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A REABILITAÇÃO PSICOSSOCIAL COMO PROPOSTA DE CUIDADO PARA

PESSOAS EM SITUAÇÃO DE RUA

Thiele Duarte Reis1

RESUMO: Este artigo é um relato de experiência sobre o acompanhamento de dois casos de


pessoas em situação de rua, a partir da minha vivência como assistente social residente em
saúde mental pela Escola de Saúde Mental do Rio de Janeiro. Fontes primárias do Ministério
da Saúde e de movimentos sociais e fontes secundárias sobre reabilitação, autonomia,
território, vulnerabilidade, intersetorialidade e cuidado foram usadas. A observação
participante e os registros do cotidiano da residência no diário de campo também foram
instrumentos para coleta de dados. Ressalto a potência de pensar a Reabilitação Psicossocial
no cuidado da pessoa em situação de rua.
Palavras chave: População em situação de rua. Reabilitação psicossocial. Cuidado em rede.

1 INTRODUÇÃO

Este artigo foi produzido como um dos requisitos para o título de especialista à nível
de residência em saúde mental pela Escola de Saúde Mental do Rio de Janeiro2. Trata-se de
um relato de experiência em que pretendo expor minha vivência como assistente social
residente, desenvolvendo uma aproximação entre teoria e prática apresentando fragmentos da
minha experiência prática tendo como fundamentação um aporte teórico.
Utilizei como base para este trabalho a observação participante (MINAYO, 2006)
sobre a experiência do treinamento em serviço no período de março de 2014 à março de 2016.
Sobre a experiência, Bondía (2002) vai conceituar como “tudo que nos passa, nos acontece, o
que nos toca” a partir da vivência. Como recursos de registro do cotidiano e de fonte primária
para esse texto, foram utilizados meus seminários e sessão clínica, diário de campo e
anotações.
O objetivo é pensar uma melhor articulação da teoria com a prática e sua relação com
as normativas e diretrizes do Ministério da Saúde. Penso, ainda, que é importante registrar e
analisar as diferentes estratégias de intervenção na realidade, bem como construção e
sistematização de conhecimento, tendo em vista a necessidade de produção do conhecimento
e de educação permanente. A partir da busca na base Scielo de artigos acadêmicos sobre
“relatos de experiência de profissionais da saúde” me deparei com poucas referências
metodológicas para este trabalho. Nesse sentido, aponto que ou tem se debruçado pouco sobre
o registro e sistematização do conhecimento, ou pouco tem sido publicado sobre este tema.

1
Assistente social residente em saúde mental pela Prefeitura do Rio de Janeiro/ Instituto Municipal Philipe
Pinel/ESAM-escola de saúde mental.
2
Instituto Municipal Philippe Pinel.

6
Ou seja, como se trata de um momento inicial relevante na produção de sistematizações da
prática sob autoria de profissionais imersos em cotidiano complexo, a pouca produção pode
indicar a dificuldade de se incluir no seu processo de trabalho a escrita sobre o cotidiano em
que se opera sua prática profissional.
O levantamento bibliográfico seguiu com as noções de reabilitação psicossocial
(SARACENO, 1999; DESVIAT, 1996; HIRDES; KANTORSKI, 2004; NASCIMENTO,
1996), autonomia (ONOCKO CAMPOS; CAMPOS, 2006 apud FIGUEIREDO E FURLAN,
2010 ), território (SANTOS, 2001), vulnerabilidade (FIGUEIREDO; FURLAN, 2010;
LAURELL, 1992) e intersetorialidade (CRUZ e FERREIRA, 2007) e cuidado (PRATA,
2004)

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA PRELIMINAR


A minha inserção como assistente social residente em saúde mental e o
acompanhamento de usuários em situação de rua ou com forte relação com a rua se deu
através de diferentes serviços da saúde mental do Município do Rio de Janeiro. Durante meu
percurso na rede de atenção psicossocial tive como um dos meus cenários de prática o Centro
de Atenção Psicossocial Infanto Juvenil3 em que tive a oportunidade de acompanhar uma
jovem de 174 anos, negra, solteira, ensino fundamental completo, sem filhos, usuária de
drogas, com histórico de abuso sexual e relatos de “prostituição”5. Ela passava grande parte
do tempo na rua, ficando dias sem retornar para casa. Segundo vizinhos e alguns profissionais
de saúde, G. passa por algumas “cracolândias”, mas sem fixar-se em nenhum local.
A partir de um caso complexo como este percebi a potência do trabalho intersetorial,
no território e o compartilhamento com a rede. Com a preocupação de realizar um cuidado
integral à usuária, esta era acompanhada pelo Centro de Atenção Psicossocial Infanto Juvenil,
Clínica da família, Consultório na Rua, Conselho Tutelar e Centro de Referencia
Especializado em Assistência Social.
O acompanhamento da jovem no território e o compartilhamento do cuidado me
ajudaram a priorizar a intersetorialidade e as intervenções no território como foco neste
trabalho. A prática do cuidado no território é uma marca da atenção psicossocial. Corroboro
com o conceito de Milton Santos (2001) quando diz que

3
CAPSi localizado em Piedade, zona norte do Rio de Janeiro.
4
Na ocasião a usuária tinha 17 anos.
5
O termo mais adequado é exploração sexual infanto-juvenil.Esse segmento etário trata-se de indivíduos em fase
de desenvolvimento, portanto com limites para tomar decisões que envolvam esse tipo de escolha.

7
O território é o chão e mais a população, isto é, uma identidade, o fato e o
sentimento de pertencer àquilo que nos pertence. O território é à base do trabalho,
da residência, das trocas materiais e espirituais da vida, sobre os quais ele influi.
Quando se fala em território deve-se, pois, de logo, entender que se está falando em
território usado, utilizado por uma dada população (SANTOS, 2001, P.96 e 97).

Acompanhar um usuário no território de forma itinerante, em outras palavras, transitar


com um usuário pode ser modo de produzir o cuidado, uma estratégia de atenção integral,
prevista nas diretrizes do Sistema Único de Saúde. Esse cuidado pode se materializar quando
servimos de intermediários entre o usuário e as atividades, dentro e fora de um serviço,
oferecer um espaço de escuta e realizar agenciamentos que não são possíveis para o usuário
realizar por conta própria. A partir desse e outros casos pude repensar formas de cuidado
compartilhado entre políticas sociais, entre sujeitos estratégicos no território, que em situações
complexas como esta é essencial.
O acompanhamento pode vir associado ao deslocamento espacial a partir de um
questionamento ético, político e teórico em conformidade com os princípios do SUS e
alinhado às propostas da reforma sanitária e psiquiátrica, pensando em que medida o
acompanhamento6 de usuário no território, por exemplo, pode contribuir para o cuidado em
saúde. O deslocamento em si não garante ruptura com as “lógicas hegemônicas, normativas e
reducionistas que as atuais políticas publicas de saúde mental e atenção básica visam
combater”(LEMKE e SILVA, 2011, pag 981), pelo contrário, podem ser instrumentos de
vigilância do aparelho estatal, por isso o cuidado de pensar como se dão essas práticas, a
partir de que lógica. Circular pelo território acompanhando um usuário não é necessariamente
uma pratica emancipadora.
O conceito mais abrangente de reabilitação psicossocial visa produzir oportunidades
àqueles que possuem algum grau de inaptidão, uma desvantagem, ou seja, visa minimizar
essas desvantagens. Está relacionado a produzir mudanças no ambiente tendo em vista melhor
qualidade de vida do usuário (HIRDES; KANTORSKI, 2004).
A proposta da Reabilitação psicossocial é um processo de reconstrução em três pontos
importantes: a casa, o trabalho e a rede social (comunidade e/ou família), partindo da idéia de
exercício da cidadania e contratualidade (SARACENO, 1996 apud NASCIMENTO, 1996, p.
27-30).
Desviat (2000) faz interessantes considerações à respeito do livro Libertando
identidades: da reabilitação psicossocial à cidadania possível de Saraceno (1996). O autor

