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2002
Introdução
Sistema de medição de desempenho organizacional (SMD) é um tema contemporâneo. Não
obstante, há muito tratado como instrumento eficaz para melhoria da gestão, está sendo revisto desde as
últimas duas décadas. O novo enfoque decorre da exposição das empresas a um ambiente hiper-
competitivo com maior exigência dos consumidores. Do lado do setor público, o déficit fiscal e a
cobrança da sociedade por accountability levaram governos de países desenvolvidos a adotarem novas
práticas de medição. Para o propósito deste estudo, considera-se SMD no contexto do planejamento
estratégico, subsidiando a avaliação do desempenho relativo à estratégia da organização, às operações e
às expectativas dos stakeholders.
Um adequado SMD requer medições nas diversas áreas estratégicas da organização. Assim, o
desbalanceamento no uso de medidas na verificação do desempenho global da organização, com a
preponderância de medidas de desempenho financeiro, reflete deficiências no processo de
gerenciamento (Atkinson et al., 1997; Clark, 1995; Dixon et al., 1993; Govindarajan e Shank, 1997;
Kaplan e Norton, 1992; Sink, 1985).
Para verificar a incidência desse problema em organizações públicas brasileiras realizou-se um
survey a partir das perspectivas da abordagem Balanced Scorecard (BSC). Procurou-se, ainda, verificar
a associação entre um sistema de medição balanceado e a natureza jurídica das organizações e o tempo
de adesão ao Programa da Qualidade no Serviço Público (PQSP). Assim, o objetivo deste artigo é
apresentar resumidamente os principais conceitos, enquadramento teórico, metodologia e resultados
mais significativos da pesquisa realizada pelos autores.
Muitos pesquisadores identificam lacunas conceituais, metodológicas e operacionais no
desenvolvimento e aplicação de SMD (Alecian e Foucher, 2001; Atkinson et al., 1997; Halachmi e
Bouckaert, 1996; Thor, 1993; Clark, 1995; Juran, 1993; Sink, 1985). Kaplan e Norton (1992)
perceberam essa lacuna e desenvolveram o Balanced Scorecard (BSC), um modelo para a medição de
desempenho cuja estrutura possibilita uma visão mais abrangente e equilibrada das áreas estratégicas
da organização, a saber: financeira, relativa aos clientes, processos internos e aprendizado e
crescimento. Prazos de entrega, inovação, relacionamento com clientes e muitos outros indicadores não
financeiros são então incluídos nesse sistema de mensuração organizacional.
No Brasil, o recente Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado (PDRAE), de 1995,
lançou as bases para a reconstrução de uma administração pública voltada para o cidadão-cliente. A
finalidade é eliminar as disfunções do modelo burocrático brasileiro e melhorar o desempenho da ação
estatal na oferta de serviços de qualidade a custos adequados à sociedade. Na dimensão da gestão
pública, o principal instrumento de aplicação do PDRAE é o Programa da Qualidade no Serviço
Público (PQSP). Coordenado pelo Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão (MPOG), o PQSP
tem por objetivo a sensibilização das organizações públicas quanto à necessidade de melhoria da
qualidade da gestão e do desempenho organizacional. No entanto, o baixo uso de indicadores de
desempenho pela alta administração no processo de tomada de decisão e a ausência de práticas
sistemáticas de monitoramento de metas com base em indicadores constituem-se em pontos frágeis da
implementação do PQSP (Batista, 1999). Essa situação não é exclusiva da administração pública.
Pesquisa realizada por Macedo-Soares e Lucas (apud Ratton, 1998) em 100 empresas líderes no Brasil
relacionou o fracasso de novas estratégias a deficiências dos sistemas de medição. Com efeito, a
sistemática medição do desempenho das organizações públicas brasileiras é essencial para a
consolidação dos princípios da reforma administrativa.
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Ambas visões são inapropriadas. Os critérios de desempenho organizacional são o ponto de partida
para o desenho e o funcionamento de um sistema de medição de desempenho (Kaplan e Norton, 1992;
Sink, 1985; Thor, 1993; Clark, 1995).
