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A IGREJA PÓS-COVID-19 E O ADVENTO DO METAVERSO

Deivid Wesley Marques

Emerson de Carvalho

Josiane Cristina Ramos Marques

Resumo

O presente artigo tem por finalidade fazer uma leitura dos diferentes momentos da
igreja no enfrentamento de grandes mudanças geracionais e advindas também por
fatores externos, em um contexto mais próximo o enfrentamento do SARS-CoV-2;
neste sentido a atualização da linguagem e o meio em que a igreja se comunicou com
seus fiéis, utilizando-se de novas tecnologias usando como meio a internet. Neste
período estabeleceu-se uma curva de aprendizado para “conectar-se” com uma
sociedade isolada; estabeleceu-se a virtualização de sacramentos e encontros -
celebração da ceia, casamentos, cultos, escolas dominicais e tantos outros; por fim,
este trabalho observa novos caminhos trilhados sem retorno, trazendo um pensamento
sobre um novo conceito do que é realidade, se para muitos o digital, “streamings”,
onde os templos foram esvaziados e estes foram fragmentados em acesso por tv’s e
mobiles, gerando um choque cultural e em algumas comunidades rechaçados, agora
temos um novo salto – A Igreja no Metaverso; nos tornamos avatares.

Esse trabalho identifica ações que necessitam serem aplicadas para que os resultados
sejam positivos no alcance da igreja. A metodologia utilizada é a pesquisa
exploratória, bibliográfica, visando verificar como a igreja em tempos passados
dialogou com a sociedade em tempos de epidemias e como a internet contribui ou não
com os relacionamentos interpessoais. Este artigo também propõe analisar o valor da
Igreja na missão do evangelismo utilizando-se as plataformas digitais, em sua práxis
auxiliando pessoas a encontrar respostas, promovendo transformação, sendo esta nova
“rodovia digital” um caminho sem volta.

Palavras Chaves: Igreja; Gerações; Pandemia; Tecnologia; Internet; Metaverso.


Introdução

A igreja tem um grande desafio de manter-se viva, enfrentando diversos


desafios em sua história; perseguições, ausência de habilidade de diálogo entre saltos
geracionais e frente as calamidades advindas de fatores externos, de forma mais
próxima ao nosso tempo o Corona Vírus que cerceou a liberdade como a conhecíamos
antes do ano de 2020.

A igreja de uma forma geral teve como desafio sobreviver sem a presença de
seus fiéis, uma preocupação para muitos ministros espirituais (padres e pastores), no
cuidado com o aspecto espiritual, emocional que em última estância reflete-se no
físico, na interação do homem e a sociedade.

Como artificio para alcançar a sociedade que se via aprisionada em seus lares,
igrejas lançaram mão da utilização de novas tecnologias, termos não eclesiásticos
como transmissão, streaming, live, plataformas, chats, passaram a ser o diálogo do dia
a dia na liderança; a meta era poder se conectar, arrebanhar os fiéis dando-lhes
retaguarda e apoio. Se por um lado, criou-se uma solução para a mensagem e a
interação da igreja com os seus, por outro as paredes da comunidade já não existiam
mais, ou seja, o acesso a múltiplas igrejas através dos muitos canais disponíveis pelo
youtube, facebook e Instagran também poderiam representar um novo risco, diluindo o
evangelho ou confusão de doutrina.

Este trabalho tem por objetivo lançar um olhar para a história da igreja quanto
ao enfrentamento de momentos históricos em relação a fatores críticos ligados a
calamidades, como ela dialogou com diferentes gerações ressignificando sua expressão
de fé, uma análise do enfrentamento da igreja frente ao COVID-19 e novas práticas de
sacramento, e por fim, um panorama do “mundo novo” chamado META, onde a igreja
imaterial ou invisível já está presente.

Como metodologia foi realizado pesquisa bibliográfica, assim, podendo


vislumbrar como a igreja em sua história foi crucial para conduzir a sociedade, através
de seus fiéis para superar as adversidades, e como esta se reinventou para manter o
cuidado com a fé, apoio psicológico bem como os novos desafios.

