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Doença Renal Policística em Gato Doméstico Sem Raça Definida -

Relato de Caso

Resumo:
A doença renal policística (DRP) é uma enfermidade congênita autossômica
dominante, caracterizada pelo desenvolvimento de cistos renais com crescimento
progressivo podendo atingir uni ou bilateralmente os rins. Ainda não há um
tratamento específico para a doença, apenas o acompanhamento, proteção do
parênquima renal funcional e terapia de suporte. O presente relato descreve um
caso de um felino diagnosticado como portador da doença renal policística e
encaminhado ao médico veterinário nefrologista para acompanhamento.

Palavras-Chaves: Cistos; Felis Catus; Nefrologia.

Introdução

A doença renal policística (DRP) também conhecida como PKD (Polycystic


Kidney Disease), é uma enfermidade congênita caracterizada pelo desenvolvimento
de cistos renais que causam compressão e destruição do parênquima renal,
cursando com insuficiência renal crônica (1). Essa enfermidade não tem distinção
por sexo, sendo amplamente relatada em gatos da raça persa e mestiços (1). Em
pacientes felinos, a PKD está relacionada a uma mutação no gene PKD1 de caráter
hereditário autossômico dominante (2). O portador pode ser assintomático por toda
a vida se caso tiver envolvimento unilateral ou manifestar sinais clínicos após alguns
anos, quando a doença progride para um quadro de doença renal crônica. (3) A
ultrassonografia é o método mais utilizado no diagnóstico por apresentar uma alta
sensibilidade e especificidade (4). O diagnóstico precoce é importante para o
acompanhamento do paciente, e para impedir a reprodução desses animais,
evitando a transmissão genética, visto que não há tratamento específico para a
doença, sendo o principal objetivo apenas adiar a progressão da doença renal
crônica (4).

MATERIAL E MÉTODOS:
Foi atendido em uma clínica particular, um paciente da espécie felina, fêmea,
FIV/FELV negativa, sem raça definida (SRD), com cinco anos de idade, pesando
quatro quilos, com suspeita de ingestão de corpo estranho linear. A tutora relatou
durante a anamnese que a paciente não apresentava sinais clínicos, sendo
observado normodipsia, normofagia e diurese normal e que gostaria de excluir a
suspeita inicial. Diante da suspeita clínica foi solicitado o exame ultrassonográfico,
no qual pode-se observar a presença de múltiplos nódulos em ambos os rins. Após
a exclusão da suspeita de ingestão de corpo estranho, a paciente foi encaminhada
para acompanhamento com médico veterinário nefrologista, o qual requisitou a
repetição do exame ultrassonográfico.
Durante a realização do novo exame de imagem, foi possível observar a
presença de inúmeros cistos distribuídos pelo parênquima renal (figura 1A e 1B),
sendo que o de maior tamanho tinha entre 1,5 - 1,8 cm de diâmetro no rim esquerdo
e 1,3 - 1,8 cm no rim direito. Ainda, foi solicitado hemograma, no qual havia um
quadro de leucopenia (linfopenia), enquanto que no exame bioquímico foi
identificado azotemia. A terapia instaurada voltou-se para a mudança na
alimentação com introdução de um alimento comercial específico para pacientes
com doença renal, além de suplementação com uma cápsula de Ômega 3 (Ograx 3
500) uma vez ao dia (SID) e ½ comprimido de suplemento alimentar vitamínico
(Nexin) SID, ambos de uso contínuo. Além disso, indicou-se a implementação de
métodos de enriquecimento ambiental na rotina do animal, como atividade física,
maior estímulo à ingestão hídrica e redução do estresse.
Após dois meses do atendimento inicial, a paciente retornou para um novo
acompanhamento, onde pode-se observar ganho de peso e redução dos níveis de
uréia e creatinina. Além disso, a tutora relatou que a paciente estava mais ativa e
adaptada às mudanças realizadas. Foi recomendado o acompanhamento com
exames de imagem e laboratoriais a cada seis meses para verificar a progressão da
enfermidade.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
A doença renal policística é uma enfermidade hereditária que promove a
formação de cistos repletos de líquido nos rins, cuja formação e progressão causam
compressão do tecido renal adjacente, levando à insuficiência renal irreversível (5).
O presente relato descreve um paciente felino, fêmea, SRD, de 5 anos de idade,
sendo que de acordo com a literatura, a doença renal policística é prevalente em
gatos persa e de raças relacionadas, independente do sexo, desenvolvendo-se a
partir dos três anos de idade (6).
Os sinais clínicos apresentados são variáveis, estando relacionados
diretamente ao tamanho dos cistos, à compressão do parênquima renal provocada
e à evolução do quadro clínico. (7). Como sinais clínicos mais comuns pode-se
destacar: letargia, anorexia, vômito, polidipsia, poliúria, perda de peso, desidratação
e hematúria (8). Apesar da presença de múltiplos cistos em ambos os rins e de seus
tamanhos significativos, a paciente relatada não apresentava sinais clínicos.
Testes genéticos foram desenvolvidos com o objetivo de facilitar o
diagnóstico da PKD, contudo, essa avaliação não pode prever a gravidade da
doença e não permite o monitoramento da progressão nos animais afetados (9).
Devido a isso, a ultrassonografia ainda é o exame complementar mais utilizado no
monitoramento dessa enfermidade, assim como foi recomendado pelo profissional
responsável pelo caso. Apesar disso, estudos anteriores os quais avaliaram a
acurácia da ultrassonografia na detecção da PKD demonstraram sensibilidades de
até 91%, além de resultados discordantes com base na avaliação ultrassonográfica,
o que pode justificar a necessidade de repetição do exame complementar no caso
relatado (9).
Atualmente não existe tratamento específico para a doença renal policística,
devido a sua irreversibilidade (10). A terapia é voltada ao controle da progressão da
doença e dos sinais de insuficiência renal crônica. Deve-se corrigir ou minimizar os
distúrbios hidroeletrolíticos e ácido-basico, controlar a uremia e proporcionar uma
nutrição adequada, sendo utilizado um alimento comercial com essa finalidade do
caso relatado (POLZIN). Além disso, a suplementação com Ômega 3 pode auxiliar a
aumentar a taxa de filtração glomerular, reduzir a pressão intraglomerular, assim
como a pressão sanguínea, promovendo uma mais adequada hemodinâmica renal
(BARTGES).