O que medir?
A primeira questão enfrentada pela organização é determinar o que medir. Com base nas áreas
de resultado especificadas por Peter Drucker e nos critérios de excelência de Peter e Waterman, Sink
(1985) selecionou sete critérios de desempenho organizacional a serem mensurados. Os critérios,
identificados na Figura 1, são aplicados a qualquer tipo de sistema organizacional independentemente
do tamanho e da natureza. Sink (1985) recomenda à alta administração e ao staff a concentração de
seus esforços nesses critérios:
1. Eficácia: Realização do propósito, objetivos, metas e atividades em quantidade, qualidade e prazo
adequado.
2. Eficiência: Razão entre os recursos estimados e os realmente consumidos na consecução dos
objetivos, metas e atividades.
3. Qualidade: Produtos e serviços realizados em conformidade com as especificações identificadas
como oportunidade de satisfação dos clientes.
4. Produtividade: Relação entre os outputs produzidos por um sistema organizacional num determinado
período de tempo e os inputs requeridos para produzir os mesmos outputs.
5. Qualidade de vida no trabalho: Pessoas são responsáveis pelo sucesso na realização de objetivos e
no uso eficaz dos recursos. À organização cabe proporcionar às pessoas oportunidades no trabalho e
desenvolver um sentido maior de satisfação, controle e propriedade. O objetivo é assegurar-se de que
os funcionários estejam satisfeitos, tranqüilos, seguros, etc.
6. Lucratividade: Relação entre o total de receitas e o total de custos e despesas.
7. Inovação (produtos e serviços): Processos criativos para gerar novos, melhores, mais funcionais
produtos, serviços, processos, estruturas, etc. em resposta as pressões internas e externas, as demandas
dos stakeholders e mudanças ambientais, etc.
Muitas organizações líderes desenvolveram sistemas de medição amplos depois de identificadas
as limitações das medidas financeiras como ferramentas para a tomada de decisão estratégica.
Informações financeiras e contábeis sozinhas não são suficientes para medir o desempenho da
organização. Embora os demonstrativos contábeis sejam medidas de fundamental importância para o
retorno dos ativos dos acionistas ou proprietários, eles não focam a qualidade do produto, os esforços
dos empregados, a liderança de mercado, a capacidade de resposta e a satisfação do cliente. Os
sistemas contábeis e de controle possuem ainda outros problemas: distorcem os custos dos produtos e
geram dados mais para cumprir exigências dos relatórios externos do que refletir a realidade do novo
ambiente de produção. Os tradicionais sistemas contábeis de custos são limitados na sua capacidade de
medir habilidades, treinamentos e o moral da força de trabalho (Clark, 1995; Kaplan e Norton, 1997;
Govindarajan e Shank, 1997).
Cabe ressaltar que as limitações no uso de SMD baseado em medidas financeiras foram
identificadas primeiramente pelos governos. Em especial, a Grã-Bretanha, a Nova Zelândia e os
Estados Unidos têm realizado altos investimentos no desenvolvimento dos sistemas para aumentar a
efetividade das decisões e a eficiência das operações. Os resultados ainda parecem modestos e
convergem para a conclusão de que os sistemas de medição de desempenho mensuram muitas coisas,
mas coisas erradas. Nesse caso, o planejamento estratégico cumpre um papel importante no processo de
aumentar a precisão das práticas de medição (Atkinson et al., 1997).
Em síntese, a melhoria na seleção, no desenvolvimento e no uso de medidas não-financeiras,
como qualidade, inovação, produtividade, qualidade de vida no trabalho e satisfação dos clientes, é
necessária. Essas medidas gerenciais baseadas em objetivos estratégicos e operacionais devem ser
desenvolvidas para substituir a atual ênfase nas medidas de desempenho financeiro de curto prazo. O
objetivo de um SMD é preencher o gap entre relatórios convencionais de desempenho financeiro e o
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Metodologia
O campo de investigação da pesquisa constitui-se das 209 organizações federais brasileiras,
pertencentes aos três Poderes, participantes do PQSP. O Programa baseia-se na abordagem do
gerenciamento da qualidade total e tem por objetivo contribuir para a melhoria da qualidade dos
serviços, apoiando as organizações públicas no processo de transformação gerencial.
