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JUSTIÇA RESTAURATIVA E SISTEMA CRIMINAL: LIMITES E

POSSIBILIDADES

MIKAELLE MENDES VASCONCELOS

Sobral-CE

2012
JUSTIÇA RESTAURATIVA E SISTEMA CRIMINAL: LIMITES E
POSSIBILIDADES

MIKAELLE MENDES VASCONCELOS

Monografia apresentada como


exigência parcial para obtenção do
grau de bacharel em Direito, sob
orientação de conteúdo do Professor
Especialista Rômulo Linhares e
orientação metodológica da Professora
Mestre Ebe Pimentel Gomes Luz

Sobral-CE

2012
JUSTIÇA RESTAURATIVA E SISTEMA CRIMINAL: LIMITES E POSSIBILIDADES

Monografia apresentada ao curso de


Direito da Faculdade Luciano Feijão –
FLF, como pré-requisito para obtenção
do grau de bacharel em Direito.

Aprovada em: ____/_____/_______

EXAMINADORES
Dedico este trabalho àqueles pobres,
humilhados e injustiçados pelo ideal
repressivo e preconceituoso do sistema
de justiça criminal que atualmente vigora
no país.
AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus por todas as conquistas e oportunidades com que me


vem agraciando, em especial, de ser membro da Pastoral Carcerária de Sobral, que
me fez conhecer e ter uma visão diferente do sistema prisional, além de ter-me dado
a oportunidade de conhecer pessoas maravilhosas.

A Igor Barreto de Menezes Pereira, grande namorado e companheiro, por


toda ajuda, incentivo e apoio durante a escrita deste trabalho e final de curso.

A Regina Pereira do Nascimento Silva, secretária da Pastoral Carcerária


de Fortaleza, e Joanne Blaney, Missionária, membro do Centro de Direitos Humanos
e Educação Popular de Campo Limpo (CDHEP) e integrante da Escola de Perdão e
Reconciliação (ESPERE), por todo material que me foi cedido, ajuda e apoio para a
elaboração deste trabalho.

Por fim, agradeço a meus pais pelos ensinamentos que me foram dados e
a todos os amigos e familiares que contribuíram para meu crescimento pessoal.
A injustiça, senhores, desanima o
trabalho, a honestidade, o bem; cresta em
flor os espíritos dos moços, semeia no
coração das gerações que vêm nascendo
a semente da podridão, habitua os
homens a não acreditar senão na estrela,
na fortuna, no acaso, na loteria da sorte,
promove a desonestidade, promove a
venalidade [...] promove a relaxação,
insufla a cortesania, a baixeza, sob todas
as suas formas. (Ruy Barbosa. Oração
aos Moços)
RESUMO

Esse trabalho visa estabelecer a importância da adequação ou introdução da justiça


restaurativa ao ordenamento jurídico brasileiro, de forma a melhorar o sistema de
justiça criminal, diminuindo a morosidade e o acúmulo de processos. Contém uma
abordagem inicial sobre conceito, histórico e marcos legais da justiça restaurativa
em todo o mundo. Posteriormente foi feita uma análise dos programas introduzidos
no Brasil relacionados a esse modelo inovador de justiça. Por fim, no último capítulo,
procurou-se fazer uma abordagem geral sobre os métodos de resolução de conflitos,
incluindo o método mais usual, a resolução judicial, explanando sobre a possível
adaptação do modelo restaurador ao ordenamento jurídico e sistema de justiça
criminal atuais.

Palavras-chave: Justiça restaurativa. Sistema de justiça criminal. Solução de conflitos.


ABSTRACT

This work aims to establish the importance of adapting or introducing restorative


justice into Brazilian’s juridical order, in order to improve the criminal judicial system,
decreasing the lethargy and the process congestion. It contains an initial approach
on restorative justice’s concept, history and legal boundary, all over the world. After
this an analysis on this innovator justice model was made concerning the programs
introduced in Brazil. Finally, in the last chapter, a general approach due to conflict
resolution methods was done, including the most usual one, the judicial resolution,
explaining the possible adaption of restorative model to current juridical order and
criminal justice system.

Key-words: Restorative justice. Criminal justice system. Conflict resolution.


SUMÁRIO

INTRODUÇÃO...........................................................................................................09
1 JUSTIÇA RESTAURATIVA: ABORDAGEM CONCEITUAL, SURGIMENTO E
AFIRMAÇÃO..............................................................................................................10
1.1 ABORDAGEM CONCEITUAL..............................................................................10
1.2 HISTÓRICO..........................................................................................................15
1.3 MARCOS LEGAIS................................................................................................19
2 JUSTIÇA RESTAURATIVA NO BRASIL...............................................................22
2.1 HISTÓRICO..........................................................................................................22
2.2 INICIATIVAS RELACIONADAS À JUSTIÇA RESTAURATIVA...........................24
3 JUSTIÇA RESTAURATIVA: MÉTODO ALTERNATIVO OU AUXILIAR DA
RESOLUÇÃO JUDICIAL DE CONFLITOS?.............................................................33
3.1 CONFLITO E MÉTODOS DE RESOLUÇÃO.......................................................33
3.1.1 Arbitragem.......................................................................................................33
3.1.2 Conciliação......................................................................................................34
3.1.3 Mediação..........................................................................................................36
3.1.4 Resolução judicial...........................................................................................36
3.2 PAPEL DA JUSTIÇA RESTAURATIVA NA RESOLUÇÃO JUDICIAL DE
CONFLITOS CRIMINAIS NO BRASIL.......................................................................39
3.2.1 Crítica à resolução judicial dos conflitos penais.........................................41
3.2.2 Justiça restaurativa e resolução judicial dos conflitos penais: limites e
possibilidades..........................................................................................................45
CONCLUSÃO............................................................................................................50
REFERÊNCIAS..........................................................................................................53
ANEXO A...................................................................................................................55
ANEXO B...................................................................................................................61
ANEXO C...................................................................................................................68
INTRODUÇÃO

Com os crescentes índices de violência e a explosão da criminalidade no


mundo, estudiosos de diversos países têm-se mobilizado com um único objetivo:
mudar esta realidade. Mas como seria possível tal mudança? A prisão é a única
resposta penal à criminalidade? É utopia a implantação de um modelo de justiça
criminal capaz de controlar as práticas delituosas, satisfazer as vítimas atingidas
pelo crime e diminuir a criminalidade e a reincidência? Há possibilidade de
implantação, no Brasil, de uma justiça criminal participativa, que utilize a promoção
dos direitos humanos, cidadania, inclusão e paz social como princípio fundamental?
Com o objetivo de responder estas perguntas foi desenvolvido esse
trabalho, a partir de pesquisa bibliográfica com a finalidade de analisar a
possibilidade de modificação do sistema de justiça atual vigente no País, de forma a
implantar práticas restaurativas que venham a auxiliar na justiça penal, figurando
como política pública criminal.
No primeiro capítulo, buscou-se fazer uma abordagem geral sobre Justiça
Restaurativa falando sobre seu conceito, surgimento e alguns referenciais legais
existentes nos países que a adotaram como modelo auxiliar ou alternativo de justiça
criminal ou como instrumento utilizado na política de redução de criminalidade.
Em seguida, no segundo capítulo, foi feita uma análise específica, voltada
para a implantação e utilização da Justiça Restaurativa no Brasil, abordando seu
histórico no País, desde sua implantação até a efetivação por meio de projetos
pilotos, que contaram com o apoio do Programa das Nações Unidas para o
Desenvolvimento. Além disso, no mesmo capítulo falou-se especificamente dos
projetos pilotos de Justiça Restaurativa que são destaques nacionalmente no
assunto e de outras iniciativas, não muito divulgadas no País (Associação de
Proteção e Assistência ao Condenado – APAC e Escola de Perdão e Reconciliação
– ESPERE).
Por fim foi feita uma abordagem geral sobre os métodos de resolução de
conflitos, sua eficácia e aceitação no sistema atual de justiça penal, com o objetivo
de analisar a possibilidade de implantação de um sistema penal restaurador, seja ele
como auxiliar ou substituto do tradicional, diante da legislação que atualmente vigora
e das críticas que a utilização das práticas restaurativas vem sofrendo.
1 JUSTIÇA RESTAURATIVA: ABORDAGEM CONCEITUAL, SURGIMENTO E
AFIRMAÇÃO

Antes de passar para o estudo detalhado da Justiça Restaurativa no


Brasil como método de resolução de conflitos, busca-se no presente capítulo
abordar o conceito, histórico e marcos legais para melhor entendimento do assunto,
de modo a facilitar a compreensão das críticas e indagações que encerram o
presente trabalho.

1.1 ABORDAGEM CONCEITUAL

O termo Justiça Restaurativa ainda não conta com um padrão conceitual


unificado. Com efeito, alguns autores preferem chamar de “Justiça Transformadora
ou Transformativa” (BUSH e FOLGER, 1994), outros de “Justiça Relacional”
(BURNISIDE e BAKER apud VAN NESS e STRONG, 1997, p. 25) e “Justiça
Recuperativa” (CARIO, 2003, pp. 219-242).

Pode-se defini-la como um método alternativo de resolução de conflitos,


através do qual todas as partes afetadas por um crime – agressor, vítima e
comunidade – ajudam a solucioná-lo, conjuntamente, pois nem todos os danos
causados por um ato delituoso são resolvidos na justiça convencional. Nessa forma
de mediação de conflitos, existe um facilitador, pessoa leiga, sem experiência
jurídica, que auxilia os envolvidos no crime, juntamente com seus familiares e
membros da comunidade afetada, a iniciarem um diálogo reparador, o qual
transforma uma relação marcada pela violência do crime cometido em uma relação
colaborativa, que visa à responsabilização, reparação do dano causado, prevenção
de violências futuras e fortalecimento de laços comunitários, ou seja, uma efetiva
reconciliação.

Pode-se dizer que o objetivo da Justiça Restaurativa é

Conectar pessoas além dos rótulos de vítima, ofensor e testemunha,


desenvolvendo ações construtivas que beneficiem a todos. Sua abordagem
tem o foco nas necessidades determinantes e emergentes do conflito, de
forma a aproximar e co-responsabilizar todos os participantes, com um
plano de ações que visa restaurar laços sociais, compensar danos e gerar
compromissos futuros mais harmônicos. (Disponível em:
http://www.justica21.org.br/interno.php?ativo=DOC&sub_ativo=jr_o_que&P
HPSESSID=97733814b5033462d9b35ef81a868fed. Acessado em
20.01.2012)

A fixação do conceito de Justiça Restaurativa pode-se dar por contraste ao


modelo da justiça retributiva, paradigma clássico da justiça penal, oferecendo-lhe um
contraponto. A comparação pode ser verificada na tabela abaixo (ROLIM, 2009,
p.243):

PARADIGMA DA JUSTIÇA PARADIGMA DA JUSTIÇA


RETRIBUTIVA RESTAURATIVA
Crime definido como violação ao Crime definido como violação de uma
Estado pessoa por outra
Foco no estabelecimento da culpa, Foco na solução do problema;
voltado para o passado (ele/ela fez atenção direcionada para o futuro (o
isso?) que deve ser feito?)
Relações adversárias e processo Relações de diálogo e negociação
normativo normativa
Imposição de dor para punir e Restituição como meio de tratar
prevenir ambas as partes; reconciliação como
objetivo
Justiça definida como intenção e Justiça definida como
como processo: regras de direito relacionamentos corretos: julgada
pelos resultados
Natureza interpessoal do conflito Crime reconhecido como conflito
obscurecida, reprimida: conflito visto interpessoal: valor do conflito
como entre o indivíduo e o Estado reconhecido
Um dano social retribuído por outro Foco na reparação do dano social
Alijamento da comunidade, que é Comunidade como facilitadora do
representada pelo Estado processo
Encorajamento dos valores individuais Encorajamento da colaboração
e competitivos
Ação direta do Estado em direção ao O papel da vítima e dos infratores é
infrator: vítima ignorada e infrator reconhecido: as necessidades das
passivo vítimas são reconhecidas e os
infratores são estimulados a assumir
responsabilidades
Responsabilização do infrator definida Responsabilização do infrator definida
com a punição a partir do entendimento do mal
causado e da decisão de reparar o
dano
Infração definida puramente em Infração definida a partir de um amplo
termos legais, independentemente contexto
das condições sociais, econômicas,
políticas, culturais etc.
Débito do infrator ante o Estado e a Débito do infrator ante a vítima
sociedade abstratamente
Resposta focada no comportamento Resposta centrada nas
passado do infrator consequências danosas do
comportamento do infrator
Estigma do crime é irremovível Estigma removível através da ação
restaurativa
Nenhum estímulo ao arrependimento Possibilidade de arrependimento e
e ao perdão perdão
Dependência de profissionais de Envolvimento direto dos participantes
direito

Os princípios básicos da Justiça Restaurativa se encontram na Resolução


n.º 2002/12 do Conselho Social e Econômico da Organização das Nações Unidas
(ONU), servindo como referência para a regulamentação de sua implementação e
de suas práticas. Funciona, porém, apenas como guia para os países que desejam
efetivá-la e não como modelo que deve ser seguido. São regras flexíveis, adaptáveis
às condições de cada Estado.

É importante ressaltar que a Resolução n.º 2002/12 visa orientar a


utilização da Justiça Restaurativa em casos criminais que resultam em infrações de
menor potencial ofensivo, cometidos tanto por crianças e adolescentes, quanto por
pessoa que alcançou a maioridade. Também é utilizada para reparar danos
causados psicologicamente por infrações de maior potencial ofensivo, como um
homicídio, não substituindo, necessariamente, a resolução judicial, ou seja, o
indivíduo que passa pelo procedimento restaurativo pode também ser julgado e
condenado na seara criminal, ainda que haja discussões sobre a ocorrência de um
bis in idem contra o ofensor, renovada exposição da vítima e fragilidade da lógica
interna do sistema (PALLAMOLLA, 2009, p.102).

Acerca da participação de menores, importa citar o exemplo da Nova


Zelândia, em que o encaminhamento dos casos aos programas restaurativos é feito
pela própria polícia, sendo cogente para o adolescente infrator, embora voluntário
para a vítima, cerca de 90% participam (PALLAMOLLA, 2009, p.100).

O procedimento restaurativo poderá ocorrer a qualquer momento e


cumulativamente com um processo criminal, como se referiu acima, e independente
da fase que este se encontre, mesmo após a sentença, quando o processo se
encontra na execução penal. Tem-se, desse modo, que sua aplicação pode-se dar
na fase policial, antes da acusação formal; fase pós-acusação, antes da instrução
criminal; fase judicial, durante o curso da instrução, mas antes do julgamento, ou
mesmo ao tempo da sentença; fase punitiva, como alternativa ou cumulação ao
encarceramento (PALLAMOLLA, 2009, pp.100-101).

Para a efetivação do novo modelo, de acordo com Rogério Greco (2011,


p.368)

(...) teríamos a criação de ‘Juizados’ informais, cujos representantes não


seriam, necessariamente, do Poder Judiciário, do Ministério Público, ou
mesmo bacharéis em Direito. Seria, assim, a sociedade julgando a própria
sociedade, por meio de seus pares.

Os “Juizados” informais citados pelo referido autor, embora não


explicitamente, seriam os chamados círculos restaurativos, que se relacionam
diretamente com a reconstrução dos vínculos rompidos pelo ato do agressor, não
apenas com a vítima, mas também com a comunidade.

Os círculos restaurativos, ou círculos de paz, favorecem a aproximação


das pessoas envolvidas no conflito, vítima e familiares, ofensor e familiares, bem
como representantes da comunidade e qualquer pessoa que possua interesse no
caso, para discutirem, em um ambiente de respeito e tranquilidade, sobre o crime
cometido, consequências e formas de reparação do dano causado, seja psicológico
ou material. Destina-se à percepção de que as ações cometidas afetam a todos que
sofreram com a infração e que quem as cometeu é responsável por seus efeitos.

Os participantes organizam-se em forma de círculo e obedecem à ordem


estabelecida pelo facilitador, passando o “poder de falar” de pessoa para pessoa,
facilitando a comunicação para aqueles que têm dificuldade de falar em grupo. O
próximo só pode manifestar-se quando aquele que detém o “poder de falar” concluir
seu raciocínio; o último, enquanto fala, tem a atenção de todos que estão presentes.
Esse modelo de mediação ajuda a regular o diálogo, garantir o respeito e a atenção
entre os que falam e ouvem, pois todos que participam do círculo têm seu momento
para se manifestar.