6
Entendendo acompanhamento como “estar junto” com o usuário onde se estabelecem suas relações sociais e
materiais.

8
fala sobre a noção de casa que para Saraceno não é “estar”, mas sim “habitar”, “um lugar
aonde residir”, em outras palavras, é
Un conjunto de experiencias concretas de re-adquisición y reaprendizaje del uso de
los espacios, de La posisibilidad de recuperar el tiempo siguiendo líneas no
institucionalizadas, de La capacidad del uso de los objetos y oportunidades de la
vida cotidiana y también la posibilidad de re-visitar la propia casa pasada, las
raíces de los lugares, la memória y las imposibilidades.(DESVIAT, 2000)
Sendo assim, não se sustenta o hospital psiquiátrico, nem qualquer outra instituição total.
Para Desviat (2000), a reabilitação deve facilitar a criação de lugares para se viver.
“Dormir, comer, amar, caminar, hablar, trabajar: Todo eso es nuetra vida cotidiana, la
grandiosa banalidad del vivir, intercambiando afectos y mercaderías” (SARACENO apud
DESVIAT, p. 80, 1996). Desviat (2000) discorre sobre a rede social como um espaço de troca
e Saraceno (1996) utiliza a comparação de Rotelli para dizer que um lugar de cidadania por
excelência seria como um mercado árabe onde ocorre livre intercâmbio de identidades,
objetos e pertencimentos que configuram a rede social. Esses mercados são centros que
agregam todas as pessoas e suas diferenças, quando “os muros são derrubados” as pessoas que
precisam de algum tipo de atenção podem circular misturadas (nos serviços de saúde e na
vida). É lembrado que a história da saúde publica é marcada pelo confinamento, pela
segregação, demarcando uma “linha divisória”: A lepra, o HIV, usuários de drogas, pessoas
com transtorno mental, “moradores de rua”.
Usuários que não têm domicílio não se enquadram na rede formal, questionam essa
rede, pedem certa inventividade no cuidado, colocam em xeque nosso saber prévio. Eles
transitam por diferentes serviços, utilizam suas redes informais para responder às
necessidades objetivas e subjetivas da reprodução da vida.
A abordagem psicossocial vai considerar a historia de vida que é marcada pelas
relações em rede, seja ela familiar, social e/ou comunitária. O usuário mantém uma rede
informal que é essencial para sua “sobrevivência” na rua, pessoas com quem ele pode contar,
lugares aonde pode se alimentar e fazer sua higiene pessoal, como tomar banho.
Os serviços devem “adaptar suas ofertas” às demandas dos usuários e não o contrario.
Para tal, é importante estar aonde as pessoas vivem, no território, funcionar pensando na
cidade. Lancetti (2009) vai falar sobre experiências clínicas fora do consultório, destinada às
pessoas que não se adaptam a clinica tradicional, como os toxicômanos. Ele chama de clinica
peripatética, realizada em movimento.
No âmbito da saúde pública, a reforma sanitária foi fundamental para forjar essa
concepção ampliada de saúde. Para Laurell (1992) há evidências das limitações da concepção
puramente biológica da doença, esta é um processo de caráter histórico e social, logo o

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processo saúde -doença é também social. Segundo a autora a melhor maneira de comprovar o
caráter histórico do processo saúde-doença é conferindo à coletividade e não à casos clínicos
individuais. Ela ressalta que há um "modo característico de adoecer e morrer nos grupos
humanos.” (LAURELL, P. 3, 1992). O perfil patológico7 acompanha a dinâmica da
sociedade, como o grau de desenvolvimento das forças produtivas e grau de exploração do
trabalhador, por exemplo, e as sociedades que diferem em desenvolvimento e organização
social também devem apresentar patologias diferentes.
Em uma sociedade de classes, como a nossa, com diferentes níveis de estratificação
social as classes que compõem determinada sociedade apresentarão condições de saúde
distintas. O conteúdo da autora acima citada pretende alertar para a relação entre
vulnerabilidade social e a saúde que fica mais clara no adoecimento coletivo de classes sociais
determinadas, como no caso da população em situação de rua. A vida nas ruas tem suas
peculiaridades podendo acarretar uma série de problemas de saúde, devido ao “aumento da
exposição a risco de doença, como vulnerabilidade às violências, ingestão de alimentos e água
contaminados, variações climáticas extremas e muitos outros”. (MINISTÉRIO DA SAÚDE,
2012)
É possível afirmar, ainda, que esse público está em situação de vulnerabilidade social,
entendo “vulnerabilidade” àquele que esta fragilizado na garantia jurídica do seu direito. Esse
entendimento de vulnerabilidade na realidade atual pode nos remeter às pessoas ou grupos
que estão mais expostos e suscetíveis a determinadas situações de risco. Na verdade a
vulnerabilidade surge numa tentativa de superar a lógica do risco, que tende a individualizar
responsabilizando somente o individuo por sua situação o que pode resultar em estigma e
preconceito. (FIGUEIREDO ; FURLAN, 2010)
A partir dessa experiência, acredito que prática intersetorial nos mostra que casos
complexos pedem diálogo com outros setores e necessitam de intervenções e abordagens
também complexas. A noção de rede tem implícita a integralidade/totalidade, não é possível
pensar integralidade sem o trabalho em rede. No entanto, a idéia de rede também pressupõe
correlação de forças, ou seja, que há interesses distintos entre os atores e uma disputa de
poder. No dia-a-dia dos serviços é preciso conviver com outras políticas sociais públicas
como a política de assistência social, entre outras, a Justiça, entendendo também que cada
uma tem sua competência/lugar na rede e seu entendimento sobre determinado fenômeno e
construir um dialogo possível.

