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DOI: 10.1590/1413-81232022271.

19462021 69

Os sentidos do morar sob a ótica dos usuários dos Centros de

artigo article
Atenção Psicossocial: experimentações do viver na cidade de
Santos, São Paulo, Brasil

The meanings of living from the perspective of Psychosocial Care


Centers’ users: life experimentations in Santos, São Paulo, Brazil

Marina Mara Stracini (https://orcid.org/0000-0001-6502-2727) 1


Maria Inês Badaró Moreira (https://orcid.org/0000-0001-5798-2023) 2

Abstract This research highlights housing as one Resumo Esta pesquisa destaca a moradia como
of the dimensions of the lives of individuals who uma das dimensões da vida de indivíduos que vi-
experience severe psychological suffering, which venciam sofrimentos psíquicos graves, que rever-
reverberates in their care and unique therapeutic bera em seu cuidado e plano terapêutico singular.
plan. This paper aims to grasp the Psychosocial O objetivo deste artigo é apreender os sentidos
Care Centers (CAPS) users’ meanings of their das experiências de morar para os usuários dos
experiences of living in Santos (SP), Brazil. This Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) do mu-
qualitative research was conducted with users of nicípio de Santos, estado de São Paulo. Pesquisa
different services through semi-structured inter- qualitativa realizada com usuários de diferentes
views submitted to the thematic content analysis. serviços por meio de entrevistas semiestrutura-
This study identified how the conception of hous- das submetidas a análise de conteúdo temática.
ing relates to protection, individuality, and affec- O estudo identificou que a noção de casa remete
tive memories that corroborate the construction of a proteção, individualidade e memórias afetivas
an expanded concrete life regarding living in free- que corroboram a construção de uma vida con-
dom in the city, presenting plural housing located creta ampliada no viver em liberdade na cidade,
in different territories. Taking ownership of spaces apresentando moradias plurais, localizadas em
reveals the possibilities and challenges inherent to territórios distintos. As formas de apropriação
social exchanges and daily experiences. Being and dos espaços demonstraram as possibilidades e os
living in a house means having access to materi- desafios próprios das trocas sociais e vivências co-
al and subjective goods, besides assuring care in tidianas. Estar e habitar uma casa representa ter
freedom. However, there are still limitations in the acesso a bens materiais e subjetivos, assim como
effective exercise of social participation. a garantia do cuidado em liberdade. Entretanto,
1
Secretaria de Key words Mental health, Housing, House, Per- ainda existem limitações no exercício da efetiva
Desenvolvimento e Inclusão sonal autonomy participação social.
Social, Prefeitura Municipal
Estância Balneária Ilhabela. Palavras-chave Saúde mental, Moradia, Casa,
R. Prefeito Mariano Autonomia pessoal
Procópio de Araújo
Carvalho 86, Perequê.
11630-000 Ilhabela
SP Brasil.
mstracini@gmail.com
2
Universidade Federal de
São Paulo. Santos SP Brasil.
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Stracini MM, Moreira MIB