Durante o círculo as pessoas têm oportunidade de se relacionar de igual


para igual, sem distinções, independente de ser vítima ou praticante do delito. É
nesse momento que surge a figura do facilitador, mediador propriamente dito, que
tem a incumbência de manter o espaço em segurança, auxiliando o diálogo e a
compreensão do fato ocorrido por meio de perguntas direcionadas à vítima, ao
acusado, aos familiares dos mesmos e aos membros da comunidade escolhidos.

O procedimento restaurativo se divide em três fases: “o pré-círculo


(preparação para o encontro com os participantes); o círculo (realização do encontro
propriamente dito) e o pós-círculo (acompanhamento)”1. Ele pode ser utilizado
também para outras finalidades além daquela de alcançar um acordo que restaure
as relações rompidas pelo ato delituoso, como, por exemplo, “para resolver um
problema da comunidade, para prover suporte e cuidado para vítimas e ofensores
(às vezes para lhes preparar o círculo de sentença) e para considerar como acolher
na comunidade os ofensores que estiveram presos”. (RAYE and ROBERTS apud
PALLAMOLLA, 2009, p. 119).

Os círculos possuem uma perspectiva holística, voltando-se às carências


das vítimas, comunidade e ofensores. Nas palavras de Raye e Roberts,

1
Disponível em
<http://www.justica21.org.br/interno.php?ativo=DOC&sub_ativo=jr_circulo&PHPSESSID=11c239a9e5
475f1d0dae2a6e3493d3f1>, acessado em 23.01.2012. Destaque no original
‘os objetivos do processo incluem promover a cura para todas as partes
afetadas; oferecer ao ofensor a possibilidade de arrepender-se; empoderar
as vítimas e membros da comunidade para expressar-se francamente e
desenvolver capacidade para os próprios integrantes resolverem os seus
conflitos’ (RAYE and ROBERTS apud PALLAMOLLA, 2009, p. 120).

As práticas restaurativas possuem vários benefícios para vítimas,


agressores, assim como seus familiares e a comunidade. Com efeito, incentiva a
construir relacionamentos e diálogos que antes eram impossíveis de se estabelecer,
proporcionando um ambiente adequado para reconhecimento de erros, culpa e
responsabilidade, ajudando a mudar padrões antigos de interação entre os
indivíduos e suas comunidades; capacita vítimas, ofensores e comunidade para a
resolução de conflitos de maneira amigável, ajudando na quebra do isolamento
trazido pela punição na seara penal; facilita a execução de maneiras inovadoras de
resolução de conflito ou problemas, que não se resolvem apenas com imposição de
penas pela justiça retributiva, transformando as causas profundas do conflito, como
por exemplo de rixas de gangues que por vezes resultam em homicídios.

1.2 HISTÓRICO

A descrição atual de Justiça Restaurativa foi recentemente elaborada,


mas seus alicerces derivam de períodos remotos. As ideias que culminaram nos
princípios atuais de restauração são baseadas nos povos membros de sociedades
tribais (AGUIAR, 2009, p.109) ou comunais (pré-estatais europeias e as
coletividades nativas), em que obedeciam à coletividade, viviam juntos e partilhavam
tarefas, obrigações e responsabilidades para garantir a sobrevivência de todos,
tendo os interesses coletivos como superiores aos interesses individuais.

Nesse modelo de sociedade, condenar e excluir o infrator das atividades


era danoso para os interesses e sobrevivência do grupo. A forma de fazê-lo
perceber o erro cometido era por meio de rituais que incluíam práticas restaurativas,
como encontros com a comunidade afetada, vítima e seus familiares e pessoas
vistas como autoridades. Os encontros tinham a finalidade de restabelecer o vínculo
rompido visando manter o equilíbrio comunal, reparação do dano causado pelo
infrator à vítima e comunidade, de forma a reintegrá-lo.
Contudo, com a centralização do poder nas mãos de poucos e o
nascimento das nações-estado, houve a implantação de um sistema único,
estabelecendo-se uma nova forma de justiça (retributiva-punitiva), tornando quase
escasso o modelo restaurativo. Mas o modelo implantado acabou tornando-se
ineficaz, sendo necessária a junção com algum tipo de política pública, dando
atenção também à vítima da infração.

Então, com o final da Segunda Guerra Mundial, surgiram alguns


movimentos que criticavam o sistema de justiça criminal em vigor, os quais
propunham mudanças nas políticas penais, com uma inclinação para os direitos
humanos, advinda da Declaração Universal dos Direitos Humanos da Organização
das Nações Unidas (ONU), de 10 de dezembro de 1948.

Já a partir das décadas de 60 e 70, com a crise do ideal ressocializador e


da ideia de punição, tratamento e ressocialização por meio de penas privativas de
liberdade pelos Estados Unidos da América, houve propostas, por parte da doutrina,
por um lado, de um retribucionismo renovado (desert theories) e, por outro, de uma
mudança no Direito Penal, baseada no aprimoramento de ideias que possibilitassem
a restituição penal (reparação) e reconciliação entre as partes, podendo ser
consideradas como semente da Justiça Restaurativa. Estas propostas originaram os
programas de conciliação vítima-ofensor, sendo considerados como percussores da
Justiça Restaurativa no mundo.

Além disso, quatro movimentos importantes para a difusão da sociologia e


criminologia contribuíram para o ressurgimento das práticas restaurativas
contemporâneas. São eles: a) o abolicionismo; b) a vitimologia; c) a contestação das
instituições segregadoras (cárcere e manicômios judiciários) e d) a exaltação da
comunidade, os quais objetivavam um modelo de controle criminal diferente do que
vigorava, mais humano e justo, com o mínimo de punição.

Sobre o abolicionismo, deve-se brevemente afirmar que seu intuito não é


propriamente defender penas mais adequadas à reprovação das ações do agressor,
afastando a restrição da liberdade. Antes, volta-se contra todo o sistema penal
(GRECO, 2011, p.404). A vitimologia, por seu lado, aborda o conflito não a partir do
paradigma da violação do direito, do desrespeito à lei e à ordem estabelecidas, mas
da vítima, colocando-a no centro da solução do conflito, reparando-a mais
profundamente. O questionamento às instituições segregadoras tem origem pouco
após a instituição da pena privativa de liberdade como padrão repressor, por volta
do século XVIII, desenvolvendo-se desde então. Por fim, a exaltação da comunidade
parte do pressuposto de que o conflito não se volta propriamente contra o Estado,
nem se limita à ofensa contra a vítima, mas tem caráter supraindividual, além de
reconhecer a importância da comunidade no auxílio à reinserção social do apenado.2

Voltando ao histórico da Justiça Restaurativa, o projeto “Justiça para o


século 21”, em seu site3 disponibiliza um resumo, reproduzido abaixo, por sua
importância:

As ideias sobre a Justiça Restaurativa (JR) têm sua origem há mais de três
décadas. Os primeiros registros foram verificados nos Estados Unidos em
1970 sob a forma de mediação entre réu e vítima, depois adotadas por
outros países, com destaque para a experiência da Nova Zelândia. Também
Chile, Argentina e Colômbia dão os primeiros passos em direção a Justiça
Restaurativa. No Brasil, registram-se experiências isoladas, como a da 3ª
Vara do Juizado da Infância de Porto Alegre, iniciada em 2002.

Cronologia

1970/EUA - O Instituto para Mediação e Resolução de Conflito (IMCR)


usou 53 mediadores comunitários e recebeu 1657 indicações em 10 meses.
1976/Canadá/Noruega - Criado o Centro de JR Comunitária de Victoria.
No mesmo período na Europa verifica-se mediação de conflitos sobre
propriedade.
1980/Austrália - Estabelecidos três Centros de Justiça Comunitária
experimentais em Nova Gales do Sul.
1982/ Reino Unido - Primeiro serviço de mediação comunitária do Reino
Unido.
1988 - Nova Zelândia - Mediação vítima-agressor por oficiais da
condicional da Nova Zelândia.
1989 - Nova Zelândia - Promulgada a "Lei Sobre Crianças, Jovens e
suas Famílias", incorporando a Justiça Penal Juvenil.
1994/EUA - Pesquisa Nacional localizou 123 programas de mediação
vítima-infrator no país.
1999/mundo - Conferências de grupo familiar de bem-estar e projetos
piloto de justiça em curso na Austrália, Nova Zelândia, Estados Unidos, Grã-
Bretanha, África do Sul.
2001/Europa - Decisão-quadro do Conselho da União Europeia sobre a
participação das vítimas nos processos penais para implementação de lei
nos Estados.
2002/ONU - Resoluções do Conselho Econômico e Social da ONU.
Definição de conceitos relativos a JR, balizamento e uso de programas no
mundo.
2005/Brasil - No Brasil, Ministério da Justiça e PNUD patrocinam 3

2
Os dois primeiros movimentos, abolicionismo e vitimologia, são analisados de forma mais detalhada
em PALLAMOLLA, op. cit., pp.37-53.
3
Disponível em www.justica21.org.br. O histórico está disponível em
http://www.justica21.org.r/interno.php?ativo=DOC&sub_ativo=jr_origens. Acessado em 23.01.2012.
projetos de JR em Porto Alegre, São Caetano do Sul e Brasília. Início do
Projeto Justiça Século 21.
2007/ Porto Alegre - Em três anos de implementação do Projeto Justiça
para o Século 21, registra-se 2.583 participantes em 380 procedimentos
restaurativos realizados no Juizado da Infância e da Juventude. Outras
5.906 participaram de atividades de formação promovidas pelo Projeto.

O caso do povoado de Elvira em Ontário, Canadá, é considerado, pela


maioria dos doutrinadores em Justiça Restaurativa, a primeira experiência
contemporânea envolvendo práticas restaurativas. O fato se deu em 1974, quando
dois jovens acusados de vandalismo contra vinte e duas propriedades no povoado
de Elvira participaram de encontro com os donos das propriedades mostrando-se
como culpados e com a intenção de repararem os danos que haviam produzido, por
meio de acordos de indenização. Depois disso foram multados no valor de US$ 200
e colocados em liberdade condicional, sendo monitorados por 18 meses com a
condição de indenizarem as vítimas pelas perdas sofridas. Dentro de poucos meses
repararam o dano causado. Com isso nasceu o programa conciliação vítima-ofensor
no Canadá (GRECO, 2011, p. 375).
Quanto à fixação do termo, em 1993 a expressão restorative justice foi
utilizada pelo Congresso Internacional de Criminologia em Budapeste, e foi
ganhando adeptos nas conferências internacionais em que se falavam do tema, a
exemplo das Conferências Internacionais de Vitimologia de Adelaide, na Austrália
em 1994, em Amsterdam (1997) e em Montreal (2000).

1.3 MARCOS LEGAIS

O país pioneiro na adoção legislativa do modelo restaurativo foi a Nova


Zelândia, em 1989, inspirada nos costumes dos aborígenes Maoris, ao editar o
Estatuto das Crianças, Jovens e suas Famílias (Children, Young Persons and Their
Families Act), o qual reformulou o Sistema Juvenil de Justiça, alcançando sucesso
na prevenção e diminuição da reincidência de menores infratores. No modelo
adotado, as famílias participavam diretamente das decisões a serem tomadas em
relação à infração e ao menor. Nas palavras de Neemias Moretti Prudente, “o
processo essencial para tomada de decisões deveria ser a reunião de grupo familiar
(family group conferences), que visava incluir todos os envolvidos e os
representantes dos órgãos estatais responsáveis na busca da solução do conflito”.4
O impacto causado pela disseminação das práticas restaurativas foi tão
grande que em 1999 a Organização das Nações Unidas regulamentou tais práticas
por meio da Resolução n.º 1999/26, de 28 de julho, dispondo sobre o
“Desenvolvimento e Implementação de Medidas de Mediação e de Justiça
Restaurativa na Justiça Criminal”, possuindo como signatário o Conselho da Europa.
Em seguida foi editada a Resolução n.º 2000/14, de 27 de julho, que veio para
reafirmar a importância do tema tratado na resolução anterior.
Mas foi em 2002 que houve a edição da Resolução n.º 2002/12, a qual
instituiu os “Princípios Básicos no Uso de Programas de Justiça Restaurativa em
Matéria Penal” (basic principles on the use of restorative justice programs in criminal
matters)5(ANEXO A). Este documento é tido como referência mundial na matéria, o
qual define as bases, os princípios a serem seguidos e adotados para a
implementação da Justiça Restaurativa em um Estado. Vale ressaltar que ele não é
um documento taxativo, ou seja, não dita regras a serem seguidas, mas sim dá um
“norte”, serve como guia para os países que decidirem adotar as práticas
restaurativas como método de resolução de conflitos.
Outros acontecimentos marcaram a legislação penal de muitos países,
trazendo para estes a implementação do modelo restaurador. Foi o caso do XI
Congresso da ONU sobre Prevenção ao Crime e Justiça Criminal, que ocorreu em
Bangkok, Tailândia, que deu origem à Declaração de Bangkok em 2005. Segundo
relatórios disponíveis no site da ONU, “a ‘Declaração de Bangkok’ defendeu a
importância da chamada ‘justiça restaurativa’, que incentiva a intermediação direta
entre vítimas e agressores, como opção às formas tradicionais de acusação e
processo criminal.”6
Atualmente, são muitos os países que aderiram às práticas e modelos
restaurativos e que possuem algum tipo de experiência no assunto ou práticas
similares, dentre eles África do Sul, Alemanha, Austrália, Áustria, Bélgica, Canadá,
Escócia, Estados Unidos, Finlândia, França, Noruega e Nova Zelândia.

4
Cfr. artigo Algumas reflexões sobre justiça restaurativa. Disponível em
http://www.justicarestaurativa.org/news/algumas-reflexoes-sobre-a-justica-restaurativa. Acessado em
23.01.2012.
5
O conteúdo da Resolução 2002/12 consta do ANEXO A desta monografia.
6
Cfr. http://www.unodc.org/brazil/pt/programasglobais_violencia.html. Acessado em 23.01.2012.
No Brasil existe o projeto de lei PL 7006/2006 (ANEXO B), que propõe
uma mudança profunda no Código Penal (Decreto-Lei n.º 2848/40), no Código de
Processo Penal (Decreto-Lei n.º 3689/41) e na Lei n.º 9099/95, que instituiu os
Juizados Especiais Cíveis e Criminais. O projeto visa à regulamentação do uso
facultativo de procedimentos de Justiça Restaurativa no âmbito da justiça criminal,
complementando o modelo já existente no Brasil, em crimes e contravenções
penais. Tal projeto ainda se encontra aguardando designação de relator na
Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania da Câmara dos Deputados.7
Outros três documentos sobre a utilização da Justiça Restaurativa no
Brasil e América Latina têm grande relevância. A Carta de Araçatuba foi elaborada
pelos participantes do I Simpósio Brasileiro de Justiça Restaurativa, realizado em
São Paulo, na cidade de Araçatuba, em abril de 2005. Em setembro do mesmo ano,
na Costa Rica, houve o seminário “Building Restorative Justice in Latin America”,
oportunidade que deu origem à Declaração da Costa Rica sobre Justiça
Restaurativa. Já em abril de 2006, com base nas discussões realizadas entre os
participantes do II Simpósio Brasileiro de Justiça Restaurativa, que ocorreu na
Cidade do Recife, Pernambuco, foi elaborada a Carta de Recife.8
2 JUSTIÇA RESTAURATIVA NO BRASIL

Depois de abordar o conceito de Justiça Restaurativa, seu histórico e


marcos legais mais relevantes, nesse capítulo busca-se retratar a realidade nacional
sobre o tema, abordando o trabalho de algumas entidades e iniciativas que utilizam
a Justiça Restaurativa e suas práticas para solução de conflitos.

É importante ressaltar que a maioria das iniciativas avaliadas nesse


trabalho revela seu caráter fragmentário, sendo voltadas prioritariamente para o
menor infrator e para aquelas infrações de menor potencial ofensivo, resguardadas
pela Lei n.º 9099/95, lei que instituiu os Juizados Especiais Cíveis e Criminais, sendo
necessário desenvolvê-las de modo abrangente, para albergar um rol mais amplo de
crimes e não apenas contravenções penais, e homogêneo, a fim de que façam
parte, formalmente, do sistema penal.