7
Considera-se o tipo de patologia e a freqüência de determinado grupo em dado momento (expectativa de
vida).(LAURELL, 1992)

10
O Projeto Casulo apud Cruz e Ferreira (2007) define rede como “um sistema capaz de
reunir e organizar pessoas e instituições de forma democrática (...) fortalecendo os atores
sociais tanto na defesa de seus projetos quanto na melhoria da qualidade de vida em suas
comunidades.” Para tal, é necessário trabalhar com a lógica do compartilhamento do cuidado
(e não do encaminhamento) a fim de construir um trabalho em rede entendendo que “nenhum
serviço pode resolver todas as necessidades de cuidado em saúde de todas as pessoas em um
determinado território” (CRUZ e FERREIRA, 2007). Milton Santos (1994) vai dizer que o
território é resultado e produto histórico das necessidades e interesse humanos, sendo sempre
"um campo de atuação do poder publico, privado, governamental e não governamental,
sobretudo, populacional” (SANTOS, P. 89,1994).
A “rede não está pronta em algum lugar” e basta ir lá acessá-la, embora haja diferentes
serviços de variadas complexidades para situações clínicas diversas é preciso entender que a
rede é tecida por pessoas para pessoas. É o conjunto de ações de cuidado acionada para as
pessoas, assim a rede se tece e é tecida, construída a partir da demanda dos usuários e das
possibilidades de cada território
O acolhimento esta entre ações do cuidado que é entendido como "ato de acolher",
"receber com cortesia", tomando em consideração e escutando atentamente a pessoa que
procura o serviço para prestar cuidados relativos à sua problemática sócio-existencial e de
saúde mental. Há uma variedade de atendimentos como a psicoterapia, visita domiciliar,
atividades de apoio social, entre outros, dependendo então da demanda de cuidados à saúde
mental de cada usuário, das condições concretas de intervenção da equipe multiprofissional e
dos recursos terapêuticos disponíveis. Para Lancetti (2009) acolhimento é uma "maneira de
escutar o sofrimento daquele que precisa"

3 CARACTERIZAÇÃO DA POLÍTICA NACIONAL PARA POPULAÇÃO EM


SITUAÇÃO DE RUA
A Política Nacional para a População em Situação de Rua (2009) auxilia a pensar que
há uma proposta intersetorial, dada as múltiplas determinações do fenômeno, proposta por
representantes da sociedade civil oriundos de movimentos organizados a fim de que se atenda
de forma ampla as necessidades das pessoas em situação de rua.
A intersetorialidade das ações é um dos princípios da Política Nacional para
População em Situação de Rua visando à garantia da “igualdade de condições para o acesso à
educação, à saúde, ao trabalho, à moradia, ao lazer, à segurança, à previdência social e à
assistência social” e reforça em suas diretrizes a formulação de “políticas públicas de saúde,

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educação, assistência social, habitação, geração de renda e emprego, lazer e cultura, realizadas
de forma transversal e articuladas entre as esferas de governo federal, estadual e
municipal”.(POLÍTICA NACIONAL PARA POPULAÇÃO DE RUA, 2009)
Há certo consenso na caracterização de pessoas em situação de rua que vai dizer
existem múltiplos fatores que conduzem pessoas à estarem nas ruas. Para Silva apud Política
Nacional para População de Rua (2009) a população em situação de rua é um grupo
heterogêneo que tem em comum a fragilidade ou rompimento dos laços sociais e/ou
comunitários, sem moradia convencional regular (grifos meus). A autora aponta, ainda que
fatores biográficos como transtornos mentais, perdas de membros da família, abuso de álcool
e outras drogas, dificuldade de estar no mundo do trabalho e ausência de renda e propriedade
são elementos que podem levar pessoas a estarem nas ruas. Ressaltando que o fenômeno não
se explica a partir de um único elemento, mas que existem pontos que se destacam em um
conjunto de determinações (SILVA, 2006).
Segundo o Manual sobre o cuidado junto à saúde a população em situação de rua
formulado pelo ministério da saúde (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2012) as propostas para a
atenção das pessoas em situação de rua tem uma história intersetorial. O documento relata que
entre 1970 e 1980 a pastoral do povo da rua oriundo da Igreja católica fomenta a organização
dessa população em grandes centros urbanos do Brasil, como São Paulo e Belo Horizonte.
Essas iniciativas da Igreja implantaram casas de assistência a essa população e organização de
movimentos sociais com representação popular, com destaque para organização de catadores
de material reciclável. (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2012). No final dos anos 1990 e começo
dos anos 2000 foram realizados fóruns para debate e manifestações públicas sobre a
população em situação de rua. Após a chacina na Praça da Sé em São Paulo, em que foram
assassinadas sete pessoas que dormiam no local, iniciou-se uma mobilização entre
representantes das principais capitais do Brasil para um movimento nacional. Em dezembro
de 2009 foi instituída a Política Nacional para Pessoa em Situação de Rua8, durante encontro
do presidente Luiz Inácio Lula da Silva com a população de rua. Instituiu também o Comitê
Intersetorial de Acompanhamento e Monitoramento dessa política. Muitas conquistas no
âmbito das políticas publicas para pessoas em situação de rua é fruto da organização e
mobilização do próprio movimento social. (movimento nacional da população de rua, 2009).
Apesar de todo avanço do Estado brasileiro, de reconhecimento dessas demandas
expressas nas resoluções e normativas, isso não tem sido observado com muita efetividade na

8
A partir do decreto presidencial nº. 7053 de 23 de dezembro de 2009.

12
prática. No Rio de Janeiro, as principais resposta do Estado tem sido o abrigamento
desterritorializado, recolhimento e internação forçada.
As chamadas “cracolândias”, pela mídia, são locais de concentração de pessoas que
tem a rua como espaço de moradia para supostamente fazer uso de drogas. Em 2011, no Rio
de Janeiro, foram utilizadas os “acolhimentos compulsórios”, a princípio voltadas para
crianças e adolescentes, no entanto tiveram grande contestação de grupos de direitos humanos
e da comissão de direitos humanos da assembléia legislativa do Rio de Janeiro. Apesar do
termo de ajustamento de conduta9 firmado pelo Ministério Publico/RJ em maio de 2012 que
afirma que o município compromete-se de abster-se de qualquer prática de “remoção
compulsória ou involuntária da população adulta em situação de rua” em outubro do mesmo
ano as medidas de remoção e internação contra vontade dessa população foram ampliadas.
(BOUTEUX, 2012).
O cuidado deve ser para a rede de saúde de uma forma geral, inclusive porque não há
um “especialismo” no trato de pessoas que estão nas ruas e o cuidado não deve se restringir a
um ou outro serviço. Aliás, se as “pessoas sem domicilio” tivessem acesso aos serviços
públicos, incluindo os serviços de saúde, não haveria necessidade de “serviços
especializados”, como consultórios na rua. O ideal é que todos os usuários sendo ou não
domiciliados, com ou sem documentação tenham acesso ao Sistema Único de Saúde.
Prata (2004) insere uma noção de cuidado como conviver com a desorganização, lidar
com situações dramáticas , conflitos ou " procurar exaustivamente pequenos gestos delicados
de contato com pessoas solitárias, para quem a vida não faz sentido há muito tempo."É
possível entender o convívio como o atendimento das demandas e acolhimento das mesmas. É
necessário delicadeza para o cuidado, já que
Todo cuidado é uma espécie de artesanato: não pode ser feito em série. Trata-se de
um laço singular que se tece um a um, sem exceção(...). Diferentemente dos
demais, esses pacientes muitas vezes não pedem ajuda, e até mesmo parecem recusá-
la; contudo, ao contrário do que se pensa, são particularmente sensíveis ao vínculo e ao
cuidado.(Ministério da saúde, P.23,2004)
Afinal, não se pode cuidar quando não se escuta, nem se conhece. Para tal enfatizo a
importância da escuta, do contexto do dispositivo, da conjuntura político-social a níveis
macro e micro assim como da história de vida da clientela como dados que podem contribuir
para leitura da realidade e interferir na atuação profissional.
A concepção que se tem sobre as pessoas em situação de rua vai refletir no acesso
delas aos serviços públicos, caso não sejam considerados cidadãos ou de “segunda classe”,
logo não terão os mesmos direitos à saúde que os domiciliados, e para eles haverão serviços

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Cláusula 7 inciso segundo.

