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XI JORNADA DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO – JEPEX 2011 – UFRPE: Recife, 18 a 22 de outubro.

PANCREATITE AGUDA EM CÃO (Relato de Caso)


Taiane Maria de Lima Rodrigues¹, Fridda Elizabeth Villazón Zubieta², Rômulo Nunes Rocha², Stefani de
Paula Cordeiro Cavalcante³, Mariana Lira da Silva³, e Lílian Sabrina Silvestre de Andrade 4

Introdução mensuração de uréia, creatinina, glicose, enzimas


hepáticas, sódio, potássio, cloro e cálcio[4].
O pâncreas assim como qualquer outro órgão pode
Os cincos princípios do tratamento da pancreatite
apresentar algumas alterações, em relação à função
aguda são: (1) manter a glândula pancreática em
exócrina, as principais desordens incluem pancreatite,
repouso, (2) inibir a secreção exócrina do pâncreas, (3)
insuficiência pancreática exócrina (IPE) e neoplasia,
inibir as enzimas liberadas, (4) retirar as enzimas
merecendo destaque a pancreatite aguda, que atormenta
liberadas e (5) aumentar a microcirculação pancreática
muitos veterinários, devido a sua complexidade em ser
[3].
tratada [1].
Embora muitos pacientes se recuperem, a pancreatite
A pancreatite aguda apresenta uma incidência de
é uma doença imprevisível, com curso clínico
0,5% e a maioria das ocorrências envolve cadelas de
prolongado, de gravidade e difícil para determinar um
meia idade, obesas e sedentárias, com um histórico
prognóstico, o qual geralmente é reservado [3].
clínico de início súbito, com vômito, anorexia e
O presente relato tem como objetivo relatar um caso
depressão [2]. Trata-se de um processo inflamatório
clínico de pancreatite aguda abordando os aspectos
agudo resultante da ativação intrapancreática de
clínicos, diagnósticos e terapêuticos desta enfermidade.
enzimas com autodigestão progressiva da glândula, e
apresenta duas formas clínicas: pancreatite aguda leve,
e a pancreatite aguda purulenta [3]. Material e métodos
Estudos recentes sugerem que junto aos efeitos Um canino, fêmea, da raça Poodle Toy, com 4 anos
autodigestivos da pancreatite, ocorra também distúrbios de idade, pesando 12 kg, foi atendido no Hospital
da circulação pancreática, enzimas lisossomais e Veterinário da Universidade Federal Rural de
radicais de oxigênio. Embora possíveis causas tenham Pernambuco apresentando os seguintes sintomas:
sido propostas, a maioria dos casos é idiopática e há inapetência, vômito intenso e fezes com consistência
pouca consideração sobre os fatores predisponentes ou variando de pastosas a diarréica. Ao exame físico
eventos iniciais [3]. observou-se apatia, dispnéia, temperatura de 39,7ºC,
Os sinais clínicos variam em severidade, indo de um protusão da terceira pálpebra, posição de súplica,
vago mal-estar à morte súbita. Em cães a doença mucosas ictéricas, abdômen volumoso e muito
geralmente se manifesta com um início súbito de
dolorido.
vômito severo, dor abdominal, anorexia, depressão,
icterícia, fraqueza,desidratação e febre[4]. Para avaliação do estado geral foram solicitados:
Podem ocorrer sinais clínicos indicativos de distúrbios hemograma completo com pesquisa de hemoparasitas;
da coagulação, tais como petéquias, equimose, epistaxe bioquímica sanguínea, dosando-se a concentração
e hematomas. Os sinais de anormalidades neurológicas sérica de amilase e lipase, uréia e creatinina,
observadas são: convulsões, nistagmo, anisocoria, Transaminase Glutâmico Pirúvica (TGP) e fosfatase
desorientação, estupor, pressionamento da cabeça alcalina (FA); urinálise; análise da tripsina fecal; Ultra-
contra objetos, tetraparesia e tiques nervosos [4]. sonografia; e radiografia abdominal.
O diagnóstico da pancreatite aguda é difícil porque os
sinais clínicos, achados do exame físico e normalidades
clínico-patológicas são geralmente inespecíficos [5]. Resultados e Discussão
O exame laboratorial é essencial para um diagnóstico A pancreatite aguda afeta principalmente cães de
preciso. Os testes de avaliação da atividade sérica de meia-idade a idosos (KIRK, R. W., BISTNER) [4],
amilase e lípase são os mais confiáveis para o embora nesse trabalho o animal apresentasse três anos,
diagnóstico da pancreatite, sendo dessa forma os testes
sendo portanto jovem.
de escolha [4].
A pancreatite aguda leve a moderadamente severa se
A avaliação lboratorial inicial do paciente suspeito
apresenta clinicamente com anorexia, depressão, febre
de ter pancreatite também pode incluir hemograma,
urinálise e perfil bioquímico sérico, incluindo a (39 a 41° C), náusea, vômito de intestino delgado e/ou

