Esta pesquisa também é descritiva, pois pretendemos mostrar como foi realizada essa
experiência de ensino-aprendizagem de línguas adicionais sem fazer generalizações e
apresentamos uma realidade de aprendizagem que muitos professores de línguas não conhecem.
Segundo Leffa (2006, p.18), “o estudo de caso descritivo tem por objetivo mostrar ao leitor
uma realidade que ele não conhece”, o autor também afirma que, em um momento posterior,
seus resultados podem ser usados para formulação de hipóteses e para estabelecer relações de
causa e efeito.
69
Mesmo tendo consciência de que a experiência realizada pode ser repetida em casos
análogos ao da nossa pesquisa, o que buscamos com a exploração de um caso específico não
foi generalizar a aplicação da proposta como algo que serve para todos os alunos que estão no
mesmo nível escolar da dupla de participantes, a nossa proposta consiste em um primeiro passo
experimental para realização de uma forma de aprendizagem que é predominante no ensino
superior, mas que acreditamos ter condições de ser desenvolvida na Educação Básica,
especificamente no Ensino Médio.
Em conformidade com Leffa (2006), para gerar dados que possibilassem uma melhor
exploração e descrição do processo, no estudo de caso foram usados vários instrumentos, tais
como as filmagens das interações, as respostas às atividades propostas e textos multimodais
produzidos pelos interagentes, além das fichas de acompanhamento, que serão apresentados de
forma detalhada nas próximas seções deste capítulo.
Ainda de acordo com Leffa (2006), sobre o estudo de caso, nesse trabalho não temos a
intenção de buscar uma verdade que possa ser generalizada, nos interessamos em analisar um
evento específico e, por isso, buscamos explorá-lo e descrevê-lo da maneira mais detalhada
possível.
Nossa pesquisa foi realizada em seis etapas, a primeira delas consistiu na leitura,
fichamento e resumo dos textos que compõem o referencial teórico presente no primeiro
capítulo deste trabalho. Na segunda etapa, estabelecemos contato com a instituição parceira
para as práticas do teletandem. O terceiro momento consistiu na elaboração e aplicação de um
questionário composto por dez itens que tinham por objetivo analisar o nível de proficiência
dos participantes em relação à língua-alvo, assim como a familiaridade deles com a internet e
os textos multimodais que circulam no ambiente virtual. Este questionário foi elaborado em
Espanhol para os argentinos e em Português para os brasileiros (APÊNDICE A).
Na quarta etapa da pesquisa, foi elaborada uma sequência didática (APÊNDICE B)
composta por atividades contendo textos multimodais que teve como tema a integração latino-
americana. A escolha do tema foi pautada pela necessidade de mostrar as línguas Espanhola e
Portuguesa como idiomas próximos da nossa realidade, principalmente por ser falada por vários
países que estão perto do Brasil, por isso consideramos importante que a aprendizagem do
Espanhol por brasileiros e de Português por hispano-falantes esteja relacionada também com a
aproximação linguística entre comunidades que compartilham vários aspectos comuns, como é
70
27
Além deste grupo criado pelas mediadoras, outro grupo foi criado de forma independente pelos interagentes
para comunicação apenas entre eles.
74
28
Visando a proteção da face dos participantes, os nomes dos interagentes são fictícios e foram escolhidos por
eles.
75
para aprendizagem, até o momento das interações, acontecia apenas durante as aulas de
Espanhol ministradas no IFPB. A estudante conta com acesso à internet e dispositivos para usá-
la em sua casa.
João, interagente argentino, tem 16 anos, autodeclarado branco, nasceu e mora na cidade
de Rosario, localizada na província de Santa Fé. O participante é falante nativo da Língua
Espanhola, estudante do terceiro ano do Ensino Médio Integrado ao Curso Técnico de
Eletromecânica na Escuela de Educación Técnica Profesional N.º 466 "Gral. Manuel Nicolás
Savio". Ele sempre estudou em escola pública. Estuda Língua Portuguesa desde o Ensino
Fundamental e ainda não viajou para nenhum país onde se fala Português como língua oficial.
Em sua casa, o estudante possui acesso à internet e equipamentos para usá-la.
A mediadora argentina, colaboradora desta pesquisa, é licenciada em Português pela
Universidad Nacional de Rosario e Professora de P-LA na Argentina. Começou estudando no
curso de Tradução e, finalmente, se deu conta de que preferia ensinar do que traduzir.
Atualmente, atua como professora de P-LA na Escuela de Educación Técnica Profesional n.º
466 "Gral. Manuel Nicolás Savio". Sempre gostou das línguas adicionais. Além da Língua
Portuguesa, ela estudou inglês, alemão e italiano. Já trabalhou como professora de alemão e, na
universidade, já ministrou aulas do componente curricular Metodologia de la enseñanza de la
LE.
A professora afirma que são vários os motivos pelos quais os argentinos têm optado por
aprender a Língua Portuguesa, pela proximidade com o Brasil; pela facilidade que existe em
“entender” a língua, pelo fato de serem dois sistemas linguísticos próximos; pela possibilidade
de conhecer outra língua/cultura diferente do inglês (que é a língua mais ensinada no país); pela
possibilidade de trabalho/estudo no Brasil e de ter contato com o Brasil por serem países tão
próximos.
A colaboradora atua como uma das mediadoras da dupla de interagentes desta pesquisa,
conheceu o teletandem através da visita29, em agosto de 2017, do professor Fábio Marques de
Souza, à Universidad Nacional de Rosario, e viu nessa prática a possibilidade de seus alunos
terem um contato real com o P-LA, com a cultura brasileira, de aprender coisas que vão além
dos manuais, de se sentirem próximos do Brasil, de ter amostras autênticas do P-LA. Além da
possibilidade de experimentar um intercâmbio cultural que lhes permita não só aprender a
cultura brasileira, mas também ensinar sobre a cultura argentina.
29
A visita teve como objetivo buscar parcerias para o Intercult e para o PPGFP, envolveu uma série de atividades
como reuniões, palestras e minicursos, dentre outras.
76
A mediadora brasileira é também a pesquisadora que escreveu este trabalho e atua como
professora de Língua Espanhola para brasileiros no Instituto Federal de Educação Ciência e
Tecnologia da Paraíba (IFPB). Possui graduação em Letras com habilitação em Língua
Espanhola pela Universidade Estadual da Paraíba e, nesta instituição, também foi professora
substituta no curso de Licenciatura em Letras com habilitação em Língua Espanhola durante
dois anos.
Esta professora teve experiência em ensino de Língua Espanhola para alunos de Ensino
Fundamental ao mesmo tempo em que ministrava aulas no Ensino Superior, também orientou
estágios supervisionados em que havia o contato entre alunos destes dois níveis. Isso
proporcionou a ampliação de uma visão crítica a respeito do papel desempenhado pelo
professor como mediador e do aluno como protagonista das práticas que envolvem o contato
com línguas adicionais dentro e fora da sala de aula.
A pesquisadora conheceu o projeto “Intercult: aprendizagem colaborativa e intercultural
de línguas via teletandem” por intermédio do professor Fábio Marques de Souza e, desde então,
tem trabalhado na criação dos espaços digitais para comunicação e no fortalecimento das
parcerias entre instituições e alunos brasileiros e argentinos.
A referida participante atuou como mediadora dos interagentes envolvidos nesta
pesquisa e a compreende como uma experiência satisfatória a aproximação entre indivíduos de
culturas distintas e um meio de ampliar o conhecimento a respeito da língua adicional estudada
de forma restrita nas instituições de ensino. Ressalta a importância de atitudes que visem a
implantação de novas formas de ensino-aprendizagem de línguas adicionais que envolvam os
alunos com diversas mediações, dentre elas, a dos ambientes virtuais nos quais eles estão
constantemente engajados.
O estudo de caso requer vários instrumentos de geração de dados, por isso o corpus de
análise desta pesquisa foi composto pelos trechos transcritos a partir das filmagens das
interações, textos multimodais produzidos pelos participantes ao longo das atividades propostas
e fichas de acompanhamento. Esses materiais foram analisados com vistas a observar de que
forma a aprendizagem colaborativa e a mediação auxiliaram os participantes na elaboração dos
textos multimodais e, consequentemente, no desenvolvimento da habilidade comunicativa
intercultural na língua adicional a ser adquirida/ aprendida.
77
Interação/ Atividades realizadas e Língua Tipo de Tempo Instrumentos de geração Dados gerados
Data textos multimodais usadas interação de de dados
usados e solicitados interação Utilizados
Interação 1 Ø Apresentação dos Espanhol Áudio 58 Ø Filmagem para Ø Transcrição de
04/09/2017 interagentes; e visual minutos transcrição. (usando trechos da
Ø Atividade escrita Português através do o Apowersoft); conversa
na língua-alvo, a Hangouts Ø Atividade escrita realizada dois
partir de uma disponível na pelos
tirinha de plataforma Moodle interagentes;
Armandinho (elaborada no google Ø Respostas dos
publicada na forms); dois interagentes
internet; Ø Ficha de à primeira
Ø Preenchimento acompanhamento atividade
das fichas de disponível na proposta;
acompanhamento. plataforma Moodle Ø Respostas dos
(elaborada no google dois interagentes
forms). às fichas de
acompanhamento.
30
O PicsArt é um editor de fotos gratuito para smartphones que permite remixar fotos e transformá-las em memes através de colagens.
81
A interação quatro não foi gravada, pois houve um problema técnico que impossibilitou
o uso do programa para gravar as imagens e o áudio das interações. Ao longo da geração dos
dados, contamos com o auxilio de várias plataformas digitais, programas específicos para
filmagem e para realização das videoconferências. O quadro 05, por nós elaborado, mostra os
nomes dos meios digitais usados, a descrição de uso de cada um deles no processo e o link de
acesso para download.
