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Direção Geral

Pr. Fernando Brandão


Coordenação Acadêmica
Prof. Dr. Valtair Afonso Miranda
Coordenação do Centro de Desenvolvimento Ministerial e Missiologia
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Juarez Solino
Coordenação de Comunicação e Marketing
Pr. Jeremias Nunes dos Santos
Coordenação de EAD
Pr. Prof. Dr. João Ricardo Boechat Pires de Almeida Sales

Editor Responsável Dario Coimbra


Prof. Dr. Valtair Afonso Miranda Janaíne Vasconcelos
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Editores
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Prof. Dr. João Boechat
Prof. Dr. Dionísio Soares Maria Eduarda Transcoveski
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Prof. Dr. Valtair Afonso Miranda Autor
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Coordenação Editorial
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Sales
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Os artigos publicados são de inteira responsabilidade de seus autores e não refletem,


necessariamente, a opinião da Instituição e seu Conselho Editorial.

Endereço para correspondência: Rua José Higino, 416 – Tijuca


20510-412 – Rio de Janeiro – RJ
Faculdade Batista do Rio de Janeiro Tel: (21) 98720-5716
Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil www.seminariodosul.com.br
Sumário
Palavra do Diretor...............................................................................7
Introdução............................................................................................9

Capítulo 1 – Conceitos Importantes e Importância da Geografia


Bíblica ................................................................................................11
1.1 A Ciência Geográfica......................................................................11
1.2 A História Bíblica...........................................................................12
1.3 A Teologia Bíblica..........................................................................12
1.4 Geografia Bíblica e sua Importância............................................13
1.5 O Mundo Bíblico............................................................................15
1.6 Principais Regiões do Mundo Bíblico............................................16

Capítulo 2 – Geografia Bíblica do Antigo Testamento I................23


2.1 Palestina - Canaã ..........................................................................23
2.2 Os Patriarcas..................................................................................26
2.3 A Peregrinação de Abraão.............................................................28
2.4 Principais Ícones da Hidrografia da Terra Prometida..................34
2.4.1 O Mar Mediterrâneo.............................................................34
2.4.2 Mar da Galileia.....................................................................35
2.4.4 Rio Jordão............................................................................43
2.5 Patriarcas – Continuação..............................................................47
2.5.1 Abraão e a Guerra com os 5 Reis.........................................47
2.5.2 Isaque e Rebeca...................................................................50
2.5.3 Esaú e Jacó..........................................................................50
2.6 Habitantes de Canaã.....................................................................53

3
2.7 José no Egito e o Mundo Bíblico do Cativeiro ao Êxodo..............56
2.7.1 O Egito..................................................................................56
2.7.1 A Divisão da Palestina..........................................................65

Capítulo 3– Geografia Bíblica- Antigo Testamento II...................69


3.1 O Reino Unido................................................................................70
3.1.1 O Reinado de Saul................................................................70
3.1.2 O Reinado de Davi...............................................................71
3.1.3 O Reinado de Salomão........................................................73
3.2 O Reino Dividido............................................................................75
3.3 Impérios Poderosos daquele Tempo............................................78
3.3.1 O Império Egípcio................................................................78
3.3.2 O Império Assírio.................................................................79
3.3.3 O Império Babilônico...........................................................80
3.3.4 O Império Persa..................................................................81
3.4 Período Interbíblico.......................................................................83
3.4.1 Império Greco-Macedônio..................................................83

Capítulo 4 – A Geografia Bíblica do Novo Testamento.................86


4.1 O Império Romano........................................................................86
4.2 Cidades da Palestina no Tempo de Jesus....................................90
4.3 Planaltos, Montanhas e Vales da Terra Santa............................100
4.3.1 Montes...............................................................................101
4.3.2 Vales da Palestina..............................................................109
4.3.3 Rios Secundários da Palestina..........................................110
A) Bacia do Mediterrâneo....................................................110
B) Bacia do Jordão..............................................................111

4
4.3.4 Os Ventos da Palestina......................................................113
4.3.5 Desertos Palestinos...........................................................114
4.4 A Palestina da Época Apostólica.................................................114
4.4.1 Aspectos Geográficos Relacionados à Vida de Jesus.......115
4.4.2 Nascimento e Juventude de Jesus...................................115
4.4.3 Ministério de Jesus da Judeia...........................................115
4.5 Geografia das Viagens Paulinas.................................................. 117
4.5.1 Panorama Geográfico....................................................... 117
4.5.2 Avanço para o Ocidente....................................................118
4.6 As Viagens Paulinas.....................................................................118
4.6.1 Primeira Viagem de Paulo.................................................119
4.6.2 Segunda Viagem de Paulo.................................................120
4.6.3 Terceira Viagem de Paulo..................................................122
4.6.4 Quarta Viagem de Paulo: Roma .......................................123
Conclusão..........................................................................................125

Referências.......................................................................................127
Listas de Ilustrações.......................................................................129
Sobre o Autor ..................................................................................131

5
PALAVRA DO DIRETOR
O Ensino a Distância se tornou, nos últimos tempos, uma enorme
ferramenta na disseminação do conhecimento. Dificuldades geográ-
ficas, econômicas, profissionais, culturais e de outras naturezas im-
pediam um grande número de pessoas de obter a formação necessá-
ria para buscar seus objetivos.
Para isso, desde o marco legal da Lei 9.394, de 1996, a Lei de Dire-
trizes e Bases da Educação, a modalidade a distância tem se amplia-
do para todos os níveis de ensino.
A Faculdade Batista do Rio de Janeiro, do Seminário Teológico Ba-
tista do Sul do Brasil, não poderia ficar de fora desta que, muito mais
que uma tendência, é uma enorme necessidade em um mundo cada
vez mais complexo, uma vez que promove interconexões, ainda que
as distâncias sejam mantidas.
Por meio da modalidade a distância o aluno tem a possibilidade
de administrar seu próprio tempo e gerenciar seu estudo de acordo
com sua disponibilidade. Ele se torna, assim, responsável principal e
primeiro da sua própria aprendizagem.
O ensino a distância não isola, necessariamente, o aluno do pro-
fessor; mesmo distanciados fisicamente, eles se conectam por meio
de ferramentas de interação presentes em nossa Plataforma de EaD.
O Seminário do Sul - instituição centenária em formação de líderes
para o ministério cristão -, por meio da sua Faculdade, coloca à dispo-
sição dos vocacionados mais uma opção significativa para o desen-
volvimento de seus talentos e capacidades.
Seja bem-vindo ao Núcleo de Ensino a Distância de nossa Instituição.
Pr. Fernando Macedo Brandão
Diretor Geral

7
INTRODUÇÃO
Zeny Rosendahl (2018) define: a religião constitui um fato social,
sendo objeto de estudo por parte de várias áreas do conhecimento,
além da própria teologia: “Como fato social, exibe uma necessária
temporalidade e espacialidade”. Essa autora está nos esclarecendo
a importância da geografia, pois esta é a ferramenta adequada para
que possamos, de fato, enxergar ou encontrar a ênfase necessária
dos fatos sociais a partir da temporalidade e espacialidade.
Segundo ela, “é possível reconhecer o sagrado como elemento de
produção do espaço”. Outros autores sustentam que as construções
são moldadas pelas ideias de uma sociedade, suas formas de orga-
nizações econômica e social, distribuição de recursos e autoridade,
suas atividades, crenças e valores prevalecentes em qualquer perío-
do.
Mas, fatores como elementos físicos, biológicos e humanos e suas
relações com o planeta também são importantes na construção das
relações humanas, com o outro, com o meio ambiente, agindo e rea-
gindo diante das condições climáticas e as características do espaço
geográfico, bem como a relação com o sagrado.
Há pouco interesse, no entanto, do profissional geógrafo pela re-
ligião. Normalmente ele se interessa por outros campos do conheci-
mento, ainda que a religião esteja em todo o mundo e continue apre-
sentando processos, formas e interações espaciais que têm inúmeros
significados.
Mesmo com pouco interesse, o que foi produzido já amplia possi-
bilidades de entender a temporalidade e espacialidade dos eventos
históricos narrados nos livros referentes a diversas religiões, princi-
palmente o Cristianismo, com narrativas do Antigo e Novo Testamen-
tos.

9
O Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil, ao longo de mais
de cem anos de atuação na formação de líderes vocacionados, tem
clara visão da importância do conhecimento que esta disciplina pro-
porciona a seus alunos nos cursos de teologia e música. Além disso,
tem fomentado a criação de cursos de pós-graduação com essa te-
mática, sempre aliando a outras importantes disciplinas, como Histó-
ria do Cristianismo e Arqueologia Bíblica.
No conteúdo deste material, aqui produzido, apresenta-se uma
visão panorâmica da Geografia Bíblica. Porém, não há como esgotar
todos os assuntos que se pode relacionar ao texto bíblico.
Ainda que não seja o foco principal, haverá sempre uma ligação
com fatores históricos, geológicos e arqueológicos, pois a Geografia
Bíblica é uma disciplina acessória, e com essa característica, será pro-
jetada e limitada por períodos históricos e possíveis achados e com-
provações geológicas e arqueológicas.
Na primeira parte, trataremos da conceituação e da área de inte-
resse da geografia bíblica. Em seguida, teremos 3 divisões a serem se-
guidas: a Geografia Bíblica do Antigo Testamento I, cobrindo o período
de Gênesis até Juízes; a Geografia Bíblica do Antigo Testamento II,
abrangendo o período monárquico, relações com os Impérios inimi-
gos até o governo dos Selêucidas e a posterior Revolta dos Macabeus;
e a Geografia Bíblica do Novo Testamento, com foco na Introdução à
vida de Cristo.
Em cada uma das unidades de estudos, teremos alguns mapas
ilustrativos e mapas para execução de possíveis trabalhos a partir do
conteúdo escrito. Haverá conteúdo versando sobre a hidrografia, to-
ponímia1 bíblica entre outros tópicos.

1
  Toponímia bíblica é o estudo dos montes da Bíblia, a partir de seus nomes e suas rela-
ções entre os nomes próprios, o contexto bíblico em que se apresentam e as característi-
cas sociais dos indivíduos apresentados pelos relatos na Bíblia.

10
CAPÍTULO 1
CONCEITOS IMPORTANTES E IMPORTÂNCIA DA
GEOGRAFIA BÍBLICA
1.1 A CIÊNCIA GEOGRÁFICA
Geografia (do grego geo = terra; grafia = descrição, tratado, es-
tudo) é a Ciência que estuda a Terra na sua forma. Ou seja, estuda
os acidentes físicos, o clima, as populações, as divisões políticas etc.
Nesse sentido, a Geografia subdivide-se em diversas outras discipli-
nas: a Geografia Humana, a Geografia Econômica, a Geografia Física,
a Geografia Política, a Geografia Histórica, dentre outras.
A Geografia Humana preocupa-se em estudar os agrupamentos
humanos em suas relações com a Terra: como repartem o espaço,
como se adaptam às condições naturais, como se organizam para ex-
plorar os recursos provenientes da natureza etc.
A Geografia Econômica está atenta ao estudo dos recursos eco-
nômicos de origem vegetal, animal e mineral presentes nas diversas
regiões da terra e suas formas de exploração.
A Geografia Física estuda os traços físicos das diversas regiões da
terra, o que inclui o estudo do relevo, do clima, da vegetação, da fau-
na e da flora.
A Geografia Política estuda a influência da geografia na política,
a relação entre o poder de um país e sua geografia física e humana,
bem como o estudo do reparto político da terra.
A Geografia Histórica procura reconstruir os aspectos humanos,
econômicos, físicos e políticos de uma dada região do passado. É nes-
te campo que se insere a Geografia do Mundo Bíblico ou Geografia

11
Bíblica, que se dedica a estudar as diversas regiões que serviram de
palco para os acontecimentos narrados nos livros da Bíblia.

1.2 A HISTÓRIA BÍBLICA


Evidentemente que o caráter histórico da Bíblia tem importância
muito grande no estudo da Teologia, mas, nesse conteúdo, a história
não será explorada como prioridade e não faremos comentários ou
nos deteremos nas controvérsias acadêmicas em torno de fatos his-
tóricos.
Procuraremos citar textos de autores consagrados, evitando in-
cluir qualquer obra de reconstrução teórica com pouca evidência,
mas isso não impede que, mesmo assim, haja a possibilidade de in-
clusão de textos que tragam algum tipo de polêmica.
O texto bíblico, que é nossa principal fonte de pesquisa, por si só
não nos permite esclarecer detalhes com pontos obscuros ou de difí-
cil compreensão. Contudo, temos certeza de que tais pontos não im-
pedirão que o aluno tenha uma melhor visão sobre a temporalidade
e a espacialidade.
Em seu caráter geográfico, a Bíblia, em sua história, se desenrola
num amplo ambiente. Ao longo do tempo e história, as regiões são
ocupadas por potências políticas, independentes da variação de seus
territórios, como Israel, Roma, Assíria, Egito entre outras e lugares im-
portantes como Damasco, Jerusalém, Atenas, Malta, Chipre, Babilô-
nia etc. Alguns desses, ainda relevantes nos dias de hoje. Outros, não
são mais reconhecidos ou não identificados, mesmo sendo importan-
tes no relato bíblico.

1.3 A TEOLOGIA BÍBLICA


Não podemos, em momento algum, esquecer do caráter teológico
da Bíblia, que é de demonstrar como Deus promoveu, na pessoa de
seu único filho, Jesus Cristo, a salvação da humanidade caída.

12
Conforme texto introdutório do Atlas de Paul Lawrence (2008) “O
Deus da Bíblia é o seu maior tema unificador”. Esse autor cita o profe-
ta Isaías esclarecendo que o povo, os habitantes da terra, eram como
gafanhotos, e que Deus é um Deus vivo que “está assentado sobre a
redondeza da terra” (Is 40:22).
Portanto, somente Deus pode ter a certeza sobre tudo e todos os
fatos históricos, sobre a criação e a própria história narrada na Bíblia,
que muito além de história é a revelação de Deus.

1.4 GEOGRAFIA BÍBLICA E SUA IMPORTÂNCIA


Money (2003) afirma que a Geografia Bíblica “ocupa-se do estudo
sistemático dos cenários da revelação divina e da influência que teve
o meio ambiente na vida de seus habitantes
A Geografia Bíblica proporciona ao conhecedor dela a possibilida-
de de potencializar sua interpretação, não só de eventos históricos,
mas de detalhes descritos pelos autores bíblicos relacionados com a
geografia geral. O estudo da Geografia Bíblica indica ou dá informa-
ções de locais, que podem ser comparados utilizando-se a Geografia
Geral, evidentemente levando-se em consideração mudanças de re-
levos e mudanças cartográficas.
Importante observar, quando se quer analisar a citação de fatos
históricos com a narrativa bíblica, por exemplo: local exato onde pou-
sou a arca de Noé, ou a travessia do Mar Vermelho pelo povo de Deus.
Pela Geografia Bíblica se tem a informação do local e pela Geografia
Geral se tem a informação das modificações que o relevo sofreu e a
possível mudança nos mapas que o tempo normalmente atribui ao
campo da história e da geografia.
Com isso, a geografia bíblica ajuda o aluno a fixar, associar e docu-
mentar melhor os relatos bíblicos. Na explanação dos assuntos bíbli-
cos, é possível lhe dar maior credibilidade, pois uma história contada,
corroborada com elementos que podem ser comprovados com a pes-

13
quisa geográfica, é mais bem assimilada e pode ajudar a combater
os eventuais críticos das narrativas bíblicas, comumente encontrados
em nosso mundo secularizado.
Vivemos em um mundo onde os valores religiosos e teológicos são
colocados em discussão com relação a sua autenticidade a todo mo-
mento e a geografia ajuda muito, principalmente nas passagens bíbli-
cas que trazem dificuldades de entendimento.
Um exemplo que particularmente produziu neste autor muito es-
clarecimento, foi a questão da passagem bíblica em que Jesus ordena
que os ventos da tempestade parassem, para alívio dos navegantes,
seus seguidores. A narrativa versa sobre uma violenta tempestade
que se abateu no Mar da Galileia (Mt 8:24).
A questão, aqui, se refere, ao analisarmos geograficamente, ape-
nas a informação de que o mar citado na verdade é um lago. Somente
pela leitura, fica muito difícil aceitar que haveria força suficiente nos
ventos a ponto de virar um barco em águas de um lago, mesmo que
este seja de grandes dimensões.
Conhecendo a geografia bíblica com mais propriedade, é possível
entender que o Mar da Galileia fica ao norte da região, próximo a uma
montanha gelada (monte Hermom), de onde se originam suas águas.
O Mar da Galileia provê as águas do Rio Jordão que seguem ao sul
entre duas cordilheiras de montanhas e desemboca no Mar Morto,
numa região com clima quente do deserto.
Ao Norte, gelo; ao Sul, deserto e calor. Correntes de ventos se proje-
tam do Norte para o Sul ou do Sul para o Norte, entre dois “paredões
de montanhas” que proporcionam potencialização de canalização
dos ventos. Muitas vezes, o ar quente do Sul chega com muita força ao
Norte, provocando choques térmicos, que geram terríveis tempesta-
des, e, podem sim, provocar o naufrágio de grandes barcos em nossa
atualidade. Podemos imaginar que os barcos, no tempo de Jesus, não
deveriam ser tão bem projetados e executados para poder resistir.

14
Veja como o exemplo acima faz com que entendamos melhor, a
partir do conhecimento da geografia, o fenômeno descrito no texto.
Além disso, esse entendimento ajuda a corroborar o que a questão
teológica afirma: o feito de Jesus Cristo foi um milagre. A tempestade
não só foi um fato narrado na Bíblia, mas pode ser um fato comprova-
do e explicado pela ciência geográfica.

1.5 O MUNDO BÍBLICO


É preciso entender o que normalmente os autores denominam de
Mundo Bíblico. Na Bíblia, considera-se o Mundo Antigo aquele cujas
regiões foram sendo habitadas, após o dilúvio, e que eram conheci-
das nos dias de Abraão, sob a promessa de Deus de que faria a partir
dele uma grande nação. Por ele abençoaria todas as famílias da terra
e sua semente herdaria, por possessão perpétua, a terra prometida
de Canaã.
Como este estudo é de ordem panorâmica, não há como tratarmos
com detalhes como foi feito esse repovoamento da terra. A narrativa
bíblica conta a história de Noé e de seus três filhos - Sem, Cão e Jafé
-, que deram origem a três grandes etnias raciais: semitas, camitas e
jafetitas, que se espalharam pela Ásia, África e Europa.
Evidentemente, com isso, deixaremos também de tratar de al-
guns assuntos que causam curiosidade aos leitores da Bíblia, como:
a questão de onde fica o Jardim do Éden, a primeira morada de Adão
e Eva (Gn 2:8), ou a questão dos quatro rios mencionados em Gn 2:10-
14, dos quais só podemos afirmar, com certeza, sobre os rios Tigre e
Eufrates, pois há narrativas e evidências geográficas que possibilitam
identificá-los.
É preciso comentar que o relato da criação, em Gênesis, encontra
paralelos na literatura de povos mesopotâmios2.. (Lawrence (2008,

2
  Mesopotâmia: região identificada na Bíblia entre os dois rios, Tigre e Eufrates, atual
Iraque.

15
p.15) escreve: “no Épico de Atrahasis de c.1635 a.C., onde a deusa-
mãe Mami (ou Nintu), com a ajuda do deus Ea, criou os seres huma-
nos a partir de uma mistura de barro com sangue de Aw-ilu, um deus
que havia sido assassinado”. E ainda há outros relatos relacionados
aos babilônios, com narrativas sobre o deus Marduque que utiliza
prática parecida para criação da humanidade. Há, nessas narrativas,
paralelos muito próximos que podem ser relacionados entre Gêne-
sis e diversas histórias mesopotâmicas, assuntos que sugerimos para
pesquisas, inclusive para temas de trabalhos de conclusão de curso.
Figura 1. Origem dos povos do Oriente Médio 3000 a.C. – 2.000 a.C.

Fonte: https://www.pcamaral.com.br/2010/03/um-novo-comeco-serie-no-
principio-7.html
Nesse panorama geográfico e nos demais tópicos de nosso texto,
vamos sempre relacionar às narrativas históricas, algumas descober-
tas arqueológicas e associando-as à revelação de Deus, na busca de
uma visão mais nítida dos fatos.

1.6 PRINCIPAIS REGIÕES DO MUNDO BÍBLICO


Já foi mencionada a região chamada de Mesopotâmia. Ela tem
cerca de 1.500.000 km2, situada a oeste da Ásia, estendendo-se dos
montes da Armênia, ao norte, até o Golfo Pérsico. Essa região é apon-
tada na Bíblia como o berço da humanidade (Gn 2:10-14).

16
Antes de versar sobre ela, faremos referência à região denomina-
da pelos estudiosos como Fértil Crescente ou Crescente Fértil. Keller
(2012, p.416) identifica, e como se pode observar na figura abaixo, que
forma um semicírculo a partir do Egito, passa pelo Mar Mediterrâneo,
cobre a Palestina, a Síria Mediterrânea, segue depois para o leste, co-
bre os rios Tigre e Eufrates, que limitam a mesopotâmia, e desce até o
Golfo Pérsico, completando o semicírculo.
Essa região, no relato Bíblico, conforme Ez 20:6,15, é a terra pro-
metida por Deus: “...uma terra que eu havia procurado para eles, terra
onde há leite e mel com fartura, a mais linda de todas as terras”.
Figura 2: Crescente Fértil.

Entre o Mar Mediterrâneo e o Golfo Pérsico, estende-se a região


que hoje chamamos o Médio Oriente. Pode ser considerada a mãe de
muitas culturas e civilizações. Sua parte principal é uma faixa semicir-
cular de terras férteis, cercada por desertos e montanhas, começa no
norte do Egito, no delta ou estuário do Rio Nilo3, e continua em dire-

3
  Conforme Wikipédia, O delta do Nilo é a região onde o rio Nilo se divide em vários bra-
ços para desaguar no mar Mediterrâneo, no norte do Egito. É uma planície com uma for-
ma triangular (de onde provém o termo “delta”), com 160 km de comprimento e 250 km
de largura.

17
ção oriental nas planícies de Canaã ou Palestina e nas regiões aluviais
da Síria e do Iraque, irrigadas pelos rios Tigre e Eufrates.
Por situar-se entre os dois rios, a parte oriental da região chama-se
Mesopotâmia. Toda a faixa, em forma de meia lua, constitui assim o
chamado “Crescente Fértil”.
Apesar dessa faixa passar por diversos países, suas extremidades
não se encontram tão distantes assim: apenas 2.000 a 2.400 km (do
Egito ao golfo da Pérsia) – equivalente à distância entre São Paulo e
Salvador, BA -, dentro da qual se acha uma região fértil, que foi o ce-
nário das narrativas bíblicas.
Quando olhamos para os mapas atuais, não podemos afirmar que
essa região é o centro do mundo. Mas, levando em consideração o
curso dos acontecimentos e o estudo da cartografia antiga, com cer-
teza, o mundo conhecido daquela época estava praticamente limita-
do àquela região.
Jerusalém não era o centro geográfico do mundo, mas a cidade
esteve estrategicamente no centro das atenções do mundo. O que
corrobora a ideia teológica de que Deus escolheu aquela região para
protagonizar os acontecimentos até a chegada do Salvador da huma-
nidade “na plenitude dos tempos” (Gl 4:4).
Tognini (2009, p.14) afirma que os cartógrafos medievais represen-
tavam o mundo por um círculo, com Jerusalém no centro:
Observando a figura 3, podemos destacar que as cidades e regi-
ões constantes na Bíblia, tanto do Antigo Testamento quanto do Novo
Testamento, estão contempladas dentro do raio de extensão do Cres-
cente Fértil.
Tognini (2009) continua: “Em algum ponto desse imenso Jardim do
Senhor, a humanidade teve seu berço, antes do dilúvio. Civilizações
importantes, como suméria, a acádia e a aramita, aí nasceram e daí
saíram levando progresso para outras partes da terra”.

18
Figura 3: Mapa Medieval

Fonte: TOGNINI
A seguir, versaremos sobre algumas regiões pertencentes ao Cres-
cente Fértil ou de localização próxima a ele:
A Mesopotâmia, é uma região de cerca de 1.500.000 km2, situada
a oeste da Ásia, correspondente ao atual Iraque. A terra entre os rios
Tigre e Eufrates cujas nascentes provêm das montanhas do leste da
Turquia.
O rio Eufrates tem cerca de 2.850 km, com seu curso tortuoso atra-
vessa a Turquia, faz uma curva acentuada na Síria e é mais longo do
que o rio Tigre. Esse possui 1.840 km de extensão. Os dois rios che-
gam ao seu ponto mais próximo um do outro, distando cerca de 30
km na altura da atual Bagdá, e voltam a se afastar seguindo pela pla-
nície aluvial ao sul do Iraque.
Nessa região, a irrigação natural desses dois rios proporcionava
terra fértil onde se plantava, especialmente, cevada e tâmaras. No
passado, os dois rios desembocavam no Golfo Pérsico, em locais di-
ferentes. Hoje, isso não acontece mais, pois houve um recuo da linha
costeira do Golfo Pérsico e os dois rios formam um outro rio chamado
Shatt el-Arab.

