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Mikhail Bakhtin Teoria do romance I A estilistica editoralll34 acabada se ergue como um diseurso Gnico e objetivamente cconcentrado na “virgindade” do mundo, Essa pureza mono- vocal ea ierestrita franqueza intencional do discurso poético acabado é compensado por certa convengdo da linguagem postica Se no solo da poesia nasee, como filosofia ut6pica dos seus genetos, a ideia de uma linguagem extra-histriea pura ‘mente poética, desligada do curso da vida, de uma linguager dos deuses, 8 prosa fccional é familia a ideia de um uni- versum historicamente concreto de linguagens. A prosa fic- cional pressupde uma sensacio premeditada de concretude histéricae sociale relatividede da palavea viva, de sua parti- cipagio na formagio historica ena luta social; e ela toma a palavra ainda aquecida pelo calor da lutae das hostlidades, ainda nio resolvida nem desintegrada pelas entonagdes € os acentos hostis, enesse estado a subordina & unidade dindmi- ca de seu proprio estilo. m ‘Mikhail Bako 4 falante no romance Vimos que o heterodiscurso social — a apreensio do mundo e da sociedade pelo heterodiscurso — e as lingua- gens da época que orquestram o tema romanesco integram © romance como impessoais, porém repletos de imagens de falantes, de estilizaco das linguagens dos géneros, profis- ses e outras linguagens sociais ou como imagens persomifi- cadas do autot convencional, dos narradores e, por fim, dos herdis. © romancista desconhece uma lingua tnica, singular, inggnua (ou convencionalmente) indiscutivel e inquestions- vel. A lingua chega ao romancistaestratificada e heterodis ccursiva. Por isso, até onde o heterodiscurso permanece fora ddo romance, onde o comancista atua com sua lingua nica € consolidada (sem distancia, refragdo, ressalva) ele sabe que «essa lingua no tem signficaglo universal nem é indiscutvel, sabe que ela soa no meio do heterodiscurso, que precisa ser protegida, purificada, defendida, motivada, Por isso, essa lingua nica e direta do romance é polémica e apologética, isto é,dialogicamente correlacionada com o heterodiscurso. Assim se define a diretrz totalmente peculiar — que & con: testivel, discuivele discute — do diseurso no romance, dis- ceurso que ndo pode esquecer ou ignorar de modo ingénuo nem convencional o heterodiseurso que o rodeia. O heterodiscurso, desse modo, ou, por assim dizer, in- tegra ele proprio o romance e neste se mateializaem imagens (flan no romance m3 r de falantes, ou determina, como segundo plano dialogante, ‘som peculiar do discurso direto do romance. Dai se segue a peculiaridade excepcionalmente impor lo género romanesco: © homem no romance é essen cialmente um falante; 0 romance precisa de falantes que tx 1m sua palavra ideol6gica original, sua linguagem. (O objeto fundamental, “especificador” do género roma- resco, que cria sua originalidade estilistica, sio 0 falante e sa palavra: Para que se compreenda corretamente essa afiemacao, é indispensavel destacar com toda precisio tés elementos: 1) O falante e sua palavra no romance sio objeto da representagio verbalizada e fccional. A palavra do falante ‘no romance ndo é simplesmente transmitida nem reprodu dda mas representada literariamente e, ademas, & diferenca do drama, é representada pela palavra mesma (do autor). Mas o falante e sua palavra, como objeto da palavra, so lum objeto sui generis: nio se pode falar da palavra como se fala de outros objetos do discurso — de coisas, manifesta 8es e acontecimentos mudos, etc; tal palavra requer proce- dimentos formas inteiramente especificos ¢ uma tepresenta- fo verbalizada. 2) O falante é um homem essencialmente social, histo- ricamente concreto e definido, e seu discurso é uma lingua- gem social (ainda que no embrio), uma linguagem de grupo fe nio um “dialeto individual”, A natureza individual, os destnos individuaise ps camente por tais destinos e natureza sio por si mesmos indi ferentes para o romance. As peculiaridades da palavra do hheréi sempre aspiram a certa significagSo social, a certa fusdo social, sio linguagens porenciais. E por isso que a pa- lavea do herdi pode ser um fator que esteatifca a lingua, que introduz nela o heterodiscurs. 