Introdução meira vista, pode-se considerar uma casa como


um elemento rigidamente geométrico e espacial.
O processo de Reforma Psiquiátrica Brasileira Por outro lado, trata-se de espaço de acolhimen-
e a consequente criação de uma ampla rede de to, caracterizando, também, espaço de conforto,
cuidados em saúde mental demandam conhecer passível de condensar e defender a intimidade6.
e elucidar o modo como as pessoas com sofri- De certo, nesses espaços são forjadas as vivências
mento psíquico intenso se organizam em torno das cenas cotidianas, das histórias de vida e dos
da moradia ao deixarem a tutela imposta pelas efeitos das trocas e valores sociais, como: afetos,
instituições totais. A planificação da Política Na- dinheiro, poderes, entre outros símbolos7.
cional de Saúde Mental do país teve como bús- A ideia de casa está relacionada a experiências
sola os princípios da desinstitucionalização ita- complexas e concretas de reconhecer o uso do
liana ao redirecionar o modelo hospitalocêntrico tempo e do espaço com ritmos domésticos e afe-
para um desenho amplo e complexo de rede de tivos, a partir do uso de objetos e oportunidades
serviços comunitários. Com esse princípio, bus- da vida diária, centradas na particularidade de
cou construir condições efetivas para o viver em cada indivíduo, como acontece com os diferentes
liberdade e, assim, consolidar um plano de cui- moradores de uma casa8. Também como espaço
dados que ultrapassasse o ato de desospitalizar de apropriação, a moradia é um dos principais
pessoas que estavam em situação de moradia em elementos no processo de inserção, integração e
hospitais psiquiátricos1. manutenção de pessoas com sofrimento psíquico
A desinstitucionalização caracterizou um intenso no meio social8.
trabalho prático de transformação que se inicia Ao considerar a moradia como um espaço de
no interior dos manicômios, na medida em que legitimação das relações afetivas e interpessoais,
propõe a alteração da forma como as pessoas das trocas e da contratualidade cotidiana, res-
eram “tratadas” (ou não tratadas), passando a gata-se, também, a dimensão subjetiva das for-
se fundamentar em um conjunto complexo de mas de morar e de pertencer a um espaço que se
ações que perpassassem o corpo social. O objeto chama “seu”. A partir da perspectiva de proteção,
de cuidado passou a ocupar-se da existência, e o de espaço integrador e de recolhimento, parece
processo de desinstitucionalização foi pautado relevante que os próprios usuários dos CAPS elu-
não na vida produtiva, mas na produção da vida, cidem a experiência de habitar uma casa a partir
de sentido, de sociabilidade, da utilização de es- do processo de cuidado em liberdade e das ações
paços coletivos e de convivência, que levou a um de atenção psicossocial. Assim, o objetivo deste
desmonte gradual dos manicômios2. estudo foi apreender os sentidos das experiências
Entre as condições concretas para deixar de morar para as pessoas que vivenciam o so-
romper com os espaços asilares e promover a ga- frimento psíquico intenso e fazem acompanha-
rantia da vida na cidade, foram criados os Ser- mento nos Centros de Atenção Psicossocial do
viços Residenciais Terapêuticos (SRT) para os município de Santos-SP.
internos de longa data em hospitais psiquiátricos
com vínculos familiares e comunitários fragi-
lizados ou interrompidos3. Somado a isso, para Método
os egressos de internações, também foi instituído
o auxílio-reabilitação psicossocial, denomina- Este estudo privilegiou a pesquisa qualitativa no
do Programa de Volta para Casa (PVC)4. Ambos intuito de explorar a realidade social e o dina-
compõem as estratégias de desinstitucionaliza- mismo da vida individual e coletiva dos sujeitos,
ção que integram a Rede de Atenção Psicossocial considerando a riqueza dos significados de sua
(RAPS). Embora a política de saúde mental tenha existência9. A coleta de dados foi realizada por
buscado efetivar a vida em liberdade no âmbito meio de entrevista semiestruturada seguindo um
do processo de desinstitucionalização brasileira, encontro dialógico a partir de itens norteadores.
existem ainda muitos desafios5, e a demanda por Respeitados o interesse em falar sobre o tema e
moradia parece ser um dos grandes desafios da a disponibilidade, todos assinaram o Termo de
vida citadina. Consentimento Livre e Esclarecido voluntaria-
A moradia constitui elemento fundamental mente com anonimato assegurado por nomes
para sustentação do bem-estar físico e psíqui- fictícios. O estudo foi aprovado pela Comissão
co de pessoas com sofrimento psíquico intenso, de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da
possibilitando a retomada dos direitos de cida- Universidade Federal de São Paulo, com parecer
dania, integrando o viver em liberdade. À pri- 2.777.375.
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Os participantes foram dez pessoas com implantação de uma rede de atenção psicossocial