31
É uma coleção de padrões e especificações para e-learning baseado na web.
82
Uma vez gerados os dados, foi preciso buscarmos uma forma coerente de analisá-los.
Para as considerações sobre o tipo de pesquisa realizada, tomamos por base Leffa (2006) e foi
também a partir dele que buscamos compreender de que forma deveríamos tratar os dados do
estudo de caso. Para este autor, existem três formas de interpretar dados de estudos de caso, são
elas: análise holística, análise detalhada e análise de padrões recorrentes.
De acordo com Leffa (2006, p. 21), “na análise holística, a preocupação é interpretar os
dados em sua totalidade, fazendo inferências, deduções ou associações com teorias existentes”.
A análise detalhada consiste em uma busca por categorizar e codificar as ações isoladas dos
83
alunos, já na análise de padrões recorrentes o trabalho consiste em identificar traços que são
comuns a um grupo.
Conforme mostram os textos que embasam o capítulo teórico desta dissertação, temos
compreendido o processo de adquirir/aprender línguas adicionais como sendo complexo, por
isso, optamos por uma análise holística dos dados. Por meio delas, é possível compreender
melhor a experiência realizada no teletandem, pois conforme aponta Yus (2002), através de
uma perspectiva holística são levadas em consideração as interrelações entre os elementos que
constituem o todo.
Ao longo da análise dos dados, o processo de ensino-aprendizagem é considerado em
sua totalidade. Porém, para organizar didaticamente os resultados e discussões sobre a
experiência realizada, apresentaremos as considerações sobre os questionários iniciais,
explicando o que foi possível apreender a partir deles. Em seguida, descreveremos as interações
realizadas apresentando transcrições de trechos considerados relevantes de cada uma delas.
Além disso, apresentaremos as respostas aos exercícios propostos, bem como os textos
multimodais produzidos pelos interagentes e faremos considerações sobre cada produção,
levando em consideração os artefatos de mediação envolvidos no processo de produção. Por
último, as respostas das fichas de acompanhamento serão apresentadas para verificar como a
colaboração funcionou para que os interagentes acompanhassem a própria aprendizagem e a do
seu companheiro de interação.
O conjunto de questões com o qual trabalhamos ao longo da análise é composto por 15
itens, são eles:
· Os interagentes mostraram interesse em produzir o texto solicitado?
· Os interagentes mostraram-se interessados em solucionar as dúvidas do
parceiro?
· O interagente argentino consultou o interagente brasileiro?
· Em que aspectos (estrutura da língua, vocabulário, cultura), o interagente
brasileiro ajudou seu parceiro?
· O interagente brasileiro consultou o interagente argentino?
· Em que aspecto (estrutura da língua, vocabulário, cultura) o interagente
argentino ajudou seu parceiro?
· Os interagentes atenderam à solicitação de produção?
· Os interagentes trabalharam de forma colaborativa?
· Os interagentes precisaram que o colega apenas revisasse sua produção?
· Houve interrupções no processo de produção?
· Os temas recomendados foram temas das conversas realizadas?
· Quais temas paralelos surgiram ao longo das interações?
84
Na análise dos dados desta pesquisa, as respostas, referentes a cada questão dos
exercícios propostos, permitiram entender qual a visão dos alunos sobre a integração latino-
americana que foi o tema da sequência didática aplicada. Os dados obtidos através do
preenchimento das fichas de acompanhamento foram processados para compreender quais
dificuldades foram encontradas pelos participantes e o que foi possível aprender e produzir ao
longo das interações. As fichas também possibilitaram identificar ajustes a serem feitos na
pronúncia, na escrita e nos textos multimodais produzidos pelos participantes na língua-alvo.
Nos comentários sobre os dados analisados, seguimos a orientação de Leffa (2006), ao
ponderar que “é aconselhável também que retome os pontos principais de sua pesquisa, as
perguntas norteadoras, os objetivos principais e as hipóteses iniciais, tudo de modo resumido”
(p. 22). Além disso, foram feitas considerações entre a prática realizada na experiência do
estudo de caso e a teoria apresentada no capítulo teórico. A partir desta pesquisa elaboramos
alguns produtos pedagógicos que apresentamos na seção seguinte deste capítulo.
Vários produtos pedagógicos foram criados a partir desta pesquisa. O primeiro deles foi
o site TeletandemPB, nele foram disponibilizadas informações a respeito do projeto Intercult:
aprendizagem colaborativa e intercultural de línguas via teletandem, tais como os
objetivos da proposta e os pesquisadores, mediadores e colaboradores envolvidos. Esse foi um
espaço virtual importante para a divulgação do trabalho realizado, bem como se constituiu como
uma forma de facilitar a realização das interações e das atividades pelos interagentes.
85
32
A página pode ser acessada através do link: https://www.facebook.com/teletandemuepb/
86
Nas postagens da página são divulgadas as informações básicas sobre o projeto Intercult.
Neste espaço virtual, também postamos os vídeos de apresentação dos participantes e
compartilhamos informações a respeito do ensino-aprendizagem em tandem, bem como
expomos curiosidades sobre as línguas adicionais estudadas pelos interagentes.
O Guia de aprendizagem colaborativa para professores e estudantes de línguas
adicionais: Espanhol e Português foi o principal produto didático elaborado a partir desta
pesquisa e tem por objetivo orientar professores e alunos de Espanhol e Português como línguas
adicionais que estejam interessados em realizar interações em teletandem, usando textos
multimodais. O referido material foi elaborado em slides e convertido para a linguagem de
programação Flash33, utilizando o aplicativo ISpring que funciona integrado ao Microsoft
Office Power Point. Este material didático está disponível no site TeletandemPB.
33
São arquivos de extensão (de Shockwave Flash File) que podem ser visualizados nas páginas da web usando
um navegador que os suporte.
87
Neste capítulo, descrevemos, interpretamos e refletimos acerca dos dados gerados nas
interações em teletandem realizadas dentro do projeto Intercult por dois alunos do Ensino
Médio Profissionalizante, a partir da aplicação da sequência didática que elaboramos tomando
como foco os processos de mediação e colaboração no uso e produção de textos multimodais
para o ensino-aprendizagem de línguas adicionais (Português e Espanhol). Apresentamos os
dados gerados ao longo da pesquisa e fazemos alguns comentários com base em autores citados
no capítulo teórico deste trabalho.
Começaremos por apresentar as considerações feitas a partir das respostas dadas pelos
participantes às questões que elaboramos e aplicamos antes da realização das interações. O
questionário foi composto por dez itens que tinham por objetivo compreender o nível de
proficiência dos participantes em relação à língua-alvo, assim como a familiaridade deles com
a internet e os textos multimodais que circulam no ambiente virtual. Este questionário foi
elaborado em Espanhol para os argentinos e em Português para os brasileiros (APÊNDICE B).
A primeira pergunta do questionário serviu para verificar o nível de conhecimento da
língua-alvo em relação às habilidades de leitura, escrita, audição e fala. Na segunda, terceira,
quarta e quinta questões foi possível entender se os participantes já haviam tido experiência de
aprendizagem com a língua-alvo e se o contato com o idioma aconteceu na escola, em casa ou
nos dois ambientes. A sexta e sétima perguntas objetivaram compreender quais as dificuldades
que eles possuem em relação à fala, audição, leitura e escrita. A oitava e nona questões serviram
para conhecer quais as expectativas dos alunos em relação a aprendizagem colaborativa em
teletandem. Na décima questão, o objetivo foi entender quais são os textos multimodais com os
quais os participantes estão familiarizados e se os participantes usam a web para estudar a
língua-alvo. Para isso, eles foram questionados sobre como usam a internet para entretenimento
e para estudo.
A partir das respostas dadas ao questionário aplicado construímos a sequência didática
que foi aplicada ao longo das interações. Por meio dele, fizemos um diagnóstico inicial a
respeito do conhecimento que os colaboradores da pesquisa possuíam sobre a língua adicional
que desejavam aprender e se estavam familiarizados com o ambiente virtual no qual, em um
momento posterior, seriam realizadas as interações. As dez perguntas e as respostas dadas pelos
participantes podem ser visualizadas no quadro apresentado a seguir:
91
Os dois participantes consideram que a fala é a habilidade menos desenvolvida por eles
ao usarem a língua adicional, na questão seis eles reafirmam que é no exercício dela que
apresentam maior dificuldade. A oralidade pode ter sido pouco desenvolvida nos participantes,
pois conforme já vimos no referencial teórico, essa é uma habilidade que, geralmente, é pouco
trabalhada nas aulas de línguas adicionais na escola, pois as orientações dos documentos oficiais
dão ênfase a escrita e leitura (BRASIL, 2006). Compreendemos que as conversas em
teletandem podem incentivar o exercício da fala, em um ambiente virtual em que a interação
acontece de forma livre com um parceiro mais competente na língua que o interagente deseja
aprender.
93
A tirinha (Figura 11) foi proposta como introdução, na primeira interação realizada
pelos participantes da nossa pesquisa, para o tema da sequência didática que aplicamos, a saber,
Integração Latino-americana. Este texto multimodal foi publicado na fanpage34 do personagem
Armandinho, no Facebook, em 27 de setembro de 2016, cinco dias após a divulgação da medida
provisória n.º 746, que revogou a obrigatoriedade da oferta do componente curricular Língua
Espanhola no Ensino Médio das escolas brasileiras, com a seguinte legenda: “Feitas há algum
tempo, mas só publicadas em jornal. Sempre me questionei do porquê do distanciamento de
nossos vizinhos. Hoje, mais do que nunca, me soa proposital. Divididos somos mais frágeis”.