CONCLUSÃO
A doença renal policística é uma enfermidade com alta prevalência em
animais da espécie felina, sendo caracterizada por promover um quadro de
insuficiência renal crônica, cujo tratamento atual é apenas paliativo. Devido a isso,
são necessários mais estudos para determinar as mutações associadas ao
aparecimento desta enfermidade, para a realização de um diagnóstico precoce,
esterilização dos animais positivos e consequente retardo de sua progressão
clínica.

REFERÊNCIAS

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2020. 21f. Trabalho de conclusão de curso (Graduação) - Faculdade de
Medicina Veterinária, Centro Universitário de Brasília.
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literatura. UNICIÊNCIAS, v.19, n.2. 2015.
3. PARANHOS, L., SOUZA, P., BOSSO-HOLZLSAUER, L., HOLZLSAUER, G.
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policística felina em gato senil - relato de caso. Brazilian Journal of Animal
and Environmental Research, Curitiba, v.4, n.3, p. 3593-3606. 2021.
4. CHAM, J. Doença renal policística em felinos domésticos - revisão de
literatura. 2021. 21f. Trabalho de conclusão de pós-graduação - Faculdade
de Medicina Veterinária. Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
5. Schirrer L, Marín-García PJ, Llobat L. Feline Polycystic Kidney Disease: An
Update. Veterinary Sciences [Internet] 2021;8(11):269. Available from:
http://dx.doi.org/10.3390/vetsci8110269
6. Lee, Y.-J.; Chen, H.-Y.; Hsu, W.-L.; Ou, C.-M.; Wong, M.-L. (2010). Diagnosis
of feline polycystic kidney disease by a combination of ultrasonographic
examination and PKD1 gene analysis. Veterinary Record, 167(16), 614–
618.doi:10.1136/vr.c4605
7. JERICÓ, M. et al. Tratado de Medicina Interna de Cães e Gatos. Editora
Roca. Volume 1. Rio de Janeiro, 2015.
8. GUERRA, J. M. Doença renal policística autossômica dominante em felinos
da raça Persa: aspectos clínicos, laboratoriais, imagenológicos e genéticos.
2014. Tese de Doutorado. Universidade de São Paulo.
9. Wills, Sheila J.; Barrett, Esther L.; Barr, Frances J.; Bradley, Kate J.; Helps,
Chris R.; Cannon, Martha J.; Gruffydd-Jones, Timothy J. (2009). Evaluation of
the repeatability of ultrasound scanning for detection of feline polycystic
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10. FERRANTE, T. Doença renal policística em felinos. Nosso Clínico, v.7, n.42,
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