acompanhamento em CAPS de modalidade III, composta por serviços abertos e regionalizados10.
localizados em diferentes regiões do município. Atualmente, a Rede de Atenção Psicossocial é
Optou-se por abordar dois usuários em cada um composta por 34 unidades de atenção básica
dos serviços, a fim de elucidar realidades em dife- à saúde; cinco CAPS adulto de modalidade III;
rentes territórios. Cinco participantes têm histó- um CAPS Álcool-drogas de modalidade III; um
rico de internação de longa permanência, e cinco CAPS Álcool-Drogas Infanto Juvenil de modali-
não passaram por hospitais psiquiátricos com dade III; três CAPS Infantis; três Serviços Resi-
manutenção de cuidados no CAPS mesmo em denciais Terapêuticos; uma Seção de Reabilitação
momentos de maior desestabilização psíquica. Psicossocial; três Unidades de Pronto Atendi-
Foram entrevistadas cinco pessoas do sexo femi- mento; uma equipe de Consultório na Rua; e
nino e cinco do masculino, com idades entre 39 o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência
e 65 anos. Quatro homens se identificaram como (SAMU).
negros, enquanto cinco mulheres e um homem Os participantes residem próximo aos CAPS,
se declararam brancos. Quanto à escolaridade, em distintos territórios da cidade, seja em casas
quatro entrevistados apresentaram ensino fun- isoladas, quartos em moradias coletivas ou apar-
damental incompleto, um ensino fundamental tamentos populares. As moradias situam-se em
completo, dois com ensino médio completo, um área urbana de uma cidade litorânea com grande
com ensino superior incompleto, um com ensino desigualdade social, característica que acirra os
superior completo e apenas um não alfabetizado. desafios habitacionais de uma cidade turística do
Sobre a condição socioeconômica, dois não pos- litoral Sul paulista com elevado custo de vida. É
suíam renda fixa e contavam com apoio de fa- possível circular pelo jardim na organizada orla
miliares, enquanto os demais eram aposentados da praia e se deparar com moradias precárias em
ou recebiam algum benefício – Benefício de Pres- morros a poucos quarteirões de distância. Na
tação Continuada (BPC) ou Programa de Volta região central, as casas comerciais históricas se
para Casa (PVC). transformaram em grandes moradias coletivas,
As entrevistas foram registradas em gravador com sublocação de quartos, também conheci-
digital, transcritas e submetidas à análise de con- dos como cortiços. A cidade abriga enorme re-
teúdo temática, operacionalizadas em três eta- gião periférica com palafitas construídas sobre o
pas: pré-análise, exploração do material e trata- mangue.
mento dos resultados obtidos com interpretação
em diálogo com a revisão narrativa de estudos Concepção de moradia
sobre o tema9. Para efetivação da análise, foram
relacionados três temas recorrentes: concepção As concepções sobre moradia remetem a um
de moradia; formas de morar e relações com o espaço potente para trocas, construções de laços
espaço e o território. O primeiro tema buscou e relações humanas. Primordialmente, diferen-
apreender o significado de moradia a partir de ciam casa como estrutura física, enquanto uma
sua importância, memórias e perspectivas. O se- moradia é o local em que realizam o ato de mo-
gundo elucida a moradia em suas possibilidades rar e fazer pequenas tarefas domésticas. Assim, o
e limitações territoriais, sociais e econômicas. O habitar, diferente do estar, conduz a uma visão
terceiro tema identifica a forma como os usuários dinâmica no uso da casa ou da moradia, consi-
se apropriam de seus lares. derando o tempo e o espaço a partir de relações
que se estabelecem tanto material como também
subjetivamente no jogo íntimo entre estar e ha-
Resultados e discussão bitar11. Podem ser considerados como modos de
apresentar a necessidade intrínseca ao ser huma-
A cidade de Santos tem importante papel histó- no de um abrigo8 e um espaço para exercício de
rico na Reforma Psiquiátrica Brasileira, uma das atividades significativas em suas particularidades
pioneiras a promover efetivas transformações culturais, sociais, ambientais e temporais com
nos modos de cuidar em Saúde Mental, a partir as quais constituem o cotidiano em um mundo
da intervenção na antiga Casa de Saúde Anchieta, particular.
em maio de 1989. As transformações promovi- A respeito do imaginário de proteção e abrigo
das pela desinstitucionalização desencadearam trazido com a noção de moradia, Tugny analisa o
a configuração de serviços comunitários inspi- lugar chamado de casa como o primeiro abrigo,
rados na psiquiatria democrática italiana, com assim como uma tentativa de proteção que se dá
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no imaginário de Adão ao ser expulso do paraíso no centro de SP, centrão de SP, no bairro do Bexi-
com suas mãos cruzadas sobre o rosto num gesto ga... é meio magico, né? Porque é um tempo que
de defesa para enfrentar a chuva8. Essa situação não volta mais, [...] que eu tenho saudade. E San-