Esta afirmação corrobora com as considerações de Souza (2014), Arnoux (2010) e Pozzo (2009)
sobre a necessidade de integração entre os países latino-americanos para o fortalecimento das
relações comerciais, culturais e principalmente na luta pela superação da dominação e
independência.
Fonte: www.facebook.com/tirasarmandinho/
34
É uma página criada no Facebook para promover marcas, empresas, blogs, personagens ou pessoas famosas.
Diferente da página pessoal, o objetivo da fanpage é fazer o marketing necessário para reunir fãs em torno de uma
preferência que eles têm em comum.
96
O objetivo da atividade proposta com base na tirinha foi fomentar uma reflexão a
respeito do conhecimento que temos a respeito da cultura dos países que nos cercam, bem como
perceber as possibilidades de aproximação do outro usando as Tecnologias Digitais de
Informação e Comunicação (TDIC). Através dos dados gerados a partir da sua realização
percebemos várias questões relevantes, entre elas destacamos o fato de os interagentes
apresentarem duas possibilidades sobre o conhecimento a respeito do seu parceiro de interação
e o país ao qual ele pertence: a participante Ingrid afirmou não conhecer nada sobre os
argentinos, enquanto João expressou conhecimento com base em ideias preconcebidas sobre os
brasileiros.
A atividade foi trabalhada ao longo da primeira conversa entre a dupla Ingrid e João, o
tempo de interação entre eles foi de 58 minutos destinados às saudações iniciais entre o par,
respostas às questões da atividade e conversa sobre o tema proposto. Foram 20 minutos de
diálogo em Língua Espanhola, 15 minutos em que utilizaram a Língua Portuguesa e 23 minutos
de conversa em que cada um se comunicou fazendo uso da sua língua materna.
No gráfico 1, é possível verificar que a porcentagem de tempo destinada ao uso de cada
língua na interação não está de acordo com o que foi recomendado pelas mediadoras antes da
sua realização, a saber: cinquenta por cento para cada língua, em conformidade com as
orientações de Rammé (2014) e Benedetti (2010). Este fato comprova que os interagentes são
os verdadeiros responsáveis por conduzir a conversa e decidir qual idioma irão usar e em qual
momento, exercendo o protagonismo dos participantes de experiências de ensino-aprendizagem
em teletandem, conforme destaca Telles (2009).
97
Tempo de uso
40% 34%
26%
Na maior parte do tempo, cada um dos interagentes falou na sua língua materna e isso
não impediu que eles se comunicassem bem. Porém, o objetivo das interações foi fazer com
que eles conversassem usando o idioma adicional no qual o outro é fluente. Porém, o teletandem
é um formato de ensino-aprendizagem em que não existe um controle rígido por parte de um
professor ou mediador para que eles cumpram o tempo de uso recomendado em cada língua,
acreditamos que isso se deve ao fato de que se tratava de uma primeira interação em que vários
fatores estavam envolvidos. Conforme aponta Telles (2009), nas primeiras interações em
teletandem existem enfrentamentos de vários sentimentos que podem ser positivos ou
negativos. Nesse caso, falar a língua do outro, estando sujeito à correções por parte de uma
pessoa pouco conhecida, pode ter gerado insegurança a ponto do interagente se acomodar em
usar seu próprio idioma.
Constatamos que, nesta primeira conversa, o interesse maior dos interagentes esteve
voltado para a resolução das questões da atividade solicitada. Os interagentes ajustaram as telas
para que fosse possível visualizar o exercício usado para direcionar a interação e o parceiro, ao
mesmo tempo, conforme mostra a figura 12.
98
O costume de dançar samba, destacado pelo participante João em sua ficha de registro
(Quadro 7) como um dos costumes dos brasileiros, nos faz refletir sobre a importância de um
contato, real, com o outro, para conhecer sua cultura, sem fazer generalizações. É provável que
100
esta informação não esteja presente nos livros didáticos, mas foi conhecida a partir de um
diálogo realizado a distância em teletandem.
O termo “abestalhado” também foi destacado como algo novo aprendido por João na
primeira interação com Ingrid. Embora esta palavra apareça no dicionário de Língua Portuguesa
como sendo sinônimo de tolo, para fazer referência a alguém que ficou perplexo por algum
motivo, ou ainda para se referir a uma pessoa presunçosa e convencida, seu uso é mais comum
em alguns lugares da região nordeste, como é o caso da cidade onde mora a participante da
nossa pesquisa. Por isso, é possível que esta palavra não esteja presente nos materiais
disponíveis para a aprendizagem de P-LA. Por permitir este conhecimento de questões não
contempladas no ensino-aprendizagem formal de uma língua adicional, é possível afirmar que
práticas como o teletandem podem corroborar para ampliação de contato com artefatos da
cultura do outro (LANTOLF; THORNE, 2009 apud VIEIRA ABRAHÃO, 2012).
Tomando por base a afirmação de Souza (2014) sobre a necessidade de
desenvolvimento da competência comunicativa intercultural ao aprendermos uma língua
adicional, compreendemos que esta capacidade deve envolver um conhecimento que não esteja
restrito apenas aos fatores culturais destacados nos materiais didáticos, que consistem em um
recorte da vivência do outro. Sem um contato mais próximo com um falante nativo da língua
que se deseja aprender, pode não ser possível conhecer algumas palavras ou outros aspectos
culturais que são de interesse dos estudantes. Um exemplo disso são as gírias, que a interagente
Ingrid solicitou que fossem ensinadas pelo parceiro argentino, conforme é possível constatar
no excerto a seguir:
Quadro 8 – Excerto 02: primeira interação
Conforme destaca Morin (2004) e Almeida Filho (1993), existem vários fatores
envolvidos no processo de ensino-aprendizagem, esta complexidade envolve também as
emoções do indivíduo. Ao longo do contato em teletandem, os sentimentos de receio em relação
ao outro podem se transformar em simpatia e originar, por exemplo, o uso da palavra amigo
que pode ser observada no excerto 02. Este segundo fragmento do diálogo mostra os
interagentes um pouco mais descontraídos, com certa liberdade para brincar um com o outro e,
além disso, notamos que a participante brasileira expressa que deseja aprender gírias em Língua
Espanhola. A solicitação da interagente é imediatamente atendida pelo companheiro que
apresenta uma nova palavra e explica seu significado.
Outro fator importante observado nos dados gerados nesta interação foi que eles
mostraram ter consciência da proximidade entre os dois idiomas e da necessidade de
aproximação para conhecer mais sobre o outro. Além disso, também puderam identificar
preferências comuns, ainda que ambos vivam em países distintos. Notamos também que as
preferências em comum se referem ao uso das TDIC, pois ambos expressaram que gostariam
de aprender através de alguns textos multimodais e de trocas de mensagens, usando as redes
sociais de forma independente sem precisarem de um professor/mediador (Figura 13).
Figura 13- Respostas dos participantes sobre como podem conhecer melhor sobre o país do outro
A participante Ingrid afirmou não conhecer nada sobre o outro e sua cultura, já o
interagente João mostrou um conhecimento estereotipado a respeito dos brasileiros ao afirmar
que: “frequentam praias e piscinas por causa do calor, assistem partidas de futebol no domingo
102
à tarde e tomam mate”35. É possível que nem todos os brasileiros se comportem da forma como
ele descreve, entretanto, sua resposta retrata a visão que muitas pessoas têm dos brasileiros. A
respeito da visão simplista que desenvolvemos em relação aos outros, Salomão (2012) afirma
que é preciso usar os mecanismos disponíveis para conhecer e compreender a diversidade que
existe no outro, compreendemos que essa seria uma forma de se desprender das visões
cristalizadas sobre determinada cultura.
Ao longo da interação, João pôde comprovar que nem todos os brasileiros se comportam
da forma como ele descreveu. A partir das respostas da participante Ingrid, ele percebeu que
sua parceira não conhecia o mate e usou recursos multimodais disponíveis na interação on-line
para compartilhar imagens da cuia de chimarrão e de como ele é preparado, conforme mostra a
figura 14.
35
“Suelen ir a la playa y a las piscinas por el calor, aman el carnaval, las fiestas de junio, ver partidos de fútbol el
domingo por la tarde y en el sur del país la gente toma mate”.
103
36
Tradução nossa para: “Las lenguas son de un mismo origen, y es interesante pues ayuda a conocer cada vez
más a las personas de los países próximos”.
37
Tradução nossa para: “Es algo beneficioso. Porque ayuda a que estemos más conectados y aprendamos nuevas
cosas de otros lugares y culturas”.
105
João e Ingrid expressaram o desejo de conhecer mais sobre o outro e seu país, através de textos
multimodais como fotos, vídeos, filmes e músicas (Figura 13).
No intuito de darmos continuidade a exploração dos pontos comuns entre os países onde
vivem os participantes da pesquisa, seguimos com o próximo tópico desta análise, no qual
observamos os resultados da segunda interação realizada entre eles.
Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=DkFJE8ZdeG8.
A escolha por este clip se deu justamente por acreditarmos que os interagentes seriam
levados a refletir sobre as questões citadas acima e, assim, eles poderiam aliar os conceitos
cotidianos e científicos, conforme Vieira-Abrahão (2012), já que as problemáticas da música
fazem parte do cotidiano dos alunos, assim como os clipes musicais da internet.
O diferencial é que as questões que propomos trabalhar nesta segunda atividade da
sequência didática tiveram a função de permitir aos participantes discutirem entre si, de forma
107
Ao compararmos o tempo de uso das duas línguas nas conversas, percebemos através
dos gráficos 1 e 2, que os interagentes conseguiram equilibrar melhor o tempo de diálogo nas
língua-alvo na segunda interação. Ademais, eles não deram continuidade a dinâmica em que
cada um falava sua língua materna. É importante ressaltar que isso foi decidido apenas pelo par
de interagentes, pois as mediadoras não interferiram e nem deram sugestões a esse respeito.