3) 0 falante no romance é sempre, em maior ou menor _grau, um idedlogo, e sua palavra é sempre um ideologema. wra individual determinada wni= na Mikhail Bako A linguagem peculiar do romance ¢ sempre tm ponto de vista peculiae sobre © mundo, que aspira a uma signiiagSo Social. £exataments como ideologema que a palavra se tor ta objeto de represntagio no romance, por iss, ele nl Coore nenhum rsco de Tornarse um jogo verbal abstrato ‘Alem disso, gras & repesentagzo dalogad da palavra ‘ideologicamenteplena(o mais das vnesaraleaiva) 0 r0- mance é, menos que todos os outros géneros verbalizados, 0 due menos propcia 0 ‘estrsmo e o jogo puramenteforma- lista com as palaras. Por iso, quandoum estease dsp cscrever um romance, se estetimo no se manifesta abso fotamente na construgio formal do romance, mas no fto de aie no romance se representa o homem falant, um idedlo- 0 do estetsmo, que revea sua profsfo de fé que no oman- ce passa plo cxvo da experimentaio. Assim si0 O retrato de Dorian Grey de Oscae Wilde, 0 jovem Thomas Maan, Henri de Regier, Joris Karl Huysmans, Maurice Barts, An- dé Gide, Desse modo, até um eteta que xereva um foman- ce nessegnero seroma um idedlogo que defend e expe- rimenta suas posigGes ideoldgicas, tornando-se apélogo € polemista O falante sua palavra, como ja dissemos, so 0 objeto especiendoc do romance, que eri a erginaldade dea nero. Mas no romance, evdentements, no se representa apenas 0 falante, € 0 préprio homem nao é representado apenas como falane, No omance, o homem pode agir tanto quanto no drama ou na epopeiay mas essa agio € sempre ideologcamenteiluinada, sempre conjugada com a palavra {ainda que apenas possive) com um mociv deolgco,ma- ternin cere pega ideolgies. A ago e ox atom do ber no romance sto necesaros tanto para rvsae quanto para experimentar sa posigSoideolgia, ss palavas.Everda- de que o romance do séclo XIX crow ums variedade muito importante na qual o herdi é s6 um falante que nao pode agie e estécondenado a um dscuso vatio: ao sonho, a uma pre 0 falane no omanee ns gagio passiva, ao tom professoral, a uma reflexio esti, etc. ‘Assim €, por exemplo, 0 romance russo de experimenta do intelectual idedlogo (Reidin, de Toxguéniey, € 0 modelo ‘mais simples) Esse tipo de herdi inerte & apenas uma das variedades teméticas do herdi romanesco. Habitualmente, o her6i nao age menos no romance que na epopeia. A diferenca essencial entre ele eo her6i épico consiste em que ele ndo s6 age, mas também fala, ¢ que sua aio néo tem significagao universal, no é indiseutivel nem se realiza no tniverso de significacao ‘universal eindiscutivel da epopela, Por isso esse tipo de ago sempre requer uma dep: ‘ideologica, por tras dela sempre ha certa posigao ideolégica, que nao é a tinica poss vel e por isso € discutivel. A condigdo ideol6gica do herdi pico tem signficagio universal para todo o mundo épicos, cle ndo tem uma ideologia especial ao lado da qual outras ideologias existam e sejam possives. O her6i pico, € claro, pode pronunciar longos discursos (enquanto o her6i roma- resco pode calar), mas sua palavta nao ¢ ideologicamente destacada (s6 € destacada formalmente: em termos de com- pposiglo e enredo), funde-se com a palavra do autor. Mas 0 autor épico também nao destaca sua ideologia: esta se funde com a ideologia geral — a Ginica possvel. Por isso nao hi homens falantes na epopeia como representantes de diferen- tes linguagens: af o falante &, em esséncia, apenas 0 autos, € ‘a palayea étinica © exclusiva palavra do autozt "No romance também pode ser introduzido um her6i que pensa e age (¢ fala, evidentemente) de modo irtepreensivel, segundo o plano do autor, exatamente do modo como qual- ‘quer um deve agit, mas essa irrepreensibilidade do romance ‘std longe da inginua indiscutibilidade da epopeia. Se a po- + Na epopis existe um horzonte nico, singular especial: NO mance exstem muitos horizontes eo her costumaagirem se orion: reespecil 26 Mikhail Boia sigio ideol6gica de semelhante her6i nio se destaca em rela- fo a ideotogia do autor funde-se com ela), em todo eas0 esté destacada em relacio 20 heterodiscurso circundante: a inrepreensibilidade do her6i se contrapée de modo apologé- fico e polémico ao heterodiscurso. Assim so 0s herds iee- preensiveis do romance barroco, os herbis do sentimental ‘mo — por exemplo, Grandison.* Os atos desses her6is 30 idcologicamenteiluminados e precondicionados pelo discur s0 apologético ¢ polémico. ‘A acto do her6i romanesco sempre ¢ ideologicamente destacada: ee vive e age em seu proprio universo ideoligico {endo no universo nico da epopei), em sua propria apreen- s20 do mundo (Gesimmung), que se materializa na agao ena palavea. ‘Mas por que nio se pode revelar a posigfo ideol6gica do hersie o universo ideoligico que a ela subjaz nas préprias agies do heréi e s6 nelas, sem representar em absoluto sua palavra? io se pode representar adequadamente 0 universo ideol6gico do outro sem permitir que ele mesmo ressoe, sem revelar sua prdpria palavra. Pois s6 a sua propria palavra pode ser efeivamente adequada para representar 0 universo ‘ideoldgico original, embora nio seja a palavra sozinha, mas tunida a0 diseurso do autor. 