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Tradução de
CLÓVIS MARQUES
Revisão técnica de
RAFAEL SANDO
E D I T O R A R E C O R D
RIO DE JANEIRO • SÃO PAULO
2006
ClP-Brasil. Catalogação-na-fonte
Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ
Fáber, Toby, 1965-
Fl 15s Stradivarius / Toby Fáber; tradução Clóvis Marques. - Rio
de Janeiro: Record, 2006.
CDD - 927.87219
06-0200 CDU - 929.787
ISBN 85-01-07057-2
PEDIDOS PELO REEMBOLSO POSTAL ASSOCIAÇÃO BRASIlCIRADC QIRCIT03 REPROORAHCOI
Introdução
13
Capítulo U m
C I N C O V I O LI N O S E U M V I O LO N C E LO
O Messias, o Viotti, o Khevenhtiller, o Paganini,
o Lipinski e o Davidov
19
Capítulo Dois
"OS V I O LI N O S I N C O M P A R A V E LM E N T E
M E LH O R E S D E C R E M O N A "
A dinastia Amati
27
Capítulo Três
" E L E JÁ E R A U M G É N I O "
Origens e evolução de Antonio Stradivari
41
Capítulo Quatro
' E L E R A R A M E N T E SE V E ST I A D E O U T R A F O R M A '
A época de ouro de Stradivari, seu declínio e morte
57
STRADIVARIUS
Capítulo Cinco
"TÃO ÚNICO E TÃO BELO"
Os violinos de Giuseppe Tartini e Paolo Stradivari
73
Capítulo Seis
" M E U V I O LI N O D E V E R E N D E R U M B O M D I N H E I R O "
Viotti e o seu Strad
85
Capítulo Sete
"AOS VIRTUOSES DO VIOLINO"
O príncipe Khevenhiiller, o conde Cozio, Joseph Bõhm eTarisio
103
Capítulo Oito
"A G R A N D E V I R A D A N A H I ST Ó R I A D O V I R T U O SI SM O "
Paganini, showman e negociante
115
Capítulo Nove
" T E N H O A Q U I C O M I G O 8 0 M I L F R A N C O S"
Vuillaume e o Hotel das Delícias
131
Capítulo Dez
" R E V E L A D O E M T O D A A SU A G L Ó R I A I N T A C T A "
O Messias mostra a que veio
141
SU MÁ RIO
Capítulo Onze
" E N C O N T R E M O SO LI STA D E SU A M A JE ST A D E "
Charles Davidov e seu violoncelo
147
Capítulo Doze
" U M A I M EN SA R ESER V A D E F O R Ç A "
Marie Hall, os Hill e a época eduardiana
159
Capítulo Treze
" Q U A L Q U E R Q U E SEJA O P R E Ç O "
Quatro Strads a caminho dos Estados Unidos
173
Capítulo Quatorze
" C O M O P O D E R E M O S V E N D E R I ST O ?"
Capítulo Quinze
" A Q U E L E SO M N Ã O P ARAVA D E J O R R A R "
O Davidov, o Paganini, o Khevenhiiller, o Viotti... e o Marie Hall
209
Capítulo Dezesseis
" U M ST R A D C O M O O U T R O Q U A LQ U E R "
Interpretando o Messias
221
12 STRAD IV ARIU S
Posfácio
231
Bibliografia e Fontes
255
índice
265
Agradecimentos
273
DESISTI DO VIOLINO quando saí da escola. Nos vinte anos desde então
transcorridos, acabei entendendo como ouvinte o que nunca havia
entendido como violinista medíocre — que os membros da família do
violino (principalmente o próprio violino, a viola e o violoncelo) são
indiscutivelmente os reis de todos os instrumentos. O violino, tão
enganosamente simples, é capaz ao mesmo tempo de reproduzir e ins-
pirar qualquer emoção imaginável, imitando o zurro de uma mula ou
emitindo uma melodia de tocante beleza. Lírico e expressivo ou estri-
dente e violento, é o rei da capacidade de adaptação; só a voz humana
pode comparar-se a ele. A seu lado, as oitenta e tantas notas do piano,
separadas por um semitom, podem torná-lo uma maravilha mecânica
da polifonia, mas onde fica a possibilidade de emocionar com oscila-
ções quase imperceptíveis de entonação ou volume? Quanto aos ou-
tros membros da orquestra—madeiras, metais, percussão —, os próprios
nomes já falam da modéstia de sua amplitude sonora.
I N TRO D U ÇÃ O 15
Todos os Strads têm nomes, frequentemente, como neste caso, derivados de um dono
anterior.
16 STRAD IVARIU S
que suas técnicas não foram preservadas pelos sucessores? Existe algu-
ma probabilidade de que um dia ele venha a ser suplantado? Se as res-
postas a essas perguntas estão em algum lugar, será certamente nos
próprios instrumentos de Stradivari. Ele fabricou mais de mil; tem-se
notícia da existência ainda hoje de 600.0 constante fascínio que exer-
cem é que faz a lenda Stradivarius. É um lugar-comum falar de artistas
que alcançam a imortalidade por meio de sua obra, mas haverá poucos
exemplos melhores do que este.
Seis Strads, então, serão os personagens centrais deste livro. Não
chegam a ser os instrumentos mais famosos de seu fabricante; nem estão
todos atualmente nas mãos de algum músico famoso. Mas ao longo
dos três últimos séculos foram ouvidos e admirados por milhões de
pessoas. Suas vidas, assim como as das pessoas por eles tocadas, ao mes-
mo tempo ilustram e contextualizam o enigma do caráter inimitável
de Stradivari. Este livro conta a história de cinco violinos, um violoncelo
e um génio.
Capí t ul o U m
C I N C O V I O LI N O S E U M V I O L O N C E L O
O MESSIAS
O VIOTTI
O KHEVENHÚLLER
O PAGANINI
O LIPINSKI
O DAVIDOV
' O S V I O LI N O S I N C O M P A R A V E LM E N T E
M ELH O R ES D E C R E M O N A "
A dinastia Amat i
sempre atrás das últimas informações sobre um cervo digno de ser ca-
çado pelo rei, não estranha que Catarina se cercasse de criados e artis-
tas de sua Florença natal. Antes mesmo que ela conquistasse alguma
influência política, suas ligações no terreno da cultura já se faziam sentir.
Nos vinte anos subsequentes, uma série de nascimentos e mortes
transformou Catarina, da esposa devotada mas negligenciada que era,
na governante da França. Em 1544, ela finalmente deu à luz seu pr i-
meiro filho — e, o que é mais importante, um menino. Eram afinal
arquivadas as idéias de mandá-la para um convento, para permitir que
Henrique se casasse com uma mulher mais fertil.Viriam posteriormente
vários outros filhos e filhas. A morte do sogro, em 1547, fez Catarina
rainha, embora seu marido preferisse passar a maior parte do tempo
com a amante. Até que, em 1559, Henrique morreu, em consequência
de um acidente numa justa. Viúva, Catarina tornou-se a Rain h a Mãe,
exercendo considerável influência sobre seu doentio filho Francisco I I ,
que aos 14 anos foi considerado capaz de governar sozinho. U m ano
depois, morre Francisco, subindo ao trono seu irmão mais moço. U m
hábil trabalho político de bastidores permitiu que Catarina fosse de-
signada regente de Carlos I X, e ela manteve seu poder mesmo depois
de ser declarada em 1563 a maioridade dele. Já haviam começado en -
tão as guerras religiosas na França. Catarina não foi capaz de impedi-
las, e não pode deixar de ser em parte responsabilizada pelo infame
massacre de huguenotes no dia de São Bartolomeu em 1572. Assim,
embora para ela seus esplêndidos festivais e balés fossem inocentes e
pacíficos momentos de diversão, o fato é que serviram para que passas-
se à posteridade na companhia de Nero, que tocava rabeca enquanto
Roma ardia. A analogia é das mais apropriadas: os divertimentos de corte
eram acompanhados pela música extraída de um instrumento que só
recentemente chegara da Itália: o violino.
Na época, o violino não tinha lá uma fama das melhores. A opinião
geral era que podia servir de bom acompanhamento para a dança, mas
não era capaz de despertar o interesse dos verdadeiros músicos. Em certas
OS V IOLIN OS IN COMPARAVELMEN TE MELH O RES. . . " 29
Mas até hoje uma das questões centrais na fabricação de violinos está
em saber se as melhores receitas de verniz efetivamente contribuem
para enriquecer a sonoridade, talvez funcionando como uma espécie
de filtro, ou são simplesmente neutras.
• Embora seja semelhante, o contrabaixo parece ter derivado mais diretamente da viola.
OS VIOLIN OS IN COMPARAVELMEN TE MELH ORES. . . " 35
cidadãos voltariam para suas casas mais tarde naquele mesmo ano, mas
dois terços da população haviam desaparecido, por morte ou exílio em
aldeias próximas. Toda a riqueza da cidade praticamente tinha evapo-
rado. Entre as vítimas fatais estavam Girolamo e Laura Amati, assim como
duas de suas filhas. Em Brescia, Giovanni Maggini morreria em 1632.
Dentre os grandes mestres luthiers das duas cidades, sobrevivia apenas o
jovem Nicolò Amati.
