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GESTÃO DE

OBRAS

Júlia Hein Mazutti


Orçamento e controle
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„„ Identificar a quantificação e os critérios de medição dos recursos


necessários.
„„ Selecionar pacotes de contratação (EAP de contratação).
„„ Elaborar os planos de contratação dos recursos necessários.

Introdução
Toda obra é projetada com base em uma estimativa de quanto se deseja
gastar com a sua construção. Por isso, o orçamento da obra é uma parte
vital para o empreendimento, impactando diretamente no lucro do inves-
timento. A quantificação e a contratação de todos os recursos necessários
para executar a obra devem ser feitas com cuidado, de maneira detalhada
e com o objetivo de abranger todas as atividades envolvidas no projeto.
Neste capítulo, você vai aprender a quantificar os recursos necessários
para a obra e os critérios de medição desses recursos. Além disso, você
verá que a Estrutura Analítica de Projeto (EAP) e as composições de
custos unitários ajudam muito nessas tarefas e aprenderá a dividir os
possíveis pacotes de contratação de recursos com a ajuda da Curva ABC
e da categorização dos materiais utilizados na obra. Por fim, você verá
como um plano de contratação pode ser elaborado, analisando mais a
fundo o relacionamento com os fornecedores, a negociação de preços,
o cumprimento de prazos e a qualidade dos recursos.

Quantificação e critérios de medição


de recursos
Poder quantificar quanto um projeto inteiro vai custar é um critério decisivo
em gestão de obras. Isso pode decidir se a obra é viável, qual será o custo e
o lucro previsto ao empreendedor, o preço final para o cliente, entre muitos
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outros fatores. Por isso, é muito importante realizar um levantamento de


quantitativos detalhado para todas as atividades da obra. Você já se perguntou
como quantificar todos os materiais, equipamentos, mão de obra e trabalhos
que envolvem uma obra? Os critérios de medição e a estrutura analítica da
obra podem ajudar você a realizar essa tarefa.
Primeiramente, você deve compreender os indicadores de produção, que
mostram os recursos utilizados em função do produto ou resultado. Dois dos
indicadores mais importantes na construção civil, para entender a quantificação
da produtividade de mão de obra e do consumo de materiais, respectivamente,
são a Razão Unitária de Produção (RUP) e o Consumo Diário de Materiais
(CUM). Suas equações estão apresentadas nas equações 1 e 2 a seguir, con-
forme Souza, Morasco e Ribeiro (2017).

Onde:
Hh = homens-hora;
QS = quantidade de serviço realizado.

Onde:
Qmat = quantidade de material;
Qserviço = quantidade de serviço.

A RUP apresenta quantas horas de trabalho necessita-se para realizar, por


exemplo, um metro quadrado de alvenaria ou um metro cúbico de escava-
ção. Já a CUM apresenta a quantidade de material necessária para realizar o
projetado — por exemplo, pode-se necessitar 1,2 metros cúbicos de concreto
para realizar um metro cúbico de concretagem devido a perdas de material.
Com esses indicadores, pode-se quantificar a quantidade de mão de obra e de
material para as etapas da obra. Lembre-se que os indicadores podem apresentar
unidades diferentes, mas, mesmo assim, estar quantificando quantidade de
serviço e quantidade de material.
Sabendo isso, você pode se perguntar: mas onde conseguir essas informa-
ções? Como saber quanto tempo de trabalho é necessário para realizar uma
parede de alvenaria ou quanto material é preciso para concretar uma laje?
E quanto custa? O próximo passo é conhecer os sistemas de composição de
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preços unitários da construção civil, que trazem essas informações e as com-


posições de custos unitários dos serviços de engenharia da obra. Dois sistemas
muito conhecidos são as Tabelas de Composições de Preços para Orçamento
(TCPO) e o Sistema Nacional de Pesquisa de Custos e Índices da Construção
Civil (SINAPI). Veja um exemplo de composição de custo unitário, em reais,
para a execução de uma parede de alvenaria segundo a TCPO, destacado por
Mattos (2015), no Quadro 1.

Quadro 1. Exemplo de composição de custo unitário para execução de um m2 de parede


de alvenaria (em reais)

Insumo Unidade Índice Custo unit. Custo total

Pedreiro h 0,6432 9,00 5,79

Servente h 0,3216 5,00 1,61

Bloco concreto un 10,1721 2,00 20,34


9x19x39 cm

Argamassa 1:2:8 m³ 0,0088 0,34 0,00

Tela de aço un 0,6283 3,00 1,88


soldado

Pino de aço un 0,7479 2,00 1,50


zincado

31,13

Fonte: Adaptado de Mattos (2015).