Outro avanço significativo foi que, diferente da primeira atividade em que um dos
interagentes já havia iniciado a resposta das questões, na segunda interação, eles assistiram ao
clip da música juntos, conforme mostra a figura com a sequência de imagens apresentada a
seguir:
108
38 38
Tradução nossa para: “Los paises latinoamericanos siempre lucharon para seren independientes de los paises
de Europa, porque la mayoría de ellos fueron colonizados por países de Europa”.
109
39
Tradução nossa para: “Por medio de las redes sociales y proyectos desarrollados en las escuelas”.
110
forma Ingrid foi auxiliada por João na aprendizagem do vocabulário, na pronúncia das palavras
e nos costumes/cultura, buscamos fragmentos transcritos da gravação da interação que
mostrassem este processo. No quadro 11 apresentamos um destes fragmentos.
Uma das formas encontradas pelos interagentes, para auxílio mútuo, foi soletrar as
palavras que o outro não sabia escrever na atividade e repetir as palavras para que o parceiro
pudesse entender como pronunciar.
40
Narrativa na qual os recursos audiovisuais são utilizados juntamente com as palavras nas mais diversas situações
comunicativas (PEREZ, 2017).
41
É um editor de vídeo profissional gratuito para Android e que possui amplas funcionalidades.
114
João não fez a gravação do vídeo e nem apresentou nenhuma justificativa a respeito.
Porém, assistiu ao material produzido por Ingrid e forneceu feedback sobre a produção da
companheira através de mensagem de áudio. De acordo com ele, a interagente apresentou
“buena pronunciación” ao longo do vídeo e o barulho do vento fez com que ele não
compreendesse algumas palavras. Além disso, ele corrigiu a palavra sítio que pode ser
considerado um falso cognato em relação ao Português, porque em Espanhol quer dizer site,
por isso o interagente sugeriu que ela substituísse pela palavra finca.
Araújo (2016) destaca a liberdade criadora que existe nos espaços virtuais e foi isso que
buscamos possibilitar, ao solicitar a produção deste texto multimodal, de forma a permitir que
os participantes produzissem conteúdo ativamente e fossem responsáveis pela comunicação em
língua adicional. Além disso, a facilidade de divulgação faz com que o material produzido não
fique restrito ao ambiente de ensino-aprendizagem, pois pode ser postado nas redes sociais
digitais.
115
Fonte: http//argentina-chistepolitico.blogspot.com
Fonte: https://www.facebook.com/BodeGaiato
117
Com base nestes memes foram elaboradas as questões do exercício a ser respondido
pelos interagentes ao longo do terceiro encontro virtual da dupla. O tempo previsto para esta
interação era de uma hora, porém, ela durou quarenta e seis minutos, por causa da baixa
velocidade da internet. É possível que a intenção deles tivesse sido realizada em igual tempo
nas duas línguas, porém, a falha de conexão não permitiu, por isso interagiram meia hora em
Língua Espanhola e dezesseis minutos em Língua Portuguesa, conforme mostra o gráfico a
seguir.
As opiniões em relação ao que é possível fazer para combater a corrupção foi bastante
divergente entre eles ao longo do diálogo (Quadro 12), porém, as respostas da atividade escrita
são semelhantes, pois ambas apontam a necessidade de escolha consciente no que se refere aos
governantes, conforme mostra a figura 24:
Figura 24- Respostas dos participantes sobre o combate a corrupção no Brasil e na Argentina
42
A participante Ingrid não preencheu a ficha de acompanhamento em nem apresentou justificativa sobre o motivo
de não haver atendido a esta solicitação.
120
Como parte da terceira atividade, foi solicitado aos participantes a elaboração de dois
memes sobre o tema discutido, tomando por base a necessidade de comunicação multimodal na
internet, sugerimos que João e Ingrid produzissem esses textos na língua alvo, pois os memes
têm se tornado uma forma de comunicação bastante utilizada para discutir, de forma crítica e
com humor, as questões cotidianas.
A liberdade criadora proporcionada pela internet (ARAÚJO, 2016), é bastante
aproveitada pelos usuários para criar conteúdo sobre vários temas e a política também está entre
os assuntos tratados em memes publicados nas redes sociais e nos demais ambientes virtuais.
Compreendemos que colocar os interagentes em contato com essas produções e solicitar deles
a elaboração destes textos seria uma forma de fazê-los atuar de forma ativa na comunicação
com o parceiro, usando textos autênticos.
121
Para produção deste texto multimodal a interagente Ingrid recorreu a outros textos já
disponíveis na internet. Conforme é possível identificar na figura 25, a brasileira buscou uma
imagem da ex-presidente Cristina Kirchner e utilizou a parte escrita de outro meme. Através de
um processo de edição com o aplicativo Picsart44, foi possível a elaboração de uma produção
coerente, em língua adicional, tomando por base a conversa que aconteceu entre eles e os
recursos disponíveis nos meios digitais.
O uso de diversas fontes, bem como o uso das várias linguagens para compor os textos
multimodais é abordado por Araújo (2016) e denominado como remix, foi este o processo
utilizado pela interagente. Neste caso, ela não demonstrou nenhuma dificuldade para manipular
as ferramentas necessárias, verificamos que uma das imagens foi retirada do jornal on-line
Correio Braziliense e a outra do blog Taringa. Destacamos que a colaboração dos interagentes
na produção deste meme aconteceu de forma satisfatória, inclusive, o diálogo entre a dupla
permitiu que Ingrid conhecesse o ponto de vista de alguém que, sendo argentino e residente
43
Imagens utilizadas na produção do meme disponíveis em: https://www.correiobraziliense.com.br
e https://www.taringa.net.
44
Aplicativo gratuito que oferece uma série de funcionalidades para edição de imagens e recursos sociais de
integração entre seus usuários. Disponível em: http://www.techtudo.com.br/tudo-sobre/picsart-photo-studio.html.
Acesso em: 30 de set. 2017.
122
daquele país, vivenciou a administração da presidente e isso fez com que ela não se limitasse
ao que foi divulgado na imprensa a esse respeito.
Além da facilidade para manipular o aplicativo necessário para editar a imagem,
destacamos que a participante mostrou ter opinião a respeito do assunto abordado e que, junto
com seu companheiro de interação, produziu um conteúdo que pode ser facilmente divulgado
nas redes sociais e compreendido por usuários da Língua Espanhola. Embora seja possível
perceber que a palavra robarón deveria ser acentuada e que falta uma vírgula entre as palavras
dinero e pero, mesmo assim consideramos que o objetivo foi alcançado no que se refere ao uso
da língua adicional pela interagente brasileira.
Ao realizar a produção do meme, o participante João utilizou o mesmo aplicativo que
Ingrid e buscou imagens na internet da mesma forma. Uma das imagens foi encontrada em uma
publicação do Twitter e a outra no jornal on-line Tribuna do Norte, conforme mostra a figura
26. É perceptível, no caso dos dois memes, o uso das palavras roubei, roubou, roubaram e
ladrão, e isso pode demonstrar que, de certa forma, a condição política dos países nos quais
vivem os participantes da pesquisa, por conta do campo semântico utilizado, é parecida.
123
45
Imagens utilizadas na produção do meme disponíveis em: https://goo.gl/hP51YS e
http://www.tribunadonorte.com.br/. Acesso em: 30 de set. 2017
124
Podemos afirmar que esta complexidade faz com que, em alguns casos, os fatores
emocionais impeçam que o interagente se arrisque a utilizar uma língua adicional diante de
alguém que provavelmente possui mais conhecimento sobre ela e que poderá corrigi-lo.
Esperamos que a experiência em teletandem tenha sida válida para que os participantes se
aproximem e criem vínculos que possibilitem a quebra dos bloqueios, através de um contato
mais próximo com a língua, de forma a gerar compreensão de que os equívocos são necessários
para gerar ajustes e um melhor aproveitamento dos momentos de interação na língua-alvo.
Os dados gerados nesta terceira interação serviram para verificarmos que o uso das duas
línguas se manteve equilibrado, conforme mostra o gráfico 3. Notamos também que os
interagentes se sentiram confortáveis para divergir de opinião entre eles, ao longo da conversa
(Quadro 12), bem como colaboraram entre eles para orientar e resolver as dúvidas do parceiro.
Destacamos que produção do texto multimodal meme foi bem-sucedida. Por último,
relacionamos o complexo processo de ensino-aprendizagem de línguas adicionais com alguns
comportamentos dos interagentes.
Como continuidade do trabalho realizado, para o último momento de interação, foi
proposta uma discussão sobre as tradições dos lugares nos quais vivem os participantes e
também solicitamos a elaboração de uma tirinha sobre a experiência de realização do conjunto
125
de atividades proposto que teve por objetivo fazê-los refletir, discutir e produzir textos
multimodais sobre a integração entre os países latino-americanos, considerando o teletandem
como espaço de interação intercultural em que o tema pode ser trabalhado com vistas a
proporcionar uma experiência real de contato com o falante nativo da língua que se deseja
aprender.
Figura 28- Site escolhido por João para apresentar as festas típicas de Rosario.
Fonte: https://diariodoturismo.com.br
João optou por indicar um site de turismo escrito em Língua Portuguesa (Figura 28) no
qual é possível encontrar várias informações a respeito da cidade de Rosario. A página contém
indicações de hotéis, restaurantes e pontos turísticos, além de uma lista dos meios de transporte
disponíveis no local e o custo médio da viagem para quem mora no Brasil.
126
Ingrid escolheu um vídeo disponível no youtube sobre a festa de São João de uma cidade
paraibana, o material mostra imagens do local tradicionalmente e traz como trilha sonora o forró
que é um ritmo predominante nas festas juninas do Nordeste. Através deste material é possível
vislumbrar como costumam celebrar as festas dessa época do ano em várias cidades do
Nordeste.