A demanda de violinos não diminuíra. Uma indicação disso é a cria-
ção dos famosos "Vingt-QuatreViolons du R o i "* de Luís XI I I ; o ins-
trumento começava a assumir a posição de sustentáculo orquestral que
ocupa ainda hoje. Os violinos tornavam-se necessários em quantida-
des cada vez maiores. Nicolò mostrou-se à altura do desafio. Solteiro e
sem filhos, tomou uma decisão que teria consequências de grande al-
cance: contratar aprendizes fora da família. Pela altura de 1632, estavam
entre eles Francesco Ruger i e Andrea Guarneri; mais tarde, Giovanni
Battista Rogeri integrou-se ao ateliê .Violinos fabricados por qualquer
um deles são hoje em dia altamente valorizados. Amati chegou a em-
pregar aprendizes de fora da Itália. U m deles foi Leopoldo "diTedesco"
("o Alemão"). Outro pode ter sido Jacob Stainer, de Absam, no Tir ol,
cujos violinos seriam os principais concorrentes dos Amati por boa parte
do século XV I I .
Seja como for, em 1637 Nicolò Amati ainda não podia ter qual-
quer rival em Cremona quando o padre Fulgentius Micanzio, do
Mosteiro Servita de Veneza, escreveu o seguinte no dia 20 de dezembro:
" E L E JÁ E R A U M G É N I O "
a parte residencial e o seccadour. Diz a tradição que foi nesse sótão que
Stradivari fez seus violinos mais famosos.
Mais ou menos pela mesma época da mudança, Stradivari fabricou
o violino que viria a ser conhecido como o Paganini, o mais antigo de
nossos seis instrumentos. Ele é bem típico desse período sob todos os
aspectos: influenciado por Amati na concepção geral e no verniz de
um laranja dourado, mas com o estilo original de Stradivari perceptí-
vel nas curvas menos arredondadas e nas aberturas acústicas mais an-
gulosas. O violino levava provavelmente cerca de duas semanas para
ser feito, pois Stradivari seguia técnicas cremonesas tradicionais que já
tinham então mais de um século.
" E L E R A R A M E N T E SE V E S T I A
DE O UTRA FO RMA
O ANO DE 1698 foi efetivamente crítico para Stradivari, mas não por-
que houvesse qualquer indício de que ele poderia estar diminuindo a
produção ou se aposentando para confiar os trabalhos a Francesco. E
no entanto praticamente certo que seus filhos tenham desempenhado
um papel no que haveria de se seguir. São muito poucos os fatos que
podem ser determinados a essa distância de 300 anos, e todos reque-
rem interpretação. Efetivamente dispomos, no entanto, de dois outros
fatos decisivos que podem ser datados daquele mesmo ano.
O primeiro é a volta a Cremona do filho mais novo de Stradivari,
Omobono. Sóficamossabendo que ele se fora para Nápoles pelo testa-
mento do pai, redigido trinta anos depois. E só podemos identificar 1698
como o ano em que lá se encontrava porque se trata do único ano de sua
vida adulta em que ele não aparece nos registros de censo relativos à casa
do pai. A primeira redação do testamento deixa claro que Stradivari não
aprovava a aventura napolitana do filho: "Se ele fizer questão de alguma
coisa, que se responsabilize pela dívida das três mil liras que gastei com
ele quando estava em Nápoles e desde o seu retorno." As redações pos-
teriores reduzem a "dívida" a duas mil liras e esclarecem que Omobono
ficou ausente durante dois anos e meio, ao passo que os registros censitários
de 1699 já indicam novamente sua presença em Cremona. A discrepân-
58 STRAD IVARIU S
como for, por volta de 1709 ele comprou um bloco de bordo de qua-
lidade particularmente boa, suficientemente grande para a extração de
fundos de uma peça única, mesmo no corte radial. Seu aspecto visual é
particularmente belo, e pode ser encontrado constantemente nos vio-
linos produzidos pelo ateliê nos seis ou sete anos subsequentes. O Viotti
foi um dos primeiros. Feito em 1709 a partir do molde "P G ", ainda
hoje atrai irresistivelmente o olhar com seu fundo do tipo "pele de
tigre". Qual não seria então o efeito logo depois de sair das mãos do
artesão, com o verniz ainda iridescente, em seu vermelho insondável?
É o segundo de nossos cinco violinos.
A esta altura, o ateliê de Stradivari voltara a produzir violoncelos,
depois de um intervalo de seis anos. Este hiato é fácil de explicar.
Stradivari deve ter ficado tão entusiasmado com as possibilidades dos
violinos feitos de acordo com esse novo modelo que durante um certo
tempo concentrou todas as suas energias em sua fabricação. Passados
alguns anos, no entanto, começou a ponderar quais os princípios que
poderia aplicar também à fabricação dos irmãos maiores.
O resultado foi uma reavaliação radical da concepção dos vio-
loncelos: caixas de ressonância que em seu abaulado mais plano re-
fletem o que Stradivari havia aprendido com seus violinos, e cujo
comprimento, de 29 polegadas, é hoje considerado o ideal. Esses
violoncelos não apenas enfrentam com sucesso o desafio da projeção
sonora, comum a todos os instrumentos de cordas, como também al-
cançam um equilíbrio ideal entre a presença dos baixos e a vibração
dos agudos, que vem a ser um problema mais específico destes ins-
trumentos. Eles haveriam de tornar-se um modelo para sucessivas ge-
rações de fabricantes.
Stradivari continuou a usar por mais de vinte anos o molde " B "
("Buono"?) que serviu para a construção desses violoncelos. Em 1712,
utilizou-o para fabricar o terceiro dos nossos seis instrumentos, o
violoncelo Davidov. Adquirido por um dos últimos Medici a governar
Florença, o incompetente e intolerante Cósimo I I I , este glorioso ins-
ELE R A R A M E N T E SE V E S T I A D E O U T R A F O R M A 63
e 1716. Se assim foi, e se apenas poucos anos depois seu pai efetiva-
mente lhe havia confiado a entalhadura das aberturas acústicas, tarefa
que muito raramente havia jamais delegado, parece perfeitamente pos-
sível a idéia de que visse nele um sucessor em potencial.
Em questão de poucos anos, no entanto, antes mesmo de com-
pletar 24 anos, Giovanni Battista estaria morto. As pretensões que
Stradivari acaso alimentasse a respeito do filho seriam enterradas com
ele no recém-comprado túmulo da família, na Capela do Rosár io da
Igreja de San Domên ico. Golpe devastador para qualquer pai, a per-
da deve ter evocado para o octogenário luthier prenúncios de sua
própria morte. Foi por esta época que ele finalmente transferiu a
Francesco a responsabilidade pelos violoncelos. Os instrumentos
maiores simplesmente exigiam mais esforço do que ele era capaz agora.
Dentro de dois anos ele estava preparado para morrer. O ano de 1729
está entalhado em sua pedra mortuária, juntamente com seu nome,
numa inscrição que só parcialmente recobre o nome dos anteriores
ocupantes do túmulo.
Se a prematura lápide funerária não fosse suficiente como indica-
ção do estado de espírito de Stradivari, 1729 é também o ano em que
ele redigiu seu testamento.Trata-se de um documento notável, consis-
tindo num rascunho manuscrito, o mais longo texto autógrafo que nos
foi deixado por qualquer dos grandes luthiers clássicos, acompanhado
de três versões legais cada vez mais complexas. O que realmente cha-
ma a atenção é aquele primeiro esboço. A caligrafia é vigorosa; quais-
quer que sejam os indícios deixados pelos violinos nessa época, é
evidente que o autor ainda é capaz de empunhar uma pena. Já o con-
teúdo fala de outra coisa. Stradivari designa Francesco como o mestre
ou dono (pairo) do ateliê, do depósito (logo, de seu conteúdo) e, de
maneira tocante, do "quarto onde durmo e onde agora me encontro".
Pela primeira vez, ele efetivamente designava um sucessor.
Nessa primeira redação do testamento, só encontramos azedume
no que diz respeito a Omobono, o outro filho luthier de Stradivari; a
68 STRAD IVARIU S
Sonhei certa noite, em 1713, que havia vendido minha alma ao diabo.
Tudo obedecia a minhas ordens; meu novo criado se antecipava a cada
um dos meus desejos e os superava todos. Finalmente, tive a idéia de
entregar-lhe meu violino, para ver o que faria com ele. Foi grande o
meu espanto ao ouvir uma sonata tão bela e original, tocada com tan-
ta superioridade e inteligência, que eu nunca tinha ouvido algo pare-
cido, nem mesmo imaginado que uma coisa tão encantadora fosse
possível. Senti tanto prazer — arrebatamento, surpresa — que perdi o
fôlego: a violência daquela sensação me acordou. Imediatamente lan-
cei mão do violino, tentando reproduzir os sons que ouvira, mas em
vão. A peça que compus então é verdadeiramente a melhor que jamais
escrevi, e dei-lhe o nome de "Sonata do Diabo", mas ela é tão inferior
ao que eu havia ouvido que se eu pudesse me sustentar de outra ma-
neira teria quebrado o meu violino e abandonado a música para sempre.
do por Stradivari em 1715. Ele pode inclusive ter sido seu primeiro
comprador.
Tartini nasceu em Pirano em 1692, filho de um nobre muito cató-
lico. Recebeu seus primeiros ensinamentos musicais numa escola reli-
giosa, até que abandonou a idéia de envergar a batina e foi estudar direito
na Universidade de Pádua. Lá, continuou a tocar violino e começou a
ensinar o instrumento, mas parece ter-se dedicado sobretudo à esgri-
ma — disciplina em que se mostrava capaz de derrotar qualquer
contendor. Chegou inclusive a considerar a possibilidade de uma futu-
ra carreira de ensino dessa arte marcial em Nápoles.
Todas esses interesses, contudo, foram postos de lado quando Tartini
casou-se secretamente com uma aluna. Ambos tinham menos de vinte
anos de idade. Além disso, Elisabetta era filha de um subordinado do
arcebispo de Pádua, o cardeal Giorgio Cornaro, que não se encantou
propriamente com aquele casamento. Deserdado pelos pais e submeti-
do a medidas disciplinares pelo vingativo cardeal,Tartini fugiu ao mes-
mo tempo de Pádua e da noiva, acabando por encontrar refugio num
mosteiro em Assis, onde um parente havia feito os votos.
