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Monografia Mikaelle Mendes Vasconcelos. (1) 2 PDF
Monografia Mikaelle Mendes Vasconcelos. (1) 2 PDF
POSSIBILIDADES
Sobral-CE
2012
JUSTIÇA RESTAURATIVA E SISTEMA CRIMINAL: LIMITES E
POSSIBILIDADES
Sobral-CE
2012
JUSTIÇA RESTAURATIVA E SISTEMA CRIMINAL: LIMITES E POSSIBILIDADES
EXAMINADORES
Dedico este trabalho àqueles pobres,
humilhados e injustiçados pelo ideal
repressivo e preconceituoso do sistema
de justiça criminal que atualmente vigora
no país.
AGRADECIMENTOS
Por fim, agradeço a meus pais pelos ensinamentos que me foram dados e
a todos os amigos e familiares que contribuíram para meu crescimento pessoal.
A injustiça, senhores, desanima o
trabalho, a honestidade, o bem; cresta em
flor os espíritos dos moços, semeia no
coração das gerações que vêm nascendo
a semente da podridão, habitua os
homens a não acreditar senão na estrela,
na fortuna, no acaso, na loteria da sorte,
promove a desonestidade, promove a
venalidade [...] promove a relaxação,
insufla a cortesania, a baixeza, sob todas
as suas formas. (Ruy Barbosa. Oração
aos Moços)
RESUMO
INTRODUÇÃO...........................................................................................................09
1 JUSTIÇA RESTAURATIVA: ABORDAGEM CONCEITUAL, SURGIMENTO E
AFIRMAÇÃO..............................................................................................................10
1.1 ABORDAGEM CONCEITUAL..............................................................................10
1.2 HISTÓRICO..........................................................................................................15
1.3 MARCOS LEGAIS................................................................................................19
2 JUSTIÇA RESTAURATIVA NO BRASIL...............................................................22
2.1 HISTÓRICO..........................................................................................................22
2.2 INICIATIVAS RELACIONADAS À JUSTIÇA RESTAURATIVA...........................24
3 JUSTIÇA RESTAURATIVA: MÉTODO ALTERNATIVO OU AUXILIAR DA
RESOLUÇÃO JUDICIAL DE CONFLITOS?.............................................................33
3.1 CONFLITO E MÉTODOS DE RESOLUÇÃO.......................................................33
3.1.1 Arbitragem.......................................................................................................33
3.1.2 Conciliação......................................................................................................34
3.1.3 Mediação..........................................................................................................36
3.1.4 Resolução judicial...........................................................................................36
3.2 PAPEL DA JUSTIÇA RESTAURATIVA NA RESOLUÇÃO JUDICIAL DE
CONFLITOS CRIMINAIS NO BRASIL.......................................................................39
3.2.1 Crítica à resolução judicial dos conflitos penais.........................................41
3.2.2 Justiça restaurativa e resolução judicial dos conflitos penais: limites e
possibilidades..........................................................................................................45
CONCLUSÃO............................................................................................................50
REFERÊNCIAS..........................................................................................................53
ANEXO A...................................................................................................................55
ANEXO B...................................................................................................................61
ANEXO C...................................................................................................................68
INTRODUÇÃO
1
Disponível em
<http://www.justica21.org.br/interno.php?ativo=DOC&sub_ativo=jr_circulo&PHPSESSID=11c239a9e5
475f1d0dae2a6e3493d3f1>, acessado em 23.01.2012. Destaque no original
‘os objetivos do processo incluem promover a cura para todas as partes
afetadas; oferecer ao ofensor a possibilidade de arrepender-se; empoderar
as vítimas e membros da comunidade para expressar-se francamente e
desenvolver capacidade para os próprios integrantes resolverem os seus
conflitos’ (RAYE and ROBERTS apud PALLAMOLLA, 2009, p. 120).