A pesquisa, do tipo survey, utilizou a estratégia de coleta de dados quantitativa com a
construção e aplicação de questionário estruturado em 25 questões. As questões buscaram captar
informações sobre a organização naqueles aspectos que, segundo Kaplan e Norton (1997) e Clark
(1995), compõem um sistema de medição balanceado. Procurou-se um melhor design do questionário e
a elaboração de questões compreensíveis para a redução da não resposta. As questões foram ordenadas
das mais interessantes e relacionadas com o tema principal da pesquisa para aquelas mais propensas à
objeção, bem como foram agrupadas em função da escala de mensuração (tipo Likert, dicotômica etc)
e do assunto (Labaw, 1980; Salant e Dillman, 1994).
Os questionários foram endereçados a todas as organizações federais participantes do PQSP no
período de 14 de junho a 15 de agosto de 2001. A taxa de resposta foi de 38% (79 questionários),
chegando a 60% no grupo das empresas públicas e sociedades de economia mista. Tentou-se construir
uma amostra a posteriori com os dados coletados, mas o reduzido tamanho do universo inviabilizou
esse cálculo. Em todo caso, dado que o conjunto das organizações respondentes corresponde
praticamente à metade do universo visado, parece razoável reivindicar uma representatividade maior
para essa amostra do que as amostras não probabilísticas costumam ensejar.
Devido ao número e a diversidade da natureza jurídica dos respondentes houve o agrupamento
das organizações para efeito de análise dos dados. As organizações foram classificadas em três
categorias: administração direta; autarquias e fundações; e empresas públicas e sociedades de economia
mista.
O tratamento estatístico dos dados incluiu análises descritivas, o teste Exato de Fisher e análise
de variância (ANOVA), além do desenvolvimento de uma escala métrica com a presença das
características explicativas do conceito “balanceamento” no uso de medidas de desempenho
organizacional.
Entre os principais fatores limitantes, cita-se o baixo retorno dos questionários, devido ao modo
de coleta por e-mail e correio; a coleta de dados de apenas um funcionário por organização e a
impossibilidade de confirmação de determinadas informações por meio de entrevistas. Além disso, não
foi analisado qualquer aspecto do PQSP. O estudo restringiu-se a visão global dos diversos sistemas
que compõem as organizações, de maneira que não se analisou o desempenho de funções, setores e
unidades específicas da organização, nem de programas ou de sistema de desempenho e recompensas
de pessoas.
O Balanced Scorecard (BSC) foi escolhido como referencial teórico da pesquisa, devido tratar-
se de modelo para medição de desempenho global da organização e compor-se de elementos consoante
os princípios do PQSP. Apesar de existirem outros modelos importantes - Sete Critérios de Medição de
Sink (1985), Família de Medidas de Thor (1993) e o Sistema de Gerenciamento Visual de Clark (1995)
- o BSC aborda a questão do balanceamento das medidas com maior abrangência e detalhamento,
tornando-se mais adequado aos objetivos do estudo.
Resultados e discussão
O estudo analisou se as práticas de medição de desempenho das organizações possuíam as
características ideais apontadas pela literatura, em especial quanto ao uso balanceado de medidas nas
diversas dimensões do desempenho (Kaplan e Norton, 1992; Dixon et al., 1993; Sink, 1985; Clark,
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1995). Investigou-se, também, se o balanceamento no uso de medidas era influenciado pela natureza da
organização (administração direta; autarquias e fundações e empresas públicas e sociedades de
economia mista) e pelo tempo de adesão ao PQSP.
