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Resumo
Introdução: A Monteverdia ilicifolia (Mart. ex Reissek) Biral conhecida como “espinheira-
santa” é nativa do Sul do Brasil, estando também em outros países sul-americanos. Na
medicina popular essa espécie é utilizada no tratamento de gastrites e dispepsias.
Objetivo: Realizar o estudo morfoanatômico de caule e folha de M. ilicifolia, cultivada em
São Luís-MA para contribuir com a identificação do espécime e verificar possíveis
alterações botânicas devido o cultivo em uma área de clima quente e úmido. Metodologia:
A morfologia externa foi feita à vista desarmada, segundo critérios da literatura. A análise
anatômica utilizou material fresco, realizado através de secção paradérmica das faces
abaxial e adaxial da folha e por secção transversal da região mediana do limbo foliar e do
caule, ambas à mão livre utilizando lâmina cortante, as amostras foram clarificadas com
hipoclorito de sódio 50%, coradas com safranina e azul de metileno, e foram, então,
montadas lâminas para análise em microscópio óptico. Resultados: As folhas
apresentaram-se com todos os componentes, concolores, peninérveas, coriáceas, elíptico-
lanceoladas, glabras, lisas, com margem dentada espinhosa, ápice mucronado variando
de agudo a atenuado, base redonda, obtusa ou aguda. Em relação as características
anatômicas, as folhas mostraram-se hipoestomáticas com estômatos paracíticos,
apresentando colênquima angular, bainha esclerenquimática, feixe colateral, mesofilo
dorsiventral. O caule apresentou formato oval, estelo sifonostelo ectofloico e crescimento
secundário. Discussão: Houve divergência com a literatura quanto a espessura da cutícula
e ausência de substâncias ergásticas. Conclusão: Esse estudo contribuiu com a
identificação da planta e comprovou a influência climática nas características botânicas de
Monteverdia ilicifolia.
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Abstract
Introduction: Monteverdia ilicifolia (Mart. ex Reissek) Biral known as “espinheira-santa” is
native to southern Brazil and is also found in other South American countries. In folk
medicine this species is used in the treatment of gastritis and dyspepsia. Objective: To carry
out a morphoanatomical study of the stem and leaf of M. ilicifolia, cultivated in São Luís-
MA to contribute to the identification of the specimen and to verify possible botanical
changes due to cultivation in an area with a hot and humid climate. Methodology: The
external morphology was performed with the naked eye, according to literature criteria.
The anatomical analysis used fresh material, being performed through paradermal section
of the abaxial and adaxial faces of the leaf and by cross section of the median region of the
leaf blade and stem, both freehand using a cutting blade, the samples were clarified with
sodium hypochlorite 50%, stained with safranin and methylene blue, and slides were then
mounted for analysis under an optical microscope. Results: The leaves presented with all
the components, concolorous, peninérvea, coriaceous, elliptical-lanceolate, glabrous,
smooth, with thorny toothed margin, mucronate apex ranging from acute to attenuated,
round, obtuse or acute base. Regarding the anatomical characteristics, the leaves were
hypostomatic with laterocytic stomata, presenting angular collenchyma, sclerenchymatic
sheath, collateral bundle, dorsiventral mesophyll. The stem presented oval shape,
ectophloic siphonostele and secondary growth. Discussion: There was disagreement with
the literature regarding cuticle thickness and absence of ergastic substances. Conclusion:
This study contributed to the identification of the plant and proved the climatic influence
on the botanical characteristics of Monteverdia ilicifolia.
Autor correspondente
Marcos Antonio Martins Pereira
Email: marcos.martinspereira98@outlook.com
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Brasil, destacando-se na flora nacional da padronização de drogas vegetais nas
Monteverdia ilicifolia (Mart. ex Reissek) boas práticas de fabricação14, sendo
Biral5. fundamental a correta identificação da
mesma, de forma a garantir que a
Monteverdia ilicifolia (Mart. ex Reissek)
população não faço uso de uma espécie
Biral, nativa da região sul do Brasil,
vegetal acreditando ser outra.
Paraguai, Bolívia, Uruguai e Argentina, é
uma planta de uso medicinal A literatura apresenta que M. ilicifolia tem
pertencente à família Celastraceae e preferência pela região Sul do Brasil, no
conhecida popularmente no Brasil como interior de matas nativas e em matas
“espinheira-santa”, “espinheira-divina”, ciliares, solos argilosos, bem drenados e
“cancorosa”, “cancorosa-de-sete- com alto teor de matéria orgânica15.
espinhos”, “cancerosa” e “cancrosa”5,6. Essa Assim, este trabalho teve como objetivo
espécie é um subarbusto com dois a realizar o estudo morfoanatômico de
cinco metros de altura, folhas caule e folha de M. ilicifolia, cultivada em
pontiagudas de quatro a doze São Luís-MA, uma região do Nordeste
centímetros de comprimento, brasileiro, a fim de contribuir para a
inflorescência fasciculada com três a vinte correta identificação da espécie vegetal e
flores, florescendo na primavera e se também para verificar se há alterações
frutificando entre os meses de novembro marcantes de seus aspectos botânicos
a janeiro7-9. macro e microscópicos, como no
tamanho e margem da folha, presença ou
A população brasileira utiliza uma grande
não de inclusões celulares em função de
diversidade de plantas para os mais
seu cultivo em uma área de clima quente
diversos fins medicinais, dentre elas
e úmido.