Segundo a tradição, a serenidade da vida monástica provocou uma
mudança completa no temperamento de Tartini. Esquivando-se já agora
de atividades marciais e inteiramente dedicado ao violino, sua contri-
buição musical aos serviços religiosos na capela do mosteiro foi bem
recebida. No entanto, continuando a temer uma vingança do cardeal,
Tartini tocava oculto por uma cortina, e assim os sons de seu violino
pareciam adquirir um caráter sobrenatural. Passaram-se dois anos até
que ele fosse desmascarado, quando uma lufada de vento abriu as cor-
tinas durante um serviço muito concorrido. U m habitante de Pádua
reconheceu o objeto da ira de Cornaro e transmitiu devidamente a
informação. Mas o tempo havia aplacado Sua Eminência, que consen-
tiu retrospectivamente com o casamento secreto. Marido e mulher
voltaram a se unir e a carreira do mais influente violinista do século
XV I I I novamente deslanchou.
TÃO Ú N I CO E TÃ O BELO " 75
• Poucos biógrafos, entretanto, têm algo de simpático a dizer a seu respeito. Anos mais tarde,
supostamente amargurada por não ter tido filhos, ela ganharia fama de megera.
TÃO Ú N I CO E TÃO BELO " 77
nome ficou registrado simplesmente como "Signor Salvin i". Ele não
deixou qualquer marca especial na história, a menos que seja o Salvini
que em 1785 mandou imprimir em Florença seis duos para violino e
viola. Aparentemente um dos "mais promissores alunos" de Tartini, foi
a ele que o "Mestre das Nações" transmitiu seu Stradivarius, o Lipinski,
e é em suas mãos que vamos novamente encontrar o violino em 1818.
independência, mas não o suficiente para mudar suas vidas. Irmã Rosa
voltou para o convento, os outros continuaram a viver na casa do pai.
Pode-se presumir que Paolo recebeu com gratidão a sua parte; recém-
casado, ele certamente contava com um aumento de suas despesas. Por
enquanto, o negociante de tecidos e sua mulher também permanece-
ram na Piazza San Domênico.
E quanto a Francesco, o filho sempre fiel? Recebendo como h e-
rança todo o resto — a casa, os valores em dinheiro, os instrumentos e
as ferramentas — e designado testamenteiro do pai, ele era agora um
homem rico.Terá provavelmente assegurado que fossem rezadas as seis
missas de corpo presente encomendadas pelo pai. Nessa questão, An -
tonio havia-se confiado "inteiramente à devoção e ao amor de Francesco,
em quem confia particularmente", e o pedido era perfeitamente ra-
zoável; os testadores cremoneses da época costumavam deixar instru-
ções muito mais complexas. Como sempre obediente, ele parece ter
levado a sério a advertência do pai no sentido de evitar a dispersão da
família "se for possível": a casa que acabava de herdar não seria afinal
exclusivamente sua. Mas e daí?
Francesco trabalhara como assistente do pai durante mais de cin -
quenta anos: "o principal apoio profissional do mencionado Testador,
tendo-se mostrado sempre obediente e obsequioso às ordens do Testa-
dor". Quem haveria de criticá-lo por se aposentar? Tendo completado
66 anos e sem a energia nem a obstinação do pai, ele já havia passado,
realisticamente, da idade de se casar ou de reativar o ateliê com a
contratação de aprendizes. Parece ter então optado por um merecido
repouso. Francesco sobreviveu ao pai por menos de seis anos, morren-
do em maio de 1743; a esta altura, Omobono também havia morrido.
Desde a morte do pai, cada um deles havia feito apenas um punhado
de violinos.
A carreira de Antonio Stradivari projetara-se por mais de setenta
anos. Estima-se que produziu pelo menos mil e duzentos instrumen-
tos, das minúsculas "pochettes" usadas por mestres de dança aos enor-
TÃO Ú N I CO E TÃ O BELO " 79
mes violoncelos "baixos de igreja" dos primeiros anos. Teve onze fi-
lhos, nove dos quais sobreviveram à primeira infância; cinco ainda
moravam em sua casa um ano depois de sua morte, e dois haviam tra-
balhado com ele por mais de cinquenta anos. Elevara a arte da fabrica-
ção de violinos a culminâncias que nenhum antecessor teria sido capaz
de imaginar, e com isso obtivera o reconhecimento de arcebispos, du-
ques e reis em toda a Europa. Mas não havia criado uma dinastia de
construtores de violino.Vivendo até uma idade tão avançada e contro-
lando tudo com rédea curta por tanto tempo, o velho patriarca, iron i-
camente, fizera com que seu compromisso com a qualidade morresse
com ele.
À morte de Francesco, a casa e tudo que nela havia, inclusive cerca
de cem instrumentos ainda sem compradores, foi herdada pelo sortudo
Paolo. Três anos depois, ele já havia transferido a família e os irmãos
sobreviventes da Piazza San Domênico. Os novos ocupantes, o luthier
Carlo Bergonzi e seus filhos, devem ter sido empregados de Paolo, além
de seus inquilinos. Os violinos restantes eram impraticáveis; cada um
deles ainda precisava no mínimo do estandarte, das cordas, do cavalete,
da alma, das cravelhas. Paolo precisava dos Bergonzi simplesmente para
ajudá-lo a deixar sua herança em condições de ser vendida. Sua família
verdadeiramente não dominava mais a arte de fazer violinos.
Pode parecer difícil entender hoje por que Stradivari não tentou
com maior afinco deixar para as gerações posteriores um registro de
seus métodos — "segredos" talvez seja uma palavra forte demais. A
consequência disso pode ter sido sua própria imortalidade, pelo fato
de ter produzido instrumentos que nunca teriam equivalentes, mas custa
crer que ele tivesse planejado algo nesse sentido. Na realidade, ele se
mostrava meticuloso no registro de suas experiências, guardando cada
molde com os respectivos desenhos, contendo detalhes como a posi-
ção das aberturas acústicas. Eram indicações suficientemente boas para
serem seguidas por qualquer assistente treinado por ele. Os instrumen-
tos produzidos por Francesco e Omobono certamente apresentam uma
80 STRAD IVARIU S
" M E U V I O LI N O D EV E R E N D E R
U M BO M D I N H E I R O "
questra, com a qual Viotti leu à primeira vista uma ópera inteira.
Retornando ao palácio, perguntaram-lhe de que havia gostado mais em
seu passeio, e ele voltou a tocar de memória a abertura e vários temas.
Estava garantido seu lugar como músico da corte. Além disso, o marquês
e o filho assumiram a responsabilidade pela formação musical de Viotti,
de modo que ele acabaria tendo como professor nada menos que o
virtuose Pugnani em pessoa. Ao ouvi-lo, até mesmo o fleumático Viotti
ficou impressionado — "E l e é um Júpit er "—, e uma relação extrema-
mente próxima haveria de desenvolver-se entre o mestre e o pupilo.
Alphonse calculava, sem qualquer sombra de remorso, que a edu-
cação musical de Viotti havia custado a sua família 20 mil francos [70
mil libras]. Um a pequena parte desse valor terá sido provavelmente
relativa à compra do Stradivarius Viotti. Pugnani pode perfeitamente
ter ajudado a escolhê-lo. Pode parecer prosaico, mas é muito provável
que aproximadamente nos sessenta anos anteriores a sua aquisição por
Viotti o grande instrumento nunca tenha deixado o norte da Itália.
Existe uma outra história sobre a compra de um violino por Viotti,
que vale a pena ser repetida porque ajuda a entender sua personalidade.
Com ela, estamos de volta à Paris da década de 1780, o período dos maiores
triunfos de Viotti. Caminhando pelos Champs-Elysées com um amigo,
chegaram a seus ouvidos os terríveis ruídos que um músico cego de rua
extraía de algo que logo se verificou ser uma rabeca de lata. Intrigado
com aquele instrumento, que emitia um som mais parecido com o da
clarineta do que com o do violino,Viotti ofereceu por ele 20francos[70
libras]. Antes que a transação fosse efetivada, no entanto, tomou o violi-
no das mãos do velho e começou a tocá-lo, extraindo uma sonoridade
extraordinariamente bela. Homem de reações rápidas, enquanto isso, seu
amigo passava o chapéu pelo público que logo se havia formado, entre-
gando o fruto de sua coleta ao músico de rua. Quando Viotti lançou
mão de sua bolsa para pagar os 20 francos, o velho pensou melhor —
"Eu não sabia que o violino era tão bom. Devia ter cobrado pelo menos
o dobro." Feliz com aquele cumprimento indireto,Viotti entregou-lhe o
92 STRA D I V A RI U S
valor em dobro e se foi com sua nova conquista, mas sentiu um puxão
na manga: era o sobrinho funileiro do músico, oferecendo-se para fazer
quantas rabecas quisesse por seis francos cada.
moderno. E foi mais ou menos pela época em que Viotti chegou pela
primeira vez a Paris que François Tourte — "o Stradivarius do arco"
— desenvolveu os elementos finais do formato que ainda hoje é usado.
