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Five Nights at Freddy’s:

Fazbear do Terror #2
Fetch

Esta é uma tradução gratuita, elaborada e disponibilizada pela equipe da


Phantasie Translate. Se você pagou por ela, você foi enganado.
EPÍLOGO: O FANTASMA
REMENDADO PT. 2

P
uro Osso nem sempre estava lúcido.
Na verdade, mentir não é algo muito legal. O fato era que Puro
Osso raramente estava lúcido. Ficar lúcido fazia seus dentes doerem.
Seus dentes doíam quando seus olhos e ouvidos doíam. Quando estava lúcido,
o mundo tinha esse jeito de agredir seus olhos e ouvidos. Era tudo muito
intenso, demais. Puro Osso preferia ficar de boa em seu próprio mundo, onde
as vozes em sua cabeça governavam, mesmo quando sabia que eram loucura.
Os dentes de Puro Osso doeram naquela noite.
Nas sombras, recostado na lateral de ferro de um galpão junto aos
trilhos do trem, Puro Osso puxou sua coberta de acrílico cor-de-rosa para
mais junto do corpo. Embora a coberta estivesse úmida e não fornecesse nada
de calor, ela o confortava. Além disso, como não estava só suja — estava tão
imunda que era preciso descascar a coberta com a unha para encontrar algum
vestígio do rosa, — ela o camuflava. Camuflagem era bom. Desde que
abandonara sua vida, ele vinha fazendo tudo o que podia para ser invisível: se
curvava de forma que seus 1,72 de altura ficassem bem menores; comia só o
suficiente para manter a pele presa aos ossos; cobria seus cabelos castanhos
longos e oleosos com um chapéu de aba cinza; escondia seu rosto embaixo de
uma barba emaranhada. E desistiu de seu nome pelo apelido que lhe fora
dado. Tornou seu objetivo passar despercebido.
Especialmente agora, ele não queria ser visto. De jeito nenhum. Nem
pensar.
Não queria ser visto porque não gostava das pancadas ruidosas. E não
gostava do que estava vendo. Estava vendo coisas sinistras, coisas que faziam
seus dentes doerem.
Pelos últimos cinco minutos, o olhar de Puro Osso estivera voltado para
os trilhos do trem. Ou melhor, — a verdade era importante, — não para os
trilhos em si, mas para o que estava nos trilhos. O que estava nos trilhos o
estava perturbando fortemente.
Nos trilhos, iluminado pelo brilho periférico da luz de um poste, uma
figura encapuzada estava mexendo numa série de objetos bizarros. A figura
estava ligeiramente arcada e se mexia num estranho movimento mecânico que
lembrava Puro Osso de como as pessoas andavam após desembarcarem de um
barco. Puro Osso estava apenas a uns cinco metros do sujeito encapuzado,
mas podia ver claramente tanto a figura quanto o que estava coletando.
A pessoa parecia alheia a Puro Osso, como se não o tivesse notado, e
Puro Osso pretendia que continuasse assim. Os dentes de Puro Osso queriam
bater, seu corpo queria tremer, mas ele se forçou a permanecer totalmente
imóvel enquanto observava a figura misteriosa batendo em alguma coisa com
o que parecia um pé-de-cabra de trinta centímetros com um cabo amarelo
brilhante. O cabo amarelo ficava soltando peças de alguma coisa que Puro
Osso não conseguia identificar. Até então, ele o vira coletar um maxilar
articulado, uma fileira irregular do que pareciam dentes humanos cheios de
sangue, olhos humanos mutilados, vários parafusos, o conector de um
computador e pedaços de metal com tufos de pelo verde escuro.
Agora, ele continuou observando enquanto a figura pegava um e então
dois objetos verdes alongados. O que era aquilo?
Como se respondendo à pergunta interna de Puro Osso, a figura ergueu
as peças. Mesmo na luz parca, Puro Osso imediatamente conseguiu discernir
o que eram. Em sua vida anterior, ele costumava ser professor e, mesmo com
a velocidade com que seus neurônios vinham se deteriorando, ainda tinha
muitos à disposição.
Orelhas de coelho verdes.
Ah, seus dentes.
A figura voltou a mexer nos trilhos, até que tirou deles um grande pé de
coelho de metal.
Puro Osso teve que admitir a si mesmo que estava ligeiramente curioso
com relação ao que a figura estava fazendo. Seu senso de autopreservação, no
entanto, era mais forte. Então continuou ali sentado, os dentes doendo, tão
inerte quanto os pedaços de detrito que a figura estava coletando, até que a
figura pôs as peças escavadas numa sacola e desapareceu em meio à
escuridão.

