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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS (UFSCar)

CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DE TECNOLOGIA (CCET)


Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção (PPGEP)
Disciplina: Melhoria Contínua
Docente: Prof. Dr. José Carlos de Toledo
Discente: Thaís Moreira Tavares

Resumo do artigo: Statistical thinking and techniques: use and benefits in manufacturing
companies

O estudo introduz os conceitos de Statistical thinking (STk) e Statistical (STe)


techniques. O STk é definido como processos de pensamento que o pensamento
estatístico e as técnicas reconhecem a presença de variação em todos os processos. Esta
variabilidade é inerente ao processo e deve ser quantificada, controlada e reduzida para
proporcionar oportunidades de melhorias. O STk fundamenta a aplicação do STe, que é
utilizado para auxiliar na resolução de problemas em processos e produtos.
Resumidamente, o STk pode ser visto como o aspecto estratégico da estatística, a
compreensão do uso da filosofia estatística, enquanto o STe representa o aspecto
operacional, a operacionalização dos dados e a análise de fatos.
Após a exposição dos conceitos, o gap do estudo é identificado. Como o STk e o
STe são considerados como uma base de programas de melhoria (como Six Sigma e
Lean Six Sigma), e como e esses programas estão relacionados ao desempenho
operacional, parece relevante avaliar se há associação entre uso de STk e STe e
programas de melhoria. Na Literatura, ainda há pouco conhecimento e estudos que
relacionam STe e STk aos benefícios para as empresas de manufatura e há uma lacuna
sobre como operacionalizar STk nesse contexto, principalmente em países em
desenvolvimento como o Brasil.
Diante disso, o principal objetivo do artigo foi analisar a associação entre o uso
de STk e STe com benefícios operacionais e com as características das empresas, como
tamanho da empresa, importância estratégica da qualidade, investimento para
treinamento em STk e STe e uso de programas de melhoria.
Para atingir o objetivo, pesquisa de campo foi realizada por meio de survey em
empresas de médio e grande porte. Para direcionar a pesquisa de campo, foram
considerados os construtos encontrados na revisão bibliográfica para a análise da
pesquisa: a implantação dos princípios STk; o STe básico/intermediário e avançado;
características da empresa para implantação de STk e STe (como tamanho da empresa,
importância estratégica da qualidade, divulgação, treinamento e aplicação de STk e STe,
investimento para treinamento em STk e STe); o uso de programas de melhoria; e os
benefícios potenciais que podem ser alcançados usando STk e STe.
O instrumento de pesquisa foi um web survey direcionado ao gerente de
produção, qualidade ou melhoria de empresas de médio e grande porte. Para que um
questionário fosse utilizado na pesquisa, era necessário que a empresa tivesse um
sistema de gestão certificado (ISO 9000 ou 14000 ou 22000). A coleta de dados durou
oito meses e após a conferência e depuração dos questionários a amostra obtida foi de
243 questionários válidos, representando uma taxa de resposta de 33% da população
alvo da pesquisa.
Primeiramente, foi realizada uma análise descritiva da amostra, com a
caracterização do porte das empresas, utilização de programas de melhoria, importância
da qualidade para a estratégia competitiva, além da identificação do uso de STk
(variáveis relacionadas ao uso dos princípios do STk), o uso do STe [variáveis
relacionadas ao uso de técnicas básicas, intermediárias e avançadas (TA)] e benefícios.
A amostra foi composta por 62,6% das empresas (unidades) com mais de 500
funcionários e 36,4% entre 100 e 500 funcionários. Os Resultados mostraram que os
programas com maior presença são 5S (88,5% da amostra), melhorias diárias (87,2%) e
programa de sugestões (65,8%). Além disso, Lean Sigma e TQM são os programas
menos adotados pelas empresas da amostra; o primeiro é adotado em 25,9% e o
segundo em 32,9%. Isso se explica porque o Lean Sigma é um programa mais recente
que exige maturidade tanto lean quanto Six Sigma, o que pode dificultar a implantação,
enquanto o TQM é um programa mais antigo com conteúdo menos padronizado e
comportamental, o que pode dificultar o uso. Com relação ao uso de técnicas
estatísticas, as técnicas básicas e intermediárias são mais utilizadas (uma média de 41%
das empresas), as avançadas têm um uso significativamente menor (média de 9% das
empresas).
A segunda análise foi realizada para identificar diferenças entre as empresas no
nível de utilização de STk, STe e de benefícios percebidos por meio da análise de
cluster. Após o agrupamento, foram realizados testes de hipóteses para verificar
associação entre as variáveis utilizadas para formação dos agrupamentos e variáveis
relacionadas à caracterização das empresas e à presença de programas de melhoria.
A análise de cluster identificou empresas com perfis semelhantes considerando
18 variáveis para a formação dos grupos. Após a análise de cluster e a separação das
empresas em grupos, foi utilizado o teste de hipótese não paramétrico qui-quadrado para
verificar associação entre as variáveis. As hipóteses testadas foram duas: H0 - Não há
associação entre as variáveis utilizadas para formação dos clusters e características da
empresa e programa de melhoria; H1- Existe associação entre as variáveis.
O método k-means identificou as empresas pertencentes a cada um dos três
clusters. Além disso, foi realizada uma análise de variância e a hipótese (H0) de que a
média da variável é igual entre os grupos para o nível de significância de 95% foi
rejeitada para todas as 18 variáveis (p-valor < 0,05). Evidenciou-se que há diferença
entre os grupos no uso de STk, STe e nos benefícios percebidos.
De acordo com os resultados, existem três grupos de empresas: cluster 1 com
menor intensidade de uso e benefícios percebidos (69 empresas de 243); Cluster 2 com
nível intermediário de uso e percepção de benefícios (112 empresas); e cluster 3, que
apresenta as empresas com maior intensidade de uso e benefícios percebidos (62
empresas). Em todos os grupos o uso de STk é menos intenso que o de STe
básico/intermediário e o uso de STe avançado é menos intenso que esses dois. Também
foi possível identificar que o cluster que apresenta maior uso de STk e STe também
apresenta maior identificação de benefícios, conectando o uso de STk e STe com
benefícios, como: redução de custos de não qualidade, custos de produção e não
conformidades e aumento dos índices de capacidade, da produtividade e satisfação do
cliente.
Os resultados da análise de associação dos clusters mostram que foi identificada
associação entre a importância da qualidade para a estratégia competitiva e os clusters.
O cluster 3 é constituído principalmente (92%) por empresas que consideram essa
importância alta e é o cluster com maior uso de STk e STe, o que estaria de acordo com
a teoria: empresas com maior importância da qualidade na estratégia competitiva devem
programas e projetos de melhoria e ações para a qualidade, consequentemente fazendo
um uso mais intenso e melhor de STk e STe, obtendo melhores resultados com este uso.
Para concluir a análise, também houve associação com a utilização de programas
de melhoria, mais presentes no cluster 3 e menos no cluster 1. A associação entre
intensidade de uso de STk/STe e benefícios percebidos e a adoção de programas de
melhoria confirmam a expectativa de que esses programas enfatizem e contribuam para
a consolidação do uso de STk/STe.

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