Nascido numa família de fabricantes de arcos, Tourte tinha uma loja
em Paris. Diz a lenda que foi a ela que Viotti se dirigiu para falar de sua
necessidade de um novo tipo de arco. Seu estilo cantabile exigia mais con-
trole e força do que era capaz de oferecer o antigo modelo. A solução apre-
sentada por Tourte contemplava certos aperfeiçoamentos, desenvolvendo
propostas que haviam começado com Tartini. Na vareta, ele usava uma
madeira brasileira, o pau-brasil; a curvatura para dentro, em contraste com
a anterior convexidade, conferia ao arco maior força e elasticidade, permi-
tindo que a crina de cavalo fosse mais tensionada. A tensão podia ser ajus-
tada por um parafuso na base do arco, ao qual a crina de cavalo era presa
por uma cunha com cinta metálica, ou"ferrule". O peso desse dispositivo,
contrabalançado por uma cabeça maior, contribuía para a força de impul-
so do arco. Em consequência, o violinista exercia maior controle, e o maior
retesamento facultava um leque mais amplo de estilos, do legato impecável
ao repentino sfoYzando.Mêm disso, com esse acréscimo de peso e tensão,
paralelamente a outra modificação introduzida por Tourte — o aumento
da largura, de 1/4 para 7/16 de polegada —, o violinista dispunha no arco
de maior reserva de força. Somente com esse novo arco, com efeito, podia
realizar-se plenamente o potencial de um Strad.
É possível que esses avanços tivessem sido alcançados sem a inspi-
ração de Viotti. A título de exemplo, nessa mesma época Joh n Dodd
produzia em Londres um arco semelhante, embora excessivamente
curto. Já parece difícil duvidar, contudo, de que o Viotti tenha sido um
dos primeiros violinos a cantar ao contato do novo arco.
todo domingo. Como era o único lugar onde ainda era possível ouvir
o grande homem, os convites eram muito disputados. Mas precisavam
ser limitados, pois o apartamento não era muito grande, e sua escassez
só contribuía para aumentar a fama de Viotti. À parte sua arte, todos
que dele se aproximavam ficavam impressionados com seu idealismo,
sua sensibilidade e sua integridade artística. U m elegíaco livrinho es-
crito por A. M . d'Eymar, Anecdotes sur Viotti, que veio a público após a
Revolução Francesa (ele traz a data de "An V I U " pelo novo calendá-
rio), traça o melhor retrato de que podemos dispor de Viotti nessa época.
O tom é dado já na afirmação inicial, lamentando tanto a sua ausência
no exílio —"Fr an ça, acaso o terás perdido para sempre?"— quanto a
morte na guilhotina de muitos que o haviam ouvido. A maior parte do
livro, contudo, é dedicada a um único dia que o autor passou com Viotti
na residência da pianista Hélène de Montgeraut: a tarde no jardim, com
os transportes de entusiasmo do maestro à visão de uma simples viole-
ta; e a noite passada na companhia da mais bela música. Posteriores
cronistas considerariam que Eymar dava a entender que o violinista
era "u m pouco mais que um admirador" da pianista.
Por volta de 1788, a carreira de Viotti efetivamente começou a to-
mar um rumo diferente quando ele fundou uma companhia de ópera
em parceria com Leonard, o empreendedor cabeleireiro de Maria
Antonieta. Inicialmente, a companhia teve sucesso. Sob a proteção do
conde de Provença, fez suas primeiras apresentações nas Tulherias.
Dotado para tantas coisas,Viotti mostrou-se administrador e empresá-
rio de talento; chegou inclusive a tentar assumir o controle da própria
Ópera de Paris.
Viotti estava se tornando uma personalidade pública, mas não era o
momento adequado. Inicialmente, as consequências da revolução para
o mundo musical pareceram quase marginais. O efeito mais imediato
foi a transferência da família real de Versalhes para as Tulherias, com o
consequente deslocamento da companhia de ópera. Sem se deixarem
abalar,Viotti e seus patrocinadores decidiram construir uma sede pr ó-
MEU V IOLIN O D EVE REN D ER UM BOM D I N H EI RO " 95
pria. Assim foi que oTh éâtre Feydeau abriu para o público na noite de
6 de janeiro de 1791. Da orquestra faziam parte alguns dos maiores
músicos de Paris, e os cantores foram trazidos de toda a Europa. Tam-
bém aqui foi grande o sucesso inicial, mas ele não poderia durar. A
crescente instabilidade política fazia diminuir cada vez mais o público,
e em agosto de 1792 o teatro foi fechado. Mais importante, do ponto
de vista pessoal, era a presença do nome de Viotti no infame "livro ver-
melh o". A certa altura de sua carreira, ele havia sido investido do título
de "Acompanhador da Rain h a", recebendo um estipêndio anual de
seis mil livres [20 mil libras]. Era portanto um homem marcado, e no
fim de 1792 teve de fugir para Londres, com o Viotti, para escapar da
guilhotina. Enterrada toda a sua fortuna na malsucedida aventura do
teatro, ele estava sem um tostão.
• Quando o rei perguntou a seu professor como estava se saindo, Salomon teria respondido:
"Existem três níveis de habilidade na arte do violino: incapacidade de tocar, capacidade de
tocar mal e capacidade de tocar bem. Sua Majestade, folgo em anunciar, já chegou ao segun-
do nível."
96 STRA D I V A RI U S
"Viot t i efetivamente (...) causa espanto no ouvinte; mas faz algo ainda
infinitamente melhor: desperta emoções, dá alma ao som e mantém
cativas as paixões". Em suma, e quase mesmo sem querer,Viotti fez
com que os londrinos se conscientizassem tanto da necessidade de ter
um Stradivarius quanto os parisienses dez anos antes. Nos cem anos
subsequentes, a Grã-Bretanha, como a mais próspera economia do
mundo, funcionaria como um verdadeiro ímã para Strads de toda a
Europa.
De volta aos palcos públicos e com um círculo crescente de amigos
ingleses,Viotti finalmente parecia estar conquistando alguma estabili-
dade na vida. A partir de 1795, foi contratado como regente no King's
Theatre, tornando-se o primeiro violino da orquestra por 300 libras
[20 m il libras] anuais quando o titular se aposentou. Sua vida pessoal
girava em torno de sua amizade com W illiam e Caroline Chinnery,
um casal rico que o adotou como membro da família e o apresentou à
sociedade elegante. Mas nada disso duraria. Em março de 1798, numa
reviravolta do destino que parece particularmente cruel, ele foi detido
enquanto jantava com os amigos, acusado de ser simpatizante dos
jacobinos e recebeu ordens de deixar o país. As acusações provavel-
mente não tinham fundamento, mas Viotti havia sido imprudente em
certos relacionamentos. A Grã-Bretanha estava em guerra com a Fran -
ça, e enfrentava a ameaça de uma rebelião na Irlanda. A Realpolitik
tinha primazia sobre a arte.
Protestando inocência,Viotti exilou-se perto de Hamburgo, hos-
pedando-se com um admirador em Schõnfeld. A única contrapartida
exigida ao célebre convidado por esse benfeitor, um certo Sr. Smith,
foi que jantassem juntos aos domingos. Talvez os amantes da música
devessem ser gratos às autoridades britânicas; a ausência forçada de
Londres deu tempo aViotti para se concentrar em suas composições,
escrevendo a respeito delas: "Este trabalho é fruto do lazer que a desdi-
ta me proporcionou. Algumas peças foram ditadas pela Dor; outras, pela
Esperança." Em suas cartas de Schõnfeld aos Chinnery, ele se mostra
"MEU V IOLIN O DEVE REN D ER UM BOM D I N H EI RO " 97
franco e afetuoso, ralhando com a filha do casal, para que não deixasse
de praticar o instrumento, e invariavelmente mandando recomenda-
ções à governanta.
Só em 1801 chegaria ao fim o exílio de Viotti. Durante a Paz de
Amiens, em 1802, ele pôde inclusive viajar a Paris, onde seus discípu-
los constataram que sua arte continuava magnífica. Baillot recordaria
mais tarde a visita:"Sua sonoridade havia-se tornado tão suave, tão doce,
sendo ao mesmo tempo tão cheia e enérgica, que ficávamos imagi-
nando um arco de algodão controlado pelo braço de Hércules." U m
ano depois, em 1803, Rode, Kreutzer e Baillot escreveram juntos um
manual de violino — Méthode de violou — que constituía na realidade
uma codificação do estilo de Viotti. De enorme influência, este volu-
me justifica por si só que Viotti seja considerado o pai da moderna arte
do violino. Ele próprio já se encontrava então de volta à Inglaterra,
mais uma vez impossibilitado de retornar a Paris pelo reinício da guerra.
Livre para se apresentar em Londres,Viotti mais uma vez decidiu não
fazê-lo, mas pelo menos voltou a dar aulas. A prática do ensino levou a
uma curiosa história inicialmente publicada no jornal The Musical World
em 1839, quando já se podia estar certo de que todos os protagonistas
haviam morrido. Dizia-se que certo dia chegou um novo aluno, mem-
bro da aristocracia, trazendo um violino adquirido em viagens pelo con-
tinente europeu. Era um magnífico Strad, embora seu proprietário, músico
perfeitamente medíocre, disso não tivesse idéia.Viotti não teve êxito em
nenhuma de suas tentativas de comprar o violino, mas pelo menos pôde
tomar emprestado o magnífico instrumento, considerando-o superior até
mesmo ao Strad de que era então proprietário. As coisas seguiram seu
curso, até que o nobre foi levado a permanecer um longo período no
campo por causa da morte do pai, deixando seu violino entregue aos
cuidados do professor. Por essa mesma época,Viotti aceitara um outro
aluno, dono de uma brilhante réplica de Strad confeccionada no ateliê
de seu próprio pai,John Betts.Viotti teve então uma idéia que não deve-
mos necessariamente aprovar, tratando logo de solicitar a Betts uma có-
98 STRA D I V A RI U S
"AOS V I R T U O SE S D O V I O L I N O "
queles que acreditam que foi ele, e não o próprio Antonio Stradivari,
que inscreveu a idade do artesão nas etiquetas dos últimos instrumen-
tos, com base na informação que recebera de Paolo Stradivari. Já o meu
interesse está focalizado numa perspectiva diferente. Cozio também foi,
como sabemos, o proprietário do Messias. De modo que dois de nossos
instrumentos podem ter cruzado seus caminhos em sua coleção. Pode-
riam, assim, ter sido mantidos juntos, intocados mas admirados, por até
25 anos. Até onde sei, no entanto, eles não voltariam a se encontrar
depois de 1801.