7
Cfr. http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=323785. Acessado
em 23.01.2012.
8
O texto integral de alguns documentos produzidos pelos Simpósios brasileiros, além da Carta de
Costa Rica, encontra-se no ANEXO C da presente monografia.
2.1 HISTÓRICO

Apesar de se falar sobre Justiça Restaurativa há mais de trinta anos e de


suas práticas já serem adotadas e legalizadas em vários países, sendo a Nova
Zelândia percursora, no Brasil os relatos sobre a utilização de práticas restaurativas
datam de 2005. Essa demora se deve ao fato de que o sistema de justiça adotado
pela República Federativa do Brasil é bastante rígido, diferente do adotado nos
países de origem anglo-saxônica, o common law, que é uma estrutura mais aberta,
em que a aplicação do Direito se baseia mais em Jurisprudência do que no texto
legal, vigorando o princípio da oportunidade, segundo o qual o órgão acusador
dispõe de ampla discricionariedade em sua atuação, sendo mais compatível com os
ideais do modelo restaurativo.
No Brasil, o sistema adotado foi o civil law, em que a lei é a principal fonte
do direito adotada no País, sendo a Constituição de 1988 o documento de maior
importância. Vigoram também os princípios da indisponibilidade da ação penal
pública e indisponibilidade do inquérito policial, os quais estão expressos nos artigos
17 e 42 do Código de Processo Penal brasileiro, respectivamente. Os princípios
determinam que, depois de iniciados ação penal pública e inquérito policial, as

autoridades (no inquérito policial, o delegado e na ação penal pública, o membro do


Ministério Público) responsáveis pelas investigações, não poderão desistir ou pedir o
arquivamento dos procedimentos iniciados. Somente pode haver arquivamento por
determinação judicial, devendo ser ordenado pelo juiz competente, fato que dificulta
a adoção por parte do Brasil de medidas alternativas que não estejam formalmente
legalizadas.9
Entretanto, em junho de 2005, a Secretaria de Reforma do Judiciário do
Ministério da Justiça, contando com o apoio e financiamento do Programa das
Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), implementou em três Estados
brasileiros projetos relacionados à Justiça Restaurativa. São eles: Porto Alegre - RS,
São Caetano do Sul - SP e Brasília – DF.

9
Para a distinção entre civil law e common law, PALLAMOLLA, op. cit., pp.102-103.
Cada projeto adotado atua em âmbitos diferentes, já que existe uma
multiplicidade de áreas em que pode ser utilizada a Justiça Restaurativa. O projeto
realizado em Porto Alegre se volta para crianças e adolescentes que estão
cumprindo algum tipo de medida socioeducativa; o de São Caetano do Sul também
lida com crianças e adolescentes, mas nas escolas em que estudam; já o projeto
realizado no Distrito Federal é vinculado ao Tribunal de Justiça e envolve a
comunidade, vítimas e infratores.
Saliente-se que desde a implantação de projetos referentes à Justiça
Restaurativa no Brasil, não houve a constituição de nenhum órgão legal que
pudesse traçar as diretrizes gerais de aplicação das práticas restaurativas e
fiscalizá-las. De outro lado, houve, pela sociedade civil organizada, a fundação do
Instituto Brasileiro de Justiça Restaurativa (IBJR), que é uma organização não
governamental, formada por pesquisadores os quais são professores, psicólogos,
advogados, pedagogos, defensores públicos, sociólogos, membros do Ministério
Público e da magistratura, médicos, estudantes, entre outros profissionais, que
visam estudar, expandir e publicizar as práticas restaurativas.
Atualmente não existe nenhuma legislação vigente que trate
especificamente sobre Justiça Restaurativa, seja como modelo alternativo ao
tradicional ou apenas como seu auxiliar. Existem apenas leis que utilizam a
mediação, conciliação, arbitragem, transação penal ou que determinam a reparação
da vítima como forma ou elemento de resolução de conflitos, nomeadamente a Lei
n.º 9.099/95, que instituiu os Juizados Especiais Cíveis e Criminais, a Lei n.º
8.069/90, Estatuto da Criança e Adolescente e a Lei n.º 9.307/96.10 As práticas
acima mencionadas serão abordadas e diferenciadas das utilizadas pela Justiça
Restaurativa no próximo capítulo.

2.1 INICIATIVAS RELACIONADAS À JUSTIÇA RESTAURATIVA

10
Em artigo publicado em meio eletrônico, Damásio E. de Jesus, além de referir-se ao Estatuto da
Criança e do Adolescente e à Lei dos Juizados Especiais, cita passagens do Código Penal como
sendo “práticas parcialmente restaurativas”, citando todos os dispositivos relacionados às penas
alternativas e à reparação da vítima, além de causas de extinção de punibilidade especiais, como, por
exemplo, a constante do § 3.º do art.312, tratando da reparação de dano no peculato culposo. O
texto, composto em agosto de 2005, está disponível em http://jus.com.br/revista/texto/7359/justica-
restaurativa-no-brasil. Acessado em 28.01.2012.
Como já foi abordado no tópico anterior, os projetos pilotos relacionados à
Justiça Restaurativa tiveram sua implantação no Brasil no ano de 2005, nas cidades
de Porto Alegre, São Caetano do Sul e Brasília e foram iniciados
concomitantemente, a partir do financiamento do Programa das Nações Unidas para
o Desenvolvimento (PNUD), em parceria com o Ministério da Justiça. É importante
ressaltar que são projetos experimentais.
O projeto implantado em Brasília está instalado no Tribunal de Justiça do
Distrito Federal e Territórios, estabelecendo uma parceria para realização de suas
atividades com o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios, cabendo ao juiz
competente coordenar o programa, que acontece junto aos 1º e 2º Juizados
Especiais Criminais do Núcleo Bandeirantes, assistindo também as cidades de
Riacho Fundo I e II, Candangolândia e Park Way, atuando em casos de
competência do Juizado Especial Criminal. O programa está voltado para as
infrações consideradas de menor potencial ofensivo, envolvendo crimes com pena
máxima não superior a dois anos de privação de liberdade. A prática utilizada é a
mediação vítima-ofensor, que visa possibilitar o encontro entre os implicados (vítima
e ofensor) em um ambiente que passe segurança e que possua estrutura capaz de
facilitar o diálogo, coordenado por um facilitador. Antes do encontro, vítima e
ofensor, separadamente, passam por um processo chamado pré-círculo, em que o
facilitador ou mediador, treinado para o processo de aproximação que irá coordenar,
explica e avalia se ambos então preparados para o procedimento. Depois de
preparado ocorre o encontro entre vítima e ofensor, no qual o facilitador explica para
o infrator as consequências e impactos do delito causados na vítima. A partir daí o
ofensor tem a possibilidade de assumir sua responsabilidade no caso, dando à
vítima respostas sobre por que o delito ocorreu, como e qual era a intenção do
agente ao cometê-lo. Depois do encontro, ambos estabelecem um acordo de
reparação de dano, culminando na autocomposição.

Já o projeto implantado em São Caetano do Sul, denominado “Justiça e


Educação: parceria para a cidadania” (AGUIAR, 2009, p.135), é desenvolvido com o
apoio da Vara e Promotoria da Infância e Juventude, voltado para crianças e
adolescentes praticantes de atos infracionais ou meras infrações escolares (bullying,
por exemplo). A equipe envolvida com o programa é integrada por juiz, promotor,
assistentes sociais, diretorias das escolas, facilitadores e outros profissionais,
contando com o apoio do Conselho Tutelar, Conselho Municipal dos Direitos da
Criança e do Adolescente, Escola da Magistratura, entre outras instituições.
A prática restaurativa adotada nesse projeto é a do círculo restaurativo, os
quais são realizados, na maioria das vezes, nas próprias escolas, em salas
específicas destinadas ao programa. Consistem no encontro entre vítima, infrator e
comunidade ou pessoas direta ou indiretamente envolvidas e interessadas na
resolução do delito, mediado por um facilitador treinado para guiar o círculo, o qual
geralmente é o professor ou outra pessoa com capacidade para tal. Qualquer
pessoa pode pedir a realização do processo restaurativo, sendo necessária para o
encaminhamento do menor infrator uma seleção, feita com base na análise do caso
(infração). Após a análise, ocorre o pré-círculo, em que os participantes serão
preparados para o procedimento, demonstrando-se aptos ou não para tal.
Após o atendimento dos casos, é redigido um termo de acordo, o qual
deverá ser cumprido e encaminhado para o juízo competente para fiscalização. Se
for verificada a ocorrência de prática de ato infracional, o Juiz, a pedido do membro
representante do Ministério Público, pode aplicar alguma medida socioeducativa.
O círculo pode ocorrer diretamente pela via judicial, que se realiza antes
da fase de execução, ainda durante o processo de conhecimento. Após o conflito
chegar ao Fórum, é feita uma avaliação que ocorre, geralmente, durante a audiência
de apresentação, havendo a assunção da responsabilidade do ato infracional por
parte do menor. Os outros envolvidos são convidados a participar do círculo
restaurativo, o qual somente se realiza se as partes concordarem. Também há o
momento do pré-círculo e posteriormente o círculo, onde será realizado o acordo de
composição de danos, podendo o juiz, se necessário, aplicar medida socioeducativa.
É importante ressaltar que qualquer ato infracional, independente de sua natureza,
está sujeito às práticas restaurativas e que, havendo o descumprimento do que ficar
estabelecido durante os círculos, poderá ser realizado um novo procedimento.11
Em Porto Alegre, o programa de Justiça Restaurativa é realizado na 3ª
Vara Regional do Juizado da Infância e Juventude, que é responsável pela fase
executória das medidas socioeducativas. Este projeto atua em duas fases: 1ª) antes

11
O projeto de São Caetano do Sul, a partir de 2006, expandiu-se para Heliópolis, em oito escolas, e
para Guarulhos, em 11 escolas, em parceria com a Fundação para o Desenvolvimento da
Educação – FDE – Secretaria da Educação do Estado de São Paulo, Ministério da Educação e
Varas Especiais da Infância e Juventude de Heliópolis e Guarulhos. Cfr. AGUIAR, op. cit., pp.136-
137.
da aplicação e execução da medida socioeducativa (ainda durante o processo de
conhecimento) e 2ª) posterior à aplicação da medida socioeducativa, durante sua
execução. Na primeira fase, verificando-se que a prática restaurativa foi suficiente
para resolver o conflito, pode-se aplicá-la em substituição à medida socioeducativa.
Caso contrário atuará como complemento à sistemática tradicional. Na segunda
fase, o projeto de Porto Alegre atua conjuntamente com a Fundação de Atendimento
Sócio-Educativo (FASE) e com a Fundação de Assistência Social e Cidadania/
Programa de Execução de Medida Sócio-Educativa de Meio Aberto (FASC/PEMSE)
(PALLAMOLLA, 2009, p.123).

Esta iniciativa faz parte do “Projeto Justiça Para o Século 21” e tem como
objetivos, de acordo com o coordenador do projeto, o juiz de direito Leoberto
Brancher, qualificar a execução das medidas socioeducativas no Juizado da Infância
e da Juventude de Porto Alegre, no âmbito do processo judicial e no atendimento
técnico, mediante os princípios e métodos da Justiça Restaurativa; contribuir com a
garantia dos direitos humanos e com a prevenção da violência nas relações em que
os adolescentes em atendimento tomam parte; sistematizar e difundir a metodologia
necessária à implantação da Justiça Restaurativa no Sistema de Justiça da Infância
e da Juventude, e nas demais políticas públicas.12

A equipe responsável pelo projeto é formada por dezessete profissionais,


dentre os quais há assistentes sociais, psicólogos, pedagogos, juízes, defensores
públicos, promotores de justiça, entre outros profissionais, que se utilizam da técnica
do círculo restaurativo, composto por três etapas (pré-círculo, círculo e pós-círculo).
Além disso, há necessidade de averiguação dos casos, devendo ser preenchidos
alguns requisitos. São eles: admissão de culpa pelo adolescente, que deverá
assumir a autoria do delito; identificação da vítima e a infração cometida não ser de
homicídio, latrocínio, estupro nem de conflitos familiares.
Antes de serem submetidos ao círculo, os participantes deverão passar
pelo pré-círculo, que é conduzido por um facilitador e se destina à explicação às
partes (vítima, infrator e seus respectivos familiares), separadamente, das técnicas a
serem usadas na etapa posterior, tais como sistemática de perguntas e respostas,
verificando se possuem interesse em participar do processo e se estão preparados.

12
Cfr. em http://www.justica21.org.br. Acessado em 26.01.2012.
Posteriormente, ocorre o processo chamado círculo, no qual vítima, infrator e
familiares se reúnem, juntamente com uma facilitador, fazendo as vezes de
mediador e conduzindo o diálogo até a solução do conflito. Todos têm a
oportunidade de se expressar e de serem escutados, contribuindo para a definição
do acordo final. Ocorrendo o acordo, o facilitador o redige, passando para todos
assinarem, recebendo, cada um, uma cópia. Depois de redigido e assinado, é
enviado para um juiz competente o qual faz sua avaliação e decide se deverá ou
não homologá-lo. Ficando estabelecida alguma medida socioeducativa, o
adolescente é encaminhado para executá-la, sendo acompanhado por um técnico
ou supervisor durante todo o processo de execução. Enquanto isso, um coordenador
ou facilitador acompanha a vítima em suas necessidades, ajudando na superação
da infração sofrida, sendo acompanhada por um assistente social.
Ao final há o processo chamado de pós-círculo, que ocorre 30 dias depois
da realização do encontro. Nessa fase os membros do projeto entram em contato
com as partes para averiguar se o acordo foi ou está sendo cumprido.
A comparação entre os programas de Brasília, São Caetano do Sul e
Porto Alegre foi realizada no ano seguinte à sua implementação pelo Instituto Latino
Americano das Nações Unidas para o Desenvolvimento (ILANUD). Reproduz-se, por
sua importância, seu conteúdo13:

QUADRO COMPARATIVO

Critérios/ Programa Brasília Porto Alegre São Caetano do Sul


Relação entre Justiça Complementar Saneadora Complementar
Restaurativa e o sistema
de justiça tradicional
Repercussões da Justiça Procedimento Procedimento Escola:
Restaurativa sobre o restaurativo restaurativo é Procedimento
sistema de justiça suspende independente do restaurativo é
tradicional procedimento procedimento independente do
tradicional tradicional procedimento
tradicional

13
Disponível em http://erc.undp.org/evaluationadmin/downloaddocument.html?docid=3752. Acessado
em 26.01.2012.
Fórum: Procedimento
restaurativo é
paralelo ao
procedimento
tradicional
Instância Juizado Especial Vara da Infância e da Vara da Infância e da
Juventude: execução Juventude: Apuração
Criminal
de medidas sócio- de atos infracionais
educativas

Critérios de seleção de Todos os casos Todos os casos que Escola: impacto


casos sujeitos ao tramitam na 3ª Vara social do conflito
procedimento da Infância e da
previsto na lei nº Juventude, à
9.099/95, à exceção exceção de casos de
daqueles que homicídio, latrocínio,
envolvam estupro e conflitos
substâncias familiares, desde que
entorpecentes e haja admissão de Fórum: admissão de
violência doméstica autoria do ato autoria do ato
infracional pelo infracional pelo
adolescente e a adolescente e
vítima seja ausência de risco de
identificada. revitimização do
ofendido

Técnica utilizada Mediação vítima- Comunicação não Comunicação não


ofensor violenta violenta

Procedimentos Consulta, encontro(s) Práticas restaurativas Práticas restaurativas


restaurativos preparatório(s) e e círculo restaurativo e círculo restaurativo
encontro restaurativo

Respeito à voluntariedade Sim Sim, com eventual Sim, com eventual


comprometimento da comprometimento da
espontaneidade na espontaneidade na
prática prática

Esclarecimento prévio Sim, por consulta Sim, por visita Escola: Sim, por
pessoal realizada no domiciliar contato pessoal
Juizado, na qual já é
trabalhado o conflito
Fórum: Sim, por
contato telefônico

Definitividade do acordo Não há posição Não há posição Não há posição


consolidada entre os consolidada entre os consolidada entre os
operadores operadores operadores

Relação Participação Média Alta Alta


com a na
comunidade articulação
do programa
Participação Baixa Baixa Baixa
nos círculos
restaurativos

Relação com a rede social Baixa Média alta


de atendimento

Os projetos citados são considerados os marcos iniciais da Justiça


Restaurativa no Brasil. Há, entretanto, outras iniciativas que surgiram a partir da
divulgação desse modelo inovador de resolução de conflitos entre elas a Escola de
Perdão e Reconciliação (ESPERE), Associação de Proteção e Assistência ao
Condenado (APAC), além de Congressos e Simpósios voltados para a discussão do
assunto e treinamento de profissionais e leigos da comunidade para realizarem as
práticas restaurativas.