0 romancista até pode nio for * Pesonagem do romance The History of Sir Charles Granizon, de Samuel Richardson, publica em 1753. IN- do) * Goethe cham o romance de “epopea subjeia” (Maximen ad Reflesonon [Miximas e reflexes) Em otra passage, cle exige Had lung wd Charater [ago criter] para 0 drama, e Begebenbeit und Gesnmong aos pstra para o romance. “Enecesiro" dizee "que © eet do romance sia passvo 0, pelo menos no sea avo em alo fae [-]¢fodos os fats se coadunam em cra medida com ses en ments". [Os anos de aprendzado de Wibebn Meister, tadugto de Ni- olin Simone Net, lvo 5, ep. 7, Sio Paulo, Editora 34, 2006, pp. 00-1. (Nao 7 0 falane no comance ur am neces ao seu her6i o discurso direto, pode limitar-se a repr Centar apenas as suas ages, mas nessa representagao cons- truida pelo autor, se € essencial e adequada, junto com inevitavelmente a pa ra do outro, discurso do autor soa ' palavra do préprio heréi (cf. as construgGes hibridas que ‘nalisamos no capitulo anterior). ( falante no comance, como vimos no capitulo anterior, io deve, em absoluto, ser obrigatoriamente personificado tno herdi, O herdi é apenas uma das formas do falante (é veidade que a mais importante). As linguagens do heterodts: curso integram 0 romance sob a forma de estlizagGes paré- «dicas impestoais (como nos humoristas ingleses ¢ alemaes), sob a forma de géneros intercalados, em forma de autores “convercionais, em forma de skaz; por tltimo, até o discurso absoluto do autos, endo em visa que € polémico e apologé- tico, isto €, se contrapde enquanto linguagem especial a ox- ‘ras linguagens do heterodiscurso, esté até certo ponto con- ccentrado em si mesmo, ou sea, no S6 representa como tam- bém é representado, ‘Todas essas linguagens — até onde ndo estio personi cadas no fer6i —sfo social ehistoricamente concentradas © sio objetais em diferentes graus (a tniea linguagem que no Gobjetal €aquela que nao conhece a seu lado outraslingua- {gens} e por isso eransparecem por tris de todas elas as ima- ‘gens de falantes em trajes socais e histéricos concretos. ‘que caracterza o género romanesco nao é a representacio do hhomem em si, mas exatamente a representagao da linguager. ‘Contudo, para se tornar imagem ficcional, a linguagem deve cconverter-se em discurso em labios falantes, combinando-se com a imagem do falante que representa um universo social fou um pequeno tniverso in stanw nascendi ou, ao contr em estado moribundo, em extingzo. Se 0 objeto especifico do género romanesco é o falante «sua palavra — com pretensio a significagio social ea difu- so enquanto linguagem especial do heterodiscurso —, 0 ns ‘Mikhail Bako problema central da etic romanesa pode ser frmulado como o problema da representa itera da inguagem, © problema da imagem da inguagem: F preciso dizer que até hoje esa questfo no foi levan- tada em todo ose conjunto em seus principios. Pr iso a especifcidade da exilieica do romance tem escapado aos pesqussdores. Mas esta questi j vem sendo sondada: no due tange a estudo da prosa literiria a atengio dos pes tam principes (Pavel Pietrévitch pronunciava essa palavra de forma brands, & maneira francesa. Arké i, a0 conteatio, pronunciava ‘principio’, carregan do na primeira sflaba...” 2) *— Com “iso” quero demonstrat, meu caro senhor (quando se zangava, Pavel Pietedviteh pro- ‘nunciava intencionalmente ‘iso’ embora soubesse ‘muito bem que a gra permitia ais pala- vas, Nesse capricho manifestava-se um remanes- cente da tradisio do tempo de Alexandre. Entio os figurdes, nos casos raros em que falavam a lingua ‘materna, 36 empregavam esse ‘ifs’, como se dis- sessem: somos fussos nativos e a0 mesmo tempo {grio-senhores, 2 quem se permite desprezar as nor mas escolares).” 