O Detetive Larson bateu na porta de um casarão marrom de um só


andar que ficava logo ao lado de um sobrado com quatro vezes seu tamanho.
Ele olhou para a varanda muito bem-cuidada na qual estava. Parecia ter
acabado de ser pintada. Notou que a casa inteira estava numa condição
semelhante. Mas a tinta e o asseio não estavam tendo o que provavelmente era
o efeito pretendido. A casa diante da qual estava parado parecia diminuta, não
só em comparação à vizinha maior e mais vistosa, mas no geral. Se casas
tivessem rostos, essa estaria com cara de derrotada.
Uma porta pivotante se abriu diante de Larson. Uma jovem mulher
bastante bonita com olhos grandes quase como os de um desenho animado e
cabelos castanhos na altura dos ombros fitou o detetive sem absolutamente
interesse nenhum.
— Sim?
— Senhora, sou o Detetive Larson. — Ele mostrou o distintivo para a
mulher. Ela olhou para ele com a mesma atenção com a qual olhara para o
detetive. — Como parte de uma investigação de rotina em progresso, preciso
dar uma olhada nas instalações. Possui alguma objeção?
Ela o encarou com os olhos semicerrados. Ele achou ter visto o brilho
de algo que estava dormente em seu olhar, como se ela tivesse uma fagulha
que fora quase, mas não completamente extinguida. Ele se perguntou se essa
fagulha estava para acender uma objeção à sua entrada. Larson não sabia o
que faria se esse fosse o caso, pois não tinha um mandado.
A mulher deu de ombros.
— Pode entrar.
Atravessando a entrada em direção à uma sala meticulosamente limpa e
organizada, ele olhou em volta e viu que a pequena cozinha e a sala de jantar
estavam em condição semelhante — isso apesar do fato de que a casa tinha
pelo menos quatro gatos, todos empoleirados em uma série de exibições de
posse ao topo da mobília ou em poças de sol nos tapetes de chão trançados.
— Sou a Margie — disse a mulher. Ela lhe ofereceu a mão.
Larson a apertou. Estava fria e flácida.
Ela lhe ergueu o olhar, uma sobrancelha erguida, como se estivesse
esperando que ele respondesse a uma pergunta que sequer fora feita. Ele lhe
abriu um sorriso, mas não disse nada. Ficou se perguntando o que ela via
quando olhava para ele. Via o sujeito de aparência decente, com seus trinta e
poucos anos que ele costumava ver em si mesmo ou via as linhas profundas
que se formavam ao redor de sua boca e seus olhos, que eram tudo o que ele
conseguia ver agora que vira seu rosto de relance num espelho mais adiante?
Ela desviou o olhar, pousando os olhos em dois dos gatos. Ela franziu o
cenho e balançou a cabeça.
— Desculpa por todos os gatos. Não sei bem como isso aconteceu.
Ganhei um para me fazer companhia depois que... hm, bem, só para me fazer
companhia. Acontece que era uma fêmea, e ela estava grávida. Não consegui
suportar a ideia de doar os quatro filhotinhos. Me sentia como se fosse a mãe
dele e isso seria abandono. Então, aqui estou. A louca dos gatos. — Ela deu
uma risada seca e então tossiu.
Larson teve a impressão de que ela costumava rir bastante, mas que
perdera a prática recentemente. Perguntou-se o que acontecera com ela. Ficou
tentado a perguntar, mas não era por isso que estava ali.
Larson começou a andar pela casa. Margie o seguiu.
— Há quanto tempo você mora aqui? — perguntou ele. Percebera que
conversar com os moradores os distraía enquanto ele checava suas casas. Isso
lhe dava mais tempo de bisbilhotar antes que eles começassem a ficar
desconfortáveis ou até na defensiva.
— Faz só uns três anos. — Sua voz travou entre “três” e “anos”.
Ele lhe lançou um olhar.
Ela soava como se fosse chorar, mas seus olhos estavam secos e seu
rosto estava plácido.
— Fui contratada para cuidar de um menino doente enquanto seu pai
servia em outro país. Ele faleceu e eu fiquei com a casa.
O pai ou o menino?, ponderou Larson. Mas não fez a pergunta.
Larson chegou a um pequeno corredor com três portas. Um quinto gato
apareceu de dentro da última porta. Tinha os pelos malhados num tom de
cinza e se sentou no meio do corredor, onde começou a se lamber.