1.2 HISTÓRICO
As ideias sobre a Justiça Restaurativa (JR) têm sua origem há mais de três
décadas. Os primeiros registros foram verificados nos Estados Unidos em
1970 sob a forma de mediação entre réu e vítima, depois adotadas por
outros países, com destaque para a experiência da Nova Zelândia. Também
Chile, Argentina e Colômbia dão os primeiros passos em direção a Justiça
Restaurativa. No Brasil, registram-se experiências isoladas, como a da 3ª
Vara do Juizado da Infância de Porto Alegre, iniciada em 2002.
Cronologia
2
Os dois primeiros movimentos, abolicionismo e vitimologia, são analisados de forma mais detalhada
em PALLAMOLLA, op. cit., pp.37-53.
3
Disponível em www.justica21.org.br. O histórico está disponível em
http://www.justica21.org.r/interno.php?ativo=DOC&sub_ativo=jr_origens. Acessado em 23.01.2012.
projetos de JR em Porto Alegre, São Caetano do Sul e Brasília. Início do
Projeto Justiça Século 21.
2007/ Porto Alegre - Em três anos de implementação do Projeto Justiça
para o Século 21, registra-se 2.583 participantes em 380 procedimentos
restaurativos realizados no Juizado da Infância e da Juventude. Outras
5.906 participaram de atividades de formação promovidas pelo Projeto.
4
Cfr. artigo Algumas reflexões sobre justiça restaurativa. Disponível em
http://www.justicarestaurativa.org/news/algumas-reflexoes-sobre-a-justica-restaurativa. Acessado em
23.01.2012.
5
O conteúdo da Resolução 2002/12 consta do ANEXO A desta monografia.
6
Cfr. http://www.unodc.org/brazil/pt/programasglobais_violencia.html. Acessado em 23.01.2012.
No Brasil existe o projeto de lei PL 7006/2006 (ANEXO B), que propõe
uma mudança profunda no Código Penal (Decreto-Lei n.º 2848/40), no Código de
Processo Penal (Decreto-Lei n.º 3689/41) e na Lei n.º 9099/95, que instituiu os
Juizados Especiais Cíveis e Criminais. O projeto visa à regulamentação do uso
facultativo de procedimentos de Justiça Restaurativa no âmbito da justiça criminal,
complementando o modelo já existente no Brasil, em crimes e contravenções
penais. Tal projeto ainda se encontra aguardando designação de relator na
Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania da Câmara dos Deputados.7
Outros três documentos sobre a utilização da Justiça Restaurativa no
Brasil e América Latina têm grande relevância. A Carta de Araçatuba foi elaborada
pelos participantes do I Simpósio Brasileiro de Justiça Restaurativa, realizado em
São Paulo, na cidade de Araçatuba, em abril de 2005. Em setembro do mesmo ano,
na Costa Rica, houve o seminário “Building Restorative Justice in Latin America”,
oportunidade que deu origem à Declaração da Costa Rica sobre Justiça
Restaurativa. Já em abril de 2006, com base nas discussões realizadas entre os
participantes do II Simpósio Brasileiro de Justiça Restaurativa, que ocorreu na
Cidade do Recife, Pernambuco, foi elaborada a Carta de Recife.8
2 JUSTIÇA RESTAURATIVA NO BRASIL
7
Cfr. http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=323785. Acessado
em 23.01.2012.
8
O texto integral de alguns documentos produzidos pelos Simpósios brasileiros, além da Carta de
Costa Rica, encontra-se no ANEXO C da presente monografia.
2.1 HISTÓRICO
9
Para a distinção entre civil law e common law, PALLAMOLLA, op. cit., pp.102-103.
Cada projeto adotado atua em âmbitos diferentes, já que existe uma
multiplicidade de áreas em que pode ser utilizada a Justiça Restaurativa. O projeto
realizado em Porto Alegre se volta para crianças e adolescentes que estão
cumprindo algum tipo de medida socioeducativa; o de São Caetano do Sul também
lida com crianças e adolescentes, mas nas escolas em que estudam; já o projeto
realizado no Distrito Federal é vinculado ao Tribunal de Justiça e envolve a
comunidade, vítimas e infratores.
