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Miaue1 DE CERVANTES O ENGENHOSO CAVALEIRO D. QUIXOTE DE LA MANCHA Segundo Livro ‘radi eno de Sérgio Molina Aoresenapio de Maria Augusta da Costa Viera editoralll34 fa ang 502 Jam aps CEP O145-000 ‘Sto Pauo “SP Eas Tlf) 316-0777 waredtoaécombe Trad © Serio aia, 2010 ‘ror nei dos deta nesta pina do ate. pee rad fo resend ass 0 api Deo eld ie ‘ruse Bbotecs do Wnt de Eat, Clue espa Espana ita conformeo Aco Otay de Lingua Potuqes ipa, poeta gfe eet etn: Brecher Male Pups Grice (de et Fob Cone es 200 (ict Mair ds Eres de Les, Bas nee Sm SumAnio Apresentagio da segunda parte de D. Quixote. Nota a presente digo. Aprovagies od Prélogo a0 leivor : “ Dedieatéra a0 Conde de Lemos vs 50 1 Do que o padre eo arbeitotrataram com D. Quixote acetea de sua daenga 53 T Que trata da notivel pendéncia que Sancho Panga teve com a sobrinha ea ama de D. Quixote, mais outros assuntos engragados 6 Tl, Do ridicule razoamento havide entre D. Quixote, Sancho Panga e © bacharel Sansén Carrasco 7% IV. Onde Sancho Panga satisaz 0 bacharel Sansén Carrasco de suas dividase perguntas, mais outros sucessosdignos de saber e conta. # V.Da dscrea e engrasads coaversagio passada entre Sancho Panga e sua mulher, Teresa Panca, outros sucessosdignos de feliz lembranga 94 VI Do que aconteceu a D. Quixore om sua sobrinka ecom sua ama, que € um dos importante captulos de toda a histria 102 de cortar fosse una, sendo antes garras de gavio lagartsito, por co eextraordinrio abuso. “Nio andes, Sancho, com a roupa descingidae sok, pois . seu desalinho di indicios de imo desmazelado, isto quando = Eructay Sancho, quer dizer arrtas, mas este vocsbulo, ainda que muito significa: ro, hoe ido como torpe, e asim & ene curisa corre 8 fonte do atm e em verde “arrotar Serucat”, ecm verde" ainda que alguns no entendam ests termos, importa pouco, pois 0 s0 os poderé inrodzir com 0 tempo, até que com facilidade se entendam,e iso &enriquece a lingua, sobre a qual tem poder ovulgo e0.uso. — Fim verdade, senhor ‘odeamancho e a soltura nfo caem 3 conta de velhacara, como se julgou de Jilio Césae? "Toma com tentoo puso do que posta valr 0 teu oficiog, se ele te permitr dar libré aos tus criados,cuida de que seja dig hs ecmoda mais que vistoss e bizarra ede a repair entre of disse Sancho —, que wn dos con selhos €avisos que penso levar na meméria ha de sero de nio teuscriadose os pobres. Quero dizer que, se his de vsti es arrotat, porgue€ das coisas que mais costo fer, pien,veste tts delese outros és pobre, e asim ters pans para o cfu e pata a tera; ¢ este novo modo de dar libréndo a — Bructar, Sancho, nfo arrotar — disse D. Quixote, Eructar ditei daqui em diante — respondeu Sancho —, 8 f€ que ndo me esqueca dist, —Também, Sancho, nfo is de misturar no teu falara mul tidio de ditados que costumas, pos, se bem os ditados so sen rengas breves, muitas vezes of tazes tio pelos cabelos que mais parecem digparates que sentencas — Isso Deus pode remediar — respondew Sancho —, por ‘que se mais ditados que wm livro, e quando flo me vém tantos juntos boca que brigam uns com os outros pars six mas lin tg vai soltando os primeiros que encontra, ainda que alo ve- sham a pelo. Mas daqui em diane tere! conta de dizer os que convenham 3 gravidade do meu cargo, pois em casa cela, sinha se fa a eva, e quem parte no baralha ¢ a seu salvo est quem repica 0 sino, para dar para tem muito sis é mise, ‘= Isso, Sancho! — disse D. Quixote, — Encaixs,engast cenfia tus dtadas, que ninguém te vai mo! Minha mae a me castiga, eeu fazendo toga! Estou-tedizendo que escusesdiados, «enum instante despejaste um chorilho dees, qe assim eatam no que vamos tratando como Pilatos no credo. Olha, Sancho, nfo digo que me parega mal um ditado trazido a propésito; mas ds cangam os vangloriosos. "No comas alhos nem cebola > pasa que pelo chiro no conhesam que é vilio. anda devagat, fala repousado, mas nfo de maneira que mesmo, pois toda afetagio €ruim, parega que te escuts ati mesmo, Almoga pouco¢ janta menos, pois asaide de todo o cor po se foria na oficina do estomago. Tem moderagio no beber,considerando que ovinho em demasiando guarda segredo nem cumpre pala, "Guida, Sancho, de nfo atochar # boca ao comer nem de ceructardiante de ninguém. sso de eructar eu no entendo — disse Sancho. ED. Quixote lhe disse: “7 omar up ad perro CEs eum ih 8 ont amen de Cre seat, una Foe Sti em i rados a trouxe-mouxe fa a conversagio enfado- parar eenfiarditad = nha baixa Quando montares a caval, no vs ogando 0 corpo s0- ne embrazei mais que das nuvens de antanho, e assim seri mis fer gue mos deem por escrito, que eu, como nio se ler nem es reves 0s daei 20 meu confessor para que mos repasse quando fquadea efor mister — Ah, pecador de mim — respond D. Quixote — quo smal parece nam governador nio saber ler nem excrever! Porque his de saber, oh Sancho, que nZo saber um homem ler ou ser ca oto argui uma de duas coisas: ou que fi filho de pais em ex tremo humildese baixos, ou ele proprio to tavessoe euim que no pde entrar no bom uso nem na boa doutrina. Grande fats {a que levas contigo, e por isso quisera que ao menos aprendes Fe ea esas peran has apa gd ctl, nemtmpouco vis FOO gu tae rpaabc rae ps ant cavalo 4 8 ‘Sten a oton aloe ° Se oorey sono pis quem do maven como soa eigenen, oh Sancho, qe ica de wena que pseu hom dese. eae eomo rt geod aga, sida qe no ed copa gure qo lees mio a eb fr a en eve d eos prove sie ge Sa ems em an hae 40 =O ee a po or nga da qe MPA Saar cairo ques ma de st rein de gue evan Saree cag men ib compe, Sago oven a nie ales em por peste 08 — Bem sei assinar © meu nome — respondeu Sancho — pois quando fui zelador da minha confrara apendia fazer ums leras grandes como marca de fardo, que diziam que dzia meu rome; e a mais fingiri tera mio direia estropiada fare um outro assinar por mim, pois tudo tem remédio, menos a more tendo en 0 poder e Vara, faei o que quiser, quanto mais que ‘quem tem pai alcaide..*F,sendo eu governador, que € mais que ser aleside, vind, e verest No, endo proven fazer pouco &c3 Fina de nim, que vio buscar It e volar cosquiados, ea quem Deus quer hem, 0 vento Ihe apanha a lena, eas necedades do rico passam no mundo por sentengas,e quando eu o fo, sendo juneamente governador e liberal, como penso sex, inguém me ‘ver falta nenhuma, Nao, sendofazci-vor mele comer-vor- do as rep bem nem aos cavaleiros, nem aos governadores Por ora, Sancho, € sto o que seme ofereceu para fe a€00" sethar Anda o tempo, segundo as ocasioes sero mes avis0S ‘Srnpe que tivrescuidado de me dar noticia do estado em ae te achas, * enhor — rexpondeu Sancho —,bem veo que redo qua to vowa mercé me dise sio coisas boas, santas e provitosasy mas Mju me servo, se n30 me lembro de nenhuma? Verda sia ecamul de no deixar cresceras unas de me cass de nov see sa ferecendo, nio me passaré do pensamento; mas desses voce adulaguesenredos emexids, desves iio me lero nem ‘as as gues: quem conta com a exerts de posers nko tom moire: smoscas tanto vales, quanto tens, como dizia minha av6,¢ do fpomem abastado note verssvingado. nr Maldito seis de Deus, Sanchot — disse entdo D. Qui- ote. Seasenta mil satanaseste Jevem atic a0s us ditados! Faz vine hora que os ests desfiando e atormentando-me com cada, a fle, Eu te asacguro que esses ditados ainda te hio de levar vrfowea, epor causa deles tus vasalos te ho de arrancar 0 go aopres ou cute eles ha de haverlevanes. Dize-me,ignorante, 02 Pois eu, para di ‘ie ov achas? Ecomo os aplicas, menteeapto see umn ¢aplici-lo bem, su0 «trabalho como se cavasss a sor Deus, senhor nosso amo —repicow Sancho —, ave vossa meret se queixa de coisas poueas. Porque diabos se azeda tds mina curt riqueza, quando nenbuma Seque eumesirva itados e mais ditados? tea tenho, nem outeo bem algum, sendo TEngora tesmo me lembro de quatro que eiriam aq como Is vr domo sopa no mel mas sio os die, porque ae bom ct lar chamam santo, ou Sancho.