19
Lawrence (2008, p.22) informa: “Arqueólogos conseguiram iden-
tificar várias culturas pré-históricas organizadas em vilas na Meso-
potâmia”. Inclusive, cita a descoberta de um templo de 70m x 33m,
decorado com datação de 4.000 a.C. Além de outros achados arque-
ológicos.
Lawrence (2008) também apresenta resumos de períodos dinásti-
cos com diversas denominações: Período Dinástico Antigo; A Dinas-
tia Acádia; A Terceira Dinastia de Ur; A Primeira Dinastia da Babilônia,
entre outras, demonstrando como essa região da mesopotâmia foi
realmente berço de muitos povos e cultura.
A Bíblia relata fatos que aconteceram nessa região como: a forma-
ção do jardim do Éden, a tentação e queda do primeiro homem, o
crime e o banimento de Caim, o dilúvio e o salvamento de Noé e sua
família, a dispersão dos grupos originários de seus três filhos, promo-
vendo o repovoamento da terra, a tentativa de Ninrode (ou Nimrod,
ou Nimrode) de construir uma torre que tocasse os céus e de manter
toda a humanidade reunida num só lugar e a consequente confusão
de línguas, o surgimento da cidade da Babilônia e a dispersão da hu-
manidade. O que corrobora com os achados arqueológicos.
Adotando uma visão simplificada da Mesopotâmia, vamos dividi-
la em duas partes: a do Norte é a Assíria; a do Sul é a Babilônia, tam-
bém chamada Caldeia. Foi nessa parte da Mesopotâmia, em Ur dos
caldeus, que teve origem o “pai da fé” Abraão (Gn 11:26-28), de cuja
descendência originou-se o povo hebreu, por meio do qual Deus se
revelou e enviou o Salvador.
A Assíria, cujo nome veio de Assur, que foi filho de Sem e neto de
Noé (Gn 10:11), foi constituída ao redor de sua mais antiga cidade e ca-
pital: Assur. Em torno dela foi se construindo uma nação, que se expan-
dia e às vezes se retraía em função das diversas disputas com povos
vizinhos. Seu povo inicialmente foi mesclado com acádios e semitas
fugidos de perseguições, eram originários de Jebel Bishri, na Síria.

20
A cidade mais célebre da região e, desde 885 a.C., a capital, foi Ní-
nive, que ficava à margem oriental do rio Tigre. Essa cidade viria a
se tornar grande ameaça ao povo de Israel. Era a cidade sanguinária
que o profeta Jonas queria ver destruída por isto fugiu para Társis (Jn
1:2,3)
Nas montanhas da Assíria, o rei Salmanazar instalou uma grande
parte dos cativos de Israel (Reino do Norte), quando foram subjuga-
dos pelo exército assírio (2Rs 17:6).
Babilônia ou Caldeia situava-se ao Sul, região alagadiça e fértil,
foi berço do grande e poderoso Império Babilônico, dominador de
grande parte do mundo antigo e que manteve em seu território, em
exílio, o povo judeu (Reino do Sul) durante 70 anos. Ali exerceram seus
ministérios os profetas Daniel e Ezequiel.
Sua Capital era a Cidade da Babilônia, edificada por Nimrode, filho
de Cusi, neto de Cão e bisneto de Noé. A narrativa Bíblica afirma que
Nimrode se tornou poderoso e fundou a Cidade da Babilônia e várias
outras, assim como Nínive, na Assíria (Gn 10:8-12). Ele criou um impé-
rio que passou a ser conhecido como fortaleza do mal. É desta forma
que Apocalipse se refere à Babilônia: “reinado do mal”.
A Pérsia, primitivamente era pequena, situada a nordeste do Golfo
Pérsico, a sudeste da Babilônia e Elão, ao sul da Média, tendo ao leste
a Carmânia, desconhecida nos relatos Bíblicos. Atualmente, essa re-
gião é o Irã moderno. (RONIS, 1999, p.144)
Mas, o Império Persa foi muito grande e poderoso abrangendo
toda a Ásia Ocidental, Grécia e Egito. A capital mais antiga era Persa-
gada ou Pasárgada, depois Persópolis, e até Susã, antiga capital de
Elão. Depois da queda do Império babilônio sob o poder medo-persa.
No livro de Ester, há descrição de acontecimentos na Pérsia no rei-
nado de Assuero que tinha como sede a cidadela de Susã. (Et 1:2).
Há outras regiões importantes que fazem parte da mesopotâmia,
como Elão, citada em Gn 14, Média, que no tempo do Império Ro-

21
mano marcava o limite oriental deste, que era uma vasta planície co-
berta de ricas pastagens e serviu de lugar para os cativos de Samaria
(Reino do Norte), que foram levados pelo rei da Assíria para esta terra
(2Rs 17:6, 18:11).
Muitas são as regiões dentro da mesopotâmia e fora dela que fa-
zem parte do mundo Bíblico e não caberia aqui descrevê-las. Mas ci-
tamos: Arábia, com seu imenso deserto e sua importância na história
Bíblica, incluindo a peregrinação do povo de Deus. Armênia ou Ara-
rá, com suas extensas e altas serras ao norte da Média, Assíria e Síria,
onde há as nascentes dos rios Tigre e Eufrates. Síria ou Arã, em cujo
extremo sul fica o monte Hermom. Tognini (2009, p.20) relata que
a Síria foi o primeiro país estrangeiro a receber o cristianismo pelo
testemunho dos crentes perseguidos em Antioquia e lá foram pela
primeira vez chamados de cristãos (At 11:26).
Palestina ou Canaã encontrada na região central do mundo Bíbli-
co, onde praticamente tudo aconteceu, desde Abraão a Jesus e que
será ainda muito trabalhada nestes escritos.
Fenícia, próxima ao mar mediterrâneo, com as famosas cidades
portuárias de Tiro e Sidom, cujos habitantes eram notáveis em nave-
gação, comércio e até mesmo na arte e literatura. Um povo que so-
breviveu e gerou descendentes espalhando-se pelo mundo, como os
cartaginenses e libaneses.
Egito, situado ao Norte, é a terra que depois da Palestina, em ter-
mos históricos e religioso, é a mais salientada na Bíblia. Foram muitos
séculos de narrativas bíblicas nessa região e, assim como a Palestina,
será alvo de nossa especial atenção.
Etiópia, Líbia, Ásia Menor, Grécia ou Hélade, Macedônia, Roma,
as montanhas e montes, Rios, Desertos e Cidades também serão al-
vos de nossos estudos, sempre de forma panorâmica.

22
CAPÍTULO 2
GEOGRAFIA BÍBLICA DO
ANTIGO TESTAMENTO I
2.1 PALESTINA - CANAÃ
Nos tempos dos Patriarcas, a Palestina era uma terra situada en-
tre a Síria ao norte, o Egito a sudoeste, a península do Sinai ao sul, o
rio Jordão a leste e o mar Mediterrâneo a oeste. Uma região cuja área
aproximada de 26.000 km², ou seja, pequena, podendo ser compara-
da com o Estado de Alagoas, aqui no Brasil, que tem cerca de 27.000
km². O Rio de Janeiro poderia conter duas Palestinas.
Era uma região pequena do ponto de vista dimensional e insignifi-
cante no que diz respeito à relevância política no Antigo Testamento,
diante de verdadeiras potências, como o Egito, a Assíria e mesmo de
países menores como a Fenícia etc.
Essa região recebeu diversos nomes ao longo da história. Os prin-
cipais na época dos Patriarcas são: Canaã, Terra da Promessa e Pales-
tina, posteriormente também foi chamada de Terra de Israel, Terra de
Judá e Terra Santa.
Canaã é o nome mais antigo do tempo dos Patriarcas: “E tomou
Abrão a Sarai, sua mulher, e a Ló, filho de seu irmão, e a toda a fazen-
da, que haviam adquirido; e as almas que lhe acresceram em Harã, e
saíram para irem à terra de Canaã, e vieram a terra de Canaã (Gn 12:5).
O nome Canaã deriva do neto de Noé, filho de Cão, chamado Ca-
naã (Gn 10:6, 15-18) e foi dado à terra para designá-la como terra ha-
bitada pelo povo de Canaã. Essa definição não é unânime, há autores
que atribuem à palavra Canaã o sentido de “habitantes de terras bai-
xas”, incluindo Ronis (1999, p.41).

23
Figura 4: Canaã

Fonte: https://br.pinterest.com/pin/566257353130101240/
O nome Palestina é uma adaptação da palavra filisteia que signifi-
ca “terreno dos filisteus”, que foi um povo muito importante na histó-
ria hebraica. (MONEY, 2003, p.61).
A Palestina é a Terra das Doze Tribos, que abrange Canaã e a região
transjordânica4, está situada no extremo meridional da curva ociden-
tal do Fértil Crescente, limitando-se ao norte com o Líbano e o monte
Hermom, a leste com o deserto Sírio, a oeste com o mar Mediterrâneo
e ao sul com o deserto da Arábia.
O nome Terra Prometida, de forma mais ampla, refere-se ao ter-
ritório que Deus havia prometido a Abraão, o qual foi possuído pelo
povo de Israel somente durante parte dos reinados de Davi e Salo-
mão, que eram as terras pertencentes aos filhos de Israel (Jacó) que
4
  A leste do Rio Jordão há um planalto que se denomina região da Transjordânia, onde
hoje faz parte do território da Jordânia.

24
formaram as Doze Tribos e, por isso, também foi chamada pelo nome
Terra de Israel.
O nome Terra de Judá faz referência ao território que ficou per-
tencendo às duas tribos, Judá e Benjamim, que formaram o Reino do
Sul, após a divisão do reino. Já Terra Santa, foi um nome que surgiu a
partir de uma referência feita à região pelo profeta Zacarias, em uma
de suas profecias: “Então o Senhor possuirá a Judá como sua porção
na terra santa, e ainda escolherá a Jerusalém” (Zc 2:12)
Figura 5: Limites da Palestina
Mar da Galileia, mas
também denominado
no AT: Quenerete ou
Quinerote; no NT Gene-
Mar Mediterrâneo que saré e Tiberíades
na antiguidade também
foi chamado de: grande
abismo; para os gregos, Mar
o grande mar, para os
romanos, o internum Mediterrâneo
mare.
Rio Jordão
A Bíblia chama de mar
Grande; mar ocidental;
mar dos filisteus; mar Mar Morto, mas tam-
de Jope ou Jafa bém denominado no
(Bíblia de Jerusalém). AT como: mar de Ara-
bá; mar Oriental; mar
O termo mais emprega-
Salgado.
do é simplesmente mar.
Fora da Bíblia recebe
outras designações:
lago do Asfalto; mar
pestilento; mar de So-
doma e Gomorra; mar
de Ló; mar de Segor.

Fonte: Estudos Bíblicos Evangélicos5


Como foi informado anteriormente, trataremos da geografia a
partir das narrativas dos Patriarcas.

5
 https://www.google.com/search?q=mapa+da+palestina+no+antigo+testamen-
to&sxsrf=AOaemvJfIX7gFrkmdEPiGApLC9X4HfJzuw:1638988291243&source=lnms&-
tbm=isch&sa=X&ved=2ahUKEwixtoX69T0AhUNr5UCHT8tDZMQ_AUoAXoECAEQAw&-
biw=1242&bih=568&dpr=1.1#imgrc=BXpOYw7f0X-VuM

25
2.2 OS PATRIARCAS
Em Gênesis, dos capítulos 12 a 50, podemos ver a relação de Deus
com um homem chamado Abraão, seus descendentes: Isaque, Jacó
– Israel – com seus doze filhos, com destaque para José. Não é tarefa
fácil identificar o período histórico exato de Êxodo, para se ter uma
evidência Bíblica. Lawrence (2008, p.24) escreve: “uma das datas para
Êxodo é 1447a.C.” (1Rs 6:1) e nessa hipótese, Jacó e seus filhos chega-
ram ao Egito em 1877 a.C. O que determinaria que o nascimento de
Abraão se deu na metade do século XXII a.C.
Lawrence continua: Outra data possível seria 1270 a.C. Nesse caso,
considerando os mesmos dados anteriores, Abraão teria nascido por
volta de 2000 a.C. Há estudiosos, porém, que consideram que o tem-
po que Israel permaneceu no Egito foi bem menor do que 430 anos
e, dessa forma, situam os Patriarcas em período posterior, entre os
séculos XX e XVI a.C., na chamada Idade do Bronze II.
No antigo Israel a família era patrilinear (Bíblia de Estudo Arque-
ológica NVI. 2013)6. Com a morte do patriarca, o filho primogênito
se tornava o novo chefe da família e a linhagem paterna continuava
através dele. Esse primogênito tinha privilégios e responsabilidades
especiais, conforme Gn 18.
Na Bíblia, o direito de primogenitura, em alguns textos, sugere que
os primogênitos pertenciam a Deus. Para comprá-los de volta, sim-
bolicamente, faziam sacrifícios de animais, conforme Êx 13:2, 12-16;
22-29 e Nm 3:13.
No entanto, o direito de primogenitura poderia passar para outro
filho em circunstâncias excepcionais, conforme 1Cr 5:1,2 onde há o
relato em que Rúben perdeu esse direito, porque profanou o leito de
seu pai.
Há outras possibilidades, que estão no relato bíblico, e são corro-
6
  Bíblia de Estudo Arqueológica NVI – “A herança era passada para a linhagem masculi-
na”, p.43

26
boradas com costumes e legislação na antiga Mesopotâmia. Em Nuzi
e Mari7, há documentos que registram que se uma concubina gerasse
o primeiro filho, seu direito de nascimento – primogenitura – podia
ser retirado se a esposa principal gerasse um filho mais tarde. Foi o
que aconteceu com Ismael e Isaque (Gn 21).
Na figura 6, observamos a linhagem a partir de Abraão.
Figura 6: Árvore genealógica dos Patriarcas

Fonte: montagem do autor com base no Atlas Histórico e Geográfico da Bíblia, p.25
Na sociedade patriarcal, as unidades sociais consistiam em agru-
pamentos compostos por poucas casas ao redor de um pátio, circun-
dadas por um muro. O patriarca mais velho e seus descendentes ime-

7
Locais onde foram descobertos documentos que esclarecem e ajudam a compreender
os costumes patriarcais. Em Nuzi, foi encontrada uma biblioteca com cerca de 20 mil
tabletes e em Mari cerca de 25 mil. Ambas as cidades são da mesopotâmia (cf. Bíblia de
Estudo Arqueológica NVI. p. 43) 

27
diatos ocupavam uma das casas, e os filhos casados e as respectivas
famílias viviam em outras casas dentro da demarcação.
O Patriarca era responsável pelo bem-estar socioeconômico e reli-
gioso de toda a sua casa e na proteção de visitantes estrangeiros que
viessem a se hospedar em sua casa. (Lv 19:33,34)

2.3 A PEREGRINAÇÃO DE ABRAÃO


Tera, o pai de Abrão – como era conhecido antes de Deus mudar
seu nome – deixou “Ur dos Caldeus” e foi para Harã, na fronteira nor-
te da Mesopotâmia, distante cerca de 30 km da atual cidade turca de
Urfa8. Ur era um dos centros de uma civilização bem evoluída para a
época, bem antes de Abraão, conforme achados arqueológicos
Ur dos Caldeus foi a cidade de onde Abraão partiu com seu pai Tera
e foram para Harã, onde permaneceram até a morte de Tera. Harã era
uma cidade muito desenvolvida comercialmente e assim como Ur, ti-
nha uma população idólatra. Ficava a noroeste da Mesopotâmia, nos
contrafortes das montanhas Taurus, e era uma importante encruzi-
lhada da Antiguidade. Os arqueólogos descobriram que ela era um
centro florescente, que copiava Ur, tanto na disposição de ruas e edifi-
cações como na devoção a Nannar/Sin (SITCHIN, 2000, p.318), que era
uma divindade feminina suméria associada à lua.
A narrativa bíblica não informa quanto tempo Abraão e sua família
permaneceram em Harã, mas a tônica da narrativa sugere uma longa
estada. É verdade que não há informações sobre a idade que Abraão
tinha quando chegou a Harã, mas, coligindo as informações da Bíblia
com dados arqueológicos, alguns pesquisadores de fontes arqueo-
lógicas, como Zecharia Sitchin, afirmam que Abraão tinha setenta e
cinco anos quando saiu de Harã e que a Bíblia é a fonte de maior in-
formação sobre a vida e a peregrinação de Abraão.
8
  Alguns estudiosos consideram que Urfa e Ur são o mesmo lugar, mas parece não ser
possível, pois o nome “Ur dos Caldeus” por si só identifica que Ur era uma cidade do sul
da mesopotâmia, onde viviam os caldeus e Urfa fica ao norte.

28
Figura 7: Ur dos Caldeus

Fonte: https://estiloadoração.com/cidade-de-ur-dos-caldeus/
A Bíblia de Estudo Arqueológica NVI (p. 43) informa que Harã era
uma cidade estrategicamente situada na rota de comércio entre o
Oriente e o Ocidente, que ligava o Rio Tigre ao mar Mediterrâneo. Foi
considerada um dos mais importantes centros comerciais e religio-
sos do norte da Mesopotâmia. Durante cerca de mil anos depois dos
Patriarcas continuou a crescer por conta de sua vocação e relação
comercial com outros países e, também, por ser um centro religioso
bastante procurado.
A Bíblia relata que Abraão atendeu ao chamado de Deus e às suas
instruções de sair daquela terra e levar sua família, servos e bens, jun-
tamente com seu sobrinho Ló, para uma terra a ser indicada – Canaã
(Gn 12: 4,5). Mas, ele tinha forte ligação com Harã, pois sua parentela
permaneceu ali. Mandou buscar, mais tarde, uma esposa para seu fi-
lho Isaque (Gn 24:1-7,24) e, de outra vez, o filho de Isaque, Jacó, en-
controu refúgio com seu tio Labão (Gn 27: 42-28:5), e lá permaneceu
por 20 anos, casando-se com Lia e Raquel antes de retornar a Canaã.

29
Figura 8: Jornada de Abraão

Fonte: Atlas Histórico e Geográfico da Bíblia, p. 25


Na figura 8, o mapa identifica a jornada completa de Abraão. Al-
guns estudiosos dividem-na em quatro fases de peregrinação.
yy A 1ª fase, ele peregrinou até Harã – já mencionada.
yy A 2ª fase - trata-se do trajeto até Canaã. De Harã, Abraão, com se-
tenta e cinco anos (Gn 12:5), atravessou a terra até o carvalho de
Moré, localizado num famoso santuário de Siquém, na região cen-
tral de Canaã (Gn 12:6). Conforme texto bíblico, naquela época, os
cananeus eram habitantes daquela região.
Siquém foi a primeira morada de Abraão em Canaã. Situada no
centro geográfico de Samaria, entre os Montes Ebal e Gerizim. Ali tam-
bém erigiu o primeiro altar na terra de Canaã após o relato a seguir:
Foi nesse tempo e contexto que Deus apareceu a Abraão e disse: “À
sua descendência darei esta terra” (Gn 12:7). Podemos observar que a
aliança Abraâmica é incondicional, dependendo unicamente de Deus
que se obriga em graça a realizar o que prometeu. A aliança foi dada
em linhas gerais e mais tarde foi confirmada a Abraão em maiores de-
talhes, em Gn 13:14-17; 15:1-7; 17:1-8 e 18-21 (NELSON, p.32).

30
A jornada de Abraão foi alimentada pela fé. “Pela fé peregrinou na
terra prometida como se estivesse em terra estranha; viveu em ten-
das, bem como Isaque e Jacó, co-herdeiros da mesma promessa” (Hb
11:9).
Em Siquém ou em suas cercanias há outras importantes citações
bíblicas como: Jacó, ao voltar da Mesopotâmia, fixou-se ali e levan-
tou um altar ao Senhor (Gn 33:18-20) e cavou um poço que se tornou
célebre pelo encontro que se deu neste mesmo poço entre Jesus e a
mulher samaritana. Os ossos de José trazidos do Egito foram enter-
rados ali (Js 24:32). Em Siquém, houve a coroação de Roboão, filho de
Salomão, no Reino de Israel, o que mais tarde fez com que houvesse
a divisão do reino – Reino do Sul e Reino do Norte -, sendo Siquém a
capital do Reino do Norte (1Rs 12). E foi nesta região que após a que-
da do reino do Norte e a miscigenação de povos, incluindo assírios e
judeus, constituiu-se a raça samaritana.
Posteriormente, Omri, rei de Israel e pai de Acabe, seria o respon-
sável pela fundação da cidade de Samaria, que viria a ser uma das
cidades mais influentes na vida de Israel. Essa cidade estava situada a
cerca de 8 km ao noroeste de Siquém e foi construída sobre um mon-
te com cerca de 100 metros de altitude, rodeada de muralhas e veio a
ser a capital do Reino do Norte por 200 anos, sendo destruída sob o
poder do império Assírio, em 722 a.C.
Além disso, Samaria também foi sede de idolatria a Baal (Gn 16:16),
que era adorado em um templo enorme, que fora construído para
tentar impedir que o povo do Reino do Norte se dirigisse ao templo
de Jerusalém.
Abraão ainda se moveu em direção a região montanhosa ao orien-
te da cidade de Betel, armando suas tendas entre as cidades de Betel
e Ai. Exatamente neste local Abraão edificou outro altar invocando
o nome do Senhor (Gn 12:9). Partindo dali para o sul em direção ao
Neguebe, que fica ao sul.

31
Figura 9: Peregrinação de Abraão

Fonte: http://eberlenzcesar.blog.br/wp-content/uploads/2012/08/
06-abrao-e-lo.pdf

Há autores, inclusive Netta Money (2003, p.89), que registram que


Abraão fez breve parada por Damasco. Damasco é possivelmente
uma das mais antigas cidades do mundo e Money (2003) apresenta
informações específicas sobre um ponto de encontro de várias rotas
de caravanas, que “conduziam à Arábia, ao Egito, ao Mediterrâneo e
à Babilônia”.
No relato bíblico não há menção desta possível parada de Abraão
em Damasco. De acordo com uma lenda helenística, Abraão foi rei de
Damasco. Há ainda outras lendas árabes que afirmam que ele lançou
as fundações do santuário de Meca.
Na verdade, a única fonte que efetivamente versa com maior ri-
queza de detalhes é o Pentateuco, que é referência para o cristianis-
mo, judaísmo e islamismo. Abraão é o patriarca dessas três religiões e
está envolto em diversos tipos de narrativas, é personagem de lendas
e foco de especulação.

32
Posteriormente, a cidade de Damasco nos interessará a partir do
Pentecoste e a formação das igrejas cristãs.
yy A 3ª fase - tem seu início a partir do relato bíblico de Gn 12:10, que
versa sobre um longo período de fome na terra e Abraão procurou
refúgio no Egito.
Segundo a Bíblia de Estudo Arqueológica (p. 2 – comentário sobre
Gn 12:10): “A fome era comum em Canaã, uma vez que a produtivi-
dade da região dependia da estação das chuvas. Arqueólogos e geó-
logos modernos encontraram evidências de uma seca generalizada
que teria durado trezentos anos...” A datação destes estudos indica
o período entre o 3ª e 2º milênio a.C., que corresponde ao período
de vida e peregrinação do patriarca. Em Gn 42 e Rt 1:1, podemos ler
relatos deste infortúnio.
O Egito era menos vulnerável à seca e à fome, em virtude do alaga-
mento anual do rio Nilo. O relato bíblico não dá maiores detalhes so-
bre o tempo que Abraão permaneceu nesta região e logo o texto nos
remete ao retorno dele, o que seria a quarta fase de peregrinação, ou
seja, o retorno a Canaã, via Neguebe, com destino em Betel.
Figura 10: 4 fases da peregrinação de Abraão

Fonte: https://br.pinterest.com/pin/569423946626416677/

33
yy A 4ª fase - na sequência da narrativa de Gn 13, somos informados
de que Abraão deu início a sua 4ª fase de peregrinação, que o seu
patrimônio se multiplicou e ele ficou muito rico. Do Egito ao Ne-
guebe, ou Negueve, de onde partiu em direção a Betel fez paradas
em vários locais da região até que retorna àquela região entre Be-
tel e Ai.
Ló, seu sobrinho, que o acompanhava desde o começo da pere-
grinação, também prosperou. Com isso, havia muito rebanho e bens
a serem administrados e ficaria difícil a terra comportar e habitarem
juntos. Em virtude disso, aconteceram contendas entre os pastores
de Ló e de Abraão. Assim, Abraão tomou iniciativa para evitar que a
situação piorasse e abalasse o relacionamento pessoal entre eles,
propôs a separação e deu a Ló a oportunidade de escolher qual parte
daquela terra habitar.
Ló escolheu a campina do Jordão e partiu para leste do rio.
Cabe um intervalo, para estudarmos um pouco a hidrografia da
Palestina, embora a figura 5, que trata dos limites da Palestina, já te-
nha nos dado uma noção. Vamos nos deter a características impor-
tantes sobre os mares e o rio Jordão, para conhecê-las, e também ter
a noção de direção e sentido dos pontos cardeais – norte, sul, leste
(oriente) e oeste (ocidente), assimilando-os dentro da narrativa bíbli-
ca.