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A Igreja de Quarentena: Como nos mantemos conectados durante os
tempos difíceis
A pandemia do coronavírus afetou todos nós de uma forma ou de outra. Algumas
pessoas tiveram que se adaptar ao trabalho em casa, outras tiveram que lidar com a
perda de emprego e todos nós estamos lidando com o isolamento social. Mas há um
grupo de pessoas que está enfrentando um desafio ainda maior: as pessoas que fazem
parte da igreja.
Com as igrejas fechadas e as reuniões proibidas, os líderes religiosos estão
buscando maneiras de manter suas congregações conectadas e engajadas. Isto é
especialmente importante agora, quando as pessoas estão lidando com o medo e a
incerteza.
Neste artigo, vamos explorar algumas das maneiras pelas quais as igrejas estão se
adaptando para atender às necessidades de suas congregações durante a pandemia do
coronavírus. Vamos ver como elas estão usando a tecnologia para se conectar com os
fiéis, oferecendo serviços virtuais e criando novas formas de engajamento da
comunidade.

Eles olharão para a tragédia da morte disseminada e outras questões de saúde.


Eles mencionarão o estado de urgência nos hospitais e nas casas de repouso. Levará
anos até que o custo emocional e mental como um todo possa ser avaliado. Através de
meu blog, conferências por internet e consultorias às igrejas, eu caminhei ao lado de
dezenas de milhares de líderes de igreja durante a pandemia.

Certamente histórias serão contadas sobre o ponto de vista econômico, com


empresas e lojas fechando, algumas encerrando suas atividades em definitivo; ruas
esvaziadas; eles olharão para a tragédia da morte disseminada e outras questões de
saúde. Mencionarão o estado de urgência nos hospitais e nas casas de repouso, haverá
um tópico interessante para historiadores, psicólogos, conselheiros, não conhecemos
toda a história, mas levará anos até que o custo emocional e mental como um todo possa
ser avaliado.

Segundo Thon S. Rainer (2020.p98), pesquisador, pastor, escritor, palestrante e


ex-presidente LifeWay Christian Resources (Entidade Batista do Sul de Nashville –
USA), relata a dificuldade, incertezas e a angústia que tiveram início quando o primeiro
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culto presencial foi cancelado. Rainer destaca que logo nos primeiros dias da
quarentena, trabalhou com líderes de igrejas principalmente nas questões de finanças e
contribuições o suporte financeiro de muitas dessas igrejas que vinham principalmente
através das salvas de ofertas.

Consequentemente, sem cultos presenciais, não havia ofertas. Sem ofertas, não
havia entrada de recursos suficientes para manter os ministérios das igrejas. Como você
pode imaginar, houve muita preocupação! Esses líderes de igrejas confiaram em Deus
não importando onde Ele os conduziria, mas estava posto o primeiro obstáculo para a
sobrevivência da igreja.

Outro problema destacado pelo autor, foi o isolamento social que afetou
diretamente a comunhão entre os irmãos. A ausência do contato físico fez com que
muitos se sentissem sozinhos e desconectados e diante dessa realidade, muitos líderes
de igrejas se perguntavam: Como poderemos manter a comunhão entre os irmãos?
Como poderemos nos conectar uns com os outros?

A pandemia do coronavírus trouxe muitos desafios para as igrejas, mas também


deu a elas a oportunidade de se adaptarem e criarem novas maneiras de ministrar. Com
a quarentena, as igrejas tiveram que se reinventar e criar novas formas de se conectar
com as pessoas. Muitas igrejas passaram a oferecer cultos online, grupos de estudo da
Bíblia online, oração online e muito mais.