Construindo a escala de balanceamento
A principal questão que norteou o estudo foi: As organizações federais brasileiras, ao adotarem
o novo modelo de gestão baseado nos princípios da qualidade, evidenciam um balanceamento entre as
perspectivas de medição de desempenho organizacional? A resposta a esta questão demandou a prévia
construção de uma escala que permitisse atribuir um valor ao nível de balanceamento no uso de
medidas nas múltiplas perspectivas do desempenho organizacional. A escala precisaria fornecer uma
medida do balanceamento entre as dimensões do desempenho: financeiro-orçamentário, dos clientes,
dos processos internos e do crescimento e aprendizagem organizacional. A “escala de balanceamento”
gradua-se em sete classes: não balanceado, próximo a não balanceado, pouco balanceado,
medianamente balanceado, relativamente balanceado, próximo a balanceado e balanceado.
A construção da escala resultou de duas etapas: uma relativa à constituição de cada uma das
quatro perspectivas de medição e a outra referente ao balanceamento entre as quatro perspectivas. A
primeira etapa partiu de medidas e informações (doravante denominadas de “itens”) previamente
selecionadas, segundo a literatura e análise documental, que serviram de base para elaboração do
questionário. No Quadro 1 estão assinalados os itens utilizados na composição de cada perspectiva de
medição de desempenho, segundo a natureza jurídica das organizações respondentes. Por exemplo,
para as autarquias e fundações considerou-se a presença das seguintes medidas na perspectiva dos
processos internos: monitoramento de defeitos e desperdícios dos principais serviços ou produtos,
tempo de resposta, geração de novos serviços ou produtos e contabilidade de custo.
Cada item que compôs as perspectivas de desempenho teve o mesmo peso, mas nem todos os
itens compuseram a escala de cada tipo de organização. Isto é, na perspectiva financeira o índice
retorno sobre o investimento somente faz sentido para organizações com fins-lucrativos como as
empresas ou sociedades de economia mista, logo, não assinalado na coluna referente a administração
direta, autarquias e fundações. Devido às diferenças na natureza das organizações, nem todos os itens
foram considerados necessários para caracterizar determinada perspectiva.
O passo seguinte foi o levantamento da incidência de respostas para cada item e a totalização
por perspectiva, cujos resultados constam da Tabela 1. Verifica-se, que 9 (26%) organizações da
administração direta não utilizavam medidas financeiras e orçamentárias. As autarquias e fundações
também empregam poucas medidas financeiras, uma vez que somente duas organizações possuem
acima de quatro medidas financeiras. Quanto às estatais, 36% usam cinco das oito medidas financeiras
e 20 de 33 respondentes possuem mais de 60% das medidas. Nesta fase da construção da escala,
procurou-se conhecer quais perspectivas de medição estavam presentes em cada organização e em que
intensidade.
Em seguida, foram atribuídos pontos proporcionais à quantidade de itens presentes, consoante à
natureza jurídica da organização. A organização com a presença de todos os itens em cada perspectiva
recebeu pontuação máxima, equivalente a 100, enquanto que aquela que não dispunha de qualquer item
obteve a pontuação 0. Um órgão da administração direta que afirmou possuir duas medidas na
perspectiva dos processos internos, recebeu 67 pontos (dois terços do total de itens desta perspectiva).
Assim, tornou-se possível a comparação entre as organizações, considerando-se a incidência dos itens
constantes nas diversas perspectivas.
Na construção da escala, procurou-se atender aos critérios de mensuração, segundo Weiss
(1998): validade (extensão na qual o indicador captura o conceito de interesse); direção (um bom
extremo e um ruim extremo); sensibilidade para diferenças (a medida apresenta valor que permite
capitalizar diferença entre organizações de mesma e distinta natureza); imparcialidade no método de
coleta de dados (dados coletados sistemática e consistentemente para diferentes respondentes para que
todas as organizações sejam comparáveis).
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desvio-padrão, objetivou a distinção entre as organizações quanto à presença de itens (medidas) nas
quatro perspectivas e à pontuação em cada perspectiva.