Saliente-se que desde a implantação de projetos referentes à Justiça
Restaurativa no Brasil, não houve a constituição de nenhum órgão legal que
pudesse traçar as diretrizes gerais de aplicação das práticas restaurativas e
fiscalizá-las. De outro lado, houve, pela sociedade civil organizada, a fundação do
Instituto Brasileiro de Justiça Restaurativa (IBJR), que é uma organização não
governamental, formada por pesquisadores os quais são professores, psicólogos,
advogados, pedagogos, defensores públicos, sociólogos, membros do Ministério
Público e da magistratura, médicos, estudantes, entre outros profissionais, que
visam estudar, expandir e publicizar as práticas restaurativas.
Atualmente não existe nenhuma legislação vigente que trate
especificamente sobre Justiça Restaurativa, seja como modelo alternativo ao
tradicional ou apenas como seu auxiliar. Existem apenas leis que utilizam a
mediação, conciliação, arbitragem, transação penal ou que determinam a reparação
da vítima como forma ou elemento de resolução de conflitos, nomeadamente a Lei
n.º 9.099/95, que instituiu os Juizados Especiais Cíveis e Criminais, a Lei n.º
8.069/90, Estatuto da Criança e Adolescente e a Lei n.º 9.307/96.10 As práticas
acima mencionadas serão abordadas e diferenciadas das utilizadas pela Justiça
Restaurativa no próximo capítulo.
10
Em artigo publicado em meio eletrônico, Damásio E. de Jesus, além de referir-se ao Estatuto da
Criança e do Adolescente e à Lei dos Juizados Especiais, cita passagens do Código Penal como
sendo “práticas parcialmente restaurativas”, citando todos os dispositivos relacionados às penas
alternativas e à reparação da vítima, além de causas de extinção de punibilidade especiais, como, por
exemplo, a constante do § 3.º do art.312, tratando da reparação de dano no peculato culposo. O
texto, composto em agosto de 2005, está disponível em http://jus.com.br/revista/texto/7359/justica-
restaurativa-no-brasil. Acessado em 28.01.2012.
Como já foi abordado no tópico anterior, os projetos pilotos relacionados à
Justiça Restaurativa tiveram sua implantação no Brasil no ano de 2005, nas cidades
de Porto Alegre, São Caetano do Sul e Brasília e foram iniciados
concomitantemente, a partir do financiamento do Programa das Nações Unidas para
o Desenvolvimento (PNUD), em parceria com o Ministério da Justiça. É importante
ressaltar que são projetos experimentais.
O projeto implantado em Brasília está instalado no Tribunal de Justiça do
Distrito Federal e Territórios, estabelecendo uma parceria para realização de suas
atividades com o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios, cabendo ao juiz
competente coordenar o programa, que acontece junto aos 1º e 2º Juizados
Especiais Criminais do Núcleo Bandeirantes, assistindo também as cidades de
Riacho Fundo I e II, Candangolândia e Park Way, atuando em casos de
competência do Juizado Especial Criminal. O programa está voltado para as
infrações consideradas de menor potencial ofensivo, envolvendo crimes com pena
máxima não superior a dois anos de privação de liberdade. A prática utilizada é a
mediação vítima-ofensor, que visa possibilitar o encontro entre os implicados (vítima
e ofensor) em um ambiente que passe segurança e que possua estrutura capaz de
facilitar o diálogo, coordenado por um facilitador. Antes do encontro, vítima e
ofensor, separadamente, passam por um processo chamado pré-círculo, em que o
facilitador ou mediador, treinado para o processo de aproximação que irá coordenar,
explica e avalia se ambos então preparados para o procedimento. Depois de
preparado ocorre o encontro entre vítima e ofensor, no qual o facilitador explica para
o infrator as consequências e impactos do delito causados na vítima. A partir daí o
ofensor tem a possibilidade de assumir sua responsabilidade no caso, dando à
vítima respostas sobre por que o delito ocorreu, como e qual era a intenção do
agente ao cometê-lo. Depois do encontro, ambos estabelecem um acordo de
reparação de dano, culminando na autocomposição.