________________
1. Primeiro Autor é Aluna de Graduação do Departamento de Medicina Veterinária (DMV) da Universidade Federal do Rural de Pernambuco
(UFRPE). Av. Dom Manoel de Medeiros s\n, Dois Irmãos, Recife-PE. sapim_rodrigues@hotmail.com
2. Segundo Autor são Médicos Veterinários Residentes de Clínica Cirúrgica e Anestesiologia do Hospital Veterinário do DMV da UFRPE. Av. Dom
Manoel de Medeiros, s\n, Dois Irmãos, Recife-PE.
3. Terceiro Autor são alunas de graduação do Departamento de Medicina Veerinária ( DMV) da Universidade Federal Rural de Pernambuco. Av.
Dom Manoel de Medeiros, s\n, Dois Irmãos, Recife-PE.
4. Quarto Autor é Professora.Adjunto da disciplina Terapêutica Veterinária do DMV da UFRPE. Av. Dom Manoel de Medeiros, s\n, Dois Irmãos,
Recife-PE.
XI JORNADA DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO – JEPEX 2011 – UFRPE: Recife, 18 a 22 de outubro.

grosso, desidratação, distensão abdominal e dor dias. Além disso, administrou-se antibióticos,
abdominal (NELSON & COUTO) [3]. Então, com base inibidores de hidrogênio (H2), antieméticos,
na literatura, os sinais clínicos e achados do exame repositores de eletrólitos e vitaminas.
físico observados indicam que o animal do relato Em virtude do óbito do animal, não foi possível
provavelmente tinha pancreatite aguda leve à estabelecer o diagnóstico definitivo, uma vez que não
moderadamente severa. foram realizados necrópsia e exame histopatológico,
A posição de suplica assumida pelo animal e a dor para confirmação do caso.
aguda no quadrante abdominal superior direito também Apesar disso, pela sintomatologia e resultados dos
são achados relatados por (LEWIS, MORRIS JR. & exames realizados, não se pode desconsiderar um
HAND) [5]. A protusão da terceira pálpebra não foi possível diagnóstico de Pancreatite Aguda.
citada na literatura.
No exame Ultra-Sonográfico da região abdominal, Referências
constatou-se a presença de líquido livre em quantidade
moderada, espessamento de alças intestinais, [1] WILLIAMS, D. A. Moléstias pancreáticas exócrinas. In:
motilidade lenta em alguns segmentos, aumento de ETTINGER, S. J. Tratado de medicina interna veterinária: moléstias
do cão e gato. São Paulo: Manole, 1992. v. 3, p.1599-1626.
ecogenicidade de tecidos abdominais (processo
inflamatório), parede do estômago espessada (gastrite), [2] SHEN, J. et al. Hemodynamic effects and the effective treatment
e aumento de volume na região pancreática assim como of naloxone on experimental acute pancreatitis in dogs. Chinese
foi afirmado por NELSON & COUTO [3], sugerindo o medical Journal. v. 105, n.11, p. 957- 963, 199
diagnóstico de pancreatite aguda.
[3] NELSON, R. W., COUTO, C. G. Fundamentos de medicina
Os resultados obtidos para hemograma e análises interna de pequenos animais. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan,