A Tabela 2 apresenta a distribuição das 79 organizações respondentes na “escala de
balanceamento”. Verifica-se que somente uma organização possui um sistema de medição de
desempenho não balanceado. Trata-se de uma unidade com 132 servidores, descentralizada e regional
pertencente à estrutura de um Ministério com prestação de serviços diretamente à população. A
unidade aderiu ao PQSP há menos de 11 meses e o respondente, há apenas quatro meses no Comitê de
Qualidade, assinalou a ausência da prática sistemática de medição de desempenho. Relacionou entre os
principais problemas: a falta de metodologia para montar um SMD, as dificuldades na elaboração de
estratégias e objetivos e a resistência de servidores em colaborar com a prática de medição.
Organizações pequenas necessitam desenvolver mecanismos simples de verificação do
planejamento, das prioridades e das medidas de forma integrada por meio de reuniões anuais (Tesouro,
2000). O planejamento estratégico é vital para o sistema de medição de desempenho e um dos seus
produtos naturais é uma lista de medidas e indicadores que refletirão o progresso na realização dos
planos. As dificuldades metodológicas no desenvolvimento e implementação de um SMD são
problemas freqüentes apontados pela literatura e novos modelos estão surgindo para cobrir estas
lacunas (Thor, 1993; Clark, 1995; Kaplan e Norton, 1997; Cardoso,1999; Tesouro, 2000; FPNQ, 2001).
No outro extremo da escala, classificado como balanceado, encontra-se o SMD de uma unidade
de negócio de uma sociedade de economia mista da área de serviços financeiros com atendimento ao
público. Os maiores problemas relatados sobre o SMD foram o excesso de informação, dificultando a
seleção para a alta administração e o fomento a uma certa competição interna desfavorável. O excesso
de medições sem vinculação ao planejamento estratégico da organização acaba disponibilizando
informações vazias de propósito, bem como favorece disputas entre departamentos que concorrem
muitas vezes pelos mesmos recursos escassos para implementação de seus projetos. Um SMD bem
desenhado propicia a eliminação de informações que não agregam valor à tomada de decisão, bem
como alinha toda a organização em torno da estratégia organizacional (Kaplan e Norton, 1997).
Os resultados da aplicação da “escala de balanceamento” parecem consistentes quando
comparados com os dados descritivos. Dentre as 14 (18,0%) organizações que informaram não
mensurar sistematicamente o desempenho, 12 foram classificadas como detentoras de sistemas de
medição de desempenho pouco balanceado a não balanceado, ou seja, aferiam apenas determinadas
dimensões do desempenho e usavam poucas medidas. Além disso, 24,0% das organizações com
sistema de medição próximo a não balanceado não utilizavam quaisquer medidas em pelo menos uma
perspectiva.
Muitas organizações não enxergam as medições de desempenho de forma sistêmica. Um
sistema de medição estratégico precisaria incluir um conjunto balanceado de medidas de resultados,
mas também demonstrar as limitações e a eficiência dos processos para o alcance dos objetivos. Os
dirigentes que se guiam apenas por algumas medidas diretamente relacionadas aos seus objetivos de
curto prazo como receitas, despesas e lucro não percebem que o monitoramento da satisfação dos
clientes, do clima organizacional e dos sistemas operacionais pode conduzir a decisões que repercutirão
no desempenho futuro da organização (Tesouro, 2000; Sink e Smith, 1993; Clark, 1995).
Poder-se-á perguntar se o critério adotado não é injusto com a organização funcionalmente
“mais complexa”, dado que se exigirá mais do seu desempenho para obter o mesmo “conceito” do que
a organização “menos complexa”. Assim como a mensuração na perspectiva financeira envolveu mais
itens no caso das empresas (complexidade funcional) do que no caso da administração direta, não seria
razoável pensar que a perspectiva financeira seja mais “urgente” para a empresa do que o é para a
administração direta, ou que a perspectiva do cliente seja mais “urgente” para este último tipo de
organização do que para aquele outro? A medida pode ser crítica para uma determinada organização e
não ser para outra, pois dependerá da natureza da atividade, da personalidade jurídica, do tamanho da
organização, etc. No caso da “escala de balanceamento” não cabe falar em hierarquia das perspectivas.