2.4 PRINCIPAIS ÍCONES DA HIDROGRAFIA DA TERRA PROMETIDA


2.4.1 O MAR MEDITERRÂNEO
Tognini (2009, p.83) afirma que o vocábulo “Mediterrâneo” não é
encontrado na Bíblia. Encontramos “mar Grande” (Js 1:4); “mar oci-
dental” (Dt 11:24); “mar dos filisteus” (Êx 23:31) e “mar de Jope” (Ed
3:7). Na Bíblia de Jerusalém é também chamado de mar de “Jafa”. Mar
é o termo mais usado.

34
Ele banha a Europa meridional, a Ásia ocidental e a África seten-
trional. Considerado o maior dos mares internos e recebe águas de
rios importantes de 3 continentes. Muitas civilizações, antigas e atu-
ais, utilizaram suas águas para navegação, sendo ainda hoje muito
importante para as rotas comerciais.
Uma característica interessante, que impedia a navegação e, prin-
cipalmente, o embarque e desembarque nas costas da Palestina, é a
pouquíssima profundidade em suas costas. Isso impediu que Israel
do passado se dedicasse a navegar. (TOGNINI, 2009, p. 84).
Por outro lado, as invasões às terras da Palestina eram dificultadas.
Há relatos de que o próprio Napoleão Bonaparte teve dificuldades de
ter acesso pelo mar e decidiu atacar por terra, através do Egito, o que
propiciou a Israel um isolamento de proteção. Isso já acontecera na
história de invasões anteriores com Alexandre o Grande, Pompeu e a
Primeira Cruzada.
Um lado triste de sua história, são as inúmeras batalhas sangren-
tas que ocorreram em sua superfície e atos de pirataria comercial. O
lado positivo é que por estas águas ocorreram viagens de pessoas
que buscavam novas opções de vidas. Dali partiram desbravadores
que descobriram novas terras e civilizações.

2.4.2 MAR DA GALILEIA


Antes de falar do ar da Galileia, vamos conhecer um lago que é ci-
tado na Bíblia, que já não existe mais no relevo atual, pois o homem
com obras de retificação e alinhamento do rio Jordão alterou a pro-
fundidade do rio e o lago diminuiu de tamanho e agora não passa de
pequenos açudes. Tratava-se do lago de Meron, ou lago Hule (nome
árabe), que é mencionado em Js 11: 5,7. Localizava-se ao norte do
Mar da Galileia, portanto, acima de sua posição. Aliás, o significado
do nome Meron é “superior”, provavelmente por estar acima do Mar
da Galileia.

35
Esse lago era o captador dos mananciais formadores do rio Jordão,
que provêm do monte Hermom, criado a partir do degelo da neve que
se deposita em toda sua encosta. Tognini (2009, p.93 e 94) informa
muitos detalhes hidrográficos e biológicos acerca desta formação do
lago de Merom, que indicamos para pesquisa.
A partir desse lago, o rio Jordão se avoluma, vai em direção ao Mar
da Galileia e depois desagua no Mar Morto. Na figura 11, podemos
ver um corte que mostra o declive do rio Jordão. Discorreremos suas
características após concluirmos as dos mares da Galileia e do Mar
Morto. Nesta imagem, podemos ter uma noção dos desníveis do solo
na Palestina e fazer uma comparação com o nível do Mar Mediterrâ-
neo, cujo nível é zero (0). Evidentemente que esse corte é referente a
Palestina do AT.
Figura 11: Declive das águas do rio Jordão

Meron
Mar da Galileia Mar Morto

Fonte: https://verboeterno.wordpress.com/2009/09/22/geografia-biblica-
introducao/

36
O Lago Meron, que atualmente não existe mais, era o captador das
três nascentes do rio Jordão, provindas das geleiras do monte Her-
mom.
Figura 12: Monte Hermom – fotografia atual

Fonte: https://verboeterno.wordpress.com/2009/09/22/geografia-biblica-
introducao/

Atualmente, trata-se de açudes. Ronis (1999) informa que o lago


tinha o comprimento de 10 km e largura de 6 km, ficava 2m acima do
nível do Mar Mediterrâneo, tendo de 3 a 4 metros de profundidade.
Uma vasta região alagadiça cercava suas margens em todas as dire-
ções.

37
Figura 13: Açudes – Lago de Meron ou Hule

Fonte: https://verboeterno.wordpress.com/2009/09/22/geografia-biblica-
introducao/
O Mar da Galileia ainda existe e tem muita relevância no contexto
bíblico.
Foi chamado por vários nomes: Mar de Quinerete (Nm 31:11), Mar
da Galileia (Mt 4:18, Mc 1:16, Jo 6:1, entre outros), Mar de Tiberíades
(Jo 21:1), e Lago de Genezaré (Lc 5:1). Apesar de ser mais conhecido
como mar, se trata de um lago. Um grande lago com água doce pro-
vinda do Jordão. Sua localização é de 20 km ao sul do Lago de Meron.
Fica cerca de 210m abaixo do nível do Mar Mediterrâneo, e tem suas

38
dimensões, largura e comprimento variável, pois possui um formato
de uma “pera”, tendo 26 km de largura ao norte e 10 km de largura ao
sul e seu comprimento em torno de 23 km (TOGNINI, 2009, p.96 – co-
menta que há divergência entre autores sobre essas medidas).
Sua profundidade varia muito. Em alguns pontos não passa de
4m; noutros pode atingir a 50m. Suas águas são potáveis ,até hoje, e
muito utilizada para irrigação. Em função da vasta vegetação de suas
margens e no seu fundo – onde proliferam-se moluscos – há grande
quantidade de peixes.
Podemos entender como a figura do pescador e a atividade da
pesca era comum e importante nos tempos de Jesus Cristo.
Figura 14: Mar da Galileia

Fonte: https://verboeterno.wordpress.com/2009/09/22/geografia-biblica-
introducao/
Geologicamente, o solo tanto do rio Jordão quanto do lago, mais
conhecido como Mar da Galileia, tem sinais pronunciados de ação vul-
cânica, com muitos lugares com bastante pedra-pomes, o que pode

39
indicar que o lago ocupa um vulcão extinto. São comuns e frequentes
os tremores de terra nas suas imediações, existindo nas proximida-
des fontes termais que correm para o lago, o que corrobora a hipóte-
se de alguns estudiosos.
Às tardes, a força dos ventos faz com que a calmaria de suas águas
seja interrompida, tornando-as onduladas, e à noite, quase sempre,
ficam bravias. Não raro, do Norte sopram ventos frios que deslocam o
vento quente do lago, provocando as inesperadas tempestades, com
muita turbulência e até mesmo ondas de 4 a 5m de altura.
A longo da Bíblia, no Antigo Testamento e, principalmente, no
Novo Testamento floresceram grandes cidades, ao redor do Mar da
Galileia. Cidades como Cafarnaum, que era a maior delas nos tempos
de Jesus Cristo. Betsaida, de Pedro e André; Tiberíades, construída
por Herodes Antipas em homenagem ao imperador. Tibério César,
entre outras.
Muitos relatos bíblicos aconteceram ao seu redor e até mesmo
dentro de suas águas. Jesus chamou seus discípulos que eram pesca-
dores de suas águas: Pedro e André, Tiago e João e Levi (Mc 1:16-20,
Mt 9:9); duas vezes proporcionou a multiplicação de pães (Mt 14:13;
15:32); proferiu o Sermão do Monte (Mt 5); acalmou o mar na tempes-
tade (Mt 8:23); andou sobre as águas (Mt 14.22-33) e muitos outros.
Atualmente, o mar Galileia está correndo grave risco de salinização
de suas águas, pois há nascentes de águas salgadas sob o lago, que
só estão contidas devido ao peso da água doce em cima delas. Essa é
a maior preocupação da atualidade, pois os peixes têm dificuldades
de sobreviver e sua vegetação está sendo afetada, juntamente com
o encolhimento de suas águas devido ao baixo nível delas. Além dos
fenômenos naturais que podem provocar esses problemas, há ainda
a ação humana que tem provocado o desvio das águas para atender
as necessidades das modernas cidades que dependem de suas águas
para prosperarem.

40
2.4.3 MAR MORTO

Muitos são os nomes dados ao hoje conhecido Mar Morto: na Bíblia


encontramos: “Mar de Arabá” (Js 12:3) “Mar Oriental” (Ez 47:18), “Mar
Salgado” (Nm 34:30), que em algumas traduções é o “Mar da Planície”.
Fora do texto Bíblico, há outros nomes como “Lago do Asfalto”,
dado por Tito Flávio Josefo, historiador e apologista judaico-roma-
no; “Mar Pestilento” dado pelos árabes medievais; posteriormente foi
denominado pelos árabes como “Mar de Sodoma e Gomorra”, “Mar
de Segor”, “Mar de Ló”. O Talmude nomeia-o de “Mar de Sodoma”.
(TOGNINI, 2009, p. 100)
O Mar Morto se encontra na junção de dois vales, o do Jordão e
do Mar Morto, onde se localiza o ponto considerado o mais baixo da
terra. Nesse ponto, com cerca de 400 metros negativos, temos a bacia
do Mar Morto, protegida a leste com início no norte, pelos montes de
Moabe até ao sul pelo monte de Edom – montes entre 700m e 1000m
de altura-. No ocidente, há uma planície de 1 km de largura, que for-
ma um corredor entre o Mar morto e os montes do deserto da Judeia
– montes entre 600m e 1000m de altura-. Ao sul do Mar morto existe
uma planície que termina nas montanhas do deserto do Sinai.
O Mar Morto tem 78 km de comprimento por 18 km de largura, com
uma área total de 1.020 km9. Sua profundidade oscila de 10m a 401m,
sendo mais profundo ao norte, onde o rio Jordão desagua e no sul
tem sua menor profundidade num grande lamaçal.
Muitos são os seus afluentes, vindos de todas as regiões, sejam do
oriente e ocidente, norte e sul, sendo o rio Jordão o principal deles.
Suas águas são densas e pesadas, ou seja, tem alta salinidade. Nor-
malmente as águas dos oceanos possuem 4% de salinidade, o Mar
9
  TOGNINI, op cit,, p.106, explica as teorias nortista e sulista da possível localização das
cidades, argumentando que a teoria nortista perdeu sua força e a possibilidade das cida-
des estarem próximas ao Mar Morto é a mais viável.

41
morto tem 26%. Além disso, contém enormes quantidades de cloreto
de magnésio, cálcio, potássio e brometo de magnésio. Também tem
metais em menor quantidade como: ferro, alumínio, manganês, amô-
nio e nitrogênio. Por isso, as águas do Mar Morto são famosas, porque
as pessoas têm dificuldades de afundar, impedidas por sua densida-
de.
Figura 15: Vale do Jordão

Vale do mar Montanhas do Sinai

Montes a leste Montes a oeste


Vale do Jordão

Mar Morto Mar Mediterrâneo


Mar da Galileia N

Fonte: https://verboeterno.wordpress.com/2009/09/22/geografia-biblica-
introducao/
Além disso, nenhuma espécie de vida até agora foi encontrada em
suas águas. Não há vegetação em suas margens e mesmo em suas
proximidades. A fauna também é escassa, sendo encontradas aves
raras. Ele não tem forma de escoamento de suas águas, sendo feito
apenas pela evaporação, que é de grandes proporções diárias, mais
um provocador de sua densidade.
A temperatura de suas águas também é um fator interessante. No
inverno, tem temperatura entre 20º e 25º e no verão entre 45º e 50º. A

42
alta temperatura se deve a fatores como: falta de sombra por não ter
vegetação em suas margens; excessiva evaporação da água por conta
do sol escaldante e, evidentemente, por estar abaixo do nível do mar
e entre paredões de montanhas.
As formações rochosas das montanhas ao redor do Mar Morto, em
sua maioria, são calcárias de origem vulcânicas, possuem recobri-
mento de sal e betume causando um aspecto de desolação e falta de
vida.
Assim como o Mar da Galileia, o Mar Morto é muito importante
dentro do contexto bíblico. Cidades como Sodoma e Gomorra, em-
bora não se possa definir posição exata delas - há teorias divergentes
sobre a localização das mesmas, podendo ser mais ao norte do vale
do Jordão (Gn 13.10) ou ao sul próximo ao Mar Morto (TOGNINI, 2009,
p.106)
Além disso, próximo ao Mar Morto foram constituídas cidades
como Massada, construída por Herodes, o Grande. Há também ruínas
da primitiva comunidade essênia, localizada ao norte do Mar Morto,
na região chamada de Qumran, onde foram encontrados inúmeros
fragmentos de manuscritos que se achavam em cavernas dessa loca-
lidade.
O Mar Morto é citado, com nomes diferentes, em inúmeras passa-
gens bíblicas e sua relevância para a história, a geografia e arqueolo-
gia, geologia e teologia ainda será o foco de muitos estudos.

2.4.4 RIO JORDÃO


Nascido das geleiras do monte Hermom, com seu vigor maior en-
tre os mares da Galileia e Mar Morto, talvez seja o rio mais famoso do
mundo. Esse é o rio da Terra Santa. É um curso de águas de grande
importância para as religiões monoteístas.
É considerado um rio pequeno, seu percurso medido em linha reta,
de norte a sul, entre o monte Hermom e o Mar Morto é de aproxima-

43
damente 220km, mas seu leito sinuoso faz com que seja expandido a
aproximadamente 370km.
De forma muito particular, esse é o único rio de proporção cujo
leito é inferior ao nível do mar. Começa a sua jornada abaixo desse
nível a partir do lago de Meron e vai descendo acentuadamente até
chegar ao Mar Morto, uma depressão de cerca de 800m – conforme
figura 12 -.
Em estágio inicial, no trecho de sua nascente até o lago de Meron
– hoje conjunto de açudes – atravessa região pantanosa numa exten-
são de 11km e sua largura varia muito, com profundidade entre 3 e 4
metros.
No segundo trecho, entre o lago de Merom e o Mar da Galileia, de-
nominado por alguns de Jordão Superior, tem extensão de aproxima-
damente 20km, com um declive de cerca de 225m, num trecho quase
reto, que proporciona velocidade de 20km/h e torna suas águas impe-
tuosas, provocando importantes erosões. Essa velocidade das águas
adentra pelo Mar da Galileia formando forte corrente de água. Nesse
trecho, o terreno é rochoso, de vegetação média e a largura do rio
varia entre 8 e 15m.
No terceiro trecho, entre o Mar da Galileia e o Mar Morto, levan-
do-se em consideração seu leito sinuoso, seu percurso é de 340km.
Esse trecho sofre um declive de cerca de 200m, mantendo a alta velo-
cidade de suas águas, formando cascatas e continuando o processo
de erosão de suas margens, alargando o Vale do Jordão até 15km.
Em sua extensão há verdadeiras muralhas de rocha calcária, o que
torna difícil atravessar o rio. Sua travessia naquele tempo remoto só
poderia ser feita em determinados pontos cujas margens tinham pro-
fundidade menor e eram denominados vaus – defronte Jericó, per-
to da desembocadura do rio Jaboque e nas proximidades de Sucote
(RONIS, 1999, p. 58).
Numa publicação do Instituto Batista de Educação Teológica, da

44
Convenção Batista Brasileira de 1983, temos uma definição poética e
perfeita do rio Jordão:

O rio Jordão é uma decepção. O rio mais famoso do mundo é pequeno,


raso e feio. Sai placidamente do belo mar da Galileia, água doce, límpida
e azul. Mas logo a água muda. Fica barrenta e suja e vai derramar-se no
salgado mar Morto. Salta, cava, pula, fura, gira freneticamente, procu-
rando evitar seu destino. Torce e rasga seu leito sinuoso em sua descida
turbulenta; impetuosamente precipita-se com impacto, contorcendo-se
raivosamente e, de súbito quebra-se em cascatas que derramam espu-
ma branca sobre rochas negras. O seu apelido “Descedor” revela uma
escadaria coberta de água que baixa aos trancos, à média de 1,7ms por
Km. É uma serpente pardacenta que se enrosca e desenrosca entre vul-
cões extintos, que parecem lunares. As águas parecem furiosas, à medi-
da que se escurecem e se sujam nas tumultuosas descidas desesperan-
çosas. Com 25% de lama nas águas, o rio se entrega exausto, vencido, ao
mar de Ló, nome desesperado que os árabes dão ao mar Morto. (IBETE,
1983, p.14,15)

Figura 16: Rio Jordão

45
Fonte: https://verboeterno.wordpress.com/2009/09/22/geografia-biblica-
introducao/
Sob todos os pontos de vista, geográfico, histórico, político, eco-
nômico, teológico e religioso, o Rio Jordão é, de fato, o rio mais im-
portante do mundo. Está ligado à Revelação de Deus desde os dias de
Abraão até os dias de Jesus Cristo.
Em suas margens ocorreram importantes e numerosos aconte-
cimentos históricos e, principalmente, narrativas bíblicas como: se-
paração das águas para o povo de Israel entrar na Terra prometida,
a Terra de Canaã, sob o comando de Josué (Js 3:9-17); a permissão
dada por Moisés às Tribos de Rúben e Gade para ficarem na Transjor-
dânia (Nm 32:1-32), ao leste do rio; a história de Gideão, de Jefté (Jz
1,8,10,11); as disputas políticas de Davi (2Sm 17:24, 19:18); a travessia,
em seco, dos profetas Elias e Eliseu (2Rs 5:1-4); e, no Novo Testamen-
to, o ministério de João Batista e o Batismo de Jesus (Mc 1:5,9) (RO-
NIS, 1999, p.58).
Na verdade, o rio Jordão é muito mais do que um rio que irriga
suas terras proporcionando vida para os habitantes de suas margens.
Ele é um marco que serve como referência para contar a história do
povo de Deus.

46
2.5 PATRIARCAS – CONTINUAÇÃO –
Depois de conhecermos com mais detalhes os marcos da hidrogra-
fia da Terra de Canaã, retornamos ao relato da página 25 (item 2.3).
Abraão separa-se de Ló.

2.5.1 ABRAÃO E A GUERRA COM OS 5 REIS


Ló escolheu a campina do Jordão, que fica na direção leste, e
lá armou suas tendas próximo a Sodoma, cujos habitantes eram
conhecidos por sua grande perversidade, Gn 19:24-25.
Lawrence (2008, p.25) afirma: “não há dúvidas que Sodoma e Go-
morra ficavam próximas, ou talvez debaixo, do atual Mar Morto, mas
é impossível determinar a localização exata das duas cidades”
Depois que Ló se apartou de Abraão Deus mostra a Abraão toda a
Terra da Promessa para ele e sua descendência. Foi então que Abraão
seguiu para os Carvalhais de Manre, que ficavam junto a Hebrom e
edificou ali um altar ao Senhor.
Hebrom era cidade mais alta da Palestina, com 927m de altitude,
localizada ao sul de Jerusalém, distante cerca de 33km. Lá, Abraão
viveu por algum tempo e comprou uma terra que ficou sendo o sepul-
cro dos patriarcas.
Em Hebrom, Deus fez seu pacto com Abraão; ali nasceu Ismael e
aconteceu a destruição de cidades do Vale do Jordão, incluindo So-
doma e Gomorra.
Em Gn 14, há a narrativa da guerra de Abraão contra 5 reis – que
na verdade, são 4 reis contra 5 -, que é a primeira guerra mencionada
na Bíblica. A guerra foi travada em uma área coberta posteriormente
pelo mar Salgado. Alguns arqueólogos e geólogos identificam o vale
do Sidim com a terra do Sul de uma pequena península que se es-
tende a partir da margem oriental, onde está Massada, na época de
Abraão, fazendo com que a parte sul do Mar morto fosse a terra seca.

47
Nesse vale de Sidim, pode ter sido a localização das cidades de So-
doma e Gomorra.
Figura 17: Vales da Palestina

http://teomania.blogspot.com/2012/04/vales-do-mundo-biblico.html
Nesse vale, Abraão defendeu os reis locais atacados pelos Reis do
Norte. Na região havia muitos poços de betume (Gn 14:3-8). Recente-
mente escavações arqueológicas acharam no vale de Sidim, vestígios
de antiquíssimas cidades, que foram destruídas pelo que parece ser
o de uma grande explosão, e assim, se apresenta mais uma vez uma
constatação de que a Bíblia tem narrativas que podem ser comprova-
das pelos estudos científicos.
Atualmente, o vale do Sidim é inóspito, bem diferente do que era
no tempo de Ló, que era bastante fértil.
Os invasores venceram a batalha. Levaram Ló e sua família como
cativos. Eles seguiram em direção ao norte, pela margem ocidental
do Mar Morto, não muito longe de Hebrom e Manre onde Abraão mo-
rava. De lá ele poderia ver todo o movimento.

48
Abraão preparou um pequeno exército composto de dois amor-
reus seus vizinhos e trezentos e dezoito homens dos mais capazes,
nascidos em sua casa. Com esse exército, ele perseguiu os invasores
até Dã, no extremo norte do vale do Jordão, ao pé do monte Hermom.
Após um preparo estratégico à noite, as forças de Abraão derrotaram
o inimigo, pondo-o em fuga e perseguindo-o até o norte de Damasco.
Com a vitória, Abraão recuperou seu sobrinho, suas posses, os que
haviam sido tomados para o cativeiro, e os bens que haviam sido sa-
queados.
Figura 18: Retorno de Abrão depois da vitória

Fonte: https://slideplayer.com.br/slide/4910566/
Ao voltar de sua vitória, ao passar próximo a Jerusalém (2Sm
18:18), duas pessoas vêm ao seu encontro: o rei de Sodoma e o rei
de Salém (forma abreviada de Jerusalém, também chamada de Sião).
O rei de Salém, chamado Melquisedeque, era também sacerdote do

49
Deus Altíssimo. Abraão deu a Melquisedeque o dízimo – a décima par-
te – dos despojos da batalha (Hb 7:4). O rei de Sodoma, por sua vez,
propôs ficar com todas as pessoas, e deixar os bens de Abraão. Na
realidade, segundo os costumes da época, registrados no código de
Hamurabi10, Abraão como resgatador, tinha direito a tudo!11 Abraão
se recusou a receber qualquer coisa que houvesse pertencido ao rei
de Sodoma.

2.5.2 ISAQUE E REBECA


Na narrativa de Gn 24, podemos identificar que Abraão, apesar
de todas as bênçãos que recebeu em Canaã, considerava essa terra
um lugar ímpio. Ele enterrou Sara, na capela de Macpela perto de
Hebrom, mas anos depois, não querendo aliar seus descendentes ao
povo de Canaã, enviou seu servo à grande distância, para os lados do
norte, à sua antiga pátria Harã, a fim de escolher uma esposa para
seu filho Isaque dentre as filhas de seus parentes que ainda habita-
vam essa região. Seu servo, ao conhecer os pais de Rebeca e saber
que eram aparentados com seu amo Abraão, tratou o casamento dela
com Isaque e levou-a consigo a Canaã. Isaque e Rebeca amaram-se e
mesmo depois da morte de Abraão continuavam vivendo em Canaã,
a Terra Prometida. Tiveram dois filhos (gêmeos) Esaú e Jacó. Com
seus casamentos com as filhas dessa gente, Esaú tornou-se pai dos
Edomitas e Jacó, o pai de Israelitas.