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específicos no sentido de segrega-los. É preciso lembrar que estes serviços não foram criados
com a intenção de restringir o acesso a determinados espaços e/ou serviços, mas sim com a
proposta de minimizar as desigualdades e desvantagens históricas entre determinados grupos
sociais como as pessoas em situação de rua, tendo a equidade como horizonte.
A atenção Psicossocial tem em seus pilares o conceito de autonomia que segundo
Onocko Campos & Campos, 2006 apud Figueireido e Furlan, 2010, se alude à capacidade dos
sujeitos de compreenderem e agirem sobre si mesmos e sobre seu contexto, considerando sua
rede de dependências. Pois, a vida em sociedade implica heteronomia, isto é, a existência de
leis, regras e princípios sugeridos ao coletivo e sem os quais uma sociedade não se sustentaria.
Entretanto, maior ou menor grau de autonomia em relação a sua vida e escolhas não depende
somente do sujeito, mas de uma série de fatores agrupados. Estes são resultado de condições
externas a esse sujeito como a cultura, conjuntura política, relações interpessoais e familiares,
organizações e instituições nas quais o sujeito se insere.
Além dos aspectos subjetivos como sua capacidade de lidar com conflitos e
frustrações, assim como sua relação com outros sujeitos. A autonomia requer dos sujeitos
lidarem com situações de adversidade e seus limites, além disso, o desenvolvimento de
maiores ou menores graus de autonomia não depende apenas do individuo, mas sim de uma
série de fatores externos ao sujeito, como a cultura, o contexto político, as organizações e/ou
instituições que se encontra inserido e as relações sociais que mantém e como o sujeito se
posiciona diante dos conflitos. A constituição de “bem estar social” de um sujeito depende da
sua inserção social, bem como da rede de apoio com a qual ele pode contar. E também elencar
o próprio sujeito como co-responsável por sua situação.
Para Castoriadis, (1992 apud Figueireido e Furlan, 2010,p.164) a “autonomia se cria
exercendo-a, que pressupõe que, de certa maneira, ela preexiste a ela mesma”. Isso não quer
dizer que se deva reproduzir uma lógica de responsabilização individual pela sua
condição/situação, mas deve ser apontado que há papel ativo dos sujeitos no sentido de
invenção de possibilidades de vida, o que significa que há uma co-responsabilidade pela
“gestão” de si que encontra limites individuais e culturais.
Segundo Sennett (2004) apud Figueireido e Furlan (2010) ser autônomo “envolveria a
capacidade de entender e tratar os outros de forma diferente de si mesmo, compreendendo que
a distinção confere autonomia a si aos outros” (p 166). Assim, implicaria além de pensar em
si mesmo pensar no outro, refletir sobre a alteridade. Também é papel da reabilitação
psicossocial trabalhar com a minimização do estigma e do preconceito sofrido por portadores

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de desordem mental e pessoas que tem a rua como moradia. Segundo Hirdes e Kantorski
(1999) a reabilitação psicossocial visa
Promover eqüidade e oportunidade, seus proponentes estão
empenhados na organização,legislação,profissionalização,
qualidade de cuidado e garantia dequalidade de vida
organização familiar e suporte, autoajuda,participação
educacional e promoção de esforçospara fortalecer
serviços, expansão de serviços, pesquisa e desenvolvimento
dos sistemas existentes.(HIRDES e KANTORCKI, 1999.
P.218)
Saraceno (1999) pensava na desinstitucionalização de pessoas com transtorno mental a
partir da experiência da reforma psiquiátrica italiana. Assim como o hospital psiquiátrico a
rua também pode tornar-se um espaço de coerção, restrição e violência e, de forma
contraditória, de sociabilidade e de um certo tipo de liberdade. Trazendo as contribuições da
reabilitação psicossocial para pensar a população em situação de rua é preciso fazer uma
conexão/link dessa população com o território e seus serviços públicos, a fim de que haja
oportunidade de trocas e que possibilite aumentar a contratualidade das pessoas que estão nas
ruas.
A implantação de consultórios na rua é fruto da criação de uma política publica do
ministério da saúde voltada para população em situação de rua que elege como proposta de
trabalho a redução de danos e a atenção psicossocial. O consultório na rua, um dos meus
cenários de pratica na residência, desempenha atividades in loco, de forma itinerante com
ações compartilhadas e integradas às unidades básicas de saúde e muitas vezes com os CAPS,
serviços de urgência e emergência, entre outros, de acordo com a necessidade que cada caso
traz, promovendo acesso ao SUS. Algumas vezes a questão do álcool e outras drogas
atravessa o cotidiano de muitas pessoas em situação de rua, no entanto a droga não é foco do
trabalho, mas sim o cuidado de uma forma ampliada.
Os serviços territoriais buscam estar junto com usuário não pela segregação, proibição
ou abstinência. No acompanhamento dos usuários do SUS a redução de danos é uma política
e pratica de saúde pública que visa minimizar os efeitos do uso de drogas. Como prática esta
“está em franca sintonia com todas as experiências sanitárias que buscam a defesa da vida”
(LANCETTI, 2009, p.77).
É importante que a clínica seja atravessada por essa prática a fim de que características
moralizadoras diminuam, assim como o estigma. Lancetti (2007) aponta que a redução de
danos é uma pratica muito delicada, traz um rótulo, mexe com aspectos muito íntimos da
vida de cada um, o uso de drogas e a sexualidade. Tornou se um paradigma ético, político e
clínico em resistência ao modelo manicomial e proibicionista.

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Considerando que as desigualdades econômicas, culturais e sociais manifestam-se
sobre o processo de saúde e doença dos indivíduos e populações. Isto é, as pessoas que estão
em mais precárias condições de vida e vulnerabilidade, tendem a viver menos e adoecer mais.
Engels (1975) já considerava os determinantes sociais das doenças quando analisa a situação
da classe trabalhadora na Inglaterra.O autor afirma que
O relatório sobre o estado de saúde das classes trabalhadoras contem indicações
que apontam este mesmo facto. Em Liverpool, a duração media da vida em 1840
para as classes superiores (gentry, professional men, etc.) era de 35 anos, a dos
homens de negócios e dos artesãos abastados, 22 anos, a dos operários, jornaleiros
e domesticas em geral de apenas 15 aos 23. Os relatórios parlamentares contem
muitos dados análogos.(ENGELS, P.. 135, 1975)

