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UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ

MBA EM ANÁLISES CLÍNICAS E TOXICOLÓGICAS

Resenha Crítica de Caso


Maico Roberto Luckmann Rodrigues da Silva

Trabalho da disciplina: Análises Toxicológicas, Biologia


Molecular e Citologia Oncótica
Tutor: Prof. Eduardo Corsino Freire

Florianópolis
2021
ENSAIOS TOXICOLÓGICOS CLÍNICOS DA CASCA DO MARACUJÁ-AMARELO
(Passiflora edulis, F. FLAVICARPA), COMO ALIMENTO COM PROPRIEDADE DE
SAÚDE

Referências: MEDEIROS, J. D. S.; DINIZ, M. D. F. F. M.; SRUR, A. U. O. S.; PESSOA, M. B.;


CARDOSO, M. A. A.; CARVALHO, D. F. D. Ensaios toxicológicos clínicos da casca do
maracujá-amarelo (Passiflora edulis, f. flavicarpa), como alimento com propriedade de
saúde. Revista Brasileira de Farmacognosia, v. 19, n. 2A, p. 394-399, 2009.

O artigo intitulado “ensaios toxicológicos clínicos da casca do maracujá-amarelo


(Passiflora edulis, f. flavicarpa), como alimento com propriedade de saúde”, faz uso da
toxicologia clínica para avaliar os benefícios da farinha da casca de maracujá em pacientes
voluntários no Centro de Endocrinologia e Metabologia Ltda, na cidade de Campina Grande,
estado da Paraíba, Brasil. Este centro compreende um conjunto de núcleos inseridos no
Laboratório e Centro médico Prosangue, que oferece atendimento médico e laboratorial para
a população da região. Os autores deste artigo publicado na Revista Brasileira de
Farmacognosia em março de 2009, na época tinham vínculo com a Universidade Estadual da
Paraíba onde faziam parte do Laboratório de Tecnologia Farmacêutica, do Departamento de
Farmácia ou do Núcleo de Estudos e Pesquisas Epidemiológicas. Ainda, uma colaboração de
autoria fazia parte do Departamento de Nutrição Básica Experimental da Universidade
Federal do Rio de Janeiro.
Devido a insatisfação quanto ao custo e segurança da medicina convencional aliado a
crescente divulgação da mídia com consequente interesse da população pelo uso de
componentes alimentares ativos fisiologicamente, diversos alimentos ditos funcionais
começaram a ser comercializados. Neste mesmo período, uma gama de estudos foram
publicados e apresentaram os benefícios de diversos componentes alimentares. Como
relatado no texto, os alimentos funcionais devem ter seus efeitos demonstrados em
quantidades que possam ser ingeridas em uma dieta normal.
Os autores descrevem o uso do maracujá (Passiflora edulis) devido suas propriedades
sedativas e pelo motivo de que anteriormente já havia sido descrita a atividade
hipoglicemiante da farinha produzida a partir da sua casca. Os autores justificam essa
atividade hipoglicemiante devido a casca ser rica em pectina que por sua vez pode se ligar à
água e formar compostos de alta viscosidade. Na mucosa intestinal ocorre a formação de
uma camada gelatinosa e, consequentemente o decréscimo na absorção de carboidratos
pela ação hipoglicemiante. E para corroborar com esta informação, são apresentados
estudos que mostram a efetividade do consumo de fibras na melhora do controle glicêmico, e
em especifico o trabalho de Guertzenstein e Sabba-Surr publicado em 2002 que utilizou ratos
adultos como modelo experimental por um período de 28 dias sugere que o uso da farinha da
casca de maracujá pode controlar a diabetes, baseado nos resultados obtidos.
Anteriormente a esse estudo, uma publicação sobre plantas conhecidas como
medicinais e venenosas do Nordeste do Brasil, havia citado o P. edulis como um possível
alimento utilizado para combater a diabetes além da atividade sedativa já conhecida. Nesta
mesma época, a população em geral começou a produzir a farinha da casca do maracujá de
maneira artesanal ou adquirir de empresas, e começou-se a propagar a informação dos
efeitos benéficos da farinha sobre a diabetes. Então, os autores justificaram a realização do
seu estudo se ancorando na premissa de que não existia até o momento, evidencias
científicas que a farinha da casca do maracujá tivesse de fato, uma ação hipoglicêmica em
humanos ou que seu uso não causasse efeitos tóxicos.
Para este estudo, os pesquisadores selecionaram 36 voluntários, sendo 20 mulheres e
16 homens com idades entre 20 e 60 anos. A quantidade de voluntários é justificada por
estar dentro da faixa normalmente utilizada para este tipo de estudo. Os voluntários
inicialmente realizaram exames para avaliar as funções hepática, renal e cardiorrespiratória
no Centro de Endocrinologia e Metabologia Ltda, e a partir disto foram orientados a ingerir
diariamente três doses diárias de 10g de farinha da casca de maracujá por 8 semanas. O
projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética, os voluntários assinaram o termo de
consentimento e os autores destacam que cada voluntário serviu como seu próprio controle,
por meio de uma avaliação anterior ao experimento.