A pandemia do coronavírus também trouxe à tona a importância da saúde mental


e emocional. Com todos os desafios que as pessoas estão enfrentando, muitas igrejas
estão oferecendo apoio psicológico e emocional para aqueles que estão passando por um
momento difícil. É possível mensurar a fragilidade acometida a população de forma
geral, ao analisarmos o estudo feito pelo Dr. Ahmed Sameer El Khatib, intitulado
“Aspectos Psicocomportamentais durante da Pandemia da COVID-19: Uma análise
dos efeitos provocados em moradores da região central de São Paulo”;

O estudo desenvolvido por Khatib tomou como base a


população de São Paulo, seguindo métodos estatísticos de
amostragem tomando como base a amostra de 400 residentes
dos quais 74% (n = 296) tinham menos de 35 anos, enquanto os
26% restantes (n = 104) estavam acima de 35 anos. Um número
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igual (n = 200, 50%) de homens e mulheres participou do
presente estudo, dos quais 45% (n = 180) possuíam nível
fundamental ou médio completos e os demais eram graduados (n
= 220, 65%). Esses dados demográficos estão listados na Tabela
1 a seguir:

A primeira seção do questionário, que explorou o impacto


psicológico da pandemia em andamento, sublinhou alguns
resultados interessantes, conforme descrito na Tabela 2 a seguir:

A segunda seção do questionário abordou o impacto


comportamental da COVID-19, como demonstrado na Tabela 3.
Apenas uma pequena fração dos 6 participantes da pesquisa
fingiu estar doente (14,8%) para evitar ir ao local de trabalho /
instituição educacional ou considerar desistir ou solicitar uma
licença (24,8%) por causa da COVID-19.

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Mais de três quartos dos participantes da pesquisa incorporaram
mudanças em seu comportamento para garantir sua segurança.
Além disso, mais de três quartos dos participantes haviam
limitado seu contato físico com as pessoas (86,5%), evitado/
reduzido visitas às unidades de saúde (74,5%), haviam
cancelado recentemente seus planos, como reuniões familiares,
reuniões sociais, viagens ou reuniões (84,5%) e lavaram as mãos
com mais frequência (87%). No entanto, menos participantes
haviam reduzido/evitado ir a locais de oração (63,5%),
carregado com um desinfetante ou álcool em gel para as mãos
(56,8%) ou usando máscara (44,3%). Como assistir/ouvir/ ler as
notícias atuais aumentaram os níveis de ansiedade, cerca de um
terço (35%) dos participantes começou a evitá-las.
Notavelmente, metade dos participantes (54,5%) havia
comprado mantimentos por medo de que acabassem. Ahmed
Sameer El Khatib.2020. P. 3-5).

Ao analisarmos rapidamente os dados apresentados, podemos vislumbrar de


forma mais palpável o desafio da igreja continua se conectando com uma população que
pouco a pouco se isolava não apenas fisicamente, mas psicologicamente também se
acolhia em uma espécie de caverna, motivada pelo medo e pânico; a caverna se faz uma
analogia ou figura de linguagem perfeita ao confinamento infligido durante o período
pandêmico o qual nos traz a mente de forma semelhante o refúgio descrito na Bíblia
Sagrada nas figuras de Davi quando perseguido por Saul (1 Samuel 22:1-2) e Elias (1
Reis 19) também ameaçado em perigo de morte por Jezabel.

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Mas diante do afastamento social, os problemas psicossociais apresentados, sem o
relacionamento (relar/toque físico) marcante da vivência na comunidade de fé, como se
“conectar”, como continuar a promover vínculos?

Diante das dificuldades impostas, surge então uma “terceira via”, a utilização dos
meios digitais para celebrações e encontros; cultos que outrora tinham sua celebração
presencial passam a ocorrer por transmissões digitais via Youtube, Facebook,
ZoomMeting, Castr, StreamYard e tantas outras. Para se ter uma ideia do salto no
consumo digital, de acordo com o relatório da ComScore VideoMetrix, aponta um
aumento de 91% no consumo de streming (striming é a transmissão de vídeos online ou
on-demand em plataformas de conteúdo) em 2020, neste período não só representou um
aumento do fluxo para o YouTube como um todo, mas também os canais cresceram em
inscrições onde 1.800 perfis já contavam com mais de um milhão de seguidores.