É possível afirmar que as relações sociais de produção e o território como elas se


dão tem influencia direta no modo de viver e morrer das diferentes classes sociais.
Fazendo uma intersecção com a realidade brasileira as atuais políticas adotadas por
estados como Rio de Janeiro visam o controle de grupos mais vulneráveis classificando como
“doentes mentais” em que a única intervenção possível é “ médica” ou “policial”.
(BOITEUX, 2013). Em um primeiro momento há uma associação direta entre população de
rua e usuário de drogas o que não verdadeiro, pois nem toda pessoa que esta em situação de
rua faz uso de drogas e o contrario também é verdadeiro. No entanto, utiliza-se essa
justificativa para o enclausuramento e punição dos pobres e “limpeza urbana” dessa
população das áreas mais nobres da cidade.
Trago como exemplo a experiência do Programa De Braços Abertos, em São Paulo se
trata um modelo de enfrentamento à fragmentação no cuidado de pessoas em situação de rua,
que procura ocupar um hiato aonde a rede deveria funcionar. Em outras palavras, é uma forma
de dar conta da “conversa” que a rede não faz. É uma proposta de trabalho intersetorial e
intersecretarial que se guia pelos princípios da baixa exigência, housing first10 e acesso a um
conjunto de direitos de moradia, alimentação, trabalho e renda. Além de garantir acesso aos
serviços públicos garante alimentação com três refeições diárias, a hospedagem nos hotéis
conveniados do programa na região e trabalho diário de quatro horas por dia e duas horas de
capacitação.
A tenda do programa De Braços Abertos11, próximo a um grande ponto de
concentração de usuários de crack e outras drogas chamado de “cracolândia” é oferecido à

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Trata-se do conceito de que deve se oferecer primeiramente a moradia.
11
É possível dizer que a grande parte dos recursos e investimentos se concentra naquela área da cidade. Trata
se de uma zona central intensamente assistida, tanto pelo “De Braços Abertos” do município de São Paulo
quanto pelo “Recomeço” que é uma iniciativa do governo do estado com duas propostas de intervenção
diferentes. A primeira mais em sintonia com a proposta de redução de danos e a segunda que propõe a internação

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esse público melhores condições de vida como uso de sanitários, descanso e participação em
atividades culturais, tendo como foco o sujeito e sua história, e não a droga.
No Rio de Janeiro e grandes centros urbanos à população que esta nas ruas e que faz
uso de álcool, crack e outras drogas as comunidades terapêuticas é oferecido tratamento em
comunidades terapêuticas ou centros de reabilitação para dependentes químicos, entre outros
nomes em sua maioria com enfoque religioso. As comunidades terapêuticas retomam a idéia
do asilo que assim como os hospícios são criados para retirar a loucura da cidade a rua
também pode tornar-se espaço de clausura e restrição de determinados grupos ao espaço
urbano reafirmando o estigma de “drogado”, “crackeiro/cracudo” e “mendigo”. É bem claro
que essas pessoas podem circular e ter suas vivências em um lugar restrito da cidade: na
“cracolândia”, no “guetos”, no “fluxo”, preferencialmente locais que não tenham visibilidade
As atuais políticas adotadas em grandes metrópoles como Rio de Janeiro estigmatizam
os segmentos mais pauperizados rotulando-os como “loucos”, “cracudos/drogados” e
“mendigos” e para estes a estratégia utilizada pelo Estado é a segregação que se da muitas
vezes pela internação ou recolhimento. (BOITEUX, 2013). Além disso, associam que toda
pessoa que vive nas ruas faz uso de drogas, o que não é verdade. Essa posição/leitura de
outras políticas como a política de segurança pública e política criminal trabalha com outra
lógica de intervenção que não leva em conta a política/paradigma de redução de danos no
SUS e seus serviços substitutivos como os Centros de atenção psicossocial, consultórios na
rua e estratégia de saúde da família que se propõem a fazer um acompanhamento do usuário
no território, de forma integrada a outras políticas públicas.
A demonização de substâncias é utilizada como justificativa para o apartheid da
população de rua desvia e encobre o debate de uma discussão sobre a estrutura
socioeconômica e política: a criminalização dos pobres. Na verdade, a droga em si não é
responsável, mas sim o uso que cada sujeito e a forma como essa relação é estabelecida.
É importante observar que hoje as pessoas que estão em situação de rua encontram-se
em pauta nas discussões e a compreensão sobre o fenômeno população em situação de rua vai
dar direção à consolidação de políticas públicas. Hoje, observamos projetos políticos distintos
em disputa, ora voltado para a lógica da redução de danos e cuidado no território, ora mais
próximo ao proibicionismo e ao modelo asilar . Nesse sentido, é mister afirmar que a clínica é
inerentemente política e que uma não esta dissociada da outra corroboro com Tedesco e
Souza (2009) ao dizer que “(...) a clínica e a política são duas instâncias que se distinguem,

em comunidades terapêuticas, mais próxima de uma lógica asilar que entende a abstinência como forma de
tratamento e única possibilidade.

17
porém não se separam, devemos sempre nos perguntar que política estamos afirmando quando
adotamos um determinado modo de clínica” (TEDESCO & SOUZA, 2009).
4 ANÁLISE DA EXPERIÊNCIA
A residência é um curso de pós-graduação lato sensu destinado às profissões que se
relacionam com a saúde, sob a forma de curso de especialização caracterizado por ensino em
serviço12, no qual o residente perpassa por diferentes cenários de prática. Isto me deu a
oportunidade de estar em diferentes lugares da rede de saúde e experimentar o lugar de
residente, ao mesmo tempo profissionais e estudantes. Durante os dois anos de formação
trabalhei como residente em serviços que constituem a Rede de Atenção Psicossocial: Centro
de Atenção Psicossocial II adulto, Núcleo de Apoio à Saúde da Família, Centro de Atenção
Psicossocial infanto-juvenil, Centro de Atenção Psicossocial III para usuários de álcool e
outras drogas, Consultório na Rua, Emergência Psiquiátrica, Estágio Externo na
Superintendência de Saúde Mental do Município do Rio de Janeiro e Imersão no Programa
“De Braços Abertos” do município de São Paulo.
Na minha trajetória na residência multiprofissional em saúde mental tive a
oportunidade de acompanhar as histórias de pessoas em situação de rua ou que mantinham
forte relação com a rua. Nestes casos me chamaram a atenção a gravidade/complexidade dos
casos/ histórias, as dificuldades de manejo e articulação com a rede e o acompanhamento
dessas pessoas no território.
No primeiro ano da residência passei pelo desafio de acompanhar uma usuária no
território e entendo que o acompanhamento terapêutico permitiu fazer uma conexão desta
pessoa com o mundo. O Projeto Terapêutico Singular pode ser emancipador ao construir a
possibilidade de ampliar a rede de cuidados, considerar o desejo do usuário e pensar inserções
na vida para além do serviço que o acompanha, possibilitando fomentar a rede de apoio
formal e informal. Assim, o trabalho articulado em rede pode ampliar suas inserções e logo,
potencializar o cuidado. Nesta ocasião propus, em minha sessão clínica, uma reflexão sobre o
papel da família e do CAPS no caso dos usuários com longo histórico de internações
psiquiátricas e frágeis vínculos familiares e comunitários. Conclui, no trabalho, que conhecer
mais de perto a história de vida dos usuários em situação de rua e acolhê-la é essencial para
estabelecer maior vínculo durante o acompanhamento.