precária possibilitou uma reflexão acerca das tos também, né? Quando eu morava com qualida-
fraquezas e necessidades humanas em sua nu- de de vida, mais perto do mar. (Gabriela)
dez original frente aos elementos que a casa traz Pode-se dizer que a moradia é um espaço in-
como abrigo e proteção. Nessa perspectiva, a mo- tegrador de vivências, memórias e afetações que
radia pode ser entendida como espaço funcional corroboram a nossa construção individual e so-
em resposta necessária às condições e agressões cial. O morar implica espaço físico e subjetivo. Os
do mundo e sustenta um lugar simbólico de pro- relatos dos entrevistados mostram que a casa re-
teção subjetiva. Essa noção de proteção compare- mete a lembranças de comida, ambientes vividos,
ce em algumas falas: laços afetivos, relações familiares com mãe, pai,
Dentro de casa ninguém vai te pegar, ninguém infância e, também, fragilidades da vida, condi-
vai te machucar. A gente tem mais segurança. ções sociais e financeiras de muitas restrições. Em
(Ivan) muitos aspectos do espaço habitado e do leque de
É nosso lar, lugar onde a gente se acolhe. Porque vivências que o acompanha, a moradia ocupa lu-
tem muita gente na rua, né? Que não tem o que gar de suporte para construir a própria vida, uma
comer... é muito importante ter um lugar. (Álvaro) vez que também indica um possível exercício da
Ah, moradia é tudo né? Você se abriga das ruas, cidadania, tal como valorizado por Fausto:
do frio, da violência. (Fausto) Morar num lugar é ter endereço próprio, você
Diante da experiência do sofrimento psí- ser uma pessoa reconhecida pela sociedade. Por
quico intenso e em suas histórias de vida, seus pior que seja o lugar, você é uma pessoa, você pode
desejos e falas foram muitas vezes invalidados12. ter conta, tudo... se o cara não tem um endereço, ele
A sensação de habitar foi invalidada com a não não pode ter conta nem nada! Quer dizer, a gente
legitimação de suas vivências em espaços prote- tem (moradia). (Fausto)
tores. Também é possível identificar que a mo- A moradia como unidade física suscita o
radia remete à sensação genuína e concreta de lugar onde as pessoas podem ser encontradas e
proteção, uma vez que, unanimemente, aparece onde passam boa parte do tempo, principalmen-
como espaço de segurança, recolhimento, onde te à noite, quando não estão trabalhando ou reali-
pode-se proteger do mundo externo e acolher in- zando outras ações cotidianas externas. Também,
dividualidades. pode-se considerar que a divisão dos espaços
Se a moradia abarca um espaço funcional e internos da casa indica funções diferentes, tais
protetivo às condições impostas pelo mundo, é como asseio, alimentação, convívio, educação, re-
necessário que responda às necessidades das pes- pouso, e também espaço de produção. Os móveis
soas, de modo que a casa seja capaz de suportar e objetos, além de declararem situação financeira,
e atravessar momentos de crise e instabilidades revelam traços peculiares dos habitantes13.
psíquicas. Assim, se a casa “ideal” se apresen- No caso de pessoas que vivenciam o sofri-
ta como um sistema de proteção, ela também mento psíquico grave e que viveram internações
comporta frestas, à medida que nela também se em algum momento de sua vida, o fato de pas-
vivenciam medos, angústias e inseguranças. A re- sarem a ter um endereço próprio é fundamental
lação íntima entre habitante e casa faz com que para o exercício da cidadania. E, assim, podem
as impressões da casa mudem ao longo do tempo ampliar as aspirações de adquirir outros bens de
e dos acontecimentos que ela suscita ou acolhe8. valores sociais e podem, também, ampliar suas
As falas abaixo ilustram memórias de moradas exigências de qualidade de bem viver, conside-
anteriores. rando possível sonhar com uma casa ideal. Em
[...] eu fui criado no interior, com meus avós... alguns exemplos, são elucidados estes desejos
Lá nós não tínhamos condições, [...] eu era uma ampliados:
pessoa que apanhei muito, tomava soco no nariz, [...]casa de bloco... igual um apartamento com
meu nariz sangrava. A minha mãe pensa que eu muito conforto, que tivesse tudo! Televisão, DVD,
não gosto dela. Mas tudo o que aconteceu, eu fiquei geladeira, micro-ondas, uma pessoa. (Álvaro)
muito chateado, porque minha avó falou pra mim Eu vejo uma casa com conforto, uma casa que
que eu fui abandonado. Aí, eu comecei sair pra rua tenha televisão, computador, micro-ondas, gela-
desde pequenininho. (Henrique) deira, DVD... eu penso nisso, né? Uma casa com
Muitas lembranças... A mais forte é a casa em conforto [...] no nosso espaço. Nosso lar... a cama
São Paulo na década de 60 com meus pais, em ple- para descansar, lugar para gente almoçar, essas coi-
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sas todas! Que é nosso lar, aonde a gente se acolhe, bitacionais de acordo com a região da cidade. O
nosso refúgio. (Álvaro) valor do aluguel de um quarto em moradia cole-