3) “Ele é um senhor genial! (Evdokia Kak- ‘china usava constantemente a palavra ‘senor’ em vez de ‘pessoa’).” [Neste caso, as diferentes proniincias da palavra “princ- pos” sio um trago que diferencia diversos universos hist co-culturais ¢ sociais: © universo da cultura senhorial dos ‘anos 1820 ¢ 1830, educada com base na literatura francesa, cestranha ao latim € & ciéncia alema, e o universo do razro- tchiniets* dos anos 1850, no qual o tom era dado por semi naristas e médicos educados com base no latim e na alemi. A dura prondnca latino-germsnica da palavea “pris + tke uso que no perencin nem nobrer, nem 3 bare sia (N-doT) 184 Miki Babin cipio” venceu na lingua russa. Mas 0 emprego das palavras por Kikchina, que em vez da palavra “pessoa” usava “se shor”, consolidou-se em todas os géneros de linguagem lite riria baixos e médios. ais observagées externas ¢ diretas das peculiaridades das linguagens das personagens sio caracteristicas do género romanesco, mas nao € com elas que se cria, evidentemente, a representagdo da linguagem no romance. Sao observagbes puramente objetas: af, a palavra do autor s6 externamente toca como coisa a linguagem caracterizada, af nfo hi a dia logicidade interior caracterstica da representagio da lingus- gem. A auténtica representagio da linguagem sempre tem uma bivocalidade dialogada e contornos de bilinguagem (por exemplo, as zonas dos hersis a que nos referimos no capitu- lo anterior) © papel do contexto que emoldura o diseurso na eriagdo dda representagio da linguagem é de importancia primordial. ( contexto emoldurador, como o cinzel de um escultor, aplai- 1a 0s limites do discurso do outro e esculpe da empiria crua da vida discursiva a representacio da linguagem: funde ¢ ‘combina a aspiragdo interior da prépra linguagem represen- tada com suas definigdes objetais externas. A palavra do autor, que representa e emoldura o discurso do outro, eria para este uma perspectiva, distribui sombras e liz, cria a si- tuagio e todas as condigdes para que ele ecoe, por fim pene- tra nele de dentro para fora, insere nele seus acentos ¢ suas ‘expresses, cia para ele um campo dialogante. ‘Gragas a essa capacidade da linguagem que representa, outa linguagem, de ecoar fora dela e denteo dela, de falar sobre ela ea0 mesmo tempo falar nela e com ela, e, por outro lado, essa capacidade da linguagem representativa de servir ‘80 mesmo tempo como objeto de representagio e falar para simesma—, pois bem, é gracasa essa capacidade que podem ser criadas as especificas representagies romanescas das lin- ‘guagens. Por isso, para 0 contexto moldurante do autos, a 0 atete no romance ass linguagem representada &a que menos pode ser coisa, objeto surdo ¢ mudo do discurso que permanece fora dele como qualquer outro objeto do discurso, ‘Todos os procedimentos de criacio da representagio da linguagem no romance podem ser resumidos a trés categorias bsicas: 1) hibridizagdo das linguagens; 2) interagio dialoga- da das linguagens; 3) didlogos puros de linguagens. TEssas trés categorias de procedimentos s6 podem ser desmembradas in abstracto; in conereto elas se entrelagam inseparavelmente no tecido literério nico da imagem, ‘0 que € hibridizacao? f a mistura de duas linguagens sociais no Ambito de um enunciado —o encontro, no campo desse enunciado, de duas diferentes consciéncias linguisticas divididas por uma época ou pela diferenciacio social (ou por ambas). Tal mistura de duas linguagens no mmbito de um entn- ciado &, no romance, um procedimento deliberadamente li- terério (ou melhor, um sistema de procedimentos). Contudo, ‘mais importantes da vida e da formacio das linguas. Pode-se dizer, de forma dire, que a lingua e as linguagens mudam, no plano histérico, basicamente por meio da hibridizagio, dda mistura de diferentes “linguagens” socioideolégicas que coexistem nos mites de um dialeto, de diferentes dialetos no Aimbito de uma lingua nacional, de linguas diferentes no am- bito de um ramo, e, por fim, da mistura de diferentes ramos « de diferentes grupos tanto no passado hist6rico quanto no palcontolégico, observando-se que o enunciado é a cratera due serve a essa mistura.*" Em outra ocasiio falaremos do 5" Tis hbrdoshisticos inconscentes so blingusis enguanto bidos mas, evidentements, monovocsis. 156 ‘Mikhail Bako F imenso papel criador dos hibridos na historia da linguagem leerdra russe ‘A representagio literéria da linguagem deve, por sua prépriaessénca, ser um hibido (intencional) de linguagens ai forgoso que estejam presentes duas conscincas linguis- ticas — a representada ea representadora — pertencentes a outro sistema de linguagens. Porque se nao existe essa segun- ‘da conscincia representadora a segunda vontade linguitica representadora,jé nfo temos diante de nds uma representa- 30 de linguagem mas simplesmente wm protétpo auténtica 0x fasificado da linguagem do outro. {A representaglo da linguagem enquanco um hibridoin- tencionalé, em primeiro lugar, um hibrido consciente ( ife- renga do hibrdo de linguagens hist6rico, orgnico e obscuro}: isso € justamente a apreensio de uma linguagem por outa, @ iluminagio de uma linguagem por outra consciéncia linguis- ‘ica. A representaglo da linguagem s6 pode ser construida do onto de