2.5.3 ESAÚ E JACÓ


Isaque, pai de Esaú e Jacó, teve uma vida tranquila, armando seus
acampamentos em lugares como: Beer-Le-Roi (Poço do Vivente que
me vê), no caminho que conduz o deserto de Sur (Gn 16:7,14 e 24:6);
Gerar, principal cidade dos Filisteus no tempo de Abraão, no limite

10
  Código de Hamurábi: Conjunto de leis que resumia uma série de determinações legais
que eram tradicionais no mundo antigo – especialmente na Mesopotâmia.
11
 www.bible-facts.com.br

50
sul da Palestina (Gn 25:1); Berseba, à semelhança de Abraão, Isaque
fez de Berseba sua residência. Nessa cidade, Deus renovou com Isa-
que o pacto feito com Abraão (Gn 26:24-25), onde o rei Abimeleque,
dos filisteus, vindo de Gerar e Isaque fizeram um tratado de paz (Gn
26:26-30). Foi em Berseba que Jacó usurpou o direito de primogenitu-
ra de Esaú, o que gerou o ódio de Esaú e a fuga de Jacó (Gn 27,28,29);
por último Hebrom, onde Isaque foi sepultado.
Em Gn 28, 31 e 32, Isaque chamou a Jacó, abençoou-o e disse-lhe:
Não tomes mulher de entre as filhas de Canaã. Levanta-te, vai a Padã-
-Arã, à casa de Betuel, pai de tua mãe, e toma de lá uma mulher das
filhas de Labão, irmão de tua mãe.
Veja que o procedimento de Isaque é o mesmo de seu pai Abraão.
Queria continuar sendo abençoado por Deus para que a herança da
Terra Prometida permanecesse na descendência de Abraão. Com
isso, Jacó foi para onde estava a sua parentela e lá permaneceu, cons-
tituindo família. Depois de muitos anos retornou a Canaã com suas
duas mulheres, duas servas, seus onze filhos, e passou o rio Jordão
pelo vau de Jaboque.
Nessa longa história aqui abreviada, aconteceram mudanças de
nomes de cidades e montes como: cidade Luz, que passou a ser Be-
tel, a montanha de Gileade passou a ser Galeede. Mispá passou a ser
Peniel, que ficava próximo do ribeiro Jaboque, onde Jacó lutou com
o anjo de Deus, que o abençoou e mudou o nome de Jacó para Israel.
Em Gn 33:20 há a narrativa em que Jacó compra parte de um cam-
po diante da cidade de Siquém e levantou ali um altar, e chamou-lhe:
Deus, o Deus de Israel.
Na figura 20, destacamos algumas cidades na época do Antigo Tes-
tamento, mas chamamos a atenção para a sinalização triangular do
posicionamento de alguns montes importantes, assim como nome de
regiões com letras maiúsculas, normalmente ligadas à descendência
de personagens bíblicos já citados, como: Esaú, Pai dos edomitas que

51
se fixaram na região de EDOM ou os amonitas e moabitas, que viviam
na região de AMOM e MOABE, ambos descendentes de um relaciona-
mento impróprio de Ló com suas duas filhas. A filha mais velha gerou
Moabe e a mais nova gerou Amom (Bem-Ami), povos que causaram
muitas dificuldades para o povo de Israel.
Figura 19: Canaã na época do Antigo Testamento

Fonte: https://www.churchofjesuschrist.org/study/scriptures/bible-maps/
map-10?lang=por

52
Jacó foi o mais aventureiro dos 3 patriarcas. Marcou sua passagem
por várias cidades como: Berseba, de onde fugiu com destino a Harã;
Luz; onde teve a visão da escada ligando terra e céu, com anjos subin-
do e descendo e, entendeu que Deus não estava limitado à terra de
seus pais, mas também estava ali. Foi quando chamou aquele lugar
de Betel (casa de Deus); depois Harã.
Em seu retorno: Maanaim, fronteira entre Gade e Manasses, onde
foi consolado pelos anjos de Deus que lhe apareceram; Peniel, já cita-
do anteriormente; Sucote, por onde passou no vale do Jordão e quis
se estabelecer, mas por causa de grave incidente (Gn 34) teve de se
retirar; passou por Betel novamente, onde edificou um altar a Deus,
fixando-se em Hebrom, onde reencontrou seu pai, Isaque, e perma-
neceu após a morte de seu pai (Gn 35:27-29).
Mais uma vez, a fome em Canaã faz com que um patriarca, agora
Jacó, deixe a Terra Prometida e vá para o Egito, que é uma das regiões
de muita importância tanto no Antigo quanto no Novo Testamentos.
Jacó morreu no Egito, mas seu corpo foi levado em cortejo até He-
brom, onde foi sepultado.

2.6 HABITANTES DE CANAÃ


Antes de passarmos ao Egito e à narrativa que antecede ao episó-
dio do êxodo do povo de Israel, queremos mencionar alguns habitan-
tes primitivos da Palestina no tempo dos patriarcas. Havia habitantes
genericamente chamados de cananeus (Gn 1:6,24; 3:37). Os habitan-
tes de Canaã formavam vários reinos pequenos que constantemente
lutavam entre si. Entre os povos que habitavam em Canaã citaremos
alguns:
Cananeus – Eram descendentes de Canaã e habitavam a costa do
mar Mediterrâneo até o vale do rio Jordão. Em virtude das abomina-
ções que praticavam, Deus ordenou que fossem destruídos, mas os
israelitas acabaram tolerando-os;

53
Amorreus – Descendentes de Canaã, aparentados dos cananeus,
formaram o povo que ofereceu maior resistência ao avanço do povo
de Israel em Canaã;
eteus – Descendentes de Hete, filho de Canaã. São conhecidos
como hiteus e hititas. Rivalizavam com os cananeus e amorreus em
poder, e também foram inimigos constantes do povo de Israel.
Heveus – Era um povo menos numeroso que os outros povos. No
tempo do patriarca Jacó, havia uma colônia de heveus situada em Si-
quém, e um de seus príncipes desonrou Diná, filha de Jacó (Gn 34);
Jebuseus – Pequeno povo que habitava na cidade de Salém, onde
Abraão encontrou o rei e sacerdote Melquizedeque. Salém deu ori-
gem à cidade de Jerusalém, e só perdeu sua soberania já nos tempos
de Davi, quando foi conquistada através de um ato heroico de Joabe,
para se tornar com sua cidadela, provavelmente o local onde o tem-
plo de Jerusalém seria mais tarde construído.
Figura 20: Povos da Palestina no tempo de Abraão

Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=IbzcueQWuWY – FAECAD


Havia também povos que habitavam Canaã, mas não eram origi-
nados pelos cananeus, mas que fazem parte das narrativas bíblicas,
inclusive com figuras importantes, como o filisteu Sansão. Abaixo
versaremos sobre alguns deles:

54
Amalequita - Em 1Sm 15:8 Samuel ordena a Saul para destruir
esse povo, mas não foi obedecido; Hamã um grande inimigo do povo
de Deus era amalequita (Et 3:1);
Midianitas – parentes próximos de Israel, porque são descenden-
tes de Midiã, filho de Abraão com Quetura, após a morte de Sara. (Gn
25:1-6). Profundo conhecedores do deserto (Nm 10:29-31).
Fenícios – Tidos como sábios, dominavam a ciência do vidro, do
perfume e da cerâmica. Mas adoravam a Baal, Astarote, Tamuz, Baal-
zebu e sacrificavam crianças e idosos. Hoje, esse território pertence
ao Líbano.
Arameus-sírios – Povo descendente de Aram e de Sem. Na Bíblia
hebraica, os arameus são mencionados como um povo da Mesopo-
tâmia. Suas cidades principais eram Damasco e Antioquia. Historica-
mente, sabe-se que os Arameus se instalaram em definitivo na região
entre o sul da Turquia, a Síria e o Iraque. O que hoj, é o Curdistão;
Perizeus – Foram escravizados por Salomão. Localizados com
maior concentração nas montanhas de Judá e Efraim, mas se es-
palharam por toda a Canaã. Após a morte de Josué, lutaram contra
Judá e Simeão nas montanhas do sul (Jz 1:1-5).
Figura 21: Povos não Cananeus

Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=IbzcueQWuWY - FAECAD

55
2.7 JOSÉ NO EGITO E O MUNDO BÍBLICO DO CATIVEIRO AO ÊXODO
Depois da Palestina, o Egito é o local mais importante do mundo
bíblico e tem sido muito estudado. Sua importância na formação do
povo de Israel é inquestionável. A começar que foi lá que surgiu o
grande líder desse povo. Moisés foi instrumento de Deus para liderar
e libertar seu povo da escravidão e conduzi-lo durante 40 anos pelo
deserto até chegar perto da fronteira da Terra Prometida. Além disso,
foi o organizador do povo como nação, dando-lhe organização social,
política, religiosa e jurídica.
Jacó – agora denominado por Deus Israel –, em virtude da grande
escassez de alimentos, fenômeno já explicado anteriormente, foi for-
çado a tomar a decisão de transferir-se, com toda sua família, para o
Egito. Nessa migração, um dos filhos de Jacó, José, após uma verda-
deira saga programada e dirigida por Deus, passou a ser o governador
do Egito. As circunstâncias dramáticas e a providência de Deus estão
descritas em Gn 37:1 até 42:6.
Estudaremos o Egito e os lugares que o povo de Deus andou após o
cativeiro na terra do Egito até a chegada da Terra Prometida.

2.7.1 O EGITO
Situa-se no Nordeste da África. É limitado ao norte pelo mar Me-
diterrâneo e ao sul pelo atual Sudão, no passado Etiópia. A nordeste
pela Palestina, a leste pelo mar vermelho e pelo deserto árabe, e a
oeste pelo deserto do Saara. Seu território atualmente é de1.001.450
km², contudo tem apenas 35.500 km² habitáveis, pois seu clima é de-
sértico.
A região é cortada em toda sua extensão sul-norte pelo rio Nilo,
que desemboca no mar Mediterrâneo. Antes de desembocar, forma
o chamado Delta do Nilo. O vale do Nilo é habitado há mais de 6.000
anos a.C. e deve sua fertilidade ao fenômeno das cheias vazantes do
rio, que deixa seu lodo fertilizante sobre a terra.

56
Entre o vale do Nilo e o mar Vermelho, a leste, há o deserto árabe,
e ao ocidente do vale há o deserto do Saara.
No Antigo Testamento, o Egito era chamado de “Mizraim” vocábu-
lo plural que significa os reinos do Alto e Baixo Egito (MONEY, 2003,
p.103), sendo denominado posteriormente de Egito pelos gregos.
As cidades do Baixo Egito mencionadas na Bíblia são: Mênfis, an-
tiga capital, perto do Cairo, e Zoã (Is 19:13); Ramessés, entre o Nilo e
o canal de Suez, que foi uma das cidades construídas pelos Israelitas
escravizados (Jr 43:13). Do Alto Egito, a Bíblia menciona duas cidades:
Tebas e Nô, que o profeta Naum chamou de Nô-Amom (Na 3:8) e Se-
vene (Ez 29:10).
Em sua fronteira com a Palestina, o Egito era muito vulnerável. Sua
ligação com o oriente se dava pelo “caminho dos filisteus”. Foi por ali
que o Egito foi atacado e dominado por outras civilizações, incluindo
os otomanos que subjugaram o país ao que hoje ele é reduzido.
Ao tempo de José, estimado em 1.700 a.C. no período entre o Médio
e Novo Império egípcio, durante os dias dos Hicsos12, José ascendeu
a uma posição de grande destaque sob um dos faraós hicsos. Entrou
no Egito como escravo e tornou-se uma espécie de primeiro-ministro,
graças a sua habilidade de interpretar misteriosos sonhos do faraó.
Predisse um período de fome e salvou a nação pondo de lado o trigo
de 7 anos de fartura para ser usado durante os 7 anos de escassez.
José também levou seu povo para o Egito e estabeleceu-o na rica
região do delta, conhecida na Bíblia com o nome de Gósen.
Em Gn 46:26 encontra-se o registro de 66 pessoas da família de Jacó
que saíram de Canaã em direção ao Egito, porém, contando com o pró-
prio Jacó mais José, que já estava no Egito e seus 2 filhos que lá nasce-
ram, totalizam 70 pessoas, do sexo masculino – sem contar mulheres -.

  O historiador Flávio Josefo, escrevendo por volta de 80 d.C., e citando um antigo sa-
12

cerdote e historiador egípcio chamdo Maneton, explica como aconteceu a terra dos fara-
ós cair sob o domínio dos hicsos, um povo de origem semita, assim como José.

57
Depois dos episódios narrados sobre a forma como José passou
de escravo a governante e o perdão que ele promoveu aos seus ir-
mãos, pediu a faraó permissão para buscar sua família para viver no
Egito. Faraó não só aprovou como disse que daria à família de José o
melhor da terra do Egito, para desfrute da fartura dela.
José providenciou carruagens e provisões de alimentos para a via-
gem de sua família, que foi levada para Gósen. Antes de chegar ao
destino, houve uma parada em Berseba e Jacó ofereceu sacrifícios
a Deus, onde Deus falou com ele e disse para não tivesse medo de ir
para o Egito, pois Ele faria de Israel uma grande Nação (Gn 46:3).
Gózen era uma região situada no braço leste do delta do Nilo, com
terra fértil e própria para o pastoreio de gado. Ficava perto da capital
Mênfis e da cidade de Ramessés, cidade-residência de faraó.
Durante os primeiros anos da ocupação dos hicsos, parece que os
egípcios aceitaram seus conquistadores sem resistência. A casa de Is-
rael floresceu. Jacó passou os últimos dias de sua vida no Egito.
Figura 22: O mundo do Antigo Testamento

Fonte: https://prezi.com/p/z6qlcejdajih/geografia-biblica-aula-02-antigo-
testamento/

58
Mas a situação política no Egito mudou e o povo de Israel, que ha-
via prosperado e crescido muito, passou a ser visto como uma amea-
ça e foi escravizado.
O êxodo, promovido por Deus através de Moisés, aconteceu cerca
de 430 anos depois da migração de Jacó ao Egito (Êx 12:41). O sofri-
mento do povo era tão grande nos últimos anos que o próprio Deus
fez referência ao Egito como “fornalha de ferro do Egito” (Dt 4:20).
A narrativa da saída do Egito é muito rica de detalhes e aconteci-
mentos milagrosos, culminando com a travessia do mar Vermelho13
. Após esses episódios, geograficamente focaremos nas fases do ro-
teiro do êxodo.
Figura 23: Êxodo – rota tradicional

Fonte: https://geografia-biblica.blogspot.com/2010/10/
o-exodo-rota-tradicional.html

13  Conforme a Bíblia de Estudos Arqueológica, a identidade do mar Vermelho é objeto


de debate. Podendo ser o golfo de Ácaba; o moderno mar Vermelho; o golfo de Suez; as
nascentes que se estendiam na direção norte de Suez, incluindo lagos Amargos e o lago
Timsa, esta última hipótese tem sido a que muitos hoje acreditam, mas encontra proble-
mas de significados (p.111).

59
O primeiro detalhe que nos chama a atenção é que a saída, ou a
rota, mais lógica em termos de distância para se chegar a Terra Pro-
metida seria ir pelo nordeste, seguindo o curto caminho dos filisteus,
pela região que hoje chamamos de faixa de Gaza. Não é à toa que até
hoje consideramos esta região de alta periculosidade.
Em Êx 13:17,18 vemos a orientação de Deus para que se tomasse
outro caminho, evitando confrontação com as tropas perigosíssimas
dos filisteus. Em virtude disto, o roteiro de peregrinação pode ser di-
vidido em 4 fases: (LIMA,2002, p.24)

PRIMEIRA FASE: De Ramessés até o monte Sinai, percorrendo as se-


guintes localizações:
Sucote – Deus deu as leis sobre a Páscoa e a primogenitura;
Etã – onde o povo foi orientado pelas colunas de fogo e fumaça às
margens do deserto;
Pi-Aairote e Baal Zefon, próximo ao canal de Suez, que é o braço oci-
dental do mar Vermelho onde, possivelmente, aconteceu a travessia;
Mara e Elim, na margem oriental do golfo de Suez, onde aconteceu o
milagre do saneamento das águas amargas;
Deserto de Sim, na mesma região onde houve a murmuração do
povo e milagres das codornizes e do maná;
Refidim, entre o deserto de Sim e o monte Sinai, onde o povo acam-
pou durante um ano e Moisés recebeu a Lei e orientações sobre o Ta-
bernáculo e a instituição do culto e sacerdócio entre outras coisas (Êx
12:37-40);

SEGUNDA FASE:
Do monte Sinai até Cades Barneia (Nm 11-14);
Taberá, onde o povo murmurou e foi castigado;
Quibrote-Taavá entre Taberá e Hazerote, em direção à margem
ocidental do braço do golfo de Ácaba, que é o braço oriental do mar

60
Vermelho, onde houve o castigo e a cura de Miriã por causa de sua
murmuração;
Cades-Barneia, próximo a Canaã, que ficava ao seu norte, onde Moi-
sés enviou os 12 espias e por causa da incredulidade do povo tiveram
que peregrinar ainda por mais 38 anos, até que essa geração de incré-
dulos perecesse;

TERCEIRA FASE (Nm 33):


De Cades-Barneia até o monte Hor, nordeste de Cades-Barneia, fa-
zendo um retorno e se distanciando de Canaã, quando o povo parou
em 12 lugares diferentes e desconhecidos, retornando para o sentido
de Cades-Barneia, indo até Ezin-Geber, ao norte do golfo de Ácaba e
finalmente retornado a Cades-Barneia. Essa caminhada durou 38 anos.

QUARTA FASE:
De Cades-Barneia até a planície de Moabe (Nm 20:22 – Dt 34), de
fronte da cidade de Jericó, à margem oriental do rio Jordão, após con-
tornar as terras de Edom e de Moabe. Até chegar a esse ponto, com
propósito de iniciar a invasão da terra, o povo enfrentou uma série
de combates contra opositores e tiveram severas punições de Deus
por conta de seu mau comportamento. Na planície de Moabe, onde
acamparam, Moisés recordou ao povo seus feitos, repetiu as leis – o
que seria a constituição da nação de Israel -, deu as últimas instruções
e, tendo contemplado do monte Nebo a Terra Prometida, morreu.
Há outras teorias sobre a rota do êxodo, que não vamos explorar
aqui, contudo cabe citar que algumas delas são pautadas na discus-
são sobre a localização do monte Sinai. Indicamos para uma leitura
inicial e em busca de aprofundamento ler os textos resumidos na Bí-
blia de Estudos Arqueológica14.

  Teoria da rota do Norte; Teoria da rota ao Sul e Teoria da rota Árabe (p. 108-110)
14

61
Figura 24: Provável rota do Êxodo – Tradicional.

Fonte: http://bibliageografia.blogspot.com/2016/04/a-historia-o-exodo-dos-
israelitas-4i.html
Na figura abaixo temos a possibilidade de visualizar as rotas de for-
ma panorâmica. Notem as diversas possibilidades de localização do
monte Sinai – triângulos – incluindo também o caminho dos filisteus.
Figura 25: Possíveis rotas

Fonte: https://ministeriopirituba.comunidades.net/mapa-provavel-rota-do-exodo

62
2.8 CONQUISTA DE CANAÃ
Nossa tarefa agora é trabalhar a partir da conquista de Canaã que
se encontra no livro de Josué, desde o encorajamento de Deus ao
novo líder, à conquista das duas primeiras cidades até a conquista de
toda a terra e depois a distribuição desta entre as tribos.
Na planície de Moabe, após o luto da morte de Moisés, e a confir-
mação da liderança de Josué, Deus definiu os termos da terra que da-
ria ao povo e condicionou a posse ao esforço que o povo empregaria
na conquista, dizendo que todo lugar que ele pusesse os pés seria lhe
dado (Js 1:3). Como o povo não dominou todas as terras, isso quer di-
zer que houve uma acomodação por parte dele. Em Js 1:4, vê-se que
o território a ser dominado seria muito maior do que o que realmente
aconteceu: “Desde o deserto e do Líbano, até ao grande rio Eufrates,
toda a terra dos heteus e até o grande mar para o poente do sol será
o vosso termo”. Ao observarmos o mapa, mesmo depois da expansão
dos territórios com a liderança do rei Davi e ampliada pelo rei Salo-
mão, podemos afirmar que o povo de Israel não conquistou as terras
que Deus prometeu.
Em Js 3:10 há a lista de povos que seriam conquistados com a cer-
teza da ação de Deus no meio do povo. Cananeus, heteus, heveus,
perizeus, girgaseus, amorreus e jebuseus foram lançados para fora
da Terra Prometida.
Mas, a conquista começou antes mesmo da travessia do rio Jor-
dão, pois Moisés havia dado às tribos de Rubem, Gade e à meia tribo
de Manassés as “Terras do além Jordão” – normalmente quando se
fala além do Jordão, são terras ao leste (oriente) do rio Jordão.
Quando Moisés levava o povo para o norte rumo à Palestina, preci-
sou atravessar as terras dos reis Siom e Ogue, de Gileade e Basã, que
eram os reis daquela região – dominados pelos amorreus -. Siom não
atendeu ao pedido de deixar o povo de Israel passar em paz e, por
isto, foi vencido em batalha e dominado por Israel. Da mesma forma
aconteceu com o povo de Basã.

63
Quando estavam acampados na planície de Moabe lutaram contra
os midianitas e moabitas e após a vitória de Israel, essas terras foram
distribuídas às tribos de Rubem, Gade e meia tribo de Manassés, com
a condição de que essas tribos deveriam ajudar as outras tribos na
conquista da Terra Prometida (Js 1:10-18).
O local da milagrosa travessia do rio Jordão foi nas proximidades
de Adã (Js 3:16), que fica ao norte de Jericó. Ali aconteceu o mila-
gre de Deus num momento previamente declarado por Josué, onde
houve o interrompimento da passagem das águas e proporcionou ao
povo de Israel atravessar em frente à cidade de Jericó. Essa foi a pri-
meira cidade conquistada dentro de Canaã. Cidade que distava cerca
de 24 km de Jerusalém e entre 8km e 12 km do Mar Morto. Atualmen-
te, Jericó está localizada cerca 1,5km do local da antiga cidade Bí-
blica. No tempo da conquista, era uma cidade grande e muito bem
protegida e fortificada pelos seus muros.
A cidade de Ai, perto de Jericó, foi a segunda a ser conquistada e
foram necessários dois ataques, por causa da desobediência a Deus
de um soldado na conquista de Jericó (Js 7:8), o primeiro ataque foi
fracassado. A partir desse marco das duas conquistas, Israel parte
para conquistar toda a terra de Canaã. As narrativas de Josué 6 a 12
versam sobre um período de 7 anos de batalhas.
Do capítulo 13 ao Capítulo 20 de Josué encontra-se a narrativa co
os registros da divisão da terra entre as tribos.
A partir dos três filhos de Noé, o relato bíblico expõe como a hu-
manidade se espalhou pelo mundo. Deus suscitou uma nova huma-
nidade e escolheu um homem, que saiu de Ur dos Caldeus e, a partir
dele constituir um povo especial, o povo de Israel, povo de Deus. Povo
esse, que saiu da escravidão do Egito e foi levado, por iniciativa de
Deus, para a Terra Prometida. Eram tribos e passariam a ser uma na-
ção. Para ser uma nação, é preciso ter um território, leis para ditar o
comportamento da sociedade e uma liderança apropriada.

64
Figura 26: Início da Conquista no território de Canaã

Fonte: https://bible.org/node/24574
Muitos séculos se passaram desde o início dessa jornada e, con-
sequentemente, mudanças e transformações aconteceram na geo-
grafia política da Palestina. Destaca-se a divisão da terra, agora com
o domínio do povo de Israel, aplicando a divisão territorial entre as
doze tribos, inicialmente com um governo teocrata, que por contas
das diversas celeumas criadas pelos seus habitantes fez surgir o perí-
odo dos Juízes. Posteriormente a monarquia e o empoderamento de
Israel a partir do reinado de Davi, ampliando as fronteiras da nação. A
divisão do reino após o reinado de Salomão – reino do Norte e reino
do Sul -. Os cativeiros assírios e babilônico. O período “interbíblico” e
por último a “plenitude dos tempos” com a vinda do messias, Jesus
Cristo.

2.7.1 A DIVISÃO DA PALESTINA


A divisão ocorreu de modo desigual. Como vimos, Moisés deu iní-
cio mesmo antes de conquistar a Terra prometida. A meia tribo de Ma-
nassés ficou com um bom pedaço de terra, um território maior do que
o das tribos de Gade e Rubem somados. Além disso, havia territórios

65
melhores, mais férteis e com ricas pastagens. Enquanto outros eram
locados em regiões desérticas, que foi o caso da tribo de Simeão.
Nove tribos e meia ficaram em terras entre o Jordão e o mar Me-
diterrâneo, o que podemos denominar de Palestina ocidental: Aser,
Naftali, Zebulom, Issacar, Efraim, Dã, Benjamim, Judá, Simeão, e a
meia tribo de Manassés
A distribuição feita por Moisés deixou as duas tribos e meia – Ru-
bem, Gade e meia tribo de Manassés – no lado oriental do Jordão, a
chamada Transjordânia, desde o vale do ribeiro de Arnom até o sopé
do monte Hermom (Dt 3:12-22).
Na verdade, o número de tribos, que representam os filhos de
Jacó, e seus nomes podem trazer alguma confusão de início, pois os
nomes não correspondem somente aos filhos de Jacó. Acontece que
as doze tribos receberam o nome de 10 dos filhos de Jacó – Israel – e
dois filhos de José, Efraim e Manassés. Dos doze filhos, José foi subs-
tituído pelos dois descendentes e Levi, sendo uma tribo sacerdotal,
não recebeu herança, apenas cidades na porção de cada um dos seus
(Js 14:1,21).
Geograficamente, são 12 tribos ocupando treze porções: Manas-
sés se dividiu – uma parte no oriente – Transjordânia – e outra em Ca-
naã. Tempos depois da divisão inicial, a tribo de Dã alarga seu territó-
rio, ocupando uma região chamada Laís, encaixada no Sul do monte
Hermom (Jz 6:7).
A tribo de Simeão, que recebeu sua porção na parte sul de Judá,
ficou muito mal localizada em termos de vizinhança: ao sul limitan-
do-se com as terras dos amalequitas, ao oriente com a região de
Edom e o Mar Morto e ao ocidente com as terras dos filisteus. Ou seja,
sempre exposta aos ataques inimigos. Além disso, era uma terra seca
com pouca água e muita areia. O somatório dessas coisas levou ao
desaparecimento dessa tribo, antes do reinado de Davi. Seu território
foi resgatado e incorporado a Judá exatamente nesse reinado, mas

66
a tribo se dispersou e acabou se espalhando por diversas regiões e
avançaram também para terras estrangeiras. (TOGNINI, 2009, p.58)
Há também menção da expansão dos rubenitas para territórios
orientais, próximo ao rio Eufrates, conforme 1 Cr 5:9. As 3 tribos
orientais que se fixaram a partir da determinação de Moisés, enquan-
to agiam segundo a vontade de Deus, também se expandiam, mas
quando passaram a ignorar e abandonar a Deus, receberam castigos
e perderam tudo. Essas tribos foram as primeiras tribos a serem leva-
das cativas pelos assírios, antes das demais das tribos de Israel. (1Cr
5:18-26; Am 1:13).
Na figura 27 temos o mapa das terras conquistadas e distribuídas
para as tribos de Israel. Da conquista da terra, sob Josué, até o início
do período dos Juízes, Israel foi conquistando e avançando para o
crescimento de seu território.
Figura 27: Divisão das Tribos

Fonte: https://br.pinterest.com/pin/453878468686789281/

67
Sabemos que a ocupação da terra foi pela ação de Deus a partir
de Moisés e Josué. Mas há teorias de ocupação que admitem algumas
possibilidades:
1. A ocupação teria sido pacífica, pois quando Josué entra em Jeri-
có essa cidade já estava destruída. A população invasora vai ocupando
espaços sem grandes conflitos e não toma a terra: apenas se instala;
2. Ocupação pela guerra. Essa teoria embora pareça factível es-
barra em algumas dificuldades, pois o grupo saído do Egito, não teria
recursos, nem armas para fazer guerras;
3. Beneficiados por revoluções internas nos povos dominados: Os
grupos oprimidos se unem aos israelitas e ajudam a derrotar seus
próprios reis.
A ocupação acontece através da organização popular. O grupo que
vem de fora está mais consciente e inicia um processo de organização
e conquistas de espaços sob uma nova teoria administrativa e de go-
verno.

