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FÁBULA DA FOME

● FOME ANTES DA CONSOANTE S E ANTES DA CONSOANTE M:


● FOME COMO PREDICADO
― Então quando entraremos no quintal? Não haverá momento propício! Eles têm fome!
Vejam as crianças, apontou Rosalva para os três pequenos já muito magros, dormindo no
galho inferior. Não podemos mais esperar pois temos fome!

● FOME NO FINAL DA FRASE ANTES DE VOGAL BAIXA (A):


● FOME COMO PREDICATIVO DO SUJEITO
Rosalva, contrariada, coloca os três pequenos no cangote e desobedecendo às ordens de
Carlos, escala a grande Araucária. Lá de cima pode ver todo o gramado verde da família
humana, com suas árvores cheias de frutas caindo no chão e liberando o aroma
incomparável dos pêssegos podres e doces que seriam a solução para o problema da fome.

● FOME ANTES DE VOGAL MÉDIA-ALTA (E) E ALTA (U):


● FOME COMO PREDICADO
― Estou falando a verdade, meus filhotes estão morrendo de fome. Você já passou fome?
Você já teve filhotes?

● FOME ANTES DE VOGAL MÉDIA-ALTA (O) E ALTA (U):


● FOME COMO PREDICADO
― Estou disposta a tentar, não suporto mais ver meus filhos passando fome. Não posso
deixar o medo ser maior do que a vontade de viver. Aliás, meu irmão, é bom lembrar que se
ficarmos aqui morreremos todos, será o fim da nossa espécie. Esse é um grande tabu:
fome. Nós, ursos, precisamos comer.

● FOME ANTES DE VOGAL ALTA (I):


● FOME COMO PREDICADO
― Mamãe, não sei mais como continuar vivendo assim. Nossa vida está muito tristinha e
miserável. Ontem, enquanto estava dormindo, eu senti fome. Dormi chorando.

LER SEPARADO:
● FOME ANTES DE VOGAL MÉDIA-BAIXA (É):
● FOME COMO PREDICADO
As pessoas sofrem com isso né, fome. Tem que ver isso daí, pois é.

● FOME ANTES DE VOGAL MÉDIA-BAIXA (Ó):


● FOME COMO PREDICADO
Ai, eu fiquei com uma dó, “fome, fome fome” era o que ela ficava gritando.

● FOME NO COMEÇO DA FRASE:


● FOME COMO SUJEITO
A fome no mundo é uma questão muito difícil de ser resolvida. Portanto, acabar com a fome
é um dever de todos.
― Lá vem eles! ― grita Juan do posto de observação da floresta. ― Vejo um grande e
cinza, um pequeno gordo de patas brancas, um peludo marrom com sangue nos olhos. Não
se aproximem ainda, fiquem onde estão!

― Entendido companheiro Juan, gritou Carlos, coçando a cabeça.

― Então quando entraremos no quintal? Não haverá momento propício! Eles têm fome!
Vejam as crianças, apontou Rosalva para os três pequenos já muito magros, dormindo no
galho inferior. Não podemos mais esperar, pois temos fome.

― Minha irmã, não é prudente arriscar nossas vidas nos jogando no território inimigo.
Muitos dos nossos já morreram em combate com estes cães. Eles são impiedosos e maus.

― Estou disposta a tentar, não suporto mais ver meus filhos passando fome. Não posso
deixar o medo ser maior do que a vontade de viver. Aliás, meu irmão, é bom lembrar que se
ficarmos aqui morreremos todos, será o fim da nossa espécie. Esse é um grande tabu:
fome. Nós, ursos, precisamos comer.

― Irmã, você é insensata. Está exagerando, como sempre. Além do que sabe muito bem
que a decisão nunca partirá de uma mulher. Deixe que nós, os machos, decidamos, você só
atrapalha manifestando suas opiniões irrelevantes. Por favor, volte com as crianças para o
outro lado do rio.