Uma casa bonita, uma casa funcional, uma tiva (cortiço) com banheiro externo pode chegar
casa que eu possa ter plantas, muitas plantas, que a 600 reais ou mais, como ilustrado abaixo:
eu possa levar minhas netas, que elas curtam. (Ga- É um quarto...e eu pago aluguel. R$600,00.
briela) (...) Um quarto só, com banheiro do lado de fora.
Embora a concepção de moradia trazida pe- (...) eu queria mais espaço... As coisas são muito
los entrevistados seja essencialmente marcada em cima uma da outra. É um quarto, não é uma
pela noção de proteção e intimidade, essa noção casa. (Carlos)
também acompanha algumas projeções e ideali- Eu acho que é caro. Eu sou aposentada. E, hoje,
zações de um espaço confortável e de acolhimen- o mínimo de um aluguel é mais que a metade de
to. Na realidade estudada, todos desejam morar um salário-mínimo. (Gabriela)
em melhores instalações. Os aspectos do funcio- O CAPS localizado em uma das regiões mais
namento social estão significativamente associa- pobres da cidade foi o primeiro serviço aberto na
dos à autonomia e aos modos de morar14. Ainda cidade, ainda em 1989, e acolhe moradores dos
que a moradia responda a uma necessidade basal, morros, da região das palafitas e bairros populo-
parece que os anseios desse grupo se expandem sos mais periféricos. Para os entrevistados desse
ao confrontar limitações sociais. serviço, a moradia é vista como espaço de pro-
As experiências de moradia são dinâmicas, e a teção, mas também os deixa expostos à violên-
privacidade apresentada pelos seus espaços indi- cia, assim como a outros moradores dessa região.
ca determinados níveis de liberdade com efeitos Álvaro revela que aguarda pelo deferimento do
transformadores na vida dos sujeitos. Ter um es- benefício assistencial (BPC) para se mudar. Em
paço próprio para viver é como deixar de ser ape- sua fala, coloca em evidência uma violência es-
nas cuidado para cuidar de si, de seus pertences trutural que elucida o cotidiano de pessoas que
e administrar a própria vida14. Os relatos apon- residem em condições semelhantes.
tam o desejo por um espaço próprio, um espaço ...lá é favela, tem muita boca de fumo, então
íntimo onde se possa ter seus bens resguardados tem muito traficante. Sai tiroteio, eu fico com medo.
e que correspondam aos seus prazeres e necessi- O pessoal lá anda tudo meio assustado, porque a
dades. Assim como valorizam ter liberdade para polícia passa lá direto. Aí confunde a gente que é
se expressar livremente e relacionar com outras trabalhador com marginal (...) E lá é um beco. É
pessoas. um inferno! [...] Então, a polícia invadiu a minha
casa lá, revistaram meu cunhado [...] teve uma vez
Formas de Morar que eu tava em casa assim...e aí o policial me pegou
pelo gogó e foi me arrastando, quase me mata sufo-
Notadamente, parecem persistir espectros do cado, e meu irmão vendo...sem fazer nada! Entrava
estigma que atravessam a vida dos ex-internos de polícia lá direto, para pegar bandido...agora não
hospitais psiquiátricos e se perpetuam mesmo está entrando mais. (Álvaro)
que vivam em suas próprias casas na cidade. A Diferente dessa experiência, os participantes
política de saúde mental brasileira buscou res- acolhidos pelo CAPS localizado em uma região
ponder a preocupações habitacionais com a cria- nobre relatam outra realidade. Enquanto aqueles
ção dos SRT e do PVC1. Nos últimos anos, os pro- desejam uma casa de bloco e ter eletrodomésticos
pósitos da desinstitucionalização vêm sofrendo “básicos”, estes gostariam de morar em um lugar
ataques, e retrocessos evidenciam vários desafios com mais acesso ou possibilidades. Dois entre-
cotidianos para os usuários de CAPS. A realida- vistados vivem em bairros na região da orla e
de da vida das pessoas que demandam atenção descrevem maior amplificação do convívio e das
e cuidados em saúde mental está sendo afetada trocas sociais. Um relata que antes de adoecer re-
por questões políticas e administrativas15. Con- sidia com a família, e, após adoecer, perdeu seus
sequentemente, é preciso ressaltar as limitações bens. Hoje, aposentado por incapacidade para o
no campo do trabalho, geração de renda, possi- trabalho, passou a morar em uma pensão. Uma
bilidades de trocas e condições de provimento entrevistada reside em apartamento próprio de
de gastos gerais, além da alimentação e demais conjunto habitacional com filho, netos e bisne-
necessidades básicas amplificadas pela condição tos. A violência não é referida, e suas necessidades
do sofrimento psíquico intenso. são desejo de melhorias na condição de moradia.
Diante das características territoriais, é possí- Olha, poderia morar num lugar melhor, viu?
vel perceber as diferenças entre as condições ha- Mais perto da praia. Eu moro no Macuco. É um
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lugar como um qualquer, é fundo. Fundo não é le- o local para suas necessidades fisiológicas por ter
gal! Não tem o que ver. Se fosse mais perto da praia um espaço com banheiro e instalações privadas