Figura 29- Vídeo escolhido por Ingrid para mostrar como são as festas juninas
Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=nn8AUw37h_w.
Existem muitos outros pratos típicos e também outras festas pertencentes à cultura do
Brasil e da Argentina, mas os participantes destacaram aquelas que fazem parte da vivência
deles. Conforme verificamos nas respostas dos interagentes, quando os questionamos sobre as
festas típicas do país onde vive o companheiro de teletandem, João respondeu que a principal
festa é o São João e que “Ingrid gosta muito de dançar forró e quadrilha, mas ela também gosta
de participar do carnaval”. Ele falou apenas das festas que a companheira de teletandem
aprecia, porém isso não significa que todos os brasileiros gostam destas festas e nem que elas
são as únicas existentes no Brasil.
É importante enfatizar que estas respostas são resultado da conversa que eles tiveram
sobre as festas e comidas típicas do lugar onde vivem. A partir disso, percebemos que ler sobre
uma festa junina ou de carnaval em um material didático desperta sensações e curiosidades
diferentes daquelas que são aguçadas, por exemplo, quando ouvimos alguém contar sobre suas
próprias experiências nas palhoças de forró, ao redor das fogueiras, escutar os relatos de como
o indivíduo se sente ao som dos fogos de artifício e degustando as comidas feitas com milho.
Por proporcionar este tipo de diálogo que nos aproxima mais do outro e nos ajuda a
compreender outra visão de mundo além da nossa, acreditamos que o teletandem pode se
enquadrar nos estudos em linguística aplicada por meio dos quais é possível “dar voz aos que
não têm” (MOITA LOPES, 2006), já que através destas interações, o próprio aprendiz fala e
ensina ao outro, por meio da sua experiência como usuário da língua adicional, que o
companheiro deseja aprender. A responsabilidade, que antes era atribuída apenas ao professor,
é compartilhada por duas pessoas que passam a ter voz.
Mesmo que a visão apresentada pelos interagentes seja particular, ela é válida, pois
permite que as culturas ganhem voz e os participantes de cada uma delas sejam os protagonistas
tanto do processo de ensino-aprendizagem, quanto da exposição do que eles vivenciam.
Observamos que o mesmo processo aconteceu ao perguntarmos sobre as comidas típicas dos
128
lugares onde eles vivem. Os participantes listam as comidas que o companheiro de interação
costuma consumir, conforme é possível verificar no quadro a seguir:
Figura 30- Respostas dos participantes sobre a culinária do lugar onde vive seu companheiro de interação
A culinária dos dois países é bastante variada, mas os interagentes apontam os pratos
que faz parte do cotidiano deles. Outra vez, cumpre ressaltar que experiências como esta podem
gerar um questionamento a respeito dos estereótipos e do quanto as informações podem variar
de acordo com a fonte que acessamos.
Ao falarmos da culinária argentina pode ser que nos recordemos, por exemplo, das
empanadas e do doce de leite. Porém, nenhum destes itens aparecem na lista mostrada na figura
30, pois o que os interagentes costumam consumir não se enquadra nas comidas mais
conhecidas, possivelmente são alimentos típicos das regiões onde moram, um exemplo disso é
o cuscuz que em algumas regiões do Brasil não é conhecido e nem faz parte da rotina alimentar,
porém, é destacado como um dos alimentos que fazem parte da rotina da interagente Ingrid.
Em um caso como este, o papel do mediador se torna importante para que não sejam
geradas impressões reducionistas que levem o interagente a acreditar que todas as pessoas
pertencentes aquele pais, região, estado ou cidade se alimentam, se vestem ou se comportam da
mesma forma que o seu parceiro de interação. Ilustramos a importância da mediação adequada
(VIGOTSKI, 2001, 2007, 2009), através do exemplo apresentado a seguir (Figura 31), tomando
por base os dados da quarta interação entre João e Ingrid.
129
Como resultado das quatro interações realizadas para execução da sequência didática
proposta, solicitamos que os interagentes produzissem uma tirinha sobre a experiência deles ao
longo das interações. A produção deles para atender nossa solicitação reafirma o que destacam
Araújo (2016) e Ribeiro (2016), pois os interagentes utilizaram imagens já disponíveis na
internet, com personagens criados por um cartunista, e preencheram os diálogos a partir das
conversas informais que eles tiveram usando um aplicativo de troca de mensagens (WhatsApp).
130
Nos chamou atenção o fato de que eles abordaram no texto a questão relacionada à fala,
justamente a habilidade que ambos destacaram como a mais difícil de aprender. Além de
retratarem uma dificuldade que está relacionada diretamente com as interações, eles
conservaram as características da tirinha enquanto gênero textual/discursivo, pois mesmo
discutinhdo algo sério, relacionado ao complexo processo de ensino-aprendizagem, eles
elaboraram a escrita de forma bem-humorada. Embora não tenham criado os personagens,
fizeram o processo de copiar e colar destacado por Navas (2010), que se torna prático a partir
da manipulação dos programas disponíveis na internet. A elaboração desta tirinha foi a última
atividade da sequência didática executada pelos participantes ao longo das quatro interações.
Ao longo da produção desta tirinha houve também o esclarecimento de dúvidas a
respeito dos seus personagens, pois o aluno argentino não conhecia a Turma da Mônica, criação
do cartunista brasileiro Maurício de Sousa, embora não tenhamos a gravação desta interação,
Ingrid explicou em uma das orientações, para a mediadora brasileira, que João havia perguntado
quem eram aqueles personagens.
Esse fato nos chamou atenção, não pela falta de conhecimento de João a esse respeito,
mas pelo espanto da sua parceira de interação, por acreditar que ele deveria conhecê-los, nas
131
palavras dela, em mensagem que enviou para a mediadora pelo WhatsApp, “acredita que ele
não conhecia a Turma da Mônica? Eu não ‘acledito’”. Duas coisas podem ser percebidas nesta
afirmação, o humor ao imitar a fala de um dos personagens e a expectativa de que o parceiro
tivesse conhecimento prévio sobre algo que não faz parte do cotidiano dele.
As questões levantadas ao longo deste último momento da sequência didática foram
relevantes para incentivar os interagentes a reconhecerem as diferenças existentes entre eles
para, a partir disso, desenvolverem atitudes de respeito ao outro e à sua cultura, de uma maneira
que possa proporcionar a convivência e o estreitamento dos laços entre pessoas que moram em
países diferentes, mas que, historicamente e geograficamente, estão próximos.
No tópico seguinte, apresentaremos algumas reflexões sobre a fala como uma habilidade
comunicativa que os interagentes destacaram como sendo difíceis de desenvolver ao longo do
processo de ensino- aprendizagem da língua adicional que se dispuseram a aprender.
3.5 Evolução dos participantes, em relação a habilidade linguística: fala, de acordo com o
feedback do parceiro de interação
Mediante o feedback que cada interagente deu sobre seu parceiro de interação, através
das fichas de acompanhamento (Apêndice E) preenchidas ao fim de cada encontro virtual, foi
possível visualizar o nível de desenvolvimento da fala dos participantes, do ponto de vista do
companheiro de interação. Pelo fato desta habilidade ter sido apontada pelos interagentes como
a mais difícil de desenvolver, decidimos apresentar alguns gráficos que sintetizam as respostas
de cada participante sobre o desempenho da fala do seu companheiro de interação em língua
adicional.
Cada gráfico apresentado se refere à uma das perguntas feitas na ficha de
acompanhamento em que os interagentes assinalaram as alternativas: sim, não e mais ou
menos, para indicar a realização de algumas atividades de fala na língua-alvo por parte do
colega. A primeira questão que destacamos foi a capacidade de manter uma discussão acerca
de tópicos cotidianos, utilizando a língua-alvo. De acordo com o gráfico a seguir, o feedback
da participante Ingrid mostra que João foi capaz de cumprir este critério de forma variada entre
o “sim” e o “mais ou menos”:
132
A outra pergunta que trazemos para esta análise se refere a capacidade de expressar
ideias e opiniões acerca de assuntos específicos, que se distanciam da conversa típica do dia-a-
dia, usando a língua adicional. Os interagentes mostraram certo nível de dificuldade em relação
ao desenvolvimento desta capacidade, principalmente por parte do interagente João. Porém, é
importante destacar que essas dificuldades podem favorecer o processo de ensino-
aprendizagem de línguas adicionais em contexto teletandem, no sentido de que ambos podem
aprender com suas falhas, tanto como alunos de LA, quanto como tutores do parceiro.
companheiro de interação foi capaz de pedir explicação utilizanda a Língua Espanhola em todos
os momentos necessários.
Gráfico 7- Capacidade do João, segundo avaliação da Ingrid, em pedir explicação, utilizando a Língua
Portuguesa, sobre as palavras ou expressões que não conhecia.
De acordo com a avaliação dos seus pares, diante do desafio de manter o fluxo da
conversa em língua adicional, ao interagir com um usuário mais competente, os interagentes
foram bem-sucedidos. Isto pode ser destacado como um ponto positivo, pois mostra que o
participante da interação está engajado o suficiente na atividade realizada em conjunto e sabe
solicitar o auxílio da mediação humana (SALOMÃO, 2012) e criar sua própria forma de
avançar do nível de conhecimento real para o nível de conhecimento potencial (VIGOTSKI
2001, 2007, 2009), sem que haja uma ruptura brusca no diálogo. Desta forma, todo o tempo da
conversa é aproveitado na construção do conhecimento da LA e no exercício do par de
interagentes na condição de aprendizes e de tutores do outro.