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dos processos, a capacidade de atrair e manter bons funcionários, o equilíbrio dos orçamentos e a
redução dos custos operacionais. Resumindo, as organizações há mais tempo no PQSP, provavelmente,
utilizariam mais equilibradamente as medidas financeiras e não-financeiras do que as recém-ingressas.
As primeiras ações do PQSP desenvolveram-se a partir de 1991 no âmbito do Programa
Brasileiro de Qualidade e Produtividade (PBQP), no entanto, os resultados relativos à administração
pública foram insignificantes se comparados com o setor privado. Em 1995, com a implementação do
Plano Diretor de Reforma do Aparelho do Estado, as ações relativas à administração pública passaram
para a alçada do extinto Ministério da Administração Federal e Reforma do Estado e, em 1996, foi
aprovado o Termo de Referência do Programa da Qualidade e Participação na Administração Pública.
Até então, o número de organizações participantes ainda era bastante restrito, mas com o lançamento,
em 1998, do Prêmio Qualidade do Governo Federal esse número cresceu significativamente. O número
de adesões saltou de 88 organizações (Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário das esferas federal,
estadual e municipal), em 1998, para 645, em 2000 (Brasil, 2000a; Brasil, 2000b).
Os dados indicam que cerca de 60% das organizações respondentes aderiram ao PQSP a menos
de dois anos e meio e 30% a menos de um ano e meio, o que pode indicar insuficiente maturidade na
assimilação dos princípios da qualidade preconizados pelo PQSP. O processo de mudança
organizacional requer muitas vezes um tempo significativo para a absorção de novos valores e o
respectivo reflexo no comportamento e atitudes cotidianas das pessoas. A literatura enfatiza o fator
tempo, geralmente de cinco a oito anos, para a obtenção de resultados significativos a partir da
implementação da TQM (Cohen, 1993; Koehler e Pankowski, 1996, Carr e Littman, 1992). A adoção
da TQM fracassa, segundo Clark (1995), porque, além de esperarem resultados muito rápidos, as
organizações não utilizam medidas apropriadas na verificação do progresso do desempenho.
A Figura 2 relaciona o tempo de participação das organizações no PQSP com a “escala de
balanceamento”. Os dados revelam tendência ao balanceamento dos SMD na medida em que aumenta
o tempo de participação no PQSP.
O resultado da análise da variância, ANOVA, confirmou que o tempo médio de participação
junto ao PQSP de cada classe da “escala do balanceamento” é estatisticamente diferente em relação a
todas as classes (F 5,735 > 2,21 e significância 0,000). Pode-se afirmar, então, que quanto mais tempo
a organização participa do Programa mais balanceado é o SMD, ou seja, mais medidas financeiras e
não-financeiras são utilizadas nas diversas áreas do desempenho. Isso significa dizer que um melhor
desenho do sistema de medição de desempenho organizacional sofre influência relativa do tempo de
adesão ao PQSP.
Conclusões e recomendações
Dentre as características dos SMD apontadas pela literatura, investigou-se a questão do uso
balanceado de medidas nas diversas dimensões do desempenho e as principais conclusões foram:
a) deficiência no uso de um conjunto de medidas financeiras e não-financeiras é apontada na literatura
como um importante motivo do fracasso no esforço de medir os resultados organizacionais e de
subsidiar a tomada de decisão estratégica;
b) a maioria das organizações realizava medições sistemáticas do desempenho organizacional;
c) a quase metade, no entanto, não dispunha de um sistema de medição balanceado nas dimensões
financeira, dos clientes, dos processos internos e da aprendizagem e crescimento organizacional e
d) os dados sugerem que, em média, quanto mais tempo de adesão ao PQSP mais balanceado tende a
ser o sistema de medição de desempenho.