podia ficar mais perto da praia, sair para passear. e limpas. Nesses casos, as limitações da moradia
Eu também fico cansado, sabe? Então fico dentro de levam as pessoas a recorrerem ao CAPS, inclusi-
casa vendo televisão. (Fausto) ve, para necessidades essenciais, diante das suas
Eu moro com meu filho... minha mãe faleceu, precárias condições socioeconômicas.
e, então, eu moro com meu filho. Meu filho mora Esses aspectos contribuem para desvelar
comigo, o apartamento é meu. E tenho dois netos como as condições materiais incidem nas demais
que moram junto também. Eu que criei os dois ne- dimensões da vida dos sujeitos e transmutam-se
tos. É BNH, apartamento de três quarto e uma sala em condições subjetivas inibidoras para o viver
grande. Eu fico num quarto e meus netos e meus na cidade. Assim, o CAPS responde às faltas in-
bisnetos ficam em outro quarto. Meu filho no outro. trínsecas à questão da moradia, somadas a fato-
Gostaria de morar sozinha... porque eles dão muito res de ordem social, econômica e cultural. São
trabalho, muita preocupação. (Eliana) necessidades em diferentes esferas da vida que
Dois CAPS se localizam em território próxi- mantêm forte relação entre as demandas por
mo um ao outro e com realidades semelhantes. habitação em interface com o campo da saúde
Em geral, os usuários desses CAPS residem em mental17. Em análise de cenas de circulação pelo
quartos alugados de pensão ou cortiço, com a bairro e ampliação do acesso a serviços comer-
família ou sozinhos. Uma usuária relatou que, ciais, de saúde e cultura, observou-se que, a partir
anteriormente ao processo de adoecimento, tra- do morar, ocorrem apropriação e reapropriação
balhava e residia em uma moradia melhor, mas, do corpo, da casa e da rua de diferentes formas.
atualmente, com parcos recursos financeiros, pas- Assim, pode-se considerar que o poder aquisi-
sou a residir em um quarto de moradia coletiva. tivo, a localização das moradias e os encontros
Por exemplo, que as moradias coletivas... eu com outras pessoas permitem estabelecer novos
moro em uma! Gostaria que fossem locais de ir- laços e construções sociais que passam a ser cir-
mandade mesmo, de diálogo, de abertura de bem cunstâncias fundamentais para consolidação do
querer, mas acontece que não são, né? Eu acho que viver na cidade18.
isso existe em todo lugar, mas as moradias coletivas, Quanto ao CAPS localizado na região cen-
assim... algumas tem uma dinâmica bem perversa tral, por acolher muitos moradores dos cortiços
mesmo. Tem quartos com banheiro e tem quartos existentes no território, a dimensão da moradia é
sem banheiro. O meu é sem banheiro no quarto. É dilema comum aos planos terapêuticos construí-
coletivo. (Gabriela) dos junto aos usuários. As condições de moradias
As configurações espaciais das moradias em cortiços são ilustradas no seguinte relato:
apresentam características consequentes da desi- É um quarto...eu pago aluguel. (...) Ah, pago
gualdade social. Assim, a necessidade de habita- pelo banheiro...que não é coletivo, que é só pra mim
ção é confrontada pela insuficiência dos espaços, e pra minha mulher. R$ 600,00. (...) Eu gosto, mas
fazendo com que as moradias exijam uma orga- não pretendo passar o resto da minha vida lá. (...)
nização que possibilite a adequação ao espaço Queria mais espaço...As coisas são muito em cima
concreto disponível16. uma da outra. É um quarto, não é uma casa. Uma
Lá em casa, nós não temos nada pra comer, aí casa que eu escolhesse (Carlos).
eu ganho cesta básica, levo lá pra casa, aí falta as As formas de morar desses usuários nesse ter-
coisas, aí tem as contas pra pagar, entendeu? Então, ritório assemelham-se em diversos aspectos. Em
tudo isso aí, nós ficamos chateados. É conta de luz, geral, a ausência de recursos financeiros imposta
é conta de água e botijão de gás. E nós ficamos mui- pelas limitações de possibilidades de trabalho e
to triste. [...] quando eu vou dormir, o meu quar- demais formas de geração de renda e vínculos fa-
to não tem nada. Eu queria ter uma televisão, um miliares fragilizados fazem com que essas pessoas
rádio [...]. Eu fico pensando “poxa, vida! Então, eu tenham condições habitacionais parecidas, tanto
não quero mais morar em casa. É assim, ter o meu no que diz respeito aos espaços físicos (pensões,
espacinho, entendeu? (Henrique) cortiços, moradias populares) quanto ao acesso
Ivan também reside em um quarto coletivo aos parcos recursos materiais. Como elemento da
típico dos cortiços da cidade, não possui eletro- vida humana, importa destacar que esses modos
domésticos nem espaço para cozinhar. Assim de morar são fatores importantes para reabilita-
como todos os moradores, utiliza o banheiro co- ção psicossocial e para o cuidado do sofrimento
letivo externo. Juntamente com Henrique e Joa- psíquico quando relacionado a maior ou menor
na, faz suas refeições diárias no CAPS e frequenta inserção na sociedade19.