11
O projeto de São Caetano do Sul, a partir de 2006, expandiu-se para Heliópolis, em oito escolas, e
para Guarulhos, em 11 escolas, em parceria com a Fundação para o Desenvolvimento da
Educação – FDE – Secretaria da Educação do Estado de São Paulo, Ministério da Educação e
Varas Especiais da Infância e Juventude de Heliópolis e Guarulhos. Cfr. AGUIAR, op. cit., pp.136-
137.
da aplicação e execução da medida socioeducativa (ainda durante o processo de
conhecimento) e 2ª) posterior à aplicação da medida socioeducativa, durante sua
execução. Na primeira fase, verificando-se que a prática restaurativa foi suficiente
para resolver o conflito, pode-se aplicá-la em substituição à medida socioeducativa.
Caso contrário atuará como complemento à sistemática tradicional. Na segunda
fase, o projeto de Porto Alegre atua conjuntamente com a Fundação de Atendimento
Sócio-Educativo (FASE) e com a Fundação de Assistência Social e Cidadania/
Programa de Execução de Medida Sócio-Educativa de Meio Aberto (FASC/PEMSE)
(PALLAMOLLA, 2009, p.123).
Esta iniciativa faz parte do “Projeto Justiça Para o Século 21” e tem como
objetivos, de acordo com o coordenador do projeto, o juiz de direito Leoberto
Brancher, qualificar a execução das medidas socioeducativas no Juizado da Infância
e da Juventude de Porto Alegre, no âmbito do processo judicial e no atendimento
técnico, mediante os princípios e métodos da Justiça Restaurativa; contribuir com a
garantia dos direitos humanos e com a prevenção da violência nas relações em que
os adolescentes em atendimento tomam parte; sistematizar e difundir a metodologia
necessária à implantação da Justiça Restaurativa no Sistema de Justiça da Infância
e da Juventude, e nas demais políticas públicas.12
12
Cfr. em http://www.justica21.org.br. Acessado em 26.01.2012.
Posteriormente, ocorre o processo chamado círculo, no qual vítima, infrator e
familiares se reúnem, juntamente com uma facilitador, fazendo as vezes de
mediador e conduzindo o diálogo até a solução do conflito. Todos têm a
oportunidade de se expressar e de serem escutados, contribuindo para a definição
do acordo final. Ocorrendo o acordo, o facilitador o redige, passando para todos
assinarem, recebendo, cada um, uma cópia. Depois de redigido e assinado, é
enviado para um juiz competente o qual faz sua avaliação e decide se deverá ou
não homologá-lo. Ficando estabelecida alguma medida socioeducativa, o
adolescente é encaminhado para executá-la, sendo acompanhado por um técnico
ou supervisor durante todo o processo de execução. Enquanto isso, um coordenador
ou facilitador acompanha a vítima em suas necessidades, ajudando na superação
da infração sofrida, sendo acompanhada por um assistente social.
Ao final há o processo chamado de pós-círculo, que ocorre 30 dias depois
da realização do encontro. Nessa fase os membros do projeto entram em contato
com as partes para averiguar se o acordo foi ou está sendo cumprido.
A comparação entre os programas de Brasília, São Caetano do Sul e
Porto Alegre foi realizada no ano seguinte à sua implementação pelo Instituto Latino
Americano das Nações Unidas para o Desenvolvimento (ILANUD). Reproduz-se, por
sua importância, seu conteúdo13:
QUADRO COMPARATIVO
13
Disponível em http://erc.undp.org/evaluationadmin/downloaddocument.html?docid=3752. Acessado
em 26.01.2012.