Ao observarmos os gráficos, percebemos que não houve nenhuma resposta apontando
para o fato de o companheiro de interação não haver atingido determinada capacidade na língua
adicional. Porém, a avaliação é subjetiva e não tivemos como foco descobrir até que ponto
realmente estas respostas das fichas correspondem ao que aconteceu ao longo da interação, uma
135
vez que nosso interesse foi perceber o engajamento dos interagentes e a capacidade de
colaboração entre eles, bem como as mudanças a partir da mediação adequada e de um contato
real com o outro.
Não descartamos a possibilidade de terem existido interferências no feedback de um
interagente em relação ao outro, devido ao aumento do nível de aproximação entre eles que foi
desenvolvido ao longo das interações, porém destacamos que mesmo correndo o risco de haver
parcialidade, a avaliação de um usuário mais competente da língua adicional é importante para
incentivar mudanças necessárias e motivar a continuidade do processo, levando em
consideração que a complexidade do ensino-aprendizagem compreende também a parte
psicológica e afetiva (MORIN, 2004), acreditamos que os sentimentos positivos gerados a partir
do contato com o outro podem servir para quebrar as resistências em relação a aceitação das
diferenças culturais e o recebimento das críticas como algo relevante.
Desta forma, encerramos este capítulo de análise, que consistiu em mostrar nossa
experiência ao longo de quatro interações em teletandem realizadas no projeto Intercult:
aprendizagem colaborativa e intercultural de línguas via teletandem. A seguir, apresentamos
algumas considerações sobre os dados que analisamos para verificar os objetivos que
conseguimos alcançar, bem como se foi possível confirmarmos as hipóteses que levantamos a
respeito do processo de ensino-aprendizagem via teletandem por alunos do Ensino Médio.
136
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Uma jornada teórico-reflexivo foi trilhada para que a experiência, aqui apresentada,
fosse possível. Tornar mais acessível o contato dos alunos brasileiros e argentinos, do Ensino
Médio, com falantes nativos das línguas que eles desejavam aprender, a saber, Língua
Espanhola e Língua Portuguesa, foi o que motivou a busca pelo teletandem como alternativa
para promover o ensino-aprendizagem através da interação intercultural. Como em todas as
atividades docentes, o planejamento foi extenso e muitas alternativas foram pensadas até a
decisão de que primeiro deveria ser aplicado um questionário que pudesse ajudar na missão de
traçar um perfil dos participantes da pesquisa no que diz respeito ao envolvimento deles com a
língua adicional a ser adquirida/aprendida e com as TDIC.
Algumas dificuldades foram encontradas para que os pares começassem as interações
pois, na maioria das vezes, os horários eram incompatíveis. Por este motivo, várias mudanças
de calendário foram realizadas e, de forma constante, foram feitas negociações a respeito de
dias e horários disponíveis. Além disso, enfrentamos muita burocracia, pois para que os alunos,
menores de idade, pudessem participar, as instituições às quais eles pertenciam e os pais deles
precisaram assinar vários documentos, isso atrasou um pouco o andamento das atividades.
Através da geração e análise dos dados deste estudo de caso, foi possível confirmar que
existe a possibilidade de intensificar a competência comunicativa intercultural, através da
mediação e da aprendizagem colaborativa, por meio da prática do teletandem, aproveitando as
tecnologias digitais disponíveis através da utilização de textos multimodais.
Para isso, elaboramos e aplicamos uma sequência didática que foi executada ao longo
de quatro interações. A análise dos dados gerados ao longo da pesquisa mostrou que os
participantes foram capazes de alcançar os objetivos que estabelecemos, alguns deles em parte
e outros de forma completa. Ingrid e João identificaram semelhanças e diferenças culturais
entre brasileiros e argentinos, se disponibilizaram a conhecer mais sobre o outro e sobre o
seu país. Através de um vídeo de curta duração, Ingrid foi capaz de apresentar o lugar onde
ela mora ao outro, João não produziu o vídeo, porém, forneceu feedback para a parceira.
Ambos apresentaram seu país de origem para o outro por meio de um texto
multimodal escolhido por eles mesmos na internet, além disso, refletiram juntos sobre a
necessidade de conhecer mais sobre os países vizinhos e, de forma colaborativa, elaboraram
uma lista de ações para se aproximar do outro por meio das TDIC disponíveis.
137
Além disso, João e Ingrid debateram sobre política e corrupção como temas que são
comuns aos brasileiros e aos argentinos e, como resultado, elaboraram memes sobre estes
temas, usando a língua-alvo em estudo. Ainda sobre as produções dos interagentes, eles
elaboraram juntos uma tirinha sobre a experiência de aprendizagem colaborativa.
Confirmamos nossa hipótese de que existe a possibilidade de promover a comunicação
de forma autêntica, através do uso dos textos multimodais, por meio da prática do teletandem,
aproveitando as tecnologias digitais disponíveis, tanto é assim que o nosso estudo de caso
mostrou que as interações foram capazes de despertar o engajamento dos participantes e fez
com que produzissem textos multimodais solicitados pelas mediadoras a partir da reflexão sobre
as problemáticas levantadas nas atividades propostas. Além disso, eles mostraram facilidade
para manipular as TDIC.
Reafirmamos, também, a ideia de que as interações através de videoconferência são uma
forma complementar que pode auxiliar na aquisição/aprendizagem do Espanhol e do Português
como línguas adicionais. A pesquisa que realizamos exigiu que os interagentes trabalhassem
juntos e manuseassem as ferramentas digitais de mediação, bem como permitiu que fossem
mediadores entre o colega de teletandem e a língua e cultura que seu parceiro deseja
aprender/adquirir.
As produções de Ingrid e João, bem como a própria interação em teletandem, exigiram
que as quatro habilidades linguísticas (fala, audição, leitura e escrita) fossem trabalhadas de
forma simultânea e integrada. Isso fez com que eles produzissem, em língua adicional, um
conteúdo que ultrapassa a apreensão de vocabulário e os exercícios escritos para preencher
lacunas, permitindo uma comunicação em situação real de uso da língua adicional.
Por fim, confirmamos que a prática em teletandem para ensino-aprendizagem de línguas
adicionais pode ser incorporada nas escolas de Ensino Médio como um meio para estimular o
engajamento do aluno através da colaboração. Porém, como já mencionamos, é preciso que
existam as ferramentas necessárias para isso e a mediação adequada.
Percebemos que este contexto extraclasse despertou nos participantes da pesquisa o
desejo de continuar estudando a língua adicional, por notarem que o uso das línguas não está
restrito ao ambiente escolar ou profissional, já que foi possível usar a língua adicional para criar
e manter laços, compartilhar gostos, histórias de vida, tanto é assim que eles formaram um
grupo de interação no WhatsApp por conta própria para ampliar as possibilidades de
comunicação.
138
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de tradição discursiva: um estudo com editoriais de jornais. Tese (Doutorado). Fortaleza:
PPGL-UFC, 2009.
APÊNDICES
150
fala
( ) falo muito bem
( ) falo bem
( ) falo pouco
audição
( ) entendo muito bem
( ) entendo bem
( ) entendo pouco
leitura
( ) leio muito bem
( ) leio bem
( ) leio pouco
escrita
( ) escrevo muito bem
( ) escrevo bem
( ) escrevo pouco
2. Para você o que signica estudar Espanhol?
4. Se você nunca esteve em um país que fala Espanhol, qual país você gostaria de visitar?
Por quê?
6. Qual das habilidades linguísticas (audição, fala, leitura e escrita) você tem mais
dificuldade para desenvolver?
7. Qual das habilidades linguísticas (audição, fala, leitura e escrita) você tem mais
facilidade para desenvolver?
9. O que você espera, quanto à sua aprendizagem da Língua Espanhola e quanto a sua
colaboração com a aprendizagem do outro colega participante?
151
a) Costuma assistir filmes pela internet? Que tipo de filmes você costuma assistir?
b) Costuma ver vídeos na internet? Que tipo de vídeos você costuma assistir?
c) Que tipo de música você prefere ouvir?
d) Além de filmes, vídeos e músicas, quais outras coisas você costuma fazer para se divertir
on-line?
e) Você usa a internet para estudar Espanhol? De que forma?
CUESTIONARIO – Para los participantes argentinos
Nombre completo:
Escolaridad:
E-mail:
1- Nivel de conocimiento del Portugués (lengua meta)
habla
( ) hablo muy bien
( ) hablo bien
( ) hablo poco
audición
( ) entiendo muy bien
( ) entiendo bien
( ) entiendo poco
lectura
( ) leo muy bien
( ) leo bien
( ) leo poco
escritura
( ) escribo muy bien
( ) escribo bien
( ) escribo poco
2. ¿Para vos qué significa estudiar Portugués?
Duração: 4 h- 4 interações
Objetivo geral:
· Promover a aprendizagem colaborativa através da aproximação entre um
interagente brasileiro e um interagente argentino, por meio de textos
multimodais, para estimular a competência comunicativa intercultural em
Espanhol e Português como línguas adicionais.
Objetivos específicos:
· Identificar semelhanças e diferenças culturais entre brasileiros e argentinos.
· Debater, com o colega interagente sobre política e corrupção como temas que
são comuns aos brasileiros e argentinos.
Conteúdos:
· Integração Latino-americana
154
Recursos didáticos:
· Computadores com acesso à internet.
· Webcam e microfone.
· Ambiente virtual de aprendizagem/Moodle.
· Fichas de acompanhamento.
· Textos multimodais disponíveis na Web.
Avaliação:
· Considerando a participação dos interagentes e o desenvolvimento das
atividades solicitadas, a avaliação terá caráter formativo. Além da
participação, a produção dos textos multimodais e preenchimento das fichas
de acompanhamento serão avaliados, pois são parte importante do processo
de aprendizagem colaborativa.