AOSVIRTUOSES DO VIOLINO
seu nome esteve mais associado não fosse u m Strad, mas u m violino
fabricado pelo outro grande mestre cremonês, Guarneri dei Gesú. A
história de sua aquisição por Paganini constitui u m dos mitos centrais
de sua lenda.
Paganini foi iniciado na música ao cinco anos de idade, quando
c o m e ç o u a aprender a tocar bandolim com o pai, que trabalhava numa
empresa de navegação em Génova. Dois anos depois, aprendeu os r u -
dimentos do violino e, como diria mais tarde, "em questão de poucos
meses eu j á era capaz de tocar qualquer música à primeira leitura".
Passou então a tomar aulas, e em 1793, aos 11 anos, Paganini apresen-
tou-se pela primeira vez em público. O sucesso então obtido fez o pai
pensar melhor na questão. Nos seis anos subsequentes ele acompanha-
ria de perto o filho, insistindo em dez horas diárias de estudo como
base de uma programação de lucrativos concertos, inicialmente em
Génova e logo t a m b é m fora da cidade. Só aos 18 anos o jovem virtuose
conseguiria finalmente escapar, transferindo-se com o irmão mais ve-
lho para a cidade toscana de Lucca.
Livre do controle paterno, Paganini deu início a sua conhecida vida
de excessos. C o m o diria mais tarde, "quando finalmente me v i dono
de m i m mesmo, tratei de sorver os prazeres da vida em grandes tra-
gos". Ele passaria os próximos 27 anos na Itália, enchendo sua vida de
música, paixões amorosas e jogo, com longos intervalos de total exaustão.
Os quatro primeiros anos fora de Génova serviram para se estabelecer
na vida, dando concertos em Lucca e em cidades vizinhas. Pelo fim da
vida, Paganini negava indignado as acusações de que passou aqueles
anos na prisão, pelo assassinato de u m rival no amor, aperfeiçoando sua
arte num violino contrabandeado. N ã o menos exótica, mas infelizmente
não menos inverídica, é a história segundo a qual encontrava-se então
num castelo toscano, aprendendo a tocar violão e se valendo dessa nova
habilidade em serenatas para uma amante aristocrática.
Foi nesse período, contudo, que Paganini adquiriu o seu D e l Gesú,
que viria a cruzar o seu caminho em Leghorn, no início da década de
A G R A N D E VIRADA NA HISTÓRIA D O VIRTUOSISMO" 117
duas cordas; não bastaria uma única corda para o seu talento?' E u prometi
tentar. A idéia me encantou, e algumas semanas depois compus minha
Sonata militar para a corda sol, intitulada 'Napoleão', que executei diante
de numeroso e brilhante público palaciano."
A execução, para não dizer a composição da Sonata Napoleão, abar-
cando mais de três oitavas numa única corda, é uma proeza técnica
extraordinária. Corrobora o que os contemporâneos diziam de seu
compositor — que a exibição de virtuosismo levava a melhor sobre a
musicalidade. Pirotecnias de arrebentar as cordas, scordatura* e elevação
do diapasão do violino em u m semi tom para obter mais brilho: tudo
isso fazia parte dos dramáticos recursos de algibeira cultivados por
Paganini. Ainda hoje o Canhão traz as cicatrizes.
A partir de 1812, Paganini passou a viajar pela Itália, ganhando fama
ao mesmo tempo de maior violinista do país e de D o n Juan. U m a dessas
aventuras levou a u m processo por descumprimento de promessa que
lhe custou 3.000 francos [7.000 libras]. Essa fama é que provavelmente
levou u m médico, em 1823, a considerar o aspecto cadavérico de
Paganini e sua persistente tosse como sintomas de uma sífilis "oculta".
O que se prescrevia na época para esses casos era mercúrio, administra-
do tanto em forma de unguento como por via oral, em doses a que o
próprio Paganini se referia como "homicidas". Os efeitos colaterais
clássicos do tratamento são tremor das mãos e deterioração da visão, e
foram precisamente esses os sintomas que ele c o m e ç o u a evidenciar
depois de cinco anos. Apesar disso, foi este o momento que escolheu
para dar início a sua turnê européia.
Muitos anos se passaram desde que fui desafiado a tocar com Paganini
na Itália, e numerosas foram as cartas de apresentação a mim impingidas
por amigos queridos. Havia, entre outras, uma carta de Spohr a um
velho cavalheiro que morava em Milão, e que na juventude havia sido
um dos alunos mais promissores do grande mestre do violino Tartini,
que morreu em 1770. Depois de passar a primeira noite em Milão,
refazendo-me do cansaço da viagem, dirigi-me, munido de minha carta
de apresentação e do meu violino, à residência do Signor Salvini; ele
me recebeu da maneira mais amável, e como eu não falava italiano,
entrou comigo em animada conversação em francês. Em cada gesto o
Signor Salvini evidenciava a tranquila dignidade da idade avançada,
mas quando ouvia música seus olhos brilhavam com a intensidade do
sentimento, e nem pareciam ser os olhos daquele velho tão frágil, e
todo o seu ser parecia rejuvenescer, como animado da centelha da vida
de outras eras.
Depois de ser informado de que até então eu me havia dedicado
sobretudo à música de Beethoven, Mozart e Weber, ele pediu-me
que tocasse, e sentou-se para ouvir. Escolhi alguns trechos do
"A G R A N D E V I R A D A N A H I S T Ó R I A D O V I R T U O S I S M O " 123
Paganini ainda viveria dois anos. Sua saúde podia tê-lo abandona-
do, mas não o seu desejo de ganhar dinheiro. Incapaz j á agora de tocar
os violinos com a antiga perícia, passou a negociá-los. Sabia que o sim-
ples fato de associar seu nome a um instrumento aumentaria seu valor,
o que seria uma vantagem quando viesse a vendê-lo, mas primeiro seria
necessário aumentar a coleção. Paganini c o m e ç o u a formar uma rede
de agentes por toda a Europa, para agir por meio deles de forma a n ó -
nima. Eles buscavam instrumentos de todos os mestres cremoneses, mas
sobretudo os de Stradivari. Apesar da preferência pessoal de Paganini
por D e l Gesú, simplesmente havia disponibilidade muito maior de
Strads. E m 1828, ele havia depositado dois num cofre em Milão; ao
morrer, j á havia adquirido mais nove.
U m dos agentes de Paganini era o violinista Vincenzo Merighi,
residente em Milão. N o dia 20 de m a r ç o de 1839, Paganini escreveu-
lhe de Marselha, aonde fora tratar da saúde: "Estou feliz por ter o
belo violoncelo, que trago comigo juntamente com o violino Stra-
divari, que completa o quarteto [itálico meu] (...) O tampo do violino
Stradivari cedeu na região do cavalete, mas n ã o é grave, e se trata de
u m belo instrumento."
O violoncelo a que se refere a carta deve ser certamente o Condes-
sa de Stanlein. Estava na posse de Paganini quando ele morreu, e havia
sido descoberto em 1822 por Alessandro Pezze, u m aluno de Merighi,
sendo transportado num carrinho de m ã o pelas ruas de Milão. E o v i o -
lino "que completa o quarteto"? Tudo indica que se trata do Paganini,
o mais antigo de nossos cinco violinos, confeccionado no ateliê do
Mestre por volta de 1680.* N ã o temos certeza da data porque, a certa
altura do século e meio que o violino passou no esquecimento, o ano
inscrito em sua etiqueta foi mudado para 1696. Esta tentativa de au-
mentar o valor do violino só poderia ter êxito com u m comprador
• E m b o ra seja habitualmente datado de 1680, ele pode ser do ano seguinte, no qual tem u m
g é m e o , o Fleming de 1681.
128 STRADIVARIUS
que jamais existiu, lacónico com o aluno mas implacável se ele mos-
trava qualquer deficiência.
Existe, contudo, uma área em que a influência de Paganini é indis-
cutível. Ele pode ser o autor de uma das mais famosas citações sobre
Stradivari — que "só usava a madeira de árvores em que cantavam
rouxinóis" — , mas sua própria preferência pelo Canhão não podia ser
negada. Pela época em que Paganini morreu, dizia a voz popular que
os melhores D e l Gesú não podiam ser igualados. Eram os verdadeiros
violinos de concerto: os Strads prestavam-se mais aos salões. Os fabri-
cantes de violino de toda a Europa começaram a copiar Guarneri. A
supremacia de Stradivari estava ameaçada.
Capítulo Nove
de, patenteada por Chanot, esteve por breve período na moda, até que
seu inventor foi convocado para o serviço militar. Logo seria esqueci-
da, mas Vuillaume continuou em Paris, tendo adquirido u m gosto pela
inovação que o acompanharia até o fim da vida. O negócio de Chanot
foi transmitido a Nicolas-Antoine Lété, u m fabricante de órgãos inte-
ressado em expandir seus negócios para os instrumentos de cordas, e
Vuillaume passou a prestar-lhe serviços. Quatro anos depois, tornava-
se sócio. A firma de Lété e Vuillaume funcionou por mais três anos, até
que Vuillaume, munido do capital de sua nova mulher, herdeira de u m
ferrageiro, montou seu próprio negócio.