12
Portaria Interministerial nº 45, de 12 de Janeiro de 2007 que Dispõe sobre a Residência Multiprofissional em
Saúde e a Residência em Área Profissional da Saúde e institui a Comissão Nacional de Residência
Multiprofissional em Saúde.

18
Para se acolher nossos usuários é necessário englobar suas relações sociais concretas,
como sustento, moradia, transporte, incentivar a troca de relações na comunidade em que se
vive. Digo “acolher” no sentido de obter uma síntese entre subjetividade e objetividade (dar
respostas concretas). Nesse sentido acolher seria “a capacidade de analisar as condições
sociais em que a pessoa esta inserida, (...) para poder traçar estratégias de inserção do
indivíduo no serviço, na comunidade e de acordo com outros contextos na sua vida, com base
em possibilidades concretas”. (BISNETO, 2013: pág. 6).
A Reabilitação Psicossocial (SARACENO, 1999) é uma estratégia de cuidado que visa
ampliar trocas do sujeito com o território. A reabilitação não pretende transformar
“desabilitado” em “habilitado”, mas sim uma série de estratégias a fim de aumentar “as
oportunidades de troca de recursos e afeto”. Não existem habilidades ou des-habilidades
descontextualizadas do território, em outras palavras, do lugar aonde se dão as intervenções e
aonde os sujeitos vivem suas experiências cotidianas. Assim é preciso trabalhar a conexão dos
sujeitos com o território de forma que os usuários sejam afetados pelo território e o contrário
também aconteça, ou seja, se promovam mudanças no território e no processo de
responsabilização do cuidado por parte dos envolvidos.
A partir de fragmentos de dois casos clínicos penso no trabalho em rede e no território
para lidar com casos complexos que pedem diálogo e articulação com políticas públicas.
Proponho que o trabalho intersetorial e transversal em rede seja uma estratégia para lidar com
casos complexos.
4.1 CASO GABRIELA13
Os dados abaixo foram construídos a partir do acompanhamento da usuária realizado
a partir da minha inserção num Centro de Atenção Psicossocial Infanto Juvenil14 e do relato
dos profissionais da equipe que acompanharam o caso de junho de 2014 até dezembro de
2015
G. nasceu em 1998, negra, solteira, sem filhos, completou o ensino fundamental
completo (no momento não esta freqüentando a escola). Sua família reside15 em uma
comunidade na zona norte do Rio de Janeiro. É filha do meio de cinco filhos (três irmãos e
uma irmã), vive com os dois irmãos mais novos, a mãe e o padrasto. O pai é desconhecido.
i
Permanece grande parte do tempo na rua. M. faz uso de múltiplas drogas e se “prostitui”
para seu próprio sustento, de sua família e para uso de drogas.

13
Nome fictício
14
Optei por não citar o nome do serviço a fim de preservar a identidade da usuária.
15
As caracterizações a cerca da população em situação de rua são heterogêneas. Segundo Ministério da Saúde
(2012) o termo considera mais a relação do sujeito com a rua e não apenas a “ausência de moradia”.

19
Segundo a mãe da paciente, por volta de outubro de 2013 ela iniciou o uso de
“maconha, cocaína e loló” e nesse período mantinha um namoro com um rapaz do tráfico.
Após o falecimento desse namorado houve um aumento do consumo destas substâncias.
Algum tempo depois, começou a levantar a saia na rua e agarrar as pessoas de modo
indiscriminado, até que teria passado a sofrer agressões das mulheres da comunidade, por
causa desse comportamento.
A história de G. me fez pensar como certos grupos são tratados como “não cidadãos”,
“elementos perigosos”, ora como “coitados” ora “vagabundos”. A truculência nas
intervenções vem acompanhada, muitas vezes, sob a justificativa de serem usuários de drogas,
logo, no imaginário social seriam pessoas perigosas, “zumbis”, o que os coloca no lugar de
não humanos. Há uma série de rotulações e estigmatizações sofridas por esse público que
Ao serem transmitidos para as gerações seguintes, estes conteúdos, como qualquer
institucionalização, acabam por ser revestidos de um caráter a-histórico, surgindo
como construções simbólicas dadas, inalteráveis e evidentes (BERGER e
LUCKMANN, 1985, p. 85). O ápice da tipificação é a completa apreensão da
pessoa como um tipo, somente pelos aspectos rotulados, negando sua humanidade e
a transformação a ela inerente. A identidade como metamorfose (CIAMPA, 1990),
entendida como uma construção ininterrupta a partir das relações sociais em um
contexto histórico determinado, surge assim sob a aparência de uma identidade
reificada (BERGER e LUCKMANN, 1985, p. 126), manipulada pelas tipificações
externas à pessoa e que, por sua vez, atrofiam sua possibilidade de autonomia.
(MATTOS e FERREIRA, 2004, pag.2)
As rotulações por determinadas populações tratam de enrijecer a possibilidade de
transformação da identidade dos sujeitos. No entanto a identidade esta em constante
movimento, metamorfose.
Pensando nas contribuições de Saraceno (1999) a partir da lógica do território, da
comunidade circundante e da família, como parte desta comunidade, em situação de rua ou
não, pode servir de ponte entre usuários e serviços de saúde. A atuação no território esta
vinculada também ao fomento a participação social e a proposta de transformação do
imaginário social em relação à loucura, drogadição e “o sentido de estar na rua”. No senso
comum “estar na rua” esta muito associado à uso de drogas e “vagabungem”, ao lugar do
“não trabalho”, mendicância. Espaço voltado àquele que não se esforçou o suficiente para ter
uma moradia ou que esta na rua por que quer.
Entro no caso em abril de 2015, junto com uma mini equipe para seu
acompanhamento mais de perto, em que o intuito é intensificar o cuidado. É proposto que eu
me aproxime do caso e comece a realizar visitas semanais a Clinica da Família, com objetivo
de ir com a agente de saúde até a residência de G.
Iniciamos a primeira visita que participo à casa de G., a encontramos na residência,
conversamos com ela pela janela e combinamos sua ida ao CAPSi no dia seguinte, mas ela
20
não atende a porta, nos pede para ir embora e diz que a mãe não está em casa. A agente de
saúde que nos acompanha relata que M. vai à Clínica da Família com freqüência, sempre com
pedidos semanais/quinzenais de fazer preventivo. Cita, ainda, que M. passa dias fora de casa.
Fatores estruturais e/ou bibliográficos podem levar as pessoas às ruas, como
transtornos mentais ou atritos com familiares. Em contextos tão marcados por violências
concretas e subjetivas em espaços marcados por tensões familiares ou poucos recursos de
subsistência, muitos jovens de camadas mais subalternizadas buscam nas ruas melhores
condições de vida ou liberdade. Considerar a rua como local mais seguro ou acolhedor do que
a própria casa não é incomum, mas ir ao encontro de outras formas de violência no espaço
público, com prostituição e tráfico, também ocorre constantemente.
Na semana seguinte retorno à casa de G. com um técnico do CAPSi e a Agente de
Saúde. Conheço sua mãe e esta diz que G. não quer ajuda, que “a gente só pode ajudar quem
quer ajuda”, que ela “é sem vergonha”. Diz que o filho mais velho quem precisa de ajuda, foi
atropelado, está em estado grave e que precisa de cuidados para retornar para casa. Preciso
repetir diversas vezes o mesmo assunto e a mãe relata ter “problemas” na audição.
No final de abril ligo para a mãe da paciente e combinamos de encontrá-la na Clinica
da Família, e ela não aparece. Decidimos ir até sua casa e a encontramos sentada em frente a
residência relatando sentir fortes dores nas costas, mas recusa-se buscar cuidados médicos. G.
estava dormindo e é acordada pela mãe quando sinalizamos a importância das duas irem até a
Clinica da Família. Esse grupo populacional costuma buscar serviços de saúde em situações
emergenciais, quando os sintomas paralisam suas atividades cotidianas, com isso considera-se
que há uma concepção diferenciada de auto- cuidado. (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2012).
Muitos usuários com forte relação com a rua têm dificuldades de acessar os serviços formais
de saúde, com hora marcada e grande burocratização no atendimento16.
Quando chegamos a clinica da família ambas foram atendidas, tento conversar com
G., que muitas vezes não responde imediatamente quando chamada, sorri sem motivo
aparente, olha fixamente para as pessoas e circula pelo serviço. Durante o tempo de espera a
mãe de G. quer ir embora e quando indago o que houve ela diz que não pode esperar e
confessa que algumas vezes finge entender quando “falam difícil” e por não ter entendido o
que enfermeira disse sobre a medicação quis ir embora. Peço que ela me diga o que não
entendeu e ela diz que não sabe que não entendeu nada. Explicamos sobre os horários de
administração da medicação. Converso sobre a importância do acompanhamento de saúde.