O Quadro 1 mostra que, para executar um metro quadrado de parede de


alvenaria nas condições especificadas de mão de obra e materiais (existem
outros tipos de composição com outros materiais, por exemplo), o custo final
é de 31,13 reais. Necessita-se, por exemplo, de 0,64 horas de um pedreiro, cujo
trabalho é remunerado a 9,00 reais/horas, de modo que o custo total gasto
com pedreiro é de 5,79 reais. A partir de tabelas desse tipo, pode-se realizar
o levantamento de quantitativos de todas as partes da obra.
Deve-se destacar que, para obras rodoviárias e de infraestrutura, as tabelas
do SICRO (Sistema de Custos Rodoviários) do DNIT (Departamento Nacional
de Infraestrutura de Transportes) são geralmente utilizadas. Segundo o Site
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Noventa (COMO..., 2017), as composições contemplam obras de: drenagem,


hidrovias, obras de arte especiais, referências de sinalização rodoviária, supe-
restrutura ferroviária, terraplenagem, pavimentação rodoviária, manutenção
rodoviária e túneis. Além disso, esse documento é muito importante por ser
amplamente utilizado no setor público e na análise de licitações.
Quando a composição de preços unitários não constar nas tabelas con-
vencionais, pode-se montar a composição para o serviço desejado. Para isso,
Barbosa (2018) destaca os passos descritos a seguir.

„„ Detalhar o serviço: deve-se listar todos os materiais, a mão de obra


e os equipamentos necessários para realizar o serviço e sua unidade
de medida (metros, metros quadrados, horas, etc.). Nessa etapa, é
importante que a unidade de medida esteja de acordo com a unidade
de pagamento.
„„ Estabelecer preços reais para materiais e serviços: o preço dos
serviços listados deve ser estabelecido de acordo com a realidade do
mercado. Deve-se utilizar cotações recentes de preço unitário por
unidade de medida devido à oscilação de preços no setor da cons-
trução civil.
„„ Estabelecer índices de produtividade: para estabelecer os índices,
pode-se partir das medidas estabelecidas pelas tabelas TCPO, SINAPI
e SICRO. O ideal, nesse ponto, é calibrar esses índices teóricos com a
realidade da empresa, ou seja, realizar medições da produtividade dos
serviços e adicionar nos valores dos índices.

Para saber todas as partes que compõem uma obra, uma opção é basear-se
na Estrutura Analítica do Projeto (EAP), que é a estruturação hierárquica
visual de toda a obra. Veja, na Figura 1, um exemplo de EAP simples para uma
casa apresentado por Mattos (2010). A EAP pode ser subdividida e detalhada
até atingir pacotes de trabalho que sejam quantificáveis pelas composições
unitárias; assim, pode-se ter uma visão geral e específica das partes da obra
ao mesmo tempo, conforme o detalhamento que se desejar obter.
A mesma EAP pode também ser escrita de outra maneira, chamada de
forma analítica por Mattos (2010). A forma analítica apresenta o agrupamento
das atividades com índices no formato de tabela. Para a Figura 1, a forma
analítica da EAP com índices ficaria como mostra o Quadro 2.
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Escavação
Fundação
Sapatas

Alvenaria

Telhado Estrutura Casa

Instalações

Esquadrias

Revestimento Acabamento

Pintura

Figura 1. Estrutura Analítica do Projeto (EAP) de uma casa.


Fonte: Mattos (2010).

Quadro 2. EAP em forma analítica

1 Casa
1.1 Fundação
1.1.1 Escavação
1.1.2 Sapatas
1.2 Estrutura
1.2.1 Alvenaria
1.2.2 Telhado
1.2.3 Instalações
1.3 Acabamento
1.3.1 Esquadrias
1.3.2 Revestimento
1.3.3 Pintura

Fonte: Adaptado de Mattos (2010).