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Mesmo considerando as adversidades pre- forma plural e, ao mesmo tempo, particular, res-
sentes, a casa se mostra um espaço de garantia de pondendo aos anseios pessoais. A identidade so-
proteção, o que se observa quando relacionam a cial está intimamente ligada à liberdade de poder
moradia com um lugar seguro: se expressar e ao poder decisional das ações20. No
Eu acho que, por pior que seja o espaço [mesmo interior de suas casas, (re)organizam-se e exer-
coletivo], é melhor do que ficar na rua. Porque fi- cem sua autonomia e individualidade, em alguns
car na rua, o que significa? Encurtar a vida, porque momentos de forma mais flexível, em outros, de
não existe retaguarda lá e paz nenhuma. Lá eles forma mais limitada – a depender das relações
cortam o cabelo, levam para tomar banho e jogam presentes em seus contextos cotidianos19. Assim,
na rua de novo. Em alguns lugares, tem repressão quando Carlos afirma que gosta do fato de morar
aos moradores de rua, então eu acho que não existe perto de um bar e um mercadinho, observa-se o
situação pior que a dos moradores de rua. (Gabrie- exercício de trocas e valores sociais que demar-
la) cam uma construção de autonomia.
Quanto ao papel do CAPS, em algumas situ- Andar pelo território permite construir um
ações, este se apresenta como extensão da mora- caminho em que se podem expressar gostos, pre-
dia, refletindo sua importância como resposta às ferências e vontades, circulando pelo bairro em
ausências concretas que permeiam a moradia e que vivem e degustando o que desejam18. Esse é
um direito básico como a alimentação. É demar- um exemplo de como as trocas cotidianas aconte-
cado, também, como importante espaço de tro- cem nos pequenos detalhes, principalmente para
cas, afetos e cuidado, semelhante ao que também aqueles com histórico de institucionalização,
esperam da moradia. Ao que parece, ainda que como no caso de Carlos, que, durante as entre-
não seja exatamente o seu papel na política de vistas, valoriza sua casa ao relembrar o passado
saúde mental, pode-se observar que são respos- marcado por internações e eletrochoques: Lá na
tas às necessidades de moradia dos usuários. O minha cidade, eu fui internado no manicômio. [..]
CAPS emerge, também, como um lugar de apoio Quase todo dia era choque na cabeça. O bairro e o
e suporte para aqueles que necessitam morar de trânsito nas ruas do entorno da moradia tornam
maneira independente e lidar com diversos de- possível a chance de pertencimento como cida-
safios impostos pelo cotidiano da vida em socie- dão, de modo que é possível atravessar as paredes
dade, afirmando-se como importante locus de do domínio pessoal para a cidadania, vivendo
cuidado e proteção para esses indivíduos. situações de ineditismo dos encontros e novas
descobertas favorecidas pelas relações de troca21.
Relações com o espaço e o território Ao contrariar o modelo societal excludente em
que o indivíduo é simplificado por meio de um
Embora possuam inúmeras limitações em diagnóstico, inibido em suas relações, o histórico
suas moradias, pode-se afirmar que as casas ofe- de internações emerge como divisor que atinge a
recem prazer e aconchego. Ao chegarem à casa, posição social, a imagem pública, bem como ou-
sabem que possuem um espaço resguardado tros aspectos da vida.
para si, independentemente de características Viver na cidade aponta uma série de expe-
objetivas, tal como assinalado nos relatos abaixo, riências comuns ao cotidiano citadino. Embora
ao valorizarem as atividades realizadas cotidiana- esses entrevistados vivam o sofrimento psíquico
mente: intenso, sejam cuidados no território e residam
Cuido do cachorro, passo pano no meu quarto. em condições para criar laços, recriar espaços e
(...) Gosto de cozinhar. Quem cozinha é meu filho. com isso recriar também suas relações, vivem al-
(Eliana) gumas restrições. Ainda que as possibilidades de
Ah, quando eu tô em casa eu gosto de cozinhar, trocas existam, muitas vezes são limitadas, o que
fazer um miojo, fazer um arroz. E quando a comi- pode ser evidenciado ao assinalarem as poucas
da tá pronta eu só esquento no microondas. (Hen- interações sociais nos territórios, como a circu-
rique) lação no comércio local e vínculos com algumas
Ler, ver TV, descanso. Tô sempre mexendo em pessoas da vizinhança. Ao analisar as relações
alguma coisa... (Gabriela) amplamente, é possível observar que são fre-
Eu gosto que tem um bar perto, tem um merca- quentes as relações com as pessoas e atividades
dinho... eu vou lá. Posso tomar refrigerante, de vez ofertadas pelos CAPS. Essa característica ressalta
em quando tomo uma cerveja sem álcool. (Carlos) as relações afetivas estabelecidas entre trabalha-
O espaço físico denota a possibilidade de dores e usuários como espaço de experimentação
ocupar, organizar, decorar e vivenciar a casa de para a vida e de expansão de laços de amizade
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Stracini MM, Moreira MIB