vista de oura linguagem romada como norm: Continuando: no hibrido intencional e consciente no se misturam duas conscincias linguisticas impessoais(corte- Jatas de duas linguagens), mas duas consciéncias inguisticas individualizadas (cortelatas de dois enunciados eno apenas de duas inguagens) e duas vontades linguisticasindividuais: aconsciéncia representadora individual do autor ea vonta- de e conscincia linguistica individualizada da personagem representada. Porque 4 base dessa linguagem representada constroemse 0s enunciados coneretosetnicos, logo a cons- ciéncia inguistica representada deve ser forgosamente perso- nificada em certos “aurores"S que falam a mesma linguagem, 2 caracerica do stem ers senior, seminteaionl mora ests “autores eaham sid impessoas, como acre as cstlnagies da ingungens do ners eda opinize coma. a linguage un ibid 0 flane no romance a7 nesta constroem os enunciados e por isso inserem na poréncia da linguagem sua vontade lingustica atwalizada, Desse modo, 1 hibrido literrio consciente eintencional patticipam duas consciéncias, duas vontades, duas vozes e, por conseguinte, dois acentos. Contudo, quando se ressaltao elemento individual no hibrido intencional, deve-se salientar mais uma vez e com toda a intensidade que no hibrido fccional do romance, que representagio da linguagem, o elemento individval cio da linguagem ¢& sua subordinacio 40 conjunto litersrio do romance (os destinos das linguagens ai se entrelagam com os destinos individuais dos falantes) € indissociavel do sociolinguistico, isto é, o hibride romanesco do s6 € bivocal e biacentuado (como na retérica) mas tam- bém bilinguistico — nele nfo hé s6 (e nem tanto} duas cons- ciéncias individuais, duas vozes, dois acentos, mas também dduas conscincias sociolinguisticas, duas épocas, dois grupos sociais que a, é verdade, se misturaram no por via incons- ciente (como em um hibrido orginico), mas confluiram cons- cientemente ¢ tam no terrtério do enunciado. Demais, no hibrido romanesco intencional nlo s6 e nfo tanto se misturam formas de linguagem, indicios de duas linguagens eestlos, quanto se chocam antes de tudo os pon: tos de vista sobre o mundo que alicergam essas formas. Por {sso 0 hibrido comanesco intencional é um hibrido semntico, mas ndo um hibrido abstrato-semantico, légico (como na ret6rica) e sim sociossemantico concreto, evidente que também no hibrido histérico orginico _mesclam-se no sé duas linguagens como também das visbes de mundo sociolingu‘sticas (orginieas também). Aqui, po- rém, rrata-se de uma mistura susda e obscura e no de um confronto social e de uma oposigio. E necessério, contudo, observar que é justamente essa mistura surda e obscura de vides lingufsticas do mundo dos hibrides orgénicos que, em ‘ermos histérico, é profundamente eficaz:¢ prenhe de novas 138 Mikhail Bain visdes de mundo, novas “formas internas” de apreensio ver- bal do mundo, (© hibrido semantico intencional € inevitavel e interior. mente dialégico (8 diferenca do hibrido organico). Ai, os dois pontos de vista nao estio misturados, mas dialogicamente confrontados. Essa dialogicidade interna do hibrido roma resco, assim como o dislogo entre pontos de vista sociolin- guisticos, no pode, é claro, desdobrarse em um dislogo semantico-individual conctusdo e preciso: a ela sio inerentes certa espontaneidade orginica e o impasse. Por iimo, o ibrido bivocal intencionale interiormen- te dialogizado tem uma estrutura sineitica absolutamente ‘specifica: nele se fundem no ambito de um enunciado dois jos potenciais, como que duas réplcas de um poss vel didlogo. E verdade que essas réplicas potenciais nunca podem ser integralmente atualizadas, nao podem fundirse ‘em enunciados acabados, mas suas formas nao inteiramente desenvolvidas sio claramente perceptiveis nas construgbes sintéticas do hibrdo bivocal. Neste caso ndo se trata, € claro, dda mistura de formas sintiticas heterogéneas inerentes 2 sis- temas linguisticos diversos (como pode ocorrer nos hibridos orginicos), mas precisamente da fusio de dois enunciados em um 56. Semelhante fusdo € possivel também nos hibridos et6ricos de uma s6 linguagem (neste caso ela é até sintatica mente mais precisa). Jé 0 hibrido romanesco se caracteriza pela fusio de dois diferentes enunciados sociais em um s6 tenunciado, A construcio sintética dos hibridos intencionais 6 fraturada por duas vontades linguistcas individualizadas. Para resumir a caracterizacio do hibrido romanesco, ppodemos dizer: diferenga da mistura obscura de linguagens ‘em enunciados vives numa lingua em formagaohistérica (em