A ESPERE foi desenvolvida inicialmente na Colômbia, em 2000, por


iniciativa do Pe. Leonel Narvaez. Em seu país de origem, existem mais de 80
ESPEREs. Nesse projeto são envolvidas práticas restaurativas que trabalham com
as dimensões cognitiva (o saber), emocional (o sentir), comportamental (o agir) e
espiritual (o transcender) do ser humano.
No Brasil, em 2006, a ESPERE promoveu formação em práticas
restaurativas, em parceria com o Centro de Direitos Humanos e Educação Popular
de Campo Limpo (CDHEP), da Guarda Civil Metropolitana de São Paulo,
professores, psicólogos, advogados, agentes comunitários, educadores de Núcleos
de Proteção Especial e Núcleos Sócios Educativos. Tem a finalidade de capacitar
membros de organizações, escolas e comunidades leigas e religiosas, através de
uma abordagem teórica e prática do Perdão e da Reconciliação, por meio de um
encontro comunitário entre os participantes, em um espaço adequado para o
treinamento que irão receber. O treinamento é feito por meio de palestras e
minicursos com a atuação de uma pessoa capacitada para esta finalidade. Durante
os encontros, os participantes aprendem a administrar raiva, rancor e desejo de
vingança e trabalhar com vítimas de violência de modo a tentar prevenir futuras
agressões e conflitos.

Um dos projetos desenvolvidos pela ESPERE é o de Justiça Restaurativa


voltado para crianças e adolescentes em conflito com a lei e tem como objetivo
restaurar as relações rompidas pela infração ou violência cometida, reparar o dano
causado, superar a violência sofrida e evitar a reincidência, ou seja, a ocorrência de
novas ações violentas por parte dos jovens infratores.

A Associação para Proteção e Assistência ao Condenado (APAC) foi


fundada em 1972, em São Paulo, na cidade de São José dos Campos, por um grupo
de leigos liderados por Mário Ottoboni, advogado e membro da Pastoral Carcerária.
Tinha inicialmente finalidades diversas das atuais, embora o método tenha sido
mantido. Seus elementos são os seguintes: a participação da comunidade; a
solidariedade entre os recuperandos; o trabalho como possibilidade terapêutica e
profissionalizante; a religião como fator de conscientização do recuperando como
ser humano, como ser espiritual e como ser social; a assistência social, educacional,
psicológica, médica e odontológica como apoio à sua integridade física e
psicológica; a família do recuperando, como um vínculo afetivo fundamental e como
parceira para sua reintegração à sociedade e o mérito, como uma avaliação
constante que comprova a sua recuperação já no período prisional.
A finalidade inicial, por sua vez, não fazia referência à vítima. Limitava-se,
nas palavras de seu fundador, a “oferecer ao condenado condições de se recuperar,
logrando, dessa forma, o propósito de proteger a sociedade e promover a Justiça”
(OTTOBONI, 2004, p. 35). Contudo, em 2004, Mário Ottoboni refere-se à vítima,
acrescentando à fórmula inicial a expressão: “e socorrer as vítimas”. Nesse sentido,
a Associação, iniciada com foco central no condenado, ampliou sua visão, afirmando
seu fundador que

a vítima precisa sentir a preocupação da Apac e a vontade que existe em


ajudá-la. Os voluntários, além de estimularem o recuperando a solicitar
perdão à pessoa que ele prejudicou, devem estimulá-lo também, quando for
o caso, a estender esse gesto aos familiares deste, para complementar o
período de recuperação. O preso deve conscientizar-se da necessidade de
pedir perdão, elemento indispensável no aprimoramento do testemunho de
sua total condição de retorno ao convívio da sociedade. (OTTOBONI, 2004,
pp.35-37)

A importância do método APAC é reconhecida nacional e


internacionalmente. O Projeto Novos Rumos na Execução Penal, do Tribunal de
Justiça de Minas Gerais, fomenta a aplicação concreta da metodologia APAC na
execução penal em todo o Estado, o que ocorreu de modo pioneiro na Comarca de
Itaúna. No exterior, há aplicação do método nos seguintes países: Estados Unidos,
Chile, Alemanha, Moldavia, Nova Zelândia, Noruega, Singapura, Bolívia, Equador,
Guiné e Costa Rica. Nesse sentido, dada a modificação de sua finalidade, incluindo
o socorro às vítimas, pode-se sustentar que as práticas restaurativas encontrarão
apoio e divulgação amplos a partir da APAC.

3 JUSTIÇA RESTAURATIVA: MÉTODO ALTERNATIVO OU AUXILIAR DA


RESOLUÇÃO JUDICIAL DE CONFLITOS?

Depois de abordar conceito, histórico e iniciativas relacionadas à justiça


restaurativa, no presente capítulo abordam-se os métodos de resolução de conflitos
que hoje são utilizados, para chegarmos à conclusão sobre se as práticas
restaurativas seriam ou não uma nova alternativa para tal, agindo como auxiliar à
justiça convencional.

3.1 CONFLITO E MÉTODOS DE RESOLUÇÃO

Segundo Nicola Abbagnano (2007, p.205), conflito é “contradição,


oposição ou luta de princípios, propostas ou atitudes”. Nada mais é do que oposição
de opiniões ou interesses entre pessoas, cuja solução se dá, na maioria das vezes,
por vias violentas (rixa, vias de fato), negociação ou por meio de um terceiro que faz
o papel de mediador.

Para resolução de conflitos existem vários métodos utilizados dentre os


quais serão abordados a seguir arbitragem, conciliação, mediação e resolução
judicial.

3.1.1 Arbitragem

A arbitragem, apesar de pouco conhecida, é prevista no Brasil desde a


Constituição Imperial de 1824, além de ser prevista também no Código Comercial de
1850 e Código Civil de 1916. Atualmente, encontra-se disciplinada na Lei n.º
9307/96, que dispõe em seu capítulo I, referente às disposições gerais:

Art. 1º As pessoas capazes de contratar poderão valer-se da arbitragem


para dirimir litígios relativos a direitos patrimoniais disponíveis.
Art. 2º A arbitragem poderá ser de direito ou de eqüidade, a critério das
partes.
§ 1º Poderão as partes escolher, livremente, as regras de direito que serão
aplicadas na arbitragem, desde que não haja violação aos bons costumes e
à ordem pública.
§ 2º Poderão, também, as partes convencionar que a arbitragem se realize
com base nos princípios gerais de direito, nos usos e costumes e nas regras
internacionais de comércio.

No processo de arbitragem, impera o princípio da autonomia da vontade


dos envolvidos, que concede às partes possibilidade de decidirem conjuntamente os
termos, as regras que devem ser levadas em consideração para a resolução do
conflito. Há também a necessidade de ser nomeado um terceiro de confiança, que
fará as vezes de mediador, para solucionar o litígio.
Segundo Carla Zamith B. Aguiar, a arbitragem possui algumas vantagens:
“privacidade; o controle das partes sobre o foro; o conhecimento especializado do
árbitro; um procedimento mais célere; a escolha das normas aplicáveis; a criação de
solução sob medida para as situações; o cumprimento obrigatório; e o barateamento
relativo” (COOLEY, 2001, p 32, apud AGUIAR, 2009, p.65).
No entanto a arbitragem quando adotada para a solução de conflitos entre
partes claramente desproporcionais, como na relação de consumo, pode tender a
beneficiar a parte mais forte, agravando a desigualdade entre elas.

3.1.1 Conciliação

É considerada como um meio alternativo de resolução de conflitos, no


qual as partes envolvidas em um litígio o discutem e resolvem por meio de uma
terceira pessoa de confiança e neutra, o conciliador, que possui a função de orientar
e aproximar as partes para que haja um acordo. O conciliador geralmente é alguém
da comunidade que, de forma voluntária e após treinamento específico, atua para
harmonizar as relações desgastadas com os conflitos. Pode, igualmente, agir como
facilitador dos acordos entre as partes envolvidas em uma lide processual, ou antes
mesmo de se tornar demanda judicial.

A conciliação pode ser feita por duas vias: a judicial e a extrajudicial. É


judicial quando ocorre para solucionar conflitos que foram suscitados formalmente
como lide. Geralmente ocorre nos Juizados especiais cíveis. Nesses casos o
conciliador atua como auxiliar do juiz togado, havendo ainda a figura do juiz leigo,
que pode levar a conciliação a termo.14 Ocorre de forma extrajudicial sempre que o
conflito não tiver sido levado a juízo. Nesta modalidade o conciliador, devidamente
treinado, age para harmonizar as partes, conduzindo o diálogo, que, em regra,
culmina em um acordo extrajudicial que favoreça todos os envolvidos, sendo
reduzido a termo. Funciona como título executivo, podendo ser levado a
cumprimento forçado em caso de não se observar o que ficou acordado.15

Leonardo Sica ensina que

Na conciliação, o terceiro neutro não tem o poder de decidir sobre o


problema trazido pelas partes (ao menos enquanto aja na qualidade de
conciliador), mas tem um papel ativo na resolução da disputa: na tentativa
de chegar a um “compromisso” entre as partes, ou seja, de um
balanceamento dos interesses destas, o conciliador tem uma função diretiva
na promoção da conciliação e no controle e orientação da discussão sobre
elementos tidos como úteis para a resolução do problema. Não obstante a
decisão final ser tomada formalmente pelos contendores, o conciliador
exerce um papel determinante na construção dos termos do acordo e na
proposição deste às partes para que o aceitem (AGUIAR, 2009, p.92, grifo
do autor)

A conciliação vem sendo bastante difundida. É o método de resolução de


conflitos mais utilizado atualmente e faz parte de programas importantes no Brasil,
como “Conciliar é Legal”, lançado pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Sua
preferência deve-se ao fato de ser mais rápido, mais barato e mais eficaz,
resolvendo os conflitos de forma pacífica, sem injustiças, uma vez que as próprias
partes participam do acordo dando suas opiniões, auxiliando o juiz ou conciliador a
resolverem o conflito da maneira mais justa. Mesmo fora do âmbito dos Juizados
Especiais, a conciliação deve ser buscada, já que é poder/ dever do juiz, nos termos
do art. 125, IV do Código de Processo Civil, “tentar, a qualquer tempo, conciliar as
partes”.

14
No Juizado especial criminal, o legislador prevê a figura da transação penal, seja nas ações penais
privadas, seja nas ações penais públicas, condicionadas ou incondicionadas (art. 72 e 76 da Lei
9099/95). Não se confunde, propriamente, com a conciliação. A previsão constitucional do art. 98, I
estabeleceu a diretiva normativa de criação dos Juizados especiais, o que significa, de algum modo,
reconhecer o fundamento constitucional da conciliação, referida como competência destes órgãos.
15
Este tipo de conciliação tem sido feita, com êxito, nas Defensorias Públicas e Núcleos de Prática
Jurídica.
3.1.2 Mediação

A mediação favorece pessoas que estão em conflito a saírem dele ou a


chegarem a um acordo. Este elemento, contudo, não é necessário para que exista
mediação. O processo deve ser acompanhado por meio de um terceiro, mediador,
com a devida formação, atuando não como um auxiliar de um juiz, mas como
auxiliar das partes.

O mediador geralmente é pessoa leiga, membro da comunidade, mais


próximo às partes e conhecedor da realidade dos envolvidos. Exerce esta função de
forma voluntária, sendo necessária a participação em cursos de formação para
mediador. Além disso, o mediador deve ser neutro diante do assunto a ser discutido,
não podendo ser favorável a alguma das partes envolvidas. A mediação se reveste
de um caráter de inoficialidade, não estando submissa à autoridade que impõe uma
decisão e sim a um acordo que vincula a decisão de ambas as partes envolvidas,
desde que estas aceitem todos os termos do acordo.

Rogério Greco diferencia a mediação das outras modalidas de resolução


de conflitos que envolvem a figura do mediador ou conciliador:

A mediação não é arbitragem: na arbitragem o árbitro decide e na mediação


são os próprios interessados os que devem tomar as decisões. A mediação
não é o mesmo que a negociação tradicional. A mediação não é
conciliação: se tem utilizado os dois termos como sinônimos e esta
confusão pode ser originária do campo do direito de família. Ainda que
pareça lógico pensar que o principal objetivo da mediação é o de conseguir
um acordo, isto não é de todo certo. (2011, p.361, grifo do original)

3.1.3 Resolução judicial

Os métodos alternativos de resolução de conflitos descritos acima são


mais utilizados na seara extrajudicial, em que um terceiro, alheio ao processo e com
a anuência das partes, interfere para arbitrá-lo, resolvendo no lugar das partes ou
conduzindo a um diálogo e possível acordo harmonioso, no qual as partes interferem
grandemente com suas vontades.
Porém, além dos modelos alternativos de resolução de conflitos, existe o
modelo convencional e mais utilizado, a resolução judicial, em que, seja diante do
cometimento de um delito, seja em relação a bens jurídicos privados, surge para o
Estado-juiz o poder/dever de sentenciar, aplicando a sanção prevista àquele que
agiu violando o ordenamento jurídico ou decidir, em caráter definitivo, a lide proposta
diante de si. Assim o Estado, por meio de um juiz devidamente qualificado, age de
forma a impor e dizer o direito, uma vez que os métodos alternativos não foram
eficazes ou não poderiam ser aplicados no caso concreto a ser solucionado.
O terceiro interveniente, nesse caso, é o Estado-juiz, em seus diversos
órgãos especificamente instituídos, com a finalidade de distribuir a justiça,
garantindo acessibilidade e constituindo o denominado sistema de justiça pública.
Deste sistema fazem parte profissionais competentes para fiscalizar a aplicação do
direito e julgar conforme as leis, de forma a estabilizar as relações afetadas por
algum conflito, nos termos da sentença.
Do conflito levado ao conhecimento do Estado surge o processo, ao fim
do qual irá prevalecer apenas o direito, a legislação competente sobre o assunto
tratado na seara judicial, e não mais a vontade das partes, como nos métodos
anteriores.16 E é através do processo que o Estado-juiz impõe de forma obrigatória e
definitiva sua decisão.17
A lei impõe que o juiz decida. São os termos do art. 126 do Código de
Processo Civil:
Art. 126. O juiz não se exime de sentenciar ou despachar alegando lacuna
ou obscuridade da lei. No julgamento da lide caber-lhe-á aplicar as normas
legais; não as havendo, recorrerá à analogia, aos costumes e aos princípios
gerais de direito.

Mas não apenas está o juiz obrigado a decidir, como há garantias de que
os conflitos existentes não podem ser excluídos da apreciação do Poder Judiciário,
sendo julgados pela autoridade competente, e não por um juízo de exceção.
Finalmente, toda decisão deverá ser fundamentada e pública. A Constituição
Federal dispõe nesse sentido:

Art. 5.º, XXXV – a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão
ou ameaça a direito.