Os violinos de Vuillaume ganharam uma medalha de prata na E x -
posição de Paris de 1827, quando ele ainda não havia completado 30
anos, e em 1839 e 1844 viriam as de ouro.Vuillaume tinha em seu ate-
liê assistentes que produziam violinos de acordo com suas estritas
especificações. Ele enriqueceu com os lucros da especulação imobiliá-
ria, acabando por comprar uma mansão na rue des Ternes, em Paris.
U m visitante inglês desse período lembrar-se-ia dele mais tarde como
um "homem moreno, alto e bem vestido, com costeletas negras mas
escanhoado sobre os lábios e no queixo, parecendo-se mais u m inglês
do que u m francês, exceto na extrema polidez".
Este foi, então, o homem contratado formalmente por Achillo
Paganini, em novembro de 1846, para vender o quarteto Stradivarius
de seu pai.Vuillaume expôs as condições da transação numa carta do
mês seguinte. Achillo havia estabelecido o preço em 20 m i l francos [50
mil libras]; comentário de Vuillaume: "Este preço ainda está muito alto
(...) A viola e os violinos encontram-se (...) no melhor estado possível,
mas os dois violinos t ê m uma sonoridade que não tem sido tão admi-
rada quanto a do violoncelo. O que acontece sem dúvida porque n ã o
foram muito tocados." Vuillaume cobrou por seu trabalho de restaura-
ção 160 francos, dos quais 20 francos diziam respeito ao "violino ama-
relo", o Paganini de 1680. Ele havia consertado a rachadura no tampo,
reconstituído a barra harmónica, alongado e angulado o braço, con-
T E N H O A Q U I C O M I G O 80 M I L F R A N C O S
cobrar mais por seus violinos se os fizesse parecer tanto quanto possí-
vel com os o autênticos instrumentos cremoneses, tratando-os exata-
mente como faria hoje um fabricante de reproduções de antiguidades.
O verniz desses instrumentos novos era desgastado artisticamente, tal-
vez com ácido, para se assemelhar mais perfeitamente ao dos originais;
os violinos podiam ser cozidos para apressar o processo de envelheci-
mento; e, toque final, pespegava-se a clássica etiqueta: "Antonius
Stradivarius Cremonensis Faciebat Anno 1717". Vuillaume utilizava
sempre a mesma data, mas não estava tentando falsificar Strads; sabia
que isso seria impossível. C o m efeito, geralmente ele assinava o instru-
mento com seu próprio nome em algum outro ponto. T a m b é m n u -
merava todas as suas cópias no centro do fundo do violino.Todos esses
sinais, contudo, podem ser removidos, e hoje, com mais 150 anos de
desgaste, não surpreende que só especialistas possam distinguir uma
réplica Vuillaume de u m autêntico Strad.
Havia no século X I X uma história famosa, na qual Paganini deixa-
va o seu D e l Gesú Canhão com Vuillaume para conserto, n ã o sendo
capaz de distingui-lo da cópia que acabara de ser feita ao ir buscá-lo
dias depois. O fato de essa história ter merecido crédito é revelador ao
mesmo tempo da admiração despertada pela capacidade de Vuillaume
como copista e de seu talento para a autopromoção. A história verda-
deira é mais prosaica. Paganini efetivamente ficou impressionado com
a cópia, e pela rapidez com que Vuillaume a havia fabricado, além de
muito interessado em adquiri-la.Vuillaume t a m b é m estava ansioso por
ceder-lhe a cópia, que acabaria se tornando o instrumento de concer-
to de Camillo Sivori, o aluno de Paganini. O verniz da cópia tinha
uma coloração diferente do original, e tampouco sua sonoridade po-
dia competir com a de u m violino autêntico de Cremona. Nas mãos
de Sivori, contudo, ela se transformou, e a história de que Paganini
teria sido enganado tornou-se pelo menos u m pouco mais digna de
crédito. Ainda assim, a sonoridade de Sivori acabou sendo condenada
pela posteridade como "clara e argêntea, mas algo pequena".
136 STRADIVARIUS
H á outras histórias que podem, estas sim, dar margem a críticas mais
severas. Nos primeiros anos de sua carreira,Vuillaume tinha uma viola de
gamba fabricada por Gaspard Tieffenbrucker, u m bávaro que se natura-
lizou francês no século X V I . Mais ou menos por essa época, quando
começaram a circular violinos aparentemente feitos pelo franco-alemão,
certos observadores saudaram em Tieffenbrucker o verdadeiro inventor
do violino. Mas esses violinos eram imposturas do século X I X , modelos
maquinados para parecerem antigos. Mais tarde, alguns historiadores d i -
zer-se-iam convencidos de que tinham sido feitos por Vuillaume. Outra
história, contada por David Laurie, é a de que Vuillaume separava as
quintas-feiras para receber seus admiradores na rue des Ternes. Nessas
ocasiões, trabalhava em público, aplicando seu verniz a violinos recém-
fabricados e vendendo-o em garrafas aos interessados. N o fim do dia, na
privacidade da mansão, Laurie o via remover aquele verniz imprestável
antes que pudesse secar: "Você realmente achava que eu entregaria assim
de bandeja os meus valiosos segredos?"
• Provavelmente n ã o era do conhecimento geral que o conde C o z i o ainda viveu pelo menos
uma década depois de vender o Messias a Tarisio.
140 STRADIVARIUS
" E N C O N T R E M O SOLISTA
DE SUA MAJESTADE"
foi convocado à última hora para uma substituição num concerto pri-
vado do Trio Mendelssohn. O sucesso nessa ocasião, seguido de u m
triunfo em circunstâncias mais públicas com seu próprio Concerto para
violoncelo n° 1, convenceu Davidov de que seu futuro estava na m ú -
sica. E m 1862, depois de u m brilhante período em Leipzig e de con-
certos por toda a Europa, ele retornou a São Petersburgo para assumir
a posição de primeiro violoncelo da Ópera. U m ano d e p o i s j á era pro-
fessor no recém-criado conservatório, pronto para tornar-se uma figu-
ra-chave na grande tradição violoncelística de seu país. Para isto, Davidov
precisava de u m instrumento à altura de seu talento.
55
" U M A IMENSA RESERVA D E F O R Ç A
POR ESTA ÉPOCA, outro dos nossos Strads passou pelas mãos dos H i l l .
Karol Lipinski morrera em 1861, e seu violino havia sido vendido por
negociantes de Dresden ao professor Engelbert R õ n t g e n , do Conserva-
tório de Leipzig. Era u m bom violinista, ao qual posteriores gerações de
amantes da música devem eruditas edições dos quartetos de Beethoven,
mas não u m virtuose. E m suas mãos, o Lipinski n ã o conquistou novos
públicos. Até que, em 1899, dois anos depois da morte de Rõntgen, Joseph
Joachim ouviu o violino; era provavelmente u m dos quarenta e quatro
Strads tocados no concerto de seu jubileu de diamante em Berlim. Q u a -
renta anos antes, u m abraço recebido em público de Lipinski constituíra
um dos marcos no caminho de Joachim para a fama mundial. D e modo
que o reencontro com seu velho violino deve ter suscitado lembranças
felizes. Nessa oportunidade, contudo, havia algo de errado com ele, e
Joachim recomendou que fossem encomendados reparos a W. E . H i l l &
Sons. D e Londres, o Lipinski voltaria para o continente europeu, passan-
do a u m amador holandês que posteriormente o venderia de volta aos
164 STRADIVARIUS
globalmente, quanto eu jamais pude ouvir". Além disso, sua nova pro-
prietária sabia extrair o melhor dele."Lancastrian" mal podia acreditar
que aquela jovem "frágil e emagrecida" fosse capaz de produzir aquele
som.Tratar-se-ia de uma "imensa reserva de força" ou de uma atitude
mental que lhe permitia trabalhar adequadamente com o seu Strad,
acreditando, nas palavras de outro crítico, "em seus poderes extraordi-
nários"? Este casamento entre a musicista e o instrumento tornar-se-ia
um dos mais bem-sucedidos da época.
A vida de uma violinista de concerto na década de 1900 era muito
diferente da que poderia ter na de 1 7 8 0 . 0 Viotti logo estaria acompa-
nhando Marie Hall em sua primeira turnê americana, num total de
sessenta concertos. E l a considerou o público de Nova York o mais crí-
tico do mundo, e muito cioso de suas preferências e aversões, mas aca-
bou por conquistá-lo. Escreveu u m crítico: "Dois minutos depois que
a jovem começara a tocar, todos estavam em atitude de respeito e o u -
vindo atentamente. O que tinham à sua frente n ã o era uma qualquer
favorita da realeza, nenhum prodígio indevidamente explorado." As
recompensas da fama nos Estados Unidos eram imensas; em 1903, o
virtuose belga Eugène Ysaye havia recebido 75 m i l dólares [1 milhão
de libras] por cinquenta concertos. Mais penosas, numa época anterior
às viagens aéreas, foram as turnês pela África do Sul, a Austrália, a índia
e a Nova Zelândia. Marie reagia mal ao mar, o que, em suas próprias
palavras,"para m i m estraga muito o prazer". Sua impressão dos austra-
lianos foi que mostravam seus sentimentos com facilidade, n ã o se can-
sando de alguma coisa de que gostavam. Depois de cada concerto, via-se
coberta de flores em forma de harpas e liras, coroas e buques. A neces-
sidade de aproveitar ao máximo a viagem longa e de atender à procura
do público fez com que os dois concertos previstos em Melbourne
fossem ampliados para uma série de sete em dez dias, de tal maneira
que Marie teve de tocar nada menos de setenta diferentes peças. E m
Vancouver, por outro lado, o navio parou apenas algumas horas, e dez
minutos depois de desembarcar ela j á estava no palco.