16
Muitos serviços de saúde pedem documentação e comprovante de residência, por exemplo.

21
Após a visita domiciliar passou um período sem conseguir contato e isso foi muito
angustiante para mim. Era difícil encontrá-la em casa ou no território. Sua história era sempre
contada por terceiros, eu pouco pude escutar sobre o que se passava pela própria, o que ela
sentia diante daquele contexto.
Em maio foi realizado um encontro para discussão do caso, entre CAPSi ,clínica da
família e NASF, tendo sido decidido junto com a mãe dar entrada a um beneficio
assistencial/Beneficio de Prestação Continuada. A mãe da paciente fala sobre suas
dificuldades no cuidado com os filhos, que não consegue que G. lhe obedeça, nem respeite
decisões. Os serviços se organizam a fim de fomentar ações que beneficiem a família.
Foram realizadas duas idas à agência da previdência social no mês de maio que
mobilizaram a família e com isso pude ter contato com elas por duas vezes. Encontrei com
mãe e filha na estação de trem e G. estavam com a aparência descuidada, precárias condições
de higiene, pedindo comida e cigarro para os transeuntes durante o trajeto. Sorria e fazia
sinais piscando os olhos para os homens na rua. Dentro da agência do INSS, deita se nas
cadeiras, retira o celular da mão de um idoso desconhecido e sorri.
Durante atendimento com a técnica do INSS, a mãe de G. tem dificuldade de
responder as perguntas, diz que não esta ouvindo, enquanto a filha responde em seu lugar
sobre a composição do grupo familiar, de onde advém a renda que eles vivem e acrescenta
que o beneficio do bolsa família é insuficiente. Realizado o cadastro é marcada a perícia em
dois dias com o medico e a assistente social.
Retorno à agência da previdência social para acompanhá-las na entrevista com a
assistente social e esta pergunta sobre o cuidado de G., sua infância e o processo de
adoecimento. Durante muitos momentos no atendimento, a mãe de G. não responde as
perguntas realizadas e G.. fica exaltada com tal situação, pede para responder as perguntas, já
que eram sobre si. Contou que tinha dificuldades de ficar na sala de aula, mas que sabia ler e
escrever, gostava de aprender e que “o problema é ficar parada”, disse ainda, que agora esta
disposta a retornar a escola. A mãe é chamada a responder e diz que foi alcoólatra, que não
queria saber dos filhos, que vivia na rua com homens, mas que isso mudou quando ela passou
a freqüentar uma religião.
Ao fim da entrevista, pergunto a G., o que ela gosta de fazer, como é o seu cotidiano e
ela me conta que pede dinheiro na rua para ir ao restaurante popular, fala suas dificuldades de
alimentação, que anda do Méier até Sampaio, conhece outras pessoas que tem a mesma rotina,
mas que agora quer ir à escola. Na saída da agência da previdência sai correndo e não retorna.

22
Fim de junho G.. vai a unidade de saúde sozinha e relata que deseja parar de usar
drogas, pois “faz mal para saúde”. Ela traz demandas de auto-cuidado, estar na escola e
trabalhar. A vinculação da usuária à pessoas de referencia, o cuidado no território e respeito
aos seus limites no que diz respeito a organização da própria vida, auto-cuidado e uso de
drogas. Nesse período de acompanhamento foi possível ampliar as trocas entre G. e sua
família e a comunidade que vive sua inserção nos serviços sociais, de saúde e educacionais. A
partir de seu próprio desejo a usuária se insere no mundo do trabalho, que amplia sua rede de
relações sociais e se torna uma fonte de renda, para além da mendicância.
4.2 A HISTÓRIA DE JOÃO
Conheci J., 35 anos, pardo, solteiro, segundo grau técnico completo em suas idas à
unidade de saúde a fim de acompanhar um familiar às consultas no serviço de saúde. Os
irmãos tinham a rua “como endereço” após o falecimento dos pais e romper os laços com sua
família17 de origem.
Há cerca de dois anos estava dormindo embaixo de uma banca de jornal na baixada
fluminense, bairro adjacente à unidade em que o usuário é atendido. Local em que estabelecia
relação desde a infância e juventude: O colégio que estudou os dispositivos de saúde,
assistência social e justiça, além das relações “de trocas materiais e espirituais na vida”
(santos, 2001) que se estabeleceram neste local.
Segundo J. uma pessoa teria ficado com sua casa e alugado este bem à outras pessoas,
que se recusavam a sair do local e a pagar o aluguel para ele. Posteriormente me revelou que
se tratava da “ex-mulher de seu pai” como lhe chamava.
Suas principais queixas eram relacionadas à situação de rua, fato repentino e
inesperado, segundo J.. Ele trazia com grande tristeza e grande preocupação com o que as
pessoas achavam por estar nessa condição (naquele momento), de que forma poderia ocultar
esse fato de sua namorada e como se sentia humilhado por estar neste lugar de “morador de
rua”. Para J. a única saída para sair de tal condição seria ganhar na justiça e reaver os bens
perdidos injustamente tomados por sua madrasta. Durante boa parte do acompanhamento ele
se refere como “aquelas pessoas”, fala de alguma relação com a mulher que teria “destruído”
sua vida, colocando a como única responsável por sua situação. Segundo ele, muitas pessoas

17
A definição de população em situação de rua pelo Ministério do desenvolvimento social de Belo Horizonte é
lembrada por Ferrreira (2005) como “grupo populacional heterogêneo, constituído por pessoas que possuem em
comuma garantia de sobrevivência por meio de atividades produtivas desenvolvidas na rua, os vínculos
familiares interrompidos ou fragilizados, e a não referência de moradia regular, (FERREIRA apud MINISTÉRIO
DO DESENVOLVIMENTO SOCIAL, 2005).