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Esses índices podem ser chamados de contas de controle, que são os


códigos hierárquicos da EAP, conforme Duarte (2016). Esse código pode,
então, ser utilizado para o levantamento quantitativo da obra, com total de
horas trabalhadas, total de material utilizado, total de gastos ou o que mais
interessar ao gestor do empreendimento. Um exemplo interessante é mostrado
no Manual de Abastecimento de Materiais e Canteiro de Obras pela DTC (DTC,
[2014?]), na Figura 2, para a montagem de um kit lavatório de fixar. Observe
que a etapa foi subdividida até chegar a uma lista completa dos materiais
necessários para montar o produto final — esse processo pode ser feito para
todas as partes da obra. O agrupamento dos gastos dos níveis inferiores aos
superiores mostra o total de gastos das etapas e da obra.

Lavatório de louça sem coluna


Conjunto Válvula para lavatório
louça e Torneira para lavatório
metais Fixação para lavatório

Sifão para lavatório


Conjunto Carenagem para lavatório
Kit lavatório Joelho 90º - ф 40
tubulação
de fixar esgoto Tubo ф 40
Coifa de vedação ф 50
Coifa de vedação ф 32

Conjunto Engate para PEX - ф 16


alimentação Adaptador tipo luva - ½’’ × ½’’
de água Tubo PEX − ф 16

Etapa da
Produto final pré-montagem Lista de materiais

Figura 2. Estrutura Analítica do Projeto (EAP) de uma casa.


Fonte: DTC ([2014?]).

Os custos baseados nos custos unitários dos serviços são chamados de


custos diretos. Também se deve considerar, no orçamento de uma obra, os
custos indiretos. Para isso, o BDI (Benefícios e Despesas Indiretas — do
inglês Budget Difference Income) ajuda o responsável pelo orçamento a in-
cluir os custos indiretos na obra. Mas você sabe o que são custos indiretos?
Segundo o site Sienge (BDI..., 2016), os custos indiretos são aqueles que não
são incorporados ao produto final, mas que, mesmo assim, impactam no custo
total, como: administração central da empresa, custo financeiro do contrato,
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seguros, garantias e tributos sobre a receita. Para calcular o BDI, o site Sienge
(2016) recomenda a seguinte equação:

Onde:

„„ AC — administração central: é o rateio do custo da sede entre as obras


da construtora. Para empresas de grande faturamento, varia de 7% a
15% e, para empresas de pequeno faturamento, de 10% a 20%;
„„ CF — custo financeiro: deve-se verificar a necessidade de incluir esse fator
a partir das condições de medição e pagamento estabelecidos no contrato;
„„ S — seguros: deve ser incluído a partir dos custos de seguros estabe-
lecidos em contrato;
„„ G — garantias: são os custos envolvidos no cumprimento do contrato,
como cauções, seguro garantia, etc.;
„„ MI — margem de incerteza: o objetivo desse fator é melhorar as dis-
torções provocadas por cálculos estimados. Assim, deve ser utilizado
somente por empresas contratantes. Geralmente, varia de 5% a 10%;
„„ TM — tributos municipais: abrange tributos municipais e deve ser
analisado para cada cidade, como o Imposto Sobre Serviços (ISS);
„„ TE — tributos estaduais: abrangem tributos estaduais, como o Imposto
sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS);
„„ TF — tributos federais: abrangem tributos federais, como Programa
de Integração Social (PIS), Contribuição para o Financiamento da Se-
guridade Social (COFINS), Imposto de Renda Pessoa Jurídica (IRPJ),
Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) e tributos do Instituto
Nacional do Seguro Social (INSS);
„„ MBC — margem bruta de contribuição (ou lucro bruto previsto): é
um valor respectivo a cada empresa ou proposta de preços e baseia-se,
principalmente, em função do mercado.

A utilização do BDI é essencial para finalizar um orçamento de acordo


com a realidade econômica da empresa. Para incluir o BDI no orçamento,
basta utilizar a seguinte equação, segundo o site Sienge (2016):
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Com a inclusão dos custos diretos e indiretos no orçamento, a quantificação


dos recursos da obra estará completa. Uma boa ideia para os custos diretos
é realizar uma planilha de Excel para fazer os levantamentos quantitativos.
Softwares com Building Information Modeling (BIM) auxiliam muito na
quantificação dos materiais, e softwares como o MSProject atuam diretamente
no planejamento e no controle da obra. Além disso, o mercado oferece diversas
planilhas com incorporação dos custos unitários e diversas facilidades para
o gestor, economizando bastante tempo e tornando mais prática a elaboração
do levantamento de quantitativos.