16
Ainda que na arbitragem a vontade das partes não constitua o teor da sentença arbitral, sua
relevância pode ser medida pela possibilidade mesma de estabelecer que regras de direito serão
aplicadas, respeitados os limites dos bons costumes e da ordem pública (§1.º do art. 2.º da Lei
9.307/96).
17
A possibilidade de recurso ou de desconstituição de uma decisão não afasta o caráter de
definitividade da resolução judicial do conflito, já que será sempre um órgão judicial, mesmo que
sejam Tribunais Superiores, a fixar a causa. A coisa julgada é expressão disto.
Art. 5º, LIII – ninguém será processado nem sentenciado senão pela
autoridade competente.
Art. 93, IX – todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão
públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade
(omissis)

Em suma, podem ser destacadas como características desse modelo de


resolução de conflitos: a) existência de um terceiro, nomeado pelo Estado, com
garantias próprias e com atribuição para decidir de maneira vinculativa e definitiva o
conflito; b) obrigatoriedade de o juiz proferir decisão; c) processo e procedimentos
previstos em lei para chegar-se à decisão, não sendo escolhidos pelas partes; d)
possibilidade do uso da coerção para impor a decisão tomada.
O quadro comparativo serve a fixar os modos de resolução de conflito
analisados em todo este tópico:

QUADRO COMPARATIVO18
ARBITRAGEM CONCILIAÇÃO MEDIAÇÃO RESOLUÇÃO
EXTRAJUDICIAL JUDICIAL
QUEM Árbitro ou Conciliador que Partes Juiz
CONDUZ árbitros tenha passado por auxiliadas por
escolhidos pelas treinamento. um mediador
partes.
QUEM Partes que Partes Partes que Partes,
PARTICIPA elegem o diretamente buscam o representadas por
árbitro. afetadas pela mediador, por procuradores
situação de vezes constituídos;
conflito acompanhadas testemunhas;
de pessoas em peritos;
que confiam intérpretes;
Ministério Público
CONTEXTO Em regra, Situações de Situações de Situações em que
EM QUE SE situações em conflito que não conflito há pretensão
APLICA que há apresentem provenientes, resistida ou bem
divergência questões em regra, da jurídico de ordem
acerca de relacionais existência de pública, em que se
direitos privados importantes, vínculos busca a decisão
de caráter como: conflitos continuados impositiva do
patrimonial, oriundos de Estado
excluídos os relações

18
Este quadro é composto, em parte, pelo existente em AGUIAR, 2009, pp. 120-121.
que se comerciais
relacionem a pontuais
direitos
indisponíveis.
OBJETIVO Decidir, frente à Trabalhar o Auxiliar as Decidir, de forma
situação de conflito por meio partes a fim de impositiva e com
conflito, com de negociações e que caráter
valor de concessões estabeleçam irrevogável, a lide
sentença, os recíprocas a fim os termos de proposta
termos a serem de obter um um acordo.
executados. acordo
DEFINIÇÃO Obtenção de Obtenção de Transformação Obtenção de
DE sentença arbitral acordo das relações sentença judicial
SUCESSO conflituosas,
alcançando
contexto mais
colaborativo
entre as
partes, não
sendo
necessária a
obtenção de
um acordo

3.2 PAPEL DA JUSTIÇA RESTAURATIVA NA RESOLUÇÃO JUDICIAL DE


CONFLITOS CRIMINAIS NO BRASIL

Como já foi dito anteriormente, diante de todo delito penal surge para o
Estado-juiz o poder/dever de punir aquele que violou o ordenamento jurídico,
ameaçando a paz social. E é partindo deste pressuposto que a resolução judicial de
conflitos e a aplicação de penas privativas de liberdade têm sido as práticas mais
utilizadas para controle da violência e do desrespeito ao ordenamento jurídico
brasileiro. A privação de liberdade vem sendo utilizada como uma espécie de
resposta ao ilícito cometido e como uma medida capaz de prevenir futuras
transgressões, além de ressocializar o infrator, fato que não tem ocorrido.
O que se tem observado é que – diante da aplicação de penas, por vezes
elevadas, das condições de cometimento do crime, do objeto do crime e das
condições pessoais do infrator – esse ideal ressocializador não tem sido alcançado.
O que se percebe é um fracasso progressivo do sistema penal vigente no País, uma
vez que tal ideal se inverte quando o sujeito ativo de uma infração ao ser submetido
ao cárcere, convivendo com outros infratores, em um ambiente que passa a ser
recriado e regrado por eles, em que prevalece a lei do mais forte, culmina em um
processo de dessocialização e criminalização.
Contudo, dentro desse ideal ressocializador, a Justiça Restaurativa vem
ganhando seu espaço no sistema de justiça penal brasileiro, algumas vezes como
auxiliar e outras como uma alternativa à privação de liberdade. Neste último aspecto,
vêm sendo aplicadas práticas restaurativas no Brasil aos menores infratores como
alternativa à aplicação de medidas socioeducativas, como exposto no capítulo 2
desse trabalho, sendo visto como um modelo mais eficaz e menos violento de
solução de conflitos e capaz de promover a ressocialização.
O reconhecimento da Justiça Restaurativa pode ser verificado, entre
outros modos, pela atuação do Instituto Innovare19 que, desde sua primeira edição,
em 2004, conta treze projetos inscritos envolvendo o tema.20 Sobre os benefícios
derivados da adoção das práticas restaurativas, o primeiro projeto reconhecido pelo
Instituto, em sua terceira edição (2006)21, resume, assinalando sua importância:

a) humaniza a atuação da justiça com a criação de um seguro ambiente de


escuta para os envolvidos direta e indiretamente no crime;
b) valoriza a vítima, cuja opinião é levada em conta na definição da resposta
ao crime;
c) responsabiliza o infrator, que é levado a refletir efetivamente sobre os
efeitos do crime, pelo diálogo mediado;
d) trabalha em prol da reparação dos danos decorrentes do crime, em todas
as suas dimensões (psicológica, emocional, econômica, e social ou
comunitário, etc.) e da restauração das relações sociais afetadas pelo
crime;
e) difunde e consolida a cultura da paz e da não violência nas comunidades
afetadas pelo crime;
f) dá condição de sustentabilidade para os acordos celebrados no âmbito do
direito penal consensual;
g) nos países com experiência consolidada, a prática tem indicado baixos
índices de reincidência.

19
O Prêmio Innovare foi instituído com o fim de “identificar, premiar e disseminar práticas inovadoras
realizadas por magistrados, membros do Ministério Público estadual e federal, defensores públicos
e advogados públicos e privados de todo Brasil, que estejam aumentando a qualidade da prestação
judicial e contribuindo com a modernização da Justiça Brasileira.” Cfr. www.premioinnovare.com.br
20
Houve, em 2007, menção honrosa ao Projeto Justiça 21, pelas práticas restaurativas que adota e
divulga.
21
Trata-se do projeto “Justiça Restaurativa”, que trata das iniciativas adotadas no Núcleo
Bandeirantes, em Brasília, já referidas anteriormente neste trabalho.
3.2.1 Crítica à resolução judicial dos conflitos penais

No Brasil, a regulamentação da Justiça Restaurativa através do PL n.º


7006/2006 vem enfrentando a resistência de operadores do direito, muitos leigos no
assunto, que acham que a Justiça Restaurativa nada mais é do que uma vertente
terapêutica da mediação. Colocam-se contra as mudanças no Código Penal e
Código de Processo Penal, estipuladas no projeto de lei, afirmando que tais
mudanças feririam as garantias constitucionais, como o devido processo legal, que
se encontra previsto no artigo 5º, inciso LIV da Constituição Federal.

Todavia, partindo não da crítica ao projeto de lei, mas especificamente da


realidade atual do sistema de justiça penal, não se podem colecionar muitos elogios.
Nesse sentido, Rolim afirma:

Qualquer que seja o olhar sobre o funcionamento do sistema de justiça


criminal em todo o mundo, ele terá de conter, pelo menos, dúvidas muito
consistentes a respeito de sua eficácia. Pode-se, com razão, argumentar
que a experiência concreta realizada com a justiça criminal na modernidade
está marcada por promessas não cumpridas que vão desde a alegada
função dissuasória ou intimidadora das penas até a perspectiva da
ressocialização. Uma abordagem mais crítica não vacilaria e apontar a
falência estrutural de um modelo histórico. Estamos, desse modo, diante de
um complexo e custoso aparato institucional que, em regra, não funciona
para a responsabilização dos infratores, não produz justiça, nem se constitui
em verdadeiro sistema. Quando se depara com delitos de pequena
gravidade, o direito penal é demasiado; quando se depara com crimes
graves, parece inútil. (ROLIM, 2009, p. 233)

O sistema de justiça penal encontra-se em situação de precariedade, sem


legitimidade frente aos efeitos de sua atuação. Vem mostrando que não cumpre sua
função ideal, a de sancionar com o objetivo de ressocializar e prevenir a
criminalidade. O que se tem percebido é que o efeito concreto da atuação do Poder
Judiciário é de excluir os excluídos e marginalizar os que vivem à margem da
sociedade, que representam parcela considerável da população mais vulnerável do
País, fato que contribui para o crescimento dos índices de violência.
Longe de seu ideal, o sistema de resolução judicial de conflitos vem
apresentando graves problemas no processamento das infrações penais,
demostrando sua incapacidade de responder de forma satisfatória às suas funções
de controle social e pacificação, fato que contribui para o estabelecimento de
vínculos sociais desiguais, responsáveis pelo aumento do desemprego, da violência,
da marginalização, que têm por consequência, por vezes, mortalidade precoce de
jovens das periferias. Há, portanto, uma seletividade no sistema de justiça criminal,
já que os indivíduos de classes sociais mais baixas estão suscetíveis ao
cometimento de crimes e condenados a experimentarem penas longas e severas.
A fim de revelar mais claramente a precariedade da resolução judicial dos
conflitos penais, estabeleceu-se um quadro comparativo, relacionando a quantidade
de crimes cometidos nos anos de 2004 e 2005, envolvendo violência ou não. O
estudo foi realizado pela Secretaria Nacional de Segurança Pública (SENASP) –
Mapa do crime no Brasil – partindo dos registros feitos pela polícia civil em todo o
País, resumindo-o no seguinte quadro22:

Indicadores 2004 2005


Criminais Número de Taxa por Número de Taxa por
ocorrências 100 mil ocorrências 100 mil
hab. hab.
Crimes violentos 40.793 24,1 40.974 23,6
letais e intencionais
Crimes violentos não 58.418 34,5 61.232 35,2
letais contra pessoa
Crimes violentos 874.046 516,9 903.773 519,6
contra o patrimônio
Delitos envolvendo 82.288 48,7 87.170 50,1
drogas
Delitos de trânsito 330.806 195,6 320.265 184,1
Homicídios dolosos 38.115 22,5 38.180 22,0
Tentativas de 34.598 20,5 36.080 20,7
homicídio
Lesões corporais 658.485 389,4 696.774 400,6
Estupros 14.153 16,5 14.557 16,5
Atentados violentos 9.443 7,3 10.355 7,8
ao pudor

22
As referências são feitas aos crimes cometidos entre 2004 e 2005. Não há dados oficiais mais
recentes. O acesso às informações pode ser feito no site www.mj.jus.br.
Extorsões mediante 346 0,3 475 0,4
sequestro
Roubos 873.700 516,7 903.298 519,4
Furtos 2.050.070 1.212,4 2.022.896 1.163,1
Fonte: Ministério da Justiça – MJ/ Secretaria Nacional de Segurança Pública – SENASP/
Secretarias Estaduais de Segurança Pública/ Departamento de Pesquisa, Análise da
Informação e Desenvolvimento de Pessoal em Segurança Pública – Coordenação Geral de
Pesquisa.

Por outro lado, os dados relativos aos magistrados e aos processos em


curso em 2010 são incisivos, demonstrando a incapacidade da resolução judicial de
conflitos criminais, se utilizada como modelo unitário:

Indicador Justiça em números –


2010
Estadual
Recursos humanos
Total de magistrados 11.664
Total de servidores 236.306
Litigiosidade no 2.º Grau, no 1.º Grau, nas Turmas Recursais e nos
Juizados Especiais – Variáveis
Total de casos novos eletrônicos 944.588
Total de casos novos 17.464.889
Total de casos novos criminais 3.136.670
Total de casos novos não criminais 14.328.219
Total de casos pendentes 49.185.632
Total de casos pendentes criminais 6.035.110
Total de casos pendentes não 43.150.522
criminais
Total de processos baixados 17.217.095
Total de processos baixados criminais 2.895.605
Total de processos baixados não 14.321.490
criminais
Total de sentenças e de decisões que 16.555.840
põem fim à relação processual
Total de sentenças e decisões 2.286.328
criminais
Total de sentenças e decisões não 14.269.512
criminais
Casos novos por 100.000 habitantes 8.553
Casos novos por magistrado 1.417
Casos novos por servidor da área 120
judiciária
Carga de trabalho dos magistrados 5.815
Sentenças e decisões terminativas de 1.419
processo por magistrado
Taxa de congestionamento 74%
Processos baixados por caso novo 99%
Fonte: Relatório Anual do Conselho Nacional de Justiça 2011. pp. 44-45.

Finalmente, antes de relacionar os dados, é importante citar a chamada


“taxa de atrito”, a que se refere Rolim:
Dados recentes demonstram que, na Inglaterra, de cada 100 crimes
cometidos, apenas 3 se transformam em condenações judicias. O nome
para essa diferença é “taxa de atrito” [...] Não sabemos, ao certo, qual é a
taxa de atrito no Brasil, mas podemos imaginar que as circunstâncias sejam
muito mais sérias. Uma pesquisa realizada por Luiz Eduardo Soares no
estado (sic) do Rio de Janeiro demonstrou que apenas 8% dos homicídios
praticados resultavam em processos encaminhados ao judiciário, o que
assinala uma improdutividade intolerável. (ROLIM, 2009, p. 234).

A análise dos dados23 anteriormente expostos evidencia, inicialmente, que


a resolução judicial dos conflitos penais não é capaz de fazer frente à multiplicidade
de infrações notificadas às autoridades, sendo necessária a implementação de
políticas públicas que visem auxiliar o sistema de justiça penal. É para preencher
esta carência que as práticas restaurativas vêm ganhando espaço.
Pesquisas feitas pelo Instituto Latino Americano das Nações Unidas para
a Prevenção do Delito e Tratamento do Delinquente (ILANUD) verificaram que a
Justiça Restaurativa pode exercer perfeitamente o papel de política pública criminal

23
Ainda que os dados relativos às infrações refiram-se aos anos de 2004 e 2005 e aqueles relativos à
realidade do judiciário sejam mais recentes (2010), as comparações são válidas, não havendo razão
para presumir variações significativas no conjunto das infrações cometidas em cinco anos.
de um Estado, agindo como peça principal de intervenção social, ressocialização e
diminuição de reincidência.

3.2.2 Justiça restaurativa e resolução judicial dos conflitos penais: limites e


possibilidades.

A ideia de implantação de um novo sistema de justiça pautado na Justiça


Restaurativa vem sendo rejeitada sob a argumentação de que ela fere as garantias
constitucionais e infraconstitucionais, desviando-se do devido processo legal,
produzindo uma mudança radical no Direito Penal e Processual Penal, promovendo
um retrocesso histórico da ustiça, voltando à época da vingança privada. Entretanto,
as práticas restaurativas que vêm sendo implantadas no Brasil têm o objetivo de
remodelar o sistema penal vigente, auxiliando-o, e não o eliminando para
posteriormente substituí-lo.
Apesar das críticas, a Justiça Restaurativa vem-se mostrando compatível
culturalmente e juridicamente com nosso País. Para demonstrar esta
compatibilidade e a possibilidade de uma modificação severa do sistema de justiça
penal, implantando políticas criminais inovadoras utilizando a Justiça Restaurativa
como base para tal, o ILANUD, fez um estudo aprofundado dos projetos pilotos
implantados no Brasil em 2005.
A partir deste estudo, percebeu-se que as práticas utilizadas tiveram um
nível de aceitação muito alto nas localidades onde foram implantadas. Em alguns
casos acabaram funcionando como uma alternativa à justiça comum e em outros
acabaram por auxiliá-la, tornando o processo de resolução de conflito célere e
satisfatório, uma vez que vítima, infrator e comunidade saíram, de certa forma,
beneficiados quando envolvidos com as práticas restaurativas, que deram para o
infrator a possibilidade de assumir sua culpa e reconhecer que deve pagar por ela;
para a vítima, a possibilidade de se livrar do trauma sofrido com a agressão e a
reparação do dano que lhe foi causado e, para a comunidade, a difusão da cultura
de paz e da não violência.
Ainda através do estudo realizado, concluiu-se que a Justiça Restaurativa
pode ser utilizada no sistema atual de justiça penal, sem ser necessária, agora, uma
mudança radical no modelo vigente. Pode ser adaptada à conciliação que ocorre no
procedimento oral e sumaríssimo previsto no artigo 98, inciso I da Constituição
Federal, no que se refere a infrações de menor potencial ofensivo. É possível,
também, uma modificação na audiência preliminar, prevista nos artigos 70, 72 e 73
da Lei n.º 9.099/95, para assumir uma forma restaurativa, não somente pautada na
reparação dos danos causados, mas na humanização do procedimento a que são
submetidos vítimas e infratores. Para melhor entendimento seguem os artigos:

Art. 70. Comparecendo o autor do fato e a vítima, e não sendo possível a


realização imediata da audiência preliminar, será designada data próxima,
da qual ambos sairão cientes.
[...]
Art. 72. Na audiência preliminar, presente o representante do Ministério
Público, o autor do fato e a vítima e, se possível, o responsável civil,
acompanhados por seus advogados, o Juiz esclarecerá sobre a
possibilidade da composição dos danos e da aceitação da proposta de
aplicação imediata de pena não privativa de liberdade.
Art. 73. A conciliação será conduzida pelo Juiz ou por conciliador sob sua
orientação.
Parágrafo único. Os conciliadores são auxiliares da Justiça, recrutados, na
forma da lei local, preferentemente entre bacharéis em Direito, excluídos os
que exerçam funções na administração da Justiça Criminal.