Fórum: Procedimento
restaurativo é
paralelo ao
procedimento
tradicional
Instância Juizado Especial Vara da Infância e da Vara da Infância e da
Juventude: execução Juventude: Apuração
Criminal
de medidas sócio- de atos infracionais
educativas
Esclarecimento prévio Sim, por consulta Sim, por visita Escola: Sim, por
pessoal realizada no domiciliar contato pessoal
Juizado, na qual já é
trabalhado o conflito
Fórum: Sim, por
contato telefônico
3.1.1 Arbitragem
3.1.1 Conciliação
14
No Juizado especial criminal, o legislador prevê a figura da transação penal, seja nas ações penais
privadas, seja nas ações penais públicas, condicionadas ou incondicionadas (art. 72 e 76 da Lei
9099/95). Não se confunde, propriamente, com a conciliação. A previsão constitucional do art. 98, I
estabeleceu a diretiva normativa de criação dos Juizados especiais, o que significa, de algum modo,
reconhecer o fundamento constitucional da conciliação, referida como competência destes órgãos.
15
Este tipo de conciliação tem sido feita, com êxito, nas Defensorias Públicas e Núcleos de Prática
Jurídica.
3.1.2 Mediação
Mas não apenas está o juiz obrigado a decidir, como há garantias de que
os conflitos existentes não podem ser excluídos da apreciação do Poder Judiciário,
sendo julgados pela autoridade competente, e não por um juízo de exceção.
Finalmente, toda decisão deverá ser fundamentada e pública. A Constituição
Federal dispõe nesse sentido:
Art. 5.º, XXXV – a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão
ou ameaça a direito.
16
Ainda que na arbitragem a vontade das partes não constitua o teor da sentença arbitral, sua
relevância pode ser medida pela possibilidade mesma de estabelecer que regras de direito serão
aplicadas, respeitados os limites dos bons costumes e da ordem pública (§1.º do art. 2.º da Lei
9.307/96).
17
A possibilidade de recurso ou de desconstituição de uma decisão não afasta o caráter de
definitividade da resolução judicial do conflito, já que será sempre um órgão judicial, mesmo que
sejam Tribunais Superiores, a fixar a causa. A coisa julgada é expressão disto.
Art. 5º, LIII – ninguém será processado nem sentenciado senão pela
autoridade competente.
Art. 93, IX – todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão
públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade
(omissis)
QUADRO COMPARATIVO18
ARBITRAGEM CONCILIAÇÃO MEDIAÇÃO RESOLUÇÃO
EXTRAJUDICIAL JUDICIAL
QUEM Árbitro ou Conciliador que Partes Juiz
CONDUZ árbitros tenha passado por auxiliadas por
escolhidos pelas treinamento. um mediador
partes.
QUEM Partes que Partes Partes que Partes,
PARTICIPA elegem o diretamente buscam o representadas por
árbitro. afetadas pela mediador, por procuradores
situação de vezes constituídos;
conflito acompanhadas testemunhas;
de pessoas em peritos;
que confiam intérpretes;
Ministério Público
CONTEXTO Em regra, Situações de Situações de Situações em que
EM QUE SE situações em conflito que não conflito há pretensão
APLICA que há apresentem provenientes, resistida ou bem
divergência questões em regra, da jurídico de ordem
acerca de relacionais existência de pública, em que se
direitos privados importantes, vínculos busca a decisão
de caráter como: conflitos continuados impositiva do
patrimonial, oriundos de Estado
excluídos os relações
18
Este quadro é composto, em parte, pelo existente em AGUIAR, 2009, pp. 120-121.
que se comerciais
relacionem a pontuais
direitos
indisponíveis.