Pacotes de contratação
Para que uma obra seja executada sem interrupções, é essencial que sempre
haja no canteiro os trabalhadores, os equipamentos e os materiais suficientes
para atender às atividades que estão em andamento. Os pacotes de contratação
definem quando os materiais e equipamentos chegam à obra e quantas pessoas
estarão trabalhando em cada fase do projeto. Você já se perguntou como o
gestor pode planejar os pacotes de contratação de uma obra? O histograma
de recursos é uma importante ferramenta para entender o que é necessário
em cada etapa da obra.
O histograma de recursos, conforme descrito por Mattos (2010), é um
gráfico de colunas que representa a quantidade requerida do recurso por
unidade de tempo. Por exemplo, pode-se apresentar o número de pedreiros
necessários na obra em cada mês ou a quantidade de tijolos utilizados em cada
semana. Esse tipo de dado ajuda o gestor a planejar os pacotes de contratação
necessários para a obra, seja de mão de obra, materiais ou equipamentos.
Para isso, deve-se ter o cronograma do planejamento das atividades. Veja,
na Figura 3, uma maneira simples de compreender o histograma de recursos
conforme Mattos (2010).
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a) DIA
ATIV.
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11
0-10
2 2
10-20
2 2
10-30
6 6 6 6
20-10
5 5
30-40
1 1 1 1
40-50
2
Pedreiros 2 2 8 8 11 11 1 1 1 1 2
Acumulado 2 4 12 20 31 42 43 44 45 46 48
12
b)
10
8
Pedreiros

6
4
2
0
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11
DIA

Figura 3. a) cronograma; b) histograma de recursos.


Fonte: Mattos (2010)

A Figura 3a apresenta o cronograma do número de pedreiros necessários


para 11 dias, conforme as atividades de 0 a 50. A Figura 3b apresenta o his-
tograma de recursos, ou seja, um gráfico com uma barra para cada dia com o
número de pedreiros que deverão trabalhar nesse dia para que as atividades
sejam realizadas. O número de pedreiros acumulado apresenta o total de
dias trabalhados pelos pedreiros ao final desse ciclo e que deverão entrar no
orçamento da empresa.
Expandindo o histograma para todos os recursos que a obra utilizará,
pode-se saber quando cada item será necessário no canteiro. Adicionando
as condições de capacidades de estocagem para os materiais no canteiro de
obras, pode-se concluir de quanto em quanto tempo deve-se encomendar
cada material. Com isso, os pacotes de contratação podem ser definidos.
Deve-se destacar que os histogramas da obra podem ser facilmente traçados
em softwares como MsProject.
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O histograma de recursos também é muito utilizado para realizar o nivelamento de


recursos e trabalhadores na obra. O objetivo é, a partir da identificação dos picos do
histograma de recursos, realizar adaptações no cronograma que evitem a superlotação
de trabalhadores ou recursos na obra. Essa pode ser a solução para canteiros de obras
que possuem pouco espaço físico para armazenamento, por exemplo.

Os pacotes de contratação devem ser escolhidos estrategicamente em cada


obra, conforme o tempo de aplicabilidade dos recursos. Deve-se selecionar
e classificar os materiais e equipamentos, podendo dividi-los em três tipos:

„„ adquiridos somente uma vez durante a obra — por exemplo, betoneiras,


louças, caixa d’água, elevador, entre outros;
„„ recebidos em um determinado período diversas vezes — é o caso,
geralmente, de tijolos, concreto e armaduras;
„„ adquiridos toda semana.

A categorização pode ser criada conforme a necessidade de cada obra. Os


materiais ainda podem mudar de categoria conforme o projeto. Por exemplo,
para uma determinada obra, os tijolos podem ser entregues de semana em
semana; para outra, de mês em mês. Por isso, cada obra deve ser analisada
separadamente.
Quanto antes seja possível planejar as compras de uma obra, melhor. Porém,
não se pode garantir que a obra não tenha atrasos ou sofra alterações no seu
planejamento. Isso faz com que muitas compras tenham que ser planejadas
durante o andamento da obra. Conforme o tempo necessário para a entrega do
material, pode-se dividir os pacotes em compras padrão e complexa, conforme
Cardoso ([2017]).

