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Tocar as estrelas sempre foi o meu sonho, a questão é que, quando estamos tão alto, as coisas que

desejamos alcançar nem sempre são capazes de nos segurar. Não sei meu nome, não sei mais de
onde eu vim, e se você está aqui procurando uma resposta a si mesmo, um caminho o qual seguir
baseado em mim, por favor volte pois essa é a pior decisão da sua vida, não queira as minhas
estrelas, os meus sonhos ou meus caminhos tortuosos. Mas, posso te prometer e te assegurar que
talvez aqui você tenha voz, histórias para contar e um novo lugar onde ir.

Normalmente, a primeira coisa que ensinam a pessoas como eu é que devemos esconder tudo,
ocultar tudo ou simplesmente fingir que não existimos, somos meros entulhos a margem de uma
sociedade que fez regras distorcidas demais para que possamos seguir, absurdas demais e
completamente negativas a nossa essencia. Em casa nunca foi assim.
Sempre fizemos questão de mostrar a quem quisesse ouvir e ver o que éramos de verdade, nada de
ocultar a parte que nos deixava forte. Eu cresci ouvindo que era uma mulher forte, corajosa e
especial, e qualquer um que dissesse o contrário não passava de um mentiroso com medo do poder
de pessoas como nós. Olhando para tudo que eu fiz por aqui, e com essa sensação de que a minha
pele vai explodir e as minhas entranhas vão derreter até que eu seja apenas uma cauda mole sem
nada que me reconheça como um ser humano, sei exatamente o motivo deles temerem tanto a nós,
eu também teria medo. Meu nome é Maya, ou era, minha vida começou com duas garotas que se
apaixonaram e terminou com eu mesma me apaixonando por uma. Peço a qualquer um que me
escute pra que eu possa admirar o castanho dos olhos dela por uma última vez, e espero que a
sensação do seu corpo seja suficientemente forte pra me manter viva e impedir que eu evapore.
O começo, é Elorelai, a minha terra. Assim como qualquer lugar que tenha convivência de uma
sociedade conjunta, é uma merda. Se tem algo que me irrita aqui, posso dizer com convicção, é
desigualdade. Antigamente, os povos que viviam antes da União acreditavam que, em algumas
próximas gerações, nós seriamos mestres unificados, justiceiros da harmonia entre todos os povos,
sem pobreza, sem fome, sem mortes por motivos banais. Mas, a verdade é que sempre precisam de
um governante, quanto mais o tempo passa, menos pessoas tem convicção de quem são e do que
precisam fazer para manter tudo em ordem, eles precisam de alguém que os guie, mesmo que essa
pessoa esteja bem mais perdida do que eles mesmos. O governante é ruim, então tudo se torna pior
ainda. Aprendi com meus pais que eu não deveria esperar nada de um governo que estava quebrado
e tentava fazer todos acreditar o contrário.

Elói, pelo menos aos meus olhos é apenas uma falsa esperança. Chega um momento em que as
pessoas querem ter fé em algo que é impossivel, elas querem se agarrar até a ultima fagulha de luz
para o fim de tanto sofrimento, e isso vem de todos os nossos antepassados, porquê a falsa alegria
soa melhor do que aceitação do fim e de toda a dor que ele traz. Como povo sofrido, Elorelai
prefere acreditar na vinda do eleito, a salvação, o retrato da divindade. Eu odeio pessimismo, mas
eu sou pessimista, até demais. Não acho que podemos sair dessa, não acho que, em algum dia
mágico, unificado como feriado de Elói – mais um no caso – seremos salvos misteriosamente por
forças como ele, forças que não compreendemos.

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