Também existe a possibilidade de aplicação de práticas restaurativas nas


penas restritivas de direito, introduzidas no Código Penal pelas Leis n.º 9714/98 e n.º
10.259/01, que já possuem, em certa perspectiva, um caráter restaurador, o que
poderia ser aprimorado com a implementação da Justiça Restaurativa. Outro campo
é dos crimes cometidos contra crianças e idosos, os quais possuem leis que
preveem a utilização de práticas restaurativas. Ou, por outro lado, tais práticas
seriam perfeitamente adaptáveis a estas circunstâncias. No Estatuto do Idoso – Lei
n.º 10.741/03 – o artigo 94 prevê a utilização do procedimento da Lei n.º 9.099/95
em crimes contra idosos com pena privativa de liberdade que não ultrapasse quatro
anos. Já o Estatuto da Criança e do Adolescente, em seu artigo 126, dispõe sobre a
remissão e em seu artigo 112 sobre as medidas socioeducativas, que possuem um
viés restaurador, podendo ser auxiliadas ou substituídas, quando for cabível, por
práticas restaurativas.

Com isso, acredita-se que a justiça restaurativa, se utilizada no Brasil


como auxiliar à justiça penal, fará valer o princípio constitucional da celeridade (art.
5.º, LXXVIII da Constituição Federal), o qual prega que as partes têm direito à
razoável duração do processo.
A ideia dos doutrinadores e estudiosos brasileiros sobre o tema é que,
aqui, o programa poderia funcionar em espaços cedidos pela comunidade, onde
seriam instalados os chamados Núcleos de Justiça Restaurativa, os quais
compreenderiam Câmaras Restaurativas, onde vítimas, ofensores, familiares e
comunidade, após passarem por uma espécie de triagem, seriam submetidas às
atividades restaurativas coordenadas por facilitadores, de preferência psicólogos ou
assistentes sociais, voluntários e devidamente capacitados em Centros de
Capacitações especializados.

Os Núcleos Restaurativos, funcionando de forma auxiliar ao sistema atual


vigente, seriam uma espécie de política pública criminal, atuando conjuntamente
com órgãos governamentais e organizações não governamentais, que fariam a
triagem dos casos e encaminhariam as partes envolvidas no conflito aos programas
existentes nos núcleos adequados a cada caso.

Nas palavras de Renato Sócrates Gomes Pinto24:

É perfeitamente possível utilizar estruturas já existentes e consideradas


apropriadas, podendo os encontros serem realizados em lugares escolhidos
de comum acordo pelas partes.
O modelo argentino, que consiste na operação de dois centros – o Centro
de Mediação Penal e o Centro de Assistência às Vítimas, parece válido,
mas é preciso que sejam articulados com um Centro de Capacitação de
Facilitadores e com a rede social, abrangendo Universidades, órgãos
governamentais e organizações não-governamentais.

Essas são apenas alternativas para a implementação de práticas


restaurativas no modelo atual de justiça criminal. Entretanto, para a efetiva aplicação
da Justiça Restaurativa, seriam necessárias alterações legislativas rigorosas, para
que haja uma acomodação do sistema atual ante o sistema restaurador aconselhado
pela Resolução n.º 2002/12 da ONU.
O estudo do ILANUD, a que já se referiu anteriormente, ressalta os efeitos
positivos da interação entre o sistema de justiça criminal e práticas restaurativas.
Inicialmente, afirma que “a justiça restaurativa precisa buscar a melhoria do aparato
judicial tendo como horizonte a implementação de uma política criminal
despenalizadora”, reconhecendo o “potencial transformador da justiça restaurativa”.

24
Cfr. A construção da Justiça Restaurativa no Brasil: o impacto no sistema de Justiça
criminal. Disponível em http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=9878. Acessado em
03.02.2012.
Acerca do momento ideal de aplicação das práticas restaurativas,
assinala:
Buscando a melhoria da prestação jurisdicional e a despenalização e
considerando a justiça restaurativa inserida no Poder Judiciário, seu lugar
por excelência, entende-se que seu nicho privilegiado é no momento
anterior ao processo ou no início do processo.

Referindo-se à experiência do programa existente em São Caetano do


Sul, afirma que “no âmbito do judiciário, os atores também frisam o caráter
complementar da justiça restaurativa com relação à justiça tradicional e apontam o
quanto essa experiência altera vários pressupostos da justiça tradicional.”
Por fim, é importante ressaltar que as incompatibilidades existentes em
relação ao modelo restaurativo de justiça penal dizem respeito ao ideal repressivo
do sistema penal e não com sistema penal propriamente dito. Nas palavras de
Howard Zehr, “pintar a retribuição e a restauração como mutuamente excludentes
acaba por diminuir as possibilidades de exploração de traços comuns e interesses
mútuos entre aqueles que defendem uma e outra”.25

25
Cfr. A construção da Justiça Restaurativa no Brasil: o impacto no sistema de Justiça criminal.
Disponível em http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=9878. Acessado em 03.02.2012.
CONCLUSÃO

Como demonstrado ao final desse trabalho, após décadas de insucesso


do sistema de justiça criminal que vigora no País, há necessidade de adoção de um
modelo auxiliar de resolução de conflitos, tendo em vista que uma mudança geral
nos Códigos Penal e de Processo Penal Brasileiro ainda não se vislumbra.

O objetivo principal da pesquisa realizada não foi demonstrar que a única


solução para essa crise, que perdura há algum tempo, seria a implantação da
Justiça Restaurativa no País, mas sim que esta teria grande potencial para posterior
implantação de um modelo mais humanitário de justiça, que pudesse unir seu poder
restaurador com o ideal punitivo e ressocializador da justiça retributiva, sendo
necessária também uma profunda mudança no sistema prisional de forma a
assegurar a efetivação das garantias fundamentais previstas na Constituição
Federal de 1988.

A adoção do modelo restaurador mostra-se como caminho mais


apropriado para humanização do processo penal, como auxiliar ao sistema de
justiça criminal existente, de modo a introduzir a vítima, seus familiares e a
comunidade, além do ofensor e facilitador, no processo criminal, atuando como
partes fundamentais para a resolução do conflito.

A implantação da Justiça Restaurativa no Brasil se justifica por seus


benefícios, levando-se em consideração que se preocupa com pessoas e as
relações na consecução de seus objetivos. Em pesquisas realizadas nos países que
a adotaram, percebem-se suas vantagens para a resolução dos males derivados
dos conflitos: o autor do delito tem a possibilidade de ser tratado como ser humano e
não como mero criminoso, podendo reconhecer sua falha diante da vítima e reparar
o dano que lhe foi causado economicamente e psicologicamente, fato que contribui
para a diminuição da reincidência; pacificação da comunidade, ajudando nas
decisões a serem tomadas futuramente, e melhor administração da justiça, ao
responder de forma eficaz ao delito.

No Brasil, os benefícios trazidos com as práticas restaurativas aplicadas


nos projetos financiados pelo PNUD não são diferentes. As práticas aqui
introduzidas atuam no âmbito penal e cível, localizadas nas cidades de São Caetano
do Sul, Brasília e Porto Alegre, seguindo os princípios restaurativos estabelecidos
pela ONU, possuindo os melhores resultados no âmbito penal, em que 90% dos
casos resultaram em acordos restaurativos que foram cumpridos em 75% dos casos,
segundo o ILANUD.

Com isso, tem-se que, diante das práticas já introduzidas no Brasil e


incorporadas como auxiliares ao sistema de justiça criminal – voltada ao menor
infrator em parte dos projetos –, os níveis de aceitação desse novo modelo são
elevados, mas a sua implantação efetiva no País passa por algumas dificuldades, já
que não se pode considerar tarefa simples o abandono da visão meramente
retributiva e repressiva do sistema de justiça criminal utilizado durante séculos no
Brasil.

As dificuldades para mudar a opinião dos operadores do direito que


trabalham diariamente com o direito penal são grandes e é por isso que a
implantação do modelo restaurador pode passar por um processo longo e
demorado. Assim, a Justiça Restaurativa deve ser aplicada e divulgada no País de
forma gradativa e bem estruturada, sem deixar brechas para erros futuros, devendo
ser aplicada em todos os casos criminais, até nos mais graves, mas com o rigor e
cuidado necessários, funcionando como elemento de humanização do réu ou do
condenado e auxiliar da vítima e familiares para superar os traumas decorrentes do
ilícito penal cometido.

Os casos considerados de menor potencial ofensivo, por outro lado,


deveriam ser submetidos única e exclusivamente à Justiça Restaurativa, como forma
de desobstruir o judiciário e acelerar o procedimento. Nesses casos, deve-se dar
prioridade às peculiaridades do delito praticado e qualidade do infrator e vítima,
como idade, antecedentes criminais e índole. Saliente-se que todos os casos, tanto
de menor potencial ofensivo quanto de crimes hediondos, devem passar por
triagem, de forma a selecionar o caso e resguardar a vítima e familiares.

Com isso, conclui-se que a Justiça Restaurativa é um modelo inovador de


justiça, que poderá funcionar como ferramenta essencial para desafogar o sistema
judiciário, dando celeridade aos processos criminais, que muitas vezes pecam pela
demora até o julgamento, aplicando-se, por vezes, penas excessivas ou prazos
exorbitantes, em uma prisão preventiva por exemplo. Funciona como um modelo
humanitário, tratando com mais dignidade as pessoas envolvidas em um crime,
levando sempre em conta os direitos e garantias fundamentais assim do réu como
da vítima.
REFERÊNCIAS

ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de filosofia. Trad. Alfredo Bosi. São Paulo:


Martins Fontes, 2007.

AGUIAR, Carla Zamith Boin. Mediação e justiça restaurativa: a humanização do


sistema processual como forma de realização dos princípios constitucionais. São
Paulo: Quartier, 2009.

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Disponível em


<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm>. Acessado em
25 de janeiro de 2012.

BRASIL. Decreto-lei n.º 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Institui o Código Penal.


Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del2848.htm>.
Acessado em 25 de janeiro de 2012.

BRASIL. Decreto-lei n.º 3689, de 3 de outubro de 1941. Institui o Código de


Processo Penal. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-
Lei/Del3689.htm>. Acessado em 25 de janeiro de 2012.

BRASIL. Lei n.º 10741, de 1.º de outubro de 2003. Dispõe sobre o Estatuto do Idoso
e dá outras providências. Disponível em
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/2003/L10.741.htm>. Acessado em 25 de
janeiro de 2012.

BRASIL. Lei n.º 5869, de 11 de janeiro de 1973. Institui o Código de Processo Civil.
Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L5869.htm> Acessado em
25 de janeiro de 2012.

BRASIL. Lei n.º 8069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e
do Adolescente, e dá outras providências. Disponível em
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8069.htm>. Acessado em 25 de janeiro
de 2012.

BRASIL. Lei n.º 9099, de 26 de setembro de 1995. Dispõe sobre os Juizados


Especiais Cíveis e Criminais e dá outras providências. Disponível em
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9099.htm>. Acessado em 25 de janeiro
de 2012.

BRASIL. Lei n.º 9307, de 23 de setembro de 1996. Dispõe sobre a arbitragem.


Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9307.htm>. Acessado em
25 de janeiro de 2012.
CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. Relatório anual. 2011. Disponível em
<http://www.cnj.jus.br/images/relatoriosanuais/atividades/revista_relatorio_anual2011
_web.pdf>. Acessado em 02.02.2012.

GOMES PINTO, Renato Sócrates. A Construção da Justiça Restaurativa no


Brasil: o impacto no sistema de Justiça criminal. Disponível em
<http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=9878>. Acessado em 03.02.2012.

GRECO, Rogério. Direitos humanos, sistema prisional e alternativas à privação


da liberdade. São Paulo: Saraiva, 2011.

ILANUD. Sistematização e avaliação de experiências de justiça restaurativa:


relatório final. Disponível em <http://
erc.undp.org/evaluationadmin/downloaddocument.html?docid=3752> Acessado em
01.º. 02.2012.

MINISTÉRIO DA JUSTIÇA. Análise das ocorrências registradas pelas polícias


civis (janeiro de 2004 a dezembro de 2005). Disponível em
<http://portal.mj.gov.br/data/Pages/MJCF2BAE97ITEMIDD6879A43EA3B4F1691D2
CAFD1C9DDB19PTBRIE.htm>. Acessado em 25 de janeiro de 2012.

NETO, Pedro Scuro. Sociologia geral e jurídica: manual dos cursos de direito. 5.
ed. São Paulo, Saraiva, 2007.
OTTOBONI, Mário. Seja solução, não vítima!: justiça restaurativa, uma abordagem
inovadora. São Paulo: Cidade Nova, 2004.

PALLAMOLLA, Raffaella da Porciuncula. Justiça restaurativa: da teoria à prática.


São Paulo: IBCCRIM, 2009.
PRUDENTE, Neemias Moretti. Algumas reflexões sobre justiça restaurativa.
Disponível em <http://www.justicarestaurativa.org/news/algumas-reflexoes-sobre-a-
justica-restaurativa>. Acessado em 23.01.2012.

ROLIM, Marcos. A Síndrome da rainha vermelha: policiamento e segurança


pública no século XXI. 2. ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed; Oxford, Inglaterra:
University of Oxford, Centre for Brazilian Studies, 2009.
SOARES, Luiz Eduardo. Justiça: pensando alto sobre violência, crime e castigo. Rio
de Janeiro: Nova Fronteira, 2011.
ANEXO A
DECLARACION DE COSTA RICA SOBRE LA JUSTICIA
RESTAURATIVA EN AMERICA LATINA
RECONOCIENDO COMO FUNDAMENTO la Resolución del Consejo
Económico y Social de las Naciones Unidas (24 de Julio, 2002) y la
“Carta de Araçatuba” (2005), con el objetivo de promover procesos de
Justicia Restaurativa y sostenerlos mediante información y
comunicación
a través de los medios a la sociedad civil, así como de propiciar
programas que incluyan tales procesos y busquen resultados
restaurativos...
CONSIDERANDO
1. Que America Latina sufre con los mayores índices de exclusión,
violencia e encarcelamiento;
2. Que coexisten maneras distintas de aplicar justicia para ricos y
pobres;
3. Que a pesar de existieren herramientas de justicia restaurativa, las
sanciones retributivas, en especial el encarcelamiento, siguen siendo
las más utilizadas;
4. Que los procesos como asistencia a las víctimas, mediación penal,
cámaras restaurativas y otros buscan resultados restaurativos;
5. Que programas de Justicia Restaurativa garantizan el pleno ejercicio
de los derechos humanos y respeto a la dignidad de todos los
involucrados;
6. Que la aplicación de esos programas debe extenderse a los sistemas
comunitarios, judiciales y penitenciarios;
7. Que se debe sensibilizar los organismos internacionales y modificar
la legislación penal en favor de adopción de los principios e
instrumentos de la Justicia Restaurativa como modo complementario
de justicia;
8. Que los principios y valores de la Justicia Restaurativa contribuyen
para el fortalecimiento de la ética pública como paradigma de una
sociedad más justa en los países latinoamericanos.
Esta Declaración RECOMIENDA
Articulo 1º: Es programa de Justicia Restaurativa todo el que utilice
procedimientos restaurativos y busque resultados restaurativos.
PARÁGRAFO 1º: Procedimiento restaurativo es todo el que permite que
víctimas, ofensores y cualquier miembro de la comunidad, con la ayuda
2
de colaboradores, participen siempre que adecuado en la búsqueda de
la
paz social.
PARÁGRAFO 2º: Poden ser incluidos entre los resultados restaurativos
respuestas de arrepentimiento, perdón, restitución, responsabilización,
rehabilitación y reinserción social, entre otros.
Articulo 2º: Los postulados restaurativos son basados en principios y
valores que
1. Garantizan el pleno ejercicio de los derechos humanos y respetan a la
dignidad de todos los involucrados;
2. Se aplican a todos los sistemas comunitarios, judiciales y
penitenciarios;
3. Propician plena y previa información sobre las prácticas restaurativas
a todos que participan en los procedimientos;
4. Ofrecen plena autonomía a los individuos para tomar parte en las
prácticas restaurativas en todas sus fases;
5. Favorecen mutuo respeto entre los participantes de los
procedimientos;
6. Estimulan co-responsabilidad activa de todos los participantes;
7. Consideran las necesidades de la persona que sufrió el daño y las
posibilidades de la persona que lo causó;
8. Estimulan la participación de la comunidad pautada por los
principios de la Justicia Restaurativa;
9. Consideran las diferencias socioeconómicas y culturales entre los
participantes;
10. Consideran las peculiaridades socioculturales, locales y el pluralismo
cultural;
11. Promoven relaciones ecuánimes y no jerárquicas;
12. Expresan participación bajo el Estado Democrático de Derecho;
13. Facilitan procesos por medio de personas debidamente capacitadas
en procedimientos restaurativos;
14. Usan el principio de la legalidad en cuanto al derecho material;
15. Respetan al derecho a la confidencialidad de todas las
informaciones
referentes al proceso restaurativo;
16. Buscan integración con la red de asistencia social de cada país;
17. Buscan integración con el sistema de justicia.
Artículo 3o: Las estrategias para implementar prácticas restaurativas
son:
1. Concientización y educación sobre Justicia Restaurativa por medio de
apertura del diálogo sobre Justicia Restaurativa en las Universidades;
implementación de programas de JR en todos los niveles educativos;
3
introducción de metodologías de JR en la resolución de conflictos;
promoción de un cambio de cultura a través de los medios de
comunicación para demostrar los beneficios de la JR.
2. Promoción de la JR en las comunidades para
usar procedimientos restaurativos como herramientas en la resolución
de conflictos;
aplicar programas de JR.
3. Aplicación de la JR en el sistema penal para
derivar casos judiciales a programas de JR;
usar la prisión como último recurso y buscando soluciones
alternativas a la misma;
aplicar JR en el sistema penitenciario.
4. Aplicar la Justicia Restaurativa a la legislación de cada Estado y a
políticas públicas, y desarrollar legislación según postulados
restaurativos para
eliminar o reducir barreras sistemáticas legales para el uso de la
JR;
incentivar el uso de JR;
crear mecanismos que proveen dirección y estructura a programas
de JR;
asegurar la protección de derechos de victimarios y víctimas que
participen en programas restaurativos, y
establecer principios guías y mecanismos de monitoreo para
adherirse a dichos principios.
Santo Domingo de Heredia, Costa Rica
Septiembre, 21 al 24 de 2005
Seminario “Construyendo la Justicia Restaurativa en America Latina”
Instituto Latinoamericano de las Naciones Unidas para la Prevención del Delito y el
Tratamiento del Delincuente / Comunidad Internacional Carcelaria
CARTA DE ARAÇATUBA