1º Encontro/ momento
Na primeira interação será realizado o primeiro momento da sequência didática
no qual os interagentes serão apresentados ao tema integração latino-americana
por meio de uma tirinha da página do personagem Armandinho no Facebook.
Após estudo sobre o texto, será realizada a primeira atividade que consiste em
responder perguntas sobre a integração entre o Brasil e os países vizinhos.
155
2º Encontro/momento
No segundo momento da sequência didática será apresentado o clip da música
Latinoamérica, a partir dele os interagentes responderão questões sobre os pontos
comuns que existem entre os países latino-americanos que são abordados na
canção e produzirão vídeos de apresentação do lugar onde vivem para o
companheiro de interação.
3º Encontro/momento
No terceiro momento será feita uma atividade com base em dois memes que
tratam sobre corrupção, um deles brasileiro da página do Bode Gaiato no
Facebook e outro argentino produzido pelo blog Chistepolitico, a partir deles será
solicitado que os participantes conversem sobre a situação política de cada país,
bem como sobre as medidas que podem ser tomadas para combatê-la, além disso
eles irão elaborar um meme sobre o mesmo tema dos textos estudados.
4º Encontro/momento
No quarto momento será proposto um exercício sobre as festas típicas e as belezas
naturais dos lugares onde vivem os interagentes, a partir disso eles buscarão na
internet, e compartilharão com o companheiro de interação, vídeos sobre
manifestações culturais de cada país e das cidades onde vivem. Para finalizar a
sequência, neste último encontro virtual será realizado o último momento da
sequência didática no qual se realizará o trabalho final que consiste na elaboração
de uma tirinha sobre a experiência de aprendizagem, para verificar as impressões
dos envolvidos a respeito da compreensão do tema trabalhado e das interações
realizadas entre eles.
Referências
ARAÚJO, J. Reelaborações de gêneros em redes sociais. In: ARAÚJO, J e
LEFFA, V. Redes sociais e ensino de línguas: o que temos de aprender? São
Paulo: Parábola Editorial, 2016, p. 49- 64.
156
RIBEIRO, Ana Elisa. Textos multimodais: leitura e produção. 1. ed. São Paulo:
Parábola Editorial, 2016.
A atividade seguinte contém perguntas que você deve responder sozinho e outras que você deve
responder com a ajuda do seu parceiro de teletandem.
Fonte: goo.gl/QCn5bp
1- Faça uma lista dos costumes dos brasileiros que você conhece.
As perguntas que seguem devem ser respondidas em cooperação com seu colega de
interação
7- De acordo com as respostas dele ou dela, você consegue perceber se existem alguns pontos
em comum entre vocês? Quais?
8- Ainda considerando a resposta dele ou dela, quais atividades você acha que seria possível
realizar em parceria com seu colega de teletandem, para que ambos conheçam melhor o lugar
onde o outro vive e possam compartilhar seus conhecimentos sobre Espanhol e Português?
158
La actividad que sigue contiene preguntas que deben ser respondidas por vos mismo y otras
que debes responder con la ayuda de tu pareja de teletandem.
Fonte: goo.gl/QCn5bp
1- Hace una lista de las costumbres de los argentinos que vos conocés.
7- De acuerdo con las respuestas que te ha dado tu pareja, se puede ver si hay algunos puntos
en común entre ustedes? ¿Cuáles?
8 Aún teniendo en cuenta las respuestas anteriores, ¿qué actividades creés que es posible llevar
a cabo en colaboración con su compañero de Teletandem, que sea mejor para saber dónde vive
la otra pareja de interacción y para compartir sus conocimientos de español y portugués?
159
Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=DkFJE8ZdeG8
1- Quais são os pontos em comum entre os países latino-americanos que são abordados na
música?
2- O que você entendeu sobre o refrão da música? Consegue relacionar o refrão a alguma
questão histórica importante que seja comum aos países latino-americanos?
3- Em colaboração com seu parceiro de teletandem, escreva uma lista das belezas que podem
ser encontradas no Brasil e na Argentina.
4- Ainda em colaboração com seu parceiro, responda: Com tantos pontos em comum, como
estabelecer uma relação melhor com nossos vizinhos de país?
5- Grave um vídeo curto, contando para o seu companheiro de interação como é o seu país e a
sua cidade. Se possível, mostre pontos da sua cidade que você acha importante para que ele
conheça um pouco mais sobre o lugar onde você vive. O vídeo deve ser compartilhado na
próxima interação.
160
Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=DkFJE8ZdeG8
1- ¿Cuáles son los puntos comunes entre los países de América Latina que son mencionados en
la música?
2- ¿Qué entiendes por el coro de la canción? ¿Se puede relacionar el refrán a algún hecho
histórico importante común a los países de América Latina?
3- En colaboración con tu pareja de teletandem, escribe una lista de las bellezas que se pueden
encontrar en Brasil y Argentina.
4- En colaboración con tu pareja, responde: ¿Con tantos puntos en común, cuáles son las formas
de establecer una mejor relación con nuestros vecinos de otros países?
5- Graba un vídeo de corta duración presentando Brasil y la ciudad donde vivís a tu pareja de
teletandem. Si es posible, expone los puntos de tu ciudad que vos piensas que es importante
para él aprender un poco más sobre el lugar donde vivís. El video debe ser compartido en la
próxima interacción.
161
Faça uma leitura atenta dos memes abaixo. Caso haja dúvidas para compreender, consulte seu
parceiro de interação.
Fonte: goo.gl/iKbIIO
Fonte: goo.gl/8Ww2UO
162
1- Com base no tema dos textos acima, comente sobre as consequências sofridas pelas
sociedades nas quais existe corrupção.
2- Converse com seu parceiro de teletandem sobre a situação política atual do seu país,
estabelecendo uma conexão com os memes que você leu. Em seguida, listem algumas atitudes
que podem ser tomadas para combater a corrupção nos países nos quais vocês moram.
3- Elabore, em Português, pelo menos um meme que tenha por tema a corrupção política do
país em que vive o seu colega de interação, com base nas informações que ele forneceu para
você na questão anterior.
Hace una lectura cuidadosa de los memes de abajo. Si existen dudas de entender, habla con tu
compañero de interacción
Fonte: goo.gl/iKbIIO
163
Fonte: goo.gl/8Ww2UO
1- Basado en el tema de los textos anteriores, lista las consecuencias sufridas por los países en
los que existe corrupción.
2- Habla con tu pareja de teletandem sobre la actual situación política de tu país, estableciendo
una conexión con los memes. Después, enumera algunas acciones que se pueden tomar para
combatir la corrupción en los países en los que viven.
3- Elabora, en español, por lo menos un meme que tenga por tema la corrupción política en el
país en que vive tu pareja de interacción, basado en las informaciones que le proporciona la
pregunta anterior.
1- Escreva e fale para o seu companheiro de interação quais são as festas típicas do lugar onde
você mora.
2- Ainda sobre o lugar onde você mora, escreva e diga ao seu companheiro de interação quais
as comidas típicas que você mais gosta.
164
3- Pergunta e escreve quais são as comidas típicas do lugar onde vive seu companheiro de
interação.
4- Escreva quais são as festas e atividades culturais das quais seu companheiro de interação
gosta de participar.
5- Busca na internet uma manifestação cultural que você ache interessante para apresentar para
o seu companheiro de interação. Coloque o link aqui e no grupo do whatsapp.
6- Elabore, junto com seu parceiro de interação, uma tirinha que sintetize a experiência de vocês
ao longo das interações em teletandem e comente de que forma experiências como essa podem
contribuir par aproximação entre os povos latinos.
1- Escribe y dile a tu compañero de interacción cuales son las fiestas típicas del lugar donde
vivís.
2- Aun sobre el lugar donde vivís, escribe y habla a tu compañero de interacción cuales son las
comidas típicas que más te gustan.
3- Pregunta y escribe cuales son las comidas típicas del lugar donde vive tu compañero de
interacción.
4- Escribe cuales son las fiestas y actividades culturales que prefiere tu compañero de
interacción.
5- Busca en internet una manifestación cultural que te parece interesante para presentar a tu
compañero de interacción. Pone el link acá y en el grupo de whatsapp.
6- Elabora, junto a tu pareja de interacción, una tirita que sintetiza la experiencia que tuvieron
a lo largo de las citas virtuales em teletandem y comenta de qué manera experiencias como esas
pueden contribuye para el acercamiento de los pueblos latinos.
165
Nome:___________________________________________________________________
Vocabulário
Pronúncia
Costumes/cultura
1- Entender o que eu falava sem pedir que eu repetisse em ritmo mais lento com muita
frequência e manter uma discussão acerca de tópicos cotidianos.
Sim ( )
Não ( )
Mais ou menos ( )
2- Expressar ideias e opiniões acerca de assuntos específicos, que se distanciam da
conversa típica do dia-a-dia.
Sim ( )
Não ( )
Mais ou menos ( )
3- Expressar bem suas ideias em Língua Portuguesa.
Sim ( )
Não ( )
Mais ou menos ( )
4- Pronunciar palavras de modo claro para que eu entendesse sem esforço.
Sim ( )
Não ( )
Mais ou menos ( )
166
Nombre:____________________________________________________________________
Vocabulario
Pronunciación
Costumbres/cultura
1- Comprender lo que yo estaba hablando sin pedir que repitiese a un ritmo más lento
muy a menudo y mantener una discusión acerca de temas cotidianos.com muita
frequência e manter uma discussão acerca de tópicos cotidianos.
Sí ( )
No ( )
167
Más o menos ( )
2- Expressar ideias y opiniones acerca de asuntos específicos.
Sí ( )
No ( )
Más o menos ( )
3- Expresar bien tus ideas en lengua española.