cesséncia, todo enunciado vivo numa lingua viva € hibrido esse ou naquele gran}, o hibrido romanesco ¢ um sistema literariamente organizado de combinagio de linguagens, um sistema que tem por objetivo iluminar outra linguagem por 0 flare no romance 159 meio de uma linguagem, moldar uma representagio viva da urea linguagem. ‘ hibridicago intencionalterariamenteorentada € un dos procedimentos exseniais de construgdo da representacio de uma linguagem. & necessario observar que, no processo de hibridizagao, a propria linguagem que ilumina (habitual ‘mente sistema da linguagem ltria contemporinea) ob jetvase em certo grau até tornarse imagem. Quanto mais fmpla eprofundamente se aplica no romance o procedimen- to de ibridizacio , ademais, nfo com uma, mas com vérias linguagens, mais objetal romna-se a prOpria linguagem que representa ¢ilumina, eransformando-se,enfim, em uma das representagdes das finguagens do romance. Exemplos cos: Dom Quixote, 0 romance humoristic inglés (Fielding, Smollet, Sterne) eo romance romantica humoristicoalemio (Hippel e Jean Paul), Nessescatos, costuma-se obetificar 0 préprio processo de escrita da comance ea imagem do r0- mancisea (em parte jé em Dom Quixote e depois em Sterne, Hippel ¢ ean Paul) a hibridizacao na prépria acepgio do termo distingue- sea iluminagio eciprocainterormente dalogada dos sist mas de linguagem em seu todo. Agu é nfo hi a iluminagio digeta de doas linguagens no imbito de um enunciado: aqui esti atualzada em um enunciado apenas uma inguagem, mas ané esta € dada i luz de outra linguagem. Essa segunda lin- suagem nio se atualizae fica de fora do enunciado. ‘A forma mais caractristicae nitida dessa miétua ilumi- nasio interiormente dialogada das linguagens €aestilizacio Como f afirmamos, toda autnticaestiizagdo € uma re- presenago litera do estilo da linguagem do outo, uma forma litericia da linguagem do outro. Nessa estilizagio é obriga6ria a presenga de duas conscincias ingistias ind Vidualizadas: a de quem representa (isto é, a conscicialin- guistica do estlizador ea do representado, estlizado. A esti zai difere do estilo dretojustamente por essa presenga da 160 Mikhail Bako segunda consciéncia linguistca (contemporsinea no estlza dor e de seu piblico) cuja luz restaura-se o estilo estilizen te, em cujo campo este adquice novo sentido e importincia Essa segunda consciéncia linguistica do estilizador e de seus contemporineos opera com wm material da linguager estilzada; o estilizador 86 pode tratar de forma direta 0 eu objeto falando nessa segunda linguagem esiizada estranha a cle. Mas essa mesma linguagem estilizada & mosteada & luz da consciéncia linguistica contemporinea do estilizador. A linguagem contemporinea ilumina de certo modo a lingua ‘gem estlizada: destaca alguns elementos, obscusece outros, ria uma acentuacio especifca dos seus elementos enquanto clementos da linguagem, cra certas ressondncias da lingua ‘gem estilizada com a consciénca linguistica contemporines; fem suma, cria uma livre representagio da linguagem alheia, imagem essa que traduz nao s6 a vontade linguistca estliza~ dda como também a vontade linguistca¢ literériaestlizante. Assim &aestlizagio. Outro tipo mais comum de interi- uminagio dialogada mais prOximo da estlizacdo € a varia- sao. No processo de estiliza2o, a conscitncia linguistica do estilizador opera exclusivamente com material da linguagem estilizadas ela ilumina essa linguagem estilizada, traz para ela seus interesses linguisticos estranhos, mas nio seu estranho ‘material linguistco contemporaneo. Como taly a estilizagao deve ser moderada até o fim. Se, porém, o material linguist ‘co contemporiineo (a palavra, a forma, 0 uso, etc) penetrou na estlizaglo, isto é um defeito, um erro, um anacronismo, tum modernismo da estlizagio. ‘Contudo, semelhante moderagio pode tornarse preme- ditada e organizada: a conscincia linguistic estilizante pode ‘do s6iluminar a linguagem estlizada como também acolher la mesma a palavra e inserr seu material remético e linguis- tico na linguagem estilizada. Neste caso, estamos diante no ‘mais de uma estilizagao e sim de uma variago, que se con- verve frequentemente em hibridizagao direta. 