PRINCÍPIOS DE JUSTIÇA RESTAURATIVA

Redação elaborada pelos integrantes do I SIMPÓSIO BRASILEIRO DE


JUSTIÇA RESTAURATIVA, realizado na cidade de Araçatuba, estado de São Paulo
- Brasil, nos dias 28, 29 e 30 de abril de 2005.
Acreditamos que o século XXI pode ser o século da justiça e da paz no
planeta, que a violência, as guerras e toda sorte de perturbações à vida humana e
ao meio ambiente a que temos estado expostos são fruto de valores e práticas
culturais e, como tal, podem ser transformadas. Acreditamos que o poder de
mudança está ao alcance de cada pessoa, de cada grupo, de cada instituição que
se disponha a respeitar a vida e a dignidade humana.
Acreditamos que o modo violento como se exerce o poder, em todos os
campos do relacionamento humano, pode ser pacífico, mudando-se os valores
segundo os quais compreendemos e as práticas com as quais fazemos justiça em
nossas relações interpessoais e institucionais.
Reformular nossa concepção de justiça é, portanto, uma escolha ética
imprescindível na construção de uma sociedade democrática que respeite os direitos
humanos e pratique a cultura de paz. Essa nova concepção de justiça está em
construção no mundo e propõe que, muito mais que culpabilização, punição e
retaliações do passado, passemos a nos preocupar com a restauração das relações
pessoais, com a reparação dos danos de todos aqueles que foram afetados, com o
presente e com o futuro.
Acreditamos que só desse modo será possível resistir às diversas
modalidades de violência que contaminam o mundo sem realimentar sua corrente de
propagação.
Acreditamos que, por isso, será necessário recomendar que cada pessoa,
família, comunidade e instituição promovam reflexões e diálogos acerca dos temas
da justiça e da paz, em especial acerca das alternativas para implementar valores e
práticas restaurativas.
Acreditamos que estas mudanças devem ser paulatinas e que, portanto não
podem prescindir do modelo institucional de justiça tal como hoje estabelecido,
sobretudo das garantias penais e processuais asseguradas constitucionalmente a
todos aqueles que têm contra si acusações de práticas de atos considerados como
infracionais.
Acreditamos, ainda, que as práticas restaurativas não implicam uma
maximização da área de incidência do direito penal, mas, pelo contrário, uma
reformulação do modo como encaramos a resolução dos conflitos.
As práticas restaurativas preconizam um encontro entre a pessoa que
causou um dano a outrem e aquela que o sofreu, com a participação eventualmente
de pessoas que lhe darão suporte, caso assim o desejarem, inclusive de advogados,
assistentes sociais, psicólogos ou profissionais de outras áreas. Pautada pelo
entendimento de que o envolvimento da comunidade é fundamental para a
restauração das relações de modo não violento, o encontro é a oportunidade dos
afetados pelo ato de compartilharem suas experiências e atenderem suas
necessidades, procurando chegar a um acordo.
Desta forma, entendemos que as práticas restaurativas que pretendemos
passem a fazer parte do modo de consecução da justiça entre nós se norteiem pelos
seguintes princípios:

1. plena informação sobre as práticas restaurativas anteriormente à


participação e os procedimentos em que se envolverão os participantes;
2. autonomia e voluntariedade para participação das práticas
restaurativas, em todas as suas fases;
3. respeito mútuo entre os participantes do encontro;
4. co-responsabilidade ativa dos participantes;
5. atenção à pessoa que sofreu o dano e atendimento de suas
necessidades, com consideração às possibilidades da pessoa que o causou;
6. envolvimento da comunidade pautada pelos princípios da solidariedade
e cooperação;
7. atenção às diferenças sócio-econômicas e culturais entre os
participantes;
8. atenção às peculiaridades sócio-culturais locais e ao pluralismo
cultural;
9. garantia do direito à dignidade dos participantes;
10. promoção de relações equânimes e não hierárquicas;
11. expressão participativa sob a égide do Estado Democrático de Direito;
12. facilitação por pessoa devidamente capacitada em procedimentos
restaurativos;
13. observância do princípio da legalidade quanto ao direito material;
14. direito ao sigilo e confidencialidade de todas as informações referentes
ao processo restaurativo;
15. integração com a rede de assistência social em todos os níveis da
federação;
16. interação com o Sistema de Justiça.

Araçatuba, 30 de abril de 2005


www.justica21.org.br
CARTA DO RECIFE
SOBRE JUSTIÇA RESTAURATIVA
Autores: Elaborada por integrantes e aprovada pelos participantes
do II Simpósio Brasileiro de Justiça Restaurativa, realizado na
Cidade do Recife, Estado de Pernambuco - Brasil, nos dias 10, 11 e
12 de abril de 2006.
Fonte: Espaço Família: http://espacofamiliar.blogspot.com
Disponível em: www.justica21.org.br/interno.php?ativo=BIBLIOTECA
Acreditamos que:
- a construção de uma sociedade justa, igualitária e pacífica se fará com a
participação de todos, no exercício e respeito ao poder pessoal de cada indivíduo
em sua relação com o outro;
- a prática de um modelo de justiça que privilegie os valores humanos comuns a
todos nós e que focalize o ser humano em todas as suas dimensões é atribuição
não só dos que exercem seu mister no âmbito judiciário, mas direito e dever de
cidadania de todos nós
- a Ciência, a Educação e a Cultura podem contribuir para o bem estar e a
qualidade de vida justa, como preconizada pela Justiça Restaurativa;
- o exercício de Direitos e Deveres de Cidadania se consolida quando os ideais de
humanidade preconizados pela Declaração Universal de Direitos Humanos são
considerados e atendidos no âmbito do DIREITO e nas práticas de JUSTIÇA.
Para que essas crenças se concretizem, é necessária a introdução dos Princípios e
Práticas da Justiça Restaurativa no nosso sistema de Justiça . Como estratégia
multiplicadora das iniciativas de Justiça Restaurativa em curso, e consolidação desse
modelo, recomendamos :
- a difusão e a incorporação de valores restaurativos, mantendo abertura quanto a
variações metodológicas e procedimentais, sempre com vistas a potencializar a
promoção de resultados restaurativos;
- que todas as iniciativas de aplicação prática da Justiça Restaurativa sejam
transparentes e participativas, e que incluam um componente avaliativo e a
divulgação de relatórios de acompanhamento e resultados;
- a ênfase na componente comunitária, em iniciativas de aplicação oficial das
práticas restaurativas , e o zelo pelo não dirigismo de qualquer setor
institucional;
- a criação de Núcleos e Centros de Estudos em Justiça Restaurativa, abertos à
comunidade, nas universidades, nas escolas de ensino médio, nas organizações
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não-governamentais, nas Escolas Superiores da Magistratura, do Ministério
Público, da Defensoria Pública e da OAB;
- aos poderes públicos federais, estaduais e municipais, e especialmente à
Secretaria da Reforma do Judiciário do Ministério da Justiça que promova a
publicação de subsídios teóricos e práticos, em português ou traduzidos de
outras línguas, incluindo relatórios de acompanhamento, avaliações dos
projetos-pilotos e material instrucional para apoio a capacitações;
- à Secretaria da Reforma do Judiciário do Ministério da Justiça a promoção de
um Encontro Nacional de Justiça Restaurativa, ainda em 2006, propondo por
sede o Supremo Tribunal Federal ou o Superior Tribunal de Justiça, articulando
o apoio dos Colégios de Presidentes de Tribunais de Justiça, dos Procuradores-
Gerais de Justiça, e dos Defensores-Gerais Públicos, das respectivas
Corregedorias -Gerais, bem como dos Tribunais e Ministério Público Federais,
de modo a viabilizar apoio a participação e respaldo às iniciativas restaurativas
de Juízes, Promotores, Procuradores e Defensores Públicos de todo o País;
- a realização do 3º Simpósio Brasileiro de Justiça Restaurativa em 2007,
preferen-cialmente na Páscoa, tendo por sede a cidade de Natal, RN;
- a difusão e implementação da Justiça Restaurativa, simultânea, articulada e
integrada entre suas vertentes institucionais e comunitárias, para gerar sinergia e
promover, reciprocamente, renovação e empoderamento, respeito à
horizontalidade, autonomia, isonomia e à diversidade na relação entre as pessoas
envolvidas;
- ao Ministério da Justiça o apoio técnico e financeiro à instalação de outros
projetos- piloto e a delimitação de apoio a estes projetos por um prazo mínimo
de cinco anos para possibilitar as experiências e o aprendizado necessários à
consolidação de uma Cultura de Restauratividade.
Recife, 12 de abril de 2006
www.justica21.org.br
ANEXO B
CÂMARA DOS DEPUTADOS
PROJETO DE LEI
Nº , DE 2006
(Da Comissão de Legislação Participativa)
SUG nº 099/2005
Propõe alterações no Decreto-Lei nº
2848, de 7 de dezembro de 1940, do Decreto-
Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941, e da Lei
nº 9.099, de 26 de setembro de 1995, para
facultar o uso de procedimentos de Justiça
Restaurativa no sistema de justiça criminal, em
casos de crimes e contravenções penais.
Art. 1° - Esta lei regula o uso facultativo e complementar de procedimentos de
justiça restaurativa no sistema de justiça criminal, em casos de crimes e
contravenções penais.
Art. 2° - Considera-se procedimento de justiça restaurativa o conjunto de práticas
e atos conduzidos por facilitadores, compreendendo encontros entre a vítima e o
2
autor do fato delituoso e, quando apropriado, outras pessoas ou membros da
comunidade afetados, que participarão coletiva e ativamente na resolução dos
problemas causados pelo crime ou pela contravenção, num ambiente estruturado
denominado núcleo de justiça restaurativa.
Art. 3° - O acordo restaurativo estabelecerá as obrigações assumidas pelas
partes, objetivando suprir as necessidades individuais e coletivas das pessoas
envolvidas e afetadas pelo crime ou pela contravenção.
Art. 4° - Quando presentes os requisitos do procedimento restaurativo, o juiz,
com a anuência do Ministério Público, poderá enviar peças de informação,
termos circunstanciados, inquéritos policiais ou autos de ação penal ao núcleo de
justiça restaurativa.
Art. 5° - O núcleo de justiça restaurativa funcionará em local apropriado e com
estrutura adequada, contando com recursos materiais e humanos para
funcionamento eficiente.
Art. 6° - O núcleo de justiça restaurativa será composto por uma coordenação
administrativa, uma coordenação técnica interdisciplinar e uma equipe de
facilitadores, que deverão atuar de forma cooperativa e integrada.
§ 1º. À coordenação administrativa compete o gerenciamento do núcleo,
apoiando as atividades da coordenação técnica interdisciplinar.
§ 2º. - À coordenação técnica interdisciplinar, que será integrada por profissionais
da área de psicologia e serviço social, compete promover a seleção, a
capacitação e a avaliação dos facilitadores, bem como a supervisão dos
procedimentos restaurativos.
§ 3º – Aos facilitadores, preferencialmente profissionais das áreas de psicologia e
serviço social, especialmente capacitados para essa função, cumpre preparar e
conduzir o procedimento restaurativo.
Art. 7º – Os atos do procedimento restaurativo compreendem:
3
a)consultas às partes sobre se querem, voluntariamente, participar do
procedimento;
b)entrevistas preparatórias com as partes, separadamente;
c)encontros restaurativos objetivando a resolução dos conflitos que cercam o
delito.
Art. 8º – O procedimento restaurativo abrange técnicas de mediação pautadas
nos princípios restaurativos.
Art. 9º – Nos procedimentos restaurativos deverão ser observados os princípios
da voluntariedade, da dignidade humana, da imparcialidade, da razoabilidade, da
proporcionalidade, da cooperação, da informalidade, da confidencialidade, da
interdisciplinariedade, da responsabilidade, do mútuo respeito e da boa-fé.
Parágrafo Ùnico - O princípio da confidencialidade visa proteger a intimidade e a
vida privada das partes.
Art. 10 – Os programas e os procedimentos restaurativos deverão constituir-se
com o apoio de rede social de assistência para encaminhamento das partes,
sempre que for necessário, para viabilizar a reintegração social de todos os
envolvidos.
Art. 11 - É acrescentado ao artigo 107, do Decreto-Lei nº 2848, de 7 de dezembro
de 1940, o inciso X, com a seguinte redação:
X – pelo cumprimento efetivo de acordo restaurativo.
Art. 12 – É acrescentado ao artigo 117, do Decreto-Lei nº 2848, de 7 de dezembro
de 1940, o inciso VII, com a seguinte redação:
VII – pela homologação do acordo restaurativo até o seu efetivo
cumprimento.
Art. 13 - É acrescentado ao artigo 10, do Decreto-lei n. 3.689, de 3 de outubro de
1941, o parágrafo quarto, com a seguinte redação:
4
§ 4º - A autoridade policial poderá sugerir, no relatório do inquérito, o
encaminhamento das partes ao procedimento restaurativo.
Art. 14 - São acrescentados ao artigo 24, do Decreto-lei n. 3.689, de 3 de outubro
de 1941, os parágrafos terceiro e quarto, com a seguinte redação:
§ 3º - Poderá o juiz, com a anuência do Ministério Público, encaminhar os
autos de inquérito policial a núcleos de justiça restaurativa, quando vitima
e infrator manifestarem, voluntariamente, a intenção de se submeterem ao
procedimento restaurativo.
§ 4º – Poderá o Ministério Público deixar de propor ação penal enquanto
estiver em curso procedimento restaurativo.
Art. 15 - Fica introduzido o artigo 93 A no Decreto-lei n. 3.689, de 3 de outubro de
1941, com a seguinte redação:
Art. 93 A - O curso da ação penal poderá ser também suspenso quando
recomendável o uso de práticas restaurativas.
Art. 16 - Fica introduzido o Capítulo VIII, com os artigos 556, 557, 558, 559, 560,
561 e 562, no Decreto-lei n. 3.689, de 3 de outubro de 1941, com a seguinte
redação:
CAPÍTULO VIII
DOPROCESSO
RESTAURATIVO
Art. 556 - Nos casos em que a personalidade e os antecedentes do
agente, bem como as circunstâncias e conseqüências do crime ou da
contravenção penal, recomendarem o uso de práticas restaurativas,
poderá o juiz, com a anuência do Ministério Público, encaminhar os
autos a núcleos de justiça restaurativa, para propiciar às partes a
faculdade de optarem, voluntariamente, pelo procedimento restaurativo.
5
Art. 557 – Os núcleos de justiça restaurativa serão integrados por
facilitadores, incumbindo-Ihes avaliar os casos, informar as partes de
forma clara e precisa sobre o procedimento e utilizar as técnicas de
mediação que forem necessárias para a resolução do conflito.
Art. 558 - O procedimento restaurativo consiste no encontro entre a
vítima e o autor do fato e, quando apropriado, outras pessoas ou
membros da comunidade afetados, que participarão coletiva e
ativamente na resolução dos problemas causados pelo crime ou
contravenção, com auxílio de facilitadores.
Art. 559 - Havendo acordo e deliberação sobre um plano restaurativo,
incumbe aos facilitadores, juntamente com os participantes, reduzi-lo a
termo, fazendo dele constar as responsabilidades assumidas e os
programas restaurativos, tais como reparação, restituição e prestação
de serviços comunitários, objetivando suprir as necessidades individuais
e coletivas das partes, especialmente a reintegração da vítima e do
autor do fato.
Art. 560 – Enquanto não for homologado pelo juiz o acordo restaurativo,
as partes poderão desistir do processo restaurativo. Em caso de
desistência ou descumprimento do acordo, o juiz julgará insubsistente
o procedimento restaurativo e o acordo dele resultante, retornando o
processo ao seu curso original, na forma da lei processual.
Art. 561 - O facilitador poderá determinar a imediata suspensão do
procedimento restaurativo quando verificada a impossibilidade de
prosseguimento.
Art. 562 -O acordo estaurativo deverá necessariamente servir de base
para a decisão judicial final.
Parágrafo Único – Poderá o Juiz deixar de homologar acordo
restaurativo firmado sem a observância dos princípios da razoabilidade
e da proporcionalidade ou que deixe de atender às necessidades
individuais ou coletivas dos envolvidos.
6
Art. 17 - Fica alterado o artigo 62 , da Lei 9.099, de 26 de setembro de 1995,
que passa a vigorar com a seguinte redação:
Art. 62 - O processo orientar-se-á pelos critérios da oralidade,
simplicidade, informalidade, economia processual e celeridade,
buscando-se, sempre que possível, a conciliação, a transação e o uso
de práticas restaurativas.
Art. 18 – É acrescentado o parágrafo segundo ao artigo 69, da Lei 9.099, de
26 de setembro de 1995, com a seguinte redação:
§ 2º – A autoridade policial poderá sugerir, no termo circunstanciado, o
encaminhamento dos autos para procedimento restaurativo.
Art. 19 – É acrescentado o parágrafo sétimo ao artigo 76, da Lei 9.099, de 26
de setembro de 1995, com o seguinte teor:
§ 7º – Em qualquer fase do procedimento de que trata esta Lei o
Ministério Público poderá oficiar pelo encaminhamento das partes ao
núcleo de justiça restaurativa.
Art. 20 – Esta lei entrará em vigor um ano após a sua publicação.
Sala das Sessões, em de de 2006.
Deputado GERALDO THADEU
Presidente
ANEXO C
Resolução 2002/12 da ONU - PRINCÍPIOS BÁSICOS PARA
UTILIZAÇÃO DE PROGRAMAS DE JUSTIÇA RESTAURATIVA EM
MATÉRIA CRIMINAL