e relações afetivas com pessoas com as quais se isolada da cidade por meio de instituições fecha-
identificam22, afirmando o viver com práticas de das e de controle, após as reformas psiquiátricas
solidariedade e amizade. ocorridas, a cidade pode ser tomada novamente
Quanto às relações familiares, à liberdade que pela loucura, consolidando o combate ao que foi
possuem para utilizar espaços, bens e receber vi- produzido pelo domínio manicomial, desde que
sitas, por exemplo, estão atreladas às formas de garantido o cuidado em liberdade.
relação com os demais moradores da casa. Per-
cebe-se que, diante de vínculos familiares fragi-
lizados, a possibilidade de apropriação da casa Considerações finais
também é diminuída.
Minha irmã diz que eu moro com ela... eu dur- Embora se tenha observado uma série de con-
mo na casa dela, é diferente! Eu só durmo! Depois tradições, a compreensão e visualização do todo
de manhã eu tomo banho na casa dela, mas agora permitem a percepção de que, majoritariamente,
colocaram meu chuveiro. (Beatriz) essas pessoas possuem recursos limitados, mora-
Mesmo após anos morando com a irmã, Be- dias precárias e relações familiares conturbadas.
atriz considera não residir, mas apenas dormir A escassez de recursos materiais e financeiros
e tomar banho no local, demonstrando o baixo faz com que alguns usuários demandem o CAPS
grau de pertencimento com relação à sua mo- por condições limitadas de arcar com as despesas
radia. Os espaços, os móveis e objetos não são com moradia, alimentação e outras necessidades
dispostos ao acaso. Correspondem às particula- fundamentais.
ridades dos modos de organização e expressão de Sobre a circulação pela cidade, percebe-se que
seus moradores, apresentando diferentes formas ocorre de forma limitada, uma vez que os usuá-
de uso e ocupação. Assim, para apropriar-se de rios costumam caminhar pelos bairros mais pró-
uma moradia, é preciso também se sentir parte ximos a suas moradias e construir relações com
dela20. as pessoas locais. Assim, ao fazerem compras no
Como aspecto relevante, a cidade turística li- comércio local, andarem de ônibus ou irem para
torânea possibilita uma série de espaços públicos o CAPS, vão estabelecendo importantes relações
para frequentar, e, ainda assim, os entrevistados de troca de mensagens, afetos e palavras. Contu-
indicam que não transitam por esses lugares, li- do, referem poucos vínculos com a vizinhança.
mitando o percurso aos seus bairros, por meio Não foram observadas ações específicas das equi-
dos comércios, da vizinhança entre outros espa- pes dos CAPS com relação ao trabalho direto vol-
ços familiares. Os entrevistados indicaram que tado às moradias, porém algumas necessidades
realizam passeios, vão ao cinema ou participam dos usuários são supridas a partir da estrutura
de atividades culturais quando ofertadas pelo física e as atividades externas que as unidades e
CAPS. Existe uma interação social que se amplia suas equipes fornecem. Outra ambivalência ob-
como estímulo à participação em atividades cul- servada é a apropriação das moradias e do ter-
turais e sociais, como se observa maior circulação ritório. Ainda que os entrevistados se refiram às
pelo território: atividades de cuidado cotidiano com a casa e no
Ah, eu gosto de jogar bola... faço um curso de que gostam de fazer em seus lares, parecem não
grafite. (Álvaro) sentir liberdade de escolhas, como, por exemplo:
Pegar ônibus e ir pra um lugar é legal. Andar de receber visitas ou até mesmo cozinhar, assim
pela Ana Costa é legal. Eu sou muito assim. Mui- como também relatam reclamações familiares
to pé no chão mesmo, não almejo grandes eventos. quanto ao incômodo que causam em pequenos
(Gabriela) atos corriqueiros. Essa informação não elucidada
O transporte público torna possível o acesso neste estudo evidencia a necessidade de aprofun-
dos entrevistados a diferentes lugares e possibi- dar os estudos sobre as relações com familiares.
lita sua circulação entre os espaços sociais como É possível concluir que, mesmo tendo acesso
qualquer cidadão15. É possível afirmar que ao a um cuidado em liberdade, existem lacunas para
habitar a cidade se encontram espaços de inser- efetivar uma vida com participação social. Para
ção em suas regras sociais, o que possibilita criar que a circulação pela cidade e a apropriação dos
seus próprios espaços e apreender as regras do espaços seja fortalecida, é necessário pensar em
morar ao vivenciar a moradia e o seu entorno. políticas que incentivem o aumento da inserção
A cidade passa a proporcionar espaços para tro- dessas pessoas na vida da cidade. Uma importan-
cas e encontros por meio da movimentação nos te contribuição para o fomento dessas práticas
territórios. Se a loucura, por muito tempo, ficou tem sido o empréstimo do poder contratual re-
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Ciência & Saúde Coletiva, 27(1):69-78, 2022


alizado pelos técnicos das equipes dos CAPS, em
que, por meio de atividades externas, incentivam
a apropriação dos espaços da cidade, fortalecen-
do relações de troca e convívio com as mais di-
versas pessoas.

Colaboradores Referências

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baseado no curso Políticas públicas de saúde mental, do
CAPS Luiz R. Cerqueira. São Paulo: Instituto de Saúde; Editores-chefes: Romeu Gomes, Antônio Augusto Moura
2013. p. 169-175. da Silva

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