Forçosamente a igreja teve de se abrir para o novo, em uma entrevista para a


Uninter, o arcebispo Dom José Antonio Peruzzo, arcebispo de Curitiba, faz a seguinte
reflexão:

Nós temos que reaprender o pastoreio, até os abraços e afetos


foram limitados e nem por isso você deixou de amar os seus.
Assim como a ternura da Palavra se tornou letra, a ternura da
pastoral se torna comunicação via WhatsApp, as redes sociais,
mas especialmente telefones. Procurar todos os meios para
comunicar. (UNINTER. 2020)

A pandemia do coronavírus afetou todos nós!

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O Advento do Metaverso

Antes de falarmos sobre o metaverso, creio que seja necessário entendermos sua
concepção a qual não se trata de algo novo, mas de uma evolução de uma tecnologia
que fora criada na década de 60 por Ivan Sutherland, esta somente ganha vem a ganhar
força na década de 90 com o avanço em tecnologia de processamentos e equipamentos
imersivos. Professor Dr. Claudio Kirner, foi um dos precursores da tecnologia, Kirner é
Pós-doutor em ciências da computação com ênfase em realidade virtual foi um dos
colaboradores dentro do universo brasileiro a desbravar as tecnologias de RA, KIRNER
(2007), define realidade aumentada como sendo um sistema que suplementa o mundo
real com objetos virtuais gerados por computador, parecendo coexistir no mesmo
espaço e apresentando as seguintes propriedades: combina objetos reais e virtuais no
ambiente real, executa interativamente em tempo real) e RV ou realidade virtual como
uma nova geração de interface, uma realidade gerada usando representações
tridimensionais mais próximas da realidade do usuário em que permite romper a
barreira da tela, possibilitando interações mais naturais.

Uma das primeiras aplicações ganham grande projeção com a tecnologia de


realidade virtual é o SecondLife (secondlife.com), trata-se de um ambiente virtualizado
“aberto sem fim especifico onde inúmeros participantes (“habitantes”) podem definir
para que fim utilizarão a aplicação, podendo ser desde comunicação através de pontos
de encontro, entretenimento (como games), comerciais (venda de conteúdo ou serviços)
ou de aprendizado (museus virtuais, ensino a distância, etc); é importante ainda
salientarmos que o nascimento do secondlife no ano 2000 ainda tinha como limitador a
tela dos computadores, hoje este ambiente já conta com tecnologias imersivas que
abordaremos a seguir.

Uma vez que compreendemos a tecnologia envolvida temos o conceito


estabelecido, sendo:

O metaverso a representação da possibilidade de se ingressar em


uma espécie de realidade paralela, como se fosse um tipo de
outro universo e vida. Em alguns casos ficcional, em que uma
pessoa pode ter uma experiência de imersão. Tecnicamente, o
metaverso não é algo real, mas busca passar uma sensação de

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realidade, e possui toda uma estrutura no mundo real para isso.
(Malar, João. CNBB BRASL 2022).

Pelo conceito, o metaverso é tratado como algo não real, mas afinal qual o
conceito de realidade? A pouco tempo deparei-me com um artigo no site Uol (Patel,
2022), onde a pesquisadora psicoterapeuta britânica Nina Jane Patel descreve como
perturbador um estupro ocorrido com ela no metaverso; o caso ocorreu em novembro de
2021 e em fevereiro de 2022 veio à tona sendo divulgado por jornais britânicos. Jane
Patel, descreve que o ato de abuso durou cerca de três minutos e tão impactante que não
conseguiu desconectar-se de imediato ao do ambiente; a psicoterapeuta ainda ressalta
que a dificuldade apresentada se dá visto que o ambiente se utiliza de técnicas
psicológicas para que o cérebro aceite o mundo virtual como real; por fim Nina
descreve o sentimento que teve após a agressão como algo semelhante ao que sentira
infelizmente a outros episódios que vivenciou no mundo off-line.

Encontros são estabelecidos no mundo da realidade virtual, compra e venda são


fechados em moedas corrente, leis sendo criadas ou aplicadas ao “novo ambiente”
(conjur.com.br/2022), abusos com impactos psicológicos tem afetado a saúde de
usuários; este me parece um mundo bem real!

Neste espelhamento do mundo “real”, há espaço para a espiritualidade? Qual o


papel da igreja no metaverso? Heresia ou o cumprimento da bíblia (Atos 1:8), em que
Jesus envia os discípulos até os confins da terra? É o que pretendemos abordar na
próxima sessão.