Rosalva, contrariada, coloca os três pequenos no cangote e desobedecendo às ordens de


Carlos, escala a grande Araucária. Lá de cima pode ver todo o gramado verde da família
humana, com suas árvores cheias de frutas caindo no chão e liberando o aroma
incomparável dos pêssegos podres e doces que seriam a solução para o problema da fome.

Juan dorme no posto de controle, enquanto os outros, apoiados no jacarandá, contam


piadas e vantagens.

Os cães percebem as risadas do grupo e correm em direção aos visitantes. Com os pelos
das costas arrepiados, latem bravamente: ― Se vocês entrarem aqui, morrem, fiquem
sabendo. Já matamos vários dos seus. Este território é dos humanos e não importa quantas
frutas podres caiam no chão, elas são nossas, querem ver? E então pegam uma ameixa
com a boca e a cospem. Como conseguem comer essa coisa nojenta? Riem.

Os quatis não toleram aquela provocação e irados despejam suas próprias ameaças:
―Saibam que se vocês passarem dessa cerca também morrem, seus fracotes
domesticados. Somos em maior número e nossos dentes são afiados, deem uma olhada.
Então num sorriso desdenhoso mostram seus caninos pontiagudos enquanto exibem a
agilidade que tem com os rabos nos galhos das árvores: Vocês conseguem fazer isso?
Acho que não!

Rosalva assiste à cena enquanto tranquiliza os filhotes. ― Bando de machos exibidos.


Como se alguém ganhasse alguma coisa com esse toma lá, dá cá. Não percebem que
todos perdemos! Essa idiotice ainda vai acabar com todos os bichos.
Entre ciscadas e latidos, Rosalva ordena que os filhotes permaneçam no alto da Araucária,
muito quietos para não serem percebidos por outros predadores. Desce trêmula, escala a
cerca e corre para o pessegueiro, coleta cinco frutas e volta. Quando está prestes a
alcançar a ameixeira que leva à cerca, sente uma mordida em sua cauda. É Naru, a grande
e temida cachorra branca.

― Me solte, por favor, ela grita. Estou colhendo alimento para meus filhos! Já vou embora.

― Você não tem direito de entrar em nosso território, além do que esse papinho de “tenho
filhotes” não me convence. Apenas nós reproduzimos, apenas nós somos dignos, uma
espécie superior. Vocês são um bando de selvagens e merecem ser dizimados da Terra.

― Estou falando a verdade, meus filhotes estão morrendo de fome. Você já passou fome?
Você já teve filhotes? Toda noite esses falam: “Mamãe, não sei mais como continuar
vivendo assim. Nossa vida está muito tristinha e miserável. Ontem, enquanto estava
dormindo, eu senti fome.”

A pergunta de Rosalva ativou memórias longínquas de Naru. Lembrou de quando morava


nas ruas e nelas teve seus cinco filhotes. Recordou das surras que levava de humanos que
não permitiam sua aproximação para pedir comida e precisava correr riscos revirando os
lixos atrás de restos. Agora ela tinha casa, comida e uma família, mas nem sempre foi
assim.

― Onde estão seus filhos? ― perguntou Naru desconfiada.

― Estão naquela árvore gigante, sentem muita fome. Parte da floresta foi destruída para a
construção de mais uma fábrica e não conseguimos juntar alimento suficiente. Por favor, me
deixe levar estas frutas para meus bebês!

Soltando a pata de Rosalva, comenta: ― Sabe, eu também tive bebês, cinco ao mesmo
tempo. Não é nada fácil dar de comer para esses famintinhos, não é? Ignorava que vocês
também fossem capazes de ter filhotes e amá-los. Me perdoe pela grosseria. Pode levar as
frutas e quando precisar de mais, fale comigo que trago perto da cerca para você e distraio
os outros cachorros se for preciso.