23
não sabiam que ele se encontrava em tal situação, sendo clara sua baixa auto estima em
relação a sua condição de vida naquele momento.
O conceito de reabilitação psicossocial segundo Saraceno (1999) supera a cisão
sujeito-contexto social, considerando que o processo de adoecimento não esta descolado do
meio em que a pessoa vive sua família e comunidade. Já foi citado nas páginas anteriores
fatores estressores que contribuem para o adoecimento das pessoas que estão em situação de
rua, como é o caso de J., Perdas de entes queridos, rompimentos, perda de bens materiais que
ocasionam a fragilidade ou rompimento de vínculos familiares são eventos importantes e
estressantes que podem levar a um processo de adoecimento, quando exigido habilidades que
não foram elaboradas pela pessoa. Em pouco período de tempo ele revela ter tido varias
perdas: o falecimento de seus pais, o rompimento de um noivado e a perda de bens.
Ao acompanhar a história de J., um usuário que acompanhei pelo consultório na rua,
me recordo de como ele “internalizava” as rotulações que sofria por parte de transeuntes e
domiciliados. Dizia “a gente quando está na rua não é nada, me sinto ninguém, um nada”, “ah,
se eles soubessem que tenho segundo grau completo”, “preciso fazer faculdade para mostrar
para toda essa gente que sou alguém”. O próprio usuário ressalta que não acreditava estar
nessa situação, pois “tinha diploma”, segundo grau completo, técnico em informática e cursos
na área, mas mesmo assim passava por tantas humilhações, segundo ele, todas eram
decorrentes do fato de estar vivendo nas ruas.
Apesar do pouco período de tempo de acompanhamento percebi uma alteração da sua
posição diante da vida. Ele sempre trazia como única possibilidade de saída da rua o retorno à
casa que foi expulso, que gostaria de voltar “pela porta da frente”, não considerava
abrigamento como uma possibilidade naquele momento. Após suas idas constantes
conversávamos sobre outras possibilidades, já que viver na rua lhe trazia tanto sofrimento.
J. Trabalhava numa banca de jornal e ganhava dinheiro do bolsa família, no entanto
havia pouco pragmatismo e empobrecimento em pensar outras possibilidades de vida que não
estivessem atreladas a reaver os bens. Contava repetidamente sobre suas idas ao fórum, sua
relação com o defensor publico, mas não vislumbrava outra alternativa que não a via judicial
como forma de se reerguer, já que esta situação lhe gerava tanto incomodo. Com o passar do
tempo, surgiu a idéia de alugar um quartinho (enquanto esperava a resposta da justiça) e o
desejo de ser professor de historia. Comparava sua vida com a história de vida de pessoas
conhecidas, famosos, líderes de estado e jogadores de futebol.

24
No final de 2015, J. e seu irmão decidiram que precisavam de um lugar mais seguro
para ficar e decidiu prestar o vestibular para historia, como já demonstrava interesse durante
esse período que o acompanhei.
Apesar de ter um nível qualificação acima da atividade que exercia J. não abria mão de
continuar o trabalho na banca de jornal, local onde estabelecia relações desde a infância. A
partir dos “conhecidos da rua” teve conhecimento sobre o “quartinho” e após esperar por uns
meses conseguiu alugar o local. J. relatou que “o abrigo é pior que a rua”, já que se trata de
uma instituição total, com hora para acordar e dormir e sem poder sair quando deseja. O
acesso à programas sociais associado ao trabalho como jornaleiro possibilitaram alugar um
local para morar.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
As remoções, recolhimentos e internações forçadas são estratégias de segregação,
controle e criminalização dos pobres. Essas ações reforçam o estigma de “loucos”,
“mendigos” e moradores de rua” que colocam essas pessoas à margem dos direitos de
cidadania18 e acesso ás políticas sociais públicas.
Entendo a reabilitação psicossocial como uma forma de prover meios de aumentar
o leque de possibilidades dos sujeitos em desvantagem. É uma forma de construir junto
com essas pessoas a oportunidade de exercer cidadania e buscar autonomia no local onde
vivem, em seu território.
Esse trabalho de conclusão de residência possibilitou minha aproximação do
cuidado a partir da estratégia da reabilitação psicossocial, esta deu sentido a muitas das
minhas intervenções na prática.
A reabilitação psicossocial é uma proposta de cuidado que me auxiliou a entender
conceitos como autonomia, território, cuidado, vulnerabilidade e intersetorialidade, em
que pude agrupar esses elementos e pensar em sua articulação com minhas vivências
práticas durante o período da residência.
Os casos clínicos, isto é, as historias trazidas me ajudaram refletir que na
singularidade há também a totalidade e assim podemos analisar do particular ao
universal. Aliás é importante que isso ocorra a fim de não ficarmos restritos a analises
macro estruturais ou limitados a entender a vida e seus processos no âmbito micro,

18
Segundo Coutinho (1997) as primeiras ideias sobre cidadania surgiram na Grécia clássica , entre os séculos V-IV, que significaria ser
cidadão.Aristóteles apud Coutinho (1997) afirma que cidadão era todo aquele que obtinha o direito e o dever de contribuir na formação do
governo em que esta imerso.Nisso se excluíam os escravos, os estrangeiros e as mulheres. (Coutinho, 1997).

25
familiar e comunitário (sem pensar aspectos políticos e sociais mais amplos) .Vivemos
uma estrutura econômica e política neoliberal no capitalismo, em que as disputas tornam
se mais acirradas e os gastos com o público são orientados para o mínimo tendo que
potencializar a utilização de recursos escassos e disputar o fundo publico.
É fato o desinvestimento em políticas sociais públicas, no entando isso não deve
nos paralisar, mas sim nos estimular a disputar esses recursos e onde serão alocados. A
conjuntura político-economico social em que vivemos não mostra um cenário muito
otimista para as políticas sociais. Diante disso, é importante que haja processos de
resistência por movimentos sociais e grupos organizados visando melhores condições de
vida e trabalho.
É indicado que os projetos que envolvem os serviços de saúde ultrapassem a
estrutura física em busca de rede social, o que potencializa suas ações, levando em conta a
singularidade do sujeito, sua história, cultura e cotidiano. No dia-a-dia dos serviços, fica
claro, que há um campo em disputa em relação a direção dos projetos terapêuticos, com
hegemonia de ações mais voltadas para o campo psicanalítico, mas algumas vezes
incorporando aspectos importantes da reabilitação psicossocial, ou melhor, considerando
ações no território tendo em vista a cidadania e ampliação do poder de contratualidade dos
sujeitos.
A partir deste trabalho concluo que as praticas intersetoriais no território são
potentes para o acompanhamento de pessoas em situação de rua. Considerando a
reabilitação como um conjunto de estratégias que visa ampliar os espaços de troca dessas
pessoas, produzindo sentido e contratualidade. É a partir de trocas materiais e afetivas que
se cria uma rede.

26
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29

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