„„ Compra padrão: são itens encontrados facilmente em lojas de materiais


de construção, ou seja, que possuam bastante oferta. Essas compras
devem ter antecedência mínima de uma semana com o prazo de entrega.
Tipicamente, são materiais como cimento, agregados, aço em barra
reta, tintas, ferragens, entre outros.
„„ Compra complexa: são recursos que requerem maiores especificação
técnica e que não são facilmente encontrados no mercado. Essas compras
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devem ser feitas com antecedência mínima de 30 a 60 dias com o prazo


de entrega desejado. Geralmente, esses são os materiais que têm alto
impacto financeiro nas obras, como pedras, revestimento cerâmico,
esquadrias, entre outros.

A realização de compras globais, ou seja, da quantidade total de certo material com


somente um fornecedor, permite a redução dos preços. O mais interessante, nesse
caso, é negociar entregas parciais do material durante a execução da obra. Com isso,
o gestor economiza dinheiro, não sobrecarrega seu estoque e otimiza seu tempo, não
precisando mais se preocupar com novas compras desse material.

Com a compreensão do histograma de recursos e a categorização dos


materiais e das compras, o gestor está apto a planejar seus pacotes de con-
tratação. Sempre se deve lembrar que cada obra tem suas peculiaridades e
deve ser analisada separadamente. Com os pacotes estruturados, evita-se
compras emergenciais, economizando tempo e dinheiro, e garante-se que o
planejamento da obra seja seguido.

Planos de contratação de recursos


Você já sabe separar os pacotes de contratação para os recursos da sua obra,
mas você já se perguntou como realmente realizar a compra? Para isso, é muito
importante ter um plano de contratação de recursos, levando em consideração
os fornecedores disponíveis no mercado, os preços, os prazos e as condições
gerais da obra, como a capacidade de estoque e as tecnologias utilizadas.
Para realizar um plano de contratação, destacam-se os seguintes fatores:

„„ seleção de fornecedores;
„„ cotação de preços;
„„ negociação dos preços e das condições gerais;
„„ decisão e pedido de compras;
„„ recebimento dos materiais;
„„ avaliação e fortalecimento de laços com os fornecedores.
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São os fornecedores os responsáveis por entregar os materiais na obra no


tempo correto e, assim, possibilitar que a obra possa continuar sem interrupções.
Por isso, a seleção de fornecedores é crucial para o futuro da obra. Nessa etapa,
deve-se listar os possíveis fornecedores para cada insumo, selecionando-os com
cuidado. Conforme o Sienge (2017a), nessa fase, é prudente iniciar verificando
se o fornecedor pode oferecer documentos básicos, como a certidão negativa de
débito, que atesta que a empresa paga seus impostos e direitos trabalhistas. O
Sienge (2017a) destaca os seguintes cuidados para a listagem de fornecedores:

„„ verificar noticiários;
„„ consultar sites de reclamação;
„„ buscar saber mais sobre as origens da empresa;
„„ pedir recomendações sobre fornecedores on-line ou com contatos;
„„ visitar o site da empresa;
„„ ter um contato de referência que já tenha trabalhado com o fornecedor;
„„ formalizar as relações por contrato.

Em seguida, deve-se realizar a cotação de preços, que tem grande impacto


sobre o orçamento da obra. Nessa etapa, é importante levantar os valores dos produ-
tos e as condições de entrega do material. A cotação deve ser realizada com todos
os fornecedores selecionados na etapa anterior. Santos e Jungles (2008) propõem
que uma cotação de preços típica deve conter os itens relacionados no Quadro 3.

Quadro 3. Quadro de cotação de materiais

Item Caracterização

Lista de materiais Características dos materiais que serão adquiridos


para todas as obras no período de um ano
Previsão de consumo Planejamento das aquisições
Anexos Projetos e especificações dos materiais
Escolha dos fornecedores Definição dos fornecedores cadastrados
Preço Preço mínimo dos materiais, quando desejável
Requisitos Prazo de entrega e condições de pagamento
Compra As condições da compra orçada
(custo, tempo de entrega)
Fornecedores Como serão administrados os diversos fornecedores

Fonte: Adaptado de Santos e Jungles (2008).