37ª Sessão Plenária


24 de Julho de 2002
Resolução 2002/12

O Conselho Econômico e Social, Reportando-se à sua Resolução 1999/26, de 28 de


julho de 1999, intitulada “Desenvolvimento e Implementação de Medidas de
Mediação e Justiça Restaurativa na Justiça Criminal”, na qual o Conselho requisitou
à Comissão de Prevenção do Crime e de Justiça Criminal que considere a desejável
formulação de padrões das Nações Unidas no campo da mediação e da justiça
restaurativa reportando-se, também, à sua resolução 2000/14, de 27 de julho de
2000, intitulada “Princípios Básicos para utilização de Programas Restaurativos em
Matérias Criminais” no qual se requisitou ao Secretário-Geral que buscasse
pronunciamentos dos Estados-Membros e organizações intergovernamentais e não
governamentais competentes, assim como de institutos da rede das Nações Unidas
de Prevenção do Crime e de Programa de Justiça Criminal, sobre a desejabilidade e
os meios para se estabelecer princípios comuns na utilização de programas de
justiça restaurativa em matéria criminal, incluindo-se a oportunidade de se
desenvolver um novo instrumento com essa finalidade, Levando em conta a
existência de compromissos internacionais a respeito das vítimas, particularmente a
Declaração sobre Princípios Básicos de Justiça para Vítimas de Crimes e Abuso de
Poder, Considerando as notas das discussões sobre justiça restaurativa durante o
Décimo Congresso sobre Prevenção do Crime e do Tratamento de Ofensores, na
agenda intitulada “Ofensores e Vítimas – Responsabilidade e Justiça no Processo
Judicial.
Tomando nota da Resolução da Assembleia-Geral n. 56/261, de 31 de
janeiro de 2002, intitulada “Planejamento das Ações para a Implementação da
Declaração de Viena sobre Crime e Justiça – Respondendo aos Desafios do Século
Vinte e um”, particularmente as ações referentes à justiça restaurativa, de modo a se
cumprir os compromissos assumidos no parágrafo 28, da Declaração de Viena.
Anotando, com louvor, o trabalho do Grupo de Especialistas em Justiça Restaurativa
no encontro ocorrido em Ottawa, de 29 de outubro a 1º de novembro de 2001.
Registrando o relatório do Secretário-Geral sobre justiça restaurativa e o relatório do
Grupo de Especialistas em Justiça Restaurativa.

1. Toma nota dos princípios básicos para a utilização de programas de justiça


restaurativas em matéria criminal anexados à presente resolução;

2. Encoraja os Estados Membros a inspirar-se nos princípios básicos para


programas de justiça restaurativa em matéria criminal no desenvolvimento e
implementação de programas de justiça restaurativa na área criminal;

3. Solicita ao Secretário-Geral que assegure a mais ampla disseminação dos


princípios básicos para programas de justiça restaurativa em matéria criminal entre
os Estados Membros, a rede de institutos das Nações Unidas para a prevenção do
crime e programas de justiça criminal e outras organizações internacionais regionais
e organizações não governamentais;

4. Concita os Estados Membros que tenham adotado práticas de justiça restaurativa


que difundam informações e sobre tais práticas e as disponibilizem aos outros
Estados que o requeiram;

5. Concita também os Estados Membros que se apóiem mutuamente no


desenvolvimento e implementação de pesquisa, capacitação e outros programas,
assim como em atividades para estimular a discussão e o intercâmbio de
experiências.

6. Concita, ainda, os Estados Membros a se disporem a prover, em caráter


voluntário, assistência técnica aos países em desenvolvimento e com economias em
transição, se o solicitarem, para os apoiarem no desenvolvimento de programas de
justiça restaurativa.

Anexo
Princípios Básicos para a utilização de Programas de Justiça Restaurativa em
Matéria Criminal .

PREÂMBULO

Considerando que tem havido um significativo aumento de iniciativas com justiça


restaurativa em todo o mundo. Reconhecendo que tais iniciativas geralmente se
inspiram em formas tradicionais e indígenas de justiça que vêem,
fundamentalmente, o crime como danoso às pessoas. Enfatizando que a justiça
restaurativa evolui como uma resposta ao crime que respeita a dignidade e a
igualdade das pessoas, constrói o entendimento e promove harmonia social
mediante a restauração das vítimas, ofensores e comunidades.
Focando o fato de que essa abordagem permite que as pessoas afetadas pelo crime
possam compartilhar abertamente seus sentimentos e experiências, bem assim seus
desejos sobre como atender suas necessidades.
Percebendo que essa abordagem propicia uma oportunidade para as vítimas
obterem reparação, se sentirem mais seguras e poderem superar o problema,
permite os ofensores compreenderem as causas e consequências de seu
comportamento e assumir responsabilidade de forma efetiva, bem assim possibilita à
comunidade a compreensão das causas subjacentes do crime, para se promover o
bem estar comunitário e a prevenção da criminalidade. Observando que a justiça
restaurativa enseja uma variedade de medidas flexíveis e que se adaptam aos
sistemas de justiça criminal e que complementam esses sistemas, tendo em vista os
contextos jurídicos, sociais e culturais respectivos. Reconhecendo que a utilização
da justiça restaurativa não prejudica o direito público subjetivo dos Estados de
processar presumíveis ofensores.

I – Terminologia

1. Programa de Justiça Restaurativa significa qualquer programa que use processos


restaurativos e objetive atingir resultados restaurativos

2. Processo restaurativo significa qualquer processo no qual a vítima e o ofensor, e,


quando apropriado, quaisquer outros indivíduos ou membros da comunidade
afetados por um crime, participam ativamente na resolução das questões oriundas
do crime, geralmente com a ajuda de um facilitador. Os processos restaurativos
podem incluir a mediação, a conciliação, a reunião familiar ou comunitária
(conferencing) e círculos decisórios (sentencing circles).

3. Resultado restaurativo significa um acordo construído no processo restaurativo.


Resultados restaurativos incluem respostas e programas tais como reparação,
restituição e serviço comunitário, objetivando atender as necessidades individuais e
coletivas e responsabilidades das partes, bem assim promover a reintegração da
vítima e do ofensor.

4. Partes significa a vítima, o ofensor e quaisquer outros indivíduos ou membros da


comunidade afetados por um crime que podem estar envolvidos em um processo
restaurativo.

5. Facilitador significa uma pessoa cujo papel é facilitar, de maneira justa e


imparcial, a participação das pessoas afetadas e envolvidas num processo
restaurativo.

II. Utilização de Programas de Justiça Restaurativa

6. Os programas de justiça restaurativa podem ser usados em qualquer estágio do


sistema de justiça criminal, de acordo com a legislação nacional.

7. Processos restaurativos devem ser utilizados somente quando houver prova


suficiente de autoria para denunciar o ofensor e com o consentimento livre e
voluntário da vítima e do ofensor. A vítima e o ofensor devem poder revogar esse
consentimento a qualquer momento, durante o processo. Os acordos só poderão ser
pactuados voluntariamente e devem conter somente obrigações razoáveis e
proporcionais.

8. A vítima e o ofensor devem normalmente concordar sobre os fatos essenciais do


caso sendo isso um dos fundamentos do processo restaurativo. A participação do
ofensor não deverá ser usada como prova de admissão de culpa em processo
judicial ulterior.

9. As disparidades que impliquem em desequilíbrios, assim como as diferenças


culturais entre as partes, devem ser levadas em consideração ao se derivar e
conduzir um caso no processo restaurativo.

10. A segurança das partes deverá ser considerada ao se derivar qualquer caso ao
processo restaurativo e durante sua condução.

11. Quando não for indicado ou possível o processo restaurativo, o caso deve ser
encaminhado às autoridades do sistema de justiça criminal para a prestação
jurisdicional sem delonga. Em tais casos, deverão ainda assim as autoridades
estimular o ofensor a responsabilizar-se frente à vítima e à comunidade e apoiar a
reintegração da vítima e do ofensor à comunidade.

III - Operação dos Programas Restaurativos

12. Os Estados membros devem estudar o estabelecimento de diretrizes e padrões,


na legislação, quando necessário, que regulem a adoção de programas de justiça
restaurativa. Tais diretrizes e padrões devem observar os princípios básicos
estabelecidos no presente instrumento e devem incluir, entre outros:

a) As condições para encaminhamento de casos para os programas de justiça


restaurativos;
b) O procedimento posterior ao processo restaurativo;
c) A qualificação, o treinamento e a avaliação dos facilitadores;
d) O gerenciamento dos programas de justiça restaurativa;
e) Padrões de competência e códigos de conduta regulamentando a operação dos
programas de justiça restaurativa.

13. As garantias processuais fundamentais que assegurem tratamento justo ao


ofensor e à vítima devem ser aplicadas aos programas de justiça restaurativa e
particularmente aos processos restaurativos;
a) Em conformidade com o Direito nacional, a vítima e o ofensor devem ter o direito
à assistência jurídica sobre o processo restaurativo e, quando necessário, tradução
e/ou interpretação. Menores deverão, além disso, ter a assistência dos pais ou
responsáveis legais.
b) Antes de concordarem em participar do processo restaurativo, as partes deverão
ser plenamente informadas sobre seus direitos, a natureza do processo e as
possíveis consequências de sua decisão;
c) Nem a vítima nem o ofensor deverão ser coagidos ou induzidos por meios ilícitos
a participar do processo restaurativo ou a aceitar os resultados do processo.

14. As discussões no procedimento restaurativo não conduzidas publicamente


devem ser confidenciais, e não devem ser divulgadas, exceto se consentirem as
partes ou se determinado pela legislação nacional.

15. Os resultados dos acordos oriundos de programas de justiça restaurativa


deverão, quando apropriado, ser judicialmente supervisionados ou incorporados às
decisões ou julgamentos, de modo a que tenham o mesmo status de qualquer
decisão ou julgamento judicial, precluindo ulterior ação penal em relação aos
mesmos fatos.

16. Quando não houver acordo entre as partes, o caso deverá retornar ao
procedimento convencional da justiça criminal e ser decidido sem delonga. O
insucesso do processo restaurativo não poderá, por si, usado no processo criminal
subsequente.

17. A não implementação do acordo feito no processo restaurativo deve ensejar o


retorno do caso ao programa restaurativo, ou, se assim dispuser a lei nacional, ao
sistema formal de justiça criminal para que se decida, sem demora, a respeito. A não
implementação de um acordo extrajudicial não deverá ser usado como justificativa
para uma pena mais severa no processo criminal subsequente.
18. Os facilitadores devem atuar de forma imparcial, com o devido respeito à
dignidade das partes. Nessa função, os facilitadores devem assegurar o respeito
mútuo entre as partes e capacita-las a encontrar a solução cabível entre elas.

19. Os facilitadores devem ter uma boa compreensão das culturas regionais e das
comunidades e, sempre que possível, serem capacitados antes de assumir a
função.

IV. Desenvolvimento Contínuo de Programas de Justiça Restaurativa

20. Os Estados Membros devem buscar a formulação de estratégias e políticas


nacionais objetivando o desenvolvimento da justiça restaurativa e a promoção de
uma cultura favorável ao uso da justiça restaurativa pelas autoridades de segurança
e das autoridades judiciais e sociais, bem assim em nível das comunidades locais.

21. Deve haver consulta regular entre as autoridades do sistema de justiça criminal e
administradores dos programas de justiça restaurativa para se desenvolver um
entendimento comum e para ampliar a efetividade dos procedimentos e resultados
restaurativos, de modo a aumentar a utilização dos programas restaurativos, bem
assim para explorar os caminhos para a incorporação das práticas restaurativas na
atuação da justiça criminal.

22. Os Estados Membros, em adequada cooperação com a sociedade civil, deve


promover a pesquisa e a monitoração dos programas restaurativos para avaliar o
alcance que eles tem em termos de resultados restaurativos, de como eles servem
como um complemento ou uma alternativa ao processo criminal convencional, e se
proporcionam resultados positivos para todas as partes. Os procedimentos
restaurativos podem ser modificados na sua forma concreta periodicamente. Os
Estados Membros devem porisso estimular avaliações e modificações de tais
programas. Os resultados das pesquisas e avaliações devem orientar o
aperfeiçoamento do gerenciamento e desenvolvimento dos programas.

V. Cláusula de Ressalva.
23. Nada que conste desses princípios básicos deverá afetar quaisquer direitos de
um ofensor ou uma vítima que tenham sido estabelecidos no Direito Nacional e
Internacional.

Tradução Livre por Renato Sócrates Gomes Pinto.

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