68
CAPÍTULO 3
GEOGRAFIA BÍBLICA
ANTIGO TESTAMENTO II
Após a morte de Josué, muitos problemas haviam levado o povo
de Israel a se acomodar. A morte de seu líder, com certeza foi relevan-
te para essa postura, pois não há menção na Bíblia de um sucessor.
Iniciou um período de declínio moral e espiritual do povo. Prolifera-
ram os casamentos de hebreus com cananeus; cultos eram prestados
a ídolos dos povos cananeus e costumes condenados por Deus passa-
ram a ser imitados pelos israelitas. Pecado, idolatria e devassidão fi-
zeram com que Deus deixasse de proteger seu povo permitindo inva-
são de povos inimigos. O povo se arrependia e Deus, então levantava
um juiz, por vezes um herói, que libertava o povo da opressão.
Esse período de altos e baixos durou pelo menos 330 anos, entre a
morte de Josué e o início do reinado do rei Saul. Antes dos 5 últimos
juízes, - Jefté, Ibsã, Elom, Abdom e Sansão, nasceu o profeta Samuel
que vivenciou esse declínio, onde ocorreram, também, mudanças no
aspecto da geografia política, devido às invasões dos povos inimigos
sobre certas áreas.
No nordeste da Palestina, um rei da Mesopotâmia invadiu; no su-
deste, os moabitas reconquistaram territórios e exerceram domínio
sobre parte do povo hebreu.
Ao norte, invasão dos cananeus que chegaram a dominar Canaã
central, cuja resistência dos hebreus daquela região foi solitária sem
ajuda de seus compatriotas. Deus levantou Débora, que foi a heroína
dessa guerra.
No leste, os amonitas invadiram; no sul, houve a invasão dos filis-

69
teus. Dessa vez Deus levantou Sansão, o último militar do período dos
juízes, cujo final de sua história revela a decadência moral e espiritual
do povo hebreu.
Esse foi o período em que a Palestina estava diante de uma desor-
ganização política e a falta de união e progresso que caracterizaram
a época dos juízes, porque não havia uma autoridade central. O único
laço de união e garantia da lei e da ordem que Israel possuía era o cul-
to do Tabernáculo, que também estava sendo abandonado, por gran-
de parte da população, com o sincretismo religioso (Jz 2:7-12. 17:6).
Sob a liderança de Samuel, o último juiz, o povo de Israel havia
prosperado, crescido em poder e em orgulho nacional. Mas, ao mes-
mo tempo, havia uma crescente inquietação do povo por conta de al-
guns fatores: ameaças por ações dos filisteus, ameaças do rei Amom
e, insatisfação com a administração dos filhos de Samuel que ajuda-
vam a governar. Diante disto, o povo exigiu um rei.

3.1 O REINO UNIDO


3.1.1 O REINADO DE SAUL
Deus permitiu que isso acontecesse e houve a proclamação do pri-
meiro rei de Israel, Saul (1Sm 8:19,20). Depois, na sequência reinaram
Davi e Salomão.
No reinado de Saul houve o fortalecimento dos territórios que Sa-
muel entregou. Saul promoveu ataques contra os filisteus e conse-
guiu que estes recuassem e voltassem ao seu território, deixando as
terras tomadas dos Israelitas. As cidades de Gibeá e Micmás foram
retomadas na primeira investida. Na segunda investida contra os fi-
listeus retomou Socó, que era uma região próxima a Jerusalém, na
beira do vale de Ela. Foi nessa região que Davi enfrentou Golias. Além
disso, Saul promoveu 3 investidas contra os amonitas, os moabitas
que estavam em conluio com os edomitas e os amalequitas. As duas
primeiras foram na Transjordânia, restaurando o poder sobre as ter-

70
ras primitivas da invasão israelita – além do Jordão – e a terceira in-
vestida foi na região de Berseba e o Mar Morto, livrando-se das ame-
aças dos amalequitas. Dessa forma ,o reino foi restaurado em vários
lugares (LIMA, 2002, p.24).
Mas, Saul não conseguiu eliminar a ameaça dos filisteus e sua re-
lação com Samuel ficou muito desgastada quando o rei ousou usur-
par a função sacerdotal de Samuel. Além disso, Saul desobedeceu a
ordem de Deus para destruir totalmente os amalequitas, poupando a
vida do rei e o melhor das ovelhas e dos bois. Por isso, Deus rejeitou
Saul como rei e ordena a Samuel que ungisse um sucessor para Saul.

3.1.2 O REINADO DE DAVI


Até chegar ao seu reinado, Davi precisou fugir e refugiar-se nas ter-
ras dos inimigos filisteus, em Ziclague, uma cidade de Aquis, o rei filis-
teu de Gate, pois Saul, rei e seu sogro, o perseguia, por inveja de seu
sucesso. Saul perseguiu Davi desde Gibeá, sede de seu governo, onde
tentou matá-lo. Davi fugiu para Naiote. Em Ramá tentaram prendê-
-lo, e novamente fugiu, voltando para Gibeá e na sequência, foi para
Nobe, Gate, Caverna de Adulão, Mispa de Moabe, Herete, Queila, Zife,
Maom, Em-Gedi, e por último, Ziclaque no sudoeste de Gaza e ali per-
maneceu até os últimos anos do reinado de Saul. Radicando-se, de-
pois, em Hebrom.
Mas, após a morte de Saul, Samuel, cumprindo a ordem de Deus,
ungiu-o rei de Judá na cidade de Hebrom.
Davi não foi reconhecido por Abner, o comandante do exército de
Saul. Este colocou no trono de Israel (território ocupado pelas tribos
do norte e por Benjamim), mas seu reinado foi curto, apenas 2 anos.
Os homens de Davi lutavam contra os de Israel e nesse curto período
o próprio Abner desertou, passando para o lado de Davi. Esse rei foi
assassinado por seus próprios oficiais. Depois disso, as tribos do nor-
te foram até Hebrom e ungiram Davi como rei sobre todo o Israel.

71
Davi consolidou seu poder sobre as doze tribos, unificou o reino,
conquistou definitivamente Jerusalém, da qual fez a capital de seu
reino, subjugou definitivamente os filisteus, e conquistou tribos vizi-
nhas. Ou seja, seu império foi maior do que as terras que haviam sido
distribuídas por Josué.
Sua luta contra os filisteus foi em duas etapas e sua vitória foi fun-
damental para o início da unificação do reino. Venceu os filisteus des-
de Gibeão até Gezer.
A tomada de Jerusalém e sua escolha como capital, também foi
estratégica, porque essa cidade era cercada por 3 vales profundos de
três lados e provida de boas fontes de água. Além disso, tinha gran-
de potencial defensivo, tendo em vista sua centralidade, tendo sido
aprovada tanto por Israel quanto por Judá. (LAWRENCE, 2008, p.64)
Davi se mudou para Jerusalém, que passou a ser chamada de “Ci-
dade de Davi”.
Outro episódio interessante foi o trajeto da Arca da Aliança que
fora levada pelos filisteus para as cidades filisteias de Asdode, Gate e
Ecrom. Por conta da rejeição dos filisteus, a Arca foi deixada no terri-
tório de Bete-Semes, região israelita e de lá foi para Quiriate Jearim
de onde Davi conseguiu resgatar e levar para Jerusalém.
Sem cronologia, identificamos alguns locais onde Davi travou ba-
talhas contra seus inimigos: Rabá (atual Amã), a capital de Amom,
onde Joabe, o comandante do exército de Davi, expulsou os arameus
dos estados de Bete-Reobe, Zobá e Tobe ao norte. Estes voltaram
com reforços, mas Davi reforçou seu exército e derrotou os arameus.
Lutaram também contra os moabitas e os edomitas no vale do sal,
na Arabá, ao sul do Mar Morto, colocando guarnições em toda região
de Edom. Depois atacou o reino arameu estabelecido em Zobá. Ele
ainda derrotou os arameus que vieram de Damasco em socorro de
Zobá. Também colocou guarnições em Damasco. O reino de Davi se
estendeu do Egito (Wadi el Arish) até perto do rio Eufrates.

72
Se pelo lado militar e de expansão o reinado de Davi foi um suces-
so, sua vida e conduta pessoal não foram das melhores. No livro de
Samuel há registros de sua conduta imprópria em relação a Bate-Se-
ba, incluindo a ordem de assassinar Urias, o heteu, marido dela.
Por conta de dois de seus filhos, chegou a perder o trono tempo-
rariamente, mas retomou o poder até que seu filho com Bate-Seba,
Salomão, foi empossado rei.
Até 1993, a única evidência da existência do rei Davi era o relato
bíblico. Nesse ano, na cidade de Tell el Qadi (antiga Dã, no norte de
Israel) foi encontrada uma estela de basalto incompleta, com as ins-
crições em aramaico que faziam menção à “Casa de Davi”. Mas, há
outros achados arqueológicos que apareceram sobre Davi.

3.1.3 O REINADO DE SALOMÃO


Antes de Salomão ser empossado, seu irmão Adonias havia ten-
tado tomar seu lugar. Talvez, por isso, ele tenha sido executado. Ou-
tra situação semelhante foi o assassinato de Joabe, comandante do
exército de Davi, por Benaia, que tomou o lugar de Joabe à frente do
exército, no reinado de Salomão.
Fora esse sinistro início, o reinado de Salomão, que durou 40 anos,
se caracterizou por um período de paz, de realização de obras pú-
blicas, fomento da economia, embelezamento de Jerusalém, cons-
trução de torres de segurança, construção dos muros de Jerusalém,
crescimento do prestígio militar e, a maior de todas as realizações, a
construção do templo.
Salomão conseguiu estender o território de seu reinado até além
do rio Eufrates, conforme Ed 4:20, o que praticamente caracteriza o
cumprimento do que Deus havia prometido.
Adicionado a esse crescimento de domínio territorial em seu rei-
nado, Salomão obteve prosperidade material, com riquezas acumu-
ladas do reinado de Davi mais as que ele conquistou. Prosperidade

73
moral e religiosa, pois com o translado da Arca da Aliança para Jeru-
salém e as reformas concluídas por Davi houve um avivamento espi-
ritual do povo e isto foi preponderante para a tranquilidade naquele
tempo. Além disso, construiu um suntuoso templo. Seu reinado foi
iniciado com grandeza, fama e renome, que jamais foram igualados.
(MONEY, 2003, p.164)
Além das construções do Templo e dos muros de Jerusalém, Salo-
mão promoveu a construção: da cidade de Megido, ao sul de Esdra-
elom e Azor, perto do lago de Merom; reedificou Gezer, na fronteira
efraimita; fortificou as cidades de Bete-Horom, Hamate e Tadmor, no
norte e nordeste de Damasco e também a cidade-armazém de Baala-
te, perto de Gezer (1Rs 9:17-19).
Figura 28: Reinos de Saul, Davi e Salomão

Fonte: https://slideplayer.com.br/slide/5550840/

74
3.2 O REINO DIVIDIDO
Parece impossível que um reinado desses fosse ruir. Teologica-
mente, ele começa a ruir por conta do sincretismo religioso permitido
por Salomão, devido a seus inúmeros casamentos com mulheres que
cultuavam deuses de outras religiões.
A desintegração de seu reinado se inicia com a implantação de pe-
sados impostos sobre a população de Israel, que já havia contribuído
com muito dinheiro para a construção do Templo e de obras públicas
para a cidade de Jerusalém. Essa nova carga de impostos desagra-
dou a todos e semeou a discórdia.
O povo dirigiu-se ao sucessor de Salomão, seu filho Roboão, pe-
dindo que ele aliviasse esse fardo, mas além de não atender ao povo,
ele piorou a situação, o que redundou em rebelião.
A maioria das tribos – menos Judá e Benjamin - não reconheceu a
autoridade de Roboão. Com isto, Jeroboão, filho de Nebate, foi eleito
rei. Assim, se processou a divisão definitiva do povo de Israel e a for-
mação dos dois reinos:
Judá – Tribo de Judá e uma porção da tribo de Benjamim. Esten-
dia-se ao sul de Jericó, Betel e Geser. A fronteira setentrional se modi-
ficava com frequência à medida dos resultados de batalhas. Sua Capi-
tal e centro religioso sempre foi Jerusalém (1Rs 12:18-19).
Israel – Dã, no extremo norte ao pé do monte Hermom, Azer, Naf-
tali, Issacar, Zebulom, Manassés ocidental e oriental, Efraim, Gade,
Rubem, parte de Benjamim. Ocupava todo o território oeste do Jor-
dão e toda Canaã ao norte de Jericó, Betel e Gezer. A princípio, sua ca-
pital foi Siquém. Depois construíram a cidade de Samaria, que passou
a ser a capital permanente.
Havia dois centros religiosos, um ao norte do reino em Dã e outro
no extremo sul em Betell (1Rs 12.26-30).
Essa divisão gerou o afastamento de povos dominados por Israel,

75
que viraram novos reinos. O reino Sírio, que estava ao norte do Monte
Hermom, cuja capital era Damasco; o reino de Moabe; e o reino de
Edom.
Evidentemente, os limites dos territórios tanto no reino de Israel
quanto no reino de Judá foram reduzidos. Houve uma redução ao
norte de Israel e isso fez com que o território voltasse a ser igual ao
que era antes do reinado de Davi. A mesma coisa aconteceu no sul
de Judá, onde terras conquistadas por Davi dos reinos filisteus e de
Edom foram perdidas.
Figura 29: Reino dividido

Fonte: http://mapasbiblicos.blogspot.com/2011/03/reino-de-davi-e-salomao-
israel-e-juda.html

76
Nunca mais houve paz naquela região. A partir da divisão do reino
de Israel deu-se início o período de desintegração pelas diversas lu-
tas, fomentadas, principalmente, pela busca de supremacia dos rei-
nos da Síria, Israel e Judá.
No início, havia conflitos entre Israel e Judá, mas com o crescimen-
to e poderio da Síria, os reinos divididos precisaram se unir belica-
mente para combater o inimigo em comum.
Ao mesmo tempo, outras potências e seus impérios disputavam e
conquistavam territórios. Judá foi atacada pelo rei do Egito, Sisaque,
e perdeu tesouros do Templo (2Cr 12:1-9). O império Assírio com sua
fúria promoveu a queda do reino da Síria e em seguida, partiu em di-
reção ao sul contra o Reino de Israel, que era impotente para resistir.
Só não tomou Judá, porque Acaz, rei de Judá, suplicou ajuda ao rei da
Assíria contra os filisteus, e este o atendeu com intenção de posterior-
mente atacar Israel, atravessando o território de Judá e alcançando
Samaria, capital de Israel, para ao fim conquistá-la.
Deus, ao escolher a Palestina como a Terra de seu povo, nos reve-
la que aquele lugar era estratégico para o crescimento como nação
e de seu Reino. A Palestina era cobiçada por todas as nações, pois
sua localização era privilegiada, não só pelo clima e possibilidade de
potencial defesa, mas também por ser a rota de ligação com todo o
mundo existente.
Interessante notar que havia fatores defensivos devido sua situa-
ção geográfica. Por todos os lados, havia povos que, embora fossem
inimigos do povo de Israel, também serviam de escudo contra os ata-
ques de outras nações e seus impérios. Ou seja, até chegar na Terra
Santa seria preciso brigar muito com estes vizinhos, que ora eram
maldição e ora, bênção.
Mas, sabemos que tanto Israel quanto Judá desagradaram a Deus
e este permitiu que houvesse a queda dos dois reinos. Israel sucum-
biu aos assírios e Judá aos babilônios.

77
3.3 IMPÉRIOS PODEROSOS DAQUELE TEMPO
Nas narrativas bíblicas, o povo de Deus desenvolve-se paralela-
mente à ascensão e queda de vários impérios. Como observamos
inicialmente, Israel havia sido escravizado no Egito, que foi uma das
maiores potências do mundo daquela época. O império assírio deter-
minou o fim do reino de Israel. O império Babilônico levou Judá ao
cativeiro e por último, o império persa também teve seu tempo de
glória, inclusive sendo benevolente com o povo de Deus e deixando
que este retornasse a Jerusalém.
Com isto, aconteceram inúmeras mudanças de divisão política no
mundo daquela época. Abaixo apresentaremos figuras com os limites
dos territórios destes impérios, que demonstram tais mudanças.

3.3.1 O IMPÉRIO EGÍPCIO


O império egípcio, além de escravizar o povo de Israel, fez diversas
incursões nos territórios do mundo bíblico, principalmente após a ex-
pulsão do hicsos, com a reforma expansionista do seu novo império,
chegando a dominar muitas regiões.
Figura 30: Império Egípcio

Fonte: https://www.coladaweb.com/historia/civilizacao-egipcia

78
Contudo, o Egito foi invadido e dominado sucessivamente pelos
assírios (670 a.C.), pelos persas (525 a.C.), pelo exército de Alexandre
da Macedônia (332 a.C.) e por último pelos romanos em 30 a.C.

3.3.2 O IMPÉRIO ASSÍRIO


O império assírio, algoz do reino de Israel (2Rs 18:13, 14), era um
império cruel e se agigantou naqueles dias. Oriundo do norte da Me-
sopotâmia, nas planícies perto do rio Tigre, sua estratégia de levar
cativo o povo dominado e espalhá-lo em diversas regiões fazia com
que esses povos perdessem sua identidade nacional, inviabilizando
sua continuidade como nação e até mesmo enfraquecendo sua cultu-
ra, o que provocava o extermínio completo. Foi o que aconteceu com
o Reino do Norte, o Reino de Israel.
Figura 31: Império Assírio

Fonte: http://semeandoabiblia.blogspot.com/2010/05/mapa-32-imperio-
assirio-2.html
A figura 31 reflete a grandeza do império assírio, mas assim como
outros gigantes, sua derrocada também aconteceu. E foi através dos

79
medos, povo que se concentrava no planalto montanhoso, onde hoje
fica o Irã, que o exército assírio que retornava de uma cansativa jor-
nada de batalhas, se complicou tendo que resistir ao ataque, o que
provocou a fragilidade da segurança de seu território de origem.
Com isso, os babilônios, que já vinham se fortalecendo, se uniram
aos assírios opositores do governo e tomaram a cidade de Assur, de-
pois Nínive – com a aliança entre babilônios, medos, citas e um povo
da região do mar Negro -. O império assírio teve sua derrocada em
Harã, com um ataque final dos babilônios.
Cabe ressaltar, que há outros impérios de porte menor que coabi-
taram com os aqui citados. Os sumérios (2800-2400 a.C.), os acadia-
nos (2400-2200 a.C.), terceira dinastia de Ur (2100-1950 a.C.), os elami-
tas (1950-1830 a.C.), os hicsos, (1780-1550 a.C.), os hititas (1700-1200
a.C.), os hurritas (1500-1370 a.C.), os cassitas (1500-1150 a.C.).

3.3.3 O IMPÉRIO BABILÔNICO


O império babilônico, cuja capital era a Babilônia, cidade famosa
por sua riqueza, comércio e desenvolvimento da religião e astrologia.
O centro do império se encontrava nas planícies pantanosas do sul
da Mesopotâmia, entre os rios Tigre e Eufrates. A extensão e a impo-
nência das muralhas que protegiam a cidade da Babilônia faziam com
que ela parecesse inexpugnável.
Rotas comerciais foram criadas a partir da Babilônia ligando as di-
versas regiões, inclusive atravessando o deserto. Esse império virou
uma potência mundial. Foi se expandindo e foi o responsável pelo ca-
tiveiro de Judá, Reino do Sul. Antes da conquista, como já foi relatado
acima, venceu os egípcios em 2 batalhas, sendo uma em Carquemis
e outra em Hamate. Destruiu também Ascalom e finalmente chegan-
do a dominar Judá (2Rs 24:1), mas ainda havia resistência e por mais
duas vezes o exército da Babilônia teve que agir. Por último, Nabuco-
donosor conquistou em definitivo (2Cr 36.17-21; Je 39.10).

80
Figura 32: Império Babilônico

Fonte: https://www.estudopratico.com.br/imperio-babilonico-historia-da-
babilonia/
O tipo de cativeiro do povo de Judá, que foi levado cativo pela Ba-
bilônia, foi diferente do que aconteceu com o povo de Israel, que foi
dispersado pelo mundo. Os judeus foram colocados em colônias em
que preservavam suas consciências de nacionalidade e religiosida-
de. Teologicamente falando, isso contribuiu, e muito, para formar o
mundo da vinda de Jesus. Pois naquelas colônias, houve avivamento
espiritual do povo, deixando a idolatria (o politeísmo), e um sentimen-
to nacionalista e de esperança messiânica. Desenvolveram a idéia e
prática da sinagoga. Ou seja, a providência de Deus atuou, através do
cativeiro, para preparar o mundo para a chegada de Jesus Cristo e
seu Evangelho.

3.3.4 O IMPÉRIO PERSA


Em 539 a.C. os persas atacaram a cidade da Babilônia e todo o im-
pério babilônico foi dominado.

81
Figura 33: Ruinas do antigo império da Babilônia no Iraque

Fonte: depositphotos
A nova comunidade judaica foi restaurada sob a proteção persa
e administrada por governadores, nomeados por eles. O que pro-
porcionou, mesmo com território bem reduzido, a esperança pelo
ressurgimento da vida nacional na Terra Prometida, sendo de muita
importância a reconstrução não só da cidade de Jerusalém, como do
Templo e dos muros da cidade (RONIS, 1999, p.104).
Figura 34: Império Persa

Fonte: http://mapasbiblicos.blogspot.com/2011/03/imperio-persa.html

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A figura 34 mostra a enorme área do domínio persa, o que de-
monstra seu apetite dominador. Além disso, sua cultura e religião
(islâmica) se expandiu pelo mundo. A Pérsia estava localizada den-
tro do Crescente Fértil, onde hoje fica o atual Irã. Sua expansão se
deveu à estratégia de descentralização de poder, instituindo diversas
capitais do império como: Persépolis, Babilônia, Susa e Ecbátana.15
O governador persa Dario I dividiu o império em 20 províncias, que
eram cidades autônomas, que receberam o nome de Satrapias.
Os gregos foram a pedra no caminho dos persas, pois estavam
em ampla expansão sob o comando de Alexandre O Grande e em 330
a.C., Alexandre venceu o exército persa, que estava sob o comando
de Xerxes.

3.4 PERÍODO INTERBÍBLICO


As modificações geográficas ocorridas na Palestina nesse período
foram de ordem política, por conta da sequência da prática de domi-
nação dos impérios, que continuavam surgindo e lutando entre si, em
busca de soberania.