> same Sancho no és ta — disse D. Quixote — sengo mal falare mal potia, mas ainda porque no és santo nem bom alan som guisera saber que quateo ditados sfo eses au sa memoria e vinham aqui $0 a propésit, pois ew ando vas Tllkando a mina, que a tenho bose nenhum se me ofeecs Tan expan prime aac rae“ nc ma apr cgi gua sikiesegredo a ‘eee dro dose corr ol Agu esa dae htm cram ue dicen os ges 190) por entenerem o mst. ne mse mar ane ¢ none pop, por oats soi nt elones pa ug btn Margit de Sania, en el Cone — Quais melhores — respondeu Sancho —que “o dedo nc smetais entre dois dentes queixais™ e“a fora d «que queres com a minha mathe aes oar ate np ua pea no cious el oa taro, todos os quais vém muito a pelo? Pois que ninguém se me 4 {ou ainda que mio sejam qunas, como sejam dents) a0 gue dizo governados, nfo bao que replica, como ao “fore da minha alte tpe qememtalaaiiee. ena torte oalarepeiss swan mash eee ee ‘o néscio na sua casa que o sabio na alheia, ° no open. ua — on cere da necedadendoasentenenhum dre ei fa Passemos adiante, Sancho, pois, se mal governares, tua ser i culpa e minha a vergonha, Meu consolo é ter feito o que des = te aconsthar com oda as veras com adscigho «min per vejcomist com io cumpro oma minha abies mina prome sDeus te ue Sancho ee gorene no teu govern, c= in sro ecripulo que meade qu ponhas toda» nl de pee ras par 0a co dc bm pee exe ecb a lagu em dizndothe qu toast gorda ces igure ‘que tens niio passa de um fardo de malicias ¢ ditados, m ? fase do fangeho Mates 73-8) qu adi lr prove — senhor — replicou Sancho —, se vossa merce € de pare cer qua nao de rl para se gover desde agora largo, - oe ma pont daa da alana gue odo Copia XLV Pe vos imme stent Sncho puro simples com plo eeltcae gvernaor com perce capées, a mais qe, Como Sanco aga ro ts¥ABO sede dona, todos io igual, ox grandes 05 menor 05 Flbres co aos ese vossa meee cuidar nso, ver que s6Yos {QUE NO CASTELO ACONTECEU A D. QuIxoTE cemerce me pés nist de goverat, pis eu no sei mais de gover mos de fnsulas que um abutre, ese imagina qve por ser governa “Tor me hide levarodiabo, mais quero ir Sancho para 0 cfu que sgovernaor para o inferno. Por Deus, Sancho — disse D. Quixote — que 86 pores tas imas azbex que dissestejlgo que mereces ser governador Ud ml insula boa natreza tens sem a qual ndo ha eiéncia que Valha, Encomenda-te a Deus e procura aio errarna primeira in- Tendo; quero dizer que reas sempre renga firme propésito Dizem que no perio original desta hiséra sel que chegando (Cie Hamete a escrever este capitulo, seu intérprete noo trad iu como o escrevera, que foi im modo de queixa que 0 mauro teve de s mesmo por ter tomado entze mos uma histri Ho 63 cto limtada como esta de D. Quixote, parecendovIhe que sen pte havia de falar dele e de Sancho, sem ousar estenderse a ou tras digressbes eepiséios mais graves e mais ligeios;e dizia que (de scertarem quantos nepécios te ocorretem, porque 0 cEasem- levaro entendimento, a mio ea pena cingidos a sempre escrever pre favorece os bons desejs. E vamos almosas pis creo que testes senhores ji nos espera. de um s6 assunto ea falar pela boca de poucas pessoas ere um trabalho incomportivel, cyjofruto nao redundava no de seu au tor, que por fugir deste inconvenientewsara na primeira part do atfco de algumas novelas, como foram a do Curiosoinper tinente ca do Capito cativo, que esto como que separadas da histria,jé que as demais que lé se contam so casos acontecidos 0 préprio D. Quixote, que nio se podiam deixar de esrever Tamiém pensou, como cl diz que muitos, levados da atengio «que pedem as faganhas de D. Quixote, nio a prestariam is no ‘elas e por elas passariam, ou com press ou com enfado, sem adverttem a gala o atficio que elas em si contém, © qual se ‘mostrara bem ao descoberto quando por sis, sem se acim em as loucutas de D. Quixote nem as sandices de Sancho, sais sem a uz. E, asim, nesta segunda parte nfo quis ingerir novelas

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