UMA IMENSA RESERVA D E FORÇA" 171
Cabe presumir que uma das vantagens das viagens lentas era que o
Viotti podia assim adaptar-se gradualmente às mudanças de tempera-
tura e umidade. Por outro lado, o violino certamente não p ô d e contar
com as duas semanas de que os Strads precisavam depois de cada via-
gem marítima, na opinião de David Laurie, para se recuperar do mal de
mer. O problema era mais agudo nos trópicos, onde o calor e a umida-
de podiam até provocar a dissolução da cola, reduzindo u m violino a
suas partes constituintes. A solução de Marie Hall consistia em recor-
rer a invólucros especiais e a u m estojo de madeira especialmente en-
comendado. O resultado era de tal natureza que na t u r n ê sul-afficana
houve quem achasse que ela estava transportando u m caixão.
Tanto o violino quanto a artista devem ter achado as condições em
Suva, capital de Fiji, um verdadeiro desafio. O concerto não havia sido
programado, e foi providenciado às pressas quando o navio atracou para
receber carregamento. Todas as roupas de Marie estavam inacessíveis, e
ela deu uma rápida passada na única loja de roupas da cidade para com-
prar u m vestido de algodão. D e início, eles não queriam vender, pois todo
mundo estava indo a um concerto naquela noite, e não entendiam que
a cliente também não fosse. Suva não tinha nada parecido com uma sala
de concertos, e a apresentação se deu sob uma grande tenda, com u m
público de cerca de mil pessoas, todos os brancos da cidade (Marie não
seria capaz de se lembrar o que pensaram dela os fijianos nativos). O pia-
no havia sido afinado por um velho marinheiro muito surdo, que pouco
antes do início da apresentação confiou a Marie a opinião de que —
como ela logo poderia constatar — um piano sempre soa mais brilhante
quando as notas agudas são afinadas u m pouco acima. O calor era tão
terrível que alguém teve de ficar segurando u m ventilador elétrico sobre
as mãos da violinista durante toda a apresentação. A presença do gover-
nador requeria uma execução de "God Save the K i n g " . O hino foi toca-
do por uma menina da cidade, que infelizmente decidiu incluir cerca de
vinte variações, enquanto Marie e o público esperavam de pé. Seja como
for, a noite foi u m grande sucesso, culminando num jantar na residência
172 STRADIVARIUS
Herrmann simboliza bem essa tendência, embora sua rota fosse ainda
mais tortuosa que a de Heifetz. Filho de u m negociante de violinos de
Berlim, Herrmann passara a infância sendo treinado, escrevendo diaria-
mente uma página de análise de algum novo violino e sempre discu-
tindo instrumentos ao jantar. A o completar 18 anos, em 1906, estava
pronto para entrar em ação, e quase imediatamente vendeu u m belo
Amati por 21 m i l marcos [65 m i l libras]; ele não só era capaz de iden-
tificar grandes violinos, como podia t a m b é m vendê-los. Mas nem toda
a especialização de Herrmann foi suficiente para eximi-lo do serviço
militar na guerra, oito anos depois. Enviado para a frente oriental ale-
mã, foi feito prisioneiro pelos russos. Felizmente para o jovem E m i l ,
um comandante local, o aristocrático general Yurkevitch, precisava de
parceiros para a música de câmara. Mais uma vez o violino serviria de
ponte para o romance. Os olhares se encontravam por cima das estan-
tes das partituras, uma coisa deve ter levado a outra, e Herrmann aca-
bou se casando com a filha de seu carcereiro. Vindo a revolução, tudo
virou de cabeça para baixo.Yurkevitch tornou-se u m fugitivo e foi seu
genro que conseguiu tirar a família inteira do país, chegando aos E U A
através de Vladivostok. Herrmann voltaria então a Berlim, completan-
do a circunavegação do globo.
Para sobreviver à guerra e à revolução e prosperar, Herrmann pre-
cisava de fibra, iniciativa e poder de sedução. N ã o surpreende, assim,
que pela década de 1920 estivesse de volta a Nova York, estabelecido
como u m dos maiores negociantes de violinos da América.
A experiência russa de Herrmann rendeu-lhe mais que u m casa-
mento. Tudo indica que ele deveu boa parte de seus primeiros êxitos
ao resgate de instrumentos das mãos dos bolcheviques, inclusive dois
dos nossos violinos. Louis B õ h m havia levado o Khevenhuller para a
Rússia, onde o instrumento permaneceu ao ser por ele vendido aViktor
Popov, professor do Conservatório de Moscou, que finalmente o havia
dotado de acessórios modernos. E m algum momento após a revolução
de 1917, contudo, o Khevenhuller foi parar nas mãos de E m i l Herrmann.
" Q U A L Q U E R Q U E SEJA O PREÇO" 179
Como esses dois violinos de Stradivarius (...) estão entre os mais pro-
eminentes trabalhos do mestre e até recentemente sequer eram co-
nhecidos do meio musical, sinto-me no dever de descrevê-los aqui
em palavras e imagens (...)
Espero que ao publicar este pequeno estudo esteja prestando um ver-
dadeiro serviço a todos os amigos da música, amantes e conhecedores dos
grandes violinos, vividamente interessados em Stradivarius e suas criações.
V I O L O N C E L O "DAVIDOFF" C H E G A
A B O R D O D O PARIS
P R E Ç O É A V A L I A D O E M $ 85.000
' C O M O P O D E R E M O S V E N D E R ISTO?'
^ oh: - ' . -O-YJ Y
; • '
*Este grande violinista francês morreu tragicamente n u m acidente aéreo e m 1953, quando
t a m b é m foi destruído o seu Strad.
C O M O P O D E R E M O S V E N D E R ISTO?" 195
que antes da guerra integrara o Quarteto Pro Arte, foi quem sugeriu que
experimentassem o Quarteto Paganini de Herrmann. Os músicos de-
vem ter considerado convincente o teste, mas precisavam de u m pa-
trocinador. Sempre seria mais provável que tivessem mais êxito nessa
empreitada do que u m negociante; Maas e seus colegas logo encontra-
riam a necessária combinação de riqueza e senso artístico na senhora
Anna E . Clark, viúva do senador americano W i l l i a m Clark, o rei do
cobre, que prontamente enviou a Herrmann u m cheque de 155 m i l
dólares [800 m i l libras]. A sra. Clark era a proprietária dos instrumen-
tos, que eram emprestados ao Quarteto Temianka. N ã o surpreende que,
apesar da ligeira confusão que isto induzia, eles imediatamente se pas-
sassem a chamar de "Quarteto Paganini". E assim foi que o nosso
Paganini de 1680 encontrou o seu destino, estabelecido desde o m o -
mento em que Paganini o comprou.
se conta de como eram deficientes muitas das avaliações feitas por seus
antecessores na Wurlitzer. Era no mínimo embaraçoso, mas também sig-
nificava u m sério problema, decorrente das garantias em vigor conferidas
a instrumentos desacreditados. Ele se separou do resto da firma porque,
em suas próprias palavras, "não queria passar o resto da vida pagando
indenizações pelos erros de Jay C . Freeman".
Mais ou menos pela mesma época,Walter Hamma, filho de Fridolin,
tomava uma decisão semelhante. Desde antes da guerra, as garantias
fornecidas pelo velho Hamma haviam-se tornado cada vez mais incon-
sistentes. Talvez em memória de sua generosidade durante a guerra em
Paris, os mais caridosos t ê m atribuído suas avaliações mais questionáveis
ao desejo de dotar amigos judeus de algum objeto de valor no momento
em que fugiam dos nazistas. Se assim foi, sua filantropia estava equivoca-
da. Depois de pagarem o valor integral dos impostos de exportação so-
bre seus supostos Strads, os refugiados descobriam ao chegar a NovaYork
ou Londres que sua valiosa propriedade era algo na realidade muito d i -
ferente, e de muito menos valor. Seja como for, Fridolin continuou a
emitir certificados suspeitos depois da guerra. Hoje, é lembrado como
um negociante que, ao examinar um violino, não perguntava a si mesmo
"Que é isto?", mas "Como poderemos vender isto?"
E r a portanto de se esperar que os envolvidos na compra e venda de
violinos tentassem encontrar maneiras de superar a necessidade de u m
certificado de garantia fornecido por negociantes com medidas mais
científicas e supostamente objetivas. A coisa chegou ao auge na Suíça,
na década de 1950, quando se ficou sabendo que muitos dos Strads
que haviam sido expostos em Cremona em 1937 na realidade não eram
nada disso. Seguiu-se então algo que passou a ser conhecido como
liutomachia, ou a guerra do violino.
Os primeiros tiros foram dados com o estabelecimento de u m "con-
selho consultivo" de dois luthiers suíços, u m historiador da música e
um professor de violino. A equipe ofereceu-se para avaliar qualquer
instrumento que lhe fosse enviado, sustentando em seguida que 90 por
" C O M O P O D E R E M O S V E N D E R ISTO?" 201
tão à Sra. Straus: "Volto sem bagagem", sem dúvida u m alívio para to-
dos os envolvidos.
A generosidade da Sra. Holland custou-lhe 90 m i l dólares [430 m i l
libras], e seu presente vinha acompanhado de conselhos maternais dos
mais proféticos: "Você sabe, minha querida, que este instrumento é
extremamente valioso, muito caro.Terá de agarrar-se a ele como se fosse
a única coisa que tem. Se alguma coisa lhe acontecer, poderá v e n d ê -
lo."Jacqueline tocaria quase exclusivamente o Davidov durante três anos,
o que corresponderia a uma pequena parte da carreira da maioria dos
violoncelistas. N o caso de Jacqueline du Pré, representa quase u m terço.