3.4.1 IMPÉRIO GRECO-MACEDÔNIO


O domínio dos grego-macedônios foi preponderante para mudan-
ças importantes no contexto político, cultural e religioso.
A Grécia é uma península que está situada na parte leste do mar
Mediterrâneo. O mar Egeu a separa da Ásia Menor e o mar Adriático a
separa da península italiana. A Macedônia situa-se ao norte da Grécia
e o império Greco-Macedônico chegou a abranger a maior parte do
mundo conhecido na antiguidade, pois se estendia desde a Índia, no
oriente, até o extremo ocidental Mediterrâneo.
O crescimento de seu império e domínio foi espantoso e pratica-

 https://www.estudopratico.com.br/o-imperio-persa-historia-politica-e-religiao/#O_
15

declinio_dos_persas

83
mente enquanto Alexandre viveu. A partir de sua morte, o império foi
dividido nos chamados “reinos helênicos”, dos quais os de Ptolomeus
(Egito) e Selêucidas (Síria) foram importantes.
Essa expansão helenista foi a que mais se fez sentir no mundo
bíblico. O grego se tornou a língua mais falada, principalmente para
uso comercial. Muitas obras culturais foram construídas: Ginásios,
teatros, estádios no estilo grego. E, também, cidades como Alexan-
dria no Egito, onde o Antigo Testamento foi traduzido para o grego (a
“Septuaginta), para atender a colônia de judeus de fala grega que mo-
rava na cidade, embora o aramaico fosse a língua popular utilizada na
Palestina oriunda da Pérsia.
A cultura grega, antes da dominação romana, foi uma espécie de
preparação para todos os povos do mundo, pois sua cultura e língua
se espalharam proporcionando a possiblidade de uma melhor co-
municação entre as diferentes raças. A maioria das nações passaram
a ser bilíngues, falando sua própria língua e o grego popular (LIMA,
2002, p.24).
Figura 35: Império Greco-Macedônico

Fonte: ttps://www.luiz98738blogspot.com.br/2017/04/a-elevacao-do-imperio-
dos-gregos.html

84
Durante a dominação dos gregos, a Palestina estava situada no
centro dos conflitos entre os Ptolomeus e Selêucidas e no decorrer do
tempo, os Selêucidas começaram a perseguir os judeus na Palestina,
inclusive profanaram o Templo, sacrificando um porco sobre o altar e
tomando outras medidas e destituindo o Sacerdote, o que deu início
a um processo de helenização radical da Palestina.
Houve reação dos judeus, a chamada Revolta dos Macabeus, pro-
vocando o recuo dos sírios e a instituição de um governo local, exerci-
do pelos Macabeus, ainda vinculado à Síria (166-167 a.C.).
Finalmente, os romanos entram em ação com todo o vigor e subju-
gam os gregos, e também os Macabeus, que por falta de sabedoria e
disputas entre os familiares, perderam a oportunidade que os judeus
tiveram de se tornarem novamente uma nação livre.

85
CAPÍTULO 4
A GEOGRAFIA BÍBLICA
DO NOVO TESTAMENTO
Começamos este último tópico ainda versando um pouco sobre o
passado aos tempos de Jesus, a começar pelo Império Romano e sua
importância para o cristianismo, mas daremos uma sequência pano-
râmica até as viagens de Paulo.

4.1 O IMPÉRIO ROMANO


O legado do império romano para o desenvolvimento do cristia-
nismo é muito importante, mesmo diante das inúmeras perseguições
sofridas. Essa afirmação se baseia no aspecto da geografia política,
como veremos:
No calendário romano, Jesus nasceu no ano de 747 da fundação de
Roma, durante o reinado do Imperador César Otaviano Augusto, que
morreu em 767, quando Jesus tinha 20 anos. Sucedeu-o no poder o
Imperador Tibério César. Na sua gestão, Jesus foi condenado à morte.
A Palestina era governada por Herodes, o Grande, que ganhara o
título de “rei dos Judeus”. Ele era homem de confiança dos Imperado-
res romanos e tinha o respeito dos judeus, pois restaurou e ampliou o
Templo de Jerusalém.
Herodes foi um grande construtor, com obras inovadoras como
um porto artificial em Cesareia – com profundidade de 36m – protegi-
do por um quebra-mar de 60m. Construiu aquedutos, um hipódromo,
um teatro e anfiteatro. Reformou a cidade de Samaria, construiu a ci-
dade de Sebaste (Augusta) e muitas outras construções em Hebrom,
Massada, Jericó etc.

86
Herodes morreu no ano de 750 de Roma, quando Jesus tinha 3
anos de idade.
yy A região foi dividida entre seus 3 filhos. Judeia, Samaria e Idumeia
couberam ao seu primogênito, Etnarca Arquelau (em 759, acabou
exilado em Roma, denunciado pela sua crueldade), mas passaram
a ser administradas por Roma, através de procuradores. Pôncio Pi-
latos foi o quinto deles, permaneceu no cargo por quase 10 anos,
de 770 a 789 (26 a 30 d.C.);
yy A Galileia e a Pereia ficaram com seu segundo filho, Etnarca Hero-
des Antipas, conhecido nos Evangelhos pelo encarceramento e de-
capitação de João Batista, e o comparecimento de Jesus durante a
sua prisão e paixão;
yy Ao terceiro filho, Felipe, coube o governo das regiões situadas ao
norte do lago da Galileia (citado por Lucas).
Evidentemente, a divisão política da Palestina foi totalmente mo-
dificada, foi simplificada. Ao visualizar os mapas abaixo, identifica-
mos o Rio Jordão, o Mar da Galileia e o Mar Morto em um vale extenso
e cercado por paredões montanhosos.
Na faixa oeste ficavam localizadas as províncias da Galileia ao nor-
te, de Samaria no centro e Judá no sul. O Mar da Galileia fica na parte
leste da Galileia e oeste nas terras de Gaulanites, Bataneia e Decápo-
lis. O Mar Morto fica entre a Judeia, a leste e a oeste da Pereia, além
do Jordão. Na faixa leste ficavam Itureia, Traconites, Gaulanites, De-
cápolis, Bataneia e Pereia.

87
Figura 36: Divisão política da Palestina

Fonte: https://acruzhebraica.com.br/blog/herodes-um-idumeu-oportunista-e-
megalomaniaco/
A Judeia era a maior província da Palestina no tempo de Jesus, e
sua área compreendia as terras que no passado eram das tribos de
Judá, Simeão, Dã e Benjamim, exceto as regiões de Belém, Betânia e
Hebrom. Esta província tinha 4 portos no Mediterrâneo: Jope, Azoto,
Ascalom e Gaza.
Seus habitantes eram judeus “legítimos”, sem miscigenação de
raças, no entanto, havia os judeus helênicos e judeus da linhagem sa-
cerdotal, que fomentaram o acirramento do zelo religioso, apegado
às leis, e nacionalista de sua população, contribuindo para que esta
se sentisse superior.
Samaria, situada no Centro, entre a Judeia e a cordilheira do Car-
melo – que a separa da Galileia -. Tinha planícies muito férteis e pro-
duzia fartas colheitas de frutas e cereais. Seus habitantes odiavam os
judeus e a recíproca era verdadeira. Tinha uma região montanhosa.
A Galileia, província do norte ocidental, limitava-se ao sul por Sa-
maria e ao norte pelo monte Líbano, a leste pelo Mar da Galileia e a

88
oeste pelo mar Mediterrâneo e a Fenícia. Possuía terras férteis e tinha
uma beleza exuberante. Jesus viveu a maior parte de sua vida na Gali-
leia, onde deu início a seu ministério. Sua localização era central para
as rotas importantes do império. As atividades agrícolas, de pesca e
comércio enriqueceram a região.
Nessa região havia montanhas altas, incluindo o monte Tabor e o
monte Meron, que possuíam temperatura relativamente baixas e alta
pluviosidade, o que ajudava na fertilidade de seu solo.
Durante muito tempo, essa província foi chamada de “Galileia dos
gentios”, pois nessa região havia muitos fenícios, árabes, egípcios, sí-
rios etc., mas com o retorno dos judeus do cativeiro da Babilônia, que
se estabeleceram na Galileia, a região foi perdendo essa designação.
Foi em Caná que Jesus operou seu primeiro milagre.
As províncias do leste – “além Jordão” – a rigor, eram duas no tem-
po de Jesus: Decápolis e Pereia. As localidades Itureia, Abilene, Tra-
conites, Gaulanites, Auranites e Bataneia eram distritos de Decápolis.
Decápolis era um grande território situado ao sul do Mar da Gali-
leia, estendendo-se para o leste. Era uma região que fora dominada
pelos gregos, mas os romanos separaram algumas delas que eram
dos judeus e vincularam-nas ao governo da Síria, sob seu comando,
que eram territórios estratégicos para defesa contra invasões de po-
vos semitas. Jesus Cristo esteve nessa região, na cidade de Gadara e
em Cesareia de Filipe, no distrito de Itureia, e utilizou rotas que atra-
vessavam Decápolis, quando retornava de Tiro e Sidom, cidades fe-
nícias.
Sua população era constituída, em sua maioria, de gregos. Ao nor-
te, habitavam gentios de diversas nacionalidades.
A Pereia, que ficava ao longo do rio Jordão, começando pouco ao
sul da cidade de Pela, de Decápolis, e indo até o ribeiro de Amom. Ao
leste, se junta ao deserto arábico. Tinha poucos habitantes - em sua
maioria eram judeus legítimos -, e foi de pouca importância para o

89
ministério de Jesus. Sua importância estava em sua condição geográ-
fica por causa da rota de passagem para Judá, que era muito usada
por Jesus para atravessar o rio Jordão na direção de Jericó e entrar
na vila de Betânia e daí chegar em Jerusalém.

4.2 CIDADES DA PALESTINA NO TEMPO DE JESUS


Não há uma preocupação cronológica e nem exaustão dos aconte-
cimentos na listagem das cidades abaixo:
yy Cidade de Nazaré – Jesus habitou nessa cidade, até sair para assu-
mir seu ministério messiânico. Esteve fora, ainda quando era “de
colo”, quando ele e seus pais se refugiaram no Egito. Retornaram
e voltaram a residir ali. Nazaré era uma pequena cidade localizada
na parte baixa da Galileia, exatamente acima da planície Esdrae-
lon. Era rota do caminho para Cafarnaum no litoral, uma das mais
trafegadas estrada romana. Caná, local do primeiro milagre (Jo
21), ficava nessa estrada. Sua população não gozava de boa repu-
tação e o relato bíblico nos informa que eles foram incrédulos com
relação a Jesus (Mt 13:58)
yy Belém – Foi nessa cidade que Jesus nasceu. Uma pequena vila da
Judeia, 10 km ao sul de Jerusalém na estrada que segue para He-
brom. Seu nome antigo em hebraico é Bet Lehem, citada em Gn
35:19 como localizada no caminho de Efrata, designada como Be-
lém-Efrata ou Belém de Judá, para fazer distinção de outra cidade
homônima, Belém de Zebulom, distante 11 km de Nazaré. Nela,
Rute se casou com Boaz que foi bisavô de Davi, que também nas-
ceu ali, e foi ancestral de Jesus.
Por causa de sua altitude, cerca de 750m acima do nível do mar,
era uma fortaleza natural.
yy Betânia – Ao que parece, havia duas cidades com este nome. Em
Mt 3:13 há o relata do batismo de Jesus, “além do rio Jordão”, sem

90
indicar qual seria esse lugar. Já em Jo 1:28, versando sobre a mes-
ma narrativa, há a informação de que se trata de Betânia, localiza-
da na outra banda do rio Jordão, que alguns estudiosos dizem ser
Betábara. Esta seria uma Betânia, pequena vila na Pereia, entre o
deserto e o rio Jordão ao sul; a outra Betânia era uma vila situada
no lado ocidental, na Judeia, perto de Jericó e mais perto ainda
de Jerusalém, onde residiam os amigos de Jesus: Lázaro, Marta e
Maria.
yy Betábara – Foi nessa cidade que João Batista apontou Jesus e dis-
se aos discípulos que este era o Filho de Deus.
yy Caná da Galileia – Vila que ficava a cerca de 8 km de Nazaré, entre
a cidade e o Mar da Galileia, onde Jesus fez seu primeiro milagre
(Jo 2:2-12).
yy Cafarnaum – Situada à margem do Mar da Galileia, do lado oci-
dental na costa noroeste. Era um importante porto e a indústria
da pesca era muito ativa. Ali havia um posto de recolhimento de
impostos do império – onde Levi trabalhava -. Pedro residia nes-
sa cidade (Mt 8:14-17). Jesus morou nessa cidade, com sua mãe e
irmãos (Jo 2:11,12). Ali Jesus realizou milagres e proferiu parte de
suas parábolas. Quatro discípulos dele foram recrutados (Lc 5:1-
11). Além disso, era onde Jesus centralizava suas atividades mes-
siânicas.
yy Samaria – Desempenhou papel preponderante na história do
povo de Deus. Fica na região montanhosa do centro da Palestina,
a cidade foi concebida e construída pelo rei Onri e concluída por
Acabe, depois de muitos anos. Era murada e de lá se podia con-
trolar as rotas comerciais que atravessam a planície de Esdrelom.
Esteve sob o domínio de várias nações e chegou a ser quase des-
truída. Herodes o Grande a restaurou, ou melhor, construiu uma
nova Samaria sobre a antiga, chamando-a de Sebastia. Nela foi
construído um aqueduto. Essa cidade foi helenizada por Herodes.

91
Atualmente, situa-se entre os territórios da Cisjordânia e de Isra-
el. A cidade de Samaria foi tomada pelos assírios em aproximada-
mente 722 a.C. A província de Samaria, nos tempos do Novo Tes-
tamento, estava situada entre a Judeia e a Galileia (Lc 17:11) - era
limitada ao norte pela série de montes que formam o limite meri-
dional da planície de Esdrelom e ao sul pela fronteira setentrional
de Benjamim. Foi atravessada por Jesus Cristo (Jo 4:4 a 43), e em
parte muito cedo recebeu o Evangelho (At 8:5 a 25).
yy Corazim – Ficava ao norte de Cafarnaum, numa distância curta de
cerca de 4km. Aldeia associada a milagres e pregações de Jesus.
Ali, residiam pessoas incrédulas.
yy Betsaida – Localizada no lado oriental do Mar da Galileia, quase
em frente a Corazim. Foi reconstruída por Filipe, que acrescentou
o nome de “Júlias”, homenageando a filha do imperador Augus-
to. Assim como Corazim havia muitos incrédulos. Mas tudo indica
que havia outra cidade com o mesmo nome no lado ocidental da
Galileia. Em Mc 5:45 e Jo 12:21 há menção dessa cidade, cuja loca-
lização é desconhecida.
yy Tiberíades – Essa cidade foi construída por Herodes Antipas por
volta do ano 20 d.C. para ser a capital de sua tetrarquia da Galileia
e Pereia. Tem esse nome em homenagem ao imperador Tibério
César. Foi tão importante na sua época que o Mar da Galileia pas-
sou a ser chamado de mar de Tiberíades. Era considerada impura
pelos judeus, pois havia muitos prédios construídos sobre um an-
tigo cemitério. Foi a única cidade da orla do Mar da Galileia que
ainda hoje existe. Seus habitantes, na maioria, eram gentios.
yy Gadara ou Geraza – Cidade onde Jesus promove a libertação de
um homem possesso de uma legião de demônios enviados para
uma vara de porcos (Mc 5:1-20; Lc 8.26-39). Todas as cidades em
que há menção a porcos geralmente são, em sua maioria, de po-
pulação gentia;

92
yy Naim – Situada na região ocidental, na Galileia, a sudoeste do Mar
da Galileia, ao sul perto de Nazaré. É citada em Lc 7:11-17 no relato
da ressurreição do filho de uma viúva;
yy Jericó – Era a cidade-portal da entrada da Pereia para a Judeia,
atravessando o Jordão. Situava-se no vale do Jordão, cerca de
28km ao oriente de Jerusalém, a 9 km do ocidente do Jordão e
16 km do Mar Morto. A atual Jericó dista cerca de 1,5Km desta lo-
calização. Na verdade, há 3 Jericós: a de Josué, no sopé do monte
Quarentena – achados arqueológicos da antiga muralha foram en-
contrados ali-; a Jericó herodiana, a sudoeste da anterior, próxima
do ribeiro de Querite, onde Herodes o Grande edificou um palácio
de inverno com jardins e canalizou água por meio de aqueduto; e
a atual Jericó, chamada El-Risha.
Na cidade de Jericó no tempo de Jesus, moravam muitas pessoas
ricas. Como Zaqueu (Lc 19:1). Nela há diversos registros de mila-
gres e ensino de Jesus através de parábolas (Mt 20:29);

yy Genezaré – Situada perto de Cafarnaum, numa planície na praia


noroeste do mar da Galileia. Foi o lugar que Jesus e seus discípu-
los, depois da multiplicação dos pães nas imediações de Betsaida,
desembarcaram para seguir para Cafarnaum. (Mt 6:43-55);
yy Jerusalém – Com certeza a mais importante de todas as cidades
bíblicas, não só para o cristianismo como também para todas as
nações monoteístas, por ser o símbolo terreno palpável, inclusive
histórica e arqueologicamente, da realidade da revelação de Deus.
E, também, de interesse daqueles que não professam a fé, mas se
intrigam com o seu legado, mesmo que só histórico. Foi o palco
dos maiores e mais decisivos episódios da terra. A mais falada e
disputada, cujas ocorrências mudaram o rumo da história.
Para o Cristianismo, foi o local onde Jesus, através de seu sacrifício
e sua morte no Calvário e ressurreição, proporcionou a maior de to-

93
das as bênçãos à humanidade: a certeza da Salvação e da vida eterna.
Jerusalém é uma cidade muito antiga. Citada no Antigo testamen-
to desde Abraão. Seu nome aparece em muitos registros antigos. Nos
textos Egípcios, foi grafado Rusalium ou Urusalimum. Nas cartas en-
dereçadas a Tell el-Armana, escritos cuneiformes, Urusalim. Em assí-
rio, Senaqueripe escreveu: Ursalimmu. Na Peshita, Ursalem. No texto
Massorético, Yerusalaim. No aramaico bíblico, Yeruselem. Através do
grego, Ierousalem. (TOGNINI, 2009, p.260)
Jerusalém, historicamente também é chamada de “Sião” e “cida-
de de Davi”, é uma antiga cidade do Médio Oriente. Atualmente, Isra-
el quer Jerusalém como capital e a Autoridade Palestina reivindica a
soberania da parte oriental da cidade, onde pretende estabelecer a
capital de um futuro estado independente palestiniano.
Podemos observar que, até hoje, há disputas em torno de Jerusa-
lém. Mas a importância dessa cidade não está no fato de que tenha
alguma riqueza, na expressão cultural e artística e muito menos por
conta de sua extensão.
Jerusalém está situada na extremidade de um planalto, a 785m
acima do nível do mar, a oeste do Mar Morto, a cerca de 50km do mar
Mediterrâneo. A cidade é rodeada por vales. As suas colinas são ricas
em calcário.
O clima de Jerusalém é seco e quente, com pluviosidade e tem-
peraturas mais amenas no inverno. As temperaturas médias oscilam
entre os 24 graus em agosto e os 10 graus em janeiro. A pluviosidade
média anual chega aos 600 mm. Durante o outono e a primavera é co-
mum a existência de um vento seco e quente, chamado em hebraico
sharav. A humidade diária é em média 62 % durante o dia, mas pode
descer para 30 % ou 40 % durante o período do vento sharav.
A chamada “Cidade Antiga” é uma área em forma retangular, ro-
deada por uma muralha, mandada construir em 1538 (ou 1542). Oito
portões permitem o acesso à Cidade Antiga, o centro histórico de Je-

94
rusalém e nela se concentram os principais locais sagrados. Está divi-
dida em quatro partes: a judaica, a cristã, a armênia e a muçulmana.
A Cidade Antiga e as suas muralhas foram nomeadas pela UNESCO
Patrimônio Mundial da Humanidade em 1981.
A cidade de Jerusalém, ao longo da história, foi conquistada 36
vezes e por 7 vezes foi totalmente destruída. Há vestígios de povo-
amento com caracteres fixos desde o século XX a.C., sendo que, de
acordo com algumas fontes teológicas, a cidade já existia na época de
Abraão, com o nome de Salém, cujo rei se chamava Melquisedeque.
Jerusalém era uma cidade fortificada, que se encontrava ocupada
pelos jebuseus, até ser conquistada por Davi, no final do século XI a.C.
Tornou-se a capital do Reino de Israel e depois do Reino de Judá, até
Nabucodonosor II a destruir por completo, juntamente com o famoso
Templo de Salomão, no ano de 607 a.C., ocasião em que os israelitas
foram levados para cativeiro babilônico. Com o fim do cativeiro ba-
bilônico, os judeus conseguem retornar para a sua terra de origem,
após decreto de Ciro. Assim, sob domínio persa, os judeus reconstro-
em o templo e os muros da cidade.
Em 63 a.C., a cidade foi tomada pelo general romano Pompeu, mas
a conquista não implicou a sua destruição. Jerusalém torna-se capital
do reino de Herodes, o Grande, um reino-cliente do Império Romano.
Herodes lançou uma série de projetos que visavam restaurar Jeru-
salém e ganhar a simpatia dos judeus. Entre estes destaca-se a restau-
ração do Segundo Templo, no qual gastou vastas somas de dinheiro.
Foi esse templo que Jesus Cristo conheceu e visitou. Para além disso,
Herodes construiu um grande palácio na parte ocidental da cidade e
um teatro. Mais tarde, o procurador romano Pôncio Pilatos ordenou a
construção de um aqueduto.
Em 70 d.C. Tito, filho do imperador romano Vespasiano, toma e
destrói Jerusalém como forma de esmagar uma revolta iniciada em
66 d.C. O Templo foi destruído por um incêndio e dele só ficou a mu-

95
ralha ocidental em seu redor, que ficou conhecida como “Muro das
Lamentações”.
Em 129 d.C., o imperador Adriano decide pela sua reconstrução,
segundo um plano completamente novo. Renomeou a cidade de Ae-
lia Capitolina, mas a reconstrução teve que aguardar, pois em 132 d.C.
iniciou-se a revolta judaica que duraria até 135 d.C. Com o esmaga-
mento dessa revolta, o imperador proíbe os judeus de habitarem a
cidade.
Em 324 d.C. o imperador Constantino decide que a cidade deve re-
gressar ao seu nome antigo de Jerusalém. Estimulado por sua mãe
Helena, o imperador cristianiza a cidade, dotando-a de várias igrejas,
como a do Santo Sepulcro. A imperatriz bizantina Eudócia autoriza o
regresso dos judeus a Jerusalém (438 d.C.) e manda construir, a nor-
te da cidade, a Igreja de Santo Estêvão. Durante o período bizantino
viria ainda a ser erigida a Igreja Néa, que o imperador Justiniano I de-
dicou à Virgem Maria (543 d.C.).
Em 614, a invasão persa da cidade traduziu-se na destruição das
muitas igrejas existentes. Jerusalém retornaria às mãos dos bizanti-
nos em 628, com o imperador Heráclio, mas apenas por mais uma
década.
Em 638, o califa Omar conquista Jerusalém. Duas mesquitas são
construídas na área da esplanada do Templo: A Cúpula da Rocha (691)
e a Mesquita de Al-Aqsa (715), que ainda se encontram no local. A
população judaica e cristã da cidade era tolerada sob o domínio dos
Omíadas e dos Abássidas, mas a situação alterou-se com a chegada
dos Fatimidas ao poder, em 969. O califa el-Hakim (996-1020) perse-
gue cristãos e judeus e pretende destruir todas as igrejas e sinagogas.
Os Turcos Seljúcidas conquistaram a cidade em 1071 e destrui-
ram o Santo Sepulcro. A notícia das perseguições aos cristãos e da
destruição daquele espaço religioso gerou indignação na Europa, de
onde são lançadas as Cruzadas.

96
A 15 de Julho de 1099, Godofredo de Bulhão, chefe da Primeira
Cruzada, toma a cidade e faz dela a capital do Reino Latino de Jeru-
salém, que terá como primeiro monarca o seu irmão Balduíno I. Jeru-
salém volta a ser uma cidade de maioria cristã, onde se fala a língua
francesa. São construídas novas igrejas.
Em 1187, o chefe muçulmano Saladino toma a cidade aos cristãos.
Em meados do século XIII, Jerusalém passou para as mãos dos Ma-
melucos do Egito e a cidade foi perdendo o dinamismo que conhecera
no passado, deixando de desempenhar um papel político, uma vez
que os Mamelucos governavam a partir do Cairo. Em 1492 com a ex-
pulsão dos judeus da Espanha muitos retornam à cidade.
Em 1517, a Palestina e a cidade de Jerusalém caem sob o domínio
otomano que duraria até 1917. Sob o domínio do sultão Solimão, O
Magnífico, Jerusalém conhece a paz e a tolerância religiosa, tendo o
sultão ordenado a reconstrução das muralhas. Durante esse período
a cidade permaneceu aberta às três religiões monoteístas.
Em meados do século XIX o aumento demográfico implicou o cres-
cimento da cidade para fora das suas antigas muralhas.
Em 1917, na Primeira Guerra Mundial, os ingleses tomaram a cida-
de dos Otomanos. Os britânicos tornaram-se administradores da Pa-
lestina (termo que na altura se referia a uma área que é hoje ocupada
por Israel, Faixa de Gaza, Cisjordânia e reino da Jordânia), de acordo
com o mandato atribuído pela Liga das Nações e que terminou em
1948. A cidade de Jerusalém foi durante esse período a capital desse
território.
Os conflitos entre os árabes e sionistas eclode na década de 20.
Após o fim da Segunda Guerra Mundial, alguns militantes sionistas
iniciaram uma série de ataques contra os britânicos, entre os quais o
ataque no hotel King David em 1946, que na época servia temporaria-
mente como sede do poder britânico.