Com efeito, em se tratando de organizações públicas brasileiras submetidas a um recente e
inconcluso processo de reforma administrativa, os resultados obtidos na pesquisa, aqui sintetizados, são
animadores. O fato de as respondentes participarem voluntariamente do PQSP, provavelmente
contribuiu para uma configuração mais completa dos sistemas de medição de desempenho. No entanto,
a ausência de um conjunto balanceado de medidas nas dimensões críticas para um melhor desempenho
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nas organizações respondentes aponta uma fraqueza em relação à vivência dos princípios da qualidade
norteadores do PQSP.
Os efeitos práticos da referida pesquisa resultaram nas seguintes sugestões:
a) necessidade de realização de pesquisas empíricas, inclusive qualitativas, sobre o design e o
gerenciamento dos SMD. Poderiam ser comparadas as práticas de medição de organizações
participantes com as não-participantes do PQSP, aprofundando os indícios obtidos no estudo quanto à
influência do PQSP no aperfeiçoamento dos sistemas de medição;
b) complementação dos critérios de avaliação da gestão pública estabelecidos pelo PQSP no que se
refere a uma melhor conceituação dos elementos constitutivos e das características normativas
desejáveis de um SMD consoante os objetivos do PQSP;
c) pesquisa, desenvolvimento e disponibilização de modelos para medição de desempenho baseado na
literatura internacional às organizações participantes do PQSP. Esse material viria suprir as deficiências
metodológicas assinaladas pelos respondentes, em especial quanto ao uso de medidas não-financeiras e
subsidiar o planejamento, desenvolvimento e implementação de um sistema de medição global,
adequado às contingências específicas de cada grupo e
d) montagem de um banco de dados com as principais medidas e indicadores utilizados com sucesso
pelas diversas organizações do PQSP, acompanhado de metodologia, o qual serviria como parâmetro
comparativo e benchmark.
A conscientização da alta administração sobre a importância da medição do desempenho e do
potencial para a melhoria da gestão é fundamental, visto que um sistema de medição de desempenho
reflete o modo de gerenciamento da organização. Os resultados da pesquisa sugeriram, a partir do
conhecimento das medidas utilizadas pelas organizações, que determinados princípios do PQSP talvez
não estivessem totalmente internalizados, porquanto ainda não haviam sido traduzidos em um conjunto
de medidas que reportassem os progressos da organização. No caso de uma gestão por resultados,
como é a proposta do PQSP, as medidas utilizadas precisariam traduzir as prioridades da organização
em termos da satisfação de seus clientes, da qualidade dos serviços e produtos oferecidos, da redução
dos desperdícios, da motivação de seus servidores e funcionários e do impacto de suas ações sobre os
beneficiários que justificam a sua existência.
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Síntese Biográfica
Cargos anteriores:
• Diretora do Departamento de Planejamento do Governo do Distrito Federal;
• Auditora do Departamento de Auditoria do Governo do Distrito Federal;
• Assessora da Secretaria de Fazenda e Planejamento do Distrito Federal.
Endereço: SHIGS 713, Bloco Y, casa 03. CEP: 70.380-725. Brasília - Distrito Federal , Brasil.
Telefones: 55 61 2454495 ou 55 61 3434040
E-mail: galvaobsb@terra.com.br; lgalvao@fazenda.df.gov.br
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Trabalho
Clientes Capital Sistema Bens
Fornecedores organizacional Clientes
Energia
Vendedores Serviços
Etc. Material Processo adiciona
valor
Informações
Inovação Qualidade de
vida no trabalho
Eficiência Eficácia
Produtividade
Lucratividade
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Melhoria da produtividade x x x
Crescimento da receita x x
Retorno sobre investimento x
Retorno sobre o PL x
Utilização de ativos x
Pesquisa de satisfação dos clientes x x x
Freqüência da pesquisa ≤ anual ≤ anual ≤ anual
Qualidade do serviço/produto x x x
Do cliente
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100
80
Média de meses de adesão ao PQSP
60
40
20
0
Não balanceado Pouco balanceado Relativ. balanceado Balanceado
Px. a não balanceado Medianamente balanc. Px. a balanceado
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