Monteverdia ilicifolia que possui
importantes atividades farmacológicas e
por isso é bastante comercializada10. Na
2. Metodologia
medicina popular essa espécie é utilizada
no tratamento de gastrites e dispepsias, O presente estudo é de caráter
vindo a apresentar segundo o experimental e possui abordagem
conhecimento popular efeitos tônicos, quantitativa, como preconizado pela
analgésicos, diuréticos e laxativos11, é literatura16.
empregada, principalmente suas folhas,
no preparo das formulações8,12. A amostra vegetal do estudo foi cultivada
no Horto de Plantas Medicinais Berta
Em razão disso, há muita procura por Lange de Morretes, da Universidade
Monteverdia ilicifolia em feiras e Federal do Maranhão-UFMA, localizada
mercados, o que coloca em risco a em São Luís-MA (2° 32’S e 44°16 W). No
população pela adulteração e venda horto estão também os materiais
errônea de outras espécies que testemunhos. A região do cultivo é
apresentam uma grande similaridade caracterizada por temperatura anual
morfológica com ela, como Sorocea média de 27°C e pluviosidade anual
bonplandii (Baill.) W.C. Burger, Lanjouw & média de 1896 mm17. O clima do local é
Wess. Boer Chincho e Zollernia ilicifolia Aw’, quente e úmido17, com um período
(Brongn.) Vogel13. chuvoso de janeiro a junho e outro
período de estiagem de julho a
Isso reforça a importância do controle de
dezembro18,19.
qualidade de plantas de uso medicinal e
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Para o estudo botânico da M. ilicifolia largura em média (FIGURA 1A-C). A
foram utilizadas folhas maduras sadias. As espécie apresenta filotaxia oposta
amostras foram retiradas de apenas um (FIGURA 1B) com folhas concolores, com
espécime porque no horto em que houve verde escuro na face adaxial e verde claro
a coleta existia apenas um exemplar da na face abaxial (FIGURA 1C). A planta
planta. Houve a coleta de três amostras apresentou folhas de consistência
de folhas e caule, o caule foi retirado coriácea e contorno elíptico-lanceolado
abaixo do quinto nó. com margem dentada espinhosa. O ápice
mucronado das folhas dessa planta
A análise da morfologia externa ocorreu a
variaram de agudo a atenuado e a base
vista desarmada e com auxílio de régua e
também variou de redonda a obtusa ou
estereomicroscópio, observando-se
aguda. As folhas ainda se mostraram
características relacionadas à: 1. tamanho,
peninérveas, com superfície glabra e lisa
composição, filotaxia, cor, nervação,
(FIGURA 1A-C).
consistência, forma, rugosidade,
pilosidade, margem, ápice e base da A análise anatômica da epiderme das
folha; 2. forma do caule20,21. folhas de Monteverdia ilicifolia mostrou
que a mesma é hipoestomáticas, com
O estudo anatômico foi realizado com
estômatos paracíticos e células
amostras frescas que passaram por
epidérmicas poligonais de paredes
secção paradérmica das faces abaxial e
anticlinais retas (FIGURA 2A-B). Em
adaxial da folha e por secção transversal
secção transversal verificou-se a presença
da região mediana do limbo foliar e do
de epiderme uniestratificada com
caule, à mão livre com auxílio de lâmina
cutícula espessa, colênquima angular,
cortante. Posteriormente, as amostras
bainha esclerenquimática, feixe vascular
foram clarificadas em hipoclorito de sódio
colateral (FIGURA 2C) e mesofilo
50%, corados com safranina e azul de
dorsiventral com cerca de três camadas
metileno22. Por fim as lâminas provisórias
de parênquima paliçádico e nove
com material fresco foram analisadas em
camadas de parênquima esponjoso
microscópio óptico.
voltado para a face abaxial (FIGURA 2D).
As observações e os registros foram
Em relação ao caule de Monteverdia
realizados ao microscópio óptico
ilicifolia observou-se, em secção
Olympus e as imagens capturadas por
transversal, formato oval e estelo do tipo
câmera fotográfica digital. As
sifonostelo ectofloico em crescimento
classificações basearam-se em literatura
secundário (FIGURA 3A), com a presença
especializada10,20.
de quatro a cinco camadas de células de
câmbio, xilema secundário voltado para a
medula parenquimática e floema
3. Resultados secundário voltado para a epiderme, em
As folhas da Monteverdia ilicifolia desenvolvimento centrífugo (FIGURA 3A-
mostraram-se simples e inteiras, B). Também verificou-se a presença de
apresentando limbo, pecíolo e bainha, esclereides delimitando o estelo (seta)
com 10 cm de comprimento e 3,6 cm de (FIGURA 3A).
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FIGURA 1- Aspectos macroscópicos das folhas de Monteverdia ilicifolia (Mart. ex Reissek)
Biral. A- Dimensões média das folhas. B- Filotaxia. C- Face adaxial (esquerda) e abaxial
(direita) da epiderme foliar.
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FIGURA 2 - Características anatômicas das folhas de Monteverdia ilicifolia (Mart. ex
Reissek) Biral. A- face adaxial (10X). B- face abaxial (40X) com estômatos (Es) e células
epidérmicas (Ce). C- Nervura central com epiderme com cutícula (Cu), colênquima
angular (CA), bainha esclerenquimática (BE), floema (FL) e xilema (XL). D- Mesofilo
dorsiventral com parênquima paliçádico (PP) e parênquima esponjoso (PE).
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FIGURA 3 - Anatomia do caule de Monteverdia ilicifolia (Mart. ex Reissek.) Biral em secção
transversal: A- Visão geral. B- Detalhe do feixe vascular mostrando xilema (Xi), floema (Fl) e
câmbio vascular (cv).
17-KÖPPEN, W.; GEIGER, R. Klimate der 24- SCHALKAS, STEINER D, RAVELLI FN,
Erde. Gotha: Verlag Justus Perthes. Wall- et al. Brazilian consensus on
map 150cmx200cm, p. 91-102, 1928. photoprotection. An Bras Dermatol.
2014;89(6):1-74.
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