Conforme a análise realizada pelos autores, a idade média dos voluntários era de
36,88 anos e ao final do experimento para avaliação da toxicidade crônica, foi observado
redução de 2% do peso dos indivíduos, que antes era em média 72,15 kg e reduziu para
71,30 kg. Os autores complementaram que nenhum evento adverso foi relacionado ao uso
da farinha bem como não foram evidenciados sinais de toxicidade nos órgãos avaliados
pelas análises toxicológicas realizadas. Ainda, não foram observadas alterações
estatisticamente significativas nos parâmetros laboratoriais.
Ao analisar a figura que apresenta os resultados dos exames laboratoriais dos
indivíduos que fizeram parte do estudo, a maioria apresentou-se semelhante entre o sexo
feminino e masculino. Foi discutido que as provas de função hepática são muito importantes
nas análises, pois muitas substâncias são biotransformadas pelo fígado. Dentre elas, a
bilirrubina, o ALT, o AST, a fosfatase alcalina, a gama GT e as proteínas totais se mantiveram
dentro dos limites preconizados. Ao avaliar a função renal, parâmetros como a creatinina, o
ácido úrico, a CPK, a albumina, a ureia, o cálcio, o sódio e o potássio também se mantiveram
dentro dos limites. Os autores também discutiram a importância da avaliação do hemograma
nos estudos de toxicidade, pois o sistema hematopoiético é sensível a atividade de agentes
tóxicos. Dentre as análises realizadas, as hemácias, hematócrito, hemoglobina, LDH,
leucócitos e plaquetas também estavam dentro dos limites preconizados. Além disso, a
glicemia também se manteve dentro dos parâmetros.
Os autores também discutem rapidamente que na avaliação da toxicidade aguda,
realizada no terceiro e sétimo dia de estudo, foram observadas pequenas variações não
significativas nos parâmetros bioquímicos e hematológicos. Em resumo, os autores também
discutem que possíveis reações adversas de baixa incidência poderiam ocorrer em estudos
com um número muito maior de voluntários, mas de fato, é sugerido que o uso da farinha da
casca do maracujá pode ser usado com segurança por pacientes portadores da diabetes.
Ao analisar a estrutura do texto, é possível elencar alguns itens que poderiam ter sido
melhor descritos, explorados e discutidos. Ao olhar para as palavras-chave, os itens
“Passiflora edulis, maracujá e cascas”, já estão incluídos no título do artigo, desperdiçando a
possibilidade de inserir outras palavras para que os mecanismos de busca encontrassem
com mais facilidade este artigo, pois como já se sabe, mecanismos de busca procuram textos
pelo título e palavras-chave. Os autores não exploraram no material e métodos como foi a
dieta alimentar dos voluntários no período de estudo, como por exemplo, se a dieta alimentar
foi semelhante entre os voluntários, se a forma de ingestão dos alimentos poderia interferir
nos resultados e se de fato, o controle na dieta alimentar dos voluntários foi feito pelos
pesquisadores. Essas situações podem levantar questionamentos sobre o efeito benéfico
observado, ou seja, se ele ocorreu devido ao uso da farinha da casca do maracujá ou
também por outros alimentos ingeridos que não foram informados no estudo. Também não é
discutido no material e métodos quais seriam os parâmetros laboratoriais a serem utilizados,
eles aparecem somente nos resultados. Ainda, uma discussão acerca dos resultados
observados poderia ter sido mais aprofundada afim de explicar o motivo de tais parâmetros
terem sido escolhidos e por que as alterações observadas, embora não estatisticamente
significativas, indicariam que o produto tem propriedade de saúde.
A linguagem utilizada neste texto é clara e o artigo colabora para a construção do
conhecimento acerca das propriedades da farinha da casca do maracujá. Os parâmetros
laboratoriais citados no texto, são discutidas nas aulas da disciplina de análises toxicológicas,
biologia molecular e citologia oncótica, disponibilizada nesta especialização. Embora seja
uma pesquisa realizada a mais de 11 anos, as informações discutidas no texto servem de
base para estudos que permeiam a mesma linha de pesquisa e/ou buscam encontrar e
comprovar as propriedades medicinais de outros produtos naturais.
Conclui-se que, a farinha não apresentou alterações que pudessem comprometer seu
uso como alimento com propriedade de saúde, mas seria interessante que novos estudos
avaliassem diferentes concentrações/quantidades da farinha da casca do maracujá, a fim de
observar a possibilidade de toxicidade do produto se utilizado concentrações maiores. Por
fim, o uso deste produto natural na dose diária apresentada neste estudo pode ser
encorajado.

Referências:

Prosangue diagnóstico. Quem somos. Disponível:


http://labprosangue.com.br/novo/quem-somos.php. Acesso em: 02 maio 2021.

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