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A Igreja e o Metaverso

A primeira igreja de origem brasileira no Brasil a promover cultos no Metaverso


foi a igreja batista da lagoinha. A Igreja Batista da Lagoinha nasceu em Belo Horizonte
e há mais de 6 décadas atua de forma relevante na expansão do evangelho. A partir de
1972, ano em que a igreja tinha cerca de 300 membros, passou a ser liderada pelo pastor
Márcio Roberto Vieira Valadão, deixando em 2023 a liderança, mas deixando um
legado ministerial aos filhos. São mais de 600 Lagoinhas que atuam com uma única
visão: alcançar a população para Cristo.

Nesta esteira, André Valadão, pastor da igreja Lagoinha Global em Orlando nos
Estados Unidos, viabilizou a chegada da igreja em ambiente de realidade virtual através
do “Lagoverso” (Universo digital da lagoinha), o espaço contém Espaço Kids, painel
informativo, cantina/cafeteria, gabinete pastoral e a nave da igreja. É possível conhecer
um pouco mais acessando o link do youtube para uma imersão em 2D (duas
dimensões): https://www.youtube.com/watch?v=irFK6Y_Ab7g

Imagens extraídas da inauguração do lago verso pelo Youtube

Nas palavras do pastor André, “a igreja deve estar e deve ir ao encontro onde há
pessoas”.

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Se existe oportunidades também devemos abordar alguns riscos! Apesar das
oportunidades que o metaverso pode apresentar, alguns riscos já presentes em outras
mídias podem ser esperados, de forma semelhante ou mais intensa. A história mostra
que a tecnologia por si só não melhora as pessoas.

O fenômeno da midiatização e secularização, o isolamento social, o trânsito ou a


interlocução da igreja virtual e física, e vai além; no âmbito da comunicação temos
problemas de interação entre os chamados irmãos, (pessoas que congregam juntos); os
problemas na comunicação têm início na família. Filhos que jogam até a madrugada e
não conversam com seus pais. Casais problemáticos que não reconhecem ou destroem a
autoridade pastoral questionando sua capacidade de resolver os problemas conjugais;
impedimento da liberdade de crença, opinião e expressão nass plataformas já cortaram
lives em plena transmissão, bloquearam postagens, eliminaram canais evangélicos,
classificaram pregações como discurso de ódio, homofobia, misoginia e outros,
fornecendo elementos para condenações e TAC’s (termos de ajustamento de conduta).
Pouco a pouco passa a ditar o que deve ser dito e transmitido. Uma vez transpostos para
o metaverso de forma irreversível teremos cada vez mais incidentes.

No aprendizado o metaverso favorecerá melhorando o que já temos hoje! Mas


poderá trazer reflexos de grande impacto para a doutrina e os conteúdos. Os livros
físicos terão sua predominância diminuída drasticamente, encarecerá sua produção, pois
é impossível portá-los no ambiente virtual;

Escolas dominicais (ambiente de aprendizado cristão com reflexão histórica e de


problemas sociais da atualidade) – Como resultado direto do aprendizado nesse
ambiente imersivo teremos cada vez mais classes virtuais e menos presenciais. As lições
físicas tenderão a seguir o caminho dos livros físicos; uma pequena amostra deste
distanciamento podemos vislumbrar ao analisar o início das conversas virtuais em 1994
(Mirc, ICQ Mirabelis), trata-se do marco das interações virtuais para o encontro não
fisico.

No discipulado a igreja terá que rever o trabalho com os novos convertidos. Se


ganhos por meio da revolução midiática provocada pela pandemia, muitos hoje se veem

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abandonados, em especial aqueles que plugados numa live de determinada igreja que
moram fisicamente distantes dela.