97
Em 1947, as Nações Unidas estabeleceram um plano que visava
dividir a Palestina em dois estados: um judeu e outro árabe. O plano
previa que Jerusalém fosse uma cidade administrada pela comunida-
de internacional, sendo governada por um administrador, designado
pela ONU, porém somente o Estado de Israel foi criado.
Durante a primeira guerra entre o novo estado de Israel e os ára-
bes, Jerusalém foi um dos palcos do conflito. As forças da Jordânia
entram em Jerusalém e tomam a zona oriental (onde se situam os
locais sagrados), enquanto as forças de Israel tomaram a zona oci-
dental (administração britânica e o centro econômico e as novas zo-
nas residenciais). O armistício assinado entre Israel e a Jordânia, a 3
de abril de 1949, reconhecia a soberania de cada parte sobre as zonas
conquistadas durante o conflito. Em 1950, Israel fez de Jerusalém a
sua capital.
Durante a Guerra dos Seis Dias, em junho de 1967, as forças israe-
litas tomam a zona oriental aos jordanos e é decretada a reunificação
da cidade. Em 1980, uma lei declara que Jerusalém é a “capital eterna
de Israel”, mas o Conselho de Segurança das Nações Unidas não reco-
nhece essa lei (resolução 478).
Entre 1987 e 1993, a tensão entre a comunidade judaica e a comu-
nidade muçulmana cresceu, e no ano de 1990 estalaram novos con-
frontos, particularmente violentos, entre o exército israelita e as for-
ças palestinas, que lutam por um estado palestino.

98
Figura 37: Cidades da Palestina

Fonte: https://br.pinterest.com/pin/582371795548042015/

Figura 38: Cidades visitadas por Jesus

Fonte: https://www.jw.org/pt/biblioteca/biblia/biblia-de-estudo/apendice-a/
jesus-mar-da-galileia/

99
Haveria ainda muitas outras cidades e localidades a serem apre-
sentadas, mas este trabalho por ter um caráter panorâmico não po-
deria compreender todas elas. Cabe citar cidades importantes como
Alexandria, na costa Mediterrânea do Egito, fruto da helenização do
mundo iniciada com as conquistas de Alexandre O Grande. Cidades
de Decápolis, também helenizadas, que foram importantes no minis-
tério de Jesus, na difusão do cristianismo, além de outras que fica-
vam próximas da Palestina.
Antes de viajarmos junto com apóstolo Paulo nas suas viagens
missionárias, vamos versar sobre a orografia bíblica.

4.3 PLANALTOS, MONTANHAS E VALES DA TERRA SANTA


A terra de Canaã é montanhosa por excelência. Na figura abaixo,
que é um desenho em 3D, podemos ter uma noção de como as mon-
tanhas são imponentes e de como os vales são importantes para a
agricultura, para a logística de comércio e simples deslocamento das
pessoas. Além disso, nos relatos bíblicos, há inúmeras passagens com
a revelação de Deus sendo manifestada nesses lugares. Jesus Cristo
atua muito nesses lugares durante seu ministério.
De norte a sul, a Palestina daquela época media 225 km e do Me-
diterrâneo até a entrada do deserto, 130 km. Nesta pequena faixa de
terra há inúmeros montes, vales e planícies. Do monte Hermom com
seus quase 3.000m acima do nível do mar, ao vale do Mar Morto com
400m abaixo, com rios e vales, montes e desertos, lagos e pântanos,
jardins floridos e aridez gigante, olivais imensos e areias quentes, frio
e calor, a Palestina forma um conjunto espetacular da natureza.

100
Figura 39: desenho 3D do vale do Jordão

4.3.1 MONTES
A importância dos montes na Bíblia é muito grande: as Tábuas da
Lei foram dadas a Moisés num monte; Arão morreu num monte; o
mesmo aconteceu com Moisés; João Batista nasceu nas montanhas;
Jesus nasceu na região montanhosa da Judeia; num monte, proferiu
o seu maior sermão; transfigurou-se no monte; e foi crucificado, se-
pultado e ressurreto num monte; além disso, ascendeu aos céus de
um monte.
Aqui, nesse resumo, focaremos nossa atenção nos montes pales-
tinos e nos montes transjordânicos, localizados, principalmente, nas
cordilheiras central e oriental, mas é preciso comentar sobre alguns

101
que estão próximos como os montes Líbanos – cordilheira que corre
de noroeste a nordeste, paralelamente ao mar Mediterrâneo, com ex-
tensão de 170km – de onde foi retirado a madeira – cedro do Líbano
– utilizada pelo rei Salomão na construção do Templo em Jerusalém.
E ainda há a cordilheira do Antilíbano, que em sua extremidade sul
termina no monte Hermom.
A Figura 40 é um desenho que ajuda na identificação panorâmi-
ca de algumas montanhas e cordilheira conforme acima citado, mas
contempla todos os montes:
Figura 40: Montanhas da Palestina

Fonte: http://mapasbiblicos.blogspot.com/2012/07/montes-da-biblia.html

102
Monte Hermom – Em Dt 4:8 é chamado de Siom, os sidônios cha-
mam de Siriom e os amorreus de Senir. Em 1Cr 5:23 faz distinção entre
Baal-Hermom e Senir. Hoje, os árabes o chamam-no de Gebel El-Seih.

É o pico mais elevado do Antilíbano, um maciço montanhoso com


três picos cujo mais alto tem 2.759m. De lá, era possível ver da Gali-
leia à Samaria e de Tiberíades ao Mar Morto. Do sul, saem filetes de
água que formam o rio Jordão. Tognini (2009, p.122) afirma: “O monte
era de grande fertilidade, oliveiras, maçãs, peras, uvas, trigo, além de
verduras e legumes colhem-se com abundância nas lombadas mais
baixas do Hermom”.

Os montes Palestinos propriamente ditos estão contidos em pla-


naltos, que são visíveis na figura 39, denominados Planalto Central
(Cordilheira Central) e Planalto Oriental (Cordilheira oriental).

O Planalto Central, subdivide-se em três seções: Planalto de Nafta-


li, que é a região da Galileia do norte; Planalto de Efraim, que está na
região central de Samaria; e Planalto de Judá, ao sul, entre Hebrom
e Betel.

O Planalto Oriental fica no oriente do rio Jordão, subdividido em:


Planalto de Basã ou Auram, desde o sul do monte Hermom até o vale
por onde corre o rio Yarmuque, sendo a região mais fértil – com pas-
tagem para gado e plantio de trigo -; Planalto de Gelieade, entre o vale
Yarmaquque e Hesbom, cortado pelo rio Jaboque, também muito
fértil; Planalto de Moabe a leste da última parte do rio Jordão, antes
de desembocar no Mar Morto, sendo uma região rochosa entremeada
por pastagens.

Os montes de Naftali, que muitas vezes são citados nos antigos


textos bíblicos como “monte de Naftali”, é um conjunto montanhoso
do norte ocidental da Palestina, abrangendo a alta e baixa Galileia.
Onde se destacam quatro montes:

103
Monte Hatin – fazendo parte de um conjunto de montes chama-
dos Cornos de Hatin citado em Mt 5:1, que é referido como um mon-
te a oeste de Tiberíades. Há divergência quanto sua altura – Money
(2003) informa 365m, Ronis (1999), cerca de 180 m, assim como Togni-
ni (2009) -. É conhecido também como Monte das Bem-aventuranças,
onde Jesus teria pronunciado o Sermão do Monte – isso só indicado a
partir do séc. XII d.C., pelos Cruzados –.

Monte Tabor – Situado na Baixa Galileia, um monte isolado, ao


nordeste da planície de Jesreel ou Esdralon, distante 10 km de Nazaré
e 16km do mar da Galileia. Com altura entre 550 e 615m acima do mar,
mas elevava-se a cerca de 320m sobre o vale, com seus lados rocho-
sos, exceto a encosta meridional, que era calcária. No passado, nos
lados rochosos, havia muita vegetação verde irrigada pelo abundante
orvalho que caía todas as noites. Cresciam arbustos e havia bosques
com grossos carvalhos e louros. No seu topo, havia uma gigantesca
plataforma, que proporcionava vista para a Alta Galileia, o mar da Ga-
lileia, o monte Hermom e o monte Gilboa.

A tradição religiosa tem sustentado que foi nesse monte que acon-
teceu a Transfiguração, mas atualmente há posições contrárias, que
indicam o monte Hermom como o possível lugar dessa narrativa,
pautadas na questão da baixa altura do monte Tabor em relação ao
solo do vale e também porque, segundo historiadores, havia, no tem-
po de Jesus, uma fortaleza construída no monte.

Monte Gilboa – De constituição rochosa, com boa camada de ter-


ra em sua superfície, contudo, era desprovido de vegetação, mas cul-
tivava-se oliveiras, figueiras e alguns cereais, que não necessitam de
muita água. Ergue-se sobre a planície de Esdraelom, com forma alon-
gada, entre 500 e 575m de altura; constitui-se o ramal nordeste do
Efraim, cadeia que se dirige ao oeste/noroeste e leste/sudeste, com
comprimento e largura variando de 12 a 13 km e 8 e 9 km, respectiva-

104
mente. Tem esse nome porque Davi assim o chamou, e foi próximo a
ele que o rei Saul e seus filhos morreram (2Sm 1:21).

Monte Carmelo – Trata-se na verdade, de uma cadeia de monta-


nhas, com cerca de 30 km de cumprimento por 5 a 13 km de largura,
que corre de nordeste para sudeste. No seu ponto mais alto – 575m
– vislumbra-se o mar Mediterrâneo, toda a Galileia, o vale de Jezreel
e do Asrom. O avanço dessa cordilheira pelo Mediterrâneo forma, ao
norte, a Baía do Acre, onde se localiza a cidade de Haifa. Essa forma-
ção serrana forma uma barreira entre as planícies Esdralom ao norte
e Sarom ao sul, apresentando em seus flancos inúmeras cavernas das
quais, algumas, foram habitadas, sendo uma delas a chamada Gruta
do Elias, que hoje é um Santuário muçulmano. (RONIS, 1999, p. 49)

Nele, ocorreram muitos acontecimentos narrados na Bíblia: desa-


fio do profeta Elias aos profetas de Baal, encontro de Eliseu com a
Sulamita (2Rs 4:25)
Os montes de Efraim, na verdade, são uma região montanhosa e
foram, principalmente, a área que coube a tribo de Efraim, meia tri-
bo de Manassés e um pouco de Benjamim. Como já foi citado, em al-
gumas traduções antigas, essa cordilheira é chamada no singular de
monte de Naftali, bem como monte de Israel e Monte (ou montes) de
Samaria (2Rs 20:7; Jr 31:5,6).
Os mais importantes desses montes são o Ebal e o Gerizim, tam-
bém conhecidos como o Monte da Maldição e o Monte da Bênção,
porque Josué, seguindo determinação de Moisés (Dt 11:29;27:1-13),
reuniu seis tribos num monte e seis no outro, ficando a Arca, os sacer-
dotes, os levitas, e os anciãos no vale para que num dos montes (Geri-
zim) fossem lidas as bênçãos para os que aguardavam a lei do Senhor,
reunindo as seis tribos no Ebal com um amém; e desse monte fossem
pronunciadas maldições que viriam sobre os infiéis, respondendo,
por sua vez, as tribos em Gerizim, com um amém (Js 8:30-34). Entre
os dois montes há uma planície perfeita, um vale - em sua entrada,

105
estava a antiga cidade de Siquém -, que comportaria muitas pessoas,
por isto é chamado, por alguns, de anfiteatro construído por Deus.
Monte Ebal - Tem altura de cerca de 936m acima do nível do mar
e de 300 a 366m acima do solo do vale, ficando ao norte do vale, de
constituição calcária era quase desnudo, sem vegetação. Do lado
norte do Ebal era possível ver a Palestina, portanto, ocupa uma posi-
ção muito estratégica.
Monte Gerizim – Um pouco menor que o Ebal, com cerca de 230m
acima do vale. Nele foi construído um templo rival ao de Jerusalém,
que embora tenha sido destruído em 129 a.C., nos dias de Jesus, ain-
da era lugar de culto dos samaritanos (Jo 4).
O monte de Judá era um conjunto montanhoso, que se estende ao
sul dos montes de Efraim, que é denominado na Bíblia, de forma sin-
gular como: “Monte de Judá” ou “Montanhas da Judeia”. Trata-se de
mais uma série de elevações, separada por vales famosos por onde
correm riachos com seus desagues no mar Mediterrâneo ou no Mar
Morto. Essas montanhas se elevam em Jerusalém, onde há as princi-
pais elevações – Aglomerado de Jerusalém -, tornam a baixar, se ele-
vando novamente em Hebrom, e seguem baixando em direção ao sul
até se nivelar aos desertos de Zim e Edom.
Monte de Sião – Majestoso e sobranceiro, o mais alto dos montes,
ergue-se a leste da cidade de Jerusalém, com cerca de 800m de altitu-
de. Em Sl 48:2 ou em Jl 3:17 esse monte é o “Santo Monte’, pois foi ali
que Davi levou a Arca da Aliança, quando foi recuperada dos filisteus.
Mesmo quando a Arca foi transferida para o monte Moriá, onde Salo-
mão construiu o Templo, o monte Sião continuou sendo usado como
símbolo de santidade, referindo-se ao Templo, inclusive sendo usado
para referir-se a toda Jerusalém. É citado mais vezes na Bíblia do que
o próprio monte Moriá.
Monte Moriá – Situado a leste de Sião, separado pelo vale de Ti-
ropeon. Se prolonga na direção norte/sul, onde diminui de altura –

106
não há consenso dos autores sobre sua altitude – variando de 798 a
900m. Na Bíblia é chamado de “terra de Moriá”, região que havia mui-
tos montes (Gn 22). A tradição aceita que foi nessa terra que Abraão
levantou um altar e preparou-se para sacrificar Isaque, seu único filho
(Gn 22:9,10). Aproximadamente 1 milênio depois, Salomão constrói o
Tempo de Jerusalém nesse monte. Atualmente, nesse local, foi cons-
truída pelos árabes na área do Templo de Jerusalém a mesquita de
Omar.
Monte das Oliveiras – Esse monte faz parte de uma pequena cor-
dilheira, com cerca de 3km de cumprimento de norte/sul, no lado
oriental do vale do Cedron, que o separa do monte Moriá. São 4 ele-
vações, cuja mais baixa, em frente ao Moriá, tem cerca de 820m aci-
ma do mar e cerca de 120m acima do vale e cerca de 60m acima do
platô onde foi construído o templo. Na sua base ocidental ficava o
Jardim de Getsêmani e nas suas laterais havia inúmeras Oliveiras.
Foi nesse monte que Jesus Cristo subiu inúmeras vezes. Havia vários
caminhos ao redor do monte e alguns passavam pelo seu cume, que
Ronis (1999) escreve: “tinha forma levemente arredondada levando
os viajores para Betfagé, Betânia, Jericó e outras partes do Oriente”.
Foi nesse monte que Jesus proferiu palavras proféticas quanto à des-
truição de Jerusalém (Lc 19:28-44).
Monte da Tentação – Embora não seja identificado nas Escrituras,
a tradição assinala como o local onde Jesus foi tentado logo após seu
batismo. Há um monte atualmente chamado pelos árabes de Gebel
Qarantal (“Quarentena” ou “Tentação”), que tem sido aceito como o
possível lugar onde Jesus foi levado para ser tentado. Essa tradição
se iniciou após as Cruzadas. É um monte que se ergue cerca de 320m
do solo, mas está somente a 98m do nível do mar, pois sua localização
está na depressão do vale do Jordão. Pode-se fazer uma inferência
com Lc 4:5, o que justifica a hipótese da tradição.
Os montes transjordânicos, das cordilheiras orientais (Galaad ou
Gileade), podem ser agrupados em 3 regiões distintas – Basã, Galaa-

107
da (Gileada), Moabe -, que se dividem nas terras para o oriente do rio
Jordão.
Monte Basã – Trata-se de um grande e fértil conjunto montanhoso
na parte norte do Planalto Oriental – onde havia em abundância ce-
dros e carvalhos -, limitando-se ao norte pelo monte Hermom, a leste
pelo deserto da Síria e parte do deserto da Arábia, ao sul pelo vale
de Yarmuque e a oeste pelo rio Jordão e Mar da Galileia. O Sl 68:15, Is
2:13, dentre outros textos, fazem referências ao monte.
Monte de Galaada ou Gileade – Outro conjunto montanhoso, ao
sul de Yarmuque, indo até a parte norte do Mar Morto, sendo dividido
pelo rio Jaboque. No sul, há uma montanha mais elevada, chamada
pelos árabes de Jeber Jiliade, que talvez – não há confirmação - seja
o monte que deu nome a toda região. Nos escritos bíblicos, usa-se a
designação Monte de Gileade, de forma singular, referindo-se a toda
região, que é um conjunto de elevação da parte central do Planalto
Oriental. Na partilha da Terra Prometida, coube à tribo de Gade, após
sua conquista – que foi a primeira dos Israelitas (Nm 21:24; Dt 2:36) -.
No Novo Testamento essa região era conhecida com Pereia.
Montes Moabe – Na Bíblia encontramos a denominação “campo
de Moabe” e “pais de Moabe” com relação a essa região, que foi ocu-
pada pelos moabitas ao sul da Transjordânia e ao oriente do Mar Mor-
to. Região muito montanhosa, destacando-se o conjunto mais pró-
ximo do Mar Morto, chamado “montes de Abarim” (“do outro lado”),
que possuem as seguintes elevações16:
yy c.1) Seir – Fica ao sul do Mar Morto e chega ao Golfo de Ácaba e o
vale de Arabá. Esse sistema montanhoso está a 1.400m acima do
Mar Morto e 1000m acima do Mar Mediterrâneo. Dele, saem file-
tes de água que formam riachos que fertilizam a terra, e grandes

16
  Na figura 40 aparecem, no desenho, cinco montes e aqui constam três. Mas, entenden-
do que há divergências dos autores resolvi considerar três, considerando que: o monte
Nebo e Pisga estão na mesma elevação e o monte Abarim parece ser apenas uma referên-
cia a cadeia de montanhas de Moabe.

108
números de wadis permitem ao homem que por eles chegasse ao
cume para atravessar e descer ao vale. Em Gn 27:39, vemos que
o orvalho do Seir é abundante. Inicialmente os horeus habitavam
esta região (Gn 14:6), mas foram desalojados pelos descendentes
de Esaú, que vieram a se tornar uma nação rica. (Gn 36:8);
yy c.2) Nebo ou Pisga – Cerca de 15 km distante a leste da foz do rio
Jordão e por trás da Planície de Moabe, com cerca de 800m de
altitude. De onde Moisés contemplou a Terra Prometida e onde
morreu (Dt 34.1-6). Alguns autores consideram que o Pisga se trata
do pico do Monte Nebo. Tognini (2009, p.150) menciona que: “o
Nebo seria a parte mais alta do Abarim; outros o identificam com
o Rás El-Siyagah, promontório ao Norte do Nebo, na direção oeste
a 100m abaixo do Pisga” e alega que desse lugar se tem a visão
ampla da Terra da Promissão.
yy c.3) Peor – Esse monte fica pouco a nordeste do monte Nebo. De
seu cume, Balaão avistou o acampamento de Israel na planície e
o abençoou pela terceira vez, quando seu objetivo era amaldiçoar,
visando agradar o rei de Moabe, Balaque (Nm 23:28, 24:2).

4.3.2 VALES DA PALESTINA


Muitos são os vales citados no texto bíblico sobre a Palestina.
Vamos identificar o Vale do Jordão e citar o nome de outros vales.
yy Vale do Jordão – O maior da Palestina. A esta altura de seus estu-
dos, você já consegue determinar sua localização e importância.
Ele começa ao norte no sopé do monte Hermom, onde é mais es-
treito – cerca de 100m-. De norte a sul, vem se alargando e na altu-
ra do Mar da Galileia passa a ter cerca de 3 km. Na altura de Jericó
chega aos 15km de largura, em sua continuidade vai se estreitando
até chegar ao Mar Morto. Chega a ter cerca de menos 426m abaixo
do nível do Mar Morto, com cerca de 215km de cumprimento em
linha reta do Hermom ao Mar Morto.

109
yy Vale de Jesreel – que chega no vale do Jordão na altura de Bet-Seã.
yy Vale de Acor – Entre as terras de Judá e Benjamim – ao sul de Jeri-
có -.Vale de Escol – Fica a oeste de Hebrom, citado em Nm 13:22-27.
yy Vale de Hebrom ou Manre – Fica 30 km a sudoeste de Jerusalém
onde Abraão morou.
yy Vale de Sidim – Provavelmente onde Sodoma e Gomorra existiam
e hoje é o Mar Morto.
yy Vale de Basã – Provavelmente trata-se do vale por onde corta o rio
Yarmuque, no noroeste da Palestina.
yy Vale de Moabe – O vale mais largo dos três wadis17 que desembo-
cam na planície de Moabe a nordeste do Mar Morto.

4.3.3 RIOS SECUNDÁRIOS DA PALESTINA


O rio Jordão foi cantado e decantado em nosso texto. Mas, a hidro-
grafia da Palestina é muito grande, podemos afirmar isso por conta
dos inúmeros rios citados na Bíblia. Como nosso texto tem foco pano-
râmico, versamos com mais foco sobre os Mares e principalmente so-
bre o rio Jordão. Então, neste tópico, vamos identificar e citar apenas
alguns rios, principalmente ligados à Palestina.
Os rios Palestinos são distribuídos em duas bacias hidrográficas:
Bacia do Mediterrâneo e Bacia do Jordão.

a) BACIA DO MEDITERRÂNEO
yy Belus – Podendo ser o Sior Libnate de Js 19:26. Nasce a sudoeste
de Asser e desemboca no Mediterrâneo.
yy Quison (ou Kishom) – Maior rio desta bacia e 2º maior da Palestina.
Nasce das correntes dos Montes da Galileia – Tabor e Gilboa – e
desagua na bacia do Acre – Mediterrâneo.

  Wadi ou Uadi é um rio temporário, que corre somente em época de chuvas


17

110
yy Caná – É um wadi que nasce, nos meses de chuva, perto de Si-
quém, atravessa a planície de Sarom e na altura de Jope, desagua
no Mediterrâneo.
yy Gaás – Outro wadi que atravessa a região de Sarom na direção les-
te/oeste e desagua no Mediterrâneo perto de Jope.
yy Sorec – Das montanhas de Judá, a sudoeste de Jerusalém, este
wadi segue da direção noroeste desaguando entre Jope e Acalom,
ao norte da Filistia. Em seus flancos havia vinhedos de uvas muito
apreciadas. Nas proximidades desse rio ficava a cidade de Timná,
cidade de Dalila que foi esposa de Sansão.
yy Besor – Mais volumoso dos wadis, vindo do sul das montanhas de
Judá, passando ao sul da cidade de Berseba e desagua nas proxi-
midades da cidade de Gaza. Citado em 1Sm 30:1-25.

b) Bacia do Jordão
yy Querite – Torrente das águas de chuvas, que desce dos montes de
Efraim, portanto um wadi, desemboca no rio Jordão pela margem
ocidental, ao norte de Jericó. Em seguida percorre uma região
agreste, que era povoada por corvos e águias. E 1Rs 17:1-7 há a
narrativa sobre o profeta Elias escondido numa gruta nas margens
deste ribeiro.
yy Cedrom – Não é um rio perene – um wadi -, mas em época de
chuvas torna-se uma torrente impetuosa. Nasce a 2km a noroes-
te de Jerusalém, indo na direção sudeste passando ao lado leste
de Jerusalém pelo vale de Josafá – que separa a cidade do Monte
das Oliveiras -, prosseguindo rumo sudoeste desaguando no Mar
Morto – distância de cerca de 40km -. A travessia de Jesus nar-
rada em Jo 18:1 e a fuga de Davi em 2Sm 15:23-30 são fatos que
aconteceram nesse rio.
yy Yarmuque (Iarmuque) – É o maior afluente do rio Jordão. Não é

111
mencionado na Bíblia, mas é formado por três braços, sendo um
setentrional do monte Hermom e dois orientais, que se juntam a
35km do Jordão e percorre entre os montes, desaguando 6km ao
sul do Mar da Galileia no rio Jordão.
yy Jaboque – Outro rio que vem do oriente, nascido no Monte Gilea-
de, correndo para o leste, depois para o norte e noroeste, descre-
vendo uma verdadeira elipse, até despejar no rio Jordão, quase
equidistante dos mares da Galileia e Morto. É muito citado na nar-
rativa bíblica.
yy Arnom – Proveniente das montanhas de Moabe, a leste do Mar
Morto, onde desagua suas águas. Na narrativa bíblica, separou
amorreus de moabitas, depois moabitas do território da tribo de
Rúben e por fim, ficou como limite dos territórios israelitas e da
Transjordânia, afirma Ronis (1999, p.59)18. Há ainda outros rios e
ribeiros, que são wadis e não foram mencionados.
Embora a Palestina tenha pequena extensão, apresenta um clima
muito variado. Isto se deve a alguns fatores:
yy Posição geográfica – situada entre 30º e 33º, latitude norte, seu
clima é tropical ou temperado brando, que conjugado com outros
fatores abaixo descritos propiciam a variedade de clima.
yy Topografia acidentada – Altos montes, vales profundos, especial-
mente o vale do Jordão, causam profundas modificações no clima
com suas correntes aéreas frias e quentes.
yy Proximidade do Mar Mediterrâneo – Recebe nuvens que vem do
oeste e os altos montes, como o Hermom, condensam a ponto de
precipitá-las em forma de chuvas.