OBJETIVO Decidir, frente à Trabalhar o Auxiliar as Decidir, de forma
situação de conflito por meio partes a fim de impositiva e com
conflito, com de negociações e que caráter
valor de concessões estabeleçam irrevogável, a lide
sentença, os recíprocas a fim os termos de proposta
termos a serem de obter um um acordo.
executados. acordo
DEFINIÇÃO Obtenção de Obtenção de Transformação Obtenção de
DE sentença arbitral acordo das relações sentença judicial
SUCESSO conflituosas,
alcançando
contexto mais
colaborativo
entre as
partes, não
sendo
necessária a
obtenção de
um acordo
Como já foi dito anteriormente, diante de todo delito penal surge para o
Estado-juiz o poder/dever de punir aquele que violou o ordenamento jurídico,
ameaçando a paz social. E é partindo deste pressuposto que a resolução judicial de
conflitos e a aplicação de penas privativas de liberdade têm sido as práticas mais
utilizadas para controle da violência e do desrespeito ao ordenamento jurídico
brasileiro. A privação de liberdade vem sendo utilizada como uma espécie de
resposta ao ilícito cometido e como uma medida capaz de prevenir futuras
transgressões, além de ressocializar o infrator, fato que não tem ocorrido.
O que se tem observado é que – diante da aplicação de penas, por vezes
elevadas, das condições de cometimento do crime, do objeto do crime e das
condições pessoais do infrator – esse ideal ressocializador não tem sido alcançado.
O que se percebe é um fracasso progressivo do sistema penal vigente no País, uma
vez que tal ideal se inverte quando o sujeito ativo de uma infração ao ser submetido
ao cárcere, convivendo com outros infratores, em um ambiente que passa a ser
recriado e regrado por eles, em que prevalece a lei do mais forte, culmina em um
processo de dessocialização e criminalização.
Contudo, dentro desse ideal ressocializador, a Justiça Restaurativa vem
ganhando seu espaço no sistema de justiça penal brasileiro, algumas vezes como
auxiliar e outras como uma alternativa à privação de liberdade. Neste último aspecto,
vêm sendo aplicadas práticas restaurativas no Brasil aos menores infratores como
alternativa à aplicação de medidas socioeducativas, como exposto no capítulo 2
desse trabalho, sendo visto como um modelo mais eficaz e menos violento de
solução de conflitos e capaz de promover a ressocialização.
O reconhecimento da Justiça Restaurativa pode ser verificado, entre
outros modos, pela atuação do Instituto Innovare19 que, desde sua primeira edição,
em 2004, conta treze projetos inscritos envolvendo o tema.20 Sobre os benefícios
derivados da adoção das práticas restaurativas, o primeiro projeto reconhecido pelo
Instituto, em sua terceira edição (2006)21, resume, assinalando sua importância:
19
O Prêmio Innovare foi instituído com o fim de “identificar, premiar e disseminar práticas inovadoras
realizadas por magistrados, membros do Ministério Público estadual e federal, defensores públicos
e advogados públicos e privados de todo Brasil, que estejam aumentando a qualidade da prestação
judicial e contribuindo com a modernização da Justiça Brasileira.” Cfr. www.premioinnovare.com.br
20
Houve, em 2007, menção honrosa ao Projeto Justiça 21, pelas práticas restaurativas que adota e
divulga.
21
Trata-se do projeto “Justiça Restaurativa”, que trata das iniciativas adotadas no Núcleo
Bandeirantes, em Brasília, já referidas anteriormente neste trabalho.
3.2.1 Crítica à resolução judicial dos conflitos penais
22
As referências são feitas aos crimes cometidos entre 2004 e 2005. Não há dados oficiais mais
recentes. O acesso às informações pode ser feito no site www.mj.jus.br.
Extorsões mediante 346 0,3 475 0,4
sequestro
Roubos 873.700 516,7 903.298 519,4
Furtos 2.050.070 1.212,4 2.022.896 1.163,1
Fonte: Ministério da Justiça – MJ/ Secretaria Nacional de Segurança Pública – SENASP/
Secretarias Estaduais de Segurança Pública/ Departamento de Pesquisa, Análise da
Informação e Desenvolvimento de Pessoal em Segurança Pública – Coordenação Geral de
Pesquisa.