bioquímicas podem ser observados nas Tabelas 1 e 2, 1994. p. 319-327.
respectivamente.
[4] KIRK, R. W., BISTNER, S. I. Manual de procedimentos e
O hemograma revelou DNNE (desvio nuclear
tratamento de emergência em medicina veterinária. 3 ed. São Paulo:
neutrofilico à esquerda) leve e eosinopenia, alterações Manole, 1987. p. 87-100.
semelhantes são relatadas na literatura por COLES [6].
Na bioquímica sérica foi observado aumento de [5] LEWIS, L. D., MORRIS JR., M. L., HAND, M. S. Small animal
amilase, porém, uma baixa concentração de lípase clinical nutrition III. 3 ed. Topeka: Mark Morris Institute, 1994. p. 7-
15.
(Tabela 2), contradizendo BUSH [7], que afirmou que
as duas enzimas estariam elevadas na pancreatite. Os [6] COLES, E. H. Patologia Clínica Veterinária. 3 ed. São Paulo:
valores de TGP, uréia, creatinina e FA apresentaram-se Manole. 1984. p. 5-10
aumentados, corroborando com WILLIAMS, D. A. [1],
[7] BUSH, B. M. 2004. Interpretação de resultados laboratoriais para
que afirmou ser observado aumento da concentração de clínicos de pequenos animais. São Paulo. p.255-266
uréia. A análise da tripsina fecal foi fortemente
positiva, confirmando o que foi exposto por NELSON [8] MEYER, D.J.; Coles, E.H.; Rich, L.J. Medicina de Laboratório
& COUTO [3]. Veterinária: Interpretação e diagnóstico. São Paulo: Roca, 1995. p.
294 -298
O paciente foi internado, realizando-se o tratamento
preconizado por NELSON & COUTO [3], onde a
desidratação foi controlada com fluidoterapia agressiva
(via venosa) e nada por via oral, durante três a quatro
XI JORNADA DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO – JEPEX 2011 – UFRPE: Recife, 18 a 22 de outubro.

Tabela 1. Resultado da Bioquímica Sérica

Parâmetros Resultados Referência*

Amilase mg/dl 2015 388-1007


Uréia mg/dl 79,5 21-60
Creatinina mg/dl 1,8 0,5-1,5
TGP UI/l 136 13-92
FA UI/l 166 20-156
Colesterol mg/dl 250 135-270
Triglicerídeos mg/dl 35 27,4-144
Glicose Sérica mg/dl 85 70-120
*Fonte: Meyer, D.J.; Coles, E.H.; Rich, L.J. Medicina de Laboratório Veterinária: Interpretação e diagnóstico. São Paulo: Roca,
1995. p. 294

Tabela 2. Resultado do hemograma

Parâmetros Resultado Referência*

Hemácias (/mm3) 87,5 5,5-10


Hemoglobina (g%) 8,5 8-15
Hematócrito (%) 40,0 24-45
VCM (fl.) 54,9 39-55
CHCM (%) 35,0 30-36
Leucócitos (/mm3) 14.300 5500-19500
N. Segmentados (/mm3) 13.000 2500-12500
Linfócitos (/mm3) 3000 1500-7000
Eosinófilos (/mm3) 10 45-1500
Bastonete (/mm3) 315 0-299
Plaquetas (/mm3) 198.000 175000-500000
*Fonte: Meyer, D.J.; Coles, E.H.; Rich, L.J. Medicina de Laboratório Veterinária: Interpretação e diagnóstico. São Paulo: Roca,
1995. p. 294

Palavras- Chave: Pâncreas, Urinálise, Pancreatite, Cão

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