A l é m disso, é o terço central, quando sua arte amadureceu e chegou ao
auge. As gravações feitas por Jacqueline com o Davidov provavelmente
são as mais bem-sucedidas. A mais famosa de todas — do Concerto de
Elgar sob a regência de John Barbirolli — foi feita poucos meses de-
pois do encontro do instrumento com a instrumentista. C o m e n t á r i o
da biógrafa de Jacqueline, Elizabeth Wilson: "Ouvimos como se fosse
uma cintilação luminosa excepcional na sonoridade do violoncelo,
resultado da combinação de uma artista ímpar com u m instrumento
incomparável."
Até que, pela terceira vez em sua carreira, um ato de filantropia permi-
tiu que o violoncelo viesse afinal a ser tocado por um grande instrumentista.
U m admirador anónimo, interessado no futuro do Davidov, foi informado
porVatelot da decisão de Ma. A compra foi feita, e o instrumento, encami-
nhado a Ma, com direito a usá-lo em caráter vitalício. Ainda assim, conta
ele, nunca se sentiu capaz de tocar o Concerto de Elgar no Davidov sem
sentir a presença de Jacqueline no instrumento. H á inclusive uma outra
ligação oblíqua entre M a e o outro proprietário famoso do seu Strad, Carl
Davidov, o ensaiador contrariado que não tinha tempo para o seu violoncelo.
Explica o próprio Ma: "Como não gosto de trabalhar duro, tive de apren-
der a extrair o máximo das horas de estudo."
N o fim da década de 1990, M a usou o Davidov para explorar as
possibilidades da música seiscentista, gravando arranjos de B a c h e
Boccherini com a Orquestra Barroca de Amsterdã. Para isso, restabele-
ceu ao m á x i m o a configuração original do seu Stradivarius: cordas de
tripa sobre u m cavalete barroco, tocadas com arco barroco. Mais i m -
portante ainda, a remoção do espigão obrigou M a a sustentar o Davidov
entre as pernas: " N o fim do ensaio, eu podia imaginar alguém me per-
guntando:'Desculpe, mas você é u m caubói ou u m violoncelista bar-
roco?'" Mas a experiência foi uma verdadeira revelação: "Depois da
modificação (...) o instrumento passou a produzir uma sonoridade muito
mais íntima. C o m a remoção das inovações que com o tempo foram
sendo acumuladas no violoncelo, chegamos a u m tipo diferente de
expressividade." Hoje, M a parece convencido da maior adequação do
Davidov para a música mais antiga. Ultimamente, tem-se dedicado mais
a compositores modernos, e neste caso prefere o Montagnana. Nos
últimos anos, o Davidov tem ficado em silêncio quase o tempo todo.
• A p ós a morte de Diana Menuhin, a casa foi posta à venda em 2003 por cinco m i l h õ e s de
libras. Nos últimos vinte anos, as casas em Londres provavelmente se t ê m revelado investi-
mentos mais interessantes que os violinos.
216 STRADIVARIUS
• Desse modo, pode ter sido o violino que o duque de Cambridge comprou de Viotti por 50
guinéus em 1817.
218 STRADIVARIUS
* N a verdade, eles agravaram a situação, alardeando e m seu livro sobre Stradivari as virtudes
de ainda outro Strad Viotti, fabricado em 1712; n ã o existe qualquer prova da existência desse
violino, e a referência a ele no livro parece ser u m erro de impressão.
220 STRADIVARIUS
Interpretando o Messias
Glossário
Alma — Bastão interno de madeira macia que funciona como apoio entre o
tampo e o fundo; é posicionado um pouco abaixo do pé direito do cavalete,
sendo sustido pela tensão das cordas.
Col legno — "Com a madeira" em italiano, indicando que as cordas são feri-
das com a madeira do arco, e não com as crinas.
Ilhargas (ou Costilhas) — A s quatro (ou cinco, ou seis) tiras de bordo que cons-
tituem as laterais recurvadas da caixa de ressonância, separando ofundo do tampo.
FONTES
LIVROS
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Londres, 1978. Depoimento de Charles Beare sobre o ponto a que havia
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Oxford, 1989.
Aúer, Leopold, Violin Playing as ITeach It, Duckworth & Co., Londres, 1921.
. My Long Life in Music, Duckworth & Co., Londres, 1924. Recorda-
ções de Davidov, inclusive a história do "trem especial".
Bachman, Alberto, An Encyclopaedia of the Violin, Da Capo, NovaYork, 1966.
Baillot, Pierre Marie François de Sales, TheArt of the Violin, editado e tradu-
zido por Louise Goldberg, Northwestern University Press, Evanston,
Illinois, 1991.
Baines, Anthony, Musical Instruments Through the Ages, Penguin, Londres, 1969.
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Baruzzi, Arnaldo, La Casa Nuziale, The Home of Antonio Stradivari 1667-1680,
traduzido por Desmond Hill, William E . Hill & Sons, Londres, 1962,
256 STRADIVARIUS
Hart, George, The Violin and Its Music, Dulau & Co., Londres, 1861.
. The Emperor Stradivari, Schott & Co., Londres, 1893.
. The Violin: Its Famous Makers and Their Imitators, com acréscimos e cor-
reções do filho do autor e deTowry Piper, Schott & Co, Londres, 1909.
Correspondência entre Paolo Stradivari e o conde Cozio, e a melhor
fonte sobre Tarisio.
Harvey,Brian W e Shapneau, CarlaJ., Violin Fraud, 2 a edição, Oxford University
Press, Oxford, 1997.
Henley,William, Antonio Stradivari, revisto e editado por C.Woodcock, Amati
Publishing, Londres, 1961.
Heron-Allen, Edward, Violin-making as it was and is,Ward, Lock & Co., Lon-
dres, 1884.
Herrmann, Emil, Two Famous Stradivarius Violins: King Maximilian* e 'Prince
Khevenhiiller*, Emil Herrmann, NovaYork, c.1928.
Hill,W E . & Sons, The Tuscan and Le Messie,W. E . Hill & Sons, Londres, 1976.
Hill, William Henry, Arthur E e Alfred Ebsworth, Antonio Stradivari — His
Life and Work (1644-1737), Dover Publications, NovaYork, 1963. R e -
edição de um livro lançado em 1902, escrito pelos maiores especialistas
em Stradivari da época; foi superado em certas partes, mas continua sen-
do a melhor fonte sobre Antonio Stradivari.
Hill, William Henry, Arthur E e Alfred Ebsworth, The Violin-makers of the
Guarneri Family (1626-1762), Dover Publications Inc., NovaYork, 1989.
Holman, Peter, Four and Twenty Fiddlers, The Violin at the English Court 1540-
1690, Oxford University Press, Oxford, 1993.
Kennedy, Michael, The Works of Ralph Vaughan Williams, Oxford University
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Kennedy, Nigel, Always Playing,Weidenfeld & Nicolson, Londres, 1991.
Knecht, R . J . , Catherine de Medici, Longman, Londres, 1998.
Lahee, Henry C , Famous Violinists of Today andYesterday, G.P. PutnanTs Sons,
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Lalande, Hubert, Voyage d*un François en Italie,Veneza, 1769.
Lang, Paul Henry (ed.), One HundredYears of Music in America, G. Schirmer,
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F O N T E S NÃO PUBLICADAS
luthier 39, 53 B e t t s j o h n 97
Arquimedes 50 144,156
Baker, Richard, Strad Viotti 218,219 Bultitude, Athur, fabricante de arcos 191
266 STRADIVARIUS
Vuillaume 1 2 9 , 1 3 2 , 1 3 9 aprendizado 53
Stradivari, Giovanni Battista (1703-27) (fi- Davidov 25, Ilustr. 20, 25, 62, 147-157,
lho de A S ) 6 0 , 6 6 , 6 7 , 2 2 9 , 2 4 2 180-182,190,239
Stradivari, Giulia (filha de AS) 44 Duport 147-148
Stradivari, Giuseppe (filho de AS) 6 0 , 6 6 , 7 7 Stasov, Vladimir 150
AS) 4 5 , 5 3 , 6 1 , 6 3 , 6 5 , 6 7 , 2 4 2 202,203,204
em N á p o l e s 58, 77
Stradivari, Paolo (filho de A S ) 6 0 , 6 6 , 7 1 , 7 8 , Tarisio, Luigi 1 1 0 - 1 1 3 , 1 3 7 , 1 8 9
Ktrcfier. 7600.
Castrovillarv. 7660
Bassani, mo
ÍOTtUv. 1700
Tarlani, 1700
Cramer. 7770.
" MM A
— n d a ^
cobiçados i n s t r u m e n t o s acústicos do
m u n d o . A p o n t a os f u n d a m e n t o s d a
inigualável s o n o r i d a d e por m e i o de
d a d o s científicos c o m p r o v a d o s c o m
testes q u í m i c o s e raios X . A n a r r a t i v a
r e c u p e r a detalhes da trajetória de
lendários S t r a d i v a r i u s que se t o r n a r a m
v e r d a d e i r o s " p e r s o n a g e n s " do m u n d o da
Lipitíski e o v i o l o n c e l o Davidov -
fabricado e m 1712 p a r a os M e d i c i ,
violoncelista da a t u a l i d a d e , o francês
de o r i g e m chinesa Y o - Y o M a .
L o n d r e s , é casado e tem u m a f i l h a .
Este é o seu p r i m e i r o l i v r o .
(...) mostra deforma vigorosa o impacto deste génio
excêntrico na história musical do Ocidente."
The N e w York Times