Orçamento e controle 13

Após a cotação dos preços, passa-se para a fase de negociação de preços e


condições gerais, na qual se deve negociar o melhor preço dentro das condições
de entrega e qualidade do material necessários para a obra. Deve-se deixar
claro os prazos de entrega, as especificações dos materiais e as consequências
do não cumprimento do contrato. O Sienge (2017a) destaca que o bom relacio-
namento com o fornecedor ajuda muito na hora na negociação. Ter dinheiro
para pagar à vista ou comparar fornecedores também são estratégias que
funcionam na hora de negociar preços. Uma dica essencial é realizar pedidos
em maior quantidade, com o que, geralmente, pode-se obter um desconto
maior e, nesse caso, é interessante que o fornecedor possa entregar o material
durante o decorrer da obra devido às condições de estocagem.
Uma obra possui diversos itens diferentes e, por isso, é importante centrar
os esforços de negociações nos recursos que apresentam maior impacto para o
orçamento da obra. Por exemplo, se o custo do concreto apresenta 5% do valor
total da obra e o custo de pregos 0,1%, os esforços devem ser concentrados nas
negociações do preço do concreto. Para isso, existe a Curva ABC, que é uma
ferramenta gerencial de fácil implementação e que classifica os itens de maior
impacto (SIENGE, 2017b). A Curva ABC, apresentada na Figura 4, separa
os itens em três classes, A, B e C, conforme o valor que eles representam no
total dos gastos considerados para a obra.

Figura 4. Curva ABC.


Fonte: Sienge (2017b, documento on-line).
14 Orçamento e controle

As classes dos itens são especificadas da seguinte maneira, conforme o


Sienge (2017b):

„„ Classe A: são os itens que possuem um valor alto sobre o valor da


obra, ou seja, os mais caros. Conforme a Curva ABC, são classificados
como A os recursos que apresentam 80% do valor total da obra. Isso
representará 20% do total de itens utilizados na obra. Esses são os
itens que devem ser negociados com mais atenção, pois causam mais
impacto no custo da obra.
„„ Classe B: são os itens que possuem um valor intermediário sobre o valor
da obra. Conforme a Curva ABC, são classificados como B os recursos
que apresentam uma participação de 15% do valor total da obra. Isso
representará 30% do total de itens utilizados na obra.
„„ Classe C: são os itens que possuem um valor baixo sobre o valor da
obra. Esses itens representarão 5% do valor total da obra e 50% do
total de itens.

Após a negociação e definição das condições gerais, deve-se decidir e


gerar o pedido de compra para o recurso desejado. O levantamento dos
orçamentos deve ser enviado à diretoria, que aprovará, ou não, a compra. Após
a compra, o próximo passo é acompanhar o recebimento dos materiais na
obra. Deve-se conferir se o material entregue é o material comprado, tanto nas
especificações do material quanto na quantidade, e se tudo está corretamente
descrito na nota fiscal.
Por último, deve-se garantir que o fornecedor seja avaliado durante a
entrega dos materiais e que haja o fortalecimento dos laços da empresa com
o bom fornecedor. Essas medidas garantem a facilidade das negociações de
preço e prazos, além de promover a fidelização dos serviços entre as partes.
Uma boa lista de fornecedores facilita muito a gestão de obras. O Sienge
(2017b) apresenta uma lista de pontos a serem levados em consideração para
a avaliação do fornecedor:

„„ cumprimento do prazo de entrega;


„„ compatibilidade do pedido com a nota fiscal;
„„ qualidade do material recebido;
„„ se o preço orçado e o praticado são o mesmo;
„„ qualidade do atendimento e disponibilidade;
„„ garantia e responsabilização pelo produto;
„„ impactos causados ao meio ambiente.
Orçamento e controle 15

Garantindo uma boa seleção de fornecedores, negociações estratégicas para


a compra dos recursos e o controle do recebimento dos materiais, garante-se
um plano de contratação de recursos estruturado e que trará muitos benefícios
para a gestão da obra. O plano de contratação de recursos é um dos responsá-
veis pelo cumprimento do planejamento da obra, de modo que investir nele é
sinônimo de economia, cumprimento de prazos e qualidade da obra.

BARBOSA, G. Composição de preços unitários certeira: descubra como fazer. Sienge


Platform, Florianópolis, 6 mar. 2018. Disponível em: <https://www.sienge.com.br/blog/
composicao-de-precos-unitarios/>. Acesso em: 6 fev. 2019.
BDI na construção civil: o que é e como usar? Sienge Platform, Florianópolis, 23 mai.
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CARDOSO, V. C. Planejamento de obras: aprenda a segmentar as compras de materiais.
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DUARTE, J. Estrutura analítica do projeto - como se tornar um expert em EAP. GP4US
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16 Orçamento e controle

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