23
Ainda que os dados relativos às infrações refiram-se aos anos de 2004 e 2005 e aqueles relativos à
realidade do judiciário sejam mais recentes (2010), as comparações são válidas, não havendo razão
para presumir variações significativas no conjunto das infrações cometidas em cinco anos.
de um Estado, agindo como peça principal de intervenção social, ressocialização e
diminuição de reincidência.
24
Cfr. A construção da Justiça Restaurativa no Brasil: o impacto no sistema de Justiça
criminal. Disponível em http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=9878. Acessado em
03.02.2012.
Acerca do momento ideal de aplicação das práticas restaurativas,
assinala:
Buscando a melhoria da prestação jurisdicional e a despenalização e
considerando a justiça restaurativa inserida no Poder Judiciário, seu lugar
por excelência, entende-se que seu nicho privilegiado é no momento
anterior ao processo ou no início do processo.
25
Cfr. A construção da Justiça Restaurativa no Brasil: o impacto no sistema de Justiça criminal.
Disponível em http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=9878. Acessado em 03.02.2012.
CONCLUSÃO
BRASIL. Lei n.º 10741, de 1.º de outubro de 2003. Dispõe sobre o Estatuto do Idoso
e dá outras providências. Disponível em
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/2003/L10.741.htm>. Acessado em 25 de
janeiro de 2012.
BRASIL. Lei n.º 5869, de 11 de janeiro de 1973. Institui o Código de Processo Civil.
Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L5869.htm> Acessado em
25 de janeiro de 2012.
BRASIL. Lei n.º 8069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e
do Adolescente, e dá outras providências. Disponível em
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8069.htm>. Acessado em 25 de janeiro
de 2012.
NETO, Pedro Scuro. Sociologia geral e jurídica: manual dos cursos de direito. 5.
ed. São Paulo, Saraiva, 2007.
OTTOBONI, Mário. Seja solução, não vítima!: justiça restaurativa, uma abordagem
inovadora. São Paulo: Cidade Nova, 2004.
Anexo
Princípios Básicos para a utilização de Programas de Justiça Restaurativa em
Matéria Criminal .
PREÂMBULO
I – Terminologia
10. A segurança das partes deverá ser considerada ao se derivar qualquer caso ao
processo restaurativo e durante sua condução.
11. Quando não for indicado ou possível o processo restaurativo, o caso deve ser
encaminhado às autoridades do sistema de justiça criminal para a prestação
jurisdicional sem delonga. Em tais casos, deverão ainda assim as autoridades
estimular o ofensor a responsabilizar-se frente à vítima e à comunidade e apoiar a
reintegração da vítima e do ofensor à comunidade.
16. Quando não houver acordo entre as partes, o caso deverá retornar ao
procedimento convencional da justiça criminal e ser decidido sem delonga. O
insucesso do processo restaurativo não poderá, por si, usado no processo criminal
subsequente.
19. Os facilitadores devem ter uma boa compreensão das culturas regionais e das
comunidades e, sempre que possível, serem capacitados antes de assumir a
função.
21. Deve haver consulta regular entre as autoridades do sistema de justiça criminal e
administradores dos programas de justiça restaurativa para se desenvolver um
entendimento comum e para ampliar a efetividade dos procedimentos e resultados
restaurativos, de modo a aumentar a utilização dos programas restaurativos, bem
assim para explorar os caminhos para a incorporação das práticas restaurativas na
atuação da justiça criminal.
V. Cláusula de Ressalva.
23. Nada que conste desses princípios básicos deverá afetar quaisquer direitos de
um ofensor ou uma vítima que tenham sido estabelecidos no Direito Nacional e
Internacional.