Quanto a doutrina sofrerá o impacto do cardápio abundante de ensinamento de


qualidade por um lado e falsos ensinamentos por outro. Por um lado, grandes
ensinadores que já partiram na frente e estão amparados em sua habilidade e conteúdo
tenderão a atrair cada vez mais audiência. Já outros, que se demoraram a ter consciência
de seu papel ou não estão habilitados terão cada vez menos ouvintes. Grande parte da
audiência física vai aderir de vez ao conteúdo on-line; no momento em que este artigo é
escrito, certamente estudos estão sendo feitos sobre este tema pós pandêmico... a igreja
que não voltou, ou se virtualizou. A verdade é que a humanidade tem grande dificuldade
de poder partilhar múltiplos caminhos, tudo é muito polarizado, direita/esquerda,
presencial/virtual, dons e ministérios/discipulado e tantas outras polarizações onde não
deveria haver, mas sim caminhar em conjunto, somando, abrindo novas possibilidades
sem perder aquilo já conquistado, não precisamos de uma reinvenção da roda.. mas
sempre aperfeiçoa-la.

No pastorado a autoridade será cada vez mais contestada. Num mundo virtual a
despersonalização facilita o eco de vozes que jamais se dariam no mundo físico;

Disciplina, tratar pecados é um desafio pastorar e eclesiástico, estes terão de ser


tratados de forma diferente e totalmente nova para nós.

Além das preocupações apresentadas ainda há outras coisas que ainda não podemos
imaginar, podendo gerar uma nova onda de “desigrejados” ou uma diversidade maior no
interior da igreja.

Nas palavras do apostolo Paulo: “Tenham cuidado com a maneira como vocês
vivem; que não seja como insensatos, mas como sábios, aproveitando ao máximo cada
oportunidade, porque os dias são maus” (Efésios 5:15,16).

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Conclusões finais

Pudemos refletir sobre os vários desafios da igreja, como ela se reinventa a cada
enfrentamento de calamidade que assolam a humanidade; refletimos sobre mais
propriamente dito o resultado enfrentado pela população que sobreviveu a pandemia do
Covid entre 2020 e 2022; aos que permanecerão em pé, lidam com transtornos
psicológicos devido a perda de entes amados, ou o enfrentamento da morte em si, das
incertezas, para os que se recuperaram da doença, muitos carregam uma espécie de
stress pós traumático originado pela tenção e medo de que o amanhã não houvesse
diante das incertezas da doença desconhecida; a depressão também oriunda do
isolamento; a falta de pertença no hiato vivido do afastamento da igreja.

Diante da árdua vivência pandêmica, a igreja tem sua nova Arca, semelhante a
que Javéh manda Noé construir a fim de salvar sua família, relatada na bíblia no livro
de Gênesis 6; no âmbito eclesiástico, semelhantemente vimos a construção de um novo
bote para que pudesse navegar em águas turbulentas e pudesse salvar talvez não o
físico, mas o espiritual que sim também reflete no físico. As ferramentas midiáticas
continuaram a levar esperança, palavra, conforto ao povo; quebra de paradigmas como o
abordado neste artigo a igreja teve se se permitir – ofícios virtuais, celebração da ceia ou
da eucaristia, alguns tabus tiveram e terão de continuar a serem quebrados para
continuar se conectando com pessoas.

Alguns mais ousados, foram além já promovendo uma total imersão da


membresia investindo fortemente em ambientes virtualizados, enfrentando críticas
talvez maiores ainda, movido por uma convicção grande de que a igreja deve estar onde
o povo (crentes e não crente) esta.

Pelos números apresentados no consumo de mídia, contratos de striming que


vislumbramos, podemos concluir que tivemos um salto tecnológico que talvez só
veríamos em 10 anos; a necessidade nos move e nos tira da área de conforto.

É importante salientar que a igreja no metaverso, semelhante a igreja física,


mantem atos litúrgicos, promove o encontro do povo e sua confessionalidade,

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proporciona o louvor a Deus, leva o evangelho, promove a justiça social, aponta
caminhos como um farol para a sociedade. Mas chegamos a um ponto de reflexão!