Alguns cachorros agrediram Naru por sua ousadia e compaixão para com os selvagens,
mas aos poucos observaram que uma relação cordial com os quatis poderia ser divertida, já
que eles contavam boas piadas e faziam malabares maneiros. Os quatis a princípio
resistiram à ideia, mas com a barriga cheia de frutas compartilhadas por Naru, nomearam
Rosalva a líder do bando e passaram a achar interessante ter os cães como aliados, pois
não mais choraram a morte dos seus ou se feriram em lutas inglórias. As fêmeas
inauguraram uma era de paz entre quatis e cachorros, que não precisaram mais matar ou
morrer sem razão.
- Leia os diálogos a seguir sobre os problemas sociais enfrentados no Brasil:
PESSOA A
- É, os brasileiros sofrem mesmo com muitas coisas, falta de água, falta de internet
boa. A educação também não tá lá aquelas coisas, sem contar né, fome. O povo
tem fome.
PESSOA B
- Eu concordo. Esses dias passei na rua, vi uma menininha no colo da mãe e eu fiquei
com uma dó: “fome, fome, fome” era o que ela ficava gritando.
PESSOA A
- O que que ela ficava gritando?
PESSOA B
- “Fome, fome, fome!”
PESSOA A
- Fome no mundo é uma questão muito difícil de ser resolvida, realmente. Acabar com
a fome deveria ser um dever do Estado, mas enfim, vivemos no Brasil, né.

PÚBLICO ALVO

Local de origem: nascido em Curitiba e região metropolitana, filho de pais curitibanos


Faixa etária: três pessoas de cada faixa
- 19 - 25 (Prima - Ana, Cunhada - Alana)
- 40 - 50 (Pais - Alana, Isa, Ana/ Madrinha - Ana)

Variável
● Sintática-fonológica: será que a posição da palavra “fome” em diferentes lugares da
frase altera o aspecto fonológico da produção da vogal “o” ?
● Duas possibilidades: “o” aberto (fóme) // “o” fechado (fôme)

O Brasil e o grande problema da fome

Ouvi alguém gritando esses tempos na minha rua: “Eles têm fome, eles têm fome!
Ajuda, ajuda”. Me parece, às vezes, que estamos de frente a um tabu: fome e seus
desenrolamentos na sociedade brasileira, e isso não é nem novidade, mas eu nunca
pensaria em escutar uma coisa dessas numa capital de uma cidade tão grande. Eu mesma
já passei fome quando era mais nova, assim como meu irmão mais novo, que também
passou fome. A minha família nunca teve condições de realmente comprar muitas coisas,
somos do interior, viemos de uma cidadezinha pequena para uma capital gigante. Nessa
cidade, o meu almoço vinha da escola, e às vezes, quando sobrava comida, eles também
nos entregavam o jantar, mas quando não tinha aula, por exemplo, sentíamos fome, e por
isso, a gente tentava guardar o lanche do dia anterior para não faltar pelo menos ao meio
dia, então, realmente não é exagero dizer que já senti fome. O que me assusta é
reencontrar esse tipo de situação, que pensei ter deixado para trás quando mudei de casa,
tão perto assim, na minha janela. Fiquei tão comovida que corri preparar um pouco de
qualquer coisa para entregar ao moço que gritava. Nem pensei duas vezes, saí com um
pote enorme, daqueles de sorvete mesmo, e quando cheguei perto dele, percebi que não
era só ele que parecia estar morrendo de fome, ele era pai de outros cinco. Só lembro que
pensei: “Meu Deus, todos eles estão passando fome?”, congelei, a imagem dos meus pais,
e dos meus irmãos na mesma situação me pegou completamente desprevenida. Só não
chorei porque a menininha mais nova começou a sorrir quando me viu, era como se eu
fosse algum tipo de salvadora, um Messias, só que mulher. Me senti bem por alguns
minutos até que ela terminasse de comer, porque logo depois que ela me entregasse o
pote, eu tinha certeza que ela demoraria mais algumas horas, talvez dias, sem comer
absolutamente nada. Porque o Brasil funciona exatamente assim, uma boa ação isolada
não significa tanta coisa. “Eles têm fome! Fome, fome, fome!”, eles têm mesmo, e são
muitos, muitos mesmo.

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