Larson deu uma olhada num pequeno banheiro brilhante e então num
quarto de tamanho bastante decente, obviamente o que a mulher usava. Um
robe amarelo felpudo estava cuidadosamente dobrado aos pés de uma cama
tamanho queen e uma série de cosméticos estava alinhada tão cuidadosamente
quanto numa penteadeira. Fora esses toques, ele achou que o quarto passava
uma sensação distintamente masculina.
Larson decidiu não comentar sobre o relacionamento entre a mulher e o
empregador falecido, qualquer que tivesse sido esse relacionamento. Não
precisava arriscar irritá-la. Ele avançou pelo corredor.
A casa antiga estremecia e rangia, emitindo um som que mais parecia
um gemido. Por um momento, teve a impressão de que Maggie vacilou frente
ao barulho.
Um gato cinza escuro serpenteou pelo corredor, cheirou o malhado e
então se esfregou na parte de trás das calças de Larson. Ele se agachou e deu
uma coçadinha atrás das orelhas dele. Sabia que ia se arrepender depois. Era
alérgico a gatos, mas ainda gostava deles.
Entrando no que obviamente era o segundo quarto, Larson olhou para a
cama de solteiro no meio do cômodo. Fora a cama, o quarto tinha apenas um
pequeno armário.
Não sabia bem o que pensar sobre aquele quarto, mas se sentiu
compelido a ficar nele. Especificamente, o armário lhe chamou a atenção.
Junto a ele, Margie estava quieta. Estava perto o suficiente para que ele
sentisse o cheiro do que imaginou ser seu sabão ou xampu. Tinha um aroma
de limpeza e frescor, nada pesado ou sedutor como um perfume ou uma
colônia. Apesar da maquiagem que ela usava, Larson teve a impressão de que
Margie não ligava muito para a ideia de fazer as coisas para impressionar os
outros. Imaginou se era por isso que a havia achado atraente. Gostava da
transparência simples dela. Não, ela não estava abrindo a boca daquele jeito
irritante que testemunhas nervosas costumavam fazer, mas também não estava
tentando ser outra coisa. Ele podia notar.
Ele pigarreou enquanto dava a volta na cama em direção ao armário
que lhe chamara a atenção.
— Estamos perseguindo um suspeito no caso em progresso que eu tinha
mencionado. O caso está quase indo para a gaveta. Não tínhamos nenhuma
pista, pelo menos não até recentemente. Agora temos isso. — Ele levou a mão
ao bolso interno de sua jaqueta esportiva cinza e pegou uma foto, a qual
entregou para que Margie visse.
Margie não disse nada, mas seu rosto dizia bastante. Primeiro, ela
corou. Então, assim que suas bochechas ficaram rosadas, elas perderam toda a
cor e ela empalideceu. Seus olhos se arregalaram. Sua boca abriu de leve.
Pôde ouvir sua respiração acelerar.
A ponto de comentar sobre sua reação, o Detetive Larson se deteve,
surpreso, quando o gato malhado pulou na cama de solteiro.
— Desculpa — Margie voltou a dizer. Ela pegou o gato no colo. Ele
imediatamente começou a ronronar.
Larson não conseguiu se segurar. Ele se aproximou e o acariciou no
rosto. Subitamente notando que estava muito perto de Margie, ele voltou a
recuar um passo.
O armário estava bem a sua frente. Não se dera conta de que o havia
alcançado. Agora, precisava ver o que tinha dentro.
Ao mesmo tempo que se sentia atraído por ele, sentia também uma
inexplicável relutância para abrir a porta do armário. Ele espirrou.
— Perdão — disse.
— São os gatos — disse Margie.
— Não tem problema. — Ele estava mentindo. Se sentiria péssimo pelo
resto do dia.
Percebeu que estava desistindo de abrir o armário. O que era absurdo.
Então pegou o puxador do armário e abriu a porta.
O armário estava vazio, mas as paredes dentro dele não estavam.
Estavam cobertas de rabiscos negros toscos, um praticamente por cima do
outro. O que pareciam letras sem sentido feitas por um canetão grosso
cobriam praticamente cada centímetro do interior do armário. Larson não
conseguia ver o sentido por trás dos rabiscos, mas mesmo assim eles lhe
deram a mesma sensação que sentira quando olhara para os recentes relatórios
grotescos de mortes.
Larson se virou e olhou para Margie:
— O que aconteceu nessa casa?

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