Stetzer em seu livro plantando igrejas missionais, pondera sobre o grande desafio
das igrejas em lidar com múltiplas gerações e traz o conceito da “Igreja dentro da
Igreja”, muito feliz ao nosso ver este conceito, pois é exatamente isso que a maioria das
igrejas vivem hoje, a coexistência geracional necessita muitas vezes também se permitir
uma atualização da linguagem afim de continuar conectando-se ou sendo relevante a sua
membresia; a falta desta preocupação da igreja tem ocasionado em gerações sendo
“levadas” para fora e engrossando o numero dos desigrejados; na Inglaterra, berço da
igreja protestante, há a grande preocupação do fim das igrejas históricas; mais do que
nunca e de forma urgente, além do cuidado, das pregações, do ensino, a igreja deverá se
preocupar com a comunicação, linguagem e a retenção do chamado “rebanho”. Se
outrora um pastor tinha apenas uma igreja sobre sua responsabilidade, na igreja que
multigeracional e metaversal terá que se desdobrar ainda mais. Talvez este seja um tema
relevante para uma futura tese em que possa abordar “A saúde do pastor no século XXI
em uma sociedade liquida e multiversal”.

Concluímos esperando que o presente artigo leve o leitor a desejar refletir sobre a
necessidade urgente de repensar a igreja e a sociedade pós pandemia.

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Bibliografia

Efésios 5:15-16. Bíblia sagrada. Versão: Nova versão internacional.


OPAS, Organização Pan-Americana da Saúde. Emergência de saúde pública de
importância internacional. Disponível em: https://www.paho.org/pt/covid19/historico-
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Guenter B. Risse. “Consertando Corpos, Salvando Almas: A História dos
Hospitais" Disponível em https://www.researchgate.net/publication/236696018
_Mending_Bodies_Saving_Souls_A_History_of_Hospitals_review. Acesso em 10 de
agosto de 2022

RAINER. Thom. S. “The Post-Quarentine Church” (A Igreja Pós Pandemia). Ed.


CPAD e Casa Publicadora Assembleia de Deus – Rio de Janeiro-RJ, 2020. 98p.
El KHATIB, Ahmed Sameer, Pós-Doutor em Contabilidade e Controladoria pela
Universidade de São Paulo e Professor da Fundação Escola de Comércio Álvares
Penteado. “Aspectos Psicocomportamentais durante da Pandemia da COVID-19: Uma análise
dos efeitos provocados em moradores da região central de São Paulo”, 2020.

Leyberson Pedrosa. Portal EBC. “Conheça a história dos chats antes do msn”.
Acesso em 05/01/2022
MALAR, João. “Entenda o que é o metaverso e por que ele pode não estar tão distante
de você”. CNN Brasil
Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/business/entenda-o-que-e-o-metaverso-
e-por-que-ele-pode-nao-estar-tao-distante-de-voce/. Acesso em novembro de 2022.
PATEL, Nina Janer. “Foi real e aconteceu comigo”.
Disponível em: https://www.uol.com.br/universa/noticias/redacao/2022/06/03/estupro-
no-metaverso-o-aconteceu-comigo-foi-real.htm. “Britanica que relatou estupro no
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PERUSO. José Antonio. Live “O papel da igreja durante a pandemia”.
Disponível em: https://www.uninter.com/noticias/arcebispo-participa-de-live-sobre-o-
papel-da-igreja-durante-a-pandemia. Acesso em 18 de novembro de 2022.

PINO, Manuel Martin. “Contratos de trabalho no metaverso. Qual é a legislação


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Disponível em: https://www.conjur.com.br/2022-out-30/martin-pino-contratos-trabalho-
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RAINER. Thom. S. “The Post-Quarentine Church” (A Igreja Pós Pandemia). Ed.
CPAD e Casa Publicadora Assembleia de Deus – Rio de Janeiro-RJ, 2020. 98p.
Second Life - http://secondlife.com. Acesso em 12/12/2022
STETZER, Ed, Plantando igrejas missionais: como plantar igrejas bíblicas, saudáveis e
relevantes a à cultura, 02, Ed. Stetzer, tradução de A. G. Mendes. – São Paulo: Vida
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VALADÃO, ANDRE. “Inauguração do Lagoverso”. https://www.youtube.com/watch?
v=irFK6Y_Ab7g. Acesso em novembro de 2022

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