  RONIS, op cit, p.59 – Informa que no ano de 1868 o missionário Alemão F.A. Klein
18

achou a célebre pedra Moabita nas ruinas da cidade de Dibon, distante 5Km ao norte de
Arnom. Nela há uma inscrição feita pelo moabita Mesa em 850 a.C. na língua hebraica,
que confirma a passagem de 2Rs 3:1-27

112
yy Proximidade dos Desertos – Ao sul e ao leste os desertos, com
suas altas temperaturas, contribuem para modificar o clima, pois
os ventos empurram o calor, principalmente pelo vale do Jordão
em direção às montanhas geladas do norte.
Figura 41: Principais rios da Palestina

Fonte: https://br.pinterest.com/pin/806003664532141175/

4.3.4 OS VENTOS DA PALESTINA


Segundo Ronis (1999, p.61), os ventos são os operários que trans-
portam frio ou calor, dependendo de onde surgem. Se do norte, le-
vam correntes de ar frio das montanhas geladas; se do leste, trazem
correntes úmidas do Mar Mediterrâneo; dos desertos, como exemplo
o da Arábia, ao leste, trazem correntes secas e quentes, que inclusive
são capazes de queimar plantações. Por isso, geadas são frequentes,
assim como neve no inverno.
A variação de temperatura no vale do Jordão vai de 25ºC a 45ºC -
à sombra -. Essa variação de clima produz grande diversificação de

113
culturas agrícolas e consequente riqueza – por isso foi chamada de
“Terra que mana leite e mel” (Êx 13:5).
Uma citação importante é a do Sl 113:3 “o orvalho de Hermom”,
pois representa uma particularidade do clima da Palestina. Em vir-
tude da constância desse fenômeno natural - que é a elevação de
vapores quentes que sobem durante o dia e são condensados pelas
correntes frias das montanhas e então precintam-se em forma de or-
valho cerrado - ajuda muito a umedecer a vegetação do solo, impe-
dindo que sequem e proporcionando bons resultados de colheita.

4.3.5 DESERTOS PALESTINOS


De forma muito resumida, os desertos citados na Bíblia que têm
mais a ver com a Palestina são localizados a sul e oeste do Mar Morto.
Citados como: Deserto de Judá (Jz 1:16) ou deserto da Judeia (Mt 3:1).
A forma singular de denominação, como vimos no caso dos mon-
tes, normalmente faz referência a um conjunto das áreas desérticas.
yy Sur, Sin,Sinai, Parã, Cades, Zim e Berseba formam um mesmo de-
serto e seus nomes são utilizados apenas para descrever e locali-
zar regiões.
yy Maom, Zife, Engedi, Tecoa, Jeruel, Jericó, Bete-Ávem e Gaboam
formam do deserto de Judá.
E outros nomes são citados, como os da Idumeia (2Rs 3:8); de Mo-
abe (Dt 2:8); da Arábia (Jr 25:23,24); Queademote (Dt 2:26); Diblate (Ez
6:14); Bezer (Dt 4:43, Js 20:8).

4.4 A PALESTINA DA ÉPOCA APOSTÓLICA


Teologicamente, Gl 4:4, “Vindo, porém, a plenitude do tempo,
Deus enviou seu filho”, tem o significado de que o cenário foi prepa-
rado para a vinda de Jesus Cristo, o messias, e seu Evangelho poderia
ser difundido a todo o mundo.

114
4.4.1 ASPECTOS GEOGRÁFICOS RELACIONADOS À VIDA DE JESUS
yy Um mundo que, de certa forma, já conhecia a Deus e o esperava
na Palestina. Desde Noé, quando seus filhos se espalharam pelo
mundo, falando do Deus que os preservou, e depois a história do
povo de Deus que permeou todo o território existente, até chegar
ao evento de Jesus.
yy Um mundo com uma melhor comunicação entre os povos, pois a
língua grega se fez universal – como um segundo idioma -, e houve
a possibilidade de propagar o Evangelho.
yy Era um mundo que havia perdido sua fé em suas divindades e pas-
sou a ter esperança e expectativa da chegada de um Salvador que
satisfizesse seus anseios.
yy Um mundo com relativa paz para que houvesse deslocamentos em
estradas construídas e vigiadas pelos soldados do império romano.
yy Um mundo onde havia diversos lugares específicos para que as
pessoas se dirigissem em busca de espiritualidade – as Sinagogas
-. Que foram bem aproveitadas pelos pregadores cristãos, a come-
çar pelo próprio Jesus.

4.4.2 NASCIMENTO E JUVENTUDE DE JESUS


No item 4.2 (Cidades da Palestina no tempo de Jesus, à página 78,
desse capítulo), há um resumo das características geográficas das ci-
dades de Belém, Jerusalém, Nazaré, Caná, Betábora, Cafarnaum.
Anteriormente, no item 2.7.1, (à página 50) há um tópico exclusivo e
extenso sobre o Egito, que são os lugares desse período da vida de Jesus.

4.4.3 MINISTÉRIO DE JESUS NA JUDEIA


Jesus esteve no Templo na ocasião da purificação e entrevista com
Nicodemos, quando no início de seu ministério esteve em Jerusalém,

115
contudo única informação posterior é de que Ele fazia discípulos e ba-
tizava mais discípulos que João. Ele havia sido tratado com frieza e
descaso em Jerusalém. A sequência nos leva à Galileia.
Em sua viagem para o norte da região esteve em Sicar e Caná. De-
pois do primeiro ano de seu ministério, visitava os povoados que fica-
vam ao redor do Mar da Galileia.
Mudou, no entanto, de estratégia e passou a instruir mais particu-
larmente os seus discípulos, retirando-se para as regiões limítrofes
da Palestina, como: Cesareia de Filipe, Monte Hermom e redondezas.
Em suas viagens missionárias esteve em Jerusalém, Nazaré, Ca-
farnaum, Naim, Gerasa, Betsaida, Genesaré, Fenícia, Decápolis, Dal-
manuta, Cesareia de Filipe. Fez 3 viagens quando estava na Pereia: a
primeira a Cafarnaum, Samaria, Pereia, Betânia e Jerusalém; a segun-
da, Betábora (ou Bete-Bara), Betânia e retirando-se para Efraim; e a
terceira Pereia, Jericó e Betânia.
Lugares que Jesus transitou na semana da Paixão: De Betânia ao
Templo; De Betânia ao cenáculo – onde, segundo a tradição, celebrou
a Ceia -; Do cenáculo ao Getsêmani – ao pé do Monte das Oliveiras
-; Do Getsêmani à casa de Caifás – antes à casa de Anás – onde foi
julgado e condenado; De Caifás a Pilatos; De Pilatos a Herodes, que o
condenou e devolveu a Pilatos; De Pilatos ao Calvário – Crucificado no
Gólgota – nome hebreu de Calvário, um lugar largo e espaçoso numa
elevação situada fora dos muros da cidade, ao lado de um caminho
muito frequentado (Lc 23:13-33).
Lugares relacionados com sua ressurreição de Jesus Cristo. Os
Evangelistas não se detiveram a detalhar esses lugares, que ao todo
são dez: Em Jerusalém, ao todo, são 4 aparições (Jo 20:1-8, 20:19-14,
Mt 28:1-10, Lc 24:34); Perto de Emaús (Lc 24:33); Perto do Mar da Gali-
leia (Jo 21:1-23); Num Monte da Galileia (1Co 15:6);
Perto de Betânia, onde deu os seus últimos mandamentos aos dis-
cípulos, ascendendo aos céus (Mt 28:16-20).

116
4.5 GEOGRAFIA DAS VIAGENS PAULINAS
Foi através dessas viagens que aconteceu a expansão do Evange-
lho no primeiro século. Faremos um panorama das áreas geográficas
alcançadas pelas viagens paulinas.
As áreas geográficas alcançadas pelo Evangelho para o Ocidente
são: Ásia Menor e partes da Europa – Acaia, Macedônia, península itá-
lica e a ilha da Sicília. Além das grandes viagens do apóstolo Paulo,
aconteceram pequenas viagens missionárias de Filipe, do apóstolo
Pedro e de Barnabé de Jerusalém a Antioquia da Síria e a Tarso.

4.5.1 PANORAMA GEOGRÁFICO (LIMA, 2002, p.51)


Ásia Menor – Principal região das viagens missionárias de Paulo.
Com cerca de 500.000km², essa enorme região que avança pela pe-
nínsula, da Ásia para o Ocidente, tendo ao sul o Mar Mediterrâneo,
ao Norte o Mar Negro, a oeste o Mar Egeu, que a separa da Europa e a
leste a Síria, Mesopotâmia e a Armênia.
Era constituída pelas províncias da Capadócia, Ponto, Cilícia, Ga-
lácia, Lacaônica (ou Licônia), Panfília, Bitínia, Frígia, Lícia, Mísia, Lídia
e Cária.
Europa – Quando Paulo estava em sua segunda viagem missioná-
ria, em Trôade, teve uma visão em que Deus o encaminhava à Europa.
Quando atravessou o Mar Egeu em direção a Macedônia, chegando
em Filipos e indo alcançar as cidades de Atenas e Coríntio. Quando
estava preso, Paulo foi levado para um encontro com o Imperador
Romano para ser julgado, em sua quarta viagem, passando pela ilha
de Malta e de lá chegando a Roma.

117
Figura 42: Ásia Menor e Europa séculos I, II e III

Fonte: https://br.pinterest.com/pin/294141419399725684/

4.5.2 AVANÇO PARA O OCIDENTE


O ponto de partida para o avanço do cristianismo para o ocidente
foi a igreja de Antioquia da Síria, depois de Jerusalém, tornando-se o
ponto avançado de onde partiam as missões. Foi nessa localização
que, pela primeira vez, os discípulos de Jesus foram chamados de
cristão (At 11:19-30). E dali, Paulo e Barnabé foram enviados em mis-
são à ilha de Chipre. Esse ato inaugurou a grande obra missionária do
primeiro século.

4.6 AS VIAGENS PAULINAS


Ao todo, foram 4 viagens. As três primeiras por deliberação pró-
pria, em comum acordo com a igreja de Antioquia da Síria. A quarta
viagem foi através das circunstâncias da perseguição que Paulo sofria
dos judeus e não vendo outra saída apelou para ser julgado pelo im-
perador. Como consequência, foi levado na condição de preso para a
capital do Império romano, para ser julgado. Enquanto lá permane-

118
ceu, evangelizou, fortaleceu a igreja de Roma e escreveu várias cartas.

4.6.1 PRIMEIRA VIAGEM DE PAULO


Figura 43: Primeira Viagem de Paulo

Fonte: https://obreirosdesafiados.blogspot.com/2017/04/a-primeira-viagem-
missionaria-de-saulo.html
Feita por Paulo e Barnabé e até certo ponto com o auxílio do jovem
João Marcos, sobrinho de Barnabé. Essa viagem teve a duração de
aproximadamente 3 anos e meio e está registrada em Atos dos Após-
tolos 13:4 a 14:27.
Partindo de Antioquia da Síria, foram para o porto de Selêucia -
distante 25km de Antioquia, no extremo norte do Mar Mediterrâneo -
e de lá navegaram para a ilha de Chipre, que ficava 85 km da costa. Na
ilha, os missionários estiveram em: Salamina – que tinha várias sina-
gogas onde eles pregaram -; Pafos – Capital da ilha e sede do governo
romano -, cidade consagrada à deusa Vênus, cujo culto era de liber-
tinagem. Onde Paulo, cheio do Espírito, fez ação milagrosa cegando
o feiticeiro Elimas e promovendo a conversão do procônsul romano.
(At 13:11,12).

119
De Pafos, navegaram para a Ásia Menor, aportando em Panfília,
de onde seguiram em navegação - cerca de 13km - pelo rio Cestro
para Perge, onde houve a desistência de João Marcos em seguir com
a viagem. De lá, visitaram Antioquia da Pisídia – conseguiu implan-
tar uma igreja, mas foi expulso de lá -, Icônio – também foi expulso -,
Listra – onde a população quis prestar culto a Paulo e Barnabé e ao
final apedrejaram Paulo (pensaram que ele havia morrido) - e Derbe,
de onde retornaram pelo mesmo caminho até o porto de Atália. Re-
tornando para o ponto de partida em Antioquia da Síria.

4.6.2 SEGUNDA VIAGEM DE PAULO


Figura 44: Segunda viagem de Paulo

Fonte: http://ebdnovavidavi.blogspot.com/2011/03/segunda-viagem-
missionaria-de-paulo.html
Nessa segunda viagem, por causa do desentendimento entre Pau-
lo e Barnabé, cujo pivô foi João Marcos, sobrinho de Barnabé, Paulo
resolveu levar consigo a Silas. Barnabé tomou outro rumo juntamen-
te com seu sobrinho.

120
Essa viagem de Paulo e Silas é narrada em Atos dos Apóstolos de
15:36 a 18:22 e foi realizada 3 anos depois da primeira. Aqui elabora-
mos um breve resumo:
Paulo e Silas seguiram para a província da Cilícia na Síria, cuja ca-
pital é Tarso – cidade de Paulo -, mas não há registro das cidades que
visitaram. De lá, foram para Derbi e Listra. Em Listra, Paulo encon-
trou Timóteo, que foi convidado para integrar a missão.
Tinham a intenção de continuar pregando naquela região da Ásia,
onde estavam visitando as igrejas formadas na 1ª viagem, mas foram
impedidos pela vontade de Deus através do Espírito Santo.
Ainda tentaram pregar em Bitínia, mas novamente foram impe-
didos e rumaram para Trôades (Troas), que ficava na costa do Mar
Egeu e era o ponto principal do noroeste da Ásia Menor – um porto
utilizado pelos viajantes que iam para Europa -. Nessa cidade, Paulo
teve a visão que dizia: “Passa à Macedônia e ajuda-nos”. Dessa forma,
o grupo embarcou e foi em direção à Macedônia, fazendo uma pa-
rada em Samotrácia – 32km da costa -, desembarcando no porto de
Neáopolis, cidade marítima do continente europeu que municiava a
importante cidade de Filipos, o próximo ponto de parada.
Em Filipos, deu-se o início da evangelização da Europa. Seguiram
para Tessalônica, grande centro comercial e militar, onde Paulo fun-
dou uma igreja composta por judeus e gentios. Ali foram perseguidos
e deixaram a cidade em direção à Bereia – distante 43 km de Tessalô-
nica -. Da Bereia foram para a capital do mundo grego: Atenas, onde
Paulo falou na praça e no areópago, diante dos filósofos, e anunciou o
“Deus desconhecido”, que foi honrado pelos atenienses.
Na sequência, chegaram em Corinto depois de viajar por 70km.
Famosa metrópole comercial e política, que tinha 2 portos, sendo um
deles Cencreia – que se tornou poderoso centro comercial -. Tinha
religião que venerava a deusa do amor, Afrodite, e ficou famosa por
suas imoralidades. Paulo permaneceu em Corinto por um ano e meio.

121
Esse foi o último ponto desta viagem, de onde voltaram, tendo che-
gado a Éfeso e daí seguido para Cesareia e, finalmente, chegaram a
Jerusalém.

4.6.3 TERCEIRA VIAGEM DE PAULO


De Jerusalém, retornaram à igreja-sede missionária em Antioquia
da Síria, para logo empreender a terceira viagem missionária, cuja
narrativa está em Atos dos Apóstolos de 18:23 a 21:8.
Figura 45: Terceira viagem de Paulo

Fonte: http://ebdnovavidavi.blogspot.com/2011/03/terceira-viagem-missionaria-
de-paulo.html
Saindo de Antioquia da Síria passaram novamente pelas províncias
da Cilícia, Galácia e Frígia, confirmando na fé todos os discípulos con-
vertidos anteriormente. Foram para Éfeso, onde ficaram por 2 anos
evangelizando. Essa cidade era a mais importante da província roma-
na da Ásia, situada na costa ocidental, onde hoje é a Turquia asiática.
Nessa cidade, Paulo promoveu um verdadeiro reboliço, pois a padro-
eira dela era a deusa Diana, e os convertidos ao Evangelho passaram
a queimar os livros de magia e destruir as imagens que eram vendidas
em comércio. Por conta disso, houve perseguição contra ele.

122
Partiram em direção a Trôade e depois para Corinto, onde nova-
mente foi perseguido, incluindo ciladas. Deu início ao retorno da via-
gem, passando em diversos locais, até chegar novamente a Cesareia,
na costa palestina, de onde seguiu para Jerusalém
Em Jerusalém, Paulo foi preso. Os judeus queriam linchá-lo, mas
foram impedidos pelas autoridades romanas. Paulo apelou a Roma,
pois ele, como cidadão romano, tinha esse direito de ser julgado ape-
nas pelo imperador.
Por segurança, foi colocado na fortaleza de Cesareia, onde perma-
neceu dois anos. Ao fim desse período, foi levado como prisioneiro,
junto com outros, a Roma.

4.6.4 QUARTA VIAGEM DE PAULO: ROMA


Narrada em At 27 e 28, essa viagem Paulo fez na condição de pri-
sioneiro, com direito a julgamento em Roma pelo próprio Imperador.
O navio em que ele embarcou estava de partida para a Itália, mas faria
paradas em lugares da província da Ásia. Com ele, estavam Aristarco
e provavelmente Lucas, que é o autor da narrativa.
Figura 46: Quarta viagem de Paulo: Roma

Fonte: http://ebdnovavidavi.blogspot.com/2011/03/quarta-viagem-missionaria-
de-paulo.html

123
Partiram de Cesareia e a primeira parada foi Sidom, onde foi per-
mitido que Paulo encontrasse alguns amigos antes de sua partida
para Mirra, seguindo ao norte da ilha de Chipre. Em Mirra, que fica
na Lícia, trocaram de embarcação, entrando num navio Alexandrino.
Na sequência, fizeram uma parada em Cnido, depois de navegarem
vagarosamente por problemas causados pelo mau tempo, inclusive
permanecendo ali até que melhorasse. Depois seguiram para a ilha
de Creta, Bons Portos, perto da cidade de Laseia. A navegação estava
sendo muito perigosa e depois de vários dias – 14º dia – naufragaram
próximo a ilha de Malta – pequena ilha ao sul da grande ilha da Sicí-
lia, que fica no sul da Itália -.
O relato bíblico afirma que havia 276 pessoas no navio e todos
sobreviveram. Paulo teve papel fundamental em acalmar as pessoas
em função da convicção e fé nas palavras que ouviu de Deus: “não
temas” (At 27:23-24).
Antes de retomarem a viagem, 2 milagres aconteceram enquanto
estavam em Malta. De Malta seguiram para Siracusa, porto na costa
oriental da Sicília e daí chegaram a Régio, que fica na península itáli-
ca, de lá navegaram para o ponto final da viagem marítima, Potéolis.
Ali permaneceram por 7 dias e seguiram para Praça de Ápio e em
seguida Três Vendas, que distava 70km de Roma.
At 28:30,31 informa que Paulo alugou uma casa e recebia visitas,
sem restrição, podendo pregar o Evangelho – uma espécie de prisão
domiciliar de nossos tempos –
.

124
CONCLUSÃO
A Geografia Bíblica, apesar de ser considerada uma disciplina
acessória à Teologia e, muitas vezes, inferiorizada à própria história,
tem um papel importantíssimo para o aluno. Na verdade, a geografia
não se trata de imagens que existem para serem colocadas ao final de
nossas bíblias e esquecidas.
Assim como a história, a geografia pode fazer com que consigamos
interpretar narrativas históricas e mesmo ajudar na exegese e herme-
nêutica de muitos textos, produzindo conteúdo para ensinamentos e
apresentação de verdades espirituais.
O aluno dedicado não deve cursar esta disciplina com a perspec-
tiva de que será preciso memorizar figuras e nomes de mares, rios,
montanhas e vales, mas sim, reconhecer, ao ler a Palavra de Deus,
que esse conhecimento é fundamental para que haja o verdadeiro
entendimento da vontade de Deus, que usa o que Ele quer para que
pessoas sejam alcançadas pelo Evangelho de Jesus Cristo, inclusive a
geografia bíblica.

125
REFERÊNCIAS
Bíblia de Estudo Arqueológica NVI – Tradução: Claiton André Kunz,
Eliseu Manoel dos Santos e Marcelo Smargiasse; Prefácio da Edição
Brasileira: Luiz Sayão. São Paulo. Vida Nova 2013. “A herança era pas-
sada para a linhagem masculina”, 2226 p

IBETE – INSTITUTO BATISTA DE EDUCAÇÃO TEOLÓGICA POR EXTEN-


SÃO DA JUNTA DE EDUCAÇÃO TEOLÓGICA DA CONVENÇÃO BATISTA
DO ESTADO DE SÃO PAULO. Geografia do Novo Testamento. 4ª Edi-
ção. Novas Edições Líderes Evangélicos. São Paulo, 1983. 134p

KELLER, Werner. E a Bíblia tinha razão. 3ª ed. São Paulo. Melhora-


mentos, 2012. 416 p.

LAWRENCE, Paul. Atlas Histórico e Geográfico da Bíblia. Tradução


de Susana Klassen e Vanderlei Ortigoza. São Paulo. Sociedade Bíblica
do Brasil, 2008.

LIMA, Delcy de Souza. Geografia Bíblica: Panorama histórico-geo-


gráfico das terras onde a revelação divina se deu. Revista Capacitação
Cristã nº2, Série Aperfeiçoamento. Rio de Janeiro. JUERP, 2002. 66 p.

MONEY, Netta Kemp de Money. Geografia Histórica do Mundo Bíbli-


co. São Paulo. Ed. Vida, 2003. 260 p.

NELSON, ¨Thomas. Nelson’s Complete Book of Bible Maps and


Charts, 3rd Edition. Edição do Kindle, p.32

RONIS, Osvaldo. Geografia Bíblica: sob o enfoque histórico e étni-


co. Rio de Janeiro. JUERP, 1999. 144 p.

127
ROZENDAHL, Zeny. Uma Procissão na Geografia. Rio de Janeiro.
EdUERJ, 2018. 408 p.

TOGNINI, Enéas. Geografia da Terra Santa e das Terras Bíblicas.


São Paulo. Hagnos, 2009. p. 14

SITCHIN, Zecharia. As guerras dos deuses e dos homens. São Paulo:


Best Seller, 2000, p.318.

128
LISTAS DE ILUSTRAÇÕES
FIGURA - DESCRIÇÃO PG
Figura 1. Origem dos povos do Oriente Médio 3000 a.C. – 2.000 a.C. 16
Figura 2: Crescente Fértil. 17
Figura 3: Mapa Medieval 19
Figura 4: Canaã 24
Figura 5: Limites da Palestina 25
Figura 6: Árvore genealógica dos Patriarcas 27
Figura 7: Ur dos Caldeus 29
Figura 8: Jornada de Abraão 30
Figura 9: Peregrinação de Abraão 32
Figura 10: 4 fases da peregrinação de Abraão 33
Figura 11: Declive das águas do rio Jordão 36
Figura 12: Monte Hermom – fotografia atual 37
Figura 13: Açudes – Lago de Meron ou Hule 38
Figura 14: Mar da Galileia 39
Figura 15: Vale do Jordão 42
Figura 16: Rio Jordão 45
Figura 17: Vales da Palestina 48
Figura 18: Retorno de Abrão depois da vitória 49
Figura 19: Canaã na época do Antigo Testamento 52
Figura 20: Povos da Palestina no tempo de Abraão 54
Figura 21: Povos não Cananeus 55
Figura 22: O mundo do Antigo Testamento 58
Figura 23: Êxodo – rota tradicional 59
Figura 24: Provável rota do Êxodo – Tradicional. 62
Figura 25: Possíveis rotas 62
Figura 26: Início da Conquista no território de Canaã 65
Figura 27: Divisão das Tribos 67

129
Figura 28: Reinos de Saul, Davi e Salomão 74
Figura 29: Reino dividido 76
Figura 30: Império Egípcio 78
Figura 31: Império Assírio 79
Figura 32: Império Babilônico 81
Figura 34: Império Persa 82
Figura 35: Império Greco-Macedônico 84
Figura 36: Divisão política da Palestina 88
Figura 37: Cidades da Palestina 99
Figura 38: Cidades visitadas por Jesus 99
Figura 39: desenho 3D do vale do Jordão 101
Figura 40: Montanhas da Palestina 102
Figura 41: Principais rios da Palestina 113
Figura 42: Ásia Menor e Europa séculos I, II e III 118
Figura 43: Primeira Viagem de Paulo 119
Figura 44: Segunda viagem de Paulo 120
Figura 45: Terceira viagem de Paulo 122

130
SOBRE O AUTOR
Flávio Martins Da Silva
Mestre em Administração ISCT/FGV- Validado UNB;
Teólogo pelo Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil -STBSB;
Administração pela USU/RJ;
Pós-graduado em História do Cristianismo pela FABAT/RJ - STBSB

131

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