Sí ( )
No ( )
Más o menos ( )
4- Pronunciar palabras de modo claro para que yo entendiera sin esfuerzo.
Sí ( )
No ( )
Más o menos ( )
5- Mantener la conversación en determinado ritmo y sin interrumpir bruscamente tu
producción oral.
Sí ( )
No ( )
Más o menos ( )
6- Explicar en español lo que querias decir cuando no sabias las palabras y expresiones
exatas para expresar tus ideas.
Sí ( )
No ( )
Más o menos ( )
7- Percibir en mi habla palabras o expresiones que no conocías.
Sí ( )
No ( )
Más o menos ( )
168
ANEXOS
214
Assinatura:
Nome legível:
Endereço:
RG.
Fone:
Data _______/______/______
Data _______/______/______
................................................................................
Assinatura do(a) pesquisador(a) responsável
216
Término de Asentamiento
Adolescente; y Articulo 27 del Código Penal Brasileño; sin perjuicio de los Artículos 3º, 4º y
5º del Código Civil Brasileño.
Firma:
Nombre legible:
Dirección:
Documento de Identidad.
Teléfono:
Fecha _______/______/______
Fecha _______/______/______
................................................................................
Firma del investigador responsable
218
Patos, ___/___/2017
Eu, ______________________________________________________________,
AUTORIZO o(a) Prof(a) Ana Caroline Pereira da Silva, coordenador(a) da pesquisa intitulada
“MULTIMODALIDADE NA APRENDIZAGEM COLABORATIVA DE PORTUGUÊS E
ESPANHOL COMO LÍNGUAS ADICIONAIS” a fixar, armazenar e exibir a minha imagem
por meio de vídeo com o fim específico de inseri-la nas informações que serão geradas na
pesquisa, aqui citada, e em outras publicações dela decorrentes, quais sejam: revistas científicas,
jornais, congressos, entre outros eventos dessa natureza.
Assegurou-me, também, que serei livre para interromper minha participação na pesquisa
a qualquer momento e/ou solicitar a posse de minhas imagens.
Ademais, tais compromissos estão em conformidade com as diretrizes previstas na
Resolução Nº. 466/12 do Conselho Nacional de Saúde do Ministério da Saúde/Comissão
Nacional de Ética em Pesquisa, que dispõe sobre Ética em Pesquisa que envolve Seres
Humanos.
Patos, ___/___/2017
Al responsable legal por el (la) menor de edad solo cabrá la autorización para participar de las
interacciones en el teletandem y realizar cualquier actividad relacionada a ellas y responder los
cuestionarios, y no habrá ningún riesgo o incómodo al voluntario.
Será garantizado el sigilo de los resultados obtenidos en este trabajo, asegurando de esta forma
la privacidad de los participantes en mantener dichos resultados en carácter confidencial.
No habrá ningún costo o carga financiera a los participantes voluntarios de este proyecto
científico, tampoco habrá cualquier procedimiento que pueda incurrir en daños físicos o
financieros al voluntario, y, por lo tanto, no habría la necesidad de indemnización por parte del
equipo científico ni de la institución responsable.
De esta forma, una vez leídas y entendidas dichas aclaraciones, y por estar de pleno acuerdo
con el tenor de las mimas, fecho y firmo este termino de consentimiento libre y aclarado.
Rosario, ___/___/2017
Yo,______________________________________________________________,
AUTORIZO al/a la Profesor(a) Ana Caroline Pereira da Silva, coordinador(a) de la
investigación intitulada “MULTIMODALIDADE NA APRENDIZAGEM COLABORATIVA
DE PORTUGUÊS E ESPANHOL COMO LÍNGUAS ADICIONAIS” a fijar, almacenar y
exhibir mi imagen por medio de vídeo con el fin específico de insertarlo en las informaciones
que se generarán en la investigación aquí citada, y en otras publicaciones de ella decurrentes,
tal cual: revistas científicas, diarios, congresos, u otros eventos de esa naturaleza.
La presente autorización abarca, exclusivamente, el uso de mi imagen para los fines aquí
establecidos y deberá siempre preservar mi anonimato. Cualquier otra forma de utilización y/o
reproducción debe ser autorizada por mí, teniendo en cuenta el Artículo 5º, X e XXVIII,
apartado “a” de la Constitución Federal de 1988.
La investigadora responsable, Ana Caroline Pereira da Silva, me aseguró de que los datos serán
almacenados en medio electrónico, bajo su responsabilidad, por 5 años y, después de ese
período, serán destruidos.
Rosario, ___/___/2017
(OBS: para o caso de pessoas maiores de 18 anos e que não estejam inseridas nas
hipóteses de vulnerabilidade que impossibilitam o livre discernimento com autonomia
para o exercício dos atos da vida civil).
- Será garantido o sigilo dos resultados obtidos neste trabalho, assegurando assim a privacidade
dos participantes em manter tais resultados em caráter confidencial.
- Não haverá qualquer despesa ou ônus financeiro aos participantes voluntários deste projeto
científico e não haverá qualquer procedimento que possa incorrer em danos físicos ou
financeiros ao voluntário e, portanto, não haveria necessidade de indenização por parte da
equipe científica e/ou da Instituição responsável.
- Ao final da pesquisa, se for do meu interesse, terei livre acesso ao conteúdo da mesma,
podendo discutir os dados, com o pesquisador, vale salientar que este documento será impresso
em duas vias e uma delas ficará em minha posse.
- Desta forma, uma vez tendo lido e entendido tais esclarecimentos e, por estar de pleno acordo
com o teor do mesmo, dato e assino este termo de consentimento livre e esclarecido.
225
Patos, ___/___/2017
_______________________________
________________________
Assinatura do Participante
pesquisa).
226
Eu, ______________________________________________________________,
AUTORIZO o(a) Prof(a) Ana Caroline Pereira da Silva, coordenador(a) da pesquisa intitulada
“MULTIMODALIDADE NA APRENDIZAGEM COLABORATIVA DE PORTUGUÊS E
ESPANHOL COMO LÍNGUAS ADICIONAIS” a fixar, armazenar e exibir a minha imagem
por meio de vídeo com o fim específico de inseri-la nas informações que serão geradas na
pesquisa, aqui citada, e em outras publicações dela decorrentes, quais sejam: revistas científicas,
jornais, congressos, entre outros eventos dessa natureza.
Assegurou-me, também, que serei livre para interromper minha participação na pesquisa
a qualquer momento e/ou solicitar a posse de minhas imagens.
Ademais, tais compromissos estão em conformidade com as diretrizes previstas na
Resolução Nº. 466/12 do Conselho Nacional de Saúde do Ministério da Saúde/Comissão
Nacional de Ética em Pesquisa, que dispõe sobre Ética em Pesquisa que envolve Seres
Humanos.
Patos, ___/___/2017
financieros al voluntario, y, por lo tanto, no habría la necesidad de indemnización por parte del
equipo científico ni de la institución responsable.
- Ante cualquier duda o solicitud de aclaraciones, el participante podrá contactar al equipo
científica por el número (+55 83 999198624) con Ana Caroline Pereira da Silva.
- Al final de la investigación, si fuere de mi interés, tendré libre acceso al contenido de la misma,
con posibilidad de discutir los datos con el investigador. Cabe destacar que este documento será impreso
en dos vías, una de las cuales quedará en mi posesión.
- De esta forma, una vez que fueron leídas y entendidas las aclaraciones, y por estar de pleno
acuerdo con el tenor de las mismas, fecho y firmo este término de consentimiento libre y aclarado.
Rosario, ___/___/2017
_______________________________
Firma del investigador responsable
________________________
Firma del Participante
Yo,______________________________________________________________,
AUTORIZO al/a la Profesor(a) Ana Caroline Pereira da Silva, coordinador(a) de la
investigación intitulada “MULTIMODALIDADE NA APRENDIZAGEM COLABORATIVA
DE PORTUGUÊS E ESPANHOL COMO LÍNGUAS ADICIONAIS” a fijar, almacenar y
exhibir mi imagen por medio de vídeo con el fin específico de insertarlo en las informaciones
que se generarán en la investigación aquí citada, y en otras publicaciones de ella decurrentes,
tal cual: revistas científicas, diarios, congresos, u otros eventos de esa naturaleza.
La presente autorización abarca, exclusivamente, el uso de mi imagen para los fines aquí
establecidos y deberá siempre preservar mi anonimato. Cualquier otra forma de utilización y/o
reproducción debe ser autorizada por mí, teniendo en cuenta el Artículo 5º, X e XXVIII,
apartado “a” de la Constitución Federal de 1988.
La investigadora responsable, Ana Caroline Pereira da Silva, me aseguró de que los datos serán
almacenados en medio electrónico, bajo su responsabilidad, por 5 años y, después de ese
período, serán destruidos.
Rosario, ___/___/2017
Latinoamérica
Calle 13
Soy
Soy lo que dejaron
Soy toda la sobra de lo que te robaron
Un pueblo escondido en la cima
Mi piel es de cuero por eso aguanta cualquier clima
Soy una fábrica de humo
Mano de obra campesina para tu consumo
Frente de frio en el medio del verano
El amor en los tiempos del cólera, mi hermano
El sol que nace y el día que muere
Con los mejores atardeceres
Soy el desarrollo en carne viva
Un discurso político sin saliva
Las caras más bonitas que he conocido
Soy la fotografía de un desaparecido
La sangre dentro de tus venas
Soy un pedazo de tierra que vale la pena
Soy una canasta con frijoles
Soy maradona contra inglaterra anotándote dos goles
Soy lo que sostiene mi bandera
La espina dorsal del planeta es mi cordillera
Soy lo que me enseño mi padre
El que no quiere a su patria no quiere a su madre
Soy américa latina
Un pueblo sin piernas pero que camina, oye