0 Glas no romance 161 ‘A varago inser lvemente material linguistic alto os tenascentemporineo, combina unvesoextlizado pontves para la mes. {hmportinia da etlizaglo, ano diets como varia cdo, é mute grande na hstia do romance «x perde para Slimpornci a para, Nas estiiasbs pros aprende $ eprsenar ltearament slinguagens — € verdad que Tapingens qu se consuiram es foraram pr vests ten (ou dietamente plo exo) eno delinguages ainda trans amide penis do feterodicrso vo inguagens tn formagiocindndesprovidas dees) A represent Sh ingagem cida pela extlizago € a representagio mas trangia earisizamente cond, que permite o maxim dc esto acs! h prostromanesea, Por uo grands meses da etizaio como Prosper Metimé, Senda, Ana tole France Hent de Regnier outros foram os representa tes do estetismo no romance os imite enteitor dose Cel aes geneco. A importincadaerlizagd na epoca de foxmagio das principals tendéncas einhasextilitcas do génetoromanesc umn ema especial do gual tataremonno Capital nal que ata da historia dese gener Em outro ipo de interiuminado alin das igus gens as ntengSes do dvcursorepresetador divergem das menses do dcurso repesntad, lata contr as repre Sentam efeivo mando objetivo nie por mio da ingsagem tepesentada como pont de vista ca as por melo de sua Aestrigto desmascaradra, Asim a eatlzngdopardica Encanto, esa estiizagdo pardiea pode erat uma represetago delingagem eo nivero acl correspond te apenas soba condo de nfo ser wma desig vara € Soper a linguagem do outro, como ocorre na paréia etn ara set esencial fap deve sero mene una etzaglo paris, tog deve fecriar ng 18 Mika Babin ‘gem parodiada como um todo substancial dotado de légica interior e revelador de um universo especial insepardvel da Tinguagem parodiada, Entce a estlizagao e a parédia situam-se, como entre limites, as formas mais variadas de intriluminagio das lin- uagens e dos hibridos diretos, formas essas determinadas por inter-relagées ulteadiversifcadas de linguagens, de von- tades linguisticas ediscursivas, que se encontearaim no ambi to de um enunciado. A luta que se desenvolve no interior do discurso, o grau de resistencia oferecido pelo discurso paro- dado a0 parodiador,o grau de enformacio das ln sociais representadas e 0 grau de sua individualizagio no proceso de representacio e, por iltimo, 0 heterodiscurso circundante que sempre serve como campo dialogantee res- sonador — tudo isso ria uma diversidade de provedimentos de representagio da linguagem do outro. ‘A confrontagao dial6gica de linguagens puras no roman- ce, paralela& sua hibridizagdo ea interiluminagio dialogada, € um poderoso recurso de criagio de imagens e linguagens. A confrontacao dialogica de linguagens (e no de sentidos no Ambito de uma linguagem) deineia os limites das linguagens, ria a sensagdo desses limites, obriga a que se sondem as formas plisticas das linguagens. préprio dilogo no romance, enquanto forma com- posicional, €inseparivel do didlogo de linguagens que ressoa nos hibridos e nos campos dialogantes do romance. Por isso © dilogo no romance é um didlogo de tipo especial. Nao pode, como jf afirmamos, se esgotar nos dislogos temtico- -pragmaticos das personagens. Fle é prenhe de uma infinita diversidade de contraposigaes dial6gicas eremiético-pragmé- ticas que no o solucionam e no podem solucionar, que pparecem apenas ilustrar (como um dos possveis) ese irreme- dligvel didlogo profundo de linguagens, determinado pelo préprio processo de formacio socioideoldgica das linguagens fe da sociedade. O didlogo de linguagens nao é apenas um 0 Galante no romance 163, didlogo entre grupos sociais na estitica de sua coexisténcia, ‘mas também um didlogo de épocas, de tempos e dias, daqui lo que morre, vive e gera: a coexisténcia ea formagio estio fundidas numa indissolivel unidade concreta da diversidade contraditéria e heterodiscursiva, Nesse dislogo esto imersos todos of dilogos temético-pragméticos do romance: dele, isto &, do didlogo de linguagens, esses sltimos tomam de empréstimo o seu impasse, sua impossiblidade de dizer tudo, sua concretude vital, sua *naturalidade”, em suma, tudo © aque hoje se distingue acentuadamente dos didlogos puramen: te deamaticos. [Nos dislogos e monélogos das personagens romanescas, ‘2s linguagens puras estdo subordinadas as mesmas tarefas de criagio da representagio da linguagem no romance. (© préprio enredo esté subordinado a essa tarefa de cor- relacionamento ¢ interiluminagio das linguagens. O entedo romanesco deve organizar a revelacio das linguagens sociais ¢ ideologias, sua exposicio e sua experimentagior a experi= :mentagao da palavra, da visio de mundo e do ato ideologi- ‘camente fundamentado ou a exposicao do ambiente dos uni- versos e microuniversos sociais, histéricos e nacionais (ro- ances descritivos, de costumes e geogrficos) ou dos uni versos socioideolégicos das Epocas (romance memorialistco, variedades de romance histérico) ou das idades e geragoes fem relagio com as €pocas ¢ os universos socioideolégicos (romances de educagio e formagio). Em suma, o enredo ‘romanesco serve para representar os falantese seus universos Ideolégicos, A eriacao de representagdes de linguagens é a ‘arefa estilistica principal do género romanesco.! | Reconhecer sus lnguagen aa lngusgem do outro, seu horiznte to orizonte do outro. Uma ada ideo da lingeager do oto Superaio da erie canal exteracaparnt, ‘A modernizacso efcar no romance histrco, 0 apagamen dis 68 Mika Bakin Todo romance, do ponto de vista da linguagem e da cconsciéncia linguistica nele personificadas, é um bibrido. Contudo, cabe salientar mais uma vee: & um hibrido inten- ional e social literariamente organizado e ndo uma obscura mistura mecinica de linguagens (ou melhor, de elementos de linguagens). A representaglo literdria da linguagem &0 obje- tivo da hibridizacao romanesca intencional. Por isso © romancista nio visa, absolutamente, a uma reproducio linguisticamente precisa e plena da empiria das linguagens alheias que introdu2: visa apenas & moderagio literdria das representagbes dessas linguagens. Por exemplo, o romance Pedro I de Aleksei Tolsti é um hibrido intencional da linguagem literdria contemporinea ‘com a linguagem da época de Pedro (a intenglo do romance uma interiluminagio da época de Pedro e da nossa); con- tudo, a linguagem da época petrina esta de todo ausente ‘como uma realidade lingustica reproduzida com precisfo. A linguagem da época petrina ¢ estilizada eartisticamente con- tida por Aleksei Tolstdi como imagem da época e imagem da cconsciéncia da época. © hibrido literdsio requer um trabalho gigantesco: € inteiramente estlizado, pensado, ponderado, distanciado. Assim, cle difereradicalmente da mistura de linguagens levis na, ierfleida e assistémica numa série de prosadores atuais contra os quais Gérki reventemente se rebelou, com muita azo. Nesses hibridos nao ha uma combinagio dos siste- mas moderados de linguagem, mas simplesmente uma mis- tura de elementos da linguagem. Isto nfo é uma orquesteacao feita pelo heterodiscurso, e na maioria dos catos € simples: mente uma linguagem direta do autor no pura nem elabo- rada, Certo afastamento em relagio & linguagem literéria e fonts ds empos,reconhecer no pasado o ern presente: Un vin «culo com o probleme da deseroifcasio Nesta ela no ncluimos Fir Pantry (1996-1960), (alee no romance us 0 pensamento literdsio tradicional, que o romance petmite « exige (por exemplo, 0 afastamento de Cervantes em relagio § linguagem romanesca de sua atualidade) nunca foi, éclaro, o resultado de um mau conhecimento dessa linguagem: foi ‘consequéncia da objetivagdo dessa linguagem como resultado de certos avangos s6cio-hist6ricos da época (0 romance nao $6 no dispensa a necessidade de um conhecimento profundo e sutil da linguagem literéria como ainda exige, além disso, © conhecimento também das lin- ‘guagens do heterodiscurso. O romance requer 2 ampliagfo 0 aprofundamento do horizonte linguistco, o aprimora- mento de nossa percepgio dos matizes e das diferenciagoes| sociolinguisticas. 166 Mikhail Bakbn $ ‘As duas linhas estlisticas do romance europeu (© romance é uma expressio da consciéneia linguistica galieiana que rejeitou o absolutismo de uma lingua tnica e singular, isto &, rejeitou o reconhecimento de sua linguagem ‘como o inico centro verbossemantico do universo ideol6gico, que apercebeu a multiplcidade de linguagens nacionais e, principalmente, socais, igualmente capazes de seem “linguas dda verdade” assim como linguagens relativas, objets elimi tadas dos grupos sociais, das profissdes e do dia a dia. O romance pressupée uma descentralizagdo verbossemantica de um universo ideologico, certo desamparo linguistico da conscigncia literria que perdeu o meio linguistico incontes- tive etinico do pensamento ideolégico, que apareceu entre linguagens sociais no Ambito de uma lingua e entre linguas nacionais no ambito de uma cultura (helenistica, erst, pro- ‘estante) de um universo politico-cultural (os Estados gregos, ‘© império romano, etc). ‘Trata-se de uma reviravolta muito importante e, em es- séncia, radical nos destinos do discurso humano: de uma li bertagio substancial das intengSes seméntico-culturais e ex- pressivas em relasao a0 poder de uma lingua tnicae singular ‘e,consequentemente, da perda da sensagio da lingua como mito, como forma absoluta de pensamento. Para isto € insu ficiente a descoberta da diversidade de linguas do universo cultural eda heterodiscursividade da pr6pria lingua